Joel Neto's Blog, page 71
February 24, 2013
Lisboa, 24 de Fevereiro de 2013
Póvoa de Varzim, 23 de Fevereiro de 2013
Julgo que se pode dizer que a literatura sempre teve, para mim, algum tipo de serventia em particular. Tomei contacto com ela aos quatro/cinco anos, soletrando de dedo esticado as palavras da Bíblia Sagrada, e logo ela assumiu a sua primeira utilidade prática. Nós éramos protestantes, manuseávamos “O Livro” – e era através d’“O Livro” que começávamos por manifestarmo-nos gente.
Mal se insinuava no horizonte a entrada para a escola, recebíamos do nosso avô um relógio e dos nossos pais um exemplar das Escrituras, tradução de João Ferreira de Almeida, Velho e Novo Testamento num volume só – e era com esse volume debaixo do braço, transportado numa pastinha de napa, sublinhado a marcadores fluorescentes e decorado nos seus versículos essenciais (João 3:16, todo o Salmo 23, o “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho”, do Evangelho Segundo Marcos) – era com esse volume debaixo do braço que nos tornávamos, por assim dizer, gregários.
Depois, aos catorze/quinze anos (talvez dezasseis, embora eu goste de acreditar que foi mais cedo), eu percebi, enfim, que a literatura existia [não foi só a literatura, mas tudo o resto que se descobre aos catorze anos é inconfessável]. Dei numa montra com um exemplar de “Um Deus à Beira da Loucura”, de Daniel de Sá [há aqui vários amigos e admiradores de Daniel de Sá], e, da primeira vez que alguém me pôs dinheiro no bolso, peguei em quinhentos escudos e fui comprá-lo.
Eu alinhava razoavelmente as frases na disciplina de Português, mas não fazia sequer ideia de para que servia um livro que não a Bíblia. Na verdade, era aquele qualificativo, “À Beira da Loucura”, atribuído ao Criador de todas as coisas, que me interessava. Eu julgava ter descoberto que o Deus que me cativara a infância era, afinal, invejoso e castigador, repleto de proibições e de cólera – e ter aquele livro sobre a mesa de cabeceira assumia duas serventias em simultâneo: não apenas me fazia sentir profundamente subversivo, como também menos só na posse desse segredo de que Deus, na verdade, era mau.
Depois, sim, depois li essa pequena novela de Daniel de Sá. E depois um romance. E outro, e outro – uma série deles, açorianos e do mundo. E ler livros tornou-se uma bandeira: aquilo que me distinguia no meio do marasmo de uma ilha triste e enfadonha. E depois a ideia de que escrevia bem tornou-se outra bandeira ainda: o meu melhor recurso para aplacar a menoridade social.
Nada disto, até aqui, é distinto daquilo que aconteceu convosco. E estamos de acordo: esta é, muito provavelmente, a serventia mais frívola que os livros e a literatura podem ter nos nossos percursos de vida: primeiro colocam-nos numa posição um nadinha mais a salvo das crueldades da adolescência (do tipo: “Deixa lá estar esse, que lê livros e deve ser meio maluco”) e depois até nos arranjam namoradas, nos tempos da faculdade, onde qualquer vago aforismo parece capaz de mobilizar a raiva, ou pelo menos de enternecer um coração.
Quem nunca precisou dos livros para prevalecer sobre a inaceitação, qualquer que ela seja, provavelmente nunca precisou dos livros como os livros devem ser precisados.
E depois, finalmente, veio a utilidade da idade adulta. Lidos ou mesmo escritos por mim, os livros passaram a servir-me para regressar a casa. Eu vivia em Lisboa há cinco, há dez, há quinze anos – e só os livros conseguiam devolver-me à ilha, inclusive à ilha que já nem sequer existia, e que aliás agora já não me parecia tão triste e enfadonha, mas alegre e exuberante e autêntica e minha. Também nisto coincidiremos, muito provavelmente: escrever, como ler, continua a ser sobretudo um modo de voltar. De voltar à infância. De voltar a casa. De voltar, até, a onde nunca sequer se esteve, se me permitem o paradoxo fácil. Um modo de fazer as pazes. E um modo de continuar.
Julgo que, se não tivessem sido os livros, eu nunca teria conseguido viver vinte anos em Lisboa, penando com a ausência da terra-mãe. E tenho a certeza de que, se não tivessem sido eles, não teria conseguido regressar em definitivo a ela, como fiz recentemente, instalando os meus modos e os meus gestos e os meus cheiros e as minhas rotinas e os meus objectos lisboetas na freguesia rural da Terra Chã, ilha Terceira, na casa onde os meus avós viveram os últimos cinquenta anos das respectivas vidas, e assim dizendo o meu próprio: “Para sempre. Aqui estou.”
Mas: para que me vão servir os livros agora? Eis a dúvida por que me deixei assaltar aqui há umas semanas, quando peguei nas cento e poucas páginas já escritas do romance em curso, as reli pela duocentésima vez e cheguei à conclusão de que estavam, afinal, “uma merda” – de que, em suma, eu não tinha a mínima ideia do que estava a fazer.
Para que vou eu precisar dos livros agora? Tenho as pazes feitas com Deus, de cuja música e de cuja arquitectura gosto tanto. Os vizinhos colhem batatas ou matam um porco ou fazem uma pipa de aguardente de néveda e vêm dependurar-me na porta um bocado, para eu provar. De namoradas, já tive mais do que merecia: duas – e, aliás, ou muito me engano, ou já casei vezes suficientes [casei com as duas].
E, entretanto, regressei de facto a casa. Regressei a casa e sento-me a ler o jornal da terra naquela mesma cozinha onde o meu avô, José Guilherme, se sentava a ler o jornal da terra – e às vezes vem o meu pai e senta-se comigo, e às vezes vem o Zé Maria e senta-se connosco, embora só eu o possa ver porque é um fantasma – e a certa altura já estamos à mesa todos, eu e aqueles a quem dediquei livros, sobre quem escrevi, cujo amor quis conservar, e pergunto-me: “Escrever o quê, agora?” E o que estou a perguntar é: “Escrever para quê? Terão alguma serventia, a partir daqui, os meus textos?”
Afinal, sem serventia, neste tempo, é que já não dá mesmo. John Banville está a reescrever Philip Marlowe e William Boyd a reescrever James Bond – talvez com a serventia de enriquecerem, talvez com a serventia de submeterem a literatura às regras do cinema comercial. Cada vez mais de nós estão a escrever segundo uma estranha corruptela desta língua, “exceção” sem P, “hei de” sem hífen, “para!” sem acento – talvez com a serventia de ajudarem a tornar a língua num mercado, talvez com a serventia apenas de agradarem a nem sabem bem quem.
E eu, não sendo capaz de reescrever Elias Santana, nem sequer João Garcia, e menos ainda Calisto Elói, escreverei agora para quê? “Apenas” para tentar reinventar ligações entre as palavras, na presunção de que poderei ser eu a iluminar-lhes novas utilidades e, por conseguinte, a abrir-nos a todos novos modos de pensar?
Logo eu, que vivo subjugado pelos computadores, dependente da Internet, submetido à ditadura dos iPhones e dos iPads – poderei ser eu a oferecer à literatura uma nova superação da sua subalternidade, a permitir-lhe vingar-se, mais uma vez, da urgência de uma serventia, a encontrar-lhe nova e superior serventia? E logo neste tempo em que se deixou, em definitivo, de ouvir as palavras “Este livro mudou a minha vida”? Logo agora, que até se convencionou que as elites se podem dispensar de uma cultura literária e serem simplesmente cretinas – e dizerem, inclusive, que se um sem-abrigo aguenta, temos todos nós mas é de aguentar também?
Resta-me, pois, juntar-me a Daniel de Sá e escrever para aquela montra de Angra do Heroísmo onde talvez passe um jovem de dezasseis anos e queira distinguir-se entrando. Resta-me, provavelmente, juntar-me a Daniel de Sá e a Álamo Oliveira e a Dias de Melo e a Madalena Férin e a Urbano Bettencourt e a Emanuel Jorge Botelho e a Vamberto Freitas e a Onésimo Teotónio de Almeida e a João de Melo – a João de Melo também, sim –, e aliás a tantos outros, e tentar oferecer aos meus livros a serventia de tocarem um rapaz de dezasseis anos e, quem sabe, deixá-lo para sempre obcecado com a ideia de voltar a casa.
Interessa-me pouco o debate académico em torno da existência ou não de uma literatura açoriana, em que tantos dos escritores da geração anterior à minha se desgastaram. Mas interessa-me que a literatura tenha sido, ao longo destes quase quarenta anos de autonomia política e administrativa dos Açores, uma das mais importantes ferramentas para a consolidação de uma identidade comum àqueles nove (e tão distintos) pedaços de terra dispersos pelo mar.
Por isso, se me dão licença, eu vou ficar ainda um pouco mais chato com os Açores. Os meus livros vão tornar-se mais açorianos ainda e as minhas conversas mais açorianas ainda e eu mais insistente ainda nas tentativas de despertar os lisboetas e os portugueses para a opressão silenciosa – para a opressão sorridente – de que a minha gente e as suas possibilidades estão a ser alvo.
Será essa, a partir de agora, e em definitivo, a minha serventia. “A serventia dos meus textos”, como diz o poeta. Também eu quero, enfim, tornar-me naquilo que sempre fui: um escritor de fronteira, atento à fúria dos elementos e atento à fúria dos homens.
E, pelo meio, talvez os meus livros venham a ser capazes de sugerir que, no fundo, nunca se regressa verdadeiramente a casa. Que, na verdade, a infância é irrepetível – e que, muito provavelmente, a maior tragédia de todas é mesmo essa.
Talvez eles possam, enfim, continuar a ser literatura. Ou mesmo serem-no finalmente.
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“Estamos demasiado portugueses. Temos de tornar-nos novamente um pouco mais açorianos e um pouco menos portugueses.” Digo-o a meio de um raciocínio mais ou menos tortuoso sobre literatura açoriana, feito em resposta a uma pergunta da audiência. Não me soa tão mal quanto isso, e o incómodo com que alguns dos presentes reagem agrada-me. A dirimir.
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Muito me agradaria se me convidassem todos os anos, para este ou para outro festival. Um festival literário a cada doze meses seria uma boa maneira de, face às fronteiras da ilha, me reposicionar perante a coisa literária, o seu universo, a sua magia. O vereador que preside à cerimónia de encerramento elogia-me a intervenção e convida-me a voltar em 2014. Talvez tenham sido palavras de circunstância. Mas fico satisfeito.
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É, para além de um milagre e um exemplo de organização, o certame. Esta tarde vinha caminhando na rua com o Marmelo e logo apareceu um carro oficial, com um diligente motorista oferecendo-nos transporte para alguma parte. Inspirador.
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Na última noite de copos, volta a cantar-se o “Grândola”, meio a brincar e meio a sério. Alguns dos mais zangados olham para mim, a conferir se tenho coragem. Já algum tempo que sou o conservador de serviço, e não se pode dizer que a ideia me desagrade. Mas canto com eles, naturalmente. Sou um democrata e não apenas respeito, como admiro (mais do que admirar: venero) o 25 de Abril. Exactamente como eles. E que possam questionar-se sobre isso é outro sinal da esquizofrenia em que neste momento vivemos.
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De resto, até para isso este festival serviu: para confirmar a hipótese de os intelectuais não estarem a desempenhar devidamente o seu papel nesta crise. Identifica-se o problema, mas não se propõe alternativa – e, pelo meio, tudo se resume a um maniqueísmo ritualista muito mais próximo (de novo) do comportamento de uma claque de futebol, ou do dos adolescentes carregados de hormonas em dia de aula de Educação Física, do que do pensamento. É normal um intelectual comportar-se como um soldado, num certo instante ou durante um determinado período de tempo. Mas, se todos os intelectuais se comportam como soldados ao longo de um mesmo período de tempo, a quem poderemos recorrer como intelectuais?
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Mas não, este não é um tempo especialmente auspicioso para um moderado. De facto, não é.
Póvoa de Varzim, 22 de Fevereiro de 2013
Não consigo ir a todas as sessões do festival. Sou o único, aparentemente, que tem de trabalhar durante estes dias. Mas não tanto como de costume.
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O Chico manda-me fotografias dos trabalhos do jardim. Telefono-lhe a agradecer. Mas, antes, ensaio. A nossa relação tornou-se, em parte, um jogo de adjectivos. Gosta de elogios e eu gosto de dar-lhos. Merece-os. Mas nenhum chega verdadeiramente. Impõe-se uma gradação: adjectivos, superlativos – e depois superlativos de superlativos. Podia ser um bom treino lexical. Está a tornar-se numa comédia.
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Canta-se “Grândola, Vila Morena”, no Grande Auditório, por imposição do Zink. Está completamente vulgarizada, a canção. Esta manhã, segundo leio nos jornais, até num treino de uma equipa de futebol (o Paços de Ferreira) se cantou. O capitão de equipa comentou-o assim: “O que é importante é apoiar a equipa.” Não tarda, há-de cantar-se em ladies nights, encontros de motards e programas da chamada day-time TV. Assim se protesta em Portugal: num desatino. Também isso é mau sinal.
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Está preparado o texto. Parece-me inflamado e adolescente, agora que o leio às seis da manhã, totalmente bêbedo, a quatro horas e meia da principal sessão em que participo e sem ter dormido ainda um minuto. Mas, agora, é o que há. E, nestas condições, já se tornou um descanso efectivamente tê-lo escrito. De improviso, seria um desastre.
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Não sei quando volto a este festival. Não sei quando volto a este grupo. É melhor aproveitar cada instante. Portanto, de qualquer modo não poderia ter-me privado da noite de copos.
Póvoa de Varzim, 21 de Fevereiro de 2013
“A perder é que também não fico”, diz-me o taxista, cobrando-me ostensivamente os cinco cêntimos da corrida de cinco euros e cinco. Di-lo como se ajustasse contas comigo – como se eu o tivesse afrontado, ou sequer insinuado que me poupasse a eles. Os Açores podem até estar mais deprimidos. Mas estão muito menos zangados do que Lisboa.
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De comboio para a Póvoa. Duas sessões a preparar: uma numa escola e outra no auditório, perante trezentas pessoas e quase todo o politburo da edição nacional. Tive sorte: ambas ocorrem na recta final do festival, deixando-me tempo para fazê-lo.
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As pessoas falam muito (e muito alto) no comboio, inclusive logo às oito da manhã. Atrás de mim, dois pequenos executivos discutem projectos profissionais e empreendedorismos a solo. Tudo neles é autolegitimação, e a linguagem dita “corporate” brota em catadupa. É um mundo que, à vez, me diverte e aborrece. Isto em regra. Neste momento em concreto, comove-me apenas: tudo neles é recessão económica também. E medo.
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Como leitor, sinto-me nesta altura estranhamente longe da ficção. Muito longe – e cada vez mais. Um livro de memórias, um diário, uma autobiografia: eis tudo quanto consegue deter-me com um livro aberto. Quero acreditar que não se trata de um prelúdio para igual desconcerto enquanto autor. De contrário, teria mesmo, provavelmente, de fazer considerações retroactivas. Vade retro.
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Jonathan Franzen tem tudo bem vívido na memória: os nomes da infância, os dias, até as tiras da banda desenhada. Eu, nem dos rostos me lembro, às vezes. Mas talvez seja cansaço.
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Encontro pessoalmente, enfim, a Nicole, a minha agente internacional. Para já, o que me proporcionara fora sobretudo isso: dizer, nomeadamente a mim próprio, que tenho uma agente internacional. Agora, descubro isso: que é encantadora, atenta, bonita, profissionalíssima. Mas fico desconfiado de que não gostou especialmente do meu regresso aos Açores. Nem da determinação em escrever agora principalmente sobre as ilhas. Contou-me que, quando apresentou “Os Sítios Sem Resposta” a um produtor de cinema alemão, durante o festival de Berlim, ele lhe perguntou se ela achava que a história poderia situar-se em Hamburgo. Eu disse-lhe que sim. Mas temo que não fosse essa a sua dúvida. Que, aliás, nem fosse dúvida: fosse frustração.
Lisboa, 20 de Fevereiro de 2013
Despedimo-nos das azáleas, agora exuberantes. As magnólias, essas, já estão em folha. Revejo-me nelas: também eu, às vezes, dou primeiro a flor e só depois a folha.
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Às vezes parece-me que nunca saí verdadeiramente daqui.
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O que mais me constrange, bem vistas as coisas, não é as pessoas falarem mal inglês ou francês. Não é o sotaque, nem sequer a sintaxe, o seu problema. É não terem nada para dizer. Só isso torna patético o seu voluntarismo.
February 19, 2013
Terra Chã, 19 de Fevereiro de 2013
No fundo, nem como crise este tempo se recomenda. Não nascem correntes artísticas, não surgem revoluções de costumes, não aparecem sequer oportunidades mais ou menos claras para um honesto oportunista ganhar umas patacas. A isto se resumem estes tristonhos anos: sobreviver é o limite das nossas expectativas. Poucas vezes, nestes novecentos anos, terá sido de tal sorte.
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De partida, amanhã de manhã, para o festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim. Textos para acabar, burocracias para deixar destinadas, o calvário da mala para vencer. Vou jogar golfe.
February 18, 2013
Terra Chã, 18 de Fevereiro de 2013
Restos da conversa de sexta-feira à noite, ao longo do jantar em casa dos Pereiras (que milagre, os Pereiras). Desenvolver certezas políticas como reacção ao aumento dos impostos, ou à suspensão dos subsídios, ou mesmo a desacertos provocados por medidas macroeconómicas testadas em desespero no meio do caos é coisa de soldado, não de intelectual. Não há problema nenhum em ser-se soldado. Os soldados são essenciais. Os soldados têm de ser ouvidos, considerados, debatidos. Os soldados apreendem às vezes melhor a realidade dos que os intelectuais. Mas é preciso que os soldados continuem soldados. Deixar que sejam os soldados a fazer o retrato de que a historiografia deste tempo um dia se alimentará é um dos erros mais graves e comuns da modernidade. Deixar que os soldados se considerem intelectuais é um perigo – e considerar os soldados intelectuais, meio caminho para a perdição.
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Plantamos esta tarde um limoeiro e uma clementineira. Os citrinos são uma as poucas justificações plausíveis para a existência do Inverno. Temos de começar a preparar os próximos.
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O romance está uma merda. Não tenho a mínima ideia do que estou a fazer.
February 17, 2013
Terra Chã, 17 de Fevereiro de 2013
Diz o Luís Miguel que a folia em torno das condecorações da República Portuguesa chegou a um tal ponto que se torna às vezes mais honroso não ter nenhuma. Mas é apenas uma frase de efeito. Na verdade, a condecoração a Carlos César inquieta-me porque demonstra que Lisboa ignora por completo os efeitos devastadores que o trágico modelo de governação em curso tem sobre as vidas dos açorianos e o futuro dos Açores. A ausência do país nesta equação é um perigo. E, quando o dr. Cavaco se aperceber finalmente da gravidade deste agraciamento já será tarde de mais.
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“A Câmara Municipal de Lisboa avisa que, para melhorar a qualidade de vida dos lisboetas, a EMEL vai reforçar a fiscalização na cidade.” Ouvi-o há pouco, na TSF, e desatei a rir-me. Se calhar o melhor, desta vez, é irmos armados.
Terra Chã, 16 de Fevereiro de 2013
Manifestação no centro da cidade. Contra quem? Contra o Governo da República, naturalmente. Nos Açores de hoje, é assim: as coisas más vêm da República, as boas da Região. Em 64 bailhinhos de Carnaval, como notou há pouco o F., nem um só criticou o Governo Regional. Resta saber se podia, para mais tratando-se da Terceira…
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Vamos para Lisboa na quarta-feira, mas deixamos obras de ordenamento a fazer no quintal, nomeadamente em torno da nova horta. Até um croquis aproximado ao centímetro elaborei desta vez, como se de um projecto de arquitectura paisagista se tratasse. Se calhar tive demasiado tempo livre ao longo do dia de ontem. Mas os coelhos estão circunscritos, o vento dominado e o espaço reduzido ao verdadeiramente necessário. Agora, sim, é para valer. Eu que veja um caracol que seja do lado de dentro destes muros.
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Sábado glorioso, às voltas pela ilha. Não me canso de dizê-lo: esta terra, em estando sol, não tem comparação com mais nada.


