Izzy Nobre's Blog, page 21
November 11, 2015
[ Pergunta do Dia ] Que tecnologia nos surpreenderá daqui 20 anos?
Vamos voltar mentalmente ao ano de 1995.
Eu tinha 11 anos. Nerd como eu era, estava animado pra abandonar o infantil “Ciências” da quarta série e conhecer a Física e Química da quinta série. Tinha acabado de ver o Brasil ganhar o tetracampeonato numa Copa do Mundo, também, então na minha mente infantil eu tinha aquela impressão de que somos literalmente invencíveis no futebol — afinal, o Brasil ganhou 100% das Copas do Mundo que eu havia assistido até então.
Tínhamos um Pentium 133mhz lá em casa, com extravagantes 64mb de RAM. Na época, o “normal” era 4-8mb, os chutadores de pau de barraca compravam 16mb, e os REALMENTE pica grossa compravam 32mb. A configuração do PC que meu pai montou era TÃO absurda que a maioria dos meus amiguinhos da escola achavam que eu estava exagerando; meu pai sempre se divertia em ver a cara de choque dos amigos “micreiros” quando ele falava quanta RAM o computador tinha.
Aliás, “micreiro” era como chamávamos “esse pessoal viciado em computador” na época.
Foi nessa época em que fui apresentado à internet. Meu primeiro vício internético foi o mIRC; é curioso o QUANTO eu gostava daquela merda, porque era a coisa mais boba — um bate papo aleatório com um bando de gringo anônimo, numa época em que eu mal falava inglês.
Pode parecer exagero pra você, mas ESSA IMAGEM AÍ representava o fim de semana pra mim. Não é exagero: eu vejo esse screenshot e imediatamente me sinto transportado para aqueles fins de semana nos anos 90 em que a família toda ia pra praia e eu fingia estar com dor de barriga pra ficar batendo papo na internet.
Por que fim de semana? É que por causa do pulso único, algo que a criançada de hoje nem deve manjar que sequer existiu, o uso de internet no Brasil nos anos 90 era limitado aos sábados e domingos.
Funcionava assim: na época, as operadoras telefônicas ofereciam um “desconto” nas ligações que aconteciam entre duas da tarde de sábado e seis da manhã de segunda feira; você podia ligar pra alguém e ficar pendurado na linha por essas 40 horas e apenas um “pulso” era contabilizado — ou seja, você só pagava alguns centavos por várias horas de uso. E por isso eu passava o fim de semana INTEIRINHO no mIRC.
O pulso único também estava em operação da meia noite às seis da manhã todos os dias, mas era um horário impraticável na época — só viríamos a nos tornar eremitas notívagos sem vida social alguns anos mais tarde.
Então, tínhamos uma internet lenta e limitada aos fins de semana. Já existiam celulares, mas eram proibitivamente caros. Eu acho que já tinha ouvido falar de GPS, mas era aquele negócio meio Star Trekiano que só era usado por malucos como o Amyr Klink.
Uma TV de tela grande era a de 29″ do meu pai, comprada especificamente pra assistir a Copa do Mundo. Em matéria de tecnologia portátil, tínhamos os Palms que começavam a despontar no horizonte… se você tinha muita grana. Mais comum eram as agendas eletrônicas, ou mais comum ainda, aquele relógio da Casio que tinha uma calculadora.
Meu pai tinha um, que eu pegava emprestado com frequência. Ele acabou me dando.
A família tinha câmera fotográfica (que tirava lá suas 36 “poses” e ficava então meses sem filme porque ninguém lembrava de comprar). Alguns mais abastados tinham câmeras filmadoras; as fitas eram ainda mais caras que filmes, e a bateria durava, se muito, uns 40 minutos.E se os filhos eram bem comportados, às vezes tinha um SNES ou um Mega Drive no quarto deles. E que (pelo menos na minha casa era raro, mas vale mencionar) era às vezes plugado na TV “gigante” da sala — aquela lá de 29 polegadas.
Se eu queria saber os filmes que estavam em cartaz no cinema, eu ligava pra um número (acho que era 195?) e uma voz automática lia TODAS AS SESSÕES DE TODOS OS FILMES DE TODOS OS CINEMAS DA CIDADE.
Esse era o nosso relacionamento com tecnologia naquela década. Voltando ao ano de 2015, uma das melhores formas de perceber a drástica mudança que as últimas duas décadas causaram é constatar que o que rolou não foi apenas uma melhoria incremental da tecnologia que já tínhamos na época.
Nós literalmente ganhamos super poderes que seriam inimagináveis vinte anos atrás.
O acesso à internet, por exemplo. O que era limitado aos fins de semana, no único computador da casa, e em detrimento da habilidade da minha mãe de ligar pra minha avó, hoje é acessível o tempo inteiro, em uma velocidade completamente inimaginável pelo Izzy de 11 anos de idade. Naquelas tardes de mIRC, meu pai conheceu um israelense que o enviava musiquinhas em MIDI; a primeira música que pirateamos na vida foi a musiquinha de abertura do seriado do Batman dos anos 60. Essa aí:
Meu pai ficou estupefato vendo o arquivo rodando no seu computador; um arquivo que segundos atrás estava do outro lado do mundo. Ele tentou me explicar o quanto aquela transferência quase imediata de informação (demorava um cadim pra baixar uma MIDI numa conexão de 36.6 kpbs); e ele fantasiou sobre um futuro com uma conexão tão veloz que poderíamos reproduzir a música sem precisar baixar.
Alguns anos mais tarde, após o advento do Napster, meu pai foi além — ele teorizou um dia em que as conexões seriam tão rápidas, mas tão rápidas, que poderíamos assistir FILMES sem baixar.
E hoje eu faço isso no meu celular. Um celular, aliás, que tem um processador de 1.4Ghz, contra os 133Mhz daquele Pentium da nossa família. Celular, aliás, que é também uma câmera com capacidade infinitamente maior do que as câmeras que meu pai tinha — tanto a fotográfica, quanto a filmadora.
Falando em filmadora, o meu celular não a única que eu tenho. Eu tenho uma OUTRA filmadora, específica pra isso, que tem mais ou menos as proporções de uma caixa de fósforos e é melhor que a filmadora do meu pai em todos os aspectos — qualidade da imagem, som, longevidade da bateria, espaço de armazenamento de vídeo, TUDO.
Voltando ao meu celular, ele é também um GPS — algo que era antes um brinquedo luxuoso de aventureiros ricos, mas que agora vem embutido em todos os telefones quer você queira ou não.
E é também um mini-videogame.
Gráfico in-game de Afterpulse, um jogo de iPhone
Falando em videogame, o Izzy de 2015 tem acesso a não um, mas VÁRIOS aparelhinhos portáteis com capacidade de comportar todos os jogos que eu achava foda quando pirralho. Se você me falasse que eu teria UM eu não teria acreditado, porque seria fantasioso demais algo assim sequer existir. Ter vários então?!
E esses nem são todos que eu tenho!
Todos aqueles joguinhos de SNES pelos quais eu ficava babando em cima do balcão da seção de eletrônicos da Mesbla não apenas estariam a um clique de distância, mas gratuitamente, e eu ainda poderia leva-los pra qualquer lugar?! Apenas magia satanista poderia explicar isso.Como tenho que tomar banho, convido os amigos a compartilharem outros exemplos de habilidades que eram simplesmente inimagináveis na nossa época. Mas o que realmente me deixa intrigado é:
O que teremos, daqui 20 anos, que é inimaginável hoje?
Será possível ainda que um futuro avanço tecnológico nos pegue totalmente de surpresa, a ponto de que HOJE não podemos imaginar o que seria…? Mais ou menos como uma GoPro era inimaginável numa época em que uma filmadora era um trambolho pesado que você apoiava no ombro.
É meio arrogante pressupor que já inventamos tudo — geralmente quem faz essa previsão quebra a cara –, mas ao mesmo tempo, eu me sinto tão preso no paradigma do que temos hoje em dia que é difícil visualizar algo revolucionário. Consigo imaginar melhorias incrementais (um iPhone com melhor bateria, exemplo; um Netflix com maior catálogo), mas e as grandes mudanças de paradigma que tivemos nas últimas décadas? A TV de 62 polegadas lá na minha sala, com a grossura de um caderno…? Eu sequer teria imaginado isso; pareceria um exagero imaginativo quase cômico.
Assim como um aparelho portátil através do qual eu posso acessar todo o conhecimento humano acumulado praticamente de graça. Ou um livro “eletrônico” onde posso carregar uma biblioteca inteira. Ou um relógio através do qual eu posso receber mensagens instantâneas da minha esposa (preciso resenhar meu Pebble pra vocês, aliás).
Enfim. Tente se imaginar em 2035. Que tipo de tecnologia existirá quando eu tiver 51 anos que nos fará pensar “caralho, e a gente achando que os smartphones da nossa época eram legais…”?

November 8, 2015
Vlogger coiote pilantra safado 171 criminoso causa problemas a agência americana
Já alertei vocês aqui a respeito do Albertinho Gazio, um vlogger brasileiro racista que tem como hobby iludir seus inscritos a uma suposta maravilhosa vida ilegal nos EUA. Pra convence-los de que seria excelente abandonar suas posses, famílias, amigos, formações acadêmicas e carreiras profissionais tentando a vida incerta num país estranho, Albertinho seduz sua audiência com bugingangas em lojas de um dólar e roupas chinfrins do Walmart.
O que estou querendo dizer é que tal qual Pedro Álvares Cabral, Albertinho considera seu público um bando de selvagens deslumbrados com a “civilização”, que se deixariam se feitos de otário em troca de algumas quinquilharias triviais.
(Ou isso, ou ele é de fato um pobre coitado sem instrução que realmente acha que comprar bobagens em lojas de um dólar é um litmus test de qualidade de vida. O fato de que o sujeito está nos EUA desde os anos 90 e ainda mora de aluguel, traja vestuário do Walmart, não tem formação acadêmica nem profissão formal, nunca se integrou à cultura e população americana, nunca aprendeu a falar inglês e tem como fonte de renda aliciar seus inscritos a morar ilegalmente nos Estados Unidos indica que essa hipótese tem maior probabilidade de ser verdadeira)
Então. Apesar do fato de que o serviço coioteiro oferecido pelo Albertinho é crime federal nos EUA, ele faz isso porque cobra uma taxa de “consultoria” a seus “clientes”. O Albertinho costumava admitir abertamente que ajudava seus clientes turistas a conseguir emprego informal nos EUA, mas depois da minha última denúncia ele saiu apagando todos os vídeos em que isso ficava claro — já que isso categorizava MUITO CLARAMENTE uma infração flagrante do Federal Immigration and Nationality Act –, mas eu salvei alguns.
É por isso que o Albertinho nunca fala nada negativo sobre a vida ilegal nos EUA, e fica constantemente fazendo vídeos falando mal da corrupção e criminalidade no Brasil, incitando um sentimento anti-patriótico em sua audiência. Não é que ele realmente se importa com o que é honesto e legal (ele claramente não se importa); é que ele está literalmente vendendo uma ilusão pros caras que confiam nele, então esse teatrinho vira-lata de “TUDO NO BRASIL É HORRÍVEL E NOS EUA TUDO É PERFEITO!!!!11″ é necessário.
Então, Albertinho em momento algum diz a verdade sobre ficar “fora de status”. Esse é seu eufemismo favorito pra insinuar que ficar além do tempo permitido pelo visto é “mais ou menos legal”; ficar fora de status, no entanto, é virtualmente indistinguível de morar ilegalmente nos EUA.
Ele também jamais diz aos seus clientes que apelam pra essa tática de entrar com visto de turista e ficar por lá mesmo jamais poderão se aposentar, ou comprar uma casa, não terão plano de saúde, estarão sujeitos a ser deportados, jamais trabalharão com nada que não seja emprego braçal sem segurança ou estabilidade financeira, e diversas outras desvantagens de morar irregularmente no país alheio.
Ele omite esses detalhes, obviamente, porque não é interessante veicular a verdade. Quanto mais pessoas souberem que ir morar ilegalmente nos EUA não é um bom plano de vida, menos dinheiro ele ganha. É do interesse dele que não saibam a verdade, e daí fica explicado por que ele fez TANTOS vídeos raivosos contra mim.
Não é exagero meu. Depois da minha denúncia, o Albertinho se espevitou todo. Sua PRIMEIRA reação foi fazer um vídeo me xingando, porque esse é o calibre intelectual do sujeito com quem estamos lidando aqui. A vergonha bateu, e ele apagou o vídeo. Se minha conta está certa, depois desse incidente ele fez 6 ou 7 vídeos mandando indiretas a mim, o que me levou a concluir que acertei um nervo exposto.
Depois, ele resolveu apelar pra outra estratégia: provar pros seus inscritos que eu tenho inveja dele (?), ou que não quero que ninguém mais imigre (??), ou que tenho ódio de imigrantes ilegais (???). Qualquer coisa, menos a hipótese de que eu estou me oponho à sua atividade de mentir para seus inscritos, os incentivando a adotar uma vida sem direitos num país alheio, sem contar pra eles os riscos a que eles estão se submetendo, e cobrando dinheiro deles por esse serviço.
Uma das estratégias do Albertinho pra convencer seus inscritos de que “nãããão, que é isso, não é nada disso, os EUA querem imigrantes ilegais”, foi mostrar em seu canal o trabalho de uma organização que dá apoio ao imigrante, de acordo com o Albertinho, independente de seu status no país.
Pois bem. O sujeito (que é alguém de confiança pra muitas pessoas) está dizendo que há uma agência que existe apenas pra dar apoio ao imigrante, na tentativa de fazer o argumento de que os Estados Unidos querem muuuuuuito que você vá morar lá — custe o que custar. Mesmo que nem legalizado você seja. Inclusive, parte do serviço que ele oferecia a seus clientes era leva-los à tal Casa de Maryland.
Isso foi em julho. Agora, em novembro, o Albertinho tomou um esporro da Casa de Maryland (que pediu literalmente que ele tirasse o vídeo do ar) e foi obrigado a admitir que não é beeeeeem assim não:
Caso você não queira ver mais um vídeo do sujeito histericamente dizendo que brasileiro nenhum presta (só ele, presumo), o que aconteceu foi o seguinte: após a publicação do vídeo, que dava a entender que existia nos EUA uma organização que existe apenas pra te ajudar a morar lá, a tal Casa de Maryland entrou em contato com ele TRÊS VEZES pedindo que ele tire o vídeo do ar, porque ele claramente deu uma impressão bem errada do serviço que a tal organização presta.
E a agência estava sendo sobrecarregada de ligações do público do Albertinho (que na real nem tem culpa da parada, já que o sujeito vendeu uma idéia errada do que a Casa faz). Imagino que a pessoa da organização da parada se arrepende MUITO de ter aparecido no vídeo do maluco. Até o trabalho do mulher ele atrapalhou.
Então. Depois de toda essa treta, agora ele teve que mandar um certo disclaimer em relação do serviço salvador de brasileiros nos EUA. E é curioso que enquanto ele parece compreender que é diretamente responsável por esses incidentes, ele se nega a assumir completamente a autoria da merda.
Sim, é culpa do Albertinho que tem um monte de brasileiro desesperado ligando pra tal Casa de Maryland. Porque após anos alimentando o sentimento de “VOCÊ PRECISA FUGIR DO BRASIL O QUANTO ANTES!”, anunciar o trabalho de uma organização dizendo implicitamente “…E ESSES CARAS AQUI VÃO TE AJUDAR, TAQUI O TELEFONE DELES!” é como jogar uma bisteca num tanque de piranhas e se chatear porque elas a comeram.
Eu realmente tenho pena do Albertinho. Né nem raiva, é pena mesmo.
Como todos esses caras que vão pros EUA na irregularidade (ele tem toda uma rede de amiguinhos vloggers em situação similar), o cara jamais arrumou uma profissão formal lá, e então precisa apelar pra esses “bicos”. Não que haja nada de errado com o trabalho de subsistência… quando ele é honesto.
Quando ele se resume a violar leis federais do país dos outros E enganar pessoas que o vêem como formador de opinião… são outros 500.
Arrume um emprego, Albertinho. Pare de seduzir seus inscritos com promessas falsas, pare de aporrinhar a paciência da Casa de Maryland, e principalmente, e pare de cobrar dinheiro pra cometer um crime federal.
Um dia a casa cai pro teu lado, e você vai ter que finalmente admitir que VOCÊ é exatamente um desses brasileiros que você vive criticando por ir aos EUA pra fazer merda.

November 7, 2015
[ Além do Vídeo ] Eis o que há de errado com o sistema educacional
Eu sempre me considerei uma vítima do sistema educacional brasileiro. E essa semana, gravei um vídeo pra explicar melhor o que quero dizer com isso — mas obviamente não devo ter me explicado bem o suficiente, porque dessa vez preciso fazer um Além do Vídeo.
Acho que o ponto mais crucial que preciso martelar aqui é que há muitos anos, te ensinaram uma ladainha mentirosa pra justificar o processo enlouquecedor (e caro, e ineficiente) de decorar inutilidades gerais por 13 ou 14 anos pra vomitar tudo numa prova para entrar num curso sobre o qual não te deram literalmente nenhuma informação.
Não, nem todo conhecimento é útil.
Eu já consigo ouvir você rejeitando a minha heresia anti-científica e bolando cenários absurdamente específicos pra justificar que sim, aprender multiplicação de matrizes ou logaritmos ou as regras de um verbo transitivo direto traz algum benefício. Seja porque “estimula o raciocínio”, ou porque em uma condição extremamente particular você conseguiu achar uma aplicação prática de algo que você aprendeu ao longo de mais de uma década pagando pra ser programado pra passar num vestibular.
Vamos por partes. Primeiro, a gente precisa questionar seriamente essa noção idealista e romântica de que passar horas enclausurado numa sala fazendo e refazendo equações de segundo grau é uma espécie de “ginástica mental” que exercita o raciocínio, e por extensão o pensamento crítico, analítico, científico.
Soa bonito no papel; é aquele tipo de coisa que alguém te oferece como justificativa e tu pensa “é, tem razão, faz sentido“, e para imediatamente de criticar o sistema.
Só que aí você percebe que o Brasil não tem um prêmio Nobel sequer, ou que somos um país em que milhares (milhões?) de pessoas protestam pelo “direito” da Telexfree de roubar seu dinheiro, e precisamos admitir que essa noção de que ficar passar horas divindo polinômios talvez não tenha o menor efeito positivo em nossa capacidade analítica ou científica.
Aliás, esse bizarro e auto-flagelante culto à práticas matemáticas abstratas não nos rende benefícios nem mesmo no domínio da matemática.
Se você duvida, dê uma olhada no quadro de medalhas da Olimpíadas Internacionais de Matemática:

Ó o Brasil ali na lanterna. E olhe que a China, líder absoluta no placar, manda MENOS atletas pra lá, e participa a menos tempo que a gente.
O nosso último conterrâneo a entrar no Hall da Fama do evento teve sua última participação nas Olimpíadas há quase 3 décadas.
Já os americanos, a quem adoramos categorizar como burros porque acham que se fala espanhol no Brasil (a despeito do fato de que você provavelmente NUNCA ENCONTROU UM AMERICANO QUE ACHASSE ISSO, mas ouviu várias pessoas falando que acontece então deve ser verdade né? Olhaí os tais skills analíticos nos quais somos profissionais!), estão em segundo lugar no ranking.
Olha a posição brasileira. Você está entendendo o que eu estou tentando te dizer…? Esse foco todo na matemática abstrata não nos rende bom desempenho nem mesmo na matemática, que dirá então em faculdades mentais não-relacionadas. Eu simplesmente nunca vi evidência alguma de que passar anos decorando fórmulas de Física, e em seguida inserir números no lugar das variáveis, torna alguém mais intelectualmente apto a qualquer coisa. E OLHA QUE EU CURSEI BACHARELADO EM FÍSICA.
A segunda coisa que me incomoda nos defensores dessa teoria de que “todo conhecimento é útil” são as justificativas inacreditavelmente tortuosas pra justificar o currículo escolar que é essencialmente o mesmo há séculos. Por exemplo: nos comentários deste meu vídeo acima, alguém falou que o estudo de química é útil porque sem ele, você não saberia que compostos químicos são perigoso pra se ingerir.
Sim, porque sem decorar “Foi Clovis Bornay que Incendiou Atenas” (F Cl Br I At, a família 7A da tabela periódica), eu sou sair por aí bebendo querosene e água sanitária. Em seguida o mesmo rapaz falou que balanceamento de equações químicas é igualmente fundamental, porque sem ela sua mãe não conseguiria seguir uma receita de como fazer sabão.
Porque, naturalmente, pra seguir esses cinco simples passos você precisa estudar estequiometria por 3 anos.
O que me dá mais raiva é que eu, que sempre odiei química, teria achado FODA DEMAIS ver na escola uma aplicação prática de estequiometria como essa fabricação caseira de sabão aí. Consigo imaginar uma aula de equação química bolada em torno do processo de medição das proporções desses reagentes, mas obviamente isso seria muito interessante então é claro que não é assim que nos ensinaram.
Continuando o tema de “pessoas perdidamente acostumadas com um sistema caro e ineficiente inventando desculpas absurdas para defender sua perpetuação”, teve um outro sujeito (um médico!!!) que comentou que o ensino de geografia é igualmente essencial, porque é através dele que aprendemos as doenças típicas de uma região.
A absurdíssima insinuação aqui é que, sem ter ouvido uma vez na quinta série que há incidência de esquistossomose no Nordeste, um médico daria a esse paciente tratamento para dor de dente.
Os comentários do vídeo estão repletos de argumentos desse naipe. “Não, mas you see, eu trabalho com X e uma vez numa condição bem específica que só aconteceu comigo e que muito provavelmente jamais se repetirá eu pensei ‘ah é uma vez vi isso na escola’, logo, o currículo inteiro está justificado”.
Acho que o ímpeto por trás desse tipo de comentário é uma vontade irresistível de contradizer, mesmo que pra isso você defenda um caríssimo sistema de treinamento que demora mais de uma década porque UMA VEZ você conseguiu usar UMA COISA das 4789374892 que te ensinaram.
Não, nem todo conhecimento é útil. Seria se você fosse uma entidade imortal, com tempo de sobra pra dedicar a qualquer atividade (por mais trivial que fosse), e que pudesse aprender tudo de graça. Entretanto, não somos um Tio Patinhas vampiro. Nosso processo de aprendizado gasta tempo e dinheiro, dois recursos finitos que, como qualquer outro, precisam ser gerenciados e priorizados.
Na próxima vez que alguém vier com esse argumento idiota e pedante de que “todo conhecimento é útil”, pergunte imediatamente se essa pessoa está disposta a pedir uma folga no trabalho pra ler a biografia de Leonid Kravchuk, o primeiro presidente da Ucrânia. Ou um atestado médico pra faltar na faculdade e se ocupar lendo os artigos da Muneeza Shamsie sobre a literatura clássica paquistanesa. Pergunte quando foi a última vez que ele revisou um manual de conserto de videocassete.
Mas ué, se todo conhecimento é útil, por que você está priorizando o aprendizado de X mas não de Y…? Pelo motivo óbvio de que há uma distinção claríssima entre conhecimento PRÁTICO, necessário, e conhecimento sem uso algum, e apenas alguém num arroubo de empáfia acadêmica insistiria que não há diferença entre ambos. O problema é que o nosso modelo de educação — a preparação ao todo-poderoso vestibular — colocou conhecimento sem uso na categoria de conhecimento prático, ainda que seja prático APENAS no contexto “preciso saber disso pra passar numa prova”.
Você não tem noção de quanto eu odeio essa ladainha mentirosa de que aprender coisas inúteis te ajudam a “exercitar o cérebro”. Esse argumento é uma admissão de que a parada realmente não tem valor prático, mas ao mesmo tempo sem querer admitir isso totalmente.
“Sim, eu sei, você nunca na vida precisará calcular uma equação de segundo grau no braço, sem usar uma calculadora ou consultar fórmulas — mas nós determinamos que saber fazer isso vai te tornar uma pessoa inteligente. Por que? Porque sim. E você não quer ser burro, né?”
E não é apenas o ensino da ciência exata que tá errada, as humanas não são muito melhor que isso. Como qualquer pessoa que gosta de escrever, eu gostava também de ler. Aos 9 ou 10 anos lia calhamaços imensos do Crichton, Clarke, Clancy, repetidamente; aí na escola me obrigavam a ler O Cortiço — um livro de 200 anos atrás que não interessa de maneira alguma um moleque que curte viagem no tempo, espiões e robôs assassinos.
Aí eu não lia. E tentava chutar tudo na prova. Frequentemente me dava mal, e voltava pra casa com aquela nota vermelha que dizia implicitamente “desculpaí senhora Nobre mas esse teu filho é um vagabundo que não sabe ou não gosta de ler”.
E não apenas isso, mas o mais chato nesse currículo monolítico e imutável de literatura (O Cortiço. O Alienista. A Moreninha. Noite na Taverna. O Auto da Barca do Inferno, QUE FOI ESCRITO HÁ CINCO SÉCULOS) é que todas as interpretações manjadíssimas já foram determinadas e é justamente essas que os professores querem que você decore pra responder na prova.
E redação?! Redação deveria ser, idealmente, um exercício de criatividade e auto-expressão. No entanto, os meus professores determinavam o assunto sobre qual o deveria escrever, e ai de mim se eu “fugisse do tema” — era um zero no meio da cara. O que, por extensão, significava que eu não sabia ou não queria escrever.
Isso estimula tanto a criavidade quanto dizer que um moleque pode desenhar o que ele quiser, mas tem que ser só com esse lápis verde, e tem que ser uma árvore, e não pode ser uma árvore muito grande, e aliás aqui está o layout de árvore que eu quero. Faça uma igual.
OK IZZY já entendi é uma merda mesmo QUAL A SOLUÇÃO?
Eu já falei, mas no seu ímpeto de insistir que equações quadráticas são conhecimento valiosíssimo você não ouviu. Embora o sistema norte-americano definitivamente não seja perfeito, tratar o colegial como uma faculdade, com disciplinas obrigatórias somadas a matérias eletivas que dêem ao moleque 1) uma exposição maior a possíveis carreiras e 2) um marketeable skill que ele possa usar pra entrar no mercado de trabalho.
Eu sou o único que acha completamente insano que um moleque de 16 ou 17 anos tenha que decidir um futuro de carreira sendo que o mais próximo que ele chegou de Direito/Jornalismo foi decorando conjugação de verbos, ou a maior exposição que ele teve a Medicina foi aprender que DNA significa Ácido Desoxirribonucleico…?
Eu escolhi Física porque curtia ficção científica, somado ao fato de que minha tia é uma renomada Física brasileira e a jornada dela é uma fonte inesgotável de inspiração e orgulho pra mim. Mas e um moleque que queira fazer literalmente qualquer outra coisa…? A escola falha de forma estupenda em nos oferecer qualquer direcionamento nesse sentido.
Enquanto isso, o currículo colegial gringo ensina coisas como Introdução ao Direito — que é não apenas melhor pra preparar um aluno pra ser um advogado do que saber diferenciar um verbo transistivo de um verbo intransitivo, mas é por si só útil na formação cívica do indivíduo.
E alguém que queira fazer algo voltado às Artes? Você ri, claro, porque o contexto acadêmico brasileiro te treinou a ver como “ensino útil” apenas aquilo que é diretamente necessário pra passar no vestibular. Só que sem artes você não teria os filmes, ou música, ou quadrinhos, ou videogames, basicamente nenhum dos seus principais hobbies.
Aqui no Canadá tu pode estudar, através do sistema público de educação, Film and Video Production. Se interessa em atuação, ou talvez em performance como comediante? Há aulas de teatro. Minha esposa, aliás, foi atriz estudantil e atuou numa peça chamada The Insanity of Mary Girard.
Aliás, ela também participou de um Improv Club, que é um clube misto de atuação e comédia. Olha ela aí, circulada com caneta hidrocor vermelha no Yearbook da escola:
Você talvez tenha se perguntado alguma vez porque minha mulher é tão animada e dada a fazer gracinhas e palhaçadas o tempo todo; é o jeito dela.
Que é o meu jeito, também, exceto que enquanto aqui ela tinha um veículo pra exteriorizar isso de forma criativa/produtiva, no Brasil eu era mandado pra fora de sala diariamente — sem exagero — porque estava “distraindo os outros estudantes”.
Talvez você queira ser um chef. A experiência colegial brasileira não vai fazer absolutamente nada pra te ajudar nesse objetivo. Aqui, por outro lado? Eles te ensinam.

Resolver uma divisão de polinômios: talvez eu use uma vez na vida. Cozinhar: usarei literalmente todo dia, mais de uma vez por dia, pra mim mesmo e pra toda a minha família, até o dia da minha morte. Claramente polinômios é o que deveríamos priorizar na formação educacional de um indivíduo.
Eu terminei o colegial em 2003 sem saber basicamente nada sobre o mundo fora das fronteiras brasileiras. Os alunos secundaristas aqui, por outro lado, viajam pelo mundo, tendo uma imersão na cultura e língua estrangeira na época formativa de suas vida.

“IZZY MAS É QUE O CANADÁ É RICO AQUI NÃO TERIA DINHEIRO PRA ISSO” talvez porque estamos gastando dezenas de milhares de reais pagando alguém pra nos explicar, 5 dias por semana, 4 semanas por mês, 10 meses por ano, o que é um logaritmo ou um número irracional ou a “fórmula do sorvete”.
De repente o moleque não tem o MENOR interesse ou aptidão pra matemática, ou química, ou porra nenhuma, mas quer muito ser um músico. No Brasil? Tu tá totalmente fodido. Nos EUA? Tu recebe treinamento musical (novamente: na rede pública de ensino) no colegial, se quiser.
Enquanto eu aprendi NA MINHA TERRA TEM PALMEIRAS ONDE CANTA O SABIÁ/SENO A COSSENO B SENO B COSSENO A, o primo da minha esposa aprendeu a tocar bateria.
E ele toca bateria hoje. Já eu não sei mais nem o que é um cosseno OU um sabiá. Eu preferia INFINITAMENTE ter tido acesso a treinamento clássico em guitarra do que aprender trigonometria.
E a questão é essa. Preferência. Eu não estou dizendo que temos que matar todos os professores de matemática e queimar os livros; eu estou dizendo que deveriam haver outras opções que preparassem alguém melhor pra vida real. Estou dizendo que os 12 ou 13 anos que passamos enfurnado em cadeiras desconfortáveis vestidos exatamente iguais e fazendo exatamente a mesma coisa e dando exatamente a mesma intepretação pro mesmo livro de 300 anos atrás e ouvindo alguém explicar um monte de coisa que você nunca vai usar na sua vida não são um bom uso de dinheiro ou de tempo ou de energia.
Vamos parar com essa insistência da virtudes de saber balancear uma equação química, e admitir que tá passando da hora de considerar uma alternativa.

Prólogo — A Grande Putaria de 1875
A bilioteca era imensa. Tão imensa, aliás, que um designer mais esperto teria projetado aquela planta incluindo mais uns dois candelabros, pra que a iluminação fosse melhor distribuída no aposento. Entretanto, a família real havia resolvido economizar contratando um arquiteto vagabundo através do Peixe Urbano, e deu essa merda — uma biblioteca IMENSA, mas com apenas um candelabro. E pior, no cantinho do ambiente, em vez do centro do salão como seria o mais lógico. Nem eu que mal consigo seguir as instruções de um kit de LEGO teria cometido um erro tão trivial.
E o resultado dessa falha de projeto é que a porra do candelabro iluminava apenas o cantinho da biblioteca; a luz banhava uma única estante, que a propósito estava quebrada. O que eu estou querendo dizer é que esse candelabro era a coisa mais inútil do mundo e uma grande fonte de frustração para a família real.
Através de uma janela aberta, o vento gélido da madrugada carioca fazia o candelabro oscilar levemente. Sabe quando você tá numa lotérica esperando sua vez pra pagar uma conta, e o único ventilador na sala está oscilando, e você precisa ficar dando passinhos de um lado pra outro pra ficar no ponto focal do vento antes que aquele calor de 38 graus revele a todos os presentes que você esqueceu de passar desodorante? Então, se o vulto sentado à escrivaninha naquela biblioteca quisesse usar o candelabro pra ler a carta que ocupava sua atenção naquele momento, ele teria que ficar dando esses passinhos de um lado pro outro pra acompanhar o movimento pendular do lustre.
Mas Dom Pedro II era um homem que não se submeteria a tal indignidade. Então, resignado à inutilidade do candelabro e sem vontade de mover sua escrivaninha praquele lado da biblioteca, ele lia a tal carta usando a lanterna do seu indestrutível Nokia 1100. E a cada linha lida, o regente soltava um suspiro de preocupação que, se eu não soubesse da seriedade da missiva, poderia ter confundindo com a exasperação de alguém que descobriu através do Facebook que seu crush começou a namorar aquele cara da faculdade que ela jurava que era “apenas um bom amigo”.
Não; o conteúdo da carta diante o Imperador Brasileiro era imensamente mais grave, e colocava em risco o futuro da nação.
Entre uma apalpada de sua barba e outra (que Dom Pedro II passou a cultivar após ver uma matéria sobre Charles Darwin no Globo Repórter), o monarca levantava os olhos da carta, mirava pela trilhonésima vez pro único canto iluminado da biblioteca, e como era de costume sempre que fazia isso, amaldiçoou a família do arquiteto que resolveu colocar o candelabro num local tão sem sentido.
Dom Pedro II, que eu vou começar a chamar de Dom Pedro mesmo porque o I só aparecerá na história lá mais tarde então não preciso ficar distinguindo um do outro no momento, finalmente deitou a carta na sua escrivaninha. Da primeira gaveta à esquerda ele puxou uma elaborada caneta de pena, sabe aquelas? Tu sabe.
Da mesma gaveta ele puxou uma folha com os dizeres “DO ESCRITÓRIO DO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DOM PEDRO II M.D. All Rights Reserved©”.
Dom Pedro pôs a caneta no papel, e ensaiou o começo de uma resposta, mas parou antes de completar o rascunho da primeira letra. Soltou um longo suspiro, pensou, apalpou a barba novamente, e tentou mais uma vez. Parou de novo, sacudindo a cabeça negativamente. Como alguém que procrastina estudar para uma importante prova, ele continuou nesse negócio de QUASE escrever a carta, e se interromper logo em seguida, em profunda indecisão. Numa explosão de frustração, Dom Pedro finalmente arremessou a caneta pro outro lado da biblioteca, na esperança de acertar o candelabro solitário no cantinho do salão. E errou.
“Puta que pariu”, disse o imperador, enfiando as mãos no rosto, ou o rosto nas mãos, sei lá, na real é o mesmo movimento se tu parar pra pensar. “Dessa vez a ghente se fodeu mesmo. O Brasil está fodido“.
Naquela época eles falavam “ghente”, com H. O Brasil de 1875 era outro mundo.
Porém, convencido a fazer o necessário para garantir o futuro da nossa pátria, Dom Pedro reuniu as forças e começou a escrever uma resposta para a carta que o causou tanta preocupação.
Uma resposta, não — várias.
Fortaleza, CE — 12 horas antes
(Continua…)

November 5, 2015
A curiosa história dos cometas, parte 2: a seita Heaven’s Gate
Lembra desse texto? E que eu havia prometido uma continuação que trataria dos malucos que atribuem aos cometas significados esotéricos e tal? Então, aqui está.
Como eu havia mencionado, tem o tal cometa Hale Bopp, né. Em 1997, o cometa fez uma passagem pelo nosso planeta. Ele só passará de novo no ano 4385, e eu não acho que estaremos vivos pra presenciar, então se tu não era nascido naquela época ou era apenas um bebê você e fodeu.
Existia um grupo de malucos/religiosos na época chamado “Heaven’s Gate”, ou “Portão Celeste”numa tradução livre. Quando eu digo que eram malucos/religiosos, não faço isso por causa de algum preconceito contra pessoas de fé nem nada. É que o Heaven’s Gate era de fato 90% malucos, 10% religiosos. Vamos conhecer os caras.

Vamos concordar logo de cara que um logotipo em WordArt não inspira muita confiança.
O Heaven’s Gate era um grupo esotérico “milenarista”, que é o termo usado pra descrever a galera meio “Age of Aquarius” que acredita que estamos na beirada de alguma imensa revolução da consciência humana ou algum papo hippie assim.
E o Heaven’s Gate achava que nós, humanos, somos guiados espiritualmente por alienígenas ou coisa similar. Talvez fomos criados por eles. Talvez somos reencarnações deles. Se parece meio indeciso, é porque a doutrina dos caras realmente mudava constantemente.
Quem era o sujeito por trás do movimento? Era um camarada chamado Marshall Applewhite, que nos anos 80 era o portador de uma das maiores “caras de maluco” nos Estados Unidos:

Se você já achava que o logotipo da religiao não inspirava confiança…
Nos anos 70, o Marshall conheceu uma enfermeira chamada Bonnie Nettles. A mina era chegada numas viagens esotéricas, que era justamente a praia dele também, e rapidamente viraram grandes broders. Eles discutiam frequentemente suas teorias em relação ao universo e a alma humana, e aí decidiram (por que não?) que eram uma espécie de profetas do retorno dos alienígenas. Misturando teologia bíblica, ficção científica e provavelmente uma erva da boa, os dois bolaram o rascunho da sua religião e resolveram ir pregar as boas novas.
Não surpreendentemente, as igrejas evangélicas em que os dois foram pregar receberam suas teorias heréticas extremamente mal. A dupla de malucos não se desmotivou; em vez disso decidiram que estavem abordando o público-alvo errado. Eles começaram a publicar anúncios fora do círculos cristãos, procurando outros malucos mais receptivos às suas idéias de deuses alienígenas.
Mais ou menos nessa época eles lançaram outro patch na sua fé — os dois começaram a alegar que eles eram representantes terrestres dos tais alienígenas, e que estavam em busca de humanos para experimentos. Os que concordassem em participar fariam um level up para um nível evolucionário superior. Sabe os joguinhos freemium que te bonificam com algumas moedinhas virtuais se tu assiste uma propaganda ou manda invite pros amigos? Era mais ou menos isso, mas no nível espiritual.
A propósito, manja o naipe dos vídeos que ele gravava pros iniciantes na seita:
Repare que lá por volta dos 4 minutos ele começa a basicamente se declarar uma reencarnação de Jesus — mas sem falar isso diretamente; a impressão que dá, por causa da aparente confusão dele em explicar a “teoria”, é que ele havia acabado de bolar aquilo naquele exato momento, e surpreendeu a si mesmo com a “epifania”. Maluquice fode.
Então. Esse rapaz conseguiu convencer uns outros CINQUENTA malucos a adotar sua crença, o que é interessante porque eu não consigo convencer três amigos pra me ajudar na mudança ou uma amiga pra um menagezinho. Parte do dogma do sujeito é que o corpo humano era apenas um “veículo” para o espírito; todas as coisas materiais eram desimportantes. Não é exatamente original, mas o sistema de crença do Heaven’s Gate era uma colcha de retalhos mesmo. Ninguém espera que malucos inventem coisas coerentes, né?
Eventualmente o papo de “olha o planeta vai ser resetado, e os aliens estão vindo aí um dia pra salvar os Escolhidos!” se tornou mais emergencial. O grupo passou a empurrar mais a mensagem de “se arrependam todos, o fim está próximo!” e se mudou pra uma mansão alugada, onde passaram a viver como uma comunidade hippie — mas sem o tal “amor livre” que é característico tanto dos hippies quanto dessas seitas esotéricas.
Aliás, não tinha amor NENHUM no Heaven’s Gate. Como uma parte da doutrina era sacrificar todas as posses e prazeres terrenos, todos os membros masculinos da seita foram ao México para serem cirurgicamente castrados.
Por livre e espontânea vontade. Até o próprio Applewhite deu adeus ao seu bilal, ou seja — cê vê que chama-lo de maluco não era exagero meu.
PELO AMOR DE DEUS O QUE DIABO ESSE MALUCO DESPIROCADO AÍ (literalmente) TEM A VER COM COMETAS PORRA?!
Então. Os caras realmente achavam que o planeta seria formatado e reiniciado com uma cópia novinha do Windows, e que a única forma de se salvar era pegar uma carona com uma espaçonave que estaria escondida atrás do cometa Hale-Bopp. Então o pessoal começou a se preparar pro ritual de “partida”.
O grupo vestiu calças pretas de moletons e camisetas pretas, com uma insígnia no braço que dizia “Heaven’s Gate Away Team”. Era essa a insígnia:
“Away Team”, como quem manja de Star Trek deve lembrar, é o time que sai da nave pra fazer alguma missão de exploração. Como eles consideravam os próprios corpos “veículos”, ao se desencarnar, os membros do Heaven’s Gate se tornavam um Away Team.
E foi o seguinte. Ao longo de alguns dias, a galera se dividiu em 3 grupos. Os caras tomavam uma mistura de fenobarbital, suco de maçã e vodca; o grupo restante colocava sacos plásticos nas cabeças deles, pra finalizar a asfixia. Uma vez mortos, o pessoal restante colocava um pano roxo cobrindo o corpo dos defuntos.
Manja como era grotesca a parada:
Quando o primeiro grupo já tinha falecido, era a vez do próximo. O ritual se repetia, até que sobraram só duas mulheres. Essas foram as únicas que ficaram sem os sacos plásticos na cabeça.
Se você tiver estômago pra isso, aqui há um vídeo em que os membros da seita dando seus “Exit Statements”, ou seja, suas declarações finais antes do suicídio. Este outro é mais curtinho. Neste outro, o líder da parada dá suas considerações finais, e filma vários dos membros do negócio, usando os tais uniformes de “Away Team” nos quais eles foram encontrados sem vida.
Nesse último aí, há um certo tom de “você que está assistindo esse vídeo anos depois certamente já conhece esses caras, já que seremos os famosos salvadores da humanidade, mas vamos apresentar eles pra você assim mesmo”. E percebe-se também a curiosa nomenclatura pros membros da seita — todos abdicaram de seus nomes e adotaram alcunhas como “JMMODY” ou “PRESSODY” ou “DVVODY”. “Ody”, a propósito, era um honorífico lá deles; aos 1:07:20 ele explica a semântica por trás do tal sufixo ODY.
Em um momento o Applewhite fala “eles terão uma chance de mostrar que não são mudos nem coisa do tipo, eles conseguem controlar o veículo deles plenamente e tal”. Traduzido do Heaven’s Gatês, isso deveria significa algo como “quero deixar claro que estão todos aqui por plena e livre vontade”.
A parte particularmente tensa é o momento em 31:30, em que o Applewhite filma um dos membros e diz “que bom ter o fulano de volta em nosso meio, ele esteve longe de nós por um tempo mas o resgatamos”. Nas entrelinhas, é perceptível que o que deve ter rolado é que o sujeito teve uma crise de fé, mas foi convencido a retornar para o grupo. Ou seja — por pouco, poderia ter sobrevivido ao pacto de suicídio.
E é muito bizarro ouvi-los falando “não, de boa, a gente sabe o que está fazendo, e malucos são vocês por não aceitarem a Verdade”. Os caras estavam completamente convencidos de que o que estavam fazendo era perfeitamente lógico.
Acho esse tipo de seita morbidamente fascinante; é muito intrigante pra mim a mentalidade de estar tão firmemente convencido em uma certa filosofia ou ideologia que você está disposto a morrer por ela. Assim como é bizarro que o cara não está falando NADA COM NADA — sem exagero, a maioria das mensagens dele não faz o menor sentido –, mas que aquilo é recebido pelo grupo como uma mensagem coerente e importante.
O mais interessante sobre o Heaven’s Gate é que, ao contrário de muitos outras seitas suicidas, eles documentaram muitos das suas práticas e doutrinas, que nos permite compreender um pouco melhor a maluquice. Não que compreendamos muito — eu nunca conseguirei entender como que o sujeito vai pro México se castrar voluntariamente –, mas pelo menos serve como um fascinante registro histórico.
Ah, e não, não tinha nave espacial atrás do cometa e eles se foderam à toa. Tem isso também.
Ahhh, quase esqueço: o site dos caras ainda está no ar.

October 28, 2015
Meu livro vai sair em versão física, finalmente!
O melhor autor cearense desde José de Alencar e Rachel de Queiroz está de volta*.
Sabe o meu livro, o Todo Dia Tem Uma Merda? Então, por anos me pediram por uma versão física (já que ebook “não é livro de verdade”, já ouvi falar), através de uma parceria com a Bookstart, AGORA VOCÊ PODE COMPRAR A VERSÃO FÍSICA LINDONA PRA PÔR NA PRATELEIRA OU ATÉ MESMO PRA CALÇAR UMA MESA!
Puta merda mano! O livro que chocou a internet brasileira, com contos clássicos como O DIA EM QUE EU CAGUEI NO TAPETE DO BANHEIRO e O DIA EM QUE SOLTEI UM RAO NA LOCADORA DE VIDEOGAME, está agora disponível em versão com átomos, peso, e que faz sombra se posto na frente de uma fonte luminosa.

Compra, mano
E dependendo do seu nível de contribuição — que eu interpretarei como o quanto você me ama –, tu leva não só o livro, mas também alguns badulaques extras como camiseta, marca páginas, pôster… porra mano! Se duvidar nem no seu último aniversário tu ganhou tanta coisa.
“MAS IZZY EU JÁ LI ESSE TEU LIVRO AÍ UMAS QUATRO VEZES JÁ MANO” é, mas tu não leu as CINCO (05) HISTÓRIAS INEDITÍSSIMAS QUE EU ESCREVI EXCLUSIVAMENTE PARA ESTE VOLUME HISTÓRICO. Eu estive TÃO engajado em me meter em novas peripécias pra esses contos adicionais exclusivos que estive propositalmente tomando menos cuidado com inúmeras coisas. Uma das novas histórias envolve um RG permanentemente coberto com desenhos de pirocas.
Sério.

Compra lá, broder
E tem mais. O TDTUM é o primeiro volume da Trilogia do Cearense. O segundo volume se chamará Todo Dia Tem Uma Merda: Parte 2. A capa já está pronta:
E a conclusão da Trilogia será o Crônicas da Sex Shop, um livro em que contarei minhas presepadas trabalhando numa loja de artigos adultos como bonecas infláveis e duchinhas anais, que é exatamente o que você pensa que é, mas eu vou descrever de uma forma ainda mais engraçada.
A arte da capa também já está pronta, pra tu ver que o negócio é sério mermo:
Agora, é o seguinte: embora ambos os livros já estejam sendo escritos, por ter mil outras coisas acontecendo ao mesmo tempo (vlog/podcast/blog/estudos/trabalho “de verdade”/dar atenção à esposa, família e amigos de vez em quando), a prioridade de terminar esses livros é bem baixa. Afinal, escrever livros — embora seja provavelmente o primeiro sonho de infância do qual consigo me recordar — é algo que me dá um retorno relativamente baixo. Tendo tantas outras atividades tomando a primazia, pelo andar da carruagem eu corro mais risco de morrer antes de completar minha série, do que o George R R Martin corre de morrer antes de terminar a dele.
E olha o tamanho do cara.
Mas você e seu cartão de crédito/boleto bancário podem mudar essa história. Se o Todo Dia Tem Uma Merda for financiado, AMBOS OS OUTROS DOIS LIVROS SERÃO LANÇADOS NO ANO QUE VEM. Falando sério agora — se você curtiu o meu primeiro livro, e gostaria muito que houvesse dois outros pra fazer compania a ele, depende agora exclusivamente de você. Como recebo emails e tweets DIARIAMENTE perguntando “cadê os outros livros, Izzy?!?!?!“, imagino que exista o interesse de ler os outros dois capítulos dessa minha maluca aventura.

Compra essa porra aí, broder
Então é isso. Eu só preciso que aproximadamente 200 pessoas contribuam com o valor de 30 reais. Este blog é acessado diariamente por mais de quatro mil pessoas. Meu último vídeo foi visto por mais de cem mil pessoas. Eu SEI que tem pelo menos 200 de vocês que comprariam essa parada.
Porra, e nem é caro, vai! É o equivalente a um preço de ir ver um filme do Adam Sandler no cinema, com a diferença de que ele já tem 300 milhões de dólares (puta que pariu…), e eu só preciso vender R$ 6800 de livros pra que a parada aconteça — e garantir que há interesse o bastante pra eu colocar “termine os outros dois livros caralho!” no topo da minha lista de prioridades. Nem que pra isso eu tenha que tirar “finalmente zerar GTA5″ da posição número 1.
Então, compra meu livro, vai?
*“melhor” no sentido de que é o que está mais vivo atualmente

Netflix trai a confiança de todos nós fazendo filme do Adam Sandler
Você imaginaria que pelo menos a empresa que ganha dinheiro com os abortos cinematográficos do Adam Sandler gosta do cara, mas uma das muitas coisas que descobrimos com aquele hack da Sony no ano passado é que nem eles entendem o apelo do “comediante”. Veja bem: os caras ganham dinheiro diretamente com o sujeito, e nem eles conseguem dar um bom motivo pra continuarem contratando o ator.
Isso é como você ter um amigo que te convida semanalmente pra orgias com coelhinhas da Playboy, e ainda assim você sinceramente não consegue entender por que é amigo do cara. Ou seja — imagine o tipo de personalidade pútrida que o sujeito deve ter.
Pois bem, contrariando qualquer lógica e provando que não existe um deus neste universo, o Netflix resolveu fazer um filme com o Adam Sandler. Aí está a merda:
Enquanto você assiste esta bosta, lembre-se que há pelo menos uns 15 anos o Sandler não faz um bom filme, mas que a despeito disso ele ganhará 15 milhões de dólares por essa porcaria. E não apenas isso, mas há outros 3 filmes agendados com o serviço de streaming, ou seja — O Adam Sandler, que se ganhasse 100 reais pra fazer stand up já estaria sendo bem pago, é agora 60 milhões de dólares mais rico que você.
E eu já sei que você você vai falar: tu fez a conta dos tais 15 anos, viu que Click saiu mais recentemente que isso, e dirá “mas Izzy, e Click? Click é um filme bom!” Isso serve apenas pra mostrar o quão pouco esperamos do Sandler após sua saída do SNL (nem naquela época ele era particularmente engraçado, diga-se de passagem): Click é um filme medíocre com 6.4 no IMDb e 32% no Rotten Tomatoes, mas comparado à filmografia do Adam Sandler, Click é como se O Poderoso Chefão e Um Sonho de Liberdade tivessem um filho juntos, dirigido pelo Paul Tomas Anderson.
Click é como encontrar uma moeda de 50 centavos no meio de um tolete — sim, está coberto de bosta, e mesmo que não estivesse é de pouco valor, mas considerando o contexo em que ele está inserido, é até memorável.
Se há alguma vantagem nessa parceria do Sandler com o Netflix é que ao menos nós não estaremos dando o NOSSO dinheiro pra ele, ao menos não diretamente. Há uma certa ironia no fato de que os próximos filmes do Sandler não venderão um ingresso sequer, sendo pagos inteiramente pelos mesmos executivos que deram luz a filmografia do ator.
É como se os caras que trouxeram a carreira do sujeito à vida estão finalmente pagando o preço pelo que criaram.
Uma pensão alimentícia cinematográfica. Menos mal.

October 20, 2015
Prey for the Gods, um Shadow of the Colossus para PC (e o chilique resultante)
Eu não preciso te falar que sou um grandíssimo fã de Shadow of the Colossus porque é difícil conhecer um gamer que NÃO seja. Mas mesmo assim, eu vou te falar.
Shadow of the Colossus capturou minha imaginação desde a primeira vez que vi o trailer. Aliás, é curioso como o framerate do jogo era capenga — eu já sabia, através de comparações no YouTube, que o framerate do release original pra PS2 era sofrível, mas eu tinha esquecido que já era possível ver isso no próprio trailer do jogo. Tínhamos uma tolerância maior naquela época, acho.
Aliás, fui dar uma olhada nas resenhas da época (pra ver se listavam o framerate epilético como demérito do jogo) e me surpreendi com o layout berrantemente escroto da IGN, que era naquele período o site gamer que eu mais visitava. Alguém ainda aguenta ler essa merda?! Aliás, alguém ainda lê a IGN…?
Enfim. Comprei o jogo assim que saiu e zerei em menos de dois dias, tamanha foi a minha conexão com a história. Alternando o Dualshock com meu irmão, ora eu controlava o Wander, ora sugeria ao meu irmão estratégias de como derrotar os colossos. Jogão. Jogão FODA. Existe um motivo pelo qual o jogo sempre consta na discussão “seriam videogames arte?” (que, sinceramente, em 2015 me soa bem datado).
De lá pra cá, é notável o número de jogos que não surgiram se baseando na mesma fórmula. Com exceção de algumas batalhas de chefões do God of War (bom, o primeiro God of War saiu alguns meses antes de SOTC, mas enfim), e mais recentemente o semi-desconhecido Dragon’s Dogma, esse negócio de “bonequinho minúsculo montando em bichões enormes” permaneceu um território relativamente não explorado.
Até agora.
O ambicioso Prey for the Gods — um trocadilho interessante de Pray (rezar) e Prey (presa) — parece finalmente resgatar, uma década depois, aquele gameplay que fez de SOTC uma experiência tão ímpar. Sabe-se pouco sobre o game no momento, além do fato de que a protagonista é uma garota que vive numa região amaldiçoada com um inverno sem fim, e aparentemente a única solução pro problema é matar os próprios deuses a quem a garota (e presumivelmente seu povo) cultua. Esses bichões imensos aí.
A internet obviamente começou a chilicar assim que o trailer apareceu. Versão paraguaia de Shadow of the Colossus, disseram em uníssono. Uma cópia barata e vergonhosa. Nossa, como eu detesto a comunidade gamer as vezes.
Eu acho isso particularmente curioso porque gamers, de forma geral, não são exatamente o grupo que mais preza por direitos autorais. Somos, afinal de contas, a galera que tornou o PS2 o console mais popular no Brasil porque era moleza acumular uma pasta lotada de DVDs piratas. Ou que tomamos banimentos em massa da Xbox Live por tentar a mesma coisa na geração seguinte, mas continuamos acreditando firmemente que nós somos a vítima da situação.
Ou que baixamos ROMs rindo da (agora ultrapassada) recomendação de que só poderíamos manter as ROMs por 24 horas — algo que nunca foi verdade, a propósito. Colocamos vídeos de gameplay no YouTube quer as empresas detentoras da propriedade intelectual queira ou não — e frequentemente elas não querem. Usamos livremente as figuras de personagens de games como identidade virtual em fóruns, sites de redes sociais e o caralho. Somos uma das poucas comunidades que é tão dedicada à pirataria que isso requer gambiarras complexas e hardware específico. Ou tu acha que bootloaders e flashcarts são coisas amplamente conhecidas pela população “civil”?
Por essas e outras, esses berros estridentes reclamando do desrespeito com propriedade intelectual me soa absurdamente hipócrita vindos dessa comunidade. Se tem um subgrupo que definitivamente não deveria atirar pedras por desrespeito com copyright, somos certamente nós.
E não me venham com o argumento de que “ah, o problema não é exatamente o copyright, é a falta de originalidade mesmo!”. Eu aceitaria essa reclamação se não fosse direcionada contra uma indústria que fez 89 Call of Duty, 136 Tony Hawk’s Pro Skater ou 7891 Rock Band. Tem um novo FIFA TODO ANO, todo santo ano, a despeito do fato de que o futebol é essencialmente o mesmo jogo desde os tempos do FIFA International Soccer.
Qual exatamente é a justificativa pra lançarem um novo FIFA todo ano?! Ah, é porque a tecnologia gráfica avança TANTO de um pro outro, o gameplay é remodelado com tanto afinco a cada iteração da série, que no FIFA 54 vai dar pra distinguir cada pelinho da barba dos jogadores e você poderá controlar cada membro individual do corpo do jogador?
Porra nenhuma mano. Só mesmo um total aficcionado pela série, do tipo que lê todos os changelogs entre uma versão de um software pro outra, poderia distinguir com precisão um FIFA novo da versão do ano passado. Aliás, eu arriscaria dizer que se tu colocar alguém pra ver um jogo de FIFA 16 e FIFA 13, a pessoa não conseguiria discernir qual é qual.
Excetuando os menus, evidentemente — através deles é mais fácil distinguir um jogo do outro. Só que eu tenho certeza que você não compra o novo FIFA por causa das melhorias na tecnologia de menus animados então não engane a si mesmo usando isso como argumento.
“Ah mas os uniformes do 16 são diferentes…” se a mudança de uma pequena textura no corpinho dos jogadores virtuais é justificativa suficiente pra lançar um novo jogo — pelo preço inteiro –, acho que você provou meu ponto.
Especialmente quando essa é exatamente a ÚNICA justificativa honesta pra DLC. Não há como os desenvolvedores anteciparem como o uniforme do Itapipoca Esporte Clube mudará ano que vem, ou quem será o goleiro do Pinhalnovense depois do campeonato, então pagar um pouquinho extra pra ter os times atualizados faria sentido pra quem quer. Só que vender um jogo por 200 reais no ano seguinte faz mais sentido pra desenvolvedora, óbvio.
ALÉM DO MAIS, chega a ser realmente surpreendente que a fórmula do Shadow of the Colossus ficou praticamente intocada por uma década. Jogos muito impactantes costumam, pra melhor ou pra pior, render uma série de filhos bastardos — pra cada GTA teve um Saints Row; pra cada Quake, um Unreal; pra cada Medal of Honor, um Call of Duty; pra cada Putt Putt teve… nada, pois Putt Putt foi incomparável.

10/10
Porra, passaram-se 10 anos, galera. O próprio Team ICO, que que está trabalhando no The Last Guardian desde 2007 (!) e que até hoje nos mostrou bem pouco, parece ter abandonado completamente aquele tipo de gameplay. Não vejo absolutamente nada de errado em deixar outra empresa trabalhar com aquilo.
E tem mais. Esses pessimistas profissionais aí já pararam pra pensar que talvez, TALVEZ, Prey for the Gods acaba sendo uma experiência MELHOR que Shadow of the Colossus? Eu sei que estou beirando o sacrilégio, mas não é como se isso nunca tivesse acontecido antes — na época do lançamento de Uncharted, tinha gente dizendo que não era nada senão um plágio de Tomb Raider:

Mimimimi
Hoje, alguém desqualificando Uncharted como “uma mera cópia sem graça de Tomb Raider” soa ridículo, não é? Assim como alguém que chamasse Half Life de medíocre porque “é basicamente (insira qualquer FPS que saiu antes)”. Aliás, sabe o universalmente celebrado Portal?
Aposto que tu não sabia que o conceito dele foi inteiramente copiado de outro jogo:
Se deve haver alguma cautela na sua expectativa por Prey for the Gods, isso se deve mais ao fato de que o time é composto apenas por 3 caras que fazem o jogo no seu horário livre. Vai ser realmente desafiador sair um jogo de alto calibre de um time tão pequeno, mas estou esperançoso de que o jogo será interessante mesmo assim.

A curiosa história dos cometas
Um leitor reclamou outro dia que eu não escrevo mais tantos posts sobre ciência, como este das lombrigas ou este aqui das abelhas. Deve até ter alguns outros aí que esqueci.
É irônico que não haja mais textos seguindo esses moldes, porque são os que eu mais gosto. Esses textos são uma mistura das duas características que me definem melhor, desde a infância — insaciável curiosidade, e um hábito de transformar TUDO em piada.
É assim: alguma curiosidade me bate aqui, e aí antes que eu perceba eu já li uns 3 ou 4 ou 50 artigos na Wikipédia sobre aquele tema. No que vou lendo o artigo, me ocorre que há uma boa parcela do meu público que não sabe quase nada sobre o assunto; um espírito meio pedagógico toma conta de mim e eu resolvo então escrever um texto explicando o negócio — com piadinhas.
Então, COMETAS!

Esse passou RASPANDO
A maioria das pessoas sabe bem pouco sobre cometas, eu diria. Um deles teria fodido os dinossauros, ou algo assim…? É o nome de uma empresa de fretes, né não?
Cometas são pequenos pedregulhos congelados que orbitam ao redor de uma estrela, geralmente com uma órbita que vai dar a volta lá na casa do caralho, e por isso eles demoram um tempão pra reaparecer. Pra tu ter uma noção, consideram-se “cometas de período curto” aqueles que demoram “só” 200 anos dando essa volta no sol. O Hale-Bopp, que foi provavelmente o cometa mais observado pela civilização humana, só vai voltar aqui mais de dois mil anos. Aliás, guarde esse nome, será relevante mais tarde.
Como nos ensinou o Balão Mágico, cometas tem cauda. São, até onde sabemos, o único astro com tal característica. Isso acontece porque o núcleo de um cometa, assim como o coração do professor de Cálculo Vetorial que em 2003 me reprovou e falou que se dependesse dele eu reprovaria outras 5 vezes, é feito de gelo. Quando o bicho se aproxima do sol, o cometa e não meu professor de Cálculo Vetorial infelizmente, este ferve o gelo lá dentro.
O gelo sobe à superfície do astro e forma uma mini-atmosfera, que eu interpreto como a sua forma de se entrosar melhor com os planetas dos quais ele se aproxima. O Sol, que é macaco velho e não cai nessas fuleragens, sopra vento solar (que na verdade são partículas ionizadas que o sol cospe pra todas as direções) pra cima do cometa, o que empurra essa atmosfera pra puta que o pariu. E isso cria a tal cauda na qual o Balão Mágico sugeriu que poderíamos pegar carona.

Como eles não eram exatamente astrofísicos de renome, ou até mesmo sem renome, não recomendo essa sugestão
Uma coisa que eu não sabia sobre cometas é que nem todos eles saem do sistema solar. Como passam muito tempo sem dar as caras, como é o caso do famoso cometa Halley — aliás, talvez o MAIS famoso –, eu acha que os bichos saiam do sistema solar pra dar uma volta no espaço interestelar. Não é o caso com o Halley: ele passa perto o bastante de Plutão pra dar um tchau e volta em direção ao sol.
A propósito, Halley é o único cometa visível a olho nu que pode ser observado duas vezes por alguém. Essa volta toda dele demora entre 75 e 76 anos; sua próxima passagem está agendada pra 2061, que é um excelente motivador para que eu pare de comer no McDonalds ou usar milkshake como o leite do meu sucrilhos. O interessante do Halley é que, apesar de ter sido visto inúmeras vezes pela civilização humana, não tinhamos o know how astrômico pra sacar que aquelas aparições eram o mesmo corpo celeste. Só em 1705 alguém finalmente falou “MATEI A CHARADA, É A MESMA PARADA”, um cara que coincidentemente tinha o mesmo nome do astro: Edmund Halley.
Pra constar, Halley não é o cometa que passa com mais frequência por estas bandas. Nosso freguês cativo é o pequenino 19P/Borrelly, que de 6 em 6 anos dá o ar de sua graça. Na escala astronômica isso é tão breve que é como se ele basicamente morasse aqui com a gente.
Só que um cometinha minúsculo de merda desse que não dá nem pra ver é a coisa mais sem graça do mundo. Aliás, nem “do mundo”: é a coisa mais sem graça do sistema solar.
DE ONDE VEM ESSAS MERDAS, você se pergunta? A teoria vigente é que eles são fabricados na nuvem de Oort, uma espécie de “cerca” que, bem, cerca o sistema solar. A nuvem é composta de diversos pequenos corpos celestiais feitos de gelo, e ocasionalmente um deles é capturado pelo nosso sol e começa essa peregrinação espacial. Curiosamente, a teoria da nuvem foi elaborada justamente pra explicar a existência de cometas, algo que eu também não sabia.
Aliás, o que eu também não sabia é que a nuvem de Oort é IMENSA. Tipo, ela é grande PRA CARALHO, maior do que você deve estar imaginando. Pra você ter uma noção, ela se estende até mais ou menos METADE do caminho daqui até a estrela mais próxima. E se você lembra bem, demora QUATRO ANOS pra luz ir daqui até lá.
A gente demorou a manjar qual que era a dos cometas, e por muito tempo nossos antepassados supersticiosos acharam que a passagem de um cometa significava desastre. Aliás, a própria palavra “desastre” está intimamente ligada a cometas: o termo originalmente significa algo como “má estrela”; daí isso o “astre” na palavra. Não deve ser coincidência que “catástrofe” também tem “astro” no meio (mas é sim, eu pesquisei e descobri decepcionado que curiosamente não tem conexão com “estrela”).
E antes que você dê um tapinha nas próprias costas “rsrs, esses nossos antepassados eram bem bobinhos né…”, fique sabendo que a crença de que cometas tinham algum significância espiritual/metafísica não era exclusividade dos povos da antiguidade.
Mas isso é assunto pra outro post. Lembra do Hale-Bopp que eu mencionei lá atrás? Então. Tem a ver com ele.

October 16, 2015
Relembrando o Nintendo On, o mais cruel hoax gamer da internet
A realidade virtual vem chegando aos poucos aí — primeiro com o gambiarrístico Oculus Rift, e agora com uma proposta mais “retail”, mais “consumidor médio” no Playstation VR. Ponho mais fichas no VR da Sony do que no Oculus Rift; não por fidelidade cega à empresa, mas porque eu imagino que a integração com o hardware será melhor quando este é implementado por alguém de peso na indústria. Eu não sei exatamente o que é preciso pra rodar um jogo com Oculus Rift (algum tipo de driver obscuro? Um patch do jogo? Minha máquina sequer tem capacidade de rodar isso aí…?), enquanto o VR eu sei que poderei comprar e plugar no PS4 com bem mais simplicidade.
Haverá, ao menos teoricamente, um incentivo beeem maior pra produzir games pro Playstation VR do que pro Oculus Rift. Compare a base instalada do Playstation 4 (ou seja, consumidores em potencial que de forma geral estão atentos aos lançamentos para a plataforma, seja software ou hardware), com o número de pessoas que sequer sabem que o Oculus Rift existe. É inegável que o VR venderá mais, e com a expansão da base instalada vem os devs loucos pra pegar uma fatia desse mercado.
Aliás, quando a Sony flexionar seu poderoso braço de marketing pra empurrar o VR pra todos os donos de PS4 (ou até usa-lo para convencer alguém de adotar o console), o Oculus Rift vai ironicamente se tornar mais conhecido — porque os fanboys early adopters torcerão o nariz pro headset de realidade virtual da Sony, dizendo “bah, eles não inventaram isso na real, o Oculus Rift veio primeiro!!!!!!!!” pra qualquer pessoa num raio de 10 metros toda vez que o Playstation VR for mencionado.
Particularmente, como dono de Playstation 4, eu estou bem animado para o VR — por mais que não tenha nem preço nem data de lançamento ainda. Eu estou cansado dessa corrida besta por gráficos; isso já atingiu o ponto de diminishing returns há um bom tempo (em outras palavras, já atingimos um ponto de fotorrealismo que torna impossível alguma grande revolução gráfica).
Afinal de contas, uma coisa foi o salto disso…
…pra isso:
Mas quando o atual análogo de Pitfall já tem essa aparência:
…que espaço há para evolução gráfica? Dará pra perceber mais pelinhos na barba do Drake? Vai dar pra perceber melhor a costura do camiseta dele? Se o Drake peidar durante um tiroteio, a composição do ar nas proximidades será levemente afetada pelo metano e causará uma refração maior na luz virtual do jogo?
Lembra quando era um hábito em fóruns de games esmiuçar as comparações gráficas de um jogo do PS3 versus o mesmo game no Xbox 360, literalmente procurando pixels no aliasing de uma screenshot?
Não sei você, mas quando vi o Pitfall do SNES (tendo jogado bastante o do Atari), meu queixo caiu. Agora, vemos uma imagem que poderia facilmente confundida com um screenshot de um filme e não achamos suficientes. Eu já cheguei a ver uma partida de FIFA e por alguns instantes não sabia se estava vendo um jogo de verdade ou não, e uma pesquisa rápida no Twitter revelou que não fui o único.

A versão do ano que vem terá três cores adicionais que acabaram de ser inventadas, e o reflexo nos óculos do cara ali na terceira fileira da arquibancada do meio terá uma resolução maior e física mais realista
Sei que prever que atingimos o limite de algo referente a tecnologia é arriscado, mas admitirei esse risco: gráficos não tem como ficar muito melhor que o que já temos. Isso é o conceito diminishing returns em ação — chegamos ao ponto de que qualquer esforço, por maior que seja, dará um retorno levemente incremental no que diz respeito a gráficos e nada mais.
E por isso estou bem empolgado para a popularização da realidade virtual. Não colou nos anos 90 (RIP in peace Virtual Boy e aqueles arcades caríssimos que pareciam que você estava se equipando para pilotar um Jager), mas AGORA VAI!

Por apenas 10 reais por segundo você também poderá ver as pecinhas de Tetris bem grandes na frente da sua cara
E essa minha animação com realidade virtual me lembrou do hoax mais cruel que a internet já produziu: o Nintendo On.
No longínquo ano de 2005 (porra, DEZ ANOS ATRÁS CUPADE), quando a Nintendo estava em vias de finalmente nos mostrar o que era o tal “Nintendo Revolution”, este vídeo apareceu nos fóruns de games da internet e fez todo mundo cospir o que estava bebendo naquele momento, que no meu caso era suco de uva:
Caso você tenha achado a música legal, taí. E ó que curioso: a música é do mesmo compositor que fez a trilha de Perdido em Marte.
A única indicação de que a coisa poderia talvez ser fake é que parecia muito ambiciosa, e sem um grande antecedente (digamos, uma versão mais rudimentar mas que fizesse algo similar) pra garantir que a tecnologia funciona tão bem quanto mostrada. Com um nível de produção que a gente simplesmente não esperava de um simples pregador de peças — ainda mais numa época pré-super produções Youtubísticas vindas de indivíduos comuns –, o Nintendo On passou a perna em MUITA gente. Cético que sempre fui, eu tinha 5 pés atrás com o Nintendo On, mas ainda naquele espírito de “I Want To Believe”.
E quando a Nintendo finalmente nos mostrou o Wii (logo após parar de fazer piadinhas com o nome) bateu aquela “nostalgia do que nunca tivemos” quando comparamos o console imaginário que seria o Nintendo On com a maquininha de jogos casuais pra mamãe e pro vovô que o Wii acabou sendo.
Hoje em dia, o hoax do Nintendo On teria durado, se muito, algumas horas. Primeiro, já estamos mais familiarizados com magos do After Effects que populam o YouTube hoje em dia, então a hipótese de um fake (muito) bem produzido seria bem mais crível.
Segundo, vivemos numa era em que empresas conseguem se comunicar diretamente com seus consumidores através de redes sociais, então a Nintendo desmentiria a parada no mesmo dia, para o choro de muitos.
Terceiro, de lá pra cá tivemos bem poucas tentativas de produtos de realidade virtual, e todas elas lembram mais o tal “uma versão mais rudimentar mas que fizesse algo similar” que mencionei antes. Então, conhecendo o Oculus Rift, a chance de você acreditar que DE REPENTE a Nintendo conseguiu enfiar aquilo tudo num aparelho não muito maior que óculos pra natação, em vez de ter feito uma evolução mais gradual do que o Oculus Rift é (veja o próprio VR da Sony — é basicamente um Oculus Rift melhorado, mas em essencia bem similares) seria baixa.
Ou seja, o sensor de “esmola grande” apitaria, o que faria o canonizado expressar incredulidade.
Mas que foi uma pena, foi. O Nintendo On chega a ser, eu diria, uma crueldade com o gamer cansado da mesmice e que deseja uma mudança mais radical de paradigma.
O foda é que o On só teria Mario e Zelda mesmo, então se pensar bem perdemos relativamente pouco.

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