Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 102

May 28, 2013

concurso de miss polêmico.


 


Tem brasileiro que não conhece o brasileiro? Não se orgulha dele?


É hipnotizado por padrões externos?


Deu a lógica.


Com todo respeito às branquinhas.


Miss Bahia é enfim neguinha.


A célebre baiana Miss Universo 1968, Martha Vasconcellos, estava no jurado.


Depois da polêmica causada pelas redes sociais, quando se divulgou a foto das 30 candidatas ao concurso em que apenas duas eram negras, a gata PRISCILA CIDREIRA foi coroada neste sábado como a mulher mais bonita do Estado.


Ela é estudante de Psicologia, 22 anos, 1m73, de Santa Cruz, bairro de Salvador.


Vai disputar o Miss Brasil no dia 28 de setembro, em Minas Gerais.


Além de torcedora do Vitória e fã de Jorge Vercilo, ela admira a ex-Miss Universo angolana, Leila Lopes e a primeira-dama americana, Michelle Obama.


Via Bahia!


Como canta CAETANO:


Fatalmente erram, acham solução


E que o mesmo signo que eu tenho ler e ser


É apenas um possível ou impossível em mim em mim em mil em mil em mil


E a pergunta vinha:


Eu sou neguinha?


 


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Published on May 28, 2013 07:53

May 27, 2013

Deus existe?


 


Deus castiga?


A notícia veio do site do próprio Bispo Edir Macedo [http://www.bispomacedo.com.br/2013/05/16/cabare-processa-a-universal/]


Mas parece ter saídos do arquivo de sinopses e ideias do grande dramaturgo Dias Gomes.


Cabaré processa Igreja Universal.


“Em Aquiraz, no Ceará, dona Tarcília Bezerra construiu uma expansão de seu cabaré cujas atividades estavam em constante crescimento após a criação do seguro-desemprego para pescadores e vários outros tipos de bolsas. Em resposta, a Igreja Universal local iniciou uma forte campanha para bloquear a expansão, com sessões de oração em sua igreja de manhã, à tarde e à noite.


O trabalho de ampliação e reforma progredia célere até uma semana antes da reinauguração, quando um raio atingiu o cabaré queimando as instalações elétricas e provocando um incêndio que destruiu o telhado e grande parte da construção. Após a destruição do cabaré, o pastor e os membros da igreja passaram a se gabar ‘do grande poder da oração’. Então, Tarcília processou a igreja, o pastor e toda a congregação, com o fundamento de que eles ‘foram os responsáveis pelo fim de seu prédio e de seu negócio, utilizando-se da intervenção divina, direta ou indireta, e das ações ou meios’.


Em sua resposta à ação judicial, a igreja, veementemente, negou toda e qualquer responsabilidade ou qualquer ligação com o fim do edifício.


O juiz, a quem o processo foi submetido, leu a reclamação da autora e a resposta dos réus, e, na audiência de abertura, comentou: ’Eu não sei como vou decidir neste caso, mas uma coisa está patente nos autos. TEMOS AQUI UMA PROPRIETÁRIA DE UM CABARÉ QUE FIRMEMENTE ACREDITA NO PODER DAS ORAÇÕES E UMA IGREJA INTEIRA DECLARANDO QUE AS ORAÇÕES NÃO VALEM NADA!’


Se é verdade ou não, está lançado o PARADOXO, para quem gosta deles.


Tal nota lembra aquela máxima do jornalismo: se o cachorro morde o dono, não dá notícia, mas se o dono morde o cachorro…


Se a igreja nega que as orações causaram o raio, quem incendiou o cabaré, o livre arbítrio?


Deus existe? Deus castiga?

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Published on May 27, 2013 13:17

May 26, 2013

jornalismo ctrl+v


 


Meu amigo jornalista e músico Fabio Pagotto, hoje de plantão numa redação, resolveu apurar a nota sobre uma pessoa que morreu carbonizada num incêndio na zona leste de São Paulo, que repercutiu nas redes sociais.


A informação foi primeiramente divulgada pelo Twitter do Corpo de Bombeiros:


“193-Bombeiros PMESP @BombeirosPMESP 18h 01:21 Fogo em habitação coletiva, R Conselheiro Laet, 248, Mooca, 1vít fatal carbonizada, fogo extinto pelo CB, sem mais informações . #193I”


A partir de então, a notícia rodou.


Folha de S. Paulo:


“Uma pessoa morreu carbonizada em um incêndio na Mooca, na zona leste de São Paulo, na madrugada deste domingo. Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta da 1h20 em uma habitação na rua Conselheiro Laet, na altura do número 248.


Ao menos quatro carros da corporação foram até o local para conter as chamas, que foram controladas ainda na madrugada. Não havia informações sobre o que teria provocado o incêndio. A Polícia Civil investigará o caso.”


Portal G1:


“Uma pessoa morreu na madrugada deste domingo (26) após um incêndio no bairro da Mooca, Zona Leste de São Paulo. A vítima não foi identificada. Segundo o Corpo de Bombeiros, o incêndio teve início por volta da 1h20 em uma habitação coletiva localizada na Rua Conselheiro Laet, na altura do número 248. Quatro carros dos bombeiros foram enviados ao local para combater as chamas.


Site da Jovem Pan:


“Incêndio causa a morte de uma pessoa na zona Leste de SP


Uma pessoa que não foi identificada morreu na madrugada deste domingo (26) após incêndio no bairro da Mooca, zona Leste de São Paulo. Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo começou por volta da 01h20min em uma habitação coletiva localizada na Rua Conselheiro Laet, 248. Quatro viaturas dos bombeiros foram enviadas ao local para combater as chamas.”


Não existe a Rua Conselheiro Laet. No bairro vizinho da Mooca, o Brás, existe a Rua Conselheiro Lafaiete.


Foi o que Pagotto descobriu numa simples consulta ao Google. E desabafou pelo FACE:


“Daí deduzimos que um copiou do outro, no caso dos colegas. Ainda, ninguém se preocupou em checar, ou se o fez, não foi eficiente. Ora, dá trabalho fazer reportagem de maneira responsável. Uma checagem no Google e um telefonema, pronto, já está correta a notícia. E olha que estou trabalhando doente, e assumo que não estou imune a erros ou enganos. Está morrendo a reportagem, estão desaparecendo os repórteres que ainda desconfiam, substituídos por sei lá qual sorte de profissional. Devem contratá-los na tal Rua Conselheiro Laet.”


Em tempo.


Depois da denúncia, o Twitter dos Bombeiros retificou:


“193-Bombeiros PMESP @BombeirosPMESP 10m @fpagotto retificando end. do fogo em Curtiço das 01:21h do dia 26/05 – R. Conselheiro Lafaiete, 248 – Mooca”


Domingo, friozinho, preguiça…


Eu na vida escrevi muita bobagem. Todo jornalista já fez das suas.


Ctrl V é uma arma perigosa. Uma ferramenta de dois gumes. Informa na mesma velocidade que desinforma.


Diante da boataria sobre o fim da Bolsa Família, e de outras deturpações da realidade, o jornalista precisa ficar atento.


O alcance da sua notícia é, agora, ilimitado.


Nossa responsabilidade, idem.


 

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Published on May 26, 2013 17:51

May 24, 2013

mkt or not mkt?


 


Diálogo com o departamento de marketing cultural.


“O mercado que decide o que deve ser exibido. Transferiu-se para a iniciativa privada a responsabilidade de patrocinar a cultura. Oferecem-se leis de fomento, uma forma de democratizar as artes, profissionalizar o meio, não favorecer grupos ideológicos. Sua empresa pode investir em marketing cultural. Dá visibilidade à sua marca, e ainda descontam-se impostos.”


“Que moleza! Confesso que não entendo nada desse negócio de artes. Terão que me ajudar.”


“Recebemos e avaliamos inúmeros projetos em nosso departamento. Só precisamos da aprovação final.”


“Estou ansiosíssimo. Qual projeto vocês indicam?”


“Uma peça de teatro de Shakespeare.”


“Gênio! Não entendo nada, mas minha filha adora teatro. Como é a história?”


“É sobre um príncipe.”


“Uma história de amor?”


“Não exatamente. É sobre um príncipe que se veste de preto e é atormentado pelo fantasma do pai.”


“Onde fica o reino?”


“Na Dinamarca.”


“Onde?”


“Na Dinamarca.”


“Tem uma princesa?”


“Tem uma prima.”


“Uma prima?”


“De 17 anos.”


“De menor?”


“Que se mata.”


“Caramba!”


“O fantasma do pai fala pro filho que o tio o matou para se casar com a sua mãe.”


“Que canalha! E é verdade?”


“É o que o príncipe precisa descobrir. Ele bola uma peça.”


“Que peça?”


“De teatro.”


“Outra?”


“Exatamente: uma peça dentro de uma peça.”


“Do Shakespeare também?”


“Claro. E a verdade é descoberta.”


“Final feliz!”


“Não, o príncipe morre. Muitos morrem.”


“Não podemos mudar o final?”


“Infelizmente, não.”


“Como é o nome da peça?”


“Hamlet.”


“Ah, sei.”


“Hamlet no dicionário quer dizer vilarejo, povoado…”


“Mas não é sobre um reino?”


“Podre, senhor, muito podre.”


“Deu pra notar. Tem outro projeto?”


“Temos um livro, senhor, uma nova tradução. Um clássico.”


“De um brasileiro?”


“Não, senhor, é uma… tradução. Kafka.”


“Gênio!”


“Graças ao agente dele, conhecemos o seu trabalho.”


“Por quê?”


“Kafka não era reconhecido quando estava vivo. Até pediu para queimar tudo.”


“Se nem o cara gostava dos seus livros, por que vamos traduzir? Como é a história?”


“Um sujeito acorda de manhã e descobre que se transformou numa barata.”


“Numa o quê?”


“É uma metáfora, senhor.”


“Onde se passa a história, num ralo?”


“No quarto dele, ele não sai do quarto, porque, afinal… virou uma… é, uma barata, e não quer assustar as pessoas.”


“E ele desvira?”


“Não. Ele continua barata.”


“Se ao menos ele tivesse virado uma borboleta, uma joaninha…”


“Melhor esquecer. Ele tem outro livro, bem interessante. Sobre um sujeito que é processado.”


“Por que ele é processado?”


“Ele não sabe.”


“Mas o leitor sabe?”


“Não.”


“É um processo criminal, civil, trabalhista?”


“Temos outro projeto. A edição comemorativa de um romance do Guimarães Rosa que até virou uma minissérie de TV.”


“Gênio!”


“Cujo primeiro livro, um de poesias, foi premiado pela Academia Brasileira de Letras.”


“Que livro?”


“Magma”


“Não conheço.”


“Ele proibiu a sua publicação.”


“Outro?”


“Mas foi publicado.”


“Sem ele saber?”


“Bem depois… Mas o romance é sensacional.”


“Como é a história?”


“É uma narrativa circular, como novas expressões e uma pontuação ousada.”


“Resume.”


“Um jagunço conhece outro jagunço que quer vingar a morte da família e acaba se envolvendo, quase, bem, é isso, apaixonando-se.”


“É para o público gay?”


“São jagunços, senhor, do sertão de Minas Gerais. São homens violentos.”


“Não são gays?”


“É difícil explicar.”


“Eles ficam juntos no final?”


“Não. O outro morre, e só no final o jagunço descobre que o outro era na verdade uma mulher.”


“Ele nunca tinha desconfiado?”


“Tinha. Mas… O cara, quer dizer, ela disfarçava direitinho. Incrível. Na minissérie, a Bruna Lombardi fazia o jagunço-mulher.”


“Quem fazia o outro, o Ray Charles?”


“Temos também a peça Esperando Godot. Dois caras. Beckett.”


“Gênio! Esta é gay? O Godot quem é? Ele chega? Quando ele chega?”


“Ele não chega.”


“Dá pra mudar isso?”


Balança a cabeça negativamente.


“Pessoal complicado esse.”


“Um pouco, senhor.”


 


 


 

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Published on May 24, 2013 09:37

May 23, 2013

quem não tem colírio

Você acha que um pé-rapado como eu não sabe se comunicar com o consumidor de produtos de luxo?


Já fui colunista da VOGUE RG. Adora sou colunista da revista DASLU.


E a pauta, eles que deram: escrever sobre a bunda. Que tal? Urban chic, m’ermão.


Com uma sugestão de pauta dessa, dá até gosto de trabalhar.


A revista já está nas bancas. Meu texto tá lá.


 



 


Como não entendo de bundas, pedi ajuda às redes sociais, fui pesquisar no Google.


Me lembraram do divertido poema do Drummont sobre a própria.


Que merece ser reproduzido:


 


A BUNDA, QUE ENGRAÇADA


A bunda, que engraçada.


Está sempre sorrindo, nunca é trágica.


Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se.


Existe algo mais? Talvez os seios.


Ora – murmura a bunda – esses garotos ainda lhes falta muito que estudar.


A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio.


Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente.


A bunda se diverte por conta própria. E ama.


Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem.


Ondas batendo numa praia infinita.


Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na carícia de ser e balançar


Esferas harmoniosas sobre o caos.


A bunda é a bunda redunda.


 


+++


 


Agenda cheia no fim de semana.


Vou ficar rouco.


Sábado à tarde tem na OSCAR FREIRE


E antes, de manhã, também tem no CARANDIRU.


Extremos. 


 


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Published on May 23, 2013 08:47

May 22, 2013

furacão, tempestade, chuva ou borrasca?

BORRASCA é aquela chuva que parece que vai arrasar a cidade, mas dura pouco.


Uma tempestade rápida. Eu não sabia disso.


Quando o MARIÃO [BORTOLOTTO] falou da sua peça nova, explicou o título. O cara é bom de título…


Nossa história se confunde: pode ser um toró ou uma chuva passageira, que ilude.


A ideia do espetáculo é genial.


Vários atores estão mobilizados para fazê-lo, em duplas, apesar de ter apenas 2 personagens: Diego, que chega do velório de um amigo, e Gabriel, escritor bebum, cuja ex-mulher o traiu com o amigo morto.


Cada ator tem que decorar os 2 personagens. São várias opções [e espetáculos], que ficarão em cartaz.


Eles decidem quem fará o que e quando. O mesmo texto, a mesma marcação, luz, trilha. Representações distintas. Jogo distinto. Teatro visto por vários filtros.


Se o ator é a alma do teatro, aí está a chance de ouro para nos deliciarmos.


Com a chama que incendeia nossa alma: o teatro.


 








 


Mas Paulo de Tharso, o nosso PICANHA [acima], morreu na semana passada.


Ele ia também fazer a peça.


Uma BORRASCA com jeito de furacão passou sobre nós.


PT era aquele cara que não entediava a vida. Podíamos passar horas com ele. Repertório, é o segredo. O tempo voava. Humor.


A morte é quando o sujeito dá adeus a si mesmo.


E aos amigos.


Picanha era inquieto e extremamente culto. Falávamos em francês, e ele vivia me corrigindo. Seu sotaque era perfeito.


Fazia 40 coisas ao mesmo tempo [entre elas, tocava a revista do sindicato da Polícia Federal]. Tocou no mesmo festival da TV Cultura que eu. Era músico, poeta, ator, jornalista.


Tinha a minha idade.


A juventude termina. A inocência, idem.


Quando vira rotina enterrarmos os amigos.


BORRASCA está em cartaz no Teatro Cemitério de Automóveis (Rua Frei Caneca, 384)


Sextas e sábados, às 21h30. Domingos, às 20h30. Até 30 de junho.


 


+++


 


 


Nessa sexta, às 20h30, no Sesc Pinheiros, estreia o solo EU CÃO EU, com direção do Rodolfo García Vázquez, dos Satyros.


É uma parceria entre Parlapatões e Satyros, num texto que HUGO POSSOLO fez para Satyrianas.


 



 


+++


 


Visitei tantas vezes este lugar quando era presídio.


Amigos em cana que precisavam do nosso apoio.


Agora, irei como biblioteca, parque, espaço ao ar livre…


Falar na BSP.


Sobre a borrasca que é a vida.




 


+++


 


E tem também.


 


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Published on May 22, 2013 07:56

May 19, 2013

rixas helênicas no almoço de domingo


 


“Todo dia é como domingo, é silencioso e cinzento.”


Só se for em Londres.


A música de Morrisey (Every Day is Like Sunday), alfinetada por Julian Barnes em O Sentido de Um Fim como o retrato de uma geração que não tem o que dizer, não reflete o que rola lá em casa.


Domingo é um dia peculiar.


Domingo é o dia do almoço de domingo, em que a sinceridade e a insanidade familiar ficam exacerbadas. Mal-entendidos perdidos na memória são, do nada, trazidos à mesa antes da polenta.


Do nada?


A psicanálise não diria isso.


Depois, de segunda a sexta, gasta-se tempo com arrependimentos em noites mal dormidas, troca de e-mails com pedidos de desculpas, refletindo sobre o que não deveria ter sido dito, e por que somos transparentes em excesso nos domingos.


No sábado seguinte, chega o convite para a trégua com as sugestões do cardápio do almoço do dia seguinte e a lista de tarefas: quem leva o quê.


Lançando mão de um clichê atual. Na mitologia grega, deuses e semideuses passam a maior parte do tempo gerenciando crises. Vivem às turras em conflitos de interesses antagônicos com parentes. Competem num estresse sem fim para provar quem têm razão.


Como nos almoços de domingo.


Minhas irmãs, tias, primas, não são temas de conferências na Casa do Saber, nem citadas em tratados acadêmicos. E duvido que podemos considerá-las “arquétipos”. Descendem dos meus avós, que são do lado esquerdo do Mar Adriático. Já agregaram valores gastronômicos de porções astronômicas, homéricas, para falar mal dos outros de barriga cheia. Era o tempo em que estar acima do peso era estar saudável. Hoje em dia, meus primos médicos as reprimem.


Não sei se é possível estabelecer conexões entre as desavenças dos mitos e as da vovó com as filhas, das minhas tias com meus primos, dos primos com os pais, da minha mãe conosco, das minhas irmãs entre si, todos contra a maioria das noras e genros: verdadeiras rixas helênicas.


Uma diferença. As punições, banimento em ilha repleta de corvos, envenenamento e tortura com correntes, são mais brandas. Bem, deuses podem tudo, até punir com a morte. Na minha infância, o castigo mais terrível era o exílio para o quarto e o sequestro da sobremesa. Arrumar o armário era, como para Sísifo, uma ida e volta sem fim com cacarecos nas costas. A gaveta com guloseimas seria acorrentada, como Prometeu. O controle remoto, banido.


 



 


Heráclito escreveu: “A harmonia é resultante da tensão entre contrários, como a do arco e da lira”.


Mas o cara era grego. Na minha família, quando o pau quebra, a harmonia não sucumbe nem à torta de cebola.


Sem contar que, às 16h, para tudo: futebol na TV.


Contrastes e dualidades estão sempre no centro dos conflitos entre mitos. Nascem os complexos. Mas o de Édipo, sei lá, não tem nada a ver com a minha família. Freud analisou a historinha trágica. Freud foi uma espécie de voyuer do Olimpo. Um provocador: “Este austríaco está dizendo que minha agressividade tem relação com o fato de eu desejar minha mãe sexualmente e invejar meu pai? Minha mãe, aquela santa? Que mente podre é esta que diz que quero fazer com ela o que meu pai faz? E que papo é esse das minhas primas e irmãs sentirem um complexo de eunuco?”


Outro conflito que deu o que falar na Grécia Antiga foi a união estável entre Eros e Psique. A linda caçula de um rei de Mileto tirava o fôlego de todos da região. Enciumada, Afrodite mandou o filho, Eros, cortar as asas da concorrente. Porém, o mito se apaixonou. Claro que a mãe os infernizou até não poder mais. Eros teve um papo com Zeus, implorou que ele apaziguasse a ira de Afrodite e legitimasse o casamento. Depois, nasceu o filho de Eros com Psique: Voluptas (Prazer). O prazer seria resultado do amor e da alma.


 



 


Não satisfeito em nos atormentar com histórias do arco jônico, Freud desencavou outro conflito enterrado e superado, o de Eros com Thanatos, vida e morte, prazer e realidade. Eros quer fazer. Thanatos, não. Um cria, é movido pela atração e reprodução. O outro quer o repouso, repulsão, agressão, a própria destruição. Um é instinto de vida. O outro, de morte. Marilena Chauí resumiu: “Se o desejo do homem for o repouso, o imutável, a fuga do conflito, somente a morte (Thanatos) poderá satisfazê-lo.” Eros e Thanatos agregam e separam, um vai estar sempre contra o outro, mas ambos estarão juntos, coexistindo. Amamos com a mesma intensidade que odiamos.


Nietzsche foi outro escreveu teorias que comparam nossas crises pessoais com destinos helênicos. Buscou em dois coitados, Apolo e Dionísio, vítimas de bullying na Grécia Antiga, a distinção entre dois princípios que também se negam, mas acrescentam. Ambos são filhos de Zeus. Apolo é da música, dança, poesia, parece perfeito, sereno. Dionísio, bebum costumas, simboliza forças obscuras. A experiência apolínea é a produção da forma e beleza. Já a dionisíaca rompe com princípio de individualização. A briga caseira entre Apolo e Dionísio vira arte.


 



 


Aí está explicada a importância do domingo.


E a troca de e-mails de segunda, terça, quarta…


Será que a rapaziada lá em casa é arquetípica?

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Published on May 19, 2013 17:12

May 17, 2013

quando deixamos de usar saias?


 


Todo apoio aos alunos da USP que fizeram um SAIAÇO em protesto contra a perseguição de um colega da USP Leste.


O protesto nasceu nas arcadas da tradicional Faculdade de Direito.


Tomara que vire moda.


Ministros da Corte não usam capas?


Em algumas, usam até perucas.


O Papa usa saia. Jesus pregou numa, e não foi perseguido por causa da vestimenta.


As pirâmides foram construídas por operários numa espécie de tanga.


Alexandre o Grande dominou os persas, foi até a Índia, cavalgando de minissaia.


 



 


Roma foi o maior império do seu tempo. A liderança usava toga, e a milicada, saia.


Não me parece que foram hostilizados pelos inimigos, nem que atrapalharam as investidas da poderosa máquina de guerra.


César e Marco Antônio seduziram Cleópatra com as pernocas de fora.


Nero queimou a cidade numa saia.


E por que a abandonamos?


Mais prática, fácil de vestir, refrescante. Florida, dá vida.


Mais elegante do que aquelas bermudas em que a cueca fica à mostra.


Logo logo vou aderir. Quando encontrar uma que vista um vara-pau de 1m87.


Só vou depois pedir umas dicas de como dobrar as pernas com elegância.

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Published on May 17, 2013 06:56

May 16, 2013

passaram a mão


 


E meu texto também.

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Published on May 16, 2013 13:22

May 14, 2013

a direita surtou

A direita brasileira tá ficando paranoica?


Primeiro foi LOBÃO vir a público para nos alertar que o governo DILMA organiza um golpe comunista.


Hoje, o economista RODRIGO CONSTANTINO no Globo faz coro: “Lobão tem coragem de remar contra a maré vermelha, ao contrário da esquerda caviar, a turma ‘radical chic’ descrita por Tom Wolfe, que vive em coberturas caríssimas, enxerga-se como moralmente superior, e defende o que há de pior na humanidade. No tempo de Wolfe eram os criminosos racistas dos Panteras Negras os alvos de elogios; hoje são os invasores do MST, os corruptos do PT ou ditadores sanguinários comunistas.”


Está lá em http://oglobo.globo.com/opiniao/mais-lobao-menos-chico-buarque-8375227#ixzz2THMPM4VC


Se Wolfe souber que foi usado neste [con]texto…


Outros alertas pipocam pelas redes sociais.


Um grupo que se autodenomina OCC Alerta Brasil diz: “Terroristas importados de Cuba pela Sra. Dilma para consolidação do comunismo cubano no Brasil. A Venezuela é Aqui.. Brasil em perigo. Acorda Brasil.

Curta e Faça parte da OCC” [https://www.facebook.com/organizacaodecombateacorrupcao].


A OCC ALERTA BRASIL é um “Instituto de orientação da cidadania, da democracia, da promoção do desenvolvimento econômico e social e de outros valores universais”.

A missão: “Desenvolver projetos educacionais, e prevenir, fiscalizar, informar, divulgar e combater a corrupção na administração pública direta e indireta, em todos os níveis da federação, de forma pacífica e democrática.”


É uma nova direita que se organiza.

Os ânimos estão acirrados.


Muitos se lembrarão do instituto IBADE, que alertava contra a ameaça comunista em 1962-64, que alimentou o Golpe Militar.


Mas ao lembrar que Collor, Maluf, Sarney, Kassab, Afif e até Delfim Neto são da base governista da “terrorista” Dilma, que estradas, aeroportos e portos são privatizados, empresas estrangeiras investem no Brasil, e brasileiras compram estrangeiras, como a Heinz, fazem parcerias e lucram, os Poderes são independentes, a imprensa, livre, o cidadão vota, o agronegócio empurra a economia, a fronteira agrícola se expande, os investimentos imobiliários crescem, as montadoras nunca venderam tantos, e os bancos nunca lucraram tanto, só dá para tirar uma conclusão: a direita surtou.


Não é preciso muito esforço para lembrar de quem realmente é perigoso ao Brasil.


 


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Published on May 14, 2013 08:09

Marcelo Rubens Paiva's Blog

Marcelo Rubens Paiva
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