Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 119

June 26, 2012

se liga, hippie velho


 


FEBRE DO RATO é um filmão, que deve ser visto e sobre o qual refletido.


Apesar de CLAUDIO ASSIS, seu diretor, ser um baita mala e nos odiar [já comprou briga com HECTOR BABENCO, WALTER SALLES, TROPA DE ELITE, E AÍ, COMEU?, BETO BRANT, PAULO SACRAMENTO], nós o amamos, respeitamos e acompanhamos atentos as suas provocações.


CLAUDIO ASSIS é um artista que pode nos detonar.


Tem currículo e obra.


Mas vive num mundo eletrizante, delirante, do qual também tenho saudades. Em partes.


Defende aquelas utopias que foram corroídas pelos ratos da industrialização e da tecnologia alienante, que seduziu e se consumiu da nossa poesia anárquica, paixão descabida, contradições eternas.


O filme é como se o Grupo Oficina renascesse em Recife.


É como se os anos 1970 nunca tivessem acabado.


E como se CHACAL reaparecesse para colar poemas em postes.


Apesar do poeta marginal PEDRO BIAL de antigamente hoje apresentar o esculacho de grande audiência.


Sim, bora protestar ao ver atores maravilhosos atuando como mordomos e empregadas em novelas das seis.


E ver grandes dramaturgos escrevendo programas de humor populacho, cineastas fazendo filmes publicitários para sobreviver, gente de teatro, programa de TV infantil.


Paradoxalmente, CLAUDIO ASSIS faz filme justamente no Estado que há dez anos cresce mais do que a CHINA, na cidade que troca o seu pátio e escombros do antigo porto por um polo tecnológico.


Filme financiado por prefeituras de Recife e Olinda, empresas de energia do Estado, porto estatal e, lógico, a nossa amada Petrobras, mãe do cinema, teatro e dança nacionais, teta da qual se alimenta o que há de melhor na cultura brasileira. Sem todas elas, FEBRE DO RATO não sairia do papel.


E como somos todos parte de um mercado imaturo e dependente, como filhos com diploma que não largam a casa dos pais, pois não querem entrar para o mercado corporativo, pouco nos lixamos para o estrago que o combustível fóssil causa nos mares e na mente pequeno burguesa e agora auto suficiente do brasileiro, ou se o dinheiro estaria melhor investido ou se dará bilheteria.


Ainda bem que não precisamos nos preocupar com a bilheteria e fazer o nosso cinema.


Isso aqui é um capitalismo pela metade. É o CAPIBERISMO.


CLAUDIO ASSIS critica todos nós por sermos vendidos, e garanto que passa o chapéu em escritórios de marketing cultural das grandes empresas mistas e públicas, como nós, em busca da grana suada do brasileiro, macbetiana manchada de sangue e dor, chamada patrocínio cultural de isenção fiscal. Como nós.


Vai, FAUSTO, ser guache na vida…


 



 


CLAUDIO ASSIS não é um babaca. Não o conheço profundamente, mas já o vi eventualmente, papeei com ele, bebi ao seu lado, temos amigos e bares em comum. Mas é bem chato quando abre a descarga dos seus lamentos e atinge colegas que dão duro como ele.


O filme foi baseado num poeta marginal, ZIZO, Irandhir Santos [de TROPA DE ELITE 2], que mimeografa seus poemas, cria um jornal, adora mulheres mais velhas, provoca a cidade e se apaixona enlouquecidamente por uma garota mais jovem, que o despreza.


Grita com seus seguidores pela cidade: “Anarquia e sexo!”


Não dá mimos para as pessoas, dá poesia.


Quem viveu naquele período viu muitos ZIZOS perambulando pelas capitais e interior, seres inconformados que decidiram não aderir ao caminho sem volta do iHomem.


Adoro seus filmes [AMARELO MANGA, BAIXIO DAS BESTAS]. Acho divertido e estranho ele detonar ½ mundo. O BRASIL precisa disso?


Febre do rato é uma expressão típica do Recife. Designa pessoas fora de controle, sem limites. É o nome do tabloide de notícias publicado por Zizo.


Como se diz no RECIFE, o filme é “du caraiu!”


Da fotografia em P&B à trilha NAÇÃO ZUMBI, de JORGE DU PEIXE a JUNINHO BARRETO- uma trilha da ponte que liga o MANGUE ao BAIXO AUGUSTA e VILA MADÁ.


Com um elenco que se joga e se expõe.


Arrisca tudo.


 



 


NANDA COSTA maravilhosa fez muita novelinha também [COBRAS & LAGARTOS, VIVER A VIDA].


MATEUS NACHTERGAELE fez minisséries e séries globais.


IRANDHIR fez BESOURO, filme inspirado no cinema américano, como diria Glauber.


Cara, ninguém é santo neste País de indústria e mercado cultural apadrinhados pelo Estado, que dificilmente vive das próprias pernas. Somos eternos índios paternalizados pelo Estado.


Então, relaxa aí, veio…


E, pra falar bem a verdade, dá saudades, mas prefiro os dias de hoje do que voltar ao romantismo sem âncora dos anos 1970. Pelo fim das utopias!


Aliás, ele também. Afinal, é sobre isso o filme, sobre os ratos que corroeram nossas fantasias.


Se liga, hippie velho:


I’m an antichrist, I’m an anarchist


Don’t know what I want


But I know how to get it


I wanna destroy the passerby

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Published on June 26, 2012 10:50

June 22, 2012

Verão de 2112



 


Janete, querida. Estamos aqui em férias na Europa, com a luz de Júpiter, lindo e exuberante como sempre, esparramada pelo céu.


Sabia que ele também tem anéis?


Io acaba de nascer bem na nossa janela. “A lua Europa, que orbita Júpiter, é ideal para mergulho, patinação e esqui”, leio aqui no folheto do hotel flutuante. Ela é coberta por uma camada de gelo de quilômetros de espessura. Embaixo da camada, tem um oceano de água fresquinha e morna, que dá pra mergulhar, porque “a intensa atividade geológica libera calor”.


O Riovaldo tá rindo aqui, porque sempre que viajamos de férias leio os folhetos dos hotéis. E decoro as informações mais importantes. Devo ser a única. Ano que vem, pretendemos ir pra Titã, lua de Saturno. Deve ser lindo um pôr do sol em Titã, com aqueles anéis gigantescos riscando o céu. Ou seria pôr do planeta? Rarará.


E você, quais são as novidades? Conta, como anda a Terra? Deve estar meio parada, com o petróleo no fim. Rarará.


E a Rio + 120, chegaram em algum consenso? Du-vi-do…


Já te falei, querida, você podia morar conosco em Marte. Viu como melhoramos de vida?


Podemos abrir outro salão juntas. Franquia. Todo mundo precisa de manicure em Marte. Aquela poeira gruda nas unhas que é uma coisa. Você precisa de qualidade de vida, querida, esse negócio de morar em Campos do Jordão, só porque as geleiras e os polos estão se derretendo e o nível dos oceanos está subindo, é uó.


Ouvimos dizer que ela chegou em Cubatão. A água do mar. E que lá no Rio barracos da Rocinha e do Vidigal estão valendo milhões.


Sei que é difícil conseguir visto pra morar em Marte. Mas existem esquemas alternativos. Evite os foguetes do Hezbollah. Chacoalham muito e não são confiáveis.


Querida, aproveite agora que o PCC anexou a Bolívia, pegue um trem em Presidente Marcola, ex-Presidente Bernardes, até Cochabamba. É aquele trem bala perdida que corre ao lado do cocaduto. Não tem fiscalização. Quem se atreveria? Depois, pegue um foguete do CV na Plataforma de Foguetes Espaciais Fernandinho Beira-Mar. Os cocaleiros fazem a guarda. Vá até a Estação Espacial PromoCenter, aquele shopping de contrabando que gira ao redor da Lua, da família chinesa Law Chong, e pegue o primeiro ônibus espacial pra Marte. Na verdade, é uma van espacial. Lotação. Construída pelos coreanos. Do norte. E pilotada por chineses. Uns amores.


Em Marte, você fica conosco.


Moramos na beira dos canais, perto do Olympus Mons. É lindo. Tem as calotas polares que reluzem. Tem chuva de arenito sulfúrico e gás carbônico todas as tardes. Durante o inverno, o frio é tanto que congela a superfície. São enormes blocos de anidrido e dióxido de carbono sólido. E água! Menina, Marte não é esse desertão que muitos pensam. Tem leitos de rios secos, que pelo menos não são poluídos, como os daí. Mas tem lagos gelados na superfície, gelo subterrâneo e água congelada no subsolo do planeta. Olha, hoje em dia, tem mais água limpa em Marte do que na Terra. Rarará.


Você não precisará mais viver com o racionamento de 1 copo de requeijão de água por semana como aí no Brasil.


A atmosfera marciana é rarefeita de dióxido de carbono com neve carbônica, tempestades de poeira e redemoinhos. Como São Paulo no outono. O céu é amarelo-acastanhado. Exceto durante o nascer e o pôr do sol. Ele fica com uma cor rosa e vermelha. É a poeira. Tem metano na atmosfera. Você vai se sentir num fim de tarde na Marginal do Tietê.


O ano de Marte é quase o dobro do terrestre; cerca de 1 ano e 11 meses. Você nem vai conseguir dizer “puxa, como esse ano passou rápido”. E a duração do dia em Marte é de 24 horas, 39 minutos e 35 segundos. Dá pra dormir um pouquinho mais.


Sabe, em Marte não tem esse negócio de arrastão. Fugir pra onde? E se tiver rebelião, colocam os presos no pátio. Sem traje espacial.


Minha amiga, sob o vento e a radiação solar, eles estão fritos! Literalmente. São os únicos presídios em que os presos não fazem a menor questão de uma hora de banho de sol por dia. Rarará.


Querida, vem morar conosco, o ar de Marte está bem menos poluído e ácido do que o de Osasco. Fora que o clima anda ameno, não tem essa variação de quase 40º num dia só. Inverno é inverno, verão é verão. Não é essa loucura aí de Berlim, Paris etc., com 44º na sombra.


Fazemos um puxadinho. O Riovaldo falou que pode comprar uma laje. Chama a Odete também. Para ela fazer depilação no nosso salão. É outro mercado em alta no planeta vermelho. Menina, com a radiação, nascem pelos nem te conto onde. Vem você, a Odete, e pode chamar a Meire. A gente monta um salão com serviço completo. Mas fala pra Meire que em Marte ninguém tinge o cabelo de vermelho. Adivinha por quê…


Ah, sim, e conta quem matou o Sebastião Falcão. E o João Victor é filho de quem, da Laura ou da Márcia? A novela aqui chega atrasada. O delay espacial. Outra pergunta.


Disseram aqui que a operação no Fidel foi bem-sucedida. Esse homem  ainda está vivo?


Então, essa medicina cubana é boa assim, é?


Se você quer qualidade de vida, crescer acima dos 3%, saía daí. Esse planeta aí não tem mais futuro. Era lindo. Eu vi as fotos no museu. Pena que na EcoRio 92 e na Rio + 20, + 40, + 80, ninguém pensou em preservá-lo.


E sabe da maior? Marte tem duas luas, Fobos e Deimos. Quando só uma delas está cheia, o salão lota. Imagine quando as duas estiverem. E pra namorar, hum…


Então, se animou? Saudades de você. Riovaldo manda beijos. De máscara de mergulho, porque ele pagou o pacote e vai explorar o satélite. Viu o que você está perdendo aí nesse fim de mundo?

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Published on June 22, 2012 09:31

June 21, 2012

va benne

Muito engraçado como o meu colega LUIZ CARLOS MERTEN começou a crítica ao filme E AÍ, COMEU? hj no ESTADÃO.


Quando um crítico é sincero, elegantemente debochado, o leitor ganha tanto…


E falou algo que me fez pensar muito. “Os homens são infantis e essa é uma lição que o grande cinema italiano, de Federico Fellini (Os Boas Vidas) a Mario Monicelli e Pietro Germi (Meus Caros Amigos) já nos deram”.


Pensei se não está na minha raiz italiana a origem que deu ideia à peça e ao filme.


Numa sociedade matriarcal , como a brasileira e a italiana, somos servos obedientes das senhoras lá de casa.


No fundo, elas que mandam. Apesar de negarmos e  nos vangloriarmos nas mesas do bar.


Sim, é o que me levou a escrever E AÍ, COMEU?.


E está no filme. Que estreia amanhã.


 



 


Leia o que ele escreveu:


Que fique logo claro que E Aí, Comeu? não é o tipo de filme preferido de crítico. Comédia popular, com elenco global e abundância de sexo, o filme é uma grande aposta de ‘mercado’. Estreia com 550 cópias. O outro nacional que também entra nesta sexta-feira, 22, – A Febre do Rato, de Cláudio Assis -, esse, sim, um filme de crítico (e muito bom), deve estrear com 1% desse total.


Quantidade não supera qualidade, etc. e tal, mas você não precisa ser sizudo e pode muito bem se divertir com Fernando e seus amigos. Fernando é o personagem de Bruno Mazzeo, que levou o fora da mulher e curte a dor de corno. Perdão pela linguagem chula, mas o filme é pródigo nela. Os 10 ou 15 minutos iniciais são de arrepiar. Depois, não é que E Aí, Comeu? maneire nos diálogos. O espectador é que se acostuma e começa a perceber o potencial romântico da trama.


Bruno Mazzeo é muito bom – ponto. Expõe toda a fragilidade do novo homem, que parece forte e cafajeste no papo de bar, mas lá no fundo não consegue se desvencilhar das lembranças do passado. O filme é sobre relacionamentos, sobre homens e mulheres sem investir na guerra dos sexos. No limite, e em outro contexto, Apenas Uma Noite, já em cartaz, seria a versão sofisticada de E Aí, Comeu?.


Justamente o papo de bar é a aposta do filme. A sacada de E Aí, Comeu? é que há um contingente de mulheres interessadas na conversa e elas, não por acaso, ocupam a mesa ao lado e intervêm nos diálogos, polemizam com os machões (fragilizados). Os homens são infantis e essa é uma lição que o grande cinema italiano, de Federico Fellini (Os Boas Vidas) a Mario Monicelli e Pietro Germi (Meus Caros Amigos) já nos deram. A linguagem verbal pode ser escrota, o filme não é. Existem boas observações, o público das pré-estreias está adorando. E, ah, sim, Seu Jorge é ótimo. Rouba a cena.

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Published on June 21, 2012 10:51

June 18, 2012

créditos da vida

Saí correndo do escritório, chamei o elevador. Baita pressa. Tocou a sineta, e a porta se abriu.

Apesar de distraído, percebi a centímetros do fosso que ele inacreditavelmente não se estava lá. Elogiei a concentração dos anjos da guarda.


Entendi o porquê do aviso aos passageiros (Lei 9.502): “Antes de entrar, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar.”


Às vezes, não se encontra. Seria uma queda fulminante de dez andares, muitas fraturas e minha última vida.


E não tinha alma viva no hall para dividir comigo a peça sem graça do destino e o tamanho susto. Fiquei parado muito tempo repensando na vida. Até começarem a subir os créditos. Em segundo plano, a porta aberta e o escuro daquele fosso.


 



 


Todas as vidas deveriam vir com créditos.


No começo, o elenco de maior importância: pai, mãe, avós, babá, melhores amigos, professores, namoradas, esposas, filhos, empregadores. Direção? Deus para os católicos, Acaso para os agnósticos, Nada para os niilistas, Demo para os desgraçados, corruptos, ditadores e motoristas que não tiram a mão da buzina.


No meu caso, seria direção do Livre Arbítrio e produção ítalo-brasileira- em respeito à dupla cidadania e ao lado materno 100% oriundi.


Mas quem escreveria os créditos?


Se fosse na pós-produção, como o montador saberia qual amigo merecia estar no crédito inicial ou apenas no final, e se a ex-esposa que desgraçou a vida do protagonista, arruinou as finanças e escalpelou a estima merecia letras miúdas no final ou o desprezo total, e nem nos agradecimentos apareceria.


Quem seriam os patrocinadores, nossos empregadores? E os que nos demitiram sem justa causa? Como enumerar as músicas que fizeram parte das nossas vidas. Entram dentistas, barbeiros, médicos, motoristas?


Daria muito trabalho incluir créditos nas nossas vidas.


Melhor continuarmos sem eles, como uma produção barata.


Ou melhor, de baixo orçamento.


+++


Afinal, para que servem os créditos finais de um filme, para dividir informações importantes, homenagear quem trabalhou na produção ou seguir exigências sindicais?


O que interessa saber do nome do cara que foi assistente do homem da grua da unidade externa da cena de perseguição da Hungria? Quem trabalhou na produção ganhou para aquilo.


Talvez os nomes no letreiro final sirvam para aqueles que trabalharam quase de graça e trocaram o soldo pela visibilidade. Como estagiários.


Gosto de algumas informações. Por exemplo, nomes e autores das músicas. Porém, tais créditos costumam passar muito rápido e não indicam com precisão que, naquela cena, aquela música bacaninha que tocou foi essa aqui, ó.


Gosto também de saber que o dramalhão que se passa na proibidíssima Coreia do Norte foi filmado nos estúdios de Chinatown em San Francisco, que o massacre contra monges tibetanos foram praticados contra figurantes filipinos, que o desembarque das ilhas do Pacífico foi filmado no Caribe, e o assassinato do padre de El Salvador foi encenado em El Paso, Texas.


Mas algo me intriga há anos.


Por que aparecem nomes dos motoristas nos créditos finais? São os motoristas das cenas que dirigem enquanto o que é importante rola no banco traseiro da viatura? Não. Estes estariam em “figurantes” se arrancassem quando ouvissem “siga aquele carro”, e em “atores coadjuvantes” se tivessem fala, mesmo que fosse uma simples “para aonde, senhor?”


Claro que os motoristas que aparecem nos créditos trabalharam na produção. É uma exigência sindical? De qual sindicato, Central Única dos Motoristas de Produções de Audiovisual? Há um racha, a Central Geral dos Condutores de Produções de Vídeo e Cinema? Uma é mais à esquerda? Outra apoia o governo e seu líder é Deputado Estadual candidato à Câmara Federal?


No mais, que informação precisa é esta? Os nomes que aparecem são Tonhão, Aderbal, Pelezão, Alemão, Romarinho, Silveira. Sempre tem um Silveira. Certamente é o mais velho do grupo. Nunca tem nome e sobrenome. Ou é o primeiro, ou o último, ou o apelido.


O que o Tonhão fez? Levou a estrela do hotel para o set? E se a mesma acordou atrasada, a van da produção saiu antes, e ela teve de pegar um táxi, anotou o nome do motorista para colocar nos créditos? “Senhor, como gostaria de aparecer? Silveira e Alemão já temos.”


No mais, se é uma homenagem, como Silveira, Romarinho ou Tonhão podem se gabar ao lado de uma paquera, que leva para ver o filme para que colaborou efusivamente, cuja ausência daria outro tratamento, pior, à produção final, e que tais prêmios não seriam nem indicados? Como provar que Galego que aparece nos créditos é ele, e não outro motora loirão e alto, que também faz frila pra galera do cinema? “Gato, na próxima manda pôr o seu PIS/Pasep, assim eu acredito”, ouviria.


O que nos adiantam nomes de tantos profissionais úteis, como boys, motoras, auxiliares, contadores, se não aparecem seus contatos?


Bem, treinadores de animais, tudo bem.


Nem todos precisam de um.


Mas babás… Andam tão em falta no mercado, que poderiam vir os telefones de algumas nos créditos finais, mesmo que nenhuma tenha trabalhado na produção.


+++


Desde a primeira vez que foi ao cinema, Antônia, filha de 5 anos de um amigo, se levanta da poltrona quando os créditos finais sobem, desce os degraus da sala ainda escura e vai dançar.


Ninguém a ensinou.


Deve pensar que para isso serve a música final, a meia-luz, as letrinhas que não compreende subindo.


Música + escuro + espaço livre = pista de dança.


Ela se aprimora. Sente quando a narrativa chega a uma conclusão, o final está próximo, e a Peripécia leva à Revelação (Aristóteles). Ela se levanta da poltrona e espera o the end, que para ela é um começo. Enquanto o público se encaminha para as portas de saída, ela já está debaixo da tela dançando.


Curiosamente, com o tempo, outras crianças passaram a imitá-la. E, como num cinema popular indiano de Bollywood, sentem-se livres para se expressar corporalmente.


Deveríamos todos imitar Antônia. Dançar no final no espaço entre a tela e as poltronas. Poderiam entrar garçons servindo drinques.


Pelo preço que pagamos pelo ingresso, estacionamento e pipoca…


 


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Published on June 18, 2012 15:48

June 13, 2012

o que é censurado pelo face

 



 


Nada mais estranho do que a censura do FACEBOOK.


Não combina.


A liberdade é a semente da rede. Era.


Talvez a pedofilia, os hackers, o crime organizado e desorganizado, os processos por danos morais de celebridades que viram suas privacidades invadidas sejam responsáveis pela criação do departamento de censura das redes sociais, sites de busca, portais.


Os advogados de Cicarelli e de Dieckmann ameaçaram o Google caso o site de buscas não tirasse as referências ao famoso vídeo na praia da modelo e fotos no banheiro da atriz.


Seria como processar a SAMSUNG, SONY, GE pelo vídeo ilegal exibido em canais de televisão.


Privacidade e honra atacada, descontrole de informações, direitos autorais desrespeitados, tudo leva a um grande rigor e controle, caso a empresa queira ter ações na bolsa e bilhões na conta.


Porém, a censura é burra; uma das poucas verdades absolutas.


A do FACE em geral é moral, contra nudez e sugestões.


Vale lembrar que a maior parte da censura vem de denúncias de usuários da própria rede social.


E que, ironicamente, foi no Google Imagens que encontrei todas as fotos citadas abaixo.


Como à de SIMONE DE BEAUVOIR [nua de costas num banheiro, feita pelo fotógrafo Art Shay em Chicago em 1952]. Justo ela.


 



 


O poeta e meu ex-vizinho CLAUDIO WILLER recebe de usuários denúncias de abuso dos censores do FACE e posta em seu blog. Solicitou que enviassem mensagens para o endereço eletrônico cjwiller@uol.com.br.


“Denúncias não serão apenas por tais procedimentos ferirem a legislação brasileira, à qual termos de adesão não podem sobrepor-se, mas também por serviços de má qualidade prestados pela rede social. Intervenções são arbitrárias, atingindo alguns usuários e não a outros, absurdas (a ponto de haverem censurado uma foto do obelisco do Parque Ibirapuera).”


WILLER lembra que o “vertiginoso” crescimento do Face não foi acompanhado por 1 bom atendimento, apesar de ser grátis.


Aqui, algumas pérolas relatadas por censurados pelo FACE:


1. RUBENS ZÁRATE:


Censura ao link da exposição que traz as fotos de Ginsberg e Orlovsky por Elsa Dorfman:


 

 http://www.beyars.com/partner-objekt_302…


 


2. CLAUDIO DANIEL:


Publicou uma fotografia de Joel Peter Witkin parodiando a Vênus de Botticelli. Foi excluída de sua página e recebeu um aviso que ficaria 24h bloqueado, porque a imagem ia contra as normas do Facebook. Depois, censuraram uma foto do obelisco do Ibirapuera, que publicou com a frase “homenagem ao censor”.


 



 


3. CÉLIA MUSILI:


Postou pinturas clássicas e modernas, uma série sob o tema O Nascimento do Vênus, com obras de Boticelli, Tintoretto, François Boucher, entre outras, e sumiu da página minutos depois.


4. DANIEL PAIVA:


Escreveu que nos 20 anos do lançamento do disco Nevermind, do Nirvana, a imagem da capa do álbum foi retirada.


 



 


5. PAULA FREITAS:


Um aviso dizia que havia sofrido um bloqueio de 24h por infringir regras do FB, e sugeria que lesse os termos da rede social: “Remover fotos com ‘conteúdo violento’”. Uma das fotos era a Lennon abraçado a Yoko.


Que foi capa da revista ROLLING STONE.


 



 



6. MÁH LUPORINI:


Retiraram as fotos de nudez de Paul Delvaux. Quando tentou publicar algo o FACE depois, apareceu a mensagem: “Você publicou recentemente alguma coisa que viola as políticas do Facebook. Portanto, você não poderá utilizar este recurso temporariamente. Saiba mais. Para evitar ser bloqueado novamente, certifique-se de ler e entender os Padrões da comunidade do Facebook.”


 



 


7. TYASO DE CINESE:


Primeira censura: uma foto em que está cantando e atuando nu na peça Macumba Antropófaga no Teat(r)o Oficina, onde a nudez é um símbolo de descolonização da cultura brasileira.


24hs de castigo.


O perfil Uzyna Uzona no Facebook foi deletado.


Segunda censura: algumas fotos da capa da TRIP 204 sobre diversidade, em que fizeram uma matéria sobre amoRevolução.


3 dias de castigo


8. LUCAS BERTOLO:


Depois de publicar foto de Ingrid Bergman com um chicote, recebeu: “As pessoas usam o Facebook para compartilhar eventos por meio de fotos e vídeos. Compreendemos que imagens gráficas são um componente comum dos eventos atuais, mas elas devem atender às necessidades de uma comunidade diversificada. É proibido o compartilhamento de qualquer conteúdo gráfico por prazer sádico.”


9. NATASHA PRADO:


Criou uma “fanpage” paga da Tucumán Filmes para divulgar o filme “Slovenian Girl”, e depois de alguns dias a página foi bloqueada com a justificativa de que o anúncio não atendia às diretrizes da rede social, e que a imagem incluída violava o Guia de Anúncios do Facebook.


 



 


A imagem sugeriria pornografia. É o cartaz do filme que é, inclusive, divulgado na Europa.


 



 


10. FERNANDO RABELO, através de ZECA CASTELAR:


Desde o ano passado, o seu mural de fotografias históricas foi censurado 3 vezes pelo Facebook, que removeu imagens alegando violação à Declaração de Direitos e Responsabilidades do Facebook.


A primeira foto removida foi a de Helmut Newton, que mostra June Browne (sua mulher durante 55 anos), num momento íntimo e descontraído.


 



 


Outra imagem removida foi a da atriz francesa Emmanuelle Béart, feita pela fotógrafa Sylvie Lancrenon em 2008 em Havana.


 



 


11. MAR BECKER:


Postou uma foto do Jan Saudek. Bloquearam e ficou dias sem conseguir compartilhar nada. Não recebeu nenhum aviso por e-mail quanto ao número de horas que manteriam o bloqueio.


 



 


12. MATHEUS CARRERA MASSABKI:


Foi censurado e deletaram a foto de seu perfil por conta da nudez:


 

 http://www.flickr.com/photos/57951459@N0…


13. DIEGO MORAES:


No dia 21/04/2012, foi retirada a capa da página da “revista clitóris” no Facebook e eliminados mais de 415 compartilhamentos. Revista editada por Camila Fraga


 

 http://revistaclitoris.wordpress.com/


 

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Published on June 13, 2012 15:57

carência é doença


 


Ele estava na dele, quando ela ligou, queria conversar.


Na sua voz, uma aflição inédita, curiosa.


Ela costumava ser alegre, muitas, como todos. Mas agora do outro lado da linha alguém sofria, alguém que precisava dele. E como tinham o pacto ele prontamente atendeu, entendeu, foi vê-la.


Ela era um antigo caso, daqueles que a gente não supera, ex de muitos anos atrás, quando ela tinha por uns 18 anos. Ele dizia espera você crescer mais, eu te amo, tu me amas, mas viva um pouco mais, e brincavam, quando você se aproximar dos 30, a gente pensa, tá,  quando eu me aproximar dos 30, a gente se casa, pensa, casa, casa, pensa…


Ela tirou carta, se graduou, morou com amigos, trabalhou. Conheceu outros países. Outros estilos musicais. Cada ano vibrava por outra moda.


E durante a década viviam se encontrando, às vezes amigos, às vezes se pegando, amando, escondidos, sempre se ajudando, conselhos, curando, passeando, uma amizade-amor.


Até trepavam.


E era sempre a mesma sorte, o tesão de sempre, aquele corpo de que ele era íntimo, que venerava, trepavam rindo, gozavam gargalhado.


Então, ela disse, acabei uma relação, estou com 30 anos, e aí, quer casar comigo?


Ele, na dele por opção, riu, será?


Pensou, mas então é agora?


Calculou, não era para ser apenas uma amizade-amor? Não era melhor assim? Assim é bom?


Riu, sorriu, pensou, como cartas sendo embaralhadas, viu fotogramas do futuro, nós na mesma casa, nós acordando num domingo, nós cozinhando, nós num Réveillon, em Natal, bebendo num boteco, na cama assistindo à TV à tarde. Trepando quase todas as noites. Nela grávida ao seu lado.


E respondeu: OK!


OK…


OK?!


Ela pulou de alegria, avisou a família, contou pros amigos, fez planos.


Ficou eufórico, claro, por que não, eu a amo, ela me ama!


Passaram a semana juntos.


No fim de semana ela sumiu.


Na outra semana, disse que estava triste, que procurou o ex para consolá-la, e ele ia morar com ela, ele o ex.


“Como você acha que eu ia te namorar, se eu estava triste, terminando uma relação séria, sim, você me tocou, foi gostoso, mas eu estava carente. E você também. Carência é doença.”

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Published on June 13, 2012 07:36

June 12, 2012

Novas fotos de Dieckmann caem na rede

Ela de novo.


Gostou do título que lembra um Cavalo de Tróia?


Essa tensão que vive a rede estressa.


E você que só pensa em bobagem e em ser o primeiro a saber correu para ver intimidade da pequena notável.


Não tem vergonha, não?


Relaxa, abre 1 livro, dá 1 role de metrô, entra no mar, sei lá, sai dessa vida…


São fotos das filmagens de A Pele do Cordeiro,  da O2, na Serra da Mantiqueira, interior de São Paulo, que estão no site da produtora.


Sobre 1 grupo de amigos apaixonados por literatura, que resolve escrever cartas para si próprios, para serem abertas em exatos 10 anos, em que expõem sonhos e projetos de futuro.


No mesmo dia, o mais talentoso deles sofre um acidente e morre. Dez anos depois, o grupo se reúne para abrir as cartas e confrontar o que estava escrito com o que rolou.


Direção de Paulo e Pedro Morelli. Na fotografia, o mestre e meu amigo Gustavo Hadba.


O filme tem no elenco ela, Caio Blat, Lee Taylor, Maria Ribeiro, Paulinho Vilhena, Júlio Andrade e a estonteante Martha Nowill.


Ei-la muito bem protegida do frio, com Maria e Martinha:


 


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Published on June 12, 2012 10:57

June 11, 2012

foi mal…

Aê, foi mal.


Demos 1 baita azar pra Seleção Brasileira…


 



 


Vamos ver se o filme, que estreia semana que vem com 550 cópias, com HOMEM ARANHA e BATMAN,  tem melhor sorte.


Olha aí trechos do que o RODRIGO FONSECA escreveu em O GLOBO:


 


RIO – Na torcida por um blockbuster neste ano em que nenhum lançamento nacional passou a marca de um milhão de ingressos vendidos, o cinema brasileiro receberá “E aí, comeu?”, de Felipe Joffily, em duas semanas, como uma promessa de redenção comercial. Papo de botequim em forma de longa-metragem, regada a piadas e a dores de amor, a produção de R$ 5,5 milhões, adaptada do texto teatral homônimo de Marcelo Rubens Paiva, estreia com fôlego hollywoodiano (550 cópias), no dia 20 no Rio e no dia 22 no resto do país. Num momento em que as atenções do circuito exibidor (e de boa parte do público) voltam-se para os novos filmes de Batman e Homem-Aranha e animações como “A Era do Gelo 4″, o longa de Joffily é o título made in Brazil que se candidata a enfrentar a concorrência de Hollywood.


— Este foi um ano em que os filmes brasileiros foram melhores em qualidade artística do que em resultados de bilheteria. Isso preocupa, é claro. Mas, como realizador, eu não posso me prender numa paranoia em cima de um risco imprevisível: de o filme dar certo ou não. É melhor eu me preocupar com outra coisa, que é entregar um filme bom — diz Joffily, ao lado do produtor Augusto Casé, com quem trabalhou em “Muita calma nessa hora” (2010), um sucesso que deixou exibidores surpresos.


Com um tom similar ao das comédias juvenis dos anos 1980, “Muita calma nessa hora”, que custou R$ 2 milhões, contabilizou 1,5 milhão de espectadores, apoiado no carisma de uma legião de humoristas. Um deles é Bruno Mazzeo, que entra em “E aí, comeu?” como ator e produtor associado.


— Já trabalhamos com o Mazzeo em “Cilada”, a série, e eu produzi o filme “Cilada.com” (3 milhões de pagantes em 2011). Quando buscávamos um projeto, ele veio com a ideia da peça do Rubens Paiva, sobre três homens em um bar. O título, “E aí, comeu?”, podia espantar algumas pessoas, por parecer grosseiro ou até machista. Quando o Marcelo foi encenar, chegaram a sugerir que ele mudasse o nome para “Da boca pra fora”. Mas nos diálogos da peça você já sentia um tom de humanidade para além do riso, num olhar sobre o homem hoje — diz Casé, que estreou como produtor de longas em 2003, com “Benjamin”, de Monique Gardenberg.


Na versão da peça de Rubens Paiva, roteirizada por ele em parceria com Lusa Silvestre (“Estômago”), Mazzeo vive o arquiteto Fernando. Recém-largado pela mulher (Tainá Müller), ele afoga suas desilusões com seus melhores amigos, o jornalista Honório (Marcos Palmeira) e o aspirante a escritor Fonsinho (Emilio Orciollo Netto). Assim como Fernando, que em meio à dor da separação lida com o assédio de uma vizinha adolescente (Laura Neiva), os outros dois estão cheios de quiproquós afetivos. Honório acredita estar sendo traído pela mulher, Leila (Dira Paes), e Fonsinho não consegue ter uma vida amorosa sólida, investindo apenas em mulheres casadas e na garota de programa Alana (Juliana Schalch).


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/cultura/comedia-ai-comeu-estreia-encarando-gigantes-de-hollywood-5158528#ixzz1xVryRwjU


 


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Quem deve estar rindo de tudo isso:


 



 


 


 

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Published on June 11, 2012 12:10

June 10, 2012

No fim, o sentido


 


Quando se começa a ler um livro premiado, não só estamos diante de uma obra bem recomendada como também checamos aquilo que é digno de glória. Será que este é o futuro do romance? Assim caminha a literatura, gênero de sete vidas que atacado por outros gêneros luta para preservar as últimas?


Já fui chamado para ser jurado de um importante prêmio literário brasileiro. Mas a honra logo virou pânico. Eu teria que ler 400 livros em dois meses, ou 6,66 livros por dia. Recusei educadamente e curioso perguntei como os outros jurados conseguiam. “Indicam livros de amigos ou que ouviram falar”, me respondeu a organizadora um pouco envergonhada.


Muitos prêmios não devem ser levados a sério. Sabemos que eles não apontam por que uma obra é a melhor. Tal competição fracassa em busca de regras coerentes. Sem contar a influência de panelas literárias e lobbies editoriais.


O escritor britânico Julian Barnes (O Papagaio de Flaubert) era mais aclamado na França do que em casa. Tudo mudou em 2011 quando lançou O Sentido de um Fim. Em outubro, dois meses depois do lançamento, foi anunciado vencedor do Brooker Price, prêmio mais importante do Reino Unido, e acabou na lista dos mais vendidos.


Stella Rimington, presidente do júri que levou meia hora para decidir entregou ao autor um cheque de £ 50 mil no jantar anual em Guildhall, Londres, transmitido pela BBC, e discursou: “O Sentido de um Fim tem os registros da clássica literatura inglesa. Ele é primorosamente bem escrito, com uma trama muito bem desenhada, e traz profundas revelações a cada leitura.”


É verdade. O autor, acadêmico que começou escrevendo livros policiais nos anos 1980 com o pseudônimo Dan Kavanagh, rema com facilidade pela filosofia, história, traça uma narrativa linear, joga com a memória e, diferentemente de Papagaio de Flaubert, não desembarca nas praias do experimentalismo.


Na literatura contemporânea, a maioria dos autores está mais interessada em contar boas histórias do que inventar expressões ou unir palavras, buscar ou pesquisar narrativas com inversões e tramas picotadas. Roberto Bolaño, Philip Roth, Jonathan Franzen e outros seguem o pão-pão-queijo-queijo literário com distância segura da artilharia das antigas vanguardas.


Barnes constrói uma trama simples e sedutora. Quatro amigos do “colegial” se destacam não por suas habilidades esportivas e sexuais. Diz Tony, o narrador: “Sim, é claro que éramos pretensiosos. Para que mais serve a juventude?”


Causavam terror e admiração entre os professores ao contestar as origens da Primeira Guerra. Usavam termos como “Weltanschauung” e “Sturm und Drang”, gostavam de dizer “isto é filosoficamente auto evidente”, usavam relógio virado para o lado de dentro do pulso, como quem ignora o tempo.


Adrian, o mais inteligente e misterioso, conseguia encontrar contradições nas aulas e costumava citar: “A história é aquela certeza fabricada no instante em que as imperfeições da memória se encontram com as falhas de documentação.”


Liam O Manifesto Comunista, Wittgenstein, Camus, Nietzsche, Orwell, Huxley. Eram meritocratas e anarquistas e afirmavam que todos os sistemas políticos e sociais pareciam corruptos. Não aceitavam outra alternativa que não fosse o caos hedonista. Debatiam a função da história e o papel do historiador- interpretação subjetiva versus objetiva. Analisavam a coleção de discos e livros dos outros. Havia os livros Penguins cor de laranja, para ficção, e Pelicans azuis, para não ficção. Ter mais azuis do que laranjas na estante era prova de seriedade.


Apesar de estarmos nos anos 1960, Tony escutava Dvorák, Tchaikovsky e a trilha do filme Um Homem e uma Mulher. “A maioria das pessoas não experimentou os anos de 1960 até os anos 1970. O que significa, logicamente, que a maioria das pessoas nos anos 1960 ainda estava experimentando os 1950.”


Eventualmente, o autor provoca, interfere: “Será que a conversa foi exatamente assim? Provavelmente não. Mas é como eu me lembro dela.” E o narrador imagina que num romance as coisas teriam sido diferentes. “De que adiantava ter uma situação digna de ficção, se o protagonista não se comportava como teria se comportado num livro?”


Se sentiu muito triste depois de beber numa festa. E quando uma garota passou e perguntou se ele estava bem, ele respondeu “acho que sou maníaco-depressivo”, pois achou mais interessante do que dizer “estou um pouco triste”. “Nós sabíamos por nossas leituras dos grandes livros que Amor envolvia Sofrimento, e teríamos de bom grado praticado o Sofrimento se houvesse uma promessa implícita de que o Amor poderia estar a caminho.”


Até conhecer Veronica, garota impulsiva, com quem ficava nos agarros, sem saber se era virgem. Mas não podia reclamar, pois as garotas estavam permitindo muito mais do que suas mães tinham permitido, e eles estavam conseguindo muito mais do que seus pais tinham conseguido. Chegou a conhecer a família da pretendente, que de repente o dispensou. Ironicamente, tiveram o chamado “sexo completo” depois do rompimento.


Tomou como lema da vida “time is on my side, yes it is” (Rolling Stones), se afastou dos amigos, até saber que a ex-namorada o trocou por Adrian, e que este, aos 22 anos de idade, se matou metodicamente, deixando um bilhete na porta do seu quarto em Cambridge: “Não entre. Chame a polícia.” Cortou os pulsos da maneira certa, em diagonal, numa banheira. Em seu texto de despedida, ninguém prestou atenção nos argumentos, referências a filósofos antigos e modernos, a respeito da superioridade do ato de intervenção sobre a passividade ignóbil de simplesmente deixar a vida acontecer para você.


“Eu sobrevivi. ‘Ele sobreviveu para contar a história’ – é assim que as pessoas falam, não é? A história não se resume às mentiras dos vencedores, como um dia afirmei. Ela é feita mais das lembranças dos sobreviventes, que, geralmente, não são nem vitoriosos nem derrotados.”


Tony se aposenta. Aos 60 anos, solitário, gosta das coisas arrumadas. Recicla, limpa, decora o apartamento para conservar seu valor, já fez seu testamento, tem consciência de que as relações com a filha, genro, netos e ex-mulher, se não são perfeitas, são pelo menos sólidas.


Diferentemente de Roth, que trata a velhice como um estorvo, e a degradação do corpo como a degradação do desejo, o protagonista de Barnes se conforma: “Aquelas pequenas diferenças de idade, tão cruciais e tão graves quando somos jovens, se desfazem. Nós acabamos todos pertencendo à mesma categoria, a dos não jovens. Eu mesmo nunca liguei para isso.”


Até receber uma correspondência inusitada, que o remete há 40 anos. “Eu descobri que esta pode ser uma das diferenças entre a juventude e a velhice: quando somos jovens, inventamos diferentes futuros para nós mesmos; quando somos velhos, inventamos diferentes passados para os outros.”


A mãe de Veronica morreu e deixou de herança 500 libras e o diário de Adrian, que poderia desfazer as reiterações banais da memória, provocar alguma coisa, embora não se saiba o quê.


Quando se acredita que o passado está assentado e digerido, seus fantasmas reaparecem para negar a lógica traçada e recontar a história: “Quem foi que disse que a memória é o que nós achamos que tínhamos esquecido? E devia ser óbvio para nós que o tempo não age como um fixador, e sim como um solvente.” Ao final, descobre-se que alguns atos inconsequentes causaram dor, que uma carta escrita há 40 anos sob as marcas da raiva e do ciúme deu em morte, e que o que parece ser não é.


 


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A foto de ANITA EKBERG, atriz, miss e modelo sueca, MUSA DOS ANOS 60, famosa por entrar numa fonte em ROMA  e chamar “vienne Marcello…”, que abre o post, não tem nada a ver com o texto.


É um protesto contra a censura do FACE, empresa que tomou um preju histórico nas últimas semanas.


Quem a posta, é suspenso, como aconteceu com quem postava foto da SIMONE DE BEAUVOIR nua.


Sob a acusação de expor genitálias etc.


Acho que nerds nasceram in vitro, não de um corpo como este.


A  nudez os assusta como um café sem conexão.


 


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E porque é homenageada, com FELLINI, na peça que adaptei IL VIAGGIO.


Cuja temporada no SESC BOM RETIRO termina hj.


Veleu SESC, DANILO, SIDNEY, SÉRGIO e toda a trupe, elenco e equipe da peça.


Especialmente à CERELLO e GRANATO.


Foi 1 dos espetáculos mais lindos de que já fiz parte.


E com uma das equipes mais profissas e divertidas.


Ci vediamo presto!


Voltaremos em outro teatro logo logo.



 

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Published on June 10, 2012 10:12

June 5, 2012

última semana

Teremos espetáculo quinta, sexta, sábado e domingo, OK?


Como se fazia no meu tempo.


Olha o cara… Como se hj não fosse meu tempo.


 


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Published on June 05, 2012 22:00

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Marcelo Rubens Paiva
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