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gostaria de lhe pedir conselhos, ou melhor, de se exibir um pouco, provar que não era um homem insignificante, que era capaz de se atirar em uma loucura como aquela.

Mas está vendo como a vida não nos deixa em paz? Cedo ou tarde, ela nos atinge.

Seus pais, ocupados em seus respectivos trabalhos, o amavam sem sufocá-lo e o tratavam com a negligência habitual aquela época, antes que as crianças se transformassem em projetos.

e a descoberta das histórias que tinham em comum alimentou a ilusão do amor, mas eram fundamentalmente diferentes.

se entendia com a avó sem palavras, em uma dança de gestos repetidos e tarefas domésticas metódicas.

Andrés não participava dessas atividades, eram coisas de mulheres; ele ia para a escola antes da irmã e ficava jogando bola com outros garotos.

no passado, só os homens emigravam em busca de trabalho, mas, nos últimos anos, as mulheres também partiam. segundo o padre Benito, os emigrados enviavam, todos os anos, vários milhares de milhões de dólares para manter suas famílias, contribuindo, de passagem, para a estabilidade do governo e a indiferença dos ricos.

não teria trocado essa vida por nada. amava sua comunidade, sua grande tribo, como a chamava.

sentindo saudades dos tempos em que o cinema insinuava a fornicação com uma porta se fechando discretamente, uma lâmpada se apagando ou um cigarro se consumindo em um cinzeiro abandonado.

Nesse instante teve a nítida consciência de como sua existência ficara pequena e limitada e, então, sentiu medo de verdade, medo de ter perdido muitos anos trancado em si mesmo, medo da pressa com que o tempo passava enquanto a velhice e a morte desabavam nele.

apesar de sempre caminhar olhando para o chão, carregado de livros, dobrado pelo
peso de suas preocupações;

as cicatrizes que trazia no peito eram visíveis e seus seios virginais como os de uma jovem da Namíbia pareciam desconectados do restante de seu corpo; pareciam zombar do restante de sua anatomia.

queria ser aceita sem ter nada para ocultar ou fingir, conhecer o outro profundamente e aceitá-lo da mesma maneira. queria alguém com quem pudesse passar as manhãs de domingo na cama lendo jornais, com quem rir de besteiras e discutir ideias, a quem pudesse dar a mão no cinema. havia superado o entusiasmo pelas aventuras fugazes.

queria fazer amor amando, pelo prazer do corpo e a tranquilidade do espírito.

imaginava que um homem assim devia ser profundo e sério, nobre de espírito, um prêmio para quem conseguisse vencer os obstáculos que ele semeava no caminho em relação a qualquer forma de intimidade.

queria viver no estrangeiro, onde os desafios cotidianos mantinham sua mente ocupada e o coração em relativa calma, porque no Chile era esmagada pelo peso do conhecido, das rotinas e limitações.

preparou uma caçarola levanta defunto, a tradicional sopa chilena que recompõe o ânimo na desgraça e o corpo nas doenças.

a neve é sempre antiga quando vista
de longe.

As tormentas chilenas se limitam à cordilheira dos Andes e ao sul profundo, à Terra do Fogo, onde o continente se desfia em ilhas feridas a facadas pelo vento austral, o gelo parte os ossos, e a vida é dura.

Começamos a conceber que o design de nosso mundo-ambiente não depende da aplicação de uma série de fórmulas estéticas, preestabelecidas, e sim de um processo contínuo de crescimento interior, que recria constantemente a verdade ao serviço da humanidade.

Só uma revisão radical do velho corpo da cidade pode transformá-lo novamente em organismo sadio.

O estabelecimento de centros comunitários no núcleo das cidades e dos conjuntos habitacionais é mais importante e necessário ainda que a própria construção de habitações, pois estes centros servem de base cultural em que o indivíduo poderá desdobrar plenamente a sua estatura no seio da comunidade.

Mas quanto mais importância tiver o fator humano em nosso trabalho, tanto mais há de revelar a arquitetura a intensidade de sentimento de seus criadores, e isto na sua estrutura mesma e não no ornamento externo, um resultado que surge tão-somente quando o arquiteto é ao mesmo tempo servo e líder.

mais tarde, também eu arrancarei o coração do peito para secar como um trapo e usar limpando apenas as coisas mais estúpidas.

depois de cada dificuldade, esperava que dezembrássemos todos. que era prometer que chegaríamos vivos e salvos ao fim do ano, entrados em janeiro, começados de novo. a resistir.

porque o rigor era um conceito ridículo para o espírito, o indecifrável espírito que haveria de transgredir todas as regras e tudo quanto alguém um dia julgou aprender e poder ensinar.

ando a pensar que deus não reparou que aqui estamos ou nos mandou para aqui exatamente para não ter de reparar.

mas eu não conseguia acreditar nisso. achava-nos tristes. ridículos. deus certamente bocejaria se assistisse ao espetáculo pequenino das nossas vidas.

a religião era uma forma de teimosia. as preces faziam-nos perseverar. e acreditar que deus se ocuparia também dos nossos destinos era uma casmurrice, talvez. uma pretensão toda a dar-se importância.

os livros eram ladrões. roubavam-nos do que nos acontecia. mas também eram generosos. ofereciam-nos o que não nos acontecia.