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Gosto de quedar a seu lado no Bar Pingüim noites seguidas e melodiosas, alheios à retórica, em doce paz de consciência.

Dezembro, e dói (ou não?) um pouco esse abrir os braços para abraçar o corpo, ou o sem-corpo, de uma espera nervosa.

a dor da América Latina, mitos não são, pois que são fotos.

ver, no mundo, os muitos signos que vigiam sob as coisas. sentir, sob a forma, as formas, os segredos da matéria, mais a textura dos sonhos de que se forma o real.

e o transportaremos ao País da Memória, país de cafés-sentados e redações não eletrônicas de jornais (...) enquanto refocilávamos em orgias com a ninfa de coxas de espuma e seios-orquídea chamada Literatura, nosso maior amor e perdição.

ou para sorrir nas telas clássicas de museu que se sabem contempladas pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas, ou ainda para dispersar-se e concentrar-se no jogo eterno das crianças.

vai e vê
o natural das coisas e das gentes, o dia, em sua novidade naõ sabida, a inaugurar-se todas as manhãs, o cão, o parque, o traço da passagem de pessoas na rua, o idílio jamais extinto sob as ideologias, a graça umbilical do nu feminino, conversas de café, imagens de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco para depositar-se numa folha sobre a pedra do cais

Fazer 70 anos é fazer catálogo de esquecimentos e ruínas. Viajar entre o já-foi e o não-será.

Tende por certo: amar se aprende amando

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar

acima das gramáticas e do medo e da moeda e da política, o verbo sempreamar

assim o amor dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo com o olhar pervagante e larga ciência das coisas. já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos

E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.
Descansei em ti meu feixe de desencontros e de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro - sadicamente massacrar-te
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam desde a hora do nascimento

A bondade vem de dentro. A bondade é uma coisa que se escolhe.

E não é a nossa História Moderna, meus irmãos, a história de bravas individualidades malenques (pequenas) lutando contra essas máquinas enormes?

e nas janelas de todos os apartamentos videavam-se luzes azuis dançando. isso eram as televisões.

Que diabo de mundo é esse, afinal? Tem homem na lua e homem rodando no espaço que nem mosca em volta da lâmpada, mas ninguém obedece mais à lei nem à ordem aqui embaixo.

feito no tempo em que as coisas eram feitas assim pra durar

A verdade é que ele leu pouco; a montanha de pedra imantada e o gênio que jurara matar seu benfeitor eram, quem pode negá-lo, maravilhosos, mas não muito mais, porém, que a manhã e o fato de ser. A felicidade o distraía de Xerazade e de seus milagres supérfluos; ele fechava o livro e simplesmente se entregava à vida.

A verdade é que vivemos adiando tudo que é adiável

do capítulo XXIV do livro sétimo da Naturalis historia. O assunto desse capítulo é a memória; as últimas palavras foram "ut nihil non iisdem verbis redderetur auditum"; que nada deve ser ouvido nas mesmas palavras.

Talvez a velhice e o medo me enganem, mas suspeito que a espécie humana - a única - está em vias de extinção e que a Biblioteca perdurará: iluminada, solitária, infinita, perfeitamente imóvel, armada de volumes preciosos, inútil, incorruptível, secreta.

ninguém pode articular uma sílaba que não esteja cheia de ternuras e temores; que não seja em alguma dessas linguagens o nome poderoso de um deus. falar é incorrer em tautologias.

das diversas felicidades que a literatura pode ministrar, a mais alta seria a invenção.

parecia-lhe que a boa literatura é bastante comum e que quase não há conversa de rua que não chegue até ela.

não é outra coisa senão um infinito jogo de acasos.

porque nascer é uma alegria que dói.

Eu adormeço às margens de uma mulher: eu adormeço às margens de um abismo.

Arranque-me, senhora, as roupas e as dúvidas. Dispa-me, dispa-me.

Então, vieram os equívocos. Entenderam queda quando falei de vôo (...) Eu disse que a dor era o sal que dava gosto à aventura humana.