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Um corpo social que não consegue se concentrar ou se comunicar é como uma pessoa que não consegue pensar e agir.

A internet é um meio em que o incentivo à performance é inerente. No mundo real, você pode simplesmente andar por aí vivendo a vida enquanto as outras pessoas olham para você. Mas, na internet, você não pode só andar por aí e ser visível; para que os outros o vejam, você precisa agir***, precisa se comunicar caso deseje manter uma presença virtual.

A internet, ao prometer uma audiência potencialmente ilimitada, começou a parecer o habitat natural da autoexpressão (...) O sonho de um eu melhor e verdadeiro na internet estava desaparecendo. Se antes nos sentíamos livres para ser nós mesmos online, agora estávamos acorrentados a nossas versões virtuais.

A web será percebida não como uma série de telas com imagens e textos, mas como um mecanismo de transporte, o éter por meio do qual a interatividade acontece.

não buscar mais
que a própria coisa
e acolher então o mistério

não sei dizer como a coisa é
sem traí-la

Mas não é possível voltar muito atrás, corrigir ou acrescentar coisas, e nem mesmo me perguntar onde estava a felicidade.

Aos 65 anos, estava satisfeito de poder ter acesso à previdência social. Quando voltava da farmácia, sentava à mesa e ficava colando com alegria os selos promocionais. A cada dia, ele gostava mais de viver.

Tinha me criado para que eu desfrutasse de um luxo que ele próprio ignorava (...) Ficava orgulhoso por não deixar transparecer nada, sentimentos guardados bem no fundo do bolso.

Admitiam minha entrada nesse mundo que não temia nenhum olhar de fora e que só tinha se aberto para mim porque eu havia esquecido os modos, as ideias e os gostos do meu próprio mundo.

Talvez eu escreva porque já não tínhamos mais nada a dizer um ao outro.

Um dia me disse: "Os livros e a música são bons para você. Eu não preciso de nada disso para viver."

Para ele, a mesma vida de sempre daí em diante. Mas tinha certeza de que não dava para ser mais feliz.

Me submeti às vontades do mundo em que vivo, que se esforça para que todos se esqueçam das lembranças de uma vida com hábitos mais simples, como se fossem uma coisa de mau gosto.

O pior era ter os gestos e a aparência de alguém do campo sem, de fato, ser um.

Sempre falar com precaução, medo inominável de dizer uma palavra errada, que teria um efeito tão desagradável quanto deixar escapar um peido.

Como descrever a visão de um mundo em que tudo custa caro (...) Essa garota não conhece o valor das coisas!

Tínhamos tudo o que é preciso ter, em outras palavras, comíamos até ficar satisfeitos, tínhamos calefação na cozinha e no café, únicos espaços que ocupávamos. Duas roupas, uma para todos os dias, outra para os domingos (quando a primeira ficava gasta, a de domingo passava a ser a de todos os dias).

Nada na imagem que possa transmitir a tristeza vivida, ou a esperança do que virá.

Desse modo, todos os indícios de uma condição partilhada com os outros se tornam, para mim, indiferentes. A cada vez, me esforço para escapar da armadilha do ponto de vista individual.

O eterno retorno das estações, as alegrias simples e o silêncio do campo.

Apesar de tudo, éramos felizes. Tínhamos de ser.

(...) meu avô precisou tirá-lo da escola e levá-lo para trabalhar na fazenda onde ele trabalhava. Já não dava para continuar alimentando alguém que não fazia nada. "Ninguém se opunha, acontecia o mesmo com todo mundo."

Embora as casas ficassem isoladas umas das outras por sebes e desníveis, nada escapava ao olhar dos outros, nem o horário em que os homens voltavam dos bares, nem a semana em que as toalhinhas higiênicas deveriam estar balançando no varal.

O que ele mais detestava era ver dentro de casa alguém da família mergulhado em um livro ou jornal. Ele não tinha tido tempo de aprender a ler e escrever. Contar, ele sabia.

Em certos momentos, sente-se massacrada diante das coisas que aprendeu. Tem o corpo jovem, mas o pensamento, velho.

Ao olhar para trás, vê sua vida como uma série de imagens sem relação. Não sente identificação com nada, apenas com o saber e com a literatura.

e de repente podíamos ver o ambiente familiar com certo distanciamento, como um mundo à parte ao qual já não pertencíamos.

Divertiam-se imaginando a vida no final do século, refeições seriam substituídas por um comprimido, robôs fariam tudo, haveria casas na Lua. Mas logo paravam com as previsões, sem ligarem muito para os hábitos dali a quarenta anos.
Querendo apenas estar vivos quando chegassem lá.

Gostávamos mesmo dos textos com palavras e frases
que resumissem a existência, a nossa e a das empregadas e
dos entregadores do alojamento, mas fazíamos uma
distinção entre nós e eles, já que nós “refletíamos”.