Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 107

February 25, 2013

red carpet com a cortina da vovó


 



 


Está certo que entendo de moda como Kristen Stewart entende de bronzeado.


Sou fã da vampirinha, que parece uma estudante da Unicamp entediada, que mora em Barão Geraldo, tem amigos da LER-QI, organização de esquerda radical, e faz um ar blasé tipo “que ridículo tudo isso”.


Sou fã porque é uma baita atriz e porque se parece com uma estudante da Unicamp entediada, que mora em Barão Geraldo, tem amigos da LER-QI e faz um ar blasé tipo “que ridículo tudo isso”.


Mas até ela apareceu ontem no OSCAR vestindo a cortina da vovó.


Espero que não seja tendência. Dá um trabalho limpar, gruda poeira, deve ser quente, e quem tem rinite sofre.


Kristen faz de tudo para abdicar do trono de namoradinha da América, que Jennifer Lawrence e Anne Hathway conquistaram com talento, decote, bustos e boas atuações.


Nenhuma delas se compara às suas concorrentes. Mas pelo visto Hollywood adora premiar jovens talentosas e deixar atrizes completas aplaudindo sentadas e sorrindo amarelo, como a estonteante Naomi Watts [O impossível], Jessica Chastain [A hora mais escura], a diva Emmanuelle Riva [Amor], Sally Field [Lincoln], Jacki Weaver [O lado bom da vida], Helen Hunt [The sessions] e a admirável Amy Adams [O mestre].


De resto, nenhuma surpresa.


Melhor filme: “Argo”


Direção: Ang Lee, por “As Aventuras de Pi”


Ator: Daniel Day-Lewis


Ator coadjuvante: o genial Christoph Waltz, “Django Livre”


Roteiro original:  Mr. Tarantino, com “Django Livre”


Roteiro adaptado: “Argo”


“A Hora mais escura”, perseguido, só ganhou Edição de Som.


A cerimônia continua a maior festa de vergonha alheia da TV mundial.


“Por isso é legal”, me tuitou um seguidor.


Jack Nicholson não aguentava mais se levantar pra aplaudir em pé. Foi ver a festa da coxia.


A expressão “taking risk” [arriscar] era utilizada de 15 em 15 minutos nos agradecimentos. Efeitos de uma economia em crise [e um capitalismo no banco dos réus] em busca de saídas.


Sally Field apareceu com a mesma roupa do Oscar de 1979, quando ganhou Melhor Atriz com o filme Norma Rae. Deve ser superstição.


@RenatoLTLima tuitou: “sempre demoro uns 15 segundos pra perceber que é a Sally Field e não a Regina Duarte…”


Mas o melhor da festa foi o apresentador, o ator, comediante e roteirista Seth MacFarlane. Pegou pesado no começo. Atiçou o público. Não perdeu uma piada. Aliás, grandes piadas, como:


“Michael Douglas e Jane Fonda, atores que bombaram nos anos 1980-90, quando a paisagem de Hollywood era dominada por árvores de coca.”


“Daniel Day-Lewis, como outros atores, tentaram, mas quem mais conseguiu mesmo penetrar dentro da cabeça de Lincoln foi John Wilkes.”


Para quem não entendeu a piada pesada, John Wilkes foi o ator que matou o presidente americano em 1865 no Teatro Ford. Com um tiro na cabeça.


 


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Published on February 25, 2013 07:44

February 24, 2013

sertanejo universitário por quê?


 


Difícil detectar como surgiram alguns achados brasileiros, o chorinho [não a música, mas a dose extra que nos é servida na maioria dos bares] e o sertanejo universitário [a música, não o interiorano que entrou na faculdade].


Quando começou?


1. Chorinho.


Peça um uísque. O garçom trará a garrafa, para você conferir a procedência, exigência de uma economia que convive há séculos com contrabando e pirataria, servirá a dose numa pequena cuia de alumínio de 15 a 60 ml chamada dosador, ou medidor, passará o maltado para o copo com ou sem gelo, e em seguida banhará da própria garrafa as pedras que flutuam. É lançado o sorriso cúmplice, vem a piscada:


“Só pra você, que é exclusivo.”


Se você é da casa, sabe para que time o garçom torce e até o apelido dele, a dose extra é “no capricho”, outra expressão brasileira dúbia, pois indica que há doses e porções que não vêm caprichadas, já que existem aquelas especiais para clientes preferenciais.


Com um chorinho, o cliente se sente mimado, qualificado.


O estabelecimento aparenta ofertar mais do que o usual, fugir à regra, tratar você com devoção, sem mesquinharia, sem se importar com os lucros, pois foi com a sua cara, gostou do seu jeito, você é um cara bacana, que merece a quebra de protocolos. Ambas as partes ficam satisfeitas.


Pode-se dizer que, como em Casablanca, é o começo e a prova de uma longa amizade.


No entanto, é evidente que a dose extra já está embutida no preço, que os R$ 20 em média que você paga por uma dose de um bom escocês envelhecido é exorbitante, já que a garrafa de um litro custa perto de R$ 100, dependendo do fornecedor- se não atravessou o Rio Paraná numa balsa improvisada, proveniente das destilarias do Chaco-, garrafa em que vem muito mais do que quatro ou cinco doses, talvez 30, talvez 40, ou 66,6 doses, se utilizado o medidor de 15 ml, cuja matemática tira do coma alcoólico o mais dedicado dos boêmios: está-se pagando R$ 1.320 por garrafa, 13,2 vezes mais.


Portanto, o chorinho não é um favor, é um truque que entorpece e ilude o brasileiro.


Outro exemplo: o milk-shake que vem acompanhado pela sobra. O garçom deposita o copo de vidro e o de alumínio em que o sorvete foi batido. Em lanchonetes, a sobra dá outra dose. E tem aquela que a sobra é maior do que a dose original, como o prato “que dá pra dividir”, outra invenção brasileira.


É verdade que é difícil dosar a quantidade de cada cliente.


O que um surfista adolescente bebe ou come é diferente daquilo que uma modelo que fará teste para o próximo desfile deixa no prato, ou moças com colesterol alto e rapazes com glicemia alta evitam.


Mas se você se encanta pela generosidade de quem serve, relaxa.


Está tudo embutido no preço.


 



 


2. Sertanejo Universitário.


Universitário por quê?


Tem pensamento pré-socrático, semiótica, behaviorismo, sociobiologia, antropologia e darwinismo social, niilismo e hipóteses do pensamento ocidental debatidas nas letras? Algum indício das contradições do pensamento marxista? Marx aparece como historiador ou economista? A dialética é retratada num rasta pé ou bate-coxa com diploma?


Mimesis, de Auerbach, dá para ser anunciado. Rola a letra “Auerbach é das mais significativas referências, nos estudos de cunho hermenêutico, eu, eu, eu, de exegese literária, ai, ai, ai, fez uma abordagem original da questão da representação, sai do chão!”?


 



 


Nada disso. Sertanejo universitário retrata o pensamento que rola fora das salas de aula nas baladas estudantis.


Como o forró universitário, que nasceu no Remelexo, casa de Pinheiros frequentada pela juventude dourada da USP, que queria em São Paulo aquilo que dançava nas férias de Trancoso, Itaúnas e Canoa Quebrada, o sertanejo universitário se apresenta como uma releitura distanciada do modelo anterior. É influenciado pelo sertanejo de raiz, de Tonico & Tinoco, Alvarenga & Ranchinho, e pelo sertanejo mullets, de Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, mas com um conteúdo que recupera a futilidade do novo pagode e detalha os efeitos macroeconômicos da expensão da fronteira agrícola e do lulismo- como exaltação do consumo, facilidade do crédito e mudanças na pirâmide social.


O Camaro, símbolo das pistas de corrida Nascar do Meio-Oeste americano, é retratado como uma arma para a vingança na batalha da luta de classes da sedução amorosa no sucesso de Munhoz & Mariano, Camaro Amarelo: “Agora eu fiquei doce igual caramelo, tô tirando onda de Camaro amarelo, e agora você diz ‘vem cá que eu te quero’, quando eu passo no Camaro amarelo. Quando eu passava por você na minha CG, você nem me olhava. Fazia de tudo pra me ver, pra me perceber, mas nem me olhava. Aí veio a herança do meu véio, e resolveu os meus problemas, minha situação.”


O antigo motoqueiro de uma humilde mas eficiente CG 125 cilindrada, modelo da Honda de motor 4-tempos monocilíndrico arrefecido a ar, cuja potência máxima é de 11,6 cavalos e custa em torno de R$ 5,5 mil, ficou doce e rancoroso ao adquirir um carro da Chevrolet, que custa a partir de R$ 200 mil, V8 de 406 cavalos, com câmera de estacionamento com visualização através de uma tela de LCD de sete polegadas.


“Do dia pra noite fiquei rico, tô na grife, tô bonito, tô andando igual patrão. E agora você vem, né? Agora você quer. Só que agora vou escolher, tá sobrando mulher”, finaliza o novo-rico.


Já dupla Ronny & Rangel, do sucesso Puxa, Agarra e Chupa, que virou obrigatório em formaturas universitárias, deu um troco mais ambicioso no projeto da dupla anterior.


Camaro?


“Todo mundo fala de carrinho, mas meu negócio é outro, comprei jatinho, a playboyzada sai de caminhonete, meu avião lotado só de piriguete. Estoura uma champanhe pra gente comemorar, o clima tá gostoso, o bicho vai pegar. Vai se acostumando que ninguém é de ninguém. Ai meu deus do céu, ram, hoje tem!”


 



 


Se Puxa, Agarra e Chupa era o reflexo de um evidente caso de transferência do desejo pela mãe, que impedia o autor de tomar atitudes, expor suas vontades ao viver encolhido num espectro de castração (“com as palavras eu me perco, eu não sei falar direito, e quando eu tô a fim, timidez é meu defeito”), Festa no Jatinho acredita no sonho sem limites, no projeto de redistribuição de renda, proveniente de um novo sertão rural irrigado, terra do agronegócio, de oportunidades que proporcionam inversão da pirâmide social aliada ao ProUni e sistema de cotas que oferece chances antes remotas de ascensão.


E pensar que Menino da Porteira e Chico Mineiro, compostos pela universidade da vida, deram em ganância e esnobismo “universitários”.

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Published on February 24, 2013 12:57

February 22, 2013

los 3 amigos


 


O tempo passa.


Mas o sorrisinho gozador não muda.


O amigo é aquele que, dentre muitos, escolhemos para ser nosso irmão e decidimos tratar como tal.


 



 


 

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Published on February 22, 2013 06:01

February 21, 2013

adianta se esconder?


 


SE um vizinho é morto a facadas na esquina, não por isso me tranco em casa e não saio mais.


SE uma bêbada atropela um pedestre numa rua tranquila, não deixarei de passear pela calçada.


SE há um arrastão na praia, não evito tomar sol nem deixo de dar um mergulho.


SE meu restaurante foi assaltado, não o tiro da lista e vou lá na noite seguinte me solidarizar com as vítimas.


SE um garoto é morto na arquibancada por um torcedor irresponsável, dolosa ou culposamente, não deixarei nunca de ir aos estádios.


Nunca me entregarei.


O que farei?


Não serei aliado da loucura humana.


Lutarei para que isso não se repita.


Mas sem me calar, me trancar, negar ou me isolar.


Se esconder não muda nada, nem melhora o mundo.


Pela proibição da venda, comercialização e porte de fogos de artifícios, sinalizadores e similares.


A não ser por técnicos cadastrados e com porte.


São verdadeiras bombas detonadas diariamente nos céus.


 

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Published on February 21, 2013 12:49

February 20, 2013

a insignificância humana e o ciclo


 


No meu tempo, os uniformes dos colégios começaram a ser abolidos.


Ainda peguei a camisa social de manga curta, a bermudinha até 3 dedos acima dos joelhos, o símbolo da escola bordado no bolso.


Ainda peguei as meninas de saias com pregas, as meias esticadas, os sapatos escovados de couro preto, os laços e alças.


Nossas bermudas viraram jeans desbotados.


Os sapatos pretos e engraxados, de amarrar, se transformaram em tênis argentinos, ou contrabandeados, ou cópias nacionais, como Conga e Bamba.


As pernas das meninas foram cobertas. As provocantes saias das meninas viraram recordações de tempos inocentes.


Assim se alimentou a triste indústria da vaidade, da grife, da ganância.


Pois desde a escola se aprende a se exibir.


Mas também encerrou o ciclo em que tratava o indivíduo como parte de um todo, como massa [inspiração do fascismo].


Minha geração não fez formaturas.


Reinou o desejo de contestar a massificação imposta por um regime autoritário que entrava em colapso, uma sociedade patriarcal disciplinadora, rígida, careta, quadrada.


Era a troca da cultura da guerra e da pureza racial pela do paz & amor e respeito aos direitos civis individuais.


O barato passou a ser diferente, único, doido.


Pintava-se a própria camiseta.


Uniforme lembra exército, guerra!


Montávamos as sandálias com restos de pneus, rasgava-se a calça, tingíamos, bordávamos, misturávamos elementos: camisa do avô rasgada, com calça de tecido do colchão velho, mais uma jaqueta do Exército com pins e bótons da irmã.


O conceito era “do it yourself” [faça você mesmo], o motor do movimento punk


Uma forma de desobediência contra a ditadura da moda, dominada pelas grifes e marcas de grandes corporações.


Combatiam-se os armamentos nucleares a sociedade de consumo.


Então, as marcas, grifes do império, contra-atacaram.


Transformaram o protesto em moda, expôs nas revistas o diferente, levou para as butiques. Crianças e trabalhadores semi escravizados do Leste Asiático passaram a pintar, confeccionar, rasgar, tingir e bordar nossas roupas.


O preço caiu.


O produto se massificou.


Nos tornamos um grupo que aparenta se diferenciar.


Mas ser diferente passou a ser a regra, o comum.


Assim voltamos à nossa insignificância, crianças inocentes. Faltam a bermudas, a saia, o sapatinho preto, a meia ¾. E a simplicidade.

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Published on February 20, 2013 16:27

February 18, 2013

acontece

Passar uma manhã de Carnaval lendo as notícias, na companhia de uma tartaruga, que não para de girar ao redor, com receio de levar uma dentada no dedão do pé.


Acontece.


 




 


Passar o Carnaval levando o estandarte de um bloco e protegendo a assediada rainha da bateria. Acontece.


 



 


Chegar na estação do metrô prestes a fechar, sob chuva, e descobrir que seu acesso está em manutenção. Há dias. E xingar o governador em voz baixa.


Acontece.


 



 


Encontrar na esquina a porta de um registro de uma telefônica escancarada, descobrir que a coisa mais fácil é infernizar os vizinhos e cruzar linhas. Acontece.


 



 


Explicar para um gringo perdido num dos shoppings mais movimentados da maior cidade da AL, que recebe milhares de estrangeiros e não sabe sinalizar, onde estão os elevadores.


Acontece.


 



 


Não entender de onde vem tanto cabelo, apesar dos 53 anos, não conseguir penteá-lo e descobrir que tem pessoas com o mesmo distúrbio.


 



 


Acontece no mais movimentado dos shoppings da maior cidade da AL, que recebe milhares de estrangeiros e não sabe sinalizar onde estão os elevadores, depois de encontrar na esquina a porta de um registro de uma telefônica escancarada, descobrir que a coisa mais fácil é infernizar os vizinhos e cruzar linhas, no caminho da estação do metrô, cujo acesso na volta estava em manutenção, no Carnaval em que se leva o estandarte de um bloco e protege a deslumbrante rainha da bateria, e na ressaca faz amizades com um ser pré-histórico que viverá mais do que qualquer um de nós.


Duvida que aconteça?

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Published on February 18, 2013 06:11

February 15, 2013

a vida nada fácil


 


Tem dias que até um cara como eu, que não tem a manha de assistir TV aberta, precisa passar uma noite diante dela, para se inteirar.


E fazer aquela observação antropológica de como anda o Brasil pelos olhos da Rede Globo, empresa que o interpreta como um mercado consumidor, um alvo, ou melhor, o nicho, com ajuda do seu poderoso e experiente departamento de pesquisa e décadas de produção de folhetins.


Emissora que cria tendências [dizem], cujas novelas ditam modas [dizem] e expõe o que se deve vestir, ouvir, ver, e como se pentear.


Duas constatações:


1. Não existem rugas na tela da TV.


Uma lente especial ou uma ilha de trucagem dá uma photoshopada na pele dos personagens, ou a Botoxlândia abriu uma filial no Projac?


2. Não existe cabelo ondulado.


Da moça do tempo, passando pelas novelas e BBB, os cabelos são lisos, parecem melecados por pastas milagrosas, têm luzes e brilho artificiais, incomuns.


Imagino cantar para uma global: “Encosta a tua cabecinha no meu ombro e chora. E conta logo a tua mágoa toda pra mim…”


A cabeça grudaria no ombro. Os cabelos duros e empapados criariam um desconforto para ambos. Seria como usar uma vassoura de consolo. Um carinho nela poderia dar alergia à mão. Os produtos químicos poderiam manchar nossa camisa. Serão cancerígenos?


Melhor ficar no outro canto e a gente papeia. Não vai dar pra te dar carinho com esse cabelo, baby.


Mesmo a deusa CLEO PIRES, a perfeição em forma de morena, apareceu com um cabelo que parecia fibras óticas untadas por piche.


De repente vejo aquela menina passar, a que faz a prostituta escravizada, e me intriga, pois a conheço não sei da onde, de algum filme ou peça. Tenho minhas suspeitas. Parece a garota do filme do Cláudio Assis, FEBRE DO RATO. Mas tá recauchutada, visse.. Será a prima?


Tá linda, com a boca carnuda, os olhos de ressaca de Carnaval de Olinda, como cega pela luz forte do sol do Recife, de bermudinha sexy, mignonzinha…


 



 


Consulto meu amigo Google. É a própria, NANDA COSTA, refeita pelo departamento de recondicionamento e martelinho de ouro da Vênus Platinada.


 




 


Atriz de 26 anos de PARATY [sim, tem gente que nasce, cresce e se educa lá; não são apenas construções tombadas], que quando foi escalada para protagonizar a novela “Salve Jorge”, de Glória Perez, dividiu opiniões dentro da emissora- aprendi lendo uma coluna de meses atrás de Flávio Ricco.


“Existem, basicamente, dois lados dentro da emissora. Como crítica positiva, está o fato de Nanda ser uma escolha não previsível e de se tratar de uma cara nova. Seria uma tentativa de renovação. Do lado negativo, no entanto, setores apostam que era necessário um nome forte, bastante conhecido do grande público, na linha de frente da novela. O objetivo seria justamente o de atrair pessoas para assistir ao folhetim”, disse o colunista de TV.


Não sou a pessoa ideal para dar pitaco, mas parabéns Globo. Arriscaram e acertaram. Nunca vi um elenco tão bem selecionado para o papel.


Cafetina com cara de, prima com cara de, gigolô com cara de…


Se bem que, sintonizado na emissora, percebo que o elenco do reality que vem em seguida também se veste como as primas, cafetinas e cantores sertanejos.


Deve ser a tendência que o programa anterior aplica no vestuário do público.


Nanda está bem. A novela parece que não vai bem.


A lembrar que no ano passado GABRIELA exibia a prostituição de uma forma mais tolerável e até como força de equilíbrio de tensões sociais e políticas.


A velha prostituta amiga e conselheira, carinhosa, paciente e mítica [de FELLINI, GABRIEL GARCIA MARQUEZ e JORGE AMADO], foi trocada por uma escrava sexual.


Perdeu-se o romantismo da profissão mais antiga do mundo, a de vida nada fácil.


A personagem que se dava por vontade própria e pela grana agora é obrigada e chantageada.


Novos tempos…


 



 


+++


 


Se a PROSTITUTA é a profissão mais antiga do mundo, quem tinha dinheiro para pagá-la?


Alguém recebeu o soldo antes e pagou para afagar as mágoas com uma babilônica perfumada.


Pequenos paradoxos de uma história mal contada.


 


 

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Published on February 15, 2013 07:17

February 14, 2013

muitos preferiam ser outro


 


Ela era densa.


Achava Ella Fitzgerald secundária. Gostava mesmo de Billie Holiday no talo. Nada de Clash. Era fã de Sex Pistols no talo. Era densa e radical. Nada de Antunes. Era Zé Celso, teatro evocação, cerimônia, culto. Ela não lia apenas Guimarães. Ia atrás de “Finnegans Wake” do Joyce, queria entendê-lo, perdia horas debruçada sobre o livro, palavra por palavra, anotava, montava um quebra-cabeça em busca dos sentimentos, porque sabia que naquele caso ler era sentir, não entender, e por que ficava obcecada quando começava algo?


Era de Touro. Persistência, o seu lema.


Mas quando a insistência vira doença, uma obsessão, a persistência deve ser tratada como uma neurose.


As amigas sempre falavam isso dela:


“Você precisa relaxar mais”.


Seu irmão sempre falava isso dela:


“Você precisa ir mais à praia.”


Praia?!


Sempre a desculpa:


Logo agora que tem Mostra de Cinema, Festival de Animação, de Documentário, de Arte Eletrônica, do Minuto, Bienal de Arte, de Livro, tantas palestras e cursos… Parar? Ela não podia parar! Aproveitava e acendia mais um Marlboro vermelho.


 


Parou um dia para se perguntar:


“Do que estou atrás?”


E sofreu quando se perguntou: “Estou correndo atrás de algo ou fugindo de?”


E parou. Sofreu, sofre ainda, sofrerá?


Ouve Jeff Buckley no talo e chora.


Do que estou fugindo? Da minha própria intensidade. Eu queria tanto ser de outro jeito…


Seu único alento: o cigarro.


E a certeza de que muitos preferiam ser outro.


 


+++


 


E tem quem acha que:


 


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Published on February 14, 2013 07:36

February 12, 2013

vou te apresentar uma amiga incrível

O homem desiludido, abandonado e traído, que vaga solitário pelos calçada deserta, prefere a sombra da pequena aglomeração, cruza a pista de dança só para ir ao banheiro, que só vai a bares com balcão, para assistir aos efeitos do aquecimento global nos gelos do próprio copo, sente falta do amigo cigarro, proibido em ambientes fechados, para se esconder atrás da fumaça banida como uma usina nuclear soviética, que no supermercado seleciona as menores porções, a meia garrafa, uma meia dúzia, que nem liga o som quando chega em casa, quiçá abre um vinho para jantar sozinho, percebeu que ele é uma commodity valiosa, o cara disponível, o amigo separado, mas faz pouco para se promover nas operações da bolsa de mercadoria futura.


O que este sujeito mais escutou no tempo em que durou seu celibato forçado, vítima do estado de desânimo relacionado a uma redução na transmissão de impulsos e sinais nervosos em regiões do cérebros que regulam o humor, depois de que aquela ingrata cujo nome recusa a falar o largou, foi:


Vou te apresentar uma amiga incrível!


Se a frase foi proferida por outro cara, ele certamente é casado, pois jamais apresentaria uma amiga bacana, gostosa, muito menos incrível ao separado cobiçado. Ficaria para si, como a riqueza de um subsolo. Ela seria estatizada num monopólio sem concessões. E se for apresentada, é porque ela talvez tenha um defeito incrível e está sendo passada adiante.


Se a frase foi proferida por uma amiga, terapeuta, médica, gerente de fundo de investimentos, advogada da separação, colega de pilates, mãe de santo ou a ex de quem você consegue pronunciar o nome, pode acreditar que a amiga não é tão incrível.


Se disse “vou apresentar uma amiga linda”, ela é linda para a amiga, invejada em academias, mas que não dialoga com a libido hibernada entre glândulas espalhadas pela alma e corpo masculinos. Dificilmente o que é bonito para uma mulher o é para um homem. O que é atraente, irresistível e digno de ser apresentado a um amigo disponível carrega as qualidades de que a amiga gostaria para si.


“Vou te apresentar uma amiga que é uma gata!”


Raramente é uma gata. E, se for, será descoberta no primeiro encontro a intolerância dela a frutose, glicose, sacarose e glúten. Não come carne ou alimentos que têm olhos ou vêm crus. Não bebe, não fuma, não dirige, sem contar que mora num bairro do qual você nunca ouviu falar, acha Tarantino excessivamente violento e é da torcida organizada do time rival. Gata. Olhos lindos. Em forma, já que não come nada e pula sem parar em arquibancadas de estádios da primeira e segunda divisão. Porém…


O que as mulheres não sabem é que o gosto masculino não segue um padrão randômico, nem pode ser comparado ao diálogo num balcão do açougue. Tem lógica, sutilezas e romantismo. Duvida?


A prima – A primeira paixão, apesar do tabu. Nunca se determinou se na prima está oculto o desejo reprimido do incesto. Da boneca da irmã arrancamos a cabeça. A da prima, consertamos. O diário da irmã, queimamos. O da prima, fuçamos. Dos namorados da irmã, ficamos até amigos. Dos da prima, invejamos, depomos contra, acusamos. Os cabelos da irmã são um tormento, entopem ralos e pias. Os da prima, são lindos e sedosos. A irmã rouba nossa roupa. A prima pega emprestada. Mas é uma fantasia confusa, como uma primeira paixão deve ser.


A Bandeirante – O primeiro amor, se do ramo guia ou dirigente. Sempre alerta! Diz o juramento: “Ser Bandeirante é merecer confiança, ser leal e respeitar a verdade, servir ao próximo em todas as ocasiões, valorizar a estima e a amizade, ser amável e cortês, preservar a natureza, saber obedecer, enfrentar alegremente todas as dificuldades, usar os recursos com sabedoria, agir, pensar e ser coerente com os valores éticos.” Quer mais? O uniforme? Tênis surrado, meias brancas até um dedo abaixo dos joelhos, saia de brim azul, abotoada na frente, com gola em vê e lenço. Carregam no peito estrelas, broches com mapas, símbolos misteriosos. Na manga esquerda, tags costurados (patch scout) indicam as especialidades: fogueira (acende o fogo com elementos da natureza), primeiros socorros (quais seriam estes?). São alegres, só fazem o bem, convivem com a natureza, praticam a vida ao ar livre e o trabalho em equipe. Lema: incentivar o conhecimento de novas culturas, estabelecer um senso crítico e proporcionar um desenvolvimento criativo. Se um asteroide se chocar contra a terra, é ao lado de uma que você gostaria de estar.


Tenista do Leste Europeu – Pode ser russa, bielorrussa, ucraniana. Segura uma raquete como se empunhasse uma AK-47. Com sua saia provocante, não esconde as pernas longas, torneadas, bronzeadas. Joga com raça e determinação, como se defendesse o cerco de Leningrado. Camarada alta, forte, grita em cada jogada, nos obrigando, amantes platônicos, a instalar janelas antirruído antes de convidá-la para uma vodca com frango a Kiev. Alguma amiga apresenta uma atleta eslava?


Vizinha do Bloco B – Quem será? Passa correndo e nem repara em você. Nunca se encontrarão no elevador, pois você mora no Bloco A. Não aparece na piscina nem nas reuniões do condomínio, como se fosse heresia se socializar com a vizinhança. Nunca está na fila da entrega da pizza de domingo. Nem o porteiro sabe seu nome. Sempre tem pressa. Estaciona, aciona o alarme, carrega pacotes sem pedir ajuda. Mora sozinha, e semanalmente a buscam ou a deixam na porta do prédio; sempre é um cara diferente. Não adianta procurar de luneta pelas janelas do Bloco B. Você verá o seu síndico nu dançar um tango com o rodo. Jamais a vizinha misteriosa.


Gordelícia – Calma lá, patrulha! Reflita antes de iniciar o julgamento. Não se fere códigos de conduta nem há resquícios de preconceito neste termo. Ao contrário. Para as colegas, a gordelícia está gorda! Deve ser combatida e evitada. No entanto o mundo masculino a venera. Não considera gorda, mas fora de forma, uma delícia. Uma resistência à ditadura da bulimia que enxuga as mulheres. É a garota Canal Brasil, que mexe com os arquétipos do desejo renascentista impregnado no inconsciente coletivo. É aquela que tem onde nos segurarmos e o que pesquisar com nossos seis sentidos, que geralmente, por ser discriminada, além de deliciosa, é divertida.


 


+++


 


São elas gordelícias ou delícias que desprezam o padrão imposto e por vezes ficam mais saudáveis, fortinhas [como dizem minhas tias italianas], graças a deus…?


 







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Published on February 12, 2013 07:43

February 8, 2013

o repórter amigo


 


Por décadas, profissionais da imprensa foram grandes aliados dos familiares das vítimas da ditadura.


Através deles, sabíamos dos bastidores do poder, da tortura, do que acontecia nos porões, notícias apuradas e censuradas, que eram forçadamente engavetadas pelos órgãos em que trabalhavam.


O repórter Fritz Utzeri morreu agora, segunda-feira, justamente no dia em que a Comissão da Verdade expôs farsa do desaparecimento do meu pai, Rubens Paiva.


Fritz era um jornalista investigativo da velha guarda. Daqueles que inspiraram e fizeram muitos garotos [como eu] escolher a profissão.


Ele não saía de casa na década de 70.


Ficou íntimo da minha mãe. Investigava em detalhes, com ela, a morte do meu pai.


Ligava e contava cada novidade do que tinha descoberto.


Minha mãe demorou alguns anos para assumir a viuvez, se desfazer das roupas do marido, diminuir a largura da cama e administrar um inventário.


Mas a aliança de noivado está no seu dedo até hoje.


Foi através dele que confirmamos que meu pai tinha morrido na tortura dentro do DOI-Codi, uma informação dolorosa, mas que a família de um desaparecido político precisa ouvir para tocar a vida.


O professor ELIO GASPARI lembrou na sua coluna da FOLHA de quarta-feira, dia 6 de fevereiro, O repórter riu por último, o caderno especial feito pelo Jornal do Brasil, referência da época, de outubro de 1978.


Fritz e Heraldo Dias, numa reportagem de três páginas, expuseram detalhes de uma investigação de anos no caderno chamado “Quem matou Rubens Paiva?”.


A maior parte do que está nesta reportagem foi confirmada pela Comissão da Verdade agora, 35 anos depois, com os documentos que vieram a público.


Fritz Utzeri riu por último porque a exposição do caso pela Comissão da Verdade deu-lhe uma nova dimensão. Ficando-se apenas na cena do desaparecimento de Rubens Paiva, de quem foi a produção da mentira? Do encarregado da sindicância? Dos oficiais que estavam no DOI naqueles dias? Do capitão e dos sargentos da escolta?”, escreveu GASPARI.


A reportagem de Fritz e Heraldo Dias está no site do Jornal do Brasil em PDF:

 http://www.jb.com.br/media/arquivos/2210…


Fritz (1945-2013), mesmo doente, sempre me ligava para perguntar novidades, saber da família.


Rubens Paiva foi a sua grande reportagem. Era seu grande caso.


E seremos eternamente gratos a ele que, com a obsessão pela busca da verdade, nos trouxe dor e paz.


Um jornalista que honra a profissão.


E nos faz acreditar nela.

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Published on February 08, 2013 07:36

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Marcelo Rubens Paiva
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