Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 115
September 4, 2012
che facciamo?
Hj e amanhã, terça e quarta, últimas 2 chances pra ver IL VIAGGIO.
Destaque nessa veja sp entre as melhores peças em cartaz.
Monte de gente boa, adaptação de roteiro inédito de Fellini, divertida, emocionante, diferente e louca.
Tenho orgulho de ter feito esse trabalho e gostaria muito de ver vocês nessas últimas apresentações!
Peça que cada vez que vejo tenho uma nova leitura sobre o que ela quer dizer, o jogo entre a vida e a morte, por que estamos aqui e che cazzo facciamo adesso?!
Vem, ragazzi, vem…
September 2, 2012
não temos nada a dizer?
Hoje tem NEWSROOM, série da HBO que procura entender a ruptura do sistema político americano, sua polarização, a ascensão do Tea Party, os tentáculos do conservadorismo, a crise da mídia e seu papel, a busca pelo jornalismo ideal, sem papas na língua mas com responsabilidade.
Usa fatos reais para pontuar seus episódios e rediscutir o país.
Amanhã tem VEEP, comédia que explora os ridículos do Poder, as tramoias da Casa Branca, através de um grupo que cerca a vice-presidente e não tem relevância alguma, anseia apenas a morte do presidente, que nem aparece na série e nem lhe dá atenção.
Usa as grandes questões ambientais de hoje para provocar o telespectador.
Todas entraram no lugar de MADMEN, série ambientada na maré alta dos anos 1960, que aborda debates como racismo, emancipação feminina, lealdade no trabalho, ética capitalista, solidão, mostrando que avançaram pouco em décadas, que muita coisa mudou, mas parece que muitos dos nossos pais e avós estão ainda entre nós.
Usa o debate dos direitos civis para rasgar o contrato social americano e mostrar que os conflitos estão adormecidos e merecem vigilância.
Vi na série HOMELAND o debate sobre intolerância, fundamentalismo religioso, dúvidas quanto a doutrina que se aprende, a possibilidade de um branco, fuzileiro americano, ver o mundo com outros olhos, aprender na prática e passar a respeitar o inimigo e seus preceitos religiosos.
O papel da Igreja e os conflitos entre o que é dito e ensinado e o que se quer doutrinar estão na essência da série OS BORGIAS.
O nascimento da democracia, suas contradições, as imposições a fogo e ferro do conceito de liberdade estavam na série JOHN ADAMS.
Ter algo a dizer é fundamental para o sucesso e eternização de uma obra.
Os caras sabem fazer isso há décadas e cada vez aprimoram.
Tento ver as séries brasileiras da HBO. MANDRAKE, FILHOS DO CARNAVAL, ALICE, PREAMAR, FDP. Tento ver e gostar. Torcer por elas.
Há muita vontade de acertar, talento por trás das câmeras, elencos sensacionais, belas fotografias, trilhas; o que temos de melhor.
Parece tudo aristotelicamente correto. As cenas têm ligas, começo, meio e fim, são bem amarradas.
Porém…
O que querem dizer?
Queremos apenas entreter?
Ou não temos nada a dizer?
E pensar que a TV brasileira começou muito bem, com DIAS GOMES, VIANINHA, BRAULIO PEDROSO, CASSIANO GABUS MENDES… Comunistas de carteirinha.
Tá faltando um pouco de CPC na TV brasileira.
Ou continuaremos com uma leitura superficial de Macunaíma e, ai que preguiça, refletiremos apenas as mazelas do nosso caráter?
Tudo bem, o desencanto com a política do telespectador brasileiro e dos agentes culturais é enorme.
Então por isso mesmo vamos falar dela.
O CINEMA NOVO fez isso, Meirelles com CIDADE DE DEUS fez isso, Padilha e seus dois TROPA DE ELITE, idem, Jorge Amado em toda sua obra, idem, assim como MACHADO, LIMA BARRETO, OSWALD e MARIO DE ANDRADE…
O filme brasileiro mais premiado, O PAGADOR DE PROMESSA, também.
August 31, 2012
dar, beijar e comer
Semana que vem começa o evento mais suculento do ano.
ENTRE os dias 3 a 16 de setembro, mais de 280 restaurantes de BH, Brasília, ES, SP interior e capital, Goiânia, PE, Porto Alegre, RJ, Salvador entram em promoção.
Almoço a R$ 31,90
Jantar a R$ 43,90
E São Paulo, já vi por alto que alguns picos tradicionais estão na promoção, como QUATTRINO, LE VIN, MONTE CHIARO, GIGETTO, CONSULADO MINEIRO, GATO QUE RI, TORDESILHAS.
Uns étnicos como ARÁBIA, TANGER, SHINTORI, NAKOMBI, HIDEKI, HITAM, GOVINDA.
E uns moderninhos, CAPIM SANTO, ICI BISTRÔ, OSCAR CAFÉ, PIOLA, MERCEARIA DO CONDE, LUNA CAPRESI.
No Rio: 00, BAR D HOTEL, BARRACUDA, REAL ASTÓRIA, SKY LAB, NAM THAI, YALLA, VIZTA.
Em Salvador: SÉRGIO ARNO, DONA MARIQUITA, JABUTICABA, SOHO.
A lista completa, no site http://www.restaurantweek.com.br
Bora lá, sei que começam as preocupações para se entrar em forma, mas ainda falta 1 tempinho para chegar o verão.
Relaxa e vai fundo, cai de boca.
Experimenta aquilo que para os ricos é PF.
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HOJE NA MOSTRA CEMITÉRIO DE AUTOMÓVEIS 30 ANOS
Nosso ídolo, ou melhor, nossa musa LAERTE.
Que, como a XUXA, se não fosse famosa, ia dar muito, beijar muito, namorar muito. E mentir muito.
Às 19 horas, na rua frei caneca, 384, São Paulo, SP.
entrada franca
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Xuxa diz que ia dar muito se não fosse famosa, a mulher de Kaka diz que não é santa…
E tudo começou com Sandy declarando que sexo anal dá prazer.
O que aconteceu com as santinhas?
Por favor, que nenhum repórter ligue pra minha mãe nesses dias.
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Como tem gente que acha que sou ele…
Nós, da banda Saco de Ratos (eu mais Fabio Brum, Marcelo Watanabe, Fabio Pagotto e Rick Ricardo Vecchione) vamos lançar o nosso segundo CD nesse sábado (dia 01/09) no Sesc Belenzinho.
Vamos tocar todas as músicas do segundo CD na sequência. Algumas delas: “Vulgar”, “Com outro na sua boca”, “Deprimido”, “Blues”, “Balada do Velho Quarteirão”, “Temporal”, “O fundo do prato”, “Se eu tivesse grana hoje”, “Augusto Sérgio”. Na mesa de som: Diego Basanelli e na iluminação: Marcelo Montenegro.
Ajudando em tudo o que for necessário e vendendo os nossos CDs (sim, vai ter o primeiro pra vender também) e possívelmente camisetas: Vespasiano Ayala.
O show começa às 21h30. Mas a partir das 20h já vai estar aberto e exibindo o documentário “Saco de Ratos” do nosso amigo Grima Grimaldi que nos acompanhou (a nós e a nossos amigos).
Na Comedoria do Sesc Belenzinho (Rua Padre Adelino, 1.000 – Belenzinho, São Paulo – SP)
August 30, 2012
já coube
August 28, 2012
hj tem
Sol
Britadeira
Maritacas
Nuvens
Buzinas
Pastel na feira
Talvez chova
Fuligem
Café com pão na chapa
Metrô até Vila Mariana
Baldeação na Ana Rosa
Contas a pagar
Contas a cobrar
Contabilizar
Aquilo que vale a pena e aquilo a ser deletado
Escolher as prioridades e torcer para que dê tempo
Que sempre parece insuficiente
A vida em curta temporada
Como a memória que não vem
Hoje tem
August 26, 2012
dogmas de uma geração
“Você nunca tem ciúmes?”, ela perguntou.
“E isso é ruim?”
Ela não respondeu e impediu a passagem do garçom com o braço, que sorriu complacente como todo garçom de casamento que tem a passagem bloqueada. Que olhou para a convidada já bem alta, como a maioria naquele horário, adivinhou a sua bebida, encheu o copo longo com três pedras de gelo e uma dose caprichada do scotch disponível.
Complacente e camarada.
Ela agradeceu trôpega, deu um gole, balançou a cabeça satisfeita, sorriu, sentou-se ao lado do marido, que já estava há horas bebendo só água, e disse:
“Acho bem esquisito.”
“O quê?”
“Você não ter ciúme.”
“Devia dar graças a Deus.”
“Acha mesmo?”
“Marido ciumento é pior do que psicopata preso.”
“Por quê?”
“Porque está solto.”
Ela não achou graça. Ele não explicaria num fim de festa perto da melancolia e estados alterados, que veio de outra geração, que viveu numa época em que o ciúme era combatido como a mais-valia, a exploração do proletariado mundial, o latifúndio, a Coca-Cola e o fast-food, que no seu tempo a turma usava uma estrelinha vermelha e negava a propriedade privada, inclusive a sexual. Não poderia haver posse nas relações. O homem não deveria subjugar as mulheres, dominá-las. Emancipação. Direitos iguais, ouviu falar?
Sim, ela é de outra época, ela é “jovem”. Nem imagina o quanto os homens hoje grisalhos tiveram que reaprender, sofreram nas mãos de universitárias combativas que não se depilavam, costume burguês, que comparavam a fidelidade e o casamento, essa instituição falida, a dois projetos em que o ciúme jamais deveria fazer parte, cujo casal modelo, Sartre e Simone, era lido e debatido, imitado e invejado.
Ele não ia enumerar quantas vezes dançou e cantou o libelo paradoxal de sua época, para uma garota de vestido Tweed ou calça Yes Brazil em cores cítricas, chutando e socando o ar: “Eu quero levar uma vida moderninha, deixar minha menininha sair sozinha, não ser machista e não bancar o possessivo, ser mais seguro e não ser tão impulsivo. Mas eu me mordo de ciúme…”
E o quanto foi difícil assimilar com as mulheres a não ter ciúmes, excrecência que não passa de sintoma de uma insegurança que merece um divã e muita meditação, que nem deve entrar na mesa do banquete de discussões matrimoniais, porque é um sentimento torpe, mesquinho, vil, insano. Passou anos aprendendo a não ter ciúmes, controlar as fraquezas do seu ego, a conviver com emulações, invejas. Não era agora que…
“A mulher do seu amigo me atacou no banheiro.”
“Como é que é?”
“Estávamos dançando, você não quis dançar, você nunca quer dançar, tava aí em altos papos com o Caio, eu e ela, sobrando, pra variar, ela me chamou pra dançar, você não viu? Eu falei, olha, vamos dançar, viu? Querem vir? Estavam falando do projeto lá de vocês, e como sempre você nem reparou… Dançamos, fomos pro banheiro, e ela me atacou.”
“A Lu?”
“É. A mulher do Caio.”
“Como te atacou?”
“Atacou atacando. Me grudou na parede, me beijou, enfiou a língua.”
Deu mais alguns goles. Olharam a festa no auge da decadência, a noiva bêbada dançando sem o véu e parte do vestido com o fotógrafo, o noivo fumando sozinho. Ele se levantou, pegou na mão da mulher e disse:
“Bora.”
No carro, pensou no porquê a mulher do Caio a atacara, mulher que nunca gostou dele, pois achava que ele era má influência para o marido, com quem trabalhava, que na verdade era quem o levava a inferninhos baratos depois do expediente, em que se embebedavam e, lógico, o cara, Caio, sempre dava bandeira quando chegava em casa com o perfume vagabundo de uma prostituta no corpo, um arranhão novo nas costas, uma camisinha no bolso, bandeiras que eram desfraldadas e geravam uma crise por meses, enquanto ele, o álibi, só bebia e no máximo olhava o striptease.
Então, Lu, resolveu se vingar, hein?, e atacar a nova mulherzinha suculenta daquele a ser derrotado, garota de outra geração que, por sinal, já ficou com mulheres, como uma vez contei para Caio, que deve ter te fofocado, Lu, numa noite qualquer sem assunto…
“Não ficou com ciúme?”
“Não.”
“Nem um pouco?”
“Nem um pouco.”
“E se fosse o seu amigo que me atacasse?”
“O Caio? Não faria isso.”
“Quem te garante? Ah… A ética masculina.”
“Tenho certeza de que ele não faria isso.”
“Mas se fizesse?”
“Eu ia ficar… Sei lá.”
“Com ciúme?”
“Não.”
“Ia romper a amizade?”
“Talvez.”
“Ia nunca mais falar com ele?”
“Não sei.”
Entraram no carro. Ele dirigiu. Já estava há mais tempo na água, enquanto ela não conseguiria dar a partida. Não ligaram o som. Porque talvez quisessem ver até aonde aquela conversa ia, se chegaria a uma encruzilhada ou ao ponto final e revelaria um para o outro o que estava em jogo naquela relação que começava, qual era o limite, onde era o campo minado, quem era quem, quem topava o quê.
“Vocês têm muitos projetos juntos?”
“Dois.”
“Já foram aprovados?”
“Estamos na fase da captação.”
“Pode rolar, como pode ir pra gaveta.”
“Por que está tão interessada?”
“Ele ficou passando a mão na minha perna.”
“O Caio?!”
“É. Por debaixo da mesa. Enquanto jantávamos nós quatro na mesa, ele passava a mão na minha perna, eu tirava, ele colocava, não sei se a Lu viu, fiquei desesperada, deve ter visto, eu mudava de posição, ele vinha, fiquei sem saber o que fazer, por isso me levantei e fui dançar, te falei vamos dançar, mas você engatou um papo empolgado com ele, e a mão dele procurando minhas pernas, eu, bêbada, ela deve ter visto e acho que por isso em vingança me atacou no banheiro, é, seu sócio, que situação…”
A rua deserta. Mesmo assim ele parou no sinal. Que abriu, fechou, abriu e fechou. Não saíram do lugar. Mãos firmes no volante.
“Estou vendo que isso mexeu com você”, ela disse.
Temeu que ele manobrasse para voltar ao casamento e arrebentar o amigo.
“Não é estranho? Dela, você não tem ciúme. Já dele… Precisa rever seus conceitos.”
Ele continuou calado.
“Que bom, você tem ciúmes, sinal que me ama. E que é um pouco machista. Porquê… Se bobear, sou mais ela do que ele. Vamos pra casa, vai.”
Ele finalmente colocou o carro em movimento. E disse, lamentando:
“Dois projetos a mais na gaveta.”
“Relaxa, amor, é mentira, ele não passou a mão na minha perna, e ela não me agarrou.”
Ele olhou sem entender nada. E antes de repreendê-la, ela disse:
“Queria me certificar se o dogma da sua geração é uma verdade absoluta.”
Se certificou. Não é. Mas até hoje ele está desconfiado de que o desmentido final foi para salvar os projetos em captação.
August 24, 2012
mundo livre?
Hoje estreia O DITADOR, do criador de BORAT (2006) e BRUNO (2009), Ali G, Sacha Baron Cohen.
Com Ben Kinsley, que considera Cohen o novo Chaplin.
É a história do General Aladeen, ditador de Wadiya, um país rico em petróleo, cercado por dunas de areia, que constrói uma bomba atômica para destruir Israel.
Pressionado por inspetores de Armas de Destruição em Massa, o ditador vai aos EUA discursar na Assembleia Geral da ONU e explicar que suas pesquisas nucleares são para fins pacíficos.
O filme é para rir [e muito] do começo ao fim. Os ditadores são homenageados.
General Aladeen tem uma guarda feminina, como Muammar Kadhafi, da Líbia, seu país entra em convulsão e a população derruba a sua estátua, como Saddam Hussein, do Iraque, sem contar a contestada pesquisa nuclear do Irã.
Além disso, o filme é dedicado ao falecido Kim Jong-il, da Coreia do Norte .
Na pele do segundo melhor jornalista do Cazaquistão [Borat], ou de um jornalista gay [Bruno], a fórmula de Cohen, e o que nos atrai: o mundo ocidental, especialmente o chamando mundo livre e suas contradições, é que está no centro da gozação, é o alvo da sua sátira.
Quando chega nos EUA, o chefe da segurança vai logo avisando:
“Eu não gosto de árabes.”
“Mas não sou árabe”, esclarece o ditador.
“Para mim, judeus, negros, homossexuais, todo mundo de quem não gosto é árabe.”
Não escapam da sátira aqueles que defendem refugiados políticos, feministas que não se depilam, lojas de produtos orgânicos, hipsters, verdes e especialmente a ideia duvidosa de que a América é a eterna guardiã da liberdade e da democracia.
No final das contas, o ditador resolve abrir o seu país, aceitar eleições, numa primavera de liberdade, e discursa para a História:
“Farei de Wadiya uma ilha de democracia, como a americana, em que os ricos pagam cada vez menos impostos, 1% da população controla 40% da economia, uma minoria racial, os negros, é maioria nas prisões, e há muros que os separam de um país vizinho mais pobre.”
Cohen, inglês, sabe apontar os pilares fracos da nossa civilização.
Não está ali para fazer humor fácil e criticar ditadores. Está para mexer em feridas que são mal cicatrizadas no bem-intencionado mundo livre.
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Resolvi homenagear o grande ADÃO ITURRUSGARAI, humorista de primeira, nosso exilado em Córdoba, Argentina, que passou por aqui para lançar sua autobiografia ilustrada, MINHA VIDA RIDÍCULA, já nas livrarias, e que homenageou HOPPER, o pintor da solidão.
August 23, 2012
sempre aquele papo.
Olha aí, terça que vem.
O tema é quente.
E causa curiosidade no leitor há séculos.
Flaubert disse “Bovary c’est moi” para se defender das acusações da Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, em Paris, de ofensa à moral e religião, num processo contra ele e também contra Laurent Pichat, diretor da revista Revue de Paris, em que a história em capítulos no formato folhetim.
Queriam saber que era adúltera em que o autor tinha baseado sua história.
“Ela mesma, Madame Bovary, aquela putinha francesa filha da puta que coloca chifre no coitado do marido trabalhador, que atormenta a vida do corno com sonhos fúteis de mulher que não vale nada, interesseira, que não se satisfaz com a vida razoável que o coitado proporciona, quer mais, quer glamour, quer zoar em baladas do povo rico, quer poder, quer dar aquela boceta suja para o primeiro babaca que passar pela frente, ela que sonha viver na Paris cheia de putaria, que passa o dia inútil contando ervilhas e lendo revistas de fofoca da época, enquanto o marido dava duro, viajava para atender os doentes, pegava chuva e frio, enquanto a piranha, cobra, cachorra, vaca, galinha, sem-vergonha e ordinária, escrota, nojenta, puta, vagaba, insensível, egoísta e cretina colhia flores no jardim“, disse Luiz Mário em MALU DE BICICLETA.
Machado dizia que tudo o que escreveu tinha fundamentos na vida real.
Difícil separar uma da outra, a vida do escritor, o que ele escuta, observa, da invenção pura.
Na minha pouca experiência, garanto que…
Bem. Bora papear sobre.
Terça que vem.
August 21, 2012
Mulheres assustam
Kika, 16 anos, tinha veneno no sangue. Também. Ficávamos nos amassos apertados. A cada dia, o amasso adquiria um novo componente: uma mão no seu peito; uma mão na sua bunda; um chupão no pescoço; levantar seu vestido; explorar por baixo do vestido; subir com suas pernas abertas; subir com meu pau contra ela. Um dia, fui longe demais: abri a calça, tirei o pau pra fora e pedi:
“Chupa.”
“O quê?!”
“Chupa pra mim.”
“Você tá louco?!”
“Põe a tua boca nele e chupa, aliás, não chupa, lambe, como um pirulito.”
“Pára com isso, Luiz!”
“Mas é gostoso.”
“Isto é horrível.”
“Não é, não.”
“Por quê?! Por quê?!”
“Você não é a minha namorada?”
“Vou chamar a mamãe.”
“Sua mamãe saiu com o seu papai, para provavelmente fazer o mesmo em paz.”
“Sai daqui!”
“Pega nele.”
“Sai!”
“É gostoso.”
“Vou chamar o meu irmão.”
“Ele está lá embaixo, com a namorada, provavelmente pedindo a mesma coisa.”
“Grosso.”
“Não é tanto assim.”
“Porco!”
“Vai, eu te amo, você me ama.”
“Eu te odeio!”
“Isso é um gesto de amor.”
“Você é nojento”.
“Vai. Vai! Estou perdendo a paciência.”
Ela se abaixou, colocou a boca no meu pau e, entre uma lambida e outra, repetiu:
“Eu te odeio!”
“Eu te amo.”
“Vou contar pra mamãe.”
“Você é linda.”
“Eu te odeio!”
“Eu te amo.”
Kika chupava, chorava e repetia que me odiava e, quando acabou, chorou desesperada, como se estivesse sem ar. Achei que ela ia ter um enfarte. Busquei água com açúcar na cozinha. Ela se trancou e não me deixou assisti-la.
Hoje em dia, quando uma mulher escreve sobre a sua vida sexual com palavras fortes, relatos picantes e detalhados, é sinal dos novos temos, é a liberdade e igualdade, é o direito garantido de se expor. Mas quando um homem faz o mesmo é um retrocesso, a linguagem é chula, e o acusam de machista. Mulheres falando de sexo é charmoso. Homem, é cretino.
Kika não contou pra sua mãe. Kika padecia de curiosidade. Experimentar o estranho e escondido. A ceninha, óbvio: uma cena, para não ferir sua dignidade, menina-de-boa-família. Quer saber do mais estranho? Ela me deu um pé-na-bunda fenomenal, me trocando por Cássio, meu colega. Põe estranho nisso. Trocou, como se muda de camisa, sem remorso, culpa, constrangimento ou uma papo sério. Mais uma, para a minha lista de abandonos. Cássio se apaixonou por ela. E virou o meu melhor amigo. Porque virei seu confidente. Dizia que ia se casar com Kika quando ela fizesse 18. Dizia que seus nomes, Cássio e Kika, combinavam. E, segundo ele me contou, e melhores amigos nessa idade contam tudo, ela queria chupar o seu pau todos os dias em todos os lugares, obcecada pela novidade, e quanto mais em público mais ela implorava: chupou meu amigo num táxi, numa esquina, no banheiro do colégio, na mesa de sinuca, no quarto da mãe. Chupava e repetia: “Eu te odeio!”
Cássio se assustou. Garotos desta idade se assustam à toa. Garotas assustam. E lhe deu um pé-na-bunda enjoado de tanto boquete. Vai entender…
Garotas assustam. Mulheres assustam. O processo discursivo pelo qual se passa de proposições conhecidas ou assumidas (as premissas) a outra proposição (a conclusão) à qual são atribuídos graus diversos de assentimento, maneira do dicionário entender um raciocínio, é incompreensível para um homem quando ele é feminino. Com o tempo, nos acostumamos. Continua incompreensível, mas se torna constante.
[trecho do livo Malu de Bicicleta, lançado há dez anos]
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TERÇAS E QUARTAS em SP.
E agora com a musa PAULA COHEN no elenco:
August 19, 2012
greve
Certamente o governo federal não tem pressa alguma em atender as reivindicações desta categoria de… servidores públicos.
Não presta serviços essenciais, apesar do indiscutível poder de transformação no passado.
Uma pena que esta TV não fique aberta 24h todos os dias da semana protestando, debatendo, inovando.
Cedendo microfones e câmeras para quem queria dizer algo.
Mostrar novas bandas, num grande show ao vivo.
Peças de novos autores, curtas e longas de novos cineastas.
A semântica dos novos poetas, o foco de novos artistas.
A voz dos sem-teto, sem-terra, sem-voz.
Sem perder a ternura.
Não se faz mais revolução como antigamente.
Se minha turma de rádio e TV da USP dos anos 1980 tivesse a chance de pôr as mãos neste veículo por um mês…
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