Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 114
September 23, 2012
LP versus CD
Um dos maiores fracassos comerciais da indústria de entretenimento foi o LD (laserdisk). Lembrava um LP espelhado, com cara de elemento de cena de 2001 – Uma Odisséia no Espaço
Anunciava-se o futuro.
E era caríssimo, apesar do padrão analógico.
Nem chegou a ter distribuidor oficial no Brasil. Só os amigos com grana e passaporte em dia tinham e se gabavam.
O primeiro título saiu nos Estados Unidos em 1978: Tubarão, de Spielberg, o Midas da nerdocracia. Em 2000 pararam de sair filmes em LD. Há três anos a Pionner, detentora da patente, tirou os reprodutores da linha de produção.
O DVD, digital, com mais definição e um quarto do tamanho, na mesma fôrma dos já bem-sucedidos e responsáveis pela transformação da indústria, os CDs, foi o responsável. Os apressados nem podem nem se vangloriar de que ver um filme em LD é “infinitamente” superior do que em DVD ou Blu-ray. Ele tem uma definição maior apenas do que as antigas fitas em VHS.
Mas existem dúvidas entre a experiência de ouvir músicas num LP, analógico, e CD, digital.
Para os entendedores, foi um assalto da indústria aos nossos ouvidos.
O CD retira amostragens pontuais da onda sonora de alta e baixa frequência, o que empobrece o som, embola, fatia a curva sonora, junta pedaços, perdem-se nuances, o extremo do agudo e do grave se misturam a outros instrumentos com sonoridades semelhantes. A música é “resumida” para liberar espaço. Faixas abaixo de 25 Hz e acima de 16 Khz são dispensadas.
Enquanto um LP reproduz a gama total da curva, o CD elimina frequências que teoricamente não ouvimos mas sim estão lá e encorpam a música, tornando-a mais próxima da realidade; ou, como se dizia, com alta-fidelidade.
Tem os riscos, os pulos, a poeira que se acumula na agulha, o esbarrão que arranha a superfície do vinil e termina com a música, o tamanho, o espaço para se guardarem dezenas ou centenas de discos.
Foi por isso que você, como eu e a maioria, trocou LPs por CDs.
Me senti aliviado quando um primo distante comprou minha coleção de três décadas que começou com Joe Cocker.
Você também se lembra do primeiro disco que comprou na vida?
Levou tudo e ainda me deu 500 contos, calculado randomicamente. Deu para comprar uns 20 CDs.
Hoje vejo colecionadores atrás de discos que já tive, que muitos tiveram, e que desprezei como estorvos que atrapalhavam a circulação da casa. Como uma estátua de anão. Ou uma coluna de gesso na sala.
Aquele Dave Brubeck, Pink Floyd, Bill Evans, Led Zeppelin, Beatles, Stones, The Cure, o disco triplo de Sandinista, do Clash, aquelas maravilhas de desenhistas e designers modernos, com seus encartes e jogos de imagem e mensagens cifradas, como Phisical Graffit ou Sticky Fingers, o disco da língua, que causavam ilusão de ótica, viraram um bagulho de plástico que quebra com facilidade. Abandonamos nossos preciosos brinquedos.
O tempo passou e limitaram mais ainda nossa capacidade auditiva. Educamos nossos ouvidos com fones primários, minúsculos, e com arquivos, não mais músicas, em MP3, FLAC, WAV e AAC de 3 MB ou ripados, sequências de zeros e uns que unidas conseguem a proeza de imprimir maravilhas num disco compacto, chip, memória, nas nuvens.
Espaço é a lei, não a qualidade. Herança de uma sociedade que aceita e muitas vezes prefere o simulacro, para pagar menos.
Todas as noites praguejo contra meu primo que pensei que me fizera um favor. E me pergunto onde está aquele aterrorizante Tubular Bells, de Mike Oldfield, cujo baixo controla o andamento que cresce e se repete- como em Bolero de Ravel-, em que, em cada lado, havia uma faixa apenas, trilha do filme Exorcista, que em CD ficou seco, e se as novas gerações entendem quando dissemos que muitas vezes preferimos o “lado B” das coisas.
September 21, 2012
na capa
Todos conhecem e sabem onde fica a faixa de pedestre que serviu de capa para o disco dos BEATLES, ABBEY ROAD.
Virou ponto turístico em LONDRES, alvo de gozação e peça de teoria da conspiração.
Provava a suspeita da morte de PAUL, o único descalço.
Atrapalha o tráfico, tanto que a prefeitura a moveu alguns metros adiante, para deixar a turba de fãs fazer gracinhas e se deixar fotografar atravessando-a.
Fotos das capas em LP dos álbuns The Freewheelin [Bob Dylan] e Steely [Dan's Pretzel Logic], LED ZEPPELIN são algumas que o pesquisador e músico Bob Egan descobriu a locação e checou como anda hoje em dia. Desta vez em NOVA YORK.
Espera-se que não vire ponto de culto e macumba de fãs.
E dá saudades do espaço que um LP permitia aos artistas da época.
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Estreou em CURITIBA, com montagem da rapaziada de lá, uma das melhores coisas que já escrevi, a peça NO RETROVISOR.
SEGUNDO Yuri Al’Hanati, do JORNAL DE LONDRINA, uma peça sobre a opção de seguir em frente ou apegar-se ao passado
“A máxima popular ‘o pior cego é aquele que não quer ver’ pode parecer genérica e gasta pelo tempo, mas serve de imagem sintética da peça No Retrovisor, que estreia hoje [ontem] às 19 horas, em uma curta temporada no Miniauditório do Teatro Guaíra.”
É uma montagem da Cia. Insaio de Teatro, que já havia encenado o espetáculo neste ano durante o Festival de Curitiba. Dirigido pelo bailarino Ronaldo Pinheiro. Braz Pereira, produtor da peça, também integra o elenco.
“No Retrovisor explora, em 1 hora e 20 minutos de duração, uma relação tortuosa entre dois amigos que se encontram 15 anos após um trágico acidente. Ney (interpretado por Braz Pereira) e Marcos (Edson Furlanetto) vivem intensamente a explosão cultural dos anos 1980, até que um acidente de carro, que deixa Ney completamente cego, causa um afastamento entre os dois. ‘Enquanto Ney, apesar de cego, deseja seguir em frente, Marcos se enclausura em seu próprio mundo, tomado pela culpa. Vendo o sofrimento do marido, a mulher de Marcos arranja um reencontro entre os dois’, resume o ator.”
É bem provável que no ano que vem finalmente conseguiremos filmar a sua adaptação.
O filme será dirigido por MAURO MENDONÇA FILHO, com MARCELO SERRADO, OTAVIO MULLER, que fizeram a peça na primeira versão há dez anos, e ALESSANDRA NEGRINI. Produção do meu parceirinho AUGUSTO CASÉ, com quem fiz agora E AÍ, COMEU?, adaptação de outra peça minha.
Vai conferir:
NO RETROVISOR – Miniauditório do Teatro Guaíra (R. Amintas de Barros, s/nº), (41) 3304-7900. Quintas, sextas e sábados, às 20 horas, e domingos, às 19 horas. R$20. Até 30 de setembro.
A cenografia procurou remontar o apartamento de Marcos como uma caixa de madeira. Os móveis são feitos de caixas de verduras, simbolizando a prisão do personagem que se recusa a olhar a vida em seu redor.
A peça da Cia. Insaio fica em cartaz em Curitiba até o dia 30 de setembro.
September 19, 2012
vai dar merda
Nada me diz que é normal BRASÍLIA estar sem chover há 91 dias.
Nem a temperatura recorde de hj no Rio, 41 graus.
Nem São Paulo há 60 dias sem chover e num inverno seco e quente. Ontem fez 37 graus.
Nasci aqui e me lembro bem dos invernos em que minhas irmãs ficavam horas se vestindo com meias grossas, luvas, tocas de lãs, das nossas avós tricotando e da garoa ininterrupta.
Pois é, o modelo de desenvolvimento do Brasil foi ocupar matas com pastos, plantações de soja e cana e vender carros, muitos carros, com impostos reduzidos, além de congelar o preço da gasolina há anos, subsidiando-a para as classes emergentes.
No corredor central, onde a camada de ar seco se instala e fica, a poluição das cidades torna o antigo céu limpo e estrelado do interior numa nuvem de poeira sem fim.
As queimadas de plantações de cana ainda são permitidas em SP.
Cidades do interior conhecem agora o câncer das metrópoles, o congestionamento.
A carga viaja de caminhão. Não se constroem ferrovias.
O país do futuro se inspirou no que há de pior do estilo de vida norte-americano.
E acha que, para não entrar na recessão iminente, deve aquecer o mercado interno facilitando o crédito e entupindo nossas vias de carros.
O preço será caro.
Este aqui usa o transporte público e ainda não joga CO2 na atmosfera [em plena Avenida Paulista].
Só não sei se ficará vivo por muito tempo.
Amanhã, quinta-feira, parece que enfim o tempo muda.
Vem chuva forte.
Poderemos respirar enfim.
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60 dias sem uma gota d’água é uma oportunidade para uma prefeitura podar árvores, desentupir córregos e bueiros, se preparar para o verão quando, aí, sim, é natural que chova nos Trópicos.
Moro num bairro arborizado que, quando chove forte, invariavelmente acaba a luz.
Culpa dos galhos que se enroscam na fiação, diz a ELETROPAULO.
Por vezes, são 5 horas de espera. Já rolou de ficarmos 11 horas sem luz.
Uma vez, 24 horas.
O apagão sempre vem depois de uma explosão que deve matar todos os velhinhos da área. De susto.
Hoje dei uma volta na quadra.
Vi que a prefeitura acha melhor manter a vegetação tomar conta.
Deve saber o que faz. Afinal, sempre trabalha em dia e está de olho.
Pois se onde deveria haver verde não tem, aqui na frente do meu prédio tá sobrando. É bonito. Mas vai dar merda…
September 14, 2012
luto em luta
O documentário LUTO EM LUTA estreia dia 21 de setembro.
A ideia e a realização são do diretor Pedro Serrano, um dos fundadores do movimento “Viva Vitão”, que surgiu logo após o acidente que matou o amigo Vitor Gurman aos 24 anos, atropelado na Rua Natingui, na capital.
LUTA é seu primeiro longa-metragem.
O filme da Produtora Like Filmes expõe através de depoimentos de vítimas, familiares e imagens de acidentes, a tragédia diária do trânsito de São Paulo, que chega a matar todos os anos mais do que guerras e desastres naturais.
Serrano ouviu especialistas em trânsito, médicos, psicanalistas, jornalistas, juristas, políticos e cidadãos comuns.
Destacam-se Ricardo Young, Gilberto Dimenstein, Heródoto Barbeiro, Horácio Augusto Figueira, José Gregori, Floriano Pesaro e Rafael Baltresca, que perdeu a mãe e a irmã atropeladas e hoje segue na luta com o movimento “Não Foi Acidente”.
O documentário se divide em três partes:
Barbárie – Nesta parte inicial da obra temos um panorama da atual situação do trânsito na cidade de São Paulo. Violência e desordem são expostas pela ótica de pessoas ligadas direta e indiretamente ao caos do trânsito paulistano. São elas: engenheiros especializados em trânsito, médicos, policiais, jornalistas, políticos, líderes de direitos humanos e associações, promotores, juízes, psicanalistas, ciclistas, pedestres, cidadãos comuns.
Recortes do cotidiano complementam o material ao mostrar uma realidade cruel; blitz de trânsito, carros destruídos, acidentes, marcas deixadas nos locais e entrevista com sobreviventes que, diariamente, têm que aprendem a reviver e lidar com a dor e as sequelas de um acidente.
O Luto – Depoimentos de pessoas que perderam parentes, amigos e conhecidos em acidentes de trânsito narram a experiência. Histórias de dor e superação, de como vivenciaram o luto ou o transformaram em luta.
A Luta – Retrato de ONGs, Movimentos e Associações que tenham surgido em função de uma perda ou que, simplesmente, partiram de iniciativas de cidadãos que não esperaram o governo agir para tentar mudar esta situação de caos. É o caso dos movimentos “Viva Vitão” e “Não Foi Acidente”, que pleiteiam um trânsito menos violento.
A partir destes exemplos, formulou-se a teoria conclusiva do filme, de que a sociedade civil é, sim, capaz de mudar o cenário macro ambiental através de seus próprios atos e que sua voz tem um papel fundamental na pauta de ação das entidades governamentais.
Trailer oficial: http://www.youtube.com/watch?v=QqdZ4cOFN…
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E hj é dia de:
September 13, 2012
jornalismo
reitor proíbe debate eleitoral na USP
Reitor da USP proíbe debate eleitoral no campus.
Definitivamente a relação entre o reitor João Grandino Rodas e os alunos não deu química.
E não se entendem as razões de muitos dos seus atos.
Enquanto em outros países, especialmente nos Estados Unidos, é nas universidades que ocorre a maioria dos debates eleitorais, especialmente os televisionados, Rodas, apadrinhado pelo PSDB, reinterpretou o artigo 73 da Lei Eleitoral 9.504/97, que proíbe o uso do espaço e agentes públicos em campanhas.
Mandou um ofício proibindo debates entre candidatos já agendados, como o da FEA, Faculdade de Economia de Administração.
O Centro Acadêmico Visconde de Cairu, que organizava o evento “Semana Política CAVC” no campus, recorreu da decisão à Procuradoria Geral da Universidade.
Desde o primeiro semestre deste ano, o CAVC organizava um evento para trazer o debate eleitoral para dentro da Universidade que não infringisse a lei eleitoral: todos os partidos com candidaturas à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2012, sem exceção, foram convidados.
Assim, o objetivo da lei citada, expresso como sendo o de resguardar a “igualdade de oportunidades entre candidatos” ao impedi-los de utilizar propriedade administrada pelo Estado – caso da USP – em benefício próprio, estava garantido.
Em nota oficial, o centro acadêmico conta:
“Com as confirmações de Fernando Haddad (PT), Gabriel Chalita (PMDB), Carlos Gianazzi (PSOL) e a possibilidade da presença de José Serra (PSDB), o Centro Acadêmico iniciou o processo de reserva de salas para a realização do evento. Neste momento, nos foi comunicado pela Diretoria da FEA que uma portaria da USP, com base no artigo 73 da Lei Eleitoral, proibia a realização de qualquer tipo de evento relacionado à assuntos eleitorais e que, portanto, nossa ‘Semana política’ estaria necessariamente comprometida.”
“Em conformidade com a orientação de nossos advogados e entendendo que haveria um possível equívoco e exagero por parte da administração da Universidade na interpretação do artigo em questão – dada a insensatez que constituiria uma proibição de discussões político-eleitorais dentro da Universidade, especialmente em ano eleitoral -, o Centro Acadêmico protocolou diretamente à Procuradoria Geral da USP um pedido de autorização para a realização da Semana.”
O pedido foi indeferido e a Universidade reiterou seu posicionamento.
O CAVC impetrou então um mandado de segurança contra a decisão da Reitoria.
No entendimento do Judiciário (TJ-SP), o artigo 73 da Lei Eleitoral não era impeditivo à realização do evento, pois não consistia em favorecimento político a nenhuma das partes.
Entretanto, o TJ alegou que não tinha competência sobre a decisão da USP por esta constituir uma autarquia que tem plena autonomia em suas decisões acerca do assunto.
Em suma, a legislação eleitoral não dá direito à proibição do debate, é uma decisão tomada diretamente pela Reitoria da USP (autônoma).
“Neste episódio, esta conduta se mostrou excepcionalmente prejudicial à comunidade universitária; com as eleições cada vez mais próximas, só nos resta esperar que os demais eventos sejam capazes de fornecer informações e possibilitar o voto consciente dos estudantes da USP. Pelos fatos acima expostos, o CAVC sente-se obrigado a manifestar sua consternação diante dos acontecimentos referidos. O livre debate e manifestação política são direitos fundamentais na constituição de uma sociedade democrática e sua restrição é inadmissível, ainda mais no espaço de discussão e pensamento de que consiste a Universidade. O Centro Acadêmico Visconde de Cairu coloca, portanto, enfaticamente sua discordância do posicionamento tomado pela Reitoria da USP e questiona a legitimidade desta decisão sobre um tópico de tamanha relevância não só para a comunidade acadêmica, mas para toda a sociedade”, completa os estudantes.
Num surto de pequena autoridade, João Grandino Rodas reinventa o sentido de Universidade, despolitiza o campus e, blindado pela autonomia universitária, tão útil em regimes autoritários, manda e desmanda.
A Faculdade de Direito, rompida com o reitor, ignorou a ordem e manteve o debate já agendado no Largo São Francisco.

ofício reitera a proibição
September 12, 2012
tudo num tweet

Marilyn Monroe lê Ulysses de James Joyce
“Se você disseca Ulisses, dá um tweet”, disse Paulo Coelho sobre a obra de Joyce considerada por muitos o livro do século, marco da literatura moderna que influenciou escritores como Faulkner, Beckett, Guimarães, Cabrera Infante, a poesia concreta, Eliot.
Será que tem razão?
Até a vida cabe num tweet: “Nasci, chorei, mamei, brinquei, desconfiei, duvidei, protestei, me formei, amei, procriei, aprendi a ñ ter expectativas e, antes de entender o sentido, morri.”
Obras e correntes do pensamento ocidental e oriental podem ser resumidas em 140 caracteres.
Algumas testei no twitter.
Couberam.
Freud: “Como sexo está em tudo, menina tem complexo por não ter pênis, inveja a mãe, queria casar com pai, invejado pelo filho que queria a mãe só pra ele.”
Marxismo: “Em produtos fabricados há o lucro, a mais-valia, que pode ser repartido pelo proletariado, mas fica com o dono do meio de produção, burguês ganancioso.”
Existencialismo: “A vida não faz sentido, sentimos náusea, pois a existência precede a essência, sem contar que Deus está morto, segundo aquele outro predecessor.”
Os Sertões, de Euclides: “Corno flagra mulher, sai construindo igrejas pelo sertão, leva todos pra morar em comunidade, são destroçados por republicanos que os acusam de monarquistas.”
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães: “Jagunço tem tesão e relação de amizade dúbia e confusa com outro que só pensa em vingar a morte do pai, mas descobre tarde demais que é outra.”
Brás Cubas, de Machado: “Herdeiro novo burguês não sabe o que fazer da vida, vira congressista, se apaixona por mulher casada, esnoba uma coxa, inventa placebo, até morrer entediado.”
Dom Casmuro, de Machado: “Vizinho novo burguês se casa com a namorada da infância, desconfia que ela o trai com amigo, aplica um assédio moral que acaba a matando de tristeza.”
Hamlet: “Herdeiro do trono pira porque a mãe dá pro tio logo depois da morte do Rei pira a prima e resolve se vingar aconselhado pelo fantasma do pai, matando geral.”
Crime e Castigo, de Dostoievski: “Sujeito abominável mata velha abominável e uma testemunha pra roubar joias, porém a culpa e a paranoia o levam a se entregar a um sargento abominável.”
Morte em Veneza, de Thomas Mann: “Velho pederasta em férias na Itália se entrega a uma obsessão por um jovem andrógino a ponto de ficar mesmo quando a peste chega.”
Metamorfose, de Kafka: “Solitário que mora com os pais acorda transformado numa barata, se tranca no quarto, passa fome e busca se habituar com o novo corpo.”
Liberdade, de Johnatan Franzen: “Mulher frustrada herdeira trai marido democrata com melhor amigo roqueiro, acusado de trair seus princípios ecológicos come secretária indiana.”
Na Praia, de Ian Mc Ewan: “No começo da revolução sexual, noivo descobre na lua de mel que noiva tem aversão pelo sexo, se separam, se afastam e se reencontram anos depois para descobrirem o amor.”
O Sentido De Um Fim, de Julian Barnes: “Jovem casal de namorados se descobre sexualmente, perde a virgindade, se afasta, para anos depois revelar que uma carta irresponsável dele resultou na morte de um amigo.”
Animal Agonizante, de Philip Roth: “Professor conquistador que comia todas cai nas garras de uma aluna latina e sente pela primeira vez o peso da velhice.”
O Homem Comum, de Philip Roth: ““Professor conquistador que comia todas se aposenta, sente mais ainda o peso da velhice e passa por infortúnios médicos e sexuais.”
Fantasma Sai de Cena, de Philip Roth: “Ex-professor conquistador que não come mais ninguém vê a decadência física, a incontinência urinária, o tamanho da próstata e o aumento das rabugices abalar seus desejos.”
Amuleto, de Roberto Bolaño: “Os chilenos R e C, exilados pela ditadura de Pinochet, procuram ganhar a vida no México e se apaixonam por T.”
Putas Assassinas, de Roberto Bolaño: “O chileno G, exilado pela ditadura de Pinochet, procura ganhar a vida na França e se apaixonam por D.”
A Pista de Gelo, de Roberto Bolaño: “Os chilenos B e F, exilados pela ditadura de Pinochet, procuram ganhar a vida na Espanha e se apaixonam por N.”
OK, livros podem ser twittados.
Porém nada substitui a experiência de lê-los.
E a nova geração citada, apesar da gozação, conseguiu a proeza de provar que o romance está longe do fim e aceita experimentações.
Que o diga Franzen
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A declaração de Paulo Coelho ocupou espaço nos cadernos culturais e blogs.
Stuart Kelly, do The Guardian, foi o primeiro a dizer que era um insulto a leitores de Joyce.
E, como sempre, trouxe no vácuo a necessidade de desqualificá-lo, apontar seus erros, chamá-lo de autor superficial, tolo, fútil.
Na mesma intensidade em que Coelho é amado e reverenciado por leitores de credos diversos, provoca rejeição na ala mais cabeça do meio literário. Para aqueles que sacralizam a literatura, Coelho e todos os autores de bestseller são zumbis que querem o sangue do leitor, já que a missão de se comunicar e contar histórias é mais urgente do que a de renovar a linguagem.
Nesse debate, lê-se o que mais atormenta a arte moderna: importa ser entendida, mexer com os canais visíveis da consciência, ou buscar o oculto através de mensagens cifradas?
Arte é indústria ou transcende as “fúteis” relações de mercado?
Para alguns, Coelho “inveja” Joyce, autor de um livro que quase ninguém lê, em que a própria literatura é questionada- cada capítulo de Ulisses é escrito num estilo literário.
É que ele nunca aceitou a condição de ser “apenas” um bom vendedor de livros que encontrou um filão carente e a fórmula mágica: contemporaneizar fábulas numa linguagem fácil, direta, econômica e universal.
Numa famosa entrevista à Veja, rolou o diálogo:
“E não tenho complexo. Eu sou um ótimo escritor. E sou vanguarda.”
“Quais as características de sua obra que a fazem ser vanguarda, na sua opinião?”
“Primeiro, o fato de ela ser rejeitada pelo sistema acadêmico. E depois o fato de o público gostar dela. Porque o público sempre pensa à frente.”
Não me lembro de J.K Rowlings, George Martin, Nicholas Spark e Suzanne Collins se queixarem de não estar na lista de candidatos a uma mesinha da FLIP. Imagino que estão bem satisfeitos por pertencerem ao time titular da literatura comercial, que fatura milhões, faz viagens de primeira classe, tem residências espalhadas pelo mundo e está se lixando para o que é debatido nas publicações literárias ou atrás dos muros que protegem os acadêmicos encastelados.
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Quer ler um rico debate sobre a polêmica?
Acesse o blog A ARTE DA PALAVRA e leia o post:
http://artedaspalavras.wordpress.com/2012/08/18/o-momento-da-verdade-do-protagonista/
September 10, 2012
6 anos!
Era Marcelo Mirisola quem me infernizava a vida para voltar a frequentar a Praça Roosevelt, no auge da sua decadência, que lembrava o Cine Bijou da minha adolescência [que não pedia carteirinha], a morada do meu primeiro diretor de teatro, JOÃO ALBANO, na minha curta vida de ator amador, rodeada por flats disputados por travestis ricos e pobres, lindos e fodidos, sobreviventes da epidemia HIV que varreu para debaixo da terra parte dos meus amigos, inclusive ALBANO.
Mirisola tinha a aliança do Bortolotto, para me convencer de que havia mais naquela praça além de pátina, concreto, desilusão e uma transversal chamada Guimarães Rosa.
Ambos moravam por ali.
Se aproveitavam da cerveja barata dos bares espalhados, da massa italiana à moda antiga, pesadona, que caprichava no molho e que resistiu à inundação demente de sushis e restaurantes mediterrâneos.
Nunca me esqueço de ver uma BMW conversível branca manobrar, e descer dela dois travecos lindos, blasé, que nem deram boa-noite, segurando sacolas de compras e com expressões em italiano intercaladas.
E de saber que um teatro ali, SATYROS, exibia um espetáculo em que todos ficavam pelados, que o KILT, MY LOVE e VAGÃO ainda eram muito bem frequentados, que PLINIO MARCOS não andava mais por ali com sua bolsa e seus livros, convidando para comer noque no GIGETTO.
SATYROS abriu o SATYROS 2, começou a SATYRIANAS.
Voltei a ser dos frequentadores assíduos da “nova” Praça Roosevelt, que com tempo ficou mais glamourosa. Ganhou o ESPAÇO PARLAPATÕES, que há 6 anos exibe peças de terça a domingo, organiza eventos e nos serve até o meio-dia sem estresse.
No Parlapas já encenei 3 peças, meus e últimos textos, já dormi nas suas mesas, já fui embora sem saber como, de carro, de busão, de metrô, de táxi, a pé, já ri e chorei, já me perdi, perdi o controle e conquistei amigos.
Já comecei e parei de fumar 3 vezes.
Lá é um dos poucos lugares em que sei que me entendem.
E, pior, me apoiam.
Me apoiam se eu me perder e me encontrar.
Nesta terça o espaço faz aniversário.
PARABÉNS.
E obrigado.
September 5, 2012
100 anos de cage
Inspirado nas apresentações/experiências interdisciplinares de John Cage, o evento hj no Tucarena será um grande happening om projeções audiovisuais, leituras de conferências, performances de ruídosilêncios multi sensoriais etc.
Durante duas horas e meia se apresentarão cerca de 30 pessoas, como Arnaldo Antunes, Augusto de Campos,
Arrigo Barnabé, Ivan Cardoso, Jards Macalé, Cid Campos, Wilson Sukorsky e Natália Barros.Através de operações de acaso, uma partitura será composta ao vivo no início e determinará os horários e a ordem das atrações.
E durante a apresentação serão distribuídos exemplares de uma publicação com traduções inéditas de textos de Cage e outras criações inspiradas por seu universo.
Imperdível.onde: tucarena (teatro tuca, puc-sp)
quando: 5 de set, 20h às 22h30
$: entrada livre
devaneios

desenho de fellini
Hj último dia da peça IL VIAGGIO, 21h
Onde: Espaço dos Parlapatões (praça Franklin Roosevelt, 158, Centro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3258-4449)
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada)
Olha o que escreveu Miguel Arcanjo Prado do site R7:
Como seu próprio nome diz, Il Viaggio é uma verdadeira viagem pelo que a mente humana é capaz de produzir, com devaneios sem necessidade de coerência, seja de olhos bem abertos ou para sempre fechados.
E continua:
O texto, de um roteiro inédito do cineasta italiano escrito em 1965 e adaptado agora pelo competente Marcelo Rubens Paiva, conta a história do violoncelista Mastorna, interpretado por um corretíssimo Ésio Magalhães, que já havia demonstrado talento em Diário Baldio, com seu grupo, Barracão Teatro.
O personagem se vê à volta de um sério problema: após um acidente com seu avião, não compreende direito o mundo e as pessoas que o rodeiam. Sem passar do ponto, Magalhães consegue passar todo o aturdimento pelo qual Mastorna passa.
A encenação traz elenco ajustado. A atriz Paula Cohen embarca no humor, tanto ao fazer uma aeromoça afetada ou a celebridade do momento. Tem domínio do corpo e do tempo da comédia. Outro destaque é Paula Flaiban, vertiginosa e visceral. Sempre que entra no palco, seja como a voluptuosa dançarina ou a apresentadora do concurso final, magnetiza olhares com interpretação frenética e segura. Helena Cerello incorpora a aura sexy de uma aeromoça espevitada que encanta o protagonista e ajuda a manter o clima de frenesi que envolve a peça. Também estão no tempo certo Ed Moraes, que faz papeis menores, mas nem por isso menos importantes, e Paulo Federal, dono de bela voz e segurança no palco inegável. A direção inventiva de Granato acerta ao promover um caos cênicos para contar a história surreal na qual Mastorna se mete. No mundo dos sonhos – ou do pesadelo – tudo é possível, e o diretor consegue extrair isso de seus atores, que usam talento em variados papeis, e de sua montagem, que não se acovarda diante da proposta do texto. Muito pelo contrário, Granato ousa. Vai além. E o público embarca no avião de sonho desde o primeiro instante. Segue, de olhos bem abertos, o um jogo de palavras, imagens e ações que o leva para longe da realidade e perto da imaginação solta que a arte do teatro pode propor
Prego…
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