Izzy Nobre's Blog, page 25
June 12, 2015
[ Diário de um (quase) paramédico ] Resgate na floresta!
No capítulo anterior, falei sobre minha chegada na base de emergência de Mayerthorpe. Hoje, a aventura foi resgatar um maluco que captou num daqueles quadricículos motorizados e se arregaçou no meio de uma floresta!
Eu não sei qual é o limite do tempo de resposta do ser humano a um estímulo. Quando tocamos uma superfície quente, o braço retrai quase que imediatamente. Corredores olímpicos partem em disparada centésimos de segundos após ouvir o disparo daquela pistolinha lá que eu acho que nem serve pra matar ninguém. E após aquela fisgada inconfundível da caganeira, a que deixa claro que a cagada nas calças é iminente e incontestável, o senso de auto-preservação só não propele o infeliz em direção ao banheiro mais próximo na velocidade da luz porque a relatividade geral não permite.
Mas nenhum desses reflexos se compara à velocidade que um paramédico sai correndo em direção à amulância após ouvir os “tons”.
Deve existir um termo técnico mais oficial pra eles, mas a galera aqui chama de “tons”.
É o seguinte. O rádio do nosso chefe é hiperativo — ele recebe os alertas que todas as unidades aqui da região, pra que a gente fique atento no que está acontecendo ao nosso redor. Esses não são pra nossa localidade e por isso tocam apenas no rádio dele e de ninguém mais.
Já os tais tons, que indicam que alguém se fodeu dentro do nosso raio de atividade e que estamos sendo invocados para a situação, fazem TODOS os rádios e telefones da estação tocarem. Ao mesmo tempo. É uma barulheira do demônio.
No começo eu não conseguia distinguir a diferença; o rádio do supervisor tocava com um alerta pra uma cidade fora da nossa cobertura e os broders continuavam jogando Settlers of Catan ou assistindo Netflix enquanto eu saia correndo subindo as calças desengonçadamente, com o estetoscópio na boca e abotoando a camisa toda errada. “Porra, mas que paramédicos mais preguiçosos“, eu pensava; “nem levantaram da cadeira!”
Demorou um tempo pra entender que meu sentido de resposta deveria ser guardado para aqueles momentos em que todos os alarmes da base soam simultaneamente. Os tais “tons”.
E rapaz, os caras EVAPORAM quando isso acontece. Sabe aquelas cenas de desenho animado em que o cara levanta da cadeira tão rápido que ela fica girando por alguns instantes? Então, isso acontece DE VERDADE. Os manos explodem das cadeiras/poltronas/privadas, correm para os quartos, e emergem SEGUNDOS depois totalmente vestidos , com cabelo arrumadinho e tudo, e pronto pra CHUTAR BUNDAS (ou, mais realisticamente, tratar de bundas que foram chutadas).
O fato de que todos eles tem 1.80m e plena forma física os faz parecer ainda mais super-heróicos. Cês tão ligados que até CINTO DE UTILIDADES a gente tem, né.

Andamos por aí uniformizados de preto dentro de um veículo especial cheio de gadgets e esse cinto aí — o que estou tentando dizer é que somos o Batman.
Pois bem. Num desses dias estávamos aqui na base de papo pro ar — uns 50% do tempo no ramo da emergência é esperar que alguém se foda — quando os tais tons soaram. Um dos broders aqui, chamemos-no de T, desceu VOANDO às escadas da estação em direção do MDT, ou Mobile Data Terminal.
O MDT é um daqueles laptops Toughbook, que aguentam até sua mãe pisar em cima, conectado à nossa central.
No MDT, informações em tempo real sobre a emergência vão pintando na tela — localização da emergência, detalhes sobre o paciente, sobre a região, alertas caso haja histórico de violência naquela residência (para que solicitemos presença da polícia)… na minha analogia com o Batman, a central é como se fosse a Oráculo ou o Alfred usando o Bat-computador, dependendo de quem está escrevendo o quadrinho.
O T volta voando. A essa altura já está todo mundo pronto pra ação, calçando as botas e fechando os cintos ao redor da cintura.
“Capotamento de quadricículo. No meio da floresta. Só um” ele fala, resumidamente. “Só um” é comumente abreviação de “só um paciente”.
Uma hesitação de dois segundos enquanto aguardamos o comando do líder. “Você, você e você”, ele diz, apontando para nós, indicando quem vai responder ao chamado. Aquele último “você” era eu. Descemos correndo para a ambulância.
Mais ou menos uns 20 minutos de estradinha rural depois, chegamos na beirada de uma floresta espessa. O resto do caminho é “off road”; alguns trechos iniciais da região talvez seriam acessíveis por um veículo 4×4, mas totalmente sem condição de transitar com a ambulância. C olha pro MDT e confirma meu medo — o paciente está a mais ou menos 4 quilômetros de distância dentro da floresta.
Teremos que ir até lá a pé.
E carregando um monte de tralha.
E correndo.
Num terreno completamente impropício pra correr.

Imagina sair correndo no meio disso — sem conseguir ver direito buracos, galhos caídos, declínios no chão, trechos enlameados — e carregando equipamentos médicos ainda por cima.
“Ok, Stewie” o T fala pra mim da assento do motorista, desligando o motor da ambulância e apontando pro porta-luvas (seu meio de dizer ao C, o outro instrutor, pra pegar a caixa com as luvas cirúrgicas) “Como vai ser o esquema?”
No exercício de resgatar pessoas com um estudante, o protocolo é deixar o estudante tomar as decisões em relação à ação. Os instrutores dão bastante autonomia ao aprendiz; se ele tomar uma decisão que seja um pequeno deslize que não cause grande impacto no tratamento do paciente, tal qual documentaristas do Discovery Channel os instrutores deixam a natureza tomar seu curso normal (e depois te passam esporro pelas decisões erradas).
Assim, o estudante aprende com o próprio erro. Obviamente, se eu sugiro algo muito flagrantemente errado, ou mostro muita hesitação numa situação crítica, os instrutores tomam as rédeas do resgate e eu fico no banco de reserva observando a atuação deles (e tomo esporro depois também).
O instrutor esperava minha decisão. Senti a adrenalina invadindo minhas artérias. Revisei meu conhecimento rapidamente.
“Ok” eu comecei, colocando as luvas. As que tínhamos na nossa ambulância eram azuis; desde que vim um paramédico de empresa competidora usando luvas pretas, passei a desgostar das nossas azuis.
“Lifepak, kit de trauma, sager splint caso esse maluco tenha explodido o fêmur, scoop stretcher. Sinais vitais a cada 15 minutos. Blood sugar logo de cara pra garantir que ele não teve um piripaque diabético ou algo assim que tenha causado a queda, ECG pra garantir que não foi nada cardíaco. Eu sei que provavelmente não é o caso baseado no que ouvimos da central em relação à ligação do cara quando ele ligou pro 911, mas não custa nada averigurar.” Até aqui, minha voz saiu mais confiante do que eu esperava, sem “hmm” ou “ahhh”.
O T continuou olhando pra mim com uma cara que inconfundivelmente dizia “…e?”. Ele estendeu na minha direção a caixa de luvas, ao que eu rejeitei tirando as minhas próprias do bolso. Peguei o hábito de sempre enfiar um monte de luvas nos bolso das calças, pra estar pronto a qualquer momento.
Continuei.
“Quero uma intravenosa iniciada assim que cheguemos lá, calibre 18, e…” pensa, pensa pensa… puta que pariu, eu SEI que estou esquecendo de alguma coisa. Puta merda, gaguejar numa hora dessas é a pior coisa. Me ajude, Nossa Senhora!
Veio o estalo.
“…vamos precisar de apoio aéreo pra tirar esse maluco daqui…?” saiu em tom de pergunta. C (este era o outro instrutor) levantou um dedo polegar. Reafirmei com mais confiança, balançando a cabeça positivamente “vamos precisar de apoio aéreo pra tirar esse maluco daqui. T, acione o STARS. C, cheque o volume do entonox. E… É isso”. Percebi que estava praticamente prendendo o fôlego esse tempo inteiro. Respirei fundo, mas tentando não deixar claro que estava precisando respirar fundo. Já tentou fazer isso? É desesperador.
Os instrutores se entreolharam. Se eu errei alguma coisa, não pareceu. T e C ambos trocaram leves meneios positivos com a cabeça. “É isso aí mesmo”, confirmou o C. “Let’s go save this son of a bitch“, T falou sorrindo e ajustando sua luva na mão igual a Janine Lindemulder na capa do Enema of the State.

Uma coisa que você perde RÁPIDO trabalhando com healthcare é qualquer tipo de fetiche por enfermeira, aliás. Preciso escrever um post sobre isso.
Salvamos da ambulância, eu carregando o imenso Lifepak, e os meus instrutores trazendo as outras tralhas.
A propósito, o Lifepak é uma maquina multi-uso capaz de tirar pressão sanguínea, eletrocardiografia, nível de oxigenação, pode defibrilar o paciente, mede pressão parcial de CO2, faz café, o caralho todo. A versão que usávamos na nossa ambulância era o Lifepak 15, que eu só posso supor que recebeu esse nome porque pesa 15 toneladas.

Essa imagem não faz juz à parada. Parece que foi feito de CHUMBO.
Lembra quando falei que os outros malucos lá tudo medem 1,80m, têm bíceps do tamanho da minha cabeça e participam de maratonas só pela sacanagem da coisa? Então. T e C dispararam na trilha que levava à floresta, enquanto eu corria desengonçadamente com a porra do Lifepak balançando pra todo lado, pisando em lama, subindo trechos íngremes na trilha e o caralho.
Em questão de segundos os caras já estavam a uns 400 metros de distância de mim, e eu pensando em discretamente pôr os defibriladores do Lifepak em mim mesmo caso meu coração desistisse daquela porra toda.
Depois de uns 10 minutos correndo pela floresta, ouvi um barulho de motor atrás de mim. Era uma picape da RCMP — A Polícia Montada Canadense, nosso equivalente do FBI/Polícia Federal. O que diabos eles estavam fazendo aqui?
…É o que você vai descobrir na segunda parte desse post, que chega na semana que vem.

June 9, 2015
O Uwe Boll, diretor alemão que arruinou tantos filmes de games, enlouqueceu de vez

Ele tá parecendo um primo mais velho e fracassado do Matt Damon nessa foto.
Se você se interessa por games at all deve saber que os filmes baseados nos joguinhos tem a infâmia de serem excepcionalmente péssimos. E embora o sujeito acima não seja o único culpado por isso, seu horrível trabalho se destaca num mar de mediocridade. Imagina que numa corrida de pessoas com uma perna e mal de Parkinson, tu consegue a proeza de chegar em último. Assim você compreenderá o quanto este sujeito falha no que é supostamente uma atividade que ele exerce em capacidade profissional.
Este é Uwe Boll (se pronuncia mais ou menos como “Uva Bôl”, aliás), um diretor alemão que na última década se “especializou”, por assim dizer, em fazer filmes baseados em franquias de videogames. E por “fazer” o que eu quero dizer realmente é “estragar”.
Ok, a gente sabe que o material fonte dos games não costuma render adaptações dignas de Oscar, mas se liga nos filmes dele que receberam melhores notas no Rotten Tomatoes:

Eu consigo dizer com surpreendente nível de confiança que ATÉ EU conseguia dirigir algo melhor que os filmes do cara
Os filmes dele são de relativo baixo orçamento, e ainda assim eles conseguem ser fracassos retumbantes de arrecadação. Bloodrayne, por exemplo (a gente realmente precisava de um filme de Bloodrayne? Puta que pariu, não rende nem um 2-Pack no 99Vidas essa merda…) rendeu menos de 4 milhões de dólares tendo custado 25 milhões pra filmar.
Pior ainda foi o , que inexplicavelmente tem o Jason Statham no elenco. Ou o ator fechou o ano fiscal no vermelho, precisava balancear o orçamento urgente e assinou contrato pra aparecer no filme sem nem ler, ou Uwe Boll descobriu algum segredo sórdido do ator e pressionou-o a aparecer nessa bosta. O filme custou 60 milhões e lucrou… 10 milhões. Só não conseguiu ser pior que o trashcônico (o portmanteau de trash com icônico que inventei agora) Zyzzyx Road, que custou 1.2 milhão pra filmar e rendeu 30. Não 30 mil, 30 dólares mesmo.
Você talvez se pergunte por que infernos alguém continua dando dinheiro para este mentecapto. Acontece que Boll se beneficia de uma Lei do Áudiovisual alemã que devolve ao cineasta quase 50% do valor investido num filme. Não basta fazer filmes bosta, tem que fazer com que os outros paguem por eles também.
Uwe Boll é celebrado (ao contrário) na internet como um mestre da tosqueira há muitos anos; acompanho suas peripécias desde os idos de 2006. Na época, enquanto filmava Postal, o cara convidou vários de seus críticos (cinco blogueiros peso bolha de sabão) para uma luta de boxe.
De acordo com Lowtax (o criador do Something Awful e um dos “competidores”), o acordo é que a luta seria “de mentirinha, só pra promover o filme mesmo”. Chegando lá o cara foi sovado violentamente:
O que não era bem compreendido na época é que o diretor lutou boxe semi-profissionalmente por vários anos, e existiam até teorias de que ele era meio lelé da cuca justamente por tomar tanta porrada na cara porque sinceramente ele deve lutar tão bem quanto dirige filmes. Existe até um nome pra isso: demência pugilística.
A propósito, um dos críticos que entrariam no ring com o Boll era o Seanbaby. O problema é que o Seanbaby revelou que pratica Brazilian Jiu Jitsu a anos, e que estava super afim de moer a cara do diretor — que então cancelou sua participação na parada.
Esse vídeo foi transmitido ao vivo, aliás — foi talvez o primeiro streaming de internet que eu assisti. O Lowtax saiu totalmente humilhado, e deu uma entrevista bem vergonha alheia depois da luta. Como falei, não acho que o Uwe Boll seja capaz de ser competente em nada, ele só se deu bem nas lutas porque os adversários eram blogueiros franzinos cuja maior atividade física é se masturbar com a mão esquerda pra dar um barato mais louco.
Um dos caras levou tantos headshots que saiu do evento vomitando no meio da rua e tudo.

TENSO
POIS BEM. O que o Uwe Boll aprontou agora?
É o seguinte. Para financiar seu filme Rampage 3 — No Mercy, o polêmico diretor foi ao crowdfunding. Só que, ao contrário do governo alemão, a internet não estava afim de dar seu suado dinheiro a este idiota, e então a campanha (previsivelmente) falhou com notável nível de miserabilidade.
O diretor então resolveu aproveitar a oportunidade para fazer um momento de auto-críticHAHAHAHA porra nenhuma, ele filmou um chilique e pôs no YouTube:
O sotaque alemão dele a la Klaus do American Dad é a cereja no topo dessa merda. O cara basicamente mandou os fãs se foderem por iludirem-no com a idéia de que financiariam seu novo filme. E deu adeus a Hollywood.
Ele postou um segundo vídeo, mais longo, e mais revoltado com toda a indústria cinematográfica. No final ele insinua ainda, bolivaristicamente, que deveríamos “matar os ricos”.
Vai tarde, Uwe Boll.

June 5, 2015
O que a bíblia fala sobre gays? (ou: Malafaia está errado, e aqui está a prova)
Como já cansei de falar aqui no site, eu fui cristão evangélico por boa parte da minha vida — desde a infância até aproximadamente os 16 ou 17 anos. Nesse período, me congreguei na Assembléia de Deus Betesda, o que renderá eternamente piadinhas sobre o game Fallout. Caso você não saiba, o nome “Betesda” vem de histórias bíblicas featuring Jesus curando pessoas e sendo de forma geral um cara gente boa.
Eu lia bastante a bíblia, como é comum a ex-cristãos — como diz o ilusionista Penn Jilette em seu livro God, No!, “ler a bíblia é o atalho para o ateísmo“. Além de lê-la (constantemente) em casa, eu a lia nos três cultos semanais dos quais eu participava, e lia nas escolas religiosas que faziam a leitura das Escrituras parte do currículo educacional.
Após toda essa exposição à fé cristã, e tendo uma natureza de curiosidade e dificuldade de aceitar regras, algumas coisas começaram a não fazer mais tanto sentido. E lá pela adolescência eu comecei a questionar abertamente a narrativa bíblica e o conceitos da fé cristã.
Foi um período muito assustador. Imagine passar a vida inteira sendo “moldado” de acordo com uma certa interpretação do mundo — existe um Deus, existe um diabo, Deus tem um filho, esta aqui é a mensagem divina d’Ele(s), e você precisa segui-la para se salvar –, e subitamente não crer mais em nada naquilo.
Meus pais, irmãos, amigos, namoradas, professores, pastores, todo o meu círculo social e as minhas figuras de autoridade me diziam algo… que me parecia estar errado. Eu lembro que a súbita realização de que a minha religião era tão fantasiosa como qualquer outra das milhares que existem no mundo foi traumática. Num piscar de olhos, fui de “privilegiado por entender a real mensagem divina à humanidade” pra “seguidor de apenas mais uma religião falsa, como todos os outros que eu até hoje julguei estarem errados”.
Eu passei a orar mais fervorosamente, a ler a bíblia com mais afinco, sofrendo de um medo visceral de que a Salvação estava escapando dos meus dedinhos. Tive pesadelos recorrentes em que minha família inteira ia ao céu e eu, pro inferno. Tinha medo de admitir que nada mais daquilo que eu via e ouvia na igreja me convencia.
Dou essa introdução pra que você, amigo cristão, consiga controlar o ímpeto de correr aos comentários do site berrando “ahhh mas você não leu a bíblia! Não entende a tradição cristã! Não sabe do que está falando!!!!” e de fato leia e absorva os argumentos que farei aqui.
O pastor Malafaia é um dos proeminentes líderes religiosos brasileiros que adotou como missão de vida uma cruzada quixotesca contra os gays pelo aparente motivo de acreditar que homossexualidade, tal qual gripe ou um Fiat Uno movido a álcool, é algo que se passa pros outros.
É sabido por qualquer praticante da religião cristã (por mais que sequer leia a bíblia; ou talvez, por isso mesmo) que homossexualidade “é pecado”. Eu quero analisar aqui com você o que exatamente a bíblia fala sobre sobre esse comportamento sexual.
Existem inúmeros… quatro versículos bíblicos que condenam diretamente a homossexualidade. Entre 31 mil versículos, apenas quatro sobre gays — sendo que um deles gera inacabável debate teológico por causa de um possível erro de tradução.
Você imaginaria que, baseado no furor com o qual o Malafaia prega esse ponto às suas centenas de milhares de seguidores, o título oficial da bíblia seria algo como “Os Gays Que Se Fodam Para Sempre: A Vida e Obra de Jesus Cristo”. Entretanto, a bíblia é curiosamente omissa nesse assunto. Existem mais versículos bíblicos sobre como você deve cortar o cabelo, e no entanto não vi Malafaia organizando uma marcha pelo corte de cabelo tradicional brasileiro.
Mas continuemos. Dois das quatro referências bíblicas sobre homossexualidade vem do Levítico, um livro que é basicamente uma imensa lista de coisas que você não pode fazer porque afinal de contas religião é divertida assim.
“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é“, diz Levítico 18:22. Mais tarde, em Levítivo 20:13, você lê que “Quando também um homem se deitar com outro homem, como com mulher, ambos fizeram abominação; certamente morrerão“.
Mesmo que ignoremos a interpretação protestante mainstream de que a lei mosaica foi cumprida no sacrifício de Jesus e já prescreveu (que torna obrigações do Velho Testamento irrelevantes). O que é preciso atentar é que é difícil seguir o Velho Testamento à risca porque esse livro proíbe quase TUDO.
A seguir, uma breve lista de coisas que o Velho Testamente condena. Repare a maioria dessa lista é punível com morte:
Não sangrar na primeira relação sexual — sim, até coisas totalmente fora do seu controle a bíblia tenta regular (Deuteronômio 22:20 e 21)
Estuprar uma noiva virgem — o que me obriga a interpretar que as não-noivas e não-virgens é liberado (Deuteronômio 22:25)
Transar com uma mulher menstruada — aí tou de boa “à cabidela” não é meu estilo (Levítico 20:18)
Adultério (Levítico 20:10)
Ingerir qualquer comida com sangue — sim, isso inclui até mesmo um bife mal passado (Genesis 9:4 E Levítico 17:10. Pelo jeito um frango ao molho pardo é ESPECIALMENTE pecaminoso)
Comer gordura — estou fodido (Levítico 3:17)
Comer qualquer coisa que misture carne e laticínios — digamos, um xisburger. Estou fodido mesmo (Êxodo 23:19)
Comer porco — porra, mas eu não posso comer nada mesmo?! (Levítico 11:7 e 8)
Não ser circuncidado (Gênesis 17:14)
Matar um escravo — repare que não é TER um escravo que é o pecado (Êxodo 21:26)
Plantar sementes de plantas diferentes no mesmo campo (Levítico 19:19)
Usar roupas com tecidos mistos — digamos, uma calça jeans com um cinto de couro (Levítico 19:19 de novo)
Eu te pergunto — alguém em sã consciência poderia defender essas práticas, ou pior ainda, advogar que elas sejam punidas com a morte como a bíblia manda? Em nome da coerência, Malafaia deveria estar fazendo campanhas para ilegalizar o divórcio, também — a bíblia deixa irrefutavelmente claro que Deus odeia divórcios.
Seja pelo dogma de que sacrifício de Jesus na cruz revogou a lei mosaica, ou pelo claro disparate que seria empregar hoje instruções de cunho social de 5 milênios atrás, aceita-se que a maioria (senão TODAS) as instruções acima não valem para nós.
Mas Malafaia e sua laia se apega teimosamente a UMA dessas instruções — curiosamente, aquela que permite negar dignidade básica aos outros, sem por um segundo se preocupar em ainda ter um prepúcio ou usar uma camisa de algodão com uma gravata de seda no culto de domingo.
É impossível tentar pôr em prática os mandamentos do Velho Testamento sem ser também um infrator.
Alguns tentam, claro — como esse rapaz que comentou hoje no meu Instagram.

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Mas ok, você é dos evangélico que ignora de boa todos os mandamentos do Velho Testamento, porque o sacrifício de Jesus os invalidou. Caso você queira se ater ao Novo Testamento, existem duas passagens bíblias que lidam com homossexualidade — ambas escritas pelo mesmo cara: Paulo.
Em Romanos 1:27, Paulo diz que “…semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro.” É um alerta gravíssimo; é uma pena que Jesus tenha esquecido de nos avisar sobre isso em sua passagem pela terra.
E em I Coríntios 6:10, Paulo reafirma que “(…)nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.“
Vamos ignorar rapidamente que existe um debate teológico/semântico sobre essa última, já que o termo grego que foi traduzido como “efeminado” (malakoi) também significava “mulherengo” ou, em outras traduções, “fraqueza“, e não claramente “homossexualidade”.
A questão real aqui é: devemos seguir as instruções de Paulo sobre comportamento sexual? Entre todos os autores do Novo Testamento, Por que Paulo — e APENAS PAULO — parecia se preocupar com isso…?
Uma coisa que cristãos homofóbicos raramente atentam — porque essa turma dificilmente LÊ a bíblia; é mais fácil ouvir o resumão do pastor no domingo — é que Paulo, muito transparentemente, era contra qualquer tipo de sexo. Mesmo entre homens e mulheres.
Na mesma epístola aos Coríntios (aliás, no capítulo seguinte!), Paulo diz o seguinte:
“É bom para um homem não ter relações sexuais com uma mulher.”
No versículo 27 do mesmo capítulo, vem uma outra instrução clara e inequívoca:
“Estás livre de mulher? não busques mulher.”
Mas ein?! Agora até sexo hétero não pode? Se você continua lendo o capítulo, o motivo se torna aparente: Paulo considerava atração sentimental uma distração nociva da Palavra de Deus. Na cabeça de Paulo, uma pessoa que se entregue à atração esquece de Deus. A missão do indivíduo deveria ser, primariamente, buscar a Deus e nada mais.
Acompanhe os versículos 32 e 33:
“E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.“
Não é nem uma questão de que não se deve transar antes do casamento, como frequentemente se interpreta o primeiro capítulo dessa epístola. Paulo deixa claro no versículo 7 que seria preferível que todos fossem castos, como ele era. O ideal, de acordo com o apóstolo, seria não trepar e PRONTO.
Para Paulo, sexo era imorável, reprovável, um empecilho. Qualquer sexo.
O que faz sentido se você considerar o contexto — Paulo, um fariseu seguidor de filosofias estóicas, naturalmente sincretizou suas práticas de auto-renúncia emocional à sua nova fé cristã. Cristo nunca sugeriu que solteirice e celibato tornariam alguém mais próximo de Deus — seria estranho que seu primeiro milagre fosse justamente num casamento se ele condenasse a união matrimonial como Paulo claramente condenava.
Acontece que Jesus, infelizmente, não deixou absolutamente nada escrito em sua breve passagem pela Terra. Paulo, por outro lado, escreveu metade do Novo Testamento. E assim, a visão dele se estabeleceu como norma. O fato de que Jesus Cristo em pessoa nunca mencionou nada disso se torna detalhe.
E agora eu te pergunto, amigo cristão. Que moral você tem, em pleno 2015, de usar as cartinhas escritas por um judeu sexualmente neurótico do século I como indicador de integridade…?
Não que eu culpe todos os cristãos, naturalmente. O Pastor Ricardo Gondim, que por muitos anos liderou a Betesda e é amigo da minha família, se destaca entre os líderes evangélicos por não condenar os gays. Infelizmente, a histeria esganiçada dos Malafaias e Felicianos se amplificam, enquanto a ternura e compaixão dos Ricardos Gondins são abafadas.
Ah, e pra finalizar. Sabe aquele livro de Coríntios que o Malafaia usa pra justificar seu ódio por gays…? Na MESMA carta aos Coríntios, Paulo teve o seguinte a dizer sobre mulheres falando perante uma igreja:
“As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei.
E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é vergonhoso que as mulheres falem na igreja.”
Entretanto, eu conheço uma mulher que está desrespeitando este ensinamento bíblico. Ela se chama Elizete Malafaia, a esposa de Silas Malafaia:
Cadê então a Marcha Por Mulheres Caladas na Igreja, pastor Malafaia?

June 4, 2015
[ Highlight da Semana ] Mickey BUGADO!
Lá estava eu na paz do Senhor, acompanhado pelos meus 250 melhores amigos no Twitch, jogando uma excelente partida de Mikī no Majikaru Adobenchā 3 para o SNES. Este é senão o terceiro capítulo da saga Disney’s Magical Quest (uma de minhas séries favoritas no console), que curiosamente não saiu no ocidente. Quer dizer, saiu anos depois, e pro Game Boy Advance, como “Disney’s Magical Quest 3 Starring Mickey & Donald”.
Pois bem. Enquanto eu jogava o game e respondia perguntas no chat do stream, algo realmente mágico aconteceu.
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Ao apertar o X na frente daquela casinha, os códigos da Matrix foram instantaneamente quebrados e meu boneco passou a voar livremente pelo cenário, como um Keanu Reeves vestido numa armadura medieval cartunesca, para o deleite meu e da galera que assistia a live.
Este foi o bug mais maluco que encontrei em mais de vinte anos jogando videogame.
O bug mais ÚTIL, por outro lado, foi uma vez jogando Tony Hawk’s Pro Skater 2 no PS1 do meu primo Matheus em que o bonequinho travou PERFEITAMENTE num handstand no half pipe e continuou contabilizando pontos. Deixei o bicho lá de cabeça pra baixo uns 10 minutos, rindo e comentando com meu irmão que ninguém acreditaria na gente, os pontos acumulando aos MILHÕES, até finalmente enjoar de ver o hominho de ponta cabeça e saí do half pipe.
Eu tinha que devolver o CD no dia seguinte, afinal de contas, e jogar a porra do jogo era de mais proveito que ver o contador de pontos estourando.

June 3, 2015
SOCORRO: Eu não consigo parar de irritar minha esposa
Essa moça aí na foto é minha esposa. Casamos em 2012, e vivemos felizes até então. Sermos um casal feliz é uma certa contradição, e ao longo desse texto — que é na real uma franca confissão de forma que nunca fiz antes na minha vida internética — você vai entender perfeitamente por que.
Eu não consigo parar de irritar minha esposa. Literalmente não consigo. Se minha vida dependesse de eu passar 24 horas sem irritar minha mulher, eu morreria. Rezo para que eu nunca seja pego por um serial killer estilo o Jigsaw que imponha essa bizarra condição para que eu continue vivo.
Começa já de manhã cedo. Minha mulher sofre de cócegas por qualquer coisinha (talvez é por isso que ela vive rindo); sabendo que isso a irrita mortalmente, eu propositalmente passo o dedão na sola do pé dela. Ela se contorce toda de raiva, me empurrando pro outro lado da cama, enquanto eu me mijo de rir da reação dela. É idiota, eu sei. Mas é incontrolável.
Se eu levanto primeiro e vou ao banheiro, finjo que estou usando a escova de dentes dela, para seu horror. Ela entra pra tomar banho, eu pego TODAS as toalhas e escondo no meu escritório. E na saída do banheiro, apago a luz. “Ops, foi força do hábito, rsrs“, eu respondo quando ela inevitavelmente berra no escuro. Às vezes, pra zonear a temperatura da água do banho dela, dou descarga na privada. Três segundos depois ela está berrando novamente porque a temperatura da água do chuveiro caiu uns 20 graus.

Em minha defesa, ela nasceu na neve. Tá acostumada ao frio.
Eu faço todas as mais desnecessárias piadas de tiozão do pavê num esforço de ser o menos prestativo possível para responder qualquer pergunta dela.
Por exemplo: após uma refeição, a mulher pergunta se “tem algo nos dentes“, e mostra os mordedores. Eu começo a recitar tudo que sei sobre anatomia dental:
“Ah, tem esmalte, tem dentina, tem polpa, tem um monte de coisa nesse teu dente aí”
E o Netflix? Se ela escolhe um filme qualquer (“aquele ali!”), eu faço questão de selecionar todos os filmes ao redor (“esse aqui?”), mas não o que ela escolheu. Até ela finalmente se encher e tomar o controle da minha mão.
Se ela tá me dando bronca por qualquer motivo, eu canalizo o Izzy Nobre de 12 anos — aquele que ao ser mandado pra sala da diretora, ou quando tomava bronca do pai, começava a rir histericamente. Se minha mulher está chateada porque eu não lavei os pratos, ou esqueci de ir pega-la em algum local no horário determinado, minha reação é começar imediatamente a rir (o que a deixa ainda mais revoltada).
Eu não consigo me controlar. Existe dentro de mim um estranho ímpeto que me leva a irritar minha mulher. É incontrolável; se eu deixo passar uma oportunidade de irrita-la, me sinto fisicamente mal até.
Como diabos eu resolvo isso?

May 28, 2015
Projeto Plutão, a mais insana arma nuclear jamais projetada
Hoje em dia, as mais brilhantes mentes da nossa geração estão projetando celulares, joguinhos de realidade virtual e uma cura para o torcicolo. Existiu um período na nossa história, no entanto, que os mais proeminentes cientistas estavam engajados na nobre atividade de “desenvolver os melhores métodos de soltar bombas atômicas na cabeça dos americanos/soviéticos”, dependendo da nacionalidade destes cientistas.
E um dos projetos que os caras tinham em suas pranchetas se chamava “Project Pluto”, ou “Projeto Plutão” na versão Herbet Richers.
O míssil levava esse nome porque eu imagino que o nome “Projeto Regaça Essa Porra Toda” já tinha sido usado pra alguma outra coisa.
É o seguinte. O Projeto Plutão era um veículo aéreo não-tripulado movido através de um reator nuclear, que é definitivamente a forma mais METAL de locomoção, e portando dezesseis ogivas atômicas. O troço era levado à estratosfera através de foguetes convencionais; chegando lá, ligavam remotamente o reator, e o bicho ficava circulando no ar.
Como a beleza da energia nuclear é justamente a longevidade, o míssil podia ficar lá em cima indefinidamente, por MESES, até alguma merda acontecer (digamos, os russos espirrarem muito alto pro lado de Washington).
Nisso o presidente americando pegaria um telefone vermelho igual aquele do comissário Gordon, diria “arromba esses fela da puta tudo então, foda-se!“, e algum general cheio de medalhas no peito do outro lado da linha diria em seguida “SENTA O DEDO NESSA PORRA, SARGENTO“.
Uma vez ativado, o míssil pararia de rodopiar a esmo em cima do oceano Pacífico e voaria então na direção da capital soviética. Lembra as dezesseis ogivas atômicas que eu mencionei? Então, o bicho iria soltando as bombas aqui e ali pela Rússia no meio do caminho, como um carteiro da morte, causando uma linha de destruição sem precedentes da história da humanidade.
A propósito, o nome do foguete era “SLAM”, sigla de “Supersonic Low Altitude Missile”. Acontece que “slam” em inglês também significa “dar uma porrada”, ou seja: eu vi o que vocês fizeram aí, Força Aérea Americana.
E não é só isso. Quando as ogivas se esgotassem, o SLAM ficaria girando por algumas semanas em baixa altitude em cima de Moscou; as contínuas ondas de choque provocadas pelo míssil entrando e saindo de velocidade supersônica detonando a cidade abaixo. Quando acabasse a autonomia de vôo do foguete, ele se arremessaria com tudo em algum prédio da capital soviética (aquele do Tetris, provavelmente)

Pra colocarem na capa do mais distinto game soviético, deve ser um local de extrema importância
Agora que vem a parte mais louca. A arma era tão Mortal-Kombatmente exagerada em sua destruição de vidas humanas, que a Força Aérea americana teve receio que o desenvolvimento dela causasse os soviéticos a planejar o seu próprio SLAM — com algumas daquelas letras russas loucas na sigla mas igualmente destrutivo. O projeto é “muito provocatico”, foi o que finalmente decidiram.
A parada era tão absurdamente demolidora que o governo americano decidiu não abrir aquela caixa de pandora. Isso é o mesmo governo, repare, que estava disposto a se aliar com cientistas nazistas na esperança de que aquilo ajudaria a desenvolver foguetes mais eficientes.
TENSO, mermão.

[ Pergunta do dia ] Qual a discussão mais louca que você já teve?
Por usar a internet há TANTO tempo — quase vinte anos, mano! –, eu já me meti em muita discussão maluca. Porém, acho que a mais maluca de todas, a mais frustrantemente circular, a mais ENLOUQUECEDORA, foi uma que tive com um broder do colegial.
Quando cheguei no Canadá, eu era muito velho pra fazer high school “normal”. Por isso, tive que optar por uma escola “alternativa”: aquela escola menor, com má fama, pra onde a galera que engravidou na adolescência/foi expulso do sistema educacional por envolvimento com crime ou drogas/foi reprovado repetidamente vão parar. A escola tem um nível um pouco menor, pra ajudar essa turma a pelo menos terminar, finalmente, o segundo grau.
Nessa escola, eu conheci uma garota chamada Barb. Era ela super gente boa. Esta história não é sobre a Barb.
É sobre um maluco que estudava na mesma escola, com quem eu não conversava muito, mas era próximo à Barb. Um belo dia há alguns anos, vi a Barb compartilhando no Facebook um post desse maluco cujo nome eu não lembro. No post ele se propunha a “acabar com a pobreza no Canadá”. Sim, existe pobreza aqui.
A idéia do cara era a seguinte: uma loteria obrigatória. Todo os canadenses com idade para trabalhar (acho que dá uns 10 milhões, mais ou menos) teriam 1 dólar descontado de seu salário todo mês. No mês seguinte, rolaria um sorteio entre esses caras, e um felizardo ganharia 10 milhões de dólares. Ele então seria removido da loteria, e começava novamente no mês seguinte. Através dos cálculos dele, após um número X de meses, todos os canadenses estão milionários e acabou a pobreza.
E para o meu desgosto com o sistema de educação deste país, os amiguinhos do cara estavam tudo “porra que boa idéia mano vou mandar um email pro primeiro ministro essa idéia é muito boa!“. Me senti compelido a entrar na discussão.
Expliquei pra ele que loterias já existem, e nem por isso a pobreza se resolveu porque loterias não criam riqueza, elas apenas tiram um pouquinho de cada um e dão pra um outro. E que o sistema que ele descreve funciona mais como uma pirâmide financeira; é matematicamente impossível que todos ganhem porque o sistema vai eternamente depender de “não-ganhadores” contribuindo na base pra gerar a bolada lá em cima. E ainda pensei em mencionar o argumento de que um sistema compulsório de redistribuição de renda não é, historicamente, o melhor método de combater desigualdade socioeconômica, mas deixei quieto.
O cara não queria de forma alguma dar o braço a torcer. Ele continuava argumentando que seu sistema era essencialmente perfeito, que bastava os governantes do Canadá “darem uma chance” à idéia dele. “Em questão de poucos anos todos seríamos milionários, seria o primeiro país de milionários no mundo!“, ele repetia.
Tentei explicar que se subitamente as pessoas tivessem um monte de dinheiro, isso apenas criaria inflação. Ele rebateu que não, porque o governo não está imprimindo novas cédulas, apenas redistribuindo o que já está em circulação. O que é uma admissão não-intencional de que nada está sendo adicionado à economia do país; logo, será impossível criar valor através de redistribuição.
A discussão se estendeu por algumas horas. Mandei links explicando teoria econômica básica, esquemas de pirâmide, mas o cara estava completamente irredutível. Na cabeça dele, todos estamos a um passo de sermos milionários — basta o governo canadense pôr em prática o plano dele.
Essa foi possivelmente a discussão mais frustrante que eu tive na VIDA. Qual foi a sua?

May 20, 2015
Tá rolando um concurso foda em Calgary e você poderá me ajudar a ganhar
Bom dia, turma! Não tenho o hábito de pedir favores pra vocês, exceto quando é uma PARADA SÉRIA. E decidi que esta aqui é uma parada séria. Tem todos os sintomas de uma parada séria.
Uma empresa imobiliária aqui na minha cidade está terminando um plano de vários anos para revitalizar uma região próxima do centro de Calgary chamada East Village. Essa área aí:

É aqui pertinho de casa, aliás
O plano da empresa é fazer uma mega renovação urbana nessa área, auxiliada pela construção de dois condomínios chiquérrimos pra erguer o valor das propriedades na região, atrair comércio, e basicamente revolucionar a economia local do bairro. A parada certamente não é pro meu bico — o apartamento mais barato nesses condomínios custa meio milhão de dólares, mermão –, mas através do poder da internet creio que poderemos colocar um cearense e sua esposa lá.
Então. Os caras então começaram uma campanha entitulada #evLiving, pra, como explicam no site da parada, eleger um “embaixador” do East Village. O sujeito morará 6 meses num condomínio chamado FIRST, e outros 6 meses no Evolution, que fica logo na frente. A mudança é toda bancada por eles, obviamente.

E em pensar que quando criança morei numa casa que nem forro no teto tinha…
A função do “Embaixador” do bairro será contar, através das redes sociais, a “história” de como é morar lá. Com fotos, tuitadas, artigos no blog deles, a idéia é relatar a vida no East Village e nesses condomínios foda que eles ergueram lá. Basicamente, o tipo de coisa que eu já faço na internet há uns 12 anos.
Em outras palavras — além de colocar a mim e minha esposa nesse prédio e dizerem “tomaí, tuite sobre como é morar aqui”, eles ainda me pagarão por esse trabalho.
Há algum tempo venho me engajando com a comunidade internética local, através do twitter @MrNobre e do meu canal no YouTube em inglês, almejando ganhar espaço nas mídias sociais gringas. Essa seria uma forma foda de finalmente fazer a transição pra trabalhar com internet aqui fora, um potencial que eu sempre temi ter desperdiçado. Cê não tem noção da quantidade de oportunidades que eu perco de trabalhar com mídia social por não morar no Brasil…
Não que eu queria desistir do meus planos de se tornar paramédico, pelo contrário — imagina quão mais fácil será a coisa não precisando me preocupar com pagar aluguel por um ano.
Além do fato de que minha mulher, como tantos de nós, cometeu o erro clássico de “cursar faculdade e descobrir após se formar que não gosta mais da área”. Ela está querendo voltar aos estudos — também na área de saúde, dessa vez –, e a dificuldade de voltar a estudar seria imensamente reduzida se ela não precisasse trabalhar em tempo integral pra pagar aluguel todo mês.
Ou seja, nem faça por mim porque eu sou um merda. Faça pela Bebba.

A cara da Bebbinha quando ela descobriu que você vai ajudar a gente a ganhar essa porra aí
ENTÃO É AQUI QUE VOCÊ ENTRA. O concurso envolve fazer um vídeo de 30 segundos em que você vende seu peixe pros organizadores. Aí está o meu:
Ficou bacaninha, diz aí! Especialmente considerando os outros vídeos do concurso. Não vou linkar aqui porque não quero dar visualizações pra concorrência — o número de views no vídeo será um dos critérios de avaliação –, mas são beeeeeeeem insossos.
Tudo que você tem que fazer é compartilhar o vídeo nas redes sociais. É só dar um joinha no vídeo e, se você conectou o Twitter ao YouTube, vai resultar num tweet contendo o link, as hashtags do concurso, e servir ao mesmo tempo como uma mention pro perfil dos organizadores. Sai assim:
Se você preferir, você pode em vez disso clicar NESTE LINK (que abre uma nova janela, nem vai atrapalhar sua navegação nem nada), que vai automaticamente tuitar uma mensagem com o link do vídeo e as hashtags também.
Você pode fazer ambos, se quiser. O regulamento do concurso diz que quanto mais compartilhamentos, melhor.
Se você estiver se sentindo bastante prestativo, você pode redigir um tweet personalizado (contendo as hashtags #PickIzzy, #yyc) promovendo o link do meu vídeo. Por exemplo:
Esse modelo será o MAIS efetivo. Se quiser dar RT nesse tweet, aqui está — isso também ajuda pra cacete.
[ UPDATE ] Eles receberam TANTOS tweets direcionados à conta deles que pediram educadamente que o pessoal use apenas as hashtags #PickIzzy e #yyc em vez de enviar mention; imagino que o rapaz ou garota responsável pela campanha teve que jogar o celular no lixo de tanta notificação que deviam estar recebendo! Vocês são foda mesmo!
Meu público é primariamente brasileiro, sim — mas no regulamento do concurso, eles querem alguém que “saiba se comunicar, contar histórias, manter uma presença nas redes sociais e criar engajamento“. Ao ver um concorrente gringo qualquer com 60 seguidores no Twitter e um brasileiro morando aqui que é seguido por 80 mil (sem contar os gringos que me seguem na minha conta em inglês, sem contar o canal em inglês), é bastante evidente que um dos dois teve mais sucesso em fazer exatamente o que eles querem, que é criar uma presença online forte e contar histórias, mesmo que triviais, de forma interessante para um grande público.
Então, mesmo com um público 98% brasileiro, vocês poderão me ajudar a ganhar isso convencendo a organização que eu sou o melhor candidato pra contar a história de como é morar no East Village!
Talvez tu estejas curioso: como será possível vocês me ajudarem se são brasileiros? Qual será o alcance dos tweets de vocês entre o público gringo, afinal?
A matemática não mente. Olha o que está acontecendo com a campanha dos caras:

Clica pra ver grandão
No momento EXATO em que eu iniciei minha campanha #PickIzzy, as outras hashtags do evento (que estão sendo tuitadas junto) dispararam em direção à estratosfera. Isso faz com que a galera local que esteja passeando pelas hashtags da cidade veja o meu vídeo, independente de quem está divulgando, e consequentemente veja a campanha da empresa.
Aliás, você pode acompanhar aqui o impacto da #PickIzzy em tempo real.
Nessas horas, aqueles tweets personalizados ajudam pra CARALHO porque a coisa não fica parecendo tão automática; chama muito mais atenção!
Outra forma de ajudar é dando like no post que fiz na página do Facebook dos caras.
Se você sempre curtiu meu site/canal/podcast mas nunca achou que pôde retribuir a diversão gratuita que eu estive te dando por tantos anos, hoje eu te digo que você tem uma chance de me ajudar IMENSAMENTE com alguns poucos cliques. O PODER É DE VOCÊS. Compartilhe o vídeo, dê joinha, me ajude a torna-lo o vídeo mais visualizado da campanha. A idéia é que quando alguém entrar nas hashtags do evento, o vídeo com mais destaque será o meu.
Porra, vocês já me ajudaram a encenar um ataque zumbi aqui em Calgary que foi até veiculado pelos jornais. Com a ajuda de vocês eu ganho esse troço tranquilo!

May 18, 2015
[ O que faço com meus gadgets? ] Parte 2
No texto anterior, contei minha não-tão-breve história de amor com brinquedos eletrônicos. Hoje, cumprindo minha promessa com alguns dias de atraso, vou te contar que funções eu mais uso em meus aparelhos.
iPad
Eu achava sinceramente que o advento de um iPhone com tela maior me faria repensar a importância do iPad, mas acabou não sendo o caso. O iPad ainda é o melhor leitor para quadrinhos, por exemplo. O iPhone dá pra quebrar um galho, mas ter que ficar constantemente movimentando a página na tela pra ver toda a página não é a melhor experiência.
Eu queria poder dizer que a tela maior do iPad também o torna um aparelho mais indicado para assistir um Netflixzinho, mas curiosamente não é bem o caso — apesar do tamanho da tela, o aspecto 4:3 do aparelho força os vídeos widescreen a aparecem com letterboxes imensas em cima e embaixo. E com isso, ironicamente, a imagem do filme fica pouquíssima coisa maior do que ficaria no meu iPhone 6 Plus.
Mas o iPad é simplesmente gostoso de usar. Enquanto meu celular é algo mais funcional, mais utilitário, vejo o iPad mais como um brinquedo mesmo, sem o teor pejorativo que a palavra parece carregar. Uso porque dá gosto de usar, enquanto o celular é mais o tipo de coisa que eu preciso usar — pra atender ligações, responder emails urgentes quando estou na rua, essas coisas.
O meu app favorito pra ler quadrinhos no momento é o ComicZeal. Ele lê arquivos de HQ baixados na web em praticamente qualquer formato.
iPhone
Meu iPhone 6 Plus e eu somos inseparáveis. Além do óbvio — tuitar mais do que qualquer pessoa no mundo, responder ligações e mensagens de texto, e alguns joguinhos aqui e ali –, uso bastante o iPhone pra controlar minhas máquinas remotamente através do TeamViewer (incluindo uma vez que usei-o pra achar meu celular), o PocketCasts pra ouvir podcasts — e mais importante, mante-los sincronizados em vários aparelhos diferentes –, o Quizlet para estudar, e o iMovie pra editar vlogs quando estou de viagem.
Kobo Glo
Bom, nesse aqui é óbvio o que eu faço, né?
Lamento muito ter perdido o hábito infantil de ler incessavelmente. A era da internet, da informação instantânea, dos vídeos me explicando o que há com o mundo, de 67 abas abertas no Chrome fazendo malabarismo com mil temas diferentes, estragou minha capacidade de prestar atenção em um assunto de cada vez. Ter trocentos livros num único aparelhinho é um meio termo entre a prática semi-perdida da leitura, e a miríade de opções com as quais a vida tecnológica contemporânea me bombardeia.
MacBook Air
O iPhone e o iPad mini, juntos, são surpreendentemente capazes pra manter meu site/canal no youtube/perfis em mídias sociais atualizados numa viagem. Entretanto, em ALGUNS momentos é preciso um computador de verdade — uma edição de imagem mais elaborada, mudar as configurações da descrição de um vídeo no youtube (por que diabos estou em 2015 e não posso fazer isso do celular?!), e de forma geral fazer qualquer coisa que dependa de um multitask mais funcional.
E emuladores, claro. O OpenEmu, exclusivo pra MacOS, é basicamente a única coisa que eu preciso em termos de joguinhos naquele computador.
Agora me fale o que você faz nos seus aparelhos eletrônicos.

May 15, 2015
O que faço com meus gadgets? [ Parte 1 ]
Uma pergunta que me fazem constantemente nas redes sociais (além do tradicional “NOSSA IZZY VOCÊ DEIXA SUA MULHER SAIR SOZINHA? “, ou “TU TÁ SEMPRE ONLINE, NÃO DORME NÃO?, passando pelo “SUA ESPOSA SABE QUE VOCÊ FICA VENDO FOTO DE MULHER PELADA NA INTERNET???” ou ainda “COMO FAÇO PRA MORAR NO CANADÁ TAMBÉM?”) é “Izzy, você é um cara que curte brinquedinhos eletrônicos supérfluos. Conte-me o que você faz neles!“. E este é um excelente momento para abordar esse assunto, já que o outro texto que estou preparando está ficando longo demais.
Desde moleque eu fui fascinado pela idéia de aparelhos eletrônicos portáteis. Meu pai (que sempre trampou com TI) tinha lá nos idos de 1993 ou 1994 o primeiro notebook que vi ao vivo, sem ser num filme de ação com um personagem aleatório que era um hacker contratado pelos bandidos pra dizer coisas como “fiz um patch binário no módulo operacional do receptor catalítico do mainframe geosíncrono do FBI, estamos DENTRO!”.

Se não era EXATAMENTE ESSE que ele tinha, era um muitíssimo parecido.
Eu já estava relativamente acostumado com os computadores que pintavam lá em casa, mas ESSE atraiu minha atenção por um motivo simples — com ele, meu pai podia trabalhar do sofá enquanto assistia TV (um luxo que, em retrospecto, ele fez bem pouco uso). E quando ele precisava viajar, fechava a “tampa” do computador e o levava com ele. Minha irmã, que na época tinha seus 4 ou 5 anos, chamava o notebook de “computazinho”.
Desde aquela época eu fiquei obcecado por computadores com formato portátil. Todo e qualquer filme, seriado ou desenho animado que tivesse algo assim atraia minha atençao, seja o relógio-comunicador dos Powers Rangers ou o livro-notebook da Penny, a sobrinha do Inspetor buginganga. Eu sempre sonhei em ter algo assim.
Quando moleque eu gostava muito de escrever, mas o máximo que eu tinha em meu alcance em matéria de tecnologia portátil de produtividade era um bloquinho de anotações com um pequeno lápis enfiado na espiral, que eu carregava pra todo canto (até invariavelmente perde-lo dentro de poucos dias. Ambos o bloquinho E o lápis.)

A foto tá meio bosta mas é a melhorzinha que eu achei de um modelo similar ao que eu tinha.
Meu sonho foi realizado quando ganhei, SEI LÁ COMO, uma agenda eletrônica similar a essa acima — a minha era cinza, no entanto. Eu realmente não sei COMO aquela porra veio parar em minha posse porque certamente não ganhei dos meus pais, de não consigo lembrar também de ter comprado a agenda com meu próprio dinheiro. Será possível que ROUBEI essa merda e apaguei a lembrança?!
(Tou com a impressão de que foi um presente de segunda mão de um tio nerd que havia upgradeado pra uma agenda mais sofisticada mas também não consigo lembrar de detalhes o suficiente pra corroborar essa versão. Vamos supor que eu roubei na Mesbla mesmo)
Tive essa agenda por volta de 1998 ou 1999. Era sensacional — eu podia gravar números de telefone, endereços, e até mesmo anotações curtas, minha feature favorita. Como sempre gostei de escrever, a primeira coisa que fiz com a agenda foi escrever uma pequena historinha. A segunda coisa que fiz foi me decepcionar com a limitação de 3 linhas para anotações, o que serviria pra um tweet excelente mas restringia demais meu espírito mais narrativo.
Não era todo moleque que tinha essas agendinhas eletrônicas na minha época, então eu me sentia O TONY STARK DO COLÉGIO.
A agenda eletrônica morreria alguns anos mais tarde, num trágico incidente em que me pegaram de surpresa num churrasco da galera e me jogaram na piscina com roupa e tudo. A onipresença dos aparelhos celulares ainda não havia sido inventada naquela época, o que nos permitia esse tipo de zoação com amigos.
Ouço falar que a adaptação evolucionária da brincadeira para os dias modernos é chegar no seu broder e falar “mano, cê tá de celular novo? Deixa eu ver aí!”, e quando ele te entrega o aparelho, os outros amigos chegam voando igual equipe da SWAT pra atirar o infeliz na água.
Tive também um desses:
Meu pai usava um desses pagers na época pré-celular. Aliás, no finzinho dos anos 80 ele usava um modelo ainda mais paleolítico, do tamanho de um tijolo e que mostrava apenas um número de telefônico pra você ligar de volta. Quando o trampo dele fez upgrade pra celulares, o uso do pager foi descontinuado mas o aparelho continuava funcionando por mais um ano, por conta das condições de contrato que a empresa havia assinado. Os troços já eram tão antiquados nessa época que a empresa sequer pediu os aparelhos de volta, então em vez de deixa-lo pegando mofo na gaveta do escritório, meu pai me presenteou com esse pager.
Meu uso mais infame do aparelho foi colar numa prova final de química do 1o ano do ensino médio. Sempre fui péssimo em química (até descobrir, já adulto, que precisava disso pra minha carreira acadêmica, aí corri atrás do prejuízo. Obrigado, Khan Academy!)
Tive também o fabuloso Casio DSC-62. Você não conhece o nome, mas CERTAMENTE lembra do que era:
Ganhei esse relógio do meu pai lá nos idos de 1998. Foi o relógio que o vi usando durante toda a minha infância; um dia ele ganhou um relógio melhor e, sabendo da admiração que eu tinha pelo aparelho, me deu. Eu achava a coisa mais sensacional do MUNDO ter uma calculadora/telefone dos amiguinhos no pulso.
Esse tipo de relógio se tornou rapidamente visto como “coisa de nerd” na época em que isso não era cool, mas eu não manjava o suficiente das coisas pra saber disso, e sinceramente se soubesse continuaria usando. Era um relógio foda. Eu me sentia o próprio Dick Tracy com essa parada no pulso. Através desse relógio, aprendi os nomes dos dias da semana em inglês.
O relógio me deu adeus numa manhã em 1998. Voltando da recuperação no colégio, fui parado por um rapaz que me perguntou as horas. Olhei para baixo pra verificar o relógio, e quando olhei pra cima novamente estava cercado por dois malandros escondendo o que parecia ser uma faca por baixo da camisa. Levaram meus sapatos, camisa, e o relógio-calculadora que eu tanto gostava.
Vou omitir dessa lista aparelhos como meu primeiro celular ou primeiro computador/notebook porque eles foram mais utilitários do que “nooooossa que foda esse gadget“; não rolou o mesmo apego emocional. Não mencionei também minha longa história de amor com PDA da Palm porque esse merece um post separado, embora eu já tenha falado um pouco deles neste outro artigo.
(Aliás, esse outro texto preenche bastante lacunas deste aqui. Recomendo muito a leitura se você também cresceu cobiçando brinquedinhos eletrônicos)
Agora que você já entende melhor meu contexto histórico com aparelhos portáteis tecnológicos, amanhã te falarei sobre os que uso atualmente — pra ser mais específico, para que os uso.

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