Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 121
May 22, 2012
por que virou à direita? marketing, ora
A DIREITA é como 1 avestruz, por vezes esconde a cabeça debaixo da terra.
Envergonhada talvez por alguns desvios históricos.
Mas quando o erro vira esquecimento, ela sai formosa e galopante.
No final da Segunda Guerra, o Holocausto e os horrores nazistas deixaram a direita em hibernação.
Saem do coma pouco a pouco, na Holanda, França e até Grécia, berço da civilização Ocidental, onde o Partido Nazista se tornou força política na última eleição.
A xenofobia continua a ser a tese que mais agrega, num discurso ainda confuso que, em tempos de crise, ressuscita.
Lembra do bando skinhead que matou o adestrador de cães, Edson Neri da Silva, em 2000 na Praça da República, em São Paulo? Eram homofóbicos. No grupo, preso meses depois, que defendia a raça pura, havia nordestinos e negros.
O fim da ditadura também deixou a direita piano piano.
Os horrores dos porões, os relatos de sobreviventes, os crimes contra a humanidade tornaram indefensáveis as teses da direita, que defendia o regime.
Saiu de moda.
José Guilherise Merquior, que se considerava o homem mais culto do Brasil, sociólogo, crítico literário e assumidamente de direita, foi para o ostracismo.
Nelson Rodrigues, que durante um período defendia o governo Médici e propagava que não havia tortura no Brasil, foi outro para quem a massa crítica torcia o nariz, que pagou um preço caro por suas contradições.
Desprezado, machão, não ligava. Seu papel era provocar.
Mas um dia tudo mudou, quando viu com os próprios olhos o filho torturado, um caco, na cela de uma prisão.
E Nelson se calou.
Glauber Rocha, também acusado de pactuar com os milicos, foi outro caso.
O nome mais importante do cinema brasileiro, no exílio desde o endurecimento da ditadura, apoiava a luta armada, arrecadava grana no exterior para a ALN, morou em Cuba [era o único na Ilha que tinha autorização para fumar baseado].
Até ser convocado por Jango em Paris, o presidente deposto, a voltar para o Brasil e preparar a sociedade civil para a Abertura de Geisel, que enfrentava o rompimento do seu regime, pressão dos americanos defensores dos direitos humanos da Era Carter, da Igreja de Dom Paulo, do Vaticano, e a ira da linha dura dos milicos da ativa.
Jango acreditava nos irmãos Geisel. Dizia que na fuga do Brasil em 1964, seu avião poderia ter sido abatido, mas o general Orlando negou a ordem- assim como descumpriu a ordem de bombardear o Palácio Piratini, onde Brizola se entrincheirava em 1961 na Campanha da Legalidade.
Glauber voltou, alardeou os feitos dos milicos, comprou briga com a esquerda, radicalizou, provou que a Abertura era de verdade, deu sustentação civil ao projeto de Geisel, e morreu sozinho, sem conseguir filmar, sem amigos, duro e paranoico.
Glauber nunca foi de direita. Como Gil, Caetano e alguns tropicalistas. Compunham outra força cultural que não fazia o jogo das esquerdas. Ou melhor, da esquerda mais ortodoxa.
Superada a dor da prisão e exílio, Gil cantava “realce, quanto mais purpurina melhor…”, enquanto a plateia cantava “quanto mais cocaína melhor…”, e Caetano cantava “deixa eu dançar, pro meu corpo ficar odara…”
Não denunciavam a perseguição política, a ditadura, a censura, os milicos. Mas jamais poderiam ser acusados de enveredar rumo à direita.
O tropicalismo é mais profundo do que a visão maniqueísta da vida: 2 lados, 2 ideais.
Não é marxista, stalinista, maoísta, leninista. O tropicalismo gostaria de inventar seu próprio ismo.
Porém, como Glauber, foram “patrulhados”.
Hoje, existe uma categoria de intelectual que descobriu que, se reproduzir o discurso da direita, ganha moral, destaque, prestígio e espaço.
Pois no debate sempre foi imprescindível ouvir o outro lado- poucos se dispunham a cumprir o papel de alvo fácil do meio acadêmico e jornalístico; papel de boi de piranha.
Então figuras de segundo escalão do nosso pensamento e mercado editorial mudaram de lado, passaram a escrever contra leis das cotas, projetos de distribuição de renda por meio de bolsas, etc.
O escândalo do Mensalão, o fim da pureza petista- a prova de que é preciso colocar a mão na merda quando se quer o Poder- deu a munição que precisavam.
Perderam a vergonha, ganham leitores, fãs, são comentados e estão no foco.
Filósofos, sociólogos, jornalistas secundários, desprezados por seus pares e academia, relevantes, tornam-se estrelas de uma guerra que já acabou.
E mais uma vez a polêmica serve para ofuscar a falta de um projeto vertical, de um discurso complexo, amplo, que realmente confunda a alma e as relações.
O problema é quando eles mesmos se levam a sério.
E passem a acreditar que o marketing pessoal é pensamento capaz de transformação; patológico quando se vangloriarem disso e não percebem que são apenas escada dos protagonistas do picadeiro.
May 20, 2012
fogo amigo
Só pode ter sido uma piada a Newsweek designar na capa Obama com um halo sobre a cabeça da cor do arco-íris como O Primeiro Presidente Gay, na semana em que o mesmo defendeu a união entre pessoas do mesmo sexo- em plena acirrada e nada definida campanha eleitoral.
Meses antes, insinuaram no Washington Post que Richard Nixon tinha um relacionamento de natureza homossexual com seu melhor amigo, Charles “Bebe” Rebozo.
Prova? Don Fulsom, repórter de rádio que cobriu a Casa Branca de Lyndon Johnson a Bill Clinton, lançou suspeitas depois de ver fotos dos dois “guys” de mãos dadas.
O site do History Chanel postou texto do sociólogo Jim Loewen que afirma que James Buchanan, o 15º presidente (1857–1861), foi o primeiro e viveu muitos anos em Washington com o senador do Alabama, William Rufus King. Eram tão grudados que os chamavam de irmãos siameses.
Prova? Uma carta que Buchanan escreveu para a Senhora Theodore Roosevelt, descoberta pelo historiador John Howard (de Men Like That) reclamando de que sua vida social se deteriorou depois que King mudou para a França.
“Eu estou agora sozinho e solitário, sem nenhuma companhia nessa casa comigo. Tenho ido cortejar vários cavaleiros, mas não sou bem-sucedido com nenhum deles. Acho que não é bom para um homem ficar sozinho; e não ficarei surpreso comigo mesmo se me encontrar casado com uma velha empregada que pode cuidar de mim quando eu ficar doente, fazer bons jantares e não esperar nenhum afeição romântica ou muito ardente.”
Gay? E daí?
Parte da sociedade americana relevava e chamava seu parceiro de “Cara-Metade” e “Tia Chique”.
O que levou a Newsweek, publicação nem muito à direita, a, como diria o personagem Carlos Massaranduba (Casseta & Planetas), duvidar da masculinidade do Senhor Michelle Obama?
Vender revistas.
O educado gesto editorial de indicar as fontes e apurar a notícia com o maior número de provas desceu os degraus do inferno.
O que vale é a informação chegar em primeiro aos olhos e ouvidos do maior número possível de pessoas, falsa ou verdadeira, e causar um bas-fond.
Com técnicas de espionagem até.
Isenção?
Qualquer manual de Teoria da Comunicação e semiologia prova que é impossível isenção quando existe emissor na mensagem.
Durante muito tempo, eu preferia preencher “jornalista” como profissão em formulários ou fichas de hotéis.
Não só porque “escritor” não tem pinta de profissão, mas de estado de pobreza, como achava digno me apresentar como colega daqueles caras que derrubaram Nixon, Collor, cobriram guerras, foram censurados e perseguidos por ditadores facínoras.
Hoje, nos tumultuados almoços da família, passo mais tempo dando explicações do que saboreando as novas receitas. Graças às redes sociais, até as tias descobriram a relação faustiana secular entre jornalistas & poder e se indigna.
Me acusam agora de trabalhar há mais de 30 anos para uma facção golpista.
A imprensa está em pé de guerra. Bandeiras já foram proibidas.
Logo, logo, a bebida alcoólica também será, em encontros da classe. Como nos estádios.
Aliás, também tenho que defender colegas acusados pelos meus primos de serem simpáticos a este ou aquele time de futebol.
No Brasil, há suspeitas de que bicheiros, banqueiros e empreiteiros pautem jornalistas, indiquem em qual página ou coluna deve ir uma nota.
No Twitter, uma militância animada costuma enquadrar a revista semanal 1 no trending topics, lista de assuntos mais debatidos, e defender a coragem da revista 2, que denunciou a primeira.
Revistas se acusam de manipulação e associação com o crime organizado. Jornalistas são acusados de espionarem para a CIA, KGB, MI6, Mossad, Abin, para a oposição, empreiteiras, telefônicas e o diabo.
Até um grupo de esquerda, a União da Juventude Socialista, fez manifestação em frente à sede da editora da revista 1 na semana passada, pedindo que a mesma fosse ouvida na CPI instalada recentemente.
E publicou no seu site: “Crime é fazer grampos e gravações ilegais, armar licitações públicas, plantar falsas denúncias em meios de comunicação de massa. Isso tudo apenas para garantir os interesses de bicheiros, donos da mídia e empreiteiros.”
A independência que a rede possibilita (e possibilita a rede) leva um número grande de jornalistas a relatar os desvios das redações, acusar ex-patrões, a falta de democratização do meio e provar, mais do que tudo, que a classe nunca esteve tão desunida.
Nem Clark Kent, que hoje deve trabalhar num site de celebridades, conseguiria argumentos que defendessem desvios dos colegas.
E voltei a ser “escritor” em formulários e fichas de hotéis.
Mais simples assim.
Enquanto o mercado se pega antes do páreo, tem cavalo que já largou e corre sossegado.
O site Huffingtonpost descobriu como poucos a usar a chamada hiperconectividade.
O portal de notícias fundado por Arianna Huffington agrega blogueiros independentes de todos os credos. Na coluna da esquerda da capa, há links para mais de 40 blogs. Obama, Hillary Clinton, Norman Mailer, Saskia Sassen, John Cusack e Bill Mahern são alguns dos “colunistas”.
Já tem mais acesso do que o “sólido” New York Times.
Foi vendido em 2011 para o AOL por R$ 630 milhões. O mais incrível? O site não pagar um mísero centavo aos colaboradores, enquanto Arianna ganha R$ 8 milhões por ano.
Isso sim é um negócio da China.
Ou a malandragem da rede.
+++
Não existe romantismo no jornalismo.
Com a transformação do formado do que conhecíamos como imprensa, o atual bate-boca lembra o empurra-empurra para os poucos botes do Titanic.
Se está ruim, neguinho sentirá saudades dos tempos em que, por incrível que pareça, havia uma relativa ética.
Muita gente se surpreendeu nesta semana com a foto grotesca de um garoto de dez anos de Uganda, que sofre de elefantíase, cujas pernas cresceram mais do que o esperado, na capa do Mail Online, site do tradicional e caretão jornal inglês Daily Mail.
Meu colega de USP e editor do Fantástico, Álvaro Pereira Júnior, escreveu na Ilustrada sobre a fórmula do sucesso do site, que também derrubou a audiência do New York Times:
“1) Mandou para o quinto dos infernos regras básicas de diagramação e edição. A home page é uma zona, cheia de títulos compridos, quase sempre em azul, e praticamente sem hierarquia de assuntos. 2) O Mail Online, da internet, não tem quase nada a ver com o Daily Mail impresso. É feito por outra equipe, com outro editor-chefe e outra pegada.”
Álvaro compara a cria ao criador.
Enquanto a versão das bancas fala de política e cobre celebridades com certa discrição, a online se lixa para política e prioriza as fofocas numa longa coluna fixa à direita. “É divertido, leve. Seus textos, tantos deles irresistíveis, são reproduzidos no mundo inteiro, nem sempre com o devido crédito”, comenta.
A que preço?
Como cantava Plebe Rude, banda de Brasília:
“Você me comprou, pôs meu talento a venda. Você me ensinou, que o importante é a renda. Contrato milionário, grana, fama e mulheres. A música não importa, o importante é a renda! Ambição: grana, fama e você.”
May 17, 2012
2 lados
Imagine no Tribunal de Nuremberg a cena: Líderes e participantes da Resistência Francesa como réus ao lado de nazistas, oficialato da SS e chefes de campos de concentração, já que “os crimes” dos 2 lados devem ser julgados.
Ou se De Gaulle, depois de entrar em Paris libertando a França em 1944, tivesse de responder num tribunal numa cidadela da Alemanha por seus crimes de guerra.
Bom lembrar que a maioria dos membros da resistência francesa, espanhola, italiana e do Leste Europeu era de esquerda, como De Gaulle. Muitos vieram das fileiras do Partido Comunista.
Independentemente do ideal, lutavam, arriscavam a vida, na ilegalidade, com ações de terrorismo e sabotagem, para se livrar da tirania nazista.
Um guerrilheiro francês de boina, comunista de carteirinha, deve ser julgado pela morte de um soldado nazista?
É o mesmo paralelo entre DILMA e seu torturador.
Mesmo, não, parecido. A presidente [ou presidenta, como preferem alguns] não matou ninguém
E sofreu um tipo de tortura que poucos soldados nazistas conheciam.
A quantidade de desinformação que tempos nebulosos geraram é tão grande, que 1 dos papeis da COMISSÃO DA VERDADE é justamente o de educar, debater, trazer à luz, informar.
Sou suspeito. Assumo.
Mas basta ler alguns leitores comentando o post anterior, para confirmar o quão confusa, desinformada e tola é a discussão em torno do dever de punir torturadores.
Se para a maioria dos juristas e órgãos internacionais [como OEA, ONU, Tribunal de Haia] há uma unanimidade- tortura é um crime imprescritível, e o Brasil deve rever e julgar seu passado- o debate aqui se atola na ignorância e arrogância ideológica.
Júlio [ julio_zammer at yahoo.com.br] postou: O você faria se descobrisse que foi a Presidente da República que assassinou seu pai?
Se ele fosse chefe da tortura do DOI/Codi, ditador, líder nazista ou fascista? Não sei. Posso pular?
MB011 [ vorcaos at gmail.com]: Em tempo: NAZISMO = Nacional SOCIALISMO. Nazismo é ideologia de ESQUERDA, durmam com essa. Coloca esses aí na conta junto com os mais de 100 milhões de cadáveres espalhados pelo mundo. Essa é a “verdade” da esquerda. Tão assassinos e psicóticos quanto os nazistas. Salve os militares que nos salvaram dessa desgraça. Esquerda = escória do mundo!
Sem comentários. Só faltou escrever: ALN, Ação Libertadora Nacional; ARENA, Aliança da Renovação Nacional. Tudo faria do mesmo saco, comunistas safados.
Alex Malino: Essa Dilma é mesmo uma bandida, inventando isso agora pra desviar mais uma vez a atenção do povo para o ESCANDALO DO CARLOS CACHOEIRA, Q dito de passagem há muito o que explicar, e muitos políticos aliados a ela envolvido. TOMA VERGONHA POVO BRASILEIRO, PARA DE APANHAR KARAI….Q PORRA! Esquece essa ditadura já foi e passou, já era, vá brigar com os AMERICANOS, eles q financiaram essa merda de ditadura…. o povo burro esse brasileiro viu….acorda brasiiiiilllll
Interessante o email dele, vprpalmares at hotmail.com. Corruptela da organização em que Dilma tinha 1 papel secundário, a VAR-Palmares, junção da VPR com Colina, que não funcionou.
Rachou meses depois.
Não dá pra entender se ele defende a Al-Qaeda, antiamericano, e por que somos burros.
Mandou mal, Malino.
Já o leitor Anderson [ andersonsorato at hotmail.com] tem uma interessante maneira de entender a História do seu País.
Livros? Pesquisa? Bibliotecas?
Tá, estou sendo irônico. Uma vítima do nosso falido ensino básico.
Aliás, vizinhos dos campos de concentração na Alemanha diziam a mesma coisa, se é que entendi o que ele quis dizer: Perguntei a minha mãe e ao meu pai, como era a vida deles na ditadura, ambos me responderam – Normal, saia e fazia o q queria, como é hoje em dia. Ai me questionei, a mídia (TV/JORNAL etc) reclama da ditadura, pessoas comuns não, a não ser quando inclusas na massa de manobra dos midiáticos e se transformam em zumbi-papagaios, o fato é que pessoas morrem na sua rua e isso náo se torna uma noticia, mas se afeta aos sera midiáticos ou se querem transformar tudo num circo onde eles regem o publico, isso sera falado no mínimo uma semana, a ditadura foi como é a politica hoje em dia, palhaços, corruptos e seus respectivos, s´´o que naquela epoca a imprensa nao podia falar, porque a ditadura nao deixava, e acho que se for para falar com o proprio ego e tentar impor a sua propria verdade, eles deviriam continuar calados, por que o que mais tem no brasil, é alguem esperando a opiniao pronta, pronto pra seguir e defender até o fim.
Na verdade, a grande maioria dos leitores é a favor da Comissão da Verdade. Ufa…
Sua instalação ontem emocionou.
Juntou ex-presidentes concorrentes, opositores, de linhas ideológicas contrárias.
Todos. Descendo a rampa juntos. Aplaudidos.
Nunca se viu isso antes na História do País.
Sinal de que a sociedade democrática amadureceu, quer e apoia o debate.
E mostra a importância da Comissão.
Voltando aos comentários, repare que 4 ou 5 leitores apenas que incendiavam o debate, como numa operação armada.
Como MB011 acima e Marilene [ marilenemcs at yahoo.com.br]: O Srº Marcelo Rubens Paiva trata-se de mais um manipulador de pessoas desinformadas, que fazem parte desta grande massa de manobra existente no Brasil. Com certeza morreram inocentes neste período da ditadura…mas, a grande maioria, eram pessoas que empunharam armas e partiram para cima dos militares das Forças Armadas, para implantar este comunismo idiota existente em Cuba até os dias atuais!! Agora eles são inocentes??? Coitados??? Vítimas???? Aposto que o senhor está atrás também de um auxílio do governo para engordar a sua renda…
E Klaatu [ argos.panoptes.olhos at gmail.com], que, depois de postar uma atrás da outra, chamou um leitor para brigar na rua, sair na mão.
Começou escrevendo: Somando tudo, torturadores, torturados, comunistas, esquerdistas, direitistas, políticos, militares, jornalistas, o que temos: nada, o povo nunca esteve nem ai com isso, os trabalhadores de verdade nunca estiveram nem ai com isso, então os que hoje querem justiça eram os bandidos de ontem e os justiceiros de ontem são os bandidos de hoje. Parem com isso e vão ser honestos e trabalhadores e verão u mundo de forma diferente.
Tentei lembrar ao Klaatu que quem mais sofreu na ditadura foram os trabalhadores, que tiveram seus sindicatos, associações e ligas camponesas fechada.
Muitos foram torturados e mortos, como Manuel Fiel Filho. Francisco Julião, da Liga Camponesa, foi arrastado por um jeep em Pernambuco.
Mas o que este cara leu ou entende?
O negócio para ele é: sob um regime de terror, sejamos honestos e trabalhadores que tudo se resolve.
Usando 1 clichê, faço das palavras do leitor Marcos Virgílio da Silva [ mvirgilios at yahoo.com], que nem conheço, as minhas:
É impressionante, eu leio os comentários de certos leitores e tenho a impressão de que estou em 1963… Engraçado que tanta gente que diz que “o comunismo acabou”, ou que é uma ideologia ultrapassada, etc, é quem mais se empenha em desqualificar os defensores da Comissão da Verdade, chamando-os de “comunistas”, “petralhas”, etc.
Difícil é tentar explicar para trogloditas deste tipo que quem se opunha ao regime militar não eram apenas “comunistas”, e muitos dos que foram mortos pelo regime também não eram da luta armada. Havia grupos que queriam implantar o comunismo no Brasil? Sim, certamente, mas eles nunca foram maioria na população. E todos os estudos mais atuais a respeito desses movimentos (sim, há pessoas que estudam isso seriamente, em lugar de ficar papagaiando o que Vejas e afins ensinam) mostram que o que precipitou a luta armada foi o Golpe de 64, não o contrário. A democracia foi PELOS MILITARES.
Tem ainda quem ache que os militantes devem ser punidos pelos “crimes” que cometeram. Tirando o fato de que boa parte deles JÁ PAGOU (com exílio, com prisão, quando não com a vida), acho que o que deveriam todos desejar é que houvesse JULGAMENTO, com direito de defesa. Não execuções sumárias, como as que o regime militar promoveu.
Leio o artigo do grande PAULO MOREIRA LEITE, meu vizinho e militante das antigas, na ÉPOCA, e sinto alívio ao ver que existe bom senso entre colegas.
Aqui vão alguns trechos, sobre “as responsabilidades dos dois lados”.
Em negrito:
Criou-se a Comissão da Verdade com uma finalidade específica, que é examinar os crimes da ditadura, porque esta foi a lacuna deixada pela história. Estamos falando de crimes cometidos por representantes do Estado, em nome dele, e não por qualquer pessoa. E queremos a verdade – não uma guerra de versões nem uma história declaratória. Ou será que vamos julgar o “lado bom” e o “lado ruim” da da ditadura, ou lado “bom” e o lado “ruim” de quem lhe fazia oposição?
Ninguém percebeu que toda ditadura é, por definição, um regime de “um lado só”?
Os atos – violentos ou não, legítimos ou não — cometidos pelos adversários do regime militar foram apurados, avaliados e punidos em seu devido tempo, como demonstram as 7.367 denuncias apresentadas à Justiça Militar entre 1964 e 1979.
No esforço para punir brasileiros que não aceitavam submeter-se a um regime de força, criado a partir de um golpe que derrubou um governo constitucional, o Estado brasileiro cometeu crimes inaceitáveis e vergonhosos. Executou pessoas indefesas, não informou seu paradeiro às famílias nem deu esclarecimentos fidedignos sobre os acontecimentos envolvidos em suas mortes. São estes fatos que a Comissão deve apurar.
O esforço para olhar os “dois lados” do período só faria sentido se naquele período estivéssemos diante de um Poder legítimo, que teria cometido excessos e abusos em nome de seu direito de exercer a violência para garantir o respeito à lei e à ordem.
A maioria dos atos de violência cometidos pelos adversários do regime foram julgados e esclarecidos, com emprego de tortura e violência nos interrogatórios, inclusive contra menores, às vezes na presença de crianças. Quando isso não ocorreu, é porque os acusados não tiveram direito de defesa. Foram executados de modo sumário e covarde em vez de serem levados aos tribunais. Eliminá-los tinha prioridade sobre garantir o respeito à Lei – mesmo a lei do regime militar.
Isso aconteceu porque, entre 1964 e 1985 o Brasil foi governado por um regime que usurpou o Estado brasileiro ao impedir que a população escolhesse seus governantes por métodos democráticos.
A longa noite da ditadura foi uma sucessão de atos anti democráticos e ilegais, que tiveram início com um golpe de Estado e prosseguiram em medidas autoritárias contra a Justiça e os direitos do cidadão.
Por isso seus atos não podem ser nivelados à resistência de quem teve disposição e capacidade de sacrifício para enfrentar um regime de força. Fazer isso implica em embelezar a ditadura, dar-lhe uma estatura moral que ela não possuía e nunca pretendeu possuir, pois governava essencialmente a partir da força bruta.
May 14, 2012
valeu
Sensação estranha essa.
O que você faria se soubesse do endereço do militar responsável pela tortura e morte do seu pai?
E que ele circula pelo bairro livremente?
Soube hoje pelo vídeo postado no Youtube que um dos responsáveis pela morte do meu mora na Rua Marques de Abrantes, Botafogo, zona sul carioca, em que passo direto, sem nunca ter me dado conta de que no 218 mora a figura que mudou a vida da minha família e trouxe tanto sofrimento para nós e muitas outras famílias.
O que vou fazer a respeito?
Nada.
Vou esperar que a Comissão da Verdade faça.
Nem desviarei do meu caminho. Nunca desviei.
O vídeo foi postado pelo movimento Levante Popular da Juventude:
http://www.youtube.com/watch?v=jf_9AaTywVM&feature=player_embedded
Que promove o esculacho a torturadores e agentes da repressão suspeitos em todo o país; os esculachos [ou escrachos] são ações similares às promovidas na Argentina e no Chile, em que jovens fazem atos de denúncias e revelações de torturadores da ditadura militar que não foram presos ou julgados.
No início de abril, um protesto semelhante foi realizado em São Paulo contra Harry Shibata, médico que teria atestado o suicídio do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
No manifesto do grupo:
“Os manifestantes apoiam a instalação da Comissão da Verdade, cobram a localização e identificação dos restos mortais de desaparecidos políticos e exigem que os torturadores sejam julgados e punidos.
Os jovens condenam a movimentação dos setores conservadores dentro e fora das Forças Armadas, que não aceitam a democracia e não admitem a memória, a verdade e a justiça, desrespeitando a autoridade da presidenta Dilma Rousseff e ministros de Estado, como no manifesto “Alerta à nação”.
Por isso, os jovens saem às ruas para denunciar a impunidade de torturadores e criminosos da ditadura com o objetivo de sensibilizar a sociedade e garantir que a Comissão tenha liberdade para fazer o seu trabalho e alcance seus objetivos.”
No dia 26 de março, o movimento fez protestos em São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio de Janeiro, Belém e Curitiba contra agentes da ditadura suspeitos de torturaram, mataram, perseguiram militantes.
E segundo matéria no ESTADÃO de hoje, de João Coscelli:
Manifestantes fazem uma nova rodada de “esculachos” contra torturadores e agentes ligados à ditadura segunda-feira, 14, em cidades de 12 Estados do País. Os protestos ocorrem poucos dias depois de a presidente Dilma Rousseff nomear os membros da Comissão da Verdade, destinada a esclarecer casos de violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988.
No Guarujá, litoral de São Paulo, cerca de cem pessoas protestaram em frente ao prédio onde mora tenente-coronel reformado Maurício Lopes Lima, denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) como torturador. Membros do grupo Levante Popular da Juventude, que organiza os atos, afirmaram ter recebido informações de que o ex-militar, chamado de “torturador pra presidente Dilma”, estaria em casa, mas ele não se manifestou. O protesto teve início às 10h e durou uma hora.
Em Belo Horizonte, o alvo do esculacho foi João Bosco Nacif da Silva, médico-legista da Polícia Civil da ditadura, que teria atestado uma laudo médico de suicídio para um prisioneiro torturado em uma delegacia da capital mineira em 1969. Cerca de 50 pessoas compareceram em frente ao prédio do médico com cartazes denunciando sua participação na repressão. De acordo com um dos manifestantes, Nacif da Silva se exaltou e tentou agredi-los, o que motivou o encerramento precoce do ato. A Polícia Militar apenas acompanhou a ação.
O grupo também promoveu manifestação em frente à residência do general da reserva José Antônio Nogueira Belham, denunciado como torturador do militante Rubens Paiva. Belham, que atualmente mora na zona sul da capital fluminense, foi o chefe do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) do Rio durante a ditadura.
Na capital baiana, quem recebeu o esculacho foi Dalmar Caribé, cabo do Exército acusado de ser o responsável pelos assassinatos dos militantes Carlos Lamarca e Zequinha Barreto. Em Recife, o desembargador aposentado Aquino de Farias Reis, ex-delegado do Dops também foi alvo de manifestação.
Houve protestos também em Teófilo Otoni (interior de Minas), João Pessoa (Paraíba), Belém (Pará), Aracaju (Sergipe), Fortaleza (Ceará) e em Natal (Rio Grande do Norte).
Bacana. Criativo. Justo.
Obrigado, garotada.
A família agradece.
May 11, 2012
ufc das antigas
Me perguntei por que tanto sucesso do filme OS VINGADORES – 2012.
Aqui e nos EUA.
Ontem, shopping lotado, passava em duas salas. Ambas com ingressos esgotados.
E era uma normal quinta-feira com show de Neymar na TV.
Também pensei se não foram as arruaças de Thor Batista que levaram público a ver o Thor do martelo.
Não gostei. E tinha adorado HOMEM DE FERRO, X-MEN PRIMEIRA CLASSE e X-MEN ORIGENS, com WOLVERINE, e outros.
Mais abaixo enumero as falhas no roteiro da nova saga dos personagens da MARVEL.
Por enquanto, só digo que não existe nada mais antiquado de que neguinho trocar porrada sem parar entre si e alienígenas, para “salvar a humanidade”.
Seria um filme bem recebido tempos atrás e tradutor da Era Bush.
Aliás, está lá Nova York atacada por ETs de turbantes, os CHITAURI, monstros se chocando contra prédios, pânico e correria nas ruas.
Até tem torres desabando.
Um sujeito em coma faria a associação Bin Laden – Alienígenas.
Tem muitas piadas. Boas até.
Algumas piadas até retratam o ridículo da refilmagem.
Como a da roupinha do Capitão América ser vintage, com listinhas e estrelas, o Thor ter um irmão revoltado por ser adotado [piada que pegou mal lá fora], que ninguém mais se interessa por heróis, sem contar o mau humor de Hulk, que gera gargalhadas no cinema.
A beleza dos atores Robert Downey, Jr., Chris Evans, Mark Ruffalo, Chris Hemsworth leva público teen.
As curvas e lábios salientes de Scarlett Johansson, fazendo uma espiã russa boa de briga, num pretinho básico apertado, leva teens e adultos.
Mas quem rouba a cena é a ex-modelo canadense e atriz Cobie Smulders, a Agente Maria, como assistente do chefão Nick Fury [Samuel L Jackson], avião que corre, atira, pilota SUV com habilidade e pilota até porta-aviões.
O tema do filme não se modernizou.
A onda agora é outra: rede sociais, xenofobia, implosão do mercado, sistema em crise, poucos roubando muitos [tema de JOGOS VORAZES, por exemplo], combate ao terrorismo.
As guerras que Capitão América lutou já eram.
Aliás, curiosidade: o filme foi financiado por uma das vilã da crise mundial, a fábrica de dinheiro que não existe e derivativos MERRILL LINCH, antes de escandalizar o mundo.
Enfim, vamos às falhas no roteiro [se vc não viu o filme, vai fazer outra coisa, xeretar no Face, xingar ou ser xingado no Twitter; só não vai tirar fotos sem roupas em frente ao espelho e levar depois o computador pra manutenção]:
1. Gwyneth Paltrow some do filme. E é na cobertura que ela constrói que o barraco rola no final.
2. No começo do filme, o agente vivido por Stellan Skarsgård é dominado tanto quanto Hawkeye [e na mesmas cena], por Lokie e seus poderes extraordinários. Deu trabalho para tirar o fetiço de Hawkeye. O do agente sumiu de repente.
3. Como um mega hiper super porta-aviões que voa, invisível ao radar, foi tão facilmente encontrado [e quase destruído] por seus inimigos?
4.Por que todas as discussões são resolvidas no tapa, se basta uma arma para liquidar o assunto? E o que não faltava no set era arma.
5. O chefão Nick Fury [Samuel L Jackson] é metralhado na primeira cena do filme. Na segunda aparece num helicóptero como se nada tivesse acontecido.
6. A fera Hulk nasce de dentro de Dr Bruce Baner quando o mesmo vê injustiças, é provocado ou fica nervoso. Agora, quando Bruce quer, vira Hulk, mesmo sem motivos. E, pior, nesta nova leitura do maravilhoso personagem, amado por todos aqueles que sofriam bullying na escola e queriam ter a força de um grandão verde, ele mais se parece um King Kong; pula, voa, sobe em prédios. E virou imortal. Onde está o ponto fraco do herói que, no caso, é psicanalítico, isto é, seu inconsciente?
7. E, enfim, depois de NY quase dominada pelos alienígenas, o board, espécie de Conselho de Segurança da ONU, decide explodi-la e manda um míssil com ogivas nucleares, que o Homem de Ferro, com toda a sua força, desvia para a nave-mão dos CHITAURI. Porque nossos líderes não pensaram nisso antes?! Evitava um problemão na cidade tão atacada em grandes produções, alvo preferido dos nossos vilões e blockbusters.
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E, mudando de assunto completamente, hj, amanhã e domingo tem, aqui e no Rio.
Mude vc 1 pouco de programa:
May 10, 2012
os vícios e a história
O escritor Iain Gately, que estudou Direito em Cambridge (UK), gosta de provocar teses sensíveis à saúde pública, com dados empíricos e muita pesquisa.
Em seu primeiro livro, A Cultural History of Alcohol, escreveu que os pileques dos nossos antepassados fariam os de hoje parecerem festinhas em conventos.
Desde que se descobriu que o álcool tem ação inibidora sobre neurônios dopaminérgicos do sistema límbico, o porre tem assento cativo na história do mundo ocidental e oriental.
No segundo, Tobacco: A Cultural History of How an Exotic Plant Seduced Civilization, prova que apesar de ser banido em todas as cidades, locais públicos e privados, a planta foi responsável pelo desenho geopolítico do mundo moderno.
Ingleses colonizaram a América para plantar tabaco.
Em 1612, graças ao colonizador John Rolfe, encontraram o que fazer em vasto território.
Ele trouxe mudas de tabaco, que começou a cultivar na recém-instalada colônia da Virgínia.
Rolfe se casou com a princesa índia Pocahontas. O Dia de Ação de Graças, em que colonos e índios fazem as pazes e assam um peru, ocorreu em fogueiras em torno de chácaras cercadas por plantações de tabaco.

Don Draper
Há anos que ele é “fonte” da revista SUPERINTERESSANTE, e mesmo assim seus livros continuam inéditos no Brasil.
Inalar fumaça é repulsivo para outros animais. Mas não entre nós.
E me lembro que conheci um casal refugiado da guerra em Sarajevo. Nadka, jornalista, e Deso, médico.
Contaram do drama de viver numa cidade sitiada e bombardeada diariamente. A única coisa que funcionava sem parar? Uma fábrica de cigarros nos subterrâneos de um conjunto habitacional.
Foi com a descoberta da América que o tabaco passou a rechear cigarros, cachimbos e charutos.
“Na América, diz ele, as folhas eram fumadas, cheiradas na forma de rapé (tabaco em pó), mascadas e até usadas como supositório. A principal razão para o consumo era mística: o tabaco permitia um contato com espíritos.”
Mas outras funções eram atribuídas a ele.
Efeito algésico e anti séptico eram indicados para dores de dente ou feridas. Marcava os eventos sociais, como as guerras.
O hábito era considerado uma selvageria. O navegador espanhol Rodrigo de Jerez, primeiro europeu a fumar, de volta à Europa, fumou em público e foi preso 3 anos. Colombo era contra a planta. Seus marinheiros, não.
O diplomata e médico Jean Nicot levou sementes para Catarina de Médici, rainha da Franca. Daí vem o nome Nicotiana. Em pouco tempo, virou remédio para tudo.
Em 50 anos, tinha até samurai no Oriente fumando.
Até no islamismo e países árabes, onde o álcool é proibido. foi liberada a sua circulação.
Na Espanha, a Tabacalera, indústria estatal que chegou a ter o maior prédio industrial do mundo, contratava ciganas para fabricar charutos. D|aí veio a associação tabaco – sexo.
No calor mediterrâneo, elas trabalhavam com poucas roupas, suadas, enrolando charutos entre as pernas.
Em 1880, com a invenção da máquina de fazer cigarros, James Buck Duke inovou o comércio e o marketing. Gastava 20% de seus lucros em propaganda.
Surgiu a American Tobacco Company, que Duke presidiu, e deu lucro até à agência Sterling Cooper Draper Pryce, de MADMEN
Quanto à birita, foi em 8000 a.C na China que o primeiro “mé” foi encontrado, um drinque de arroz, mel, uvas e cerejas fermentadas.
Os sumérios inventaram a “breja”, que a elite bebia com canudinhos de ouro.
É sabido que cada peão que erguia as pirâmides do Egito ganhava em média 5 litros de cerveja por dia.
Em qualquer achado arqueológico existem mais garrafas de bebida do que moedas. Tutancâmon, faraó da 18ª dinastia, foi sepultado com uma bela máscara de ouro e 26 jarras de vinho.
Os gregos tinham 60 variedades da bebida.
Os romanos passaram a produzir e distribuir em larga escala. Soldados romanos ofereciam vinho “de presente” aos inimigos, para dominá-los na ressaca.
Qualquer leitor de Asterix conhece o truque.
Sem fazer proselitismo, sabe-se que o alcoolismo é um grave problema de saúde pública.
Mas lembre-se que a bebida já foi considerada remédio, e que a revolução americana foi liderada por um fabricante de uísque, George Washington, que também plantava tabaco.
Sem contar que a Declaração da Independência foi escrita num boteco da Pensilvânia e que Thomas Jefferson, signatário, era um fazendeiro de tabaco.
Se você conseguiu chegar até o final deste texto, beba com moderação. É bom lembrar, se for beber não dirija. E cigarro mata!
May 8, 2012
e na bebida busco o esquecer…
A arte de beber.
Sim, álcool faz mal, e existe arte no ato de beber.
Cada bebida tem o copo apropriado, a temperatura ideal, o ritual a ser cumprido, assinatura do fabricante e história.
Algumas regras devem ser seguidas, para que uma noite de celebração não estrague os sóbrios dias seguintes.
Apesar de tentador, evite falar verdades que estão há tempos entaladas no gogó.
Risque do mapa as palavras exorcizar, desabafar.
Não é preciso, naquele momento em que o pileque começa a agir, ser verdadeiro e sincero.
Beba, fique alto, continue sorrindo, fale o mínimo possível e concorde com tudo. Especialmente se o patrão estiver por perto.
Aos carentes: na segunda dose, dê o celular para um amigo guardar, para não mandar mensagens com resoluções definitivas, provas de amor absoluto, arrependimentos tardios. Nem tente telefonar de madrugada para uma paixão desfeita que, a essa altura, assinou em cartório uma declaração de convívio marital com outra pessoa, faz planos de viagens longas para países exóticos e pesquisa em qual escola próxima matricularão a prole que será responsável pela mudança da categoria do veículo familiar de sedam para minivan.
É na adolescência que o primeiro porre é experimentado.
No estágio em que abandonamos o luditismo infantil, em que nos apontam as responsabilidades e decisões que virão, descobrimos que o álcool pode nos deixar soltos, inconsequentes, divertidos, sem o domínio do corpo e da mente.
Quando não somos mais crianças, talvez bebamos para voltar a ter a irreverência e espontaneidade de uma.
Há milênios que se descobriu que a fermentação de frutas e cereais dá barato.
Cerveja e vinho foram inventados antes das tampinhas, rolhas, rótulos e enólogos chatos, que demoram mais tempo cheirando e olhando a bebida contra a luz do que sorvendo.
Muito tempo depois, os árabes inventaram os destilados.
Nasceu o porre homérico. Que não se sabe se foi relatado na Ilíada ou Odisseia.
Fazemos bebida de tudo: milho, trigo, cevada, cana, uva, alcachofra, batata, arroz, anis, maçã, combustível de carro, lancha e avião.
O vinho talvez seja a bebida mais cultuada. Bíblica, não se deve tomar um porre dela. Melhor apreciar, degustar. Ou você deseja acordar com a língua colada no céu da boca e uma sede que o Delta do Nilo não mataria?
Suas variações, champanhe, vinho branco, prosecco, apesar de populares em casamentos, deveriam vir acompanhadas por dipirona sódica em gotas. Dores de cabeça são comuns aos que as ingerem em excesso.
O remédio que se deve tomar um antes e outro depois ajuda a diminuir os efeitos físicos de uma ressaca.
Porém, a ressaca moral e a sensação de que até uma ária de um quarteto de cordas de Bach faria a sua cabeça explodir continuam. Já vi Engov como brinde em banheiro de casamento. Poderiam incluir o hidróxido de alumínio, ácido acetilsalicílico e maleato de mepiramina, princípios ativos do remédio, nos bem-casados que costumamos afanar.
Mas o profissional tem uma técnica infalível para beber, continuar bebendo e não dar trabalho: alterna uma taça com um copo de água.
Bebe com a disciplina de um jogador de xadrez. Pensa nos próximos lances com bastante antecedência.
E ouve muito mais do que fala.
É no Retorno de Saturno, fenômeno astrológico que serve de desculpa para as irresponsabilidades juvenis, que ocorre a cada 28 anos, que se descobre que não bastam, como antes, apenas algumas horas de sono para curar uma ressaca.
Sim, envelhecer é aprimorar o desejo de que a vida imite a arte e, como num filme da Lars Von Trier, um planeta se choque com a Terra, depois de se acordar duma noite daquelas.
No segundo Retorno de Saturno, quando a vítima completa 56 anos, só se toma um porre se está em dia com o plano de saúde e próximo a hospitais conveniados.
Cada pessoa tem seu nível de tolerância.
Alguns enxugam uma garrafa de uísque e mantém a irritante lucidez de um comentarista econômico em tempo de crise cambial.
Outros tomam dois chopes e se comportam como líderes de uma facção criminosa associada a uma torcida organizada que chefia a bateria de uma escola de samba.
Há mais coisas em comum num pileque do que rege os alertas do Ministério da Saúde.
Porre de uísque deixa o bebum inteligente. Acompanhado de muita água, acorda bem se o armazenamento do mesmo durou 12 anos ou mais. A não ser, claro, que tenha sido destilado, engarrafado e envelhecido em toneis paraguaios, produzido pelas águas das nascentes do Chaco.
Não existe melhor porre que o de tequila. É a bebida da alegria. Nos sentimos vibrantes, felizes, como solistas de um grupo mariachi. Sua ressaca, porém, nos remete ao sofrimento dos inimigos dos Maias, cujas cabeças rolavam por suas pirâmides.
O melhor porre não necessariamente implica em maior ressaca. Mojito tem a fórmula mágica de juntar as delícias do rum com o frescor tropical do hortelã. Como nossa caipirinha, consegue refrescar e abastecer de vitaminas. O problema é a vontade de dançar salsa sozinho no banheiro.
Caipirinha, símbolo pátrio, é a prova de que nossa miscigenação é ampla: pode ser de saquê do oriente, vodca eslava ou cachaça nacional; pode ser açucarada, adoçada, light ou diet; qualquer fruta, doce ou amarga, se casa com o sabor do destilado de alto teor alcoólico; e, enfim, vem em cores exuberantes como as do kiwi ou frutas vermelhas, que deixariam um impressionista impressionadíssimo.
Dry Martini é a bebida mais conflituosa, pois não existe uma receita universal. O que mais se escuta em balcões: barman exaltando sua fórmula secreta. A discussão sobre a receita original do Dry Martini é mais polêmica do que a tese de que Lee Harvey Oswald agiu sozinho. Pode vir com a entrada; uma azeitona, ou cebolinha. Seu copo é exclusivo da bebida. É gelado, mas esquenta. Tem um efeito psicotrópico prolongado. Alterna o estado da consciência, sem dar muito trabalho aos amigos.
May 7, 2012
Da pá virada
Primeiro, descobrimos como ALEX ATALA é pop.
Sua galinhada atraiu bem mais do que o esperado no Minhocão e simbolizou o sucesso [ou desorganização] da Virada Cultural deste fds.
Segundo… Como o novo brasileiro tem fome voraz pelo consumido pelas “zelites”!
Não só nos aeroportos e roteiros turísticos.
Um prato simples até atrai uma multidão, gera filas e confusão.
São Paulo fica diferente na Virada.
Parece atacada por zumbis com sede de cultura.
Todos ganham.
O jeito é, por que não, passar uma madrugada acordado e zelar pelo celular [a colunista Nina Lemos teve o seu roubado 5 minutos após pisar na Virada].
E noia mesmo é área VIP na região da cracolândia.
Noias foram outro destaque da Virada.
Achei ótima ideia parte da Virada ser no território deles.
Forçar o contato entre a população e aqueles que só conhece por fotos nos jornais.
Quem não tem o hábito te ir ao Centro viu que eles existem aos montes e são cidadãos respeitáveis, que merecem atenção.
O tempo ajudou e a lua cheia brindou como a cereja do bolo [a maior lua em 18 anos].
E conheci o novo Sesc Bom Retiro, na verdade no bairro de Campos Elísios, charmoso de doer, que pode ser o começo da renovação da região com tanta história.
Em cuja lanchonete se paga R$ 1 pelo pão de queijo, R$ 3 pela sopa, R$ 3,50 pelo sunday.
E em cujo teatro você pode ver peça baseada no roteiro nunca filmado de Fellini, A VIAGEM DE G MASTORNA.
Cony escreveu na ILUSTRADA desta sexta:
Fellini, que fazia caricaturas para uma revista, sonhava filmar uma história de Dino Buzzati, com o estranhíssimo título de “A Viagem de Giuseppe Mastorna”. Foi processado pelo produtor, Dino De Laurentiis, porque nunca rodou uma única cena.
Isso não impediu que Fellini fizesse outros filmes, inclusive “Oito e Meio”, que conta exatamente o drama do artista que persegue uma grande obra, começa a embromar o produtor e exige locações absurdas, como uma praça medieval com um Boeing no meio, e algumas instalações que parecem rampas de foguetes espaciais. Ele não acredita que a produção consiga o absurdo, mas o produtor arranja dinheiro e leva o diretor para ver o cenário e dar uma entrevista à imprensa internacional.
O diretor desmaia ao ver o que foi feito, tem de dar alguma explicação aos jornalistas. “Eu paguei um dinheirão a todos eles, diga qualquer coisa sobre o filme, invente!”. O produtor está furioso. Uma repórter alemã grita para os jornalistas: “Ele não tem nada a dizer!”.
“Oito e Meio” é em parte o que restou de “Giuseppe Mastorna”: um filme sobre um filme que jamais seria feito. Na última entrevista que deu, Fellini confessa que todos os seus filmes são pedaços do projeto inacabado, projeto que ele perseguiu por toda a vida sem conseguir realizar.
Filme que virou lenda [ou maldição].
E hoje, no ESTADÃO, matéria assinada por FLÁVIA GUERRA:
Peça teatral se inspira em roteiro inédito do diretor de cinema Federico Fellini
Marcelo Rubens Paiva adaptou texto que começou a ser filmado nos anos 60, mas não foi concluído
07 de maio de 2012 | 10h 21
Flavia Guerra – O Estado de S.Paulo

José de Holanda/Divulgação
Cena da peça ‘Il Viaggio’
“A única preocupação permitida ao homem é de não se preocupar” , diz a aeromoça ao violoncelista Giuseppe Mastorna em cena da peça Il Viaggio. E tudo que o tal violoncelista faz em cena, e na vida, é burlar seu próprio direito, preocupando-se quase à exaustão com seu destino.
Destino esse que já começa desviado na primeira cena, quando o avião que o levava para um concerto em Firenze é forçado a fazer um pouso de emergência em uma cidade desconhecida. Pode ser uma cidade real, pode ser um sonho, pode ser a morte. E assim começa a viagem de Mastorna por esse universo de sonho e pesadelo, em que vida e morte confundem as certezas dele, que queria ser um grande compositor, mas tornou-se cidadão comum.
Livre adaptação do roteiro inédito de Federico Fellini, Il Viaggio di G. Mastorna, concebido por Helena Cerello e dirigido por Pedro Granato, o espetáculo estreou sábado no Sesc Bom Retiro em plena Virada Cultural. Em clima onírico, transporta a plateia ao universo felliniano. “A referência a Fellini é claríssima. Fomos fieis à essência do roteiro, que ele começou a filmar nos anos 60 com Marcello Mastroianni, mas nunca concluiu”, explica Marcelo Rubens Paiva.
Convidado pela atriz e produtora Helena Cerello a adaptar o texto para o teatro, Rubens Paiva conta que, apesar de ter incluído várias cenas, situações e diálogos, manteve a estrutura principal proposta pelo diretor italiano. “Priorizamos a jornada do músico que desejava ser grande compositor, e se distanciou desse ideal com o passar dos anos.”
Mastorna transformou-se num sujeito comum. Ou quase. Em sua vontade de ser ‘normal’, o músico se torna ridículo. E frustrado. Pois ao realizar sua viagem interna, descobre memórias que o fazem rever a vida e questionar se o universo caótico em que se encontra é a tão almejada vida eterna.
Para criar o universo de sonhos, pesadelos e de comicidade – humor nonsense, e circense, bem ao gosto de Fellini-, o diretor Granato e equipe optaram por soluções criativas. O desafio de levar ao palco a história inicialmente pensada para o cinema fez com que elementos cênicos como um avião vire portaria de um hotel, uma cama, uma casa… “Não tivemos de abrir mão das ideias do texto para dar a ele uma linguagem teatral. Assumimos que o avião se desmembra. A partir desse cenário, vão se construindo os espaços citados no roteiro”, explica Granato. “Do desastre em diante, tudo se cria para aguçar a imaginação.”
Imaginação foi o que Rubens Paiva e Helena tiveram ao trabalhar o texto. “Há pouca indicação de cenas no roteiro. Interessante é observar que as explicações são poucas e muito frouxas. Talvez por isso ele nunca tenha filmado. Isso torna o processo mais complexo, mas deixa livre para criar também”, comenta o dramaturgo.
Vale lembrar que o texto original foi traduzido por Helena, que descobriu a história na Itália. Isso porque Fellini transformou o roteiro em um livro. “Justamente por ter sido pensado para o cinema, tinha muitos diálogos e até story board. Já tínhamos escrito a peça quando descobrimos uma carta de Fellini ao produtor Dino de Laurentiis, com indicações de filmagem. Isso mudou nossa concepção da história. Então, frases dessa carta foram incluídas na peça”, conta.
Além das soluções cênicas, de frases e diálogos, Granato, Helena e Rubens Paiva deram à peça um caráter político. “Há cenas inteiramente novas. Mas destaco esses detalhes, como o discurso do papa, o autoritarismo…” .
Destaque também para o elenco acertado. Esio Magalhães (Mastorna), Bete Dorgam, Paula Flaiban, Paulo Federal, Ed Moraes encarnam as figuras fellinianas com verdade e graça. São esses clowns, ora engraçados, ora líricos, e outras vezes melancólicos, que de fato conduzem Mastorna ao seu destino final.
May 4, 2012
hackeadas
Essas meninas ficam mais bonitas nas suas fotos hackeadas.
Sem maquiagem. Solitárias.
Sei que é crime, uma invasão absurda.
Um já pagou a pena – Christopher Chaney foi indiciado em 2011 e condenado por acesso não autorizado a computadores e escutas telefônicas. Foi preso como parte de uma investigação do FBI que durou 1 ano de hackers de celebridades, como Scarlett Johansson.
Não à quebra da privacidade a que todos temos direito.
Porém, já está na rede, maldita rede que desqualifica a privacidade como um direito.
Como fã, admirador, me encanta vê-las nos bastidores da vida, na intimidade, atrizes que só conhecemos produzidíssimas.
Lindas. Espontâneas.
Há tanta poesia num auto-retrato.
E há tantas questões que vêm do fundo da alma:
1. É assim que queríamos que nos vissem?
2. Ou queremos ver o que tantos nos pagam para sugerir, quase mostrar?
Sugerem.Imaginamos. E são tão humanas… Como nós, se divertem em espelhos de banheiro.
Sem querer, dão aulas a muitos fotógrafos e designers.
Solidão roubada.
A começar por Simone de Beauvoir, a musa das musas, Scarlett e agora Carol:
anexos
Hj, amanhã e domingo no RIO.
Agora com Juliana Schalch:
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Amanhã em SP [junto com a Virada Cultural].
Minha autoria. Direção de Pedro Granato.
Com a deliciosa e talentosa HELENA CERELLO, quem bolou todo o espetáculo.
Nossa coelhinha de Junho de 2011 [texto no calendário de MÁRIO BORTOLOTTO:
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Nesta semana nas bancas. VIÚVA NEGRA.
Para ler as entrevistas:
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Ontem no Palácio do Governo, jurados do PRÊMIO JOVEM LIDERANÇA [vai curintxia!]:
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No meu aniversário, negociando com a PM [fotos do J Procópio] na Rua Rodésia, Vila Madalena:
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