Izzy Nobre's Blog, page 19
February 8, 2016
Jovens de Calgary morrem fazendo burrice
Tive até que criar uma nova categoria pra esse post. Nunca escrevi algo assim antes no HBD.
Na madrugada de sábado*, oito moleques sem noção aqui de Calgary tiveram a excelentíssima idéia de descer o COP, Calgary Olympic Park, que é uma pista de bobsled, num toboggan.
Pausa pra descanadensezar o texto.
Bobsled, pra quem não manja das parada, é um “esporte” em que 4 malucos sobem nessa porra aí:
E descem essa piroca numa pista de gelo em velocidades que chegam a passar de 100km/h. Lembra de Jamaica Abaixo de Zero? Então. Foi inclusive nesse mesmo local que filmaram o clássico.
Agora me ocorre que era mais fácil só ter falado isso logo no começo.
E toboggan é um daqueles famosos falsos cognatos que professor de inglês adora usar como pegadinha na aula. No português e espanhol (e provavelmente outras línguas também, quem sabe), tobogã é um escorregador; sendo toboágua a variação aquática da estrutura. No inglês, toboggan é uma espécie de prancha usada pra descer uma colina no inverno, ou qualquer coisa que tenha mais ou menos a mesma função.
Aqui está um vlog que fiz anos atrás com inscritos do meu canal descendo uma colina aqui em Calgary que é apropriadamente chamada de “Suicide Hill”.
Não é que o nome do cara que descobriu a colina era Sir James Suicide nem nada do tipo, é que esportes de inverno — até esses mais brandos — são infamemente perigosos. O Michael Schumacher que o diga, coitado. Aliás, sempre me perguntei porque se pronuncia o Michael do piloto como “MI CA EL”, quando outros Michaels no Brasil viram MÁICOU, e hoje aprendi que essa outra pronúncia é mais próxima do alemão.
Por outro lado, Schumacher soa em alemão mais próximo de “Xu-Ma-Rar”, e no entanto o Galvão Bueno nos condicionou a pronunciar americanizado como “Xu-Ma-Quer”, misturando assim pronúncias alemãs e inglesas. Decidam-se!
Enfim. Oito gênios decidiram invadir o Olympic Park na calada da noite e usar um toboggan pra descer a pista de bobsled. De acordo com a página da Winsport, a empresa que administra a pista, você chega a atingir velocidades superiores a 100km/h descendo a parada.
Uma coisa é bater um carro numa parede indo a 100km/h. Agora você imagina numa parede indo a 100km/h nisso:
Foi o que aconteceu. Oito acertaram um portão que divide as pistas, matando dois deles instantaneamente e mandando os outros 6 pra hospitais daqui da cidade. Não que eles tenham batido no portão, saído voando e chegado lá no departamento de emergência, você entendeu o que eu quis dizer.
A porrada foi tamanha que a polícia não conseguiu identificar os corpos; geralmente quando isso ocorre eu fico com a impressão de que a pessoa foi vaporizada com o impacto ou algo assim. Demorou alguns dias pra descobrirem que eram dois irmãos gêmeos que haviam inclusive trabalhado na pista há algum tempo.
Eu moro aqui há 13 anos, e acho que entendo bem a cultura canadense e seus contrastes com a minha cultura brasileira. Mas uma coisa que me surpreendeu é que quase unanimemente, ninguém culpou os moleques pela merda que fizeram.
Todo mundo que eu conheço expressou condolências em relação aos moleques, com alguns chegando ao extremo de culpar a falta de segurança na pista, ou acusar a empresa de não fazer o bastante pra impedir entrada não-autorizada. Uma repórter daqui de Calgary postou uma foto da cerca que protege o local, insinuando que não há segurança o suficiente impedindo alguém de entrar no local.
Até papo de processo contra a empresa já rolou.
Quando os detalhes da história ficaram mais claros — inicialmente era “acidente grave na pista de bobsled”, depois virou “adolescentes morrem após invadir pista de bobsled de madrugada” –, comentei que Darwin os havia ceifado. Por causa disso tomei bronca de follower gringo e fui criticado no subreddit da minha cidade.
(Curiosamente, meu nome como produtor de conteúdo começa a ganhar um espaço nas mídias sociais daqui e isso me deixa empolgado pra continuar produzindo em inglês)
Por outro lado, quando comentei a parada no meu tuiter em portugues, a reação foi unanimemente de “porra, vacilaram feio né. Se foderam“. E eu acho que essa reação é culturalmente interessante.
Nós brasileiros vivemos uma vida bem menos fácil do que a maioria esmagadora dos gringos; com isso, vem uma certa dureza de espírito que, embora seja subproduto de uma forma mais pragmática de se pensar, soa como cinismo ou até morbidez pra quem não está acostumado. Os gringos, angelicais e inocentes, se compadecem com a morte dos malucos; nós imediatamente pensamos que a culpa é deles (e apenas deles) por ter feito algo imprudente e obviamente perigoso.
Porra, o que me chateou mais na história é que esses idiotas desviaram SETE ambulâncias da frota municipal, e usaram seis leitos nos hospitais locais (ocupando incontáveis médicos e enfermeiras) por causa de sua brincadeira. É um ônus violento à saúde pública — que potencialmente deixa outros cidadãos ao léu se precisarem de serviços de emergência — por causa de uma brincadeira imprudente.
Tenho mais pena da família e dos paramédicos que os socorreram. Esse é o tipo de situação que traumatiza o profissional de emergência pro resto da vida.
*Parem com essa redundância de falar “madrugada de X pra Y”. Madrugada é um período específico de um dia — as primeiras horas da manhã, ali de 1am até mais ou menos umas 4am. Explicar que dia veio antes é desnecessário pra qualquer pessoa que entenda a ordem dos dias da semana.

February 2, 2016
SAI FORA SHAW: Noomi Rapace não estará em Prometheus 2
O fraquíssimo Prometheus, que foi o equivalente cinematográfico de abrir a caixa de sorvete e encontrar feijão dentro, vai finalmente ganhar uma continuação em outubro de 2017. O Ridley Scott vem soltando detalhes da sequência aqui e ali, e eu como sou fã “mulher de malandro” da série Alien não consigo impedir a empolgação. A essa altura eu bem que já deveria ter abandonado o fandom de uma série que teve DOIS filmes bons entre cinco, que é uma proporção pior do que Star Wars, mas fazer o que.
Além da mudança de nome (originalmente se chamaria Alien: Paradise Lost, agora será Alien: Covenant — lembrando que Paradise era o nome original do próprio Prometheus), o diretor revelou que a Doutora Shaw — a personagem principal do filme anterior — está fora da película.
O que é meio confuso, porque afinal de contas Prometheus termina com um TO BE CONTINUED que deixa implícita a participação da personagem na próxima aventura. Deve ter rolado alguma treta entre a atriz e o diretor, porque inicialmente o cara falou que a menina voltaria pra uma participação especial, e agora ela saiu fora da produção de vez. Estou supondo que ela ficava constantemente sugerindo que o Scott usasse o Spotify.
Protagonistas abandonando uma franquia geralmente é um sinal péssimo, então vamos ver o que sai disso aí. Pessoalmente eu estou bem mais empolgado com o Alien do Neill Blomkamp, que segue a história de Aliens e até traz a Sigourney Weaver de volt… peraí, ele foi colocado na geladeira por causa desse Alien: Covenant aí?!?
Porra, Ridley Scott. Nem fazendo cinco The Martians eu te perdôo por isso.

January 27, 2016
A (re)volta dos terraplanistas (e os motivos óbvios pelos quais eles estão errados)
Você provavelmente já ouviu falar da Flat Earth Society, um grupo de malucos ingleses que insiste (contrariando todas as observações que a ciência vem fazendo, e constantemente confirmando, mais ou menos desde 300 Antes de Cristo) que a Terra é na verdade achatada. Até muito pouco tempo, a FES era aquele negócio meio obscuro, que a gente um dia esbarra aleatoriamente na internet, e fica até se perguntando se a parada é legítima ou alguma trollagem.
Eu podia jurar que li uma vez um artigo explicando que é galhofa mas agora não o encontro mais, e o que achei em vez disso são páginas que parecem confirmar a autenticidade do grupo. Vá entender essa merda.
Então. O que me parece curioso é que há um estranho ressurgimento dessas comunidades.
Você deve ter ouvido falar que o rapper B.o.B., famoso por causa daquela música com a Hayley Williams (e quase mais nada pra ser sincero), andou falando tanta abobrinha em relação à “teoria” da Terra plana — salpicando outras conspirações malucas no meio também, porque essas coisas são igual Elma Chips pra maluco: impossível engolir a uma só — que chamou atenção do Neil DeGrasse Tyson.
É talvez relevante apontar que o Tyson tem formação acadêmica, mestrado e doutorado, e é um dos mais reconhecidos astrofísicos da atualidade, enquanto o B.o.B. largou os estudos antes de chegar no ensino médio.
O cientista tentou usar razão e lógica com o rapper, mas foi como tentar martelar um prego com um peixe — completamente ineficiente, no final você olha pras próprias mãos e pergunta por que sequer tentou isso quando todos avisaram que seria infrutífero.
Considerando-se vitorioso no embate intelectual com um homem que tem aproximadamente 20 anos a mais de educação formal que ele próprio, o rapper lançou uma diss track reafirmando suas crenças e zoando o NDT — reforçando aquela máxima de que não se deve tentar jogar xadrez com pombos. O cientista lançou sua própria diss track, e eu quero que você pare e realmente pondere o fato de que um astrofísico importante parou suas ciências pra responder um disparate desse. Se um asteróide um dia nos acertar eu culparei o B.o.B. diretamente.
Temos representantes nacionais nessa parada, também. Estes sujeitos, que ao que me constam são expoentes brasileiros desse tipo particular de maluquice, fizeram esse debate ao vivo aí (feat. meu próprio pai, que assim como o Tyson tentou martelar prego com peixe com os malucos). Pelo que me parece, eles tem uma audiência considerável.
Não acreditar no pouso lunar eu consigo até compreender, de alguma forma. Parece realmente um colossal acontecimento. Negar o Holocausto eu consigo entender também, de repente o cara acha que TODO O REGISTRO HISTÓRICO DA ÉPOCA é falso, sei lá.
Mas achar, em 2016, que a Terra é achatada é uma maluquice tão sem igual que no fundo eu penso que esses caras estão nos zoando a la Andy Kaufman.
Não que seja necessário, mas aqui estão alguns motivos simples pelos quais a Terra definitivamente não é achatada:
– Navios não desapareceriam ao chegar no horizonte;
– Governos e empresas privadas não gastariam milhões de dólares colocando satélites em órbita para estabelecer line of sight initerrupto;
– As constelações visíveis no céu seriam idênticas a todos os seres humanos, em vez de variarem de acordo com o hemisfério onde você está;
– A sombra da Terra na Lua durante um eclipse lunar é circular. Como a Terra gira (e o Pêndulo de Focault e a força Coriollis provam que ela gira), a única maneira desta forma circular ser mantida é se a Terra é uma esfera;
– Seria impossível ver mais longe ao subir mais alto. Numa Terra plana, supondo que não hajam barreiras na sua visão, você poderia ver o mesmo horizonte de qualquer altura. Existem até truques pra ver o nascer ou pôr do Sol duas vezes, e isso só é possível por causa de uma Terra esférica.
– Todos os corpos celestes (com exceção de asteróides/cometas) são esféricos, porque a massa que os formou tende a aglutinar-se projetando em todas as direções igualmente. Em gravidade zero, fluidos tem a tendência de se tornar esféricos. Por que só a Terra seria diferente? A exceção dessa regra são asteróides e cometas, como comentei, porque eles resultam de impactos, daí seu formato irregular — e ainda assim eles tendem a ir se arredonando aos poucos. Você não vê um corpo celeste com uma “ponta”, por exemplo.
– Ah, é, tem o fato de que nós já vimos a Terra do espaço:
Parem com essa maluquice, por favor.
Ah, e um adicional — essa turma que diz que a Terra é achatada tende a não acreditar que o homem foi à Lua, também. Um dos argumentos que mais transparentemente demonstra que eles não sabem do que estão falando é o “como é que não tem estrelas nessas fotos?!!!?!?”, que é uma pergunta que qualquer pessoa com intimidade com câmeras fotográficas sequer faria.
Acompanhe o experimento. Digamos que eu queria tirar uma foto do meu monitor.
Tirei duas fotos no MESMO local, com a MESMA iluminação.
Na foto acima reproduz as condições das fotos tiradas na lua. Temos um objeto muito brilhante (a Lua não emite luz própria, mas reflete muita luz do sol, então funciona como o monitor nessa analogia), e vários objetos com brilho bem mais sutil — os meus bonequinhos e a caixa de Tic Tac quase invisível na frente do meu teclado. Eles também refletem luz do ambiente, mas isso resulta num brilho muitíssimo menor que o do monitor.
E se eu quisesse ver bonequinhos e a caixa de Tic Tac em vez do monitor? Eu poderia fazer isso:
Eu não mudei absolutamente nada na iluminação do meu escritório, e no entanto, agora os objetos que antes refletiam tão pouca luz ficaram BEM visíveis — embora o custo disso é que agora mal dá pra ver a imagem nos monitores.
Isso tem a ver com exposição. A luz presente no ambiente é a mesma, mas as fotos foram tiradas expondo objetos diferente. Quando exponho o monitor, o obturador bate a foto mais rapidamente, porque a luz emanada do monitor é suficiente pra obter uma boa imagem.
Quando exponho a caixa de Tic Tac, o obturador fica mais tempo aberto pra permitir que bastante luz chegue ao sensor. Isso ajuda a ver melhor o que está no escuro, embora como efeito colateral o sensor recebe TANTA luz do monitor que a foto fica zoada — ou, pra usar termo de fotografia, superexposto.
É por isso, aliás, que fotos tiradas sem flash geralmente ficam borradas, enquanto as com flash são bem nítidas. É o mesmo princípio — sem o flash, sua câmera sabe que precisará tirar uma foto mais “lenta”, pra permitir que mais luz entre no sensor. E com isso, pequenos movimentos são capturados como borrões.
É exatamente isso que acontece nas fotos da Lua. A Lua, que é o objeto próximo que está refletindo mais luz (e com o solo desbotado, a Lua reflete MUITA luz), exige uma certa configuração de exposição que, naturalmente, ocultará tudo mais no frame que não seja tão luminoso. A única exceção é a Terra, que também reflete bastante luz, e é o objeto mais próximo, e portanto maior.
Quando alguém aponta pra uma foto da Lua e diz que a falta de estrelas prova que é uma farsa, essa pessoa está simplesmente demonstrando que ela não entende o básico do básico de fotografia, algo que até eu — um amador que não entende porra nenhuma sobre coisa alguma — sabe.
Então repito: parem com essa maluquice.

January 22, 2016
Revolta seletiva: quando proteger mulheres fictícias é mais importante
Eu fiz uma constatação curiosa nesta semana, e me perguntei o que vocês achariam disso.
Vejamos.
Como sabemos, recentemente houve a “polêmica” de bonecos da Rey aparentemente não existindo. No caso, estes:
Você deve ter ouvido falar disso, tenho certeza. Enquanto a internet reclamava disso aí, sairam notícias bombásticas sobre a epidemia de assédio sexuais e estupros na Europa, em decorrência da presença de refugiados/imigrantes árabes. Tem inúmeras histórias sobre, mas curiosamente o pessoal que é super politizado e ativista só se incomoda o bastante pra redigir TCCs no Facebook quando a cultura de estupro vitimiza mulheres fictícias.
Talvez você soube também da polêmica causada pela omissão da Rey no tabuleiro de Banco Imobiliário. A internet ficou em polvorosa porque, afinal de contas, a falta de uma pecinha de plástico de 2 centímetros é literalmente a pior ofensa que uma mulher pode sofrer.

Fig1: Gravíssima cultura de estupro
Afinal de contas, como é que mulheres poderiam curtir esse jogo a menos que haja uma boneca nele?! Você não entende que mulheres precisam de bonecas pra brincar? O que você sugere, que elas brinquem com… com BONECOS?! Tá errado.
Enquanto a internet esmirilhava teclados reclamando disso aí, você talvez não tenha ouvido falar que a polícia sueca admitiu recentemente ter acobertado casos de estupros cometidos por refugiados porque “pegaria mal, politicamente falando” acusa-los de crimes. Eles tinham medo que a direita européia se pronunciasse a respeito, e como nada é pior do que a direita tendo razão sobre alguma coisa, é melhor que essas minas aí se fodam.
É uma pena que essas mulheres estupradas não são feitas de polígonos — porque quando mulheres virtuais são feitas de objeto sexual, meu amigo, a internet não poupa esforços pra se ofender por elas. Por exemplo: você deve ter ouvido falar da personagem Laura, a brasileira de Street Fighter. Uma das roupas alternativas dela no jogo é essa:
Certamente você ouviu falar disso, já que é a pauta de hoje da internet.
Obviamente, como é costumeiro, os usual suspects se espevitaram com essa imoralidade, e aqui está um dos muitos escritos condenando a indumentária. O mundo ideal pra essa galera seria um em que não exista nenhuma imagem sexualmente provocadora, porque naturalmente sexo é feio, errado e vergonhoso.
Enquanto alguns se revoltavam com uma garota de mentirinha usando um short, na Noruega 3 refugiados estupraram uma garota de 14 anos com tamanho grau de violência que a garota contou ter tido vontade de se matar pra acabar logo com o sofrimento. Me dá até um embrulho no estômago digitar isso.
A parada tá tão tensa por lá que a Suécia começa a mudar de opinião sobre refugiados. Alguns não vão te contar isso, porque é melhor pra narrativa fingir que tudo tá uma beleza lá fora, e que VOCÊ que é um racista de merda por achar que injetar na Europa milhares de pessoas que vem de uma cultura em que mulheres (as DE VERDADE, lembrem-se) são objetos criados para servir os desejos carnais masculinos não daria nenhum problema.
Eu já tô escolado de tentar mostrar esse tipo de notícia pra essa turma, questionando-os sobre sua estranha e seletiva indignação. A resposta que geralmente recebo é “ahhh mas isso aí é um jornal de direita”, ou “ahhh sei não viu, não acredito”.
O que evidencia novamente um ceticismo seletivo. Nesta semana, uma fonte anônima sem provas de coisa alguma falou que a Disney não queria brinquedos da Rey mesmo e pronto.
Apesar da constatação da óbvio (há brinquedos da Rey, muitos aliás), e do fato de que as declarações de uma fonte anônima sem prova alguma não tem muito valor, quando é algo que confirma a narrativa, acreditam de imediato e sem qualquer questionamento.
E aí eu te faço a pergunta — por que a “cultura de estupro” de HQs, videogames, bonequinhos de plástico e adjacentes são tão nocivos, uma ameaça tão grave, necessitando textos quilométricos de repúdio, mas uma cultura que vitimiza mulheres DE VERDADE não rende o mesmo olhar crítico? Pelo contrário, quem ousa criticar as facetas culturais/religiosas que explicam o que tá rolando na Europa é condenado POR ESSA MESMA GALERA que tende a reclamar da falta de bonequinhos da Rey.
Quem me dera que os justiceiros de internet se preocupassem tanto com as mulheres de verdade, quanto se preocupam com as de plástico e pixels.

[ Vergonha Alheia da Semana ] “Fedoras Are Awesome”
Mermão, em todos esses anos nessa indústria vital chamada “a internet” eu já fui exposto a muita coisa vergonhosa. No entanto, nada poderia ter me preparado para o vídeo “Fedoras Are Awesome”.
Vamos DIRETO AO PONTO porque tenho que sair pra fazer compras e tal.
Este é Adam the Alien, um vlogger americano que pode ser na realidade a vergonha alheia personificada. Neste vídeo, que acho que tecnicamente consta como um clipe, o rapaz canta sua composição “Fedoras are awesome” enquanto cercado do tipo de gente que é comumente o pária social na cultura norte-americana.
Da esquerda pra direita: o(a) sujeito(a) estranho que não fala com ninguém — e pode ser até onde vemos a única pessoa com senso crítico do grupo, que se pergunta constantemente “o que estou fazendo com esses caras…?”; uma gordinha que pode ou não ser autista; o tal Adam, uma garota careca lá atrás, e um maluco que parece o tipo de gente que é presa por tentar tirar fotos escondido de mulheres em banheiros públicos.
Eu preciso explicar algo sobre fedoras, aliás — acho que o estigma deles ainda não chegou no Brasil.
Esse tipo de chapéu é associado com gente desajustada/sem tino social, que acha que o acessório vai imediatamente conferir classe e sofisticação ao usuário. Na realidade, sendo combinado frequentemente com camisetas estampadas com desenhos animados e doses cavalares de esquisitice psicológica, o chapéu virou sinônimo com “não sei me vestir”.
Basicamente, se você não é o Frank Sinatra, o Michael Jackson ou o Indiana Jones, fedoras não são pra você. Com a morte desses três (eu considero aquele 4o filme do Indy a morte dele), o fedora morreu junto.
Aí o sujeito não apenas usa o chapéu que imediatamente o faz parecer um desajustado social, como também entoa uma canção dedicado a ele, tendo como back vocals desincronizado um grupo de pessoas igualmente toscas que certamente se conheceu num fórum de animes.
Nos redutos internéticos onde se apreciam esse tipo de vergonha alheia, muitos usuários relataram não conseguir terminar o vídeo, alguns tendo inclusive que marcar uma consulta com um oncologista com urgência.
E eu vi a porra do vídeo 3 vezes. Caralho.
Pontos altos: quando a gordinha (que a propósito tenho mais certeza de que ela tem um Tumblr do que tenho certeza de que morrerei um dia) começa a berrar como um gato sendo arrastado em cima de uma cama de pregos, ou o fato de que a música acaba um minuto antes do próprio vídeo acabar.
Eu não sei mais nem quem eu mesmo sou após ver essa merda. Este vídeo me quebrou.

January 21, 2016
4 filmes tão ruins que mataram uma franquia
Existem basicamente dois tipos de filmes merda — filmes bem bosta mas que rendem tanto na bilheteria que nos obrigam a aceitar infinitas continuações (oi Transformers), e filmes tão bostas, mas TÃO bostas, que não é possível nem mesmo recuperar o investimento da produção, encerrando a franquia ali mesmo.
Este texto é sobre esse segundo tipo de filme.
The Golden Compass (A Bússola de Ouro)
Baseado no primeiro livro da trilogia His Dark Materials (que na publicação inglesa original se chamava “Northern Lights”, aliás), a série é meio que um “Crônicas de Nárnia” ao avesso — uma série de fantasia com uma mensagem bem crítica de fé e religião. O que o James Bond tá fazendo ali no meio eu não sei.
Embora a série que originou o filme tenha sido bem recebida, o filme foi tão bosta que rendeu 70 milhões nos EUA, tendo custado 180 milhões pra produzir. Ter recebido 42% no Rotten Tomatoes não ajudou também. O filme até lucrou consideravelmente no mercado internacional, que é geralmente o que salvam essas bombas hollywoodianas — mas em geral, se um filme não se paga em casa, é considerado uma aposta que não rende.
A trilogia ficou só no primeiro filme mesmo.
Green Lantern (Lanterna Verde)
Eu gosto do Ryan Reynolds. Apesar de praticamente fazer só filme bosta, ele tem uns bons momentos. Nenhum destes é encontrado em Lanterna Verde, no entanto, um aborto de filme que ao contrário do último citado não foi engolido nem pelas audiências internacionais. Custou 200 milhões, faturou 211 milhões. Apesar do final que sugere continuação, e de que o diretor havia prometido uma trilogia quando o primeiro ainda estava sendo filmado, os filmes seguintes do Lanterna foram impiedosamente cancelados.
Tomorrowland (Um Lugar Onde Nada é Impossível, Exceto Bolar Nomes Bons Pra Filmes Puta Que Pariu Quem Foi o Sobrinho do Dono da Distribuidora Que Sugeriu Essa)
O sucesso de Piratas do Caribe fez a Disney olhar ao redor dos seus parques e pensar “hmmm que outro brinquedo já esquecido pela molecada a gente pode transformar numa mega franquia de Hollywood?”. Os olhos bateram na Tomorrowland e alguém falou PRONTO CHAMA ALGUM DIRETOR BOM AÍ.
E chamaram. Mas o Brad Bird E a presença do George Clooney não alavancaram o filme. A parada rendeu apenas 20 milhões de dólares a mais que custou pra filmar, o que é considerado nos círculos profissionais cinematográficos pelo nome técnico “um retorno de bosta”.
Engavetaram a idéia de transformar a parada numa franquia, e mataram também a outra continuação de TRON. A Disney decidiu que, de agora em diante, ficção científica só mesmo as pitadinhas do Marvel Cinematic Universe e Star Wars (embora Star Wars não seja ficção científica).
John Carter (John Carter: Entre Dois Mundos)
Não dá exatamente pra culpar a Disney por abandonar a ficção científica. O Tomorrowland foi a segunda aposta ruim recente no gênero, o primeiro foi o John Carter em 2012. Caralho, esse filme vai fazer 4 anos já?! Puta merda.
Os problemas na produção desse fiolme são já icônicos. O título original da obra é John Carter Of Mars. Esse “Of Mars” provou-se problemático, porque quando a Disney ofereceu a idéia do filme pros seus parceiros no ramo de produção de brinquedos (sim, isso é um fator importante quando se produzem filme hoje em dia), estes torceram os narizes apontando que filmes baseados em Marte até hoje sempre foram bombas. Então a Disney resolveu tirar o “of Mars” do nome, falando “e agora, melhorou?”, igual seu pai no telhado da casa ajustando a antena antes do clássico Paissandu e Veranópolis no Hermínio Esposito.
Acabou não ajudando, porque sem o modificador OF MARS o marketing do filme fazia ele parecer uma fantasia qualquer, em vez do scifi que atrairia justamente o público mais apto pra ver o filme.
Não é a toa que o filme foi a maior bomba nos anos recentes — John Carter custou à Disney 263 milhões, e faturou 284. Não chegou a ser um prejuízo, mas foi perto disso. A Disney então olhou pros direitos do personagem, e falou “deixa essa porra reverter pro dono original e foda-se”, que é o gesto mais “lavei as mãos dessa merda” possível em Hollywood. Como outros dessa lista, a trilogia planejada ficou com um filme só.
Que outros filmes você lembra que arruinaram a esperança de uma franquia?

January 14, 2016
O Apple Music funciona tão bem que fico até surpreso que tenha Apple no nome
Lembra daquele slogan “IT JUST WORKS” que a Apple costumava usar uns anos atrás? Existe um motivo pelo qual a frase é costumeiramente usada em tom deboche.
Embora a Apple sempre tenha se orgulhado de tomar decisões de design e programação que valorizem a intuitividade, na prática há TANTA COISA da Apple que não funciona como deveria que não me surpreende nada que eles tenham abandonado o bordão. E eu, que sou um cupim de ferro (tm @Cardoso) capaz de destruir essentialmente qualquer aparelho eletrônico — caixas pretas resistem quedas de avião mas duvido que aguentariam um dia comigo –, tenho muita experiência com aparelhos da Apple falhando em minhas mãos.
Meus seguidores do Twitter estão meio que acostumados a tweets semanais de problemas com o iPhone/iTunes, por exemplo. Aliás, verdade seja dita — todos os problemas que eu já tive com o iPhone NA VIDA eram na real problemas com o iTunes, cuja obrigatoriedade do uso conjunto com o celular tornavam-nos por tabela problemas com o iPhone também.
Por exemplo — na época em que eu costumava dar sync do iPhone com o iTunes pra carregar músicas no aparelho, houve uma época em que os dois simplesmente pararam de se falar. Músicas não eram transferidas nem a pau, e eu tive que fuçar fóruns, tentar gambiarras… experimentei tantos workarounds que quando o negócio finalmente se resolveu, eu não sabia nem qual tinha sido o passo determinante do sucesso.
Isso me pôs numa condição de pavor de ter que trocar de computador; como o iPhone é intimamente ligado à sua instalação do iTunes, tem toda uma miríade de passos que você precisa tomar pra migrar a biblioteca de um PC pro outro.
Enfim. Meu ponto é que quando chegou o Apple Music, com a promessa de livrar meu iPhone definitivamente das garras do iTunes — aquele iTunes Match, o Apple Music 1.0, não conta. Que merda de serviço aquilo –, obviamente entrei com tudo. Eu já tinha experimentado outros serviços de streaming (Rdio, Deezer, Spotify, acho que em todos do mercado eu tenho uma conta), mas eu já estou tão acostumado com o ecossistema e os paradigmas de uso Apple que uma solução “in-house” da empresa do Jobs se encaixa melhor com meu estilo de uso.
E estou plenamente satisfeito com o Apple Music. Salvo um único perrengue nos primeiros dias de atividade do serviço, tudo agora funciona macio. Adiciono uma música no celular, já tá no iTunes do PC, do Mac, no iPad, é uma maravilha. Se meu PC explodir amanhã — e conhecendo meu histórico com tecnologia isso não é uma hipótese fantasiosa –, eu posso ficar tranquilo sabendo que minha biblioteca viverá nas nuvens como o Anjinho da Turma da Mônica.
O problema é que os Spotifiers não conseguem aceitar isso.
Usuários do Spotify são os Testemunhas de Jeová do mundo tecnológico. Deve haver no EULA do serviço uma cláusula que obrigue os aderentes a evangelizar o site a todos ao seu redor, a qualquer momento, sendo isto pertinente ou não. Sabe aquele seu amigo que começou a vender Herbalife então tu evita mencionar qualquer coisa relacionada a fitness perto dele, porque sabe que ele vai passar os próximos 10 minutos tentando te convencer a comprar um shake qualquer de 180 reais?
Então. É assim que me sinto ultimamente em relação ao Spotify. Se os caras oferecessem o serviço como solução num momento de necessidade, faria mais sentido — mas mesmo quando eu manifesto SATISFAÇÃO PLENA com o Apple Music, os caras chegam “sim mas você teria um minutinho pra ouvir a palavra do Senhor e Salvador Spotify?”

Fig1.: Vocês
Eu preciso que vocês entendam, finalmente, que eu não vou migrar pro Spotify.
Eu tentei. O catálogo canadense deixa a desejar (quando eu fiz o cadastro não tinha MICHAEL JACKSON mano. Se eu comprar um radinho de pilha feito em 1987 na Zona Franca de Manaus e ligar numa estação a esmo é capaz de tocar Michael Jackson), a experiência de uso é super estranha pra alguém que está acostumado ao Music.app do iPhone, importar minhas playlists não funcionou de forma alguma, eu simplesmente não fui com a cara do aplicativo por inúmeros serviços e — esta é a parte mais importante — o que eu estou usando está atendendo bem pra caralho.
Eu sei que muito provavelmente este post resultará num Streisand Effect e diversos engraçarolhos no Tuíter correrão às minhas mentions, cada um deles achando que é o primeiro George Carlin brasileiro a ter a brilhantemente cômica idéia de me sugerir o Spotify “”””ironicamente””””.
Poupe sua adenosina trifosfato e não digite isso pra mim. O Apple Music e eu somos felizes juntos, não quero saber dessa sirigaita Spotify, NÃO TENTE NOS SEPARAR PORRA.

January 5, 2016
10 perguntas que mais ouço sobre o Canadá
Moro aqui em cima desde o finalzinho de 2003. Quando penso no tempo que passei aqui, rola uma dissonância cognitiva estranha — 13 anos não me parecem tanto assim, mas quando penso na minha “vida brasileira”, parece que estou lembrando de algo que aconteceu há cinco décadas. Também pudera; apesar de ter 19 anos quando vim pra cá, eu amadureci tanto nesses últimos anos que o meu “eu” de 19 anos era essencialmente uma criança ainda.
E ao longo dos anos, por ter uma certa notoriedade na internet, muitas pessoas vem a mim com perguntas sobre o Canadá. Eu me tornei intrinsicamente conectado ao país, talvez por ser um de poucas “celebridades” internéticas que moram aqui. Só consigo lembrar de dois casais youtubers, o Leon e a Nilce, e o Edu e a Sapeca.
Pergunto-me se eles recebem tantas perguntas sobre o Canadá quanto eu. Aliás, ironicamente, agora que paro pra lembrar conheci AMBOS porque vieram me fazer perguntas sobre imigrar pro Canadá! Hashtag METALINGUAGEM. Mas vamos às tais perguntas.
1) “É difícil conseguir trabalho no Canadá?”
Por via de regra, perguntas sobre imigração/arrumar trabalho me incomodam um pouco, por causa da inerente futilidade delas. Alguém que pergunte algo tão vago e de uma resposta inevitavelmente tão inútil quanto “é difícil conseguir trabalho no Canadá?” certamente não está levando a sério a idéia de emigrar, e não está tomando por conta própria a responsabilidade de fazer uma pesquisa importante, então seja lá o que eu responda não fará muita diferença.
Quando alguém me pergunta isso, fica a impressão que o que a pessoa REALMENTE quer ouvir é um encorajamento vazio, tipo “pode vir sim cara aqui é uma maravilha ao descer do avião já vai ter alguém te dando um emprego“. Eis os motivos pelos quais essa pergunta é inútil:
Eu não sei quantos anos você tem na sua carreira;
Eu não sei qual a sua formação, e mesmo que soubesse;
Eu não sou analista econômico pra saber assim de cabeça como estão as ofertas de trabalho de uma área aleatória;
Eu não sei qual o seu nível de inglês;
Eu não sei pra qual cidade você planeja ir (o Canadá é o segundo maior país do mundo; se você mora em São Paulo, você saberia como está o mercado de trabalho de arquitetura em Roraima…? Imagino que não).
Em suma, a pergunta tem como variáveis INÚMEROS fatores sobre você que eu não sei. Mas, eis uma forma mais inteligente de procurar ofertas no mercado de trabalho no Canadá. As it turns out, é o mesmo método que usamos pra encontrar qualquer outra coisa.

O Google é seu melhor amigo pra mil coisas; por que seria diferente agora?
Se você for ao google.ca (o que forçará o site a mostrar resultados canadenses) e procurar “CANADA JOBS”, você achará inúmeros sites com ofertas de empregos. Como por exemplo:
Agora é simplesmente uma questão de procurar ofertas na sua área. A vantagem desse método é que em vez de simplesmente acreditar nas palavras de um blogueiro cearense qualquer, a aparentemente fazer seus planos baseando-se inteiramente apenas nisso, você está vendo ofertas REAIS com valores REAIS de salários.
Digamos que você não saiba o nome da sua área em inglês. Isso complica um pouco a idéia de morar e trabalhar num país onde essa é a língua oficial, mas o Google novamente nao te deixa na mão.

Embora me pareça que o Google é um amigo gringo que pensa que falamos espanhol no Brasil.
Joga o nome da sua função no Google Translate e pronto. Você já tem mais informação com a qual trabalhar.
A segunta pergunta é relacionada à primeira.
2) “X dólares por hora/ano é um bom salário?”
Se você já se deu ao trabalho de procurar por conta própria empregos na sua área e me veio no Twitter com essa pergunta, eu te parabenizo pela iniciativa. Essa é bem mais subjetiva, e mais difícil de obter uma resposta simples no Google, então faz sentido perguntar a um amigo que mora no Canadá. E sim, eu sou seu amigo.
Você deve ter notado que a pergunta é sobre dólares por HORA ou ANO, mas não por MÊS. Por questões culturais, dólares/mês não é uma métrica muito usada — o que eu acho sem sentido. A maioria das nossas despesas são por mês, logo, dólares/mês me parece uma unidade melhor pra calcular o custo de vida. Enfim.
Pra saber quanto uma área paga, aqui está um site bom. Ele mostra valores baixos, médios e altos pra uma determinada profissão, separando inclusive pela área no país. Assim, dá pra comparar que região do Canadá paga mais por uma determinada função, e assim você pode fazer planos de forma mais consciente.
Tenha em mente que 25 dólares por hora/50 mil dólares por ano é o que eu consideraria um salário “bom” pra uma pessoa — você não será rico, mas você morará com conforto, poderá ter um carro esportivo igual o meu, e precisar parcelar o próximo iPhone ou MacBook ou DSLR será uma experiência com a qual você perderá familiaridade.
50 mil dólares por ano por pessoa seria um pouquinho acima da classe média — os valores exatos variam de acordo com percepções pessoais e outras coisas subjetivas, mas em 2013, o salário médio de uma família no Canadá era 73 mil dólares por ano.
Pra dar um parâmetro de comparação, salário de fast food é em torno de 11 dólares por hora, ou aproximadamente 20 mil dólares por ano.
3) “Vi você comentando que estava fazendo -40 graus noutro dia, é Celsius ou Fahrenheit?”
Inclui abaixo um mapa útil de todos os países do mundo que usam Fahrenheit como medida de temperatura:
Caso você seja daltônico: só nos EUA usam essa maluquice.
Ou seja: ESQUEÇA FAHRENHEIT. Mesmo quando você estiver falando com um youtuber que more nos EUA, é imensamente mais provavel que ele comentará sobre temperaturas já tendo feito a conversão pra Celsius, pra que faça sentido pra você.
A propósito, -40 é o mesmo em Celsius e Fahrenheit.
4) “É verdade que os canadenses são meio frios?”
O brasileiro se acostumou tanto a se gabar de ser o povo com mais calor humano no mundo — frequentemente repetindo a máxima sem nunca ter sequer conhecido um estrangeiro — que o subproduto disso é uma crença de que gringos são distantes ou frios. Como se calor humano fosse exclusividade nossa, o que é uma forma bem míope de ver o mundo e os outros povos.
Talvez eu tenha tido uma experiência completamente atípica, mas nunca tive problemas em fazer amizades, e sempre fui bem aceito onde quer que eu cheguei. Minha esposa, que é canadense, é completamente maluca, e a maior parte das amigas dela são iguais.
O que rola é que há pessoas gente boa e pessoas escrotas em todo lugar do mundo. Tive sorte de conhecer várias pessoas gente boa aqui.
5) “O que é esse “EH” que sempre vejo os canadenses falando no final de frases?”
“Eh” é meio que um tique canadense. Eles costumam adicionar no final de frases sem nenhum motivo aparente. É tão tipicamente canadense, que quando comediantes americanos querem zoar canadenses, a forma mais clara de insinuar que aquilo que eles estão tentando emular é um sotaque canadense é jogar vários “eh” pelas frases.
E o significado da palavra é simples: é basicamente um “né”. Traduza a frase e troque EH por NÉ que ficará mais claro.
Já que entramos no assunto de comediantes americanos zoando canadenses…
6) “Por que os comediantes americanos zoam canadenses?”
A resposta mais simplesmente é porque comediantes por via de regra zoam tudo, e nada é mais culturalmente zoável do que o país que está ali do lado. Nós temos uma versão disso também na rivalidade Brasil vs Argentina, embora no nosso caso haja um veneno um pouco maior.
Brasileiros em geral zoam argentinos por realmente não gostar dos caras; americanos zoam canadenses como uma forma de “sibling rivalry” mesmo; sendo ambos países filhos da Inglaterra, e compartilhando língua, boa parte da cultura, personalidades — VÁRIOS artistas que muitos imaginam ser americanos são na real Canucks — e etc, são basicamente irmãos.
Os canadenses alopram os americanos de volta, também — o que você provavelmente não notaria, já que a maior parte da cultura popular que consumimos é americana, então só vemos um ângulo da rivalidade.
“Rivalidade” talvez seja até um termo muito forte. O que rola de fato é que os americanos fazem piadas com a educação canadense — que alguns comediantes tendem a equivaler a inocência/ingenuidade –; já os canadenses alopram os americanos pelo seu fetiche por armas e já lendária falta de educação.
7) “Você consegue achar arroz e feijão aí?”
Eu não sei exatamente o que fez brasileiros acharem que arroz e feijão é uma exclusividade nacional nossa. Tudo bem que o arroz e feijão são o alicerce de quase todo almoço/janta, com os adicionais orbitando ao redor dessa combinação tão clássica que virou ditado popular sinônimo de “coisa básica, elementar”.
Mas isso não significa que só tem arroz e feijão no Brasil. Tenho comido arroz e feijão praticamente todo dia dos últimos 13 anos. Aliás, sendo eu fresquíssimo pra comer, é perfeitamente provável que eu como mais feijão e arroz que você — a frescura gastronômica crônica limita meu cardápio.
8) “É verdade que a maioria dos carros aí são automáticos?”
São. Você meio que tem que go out of your way* pra comprar um carro manual; geralmente só os aficcionados fazem isso. Pra carro esportivo, o manual às vezes chega a custar mais caro.
Nos 13 anos que moro aqui, nunca dirigi um carro manual, e é possível que eu tenha até desaprendido já. Afinal, eu já não era lá um expert quando morava no Brasil — havia aprendido a dirigir com 16 anos, mas mal e porcamente como é costumeiro à maioria de adolescentes.
*Não sei como traduzir “out of your way”. Seria algo como “se dar ao trabalho”, deixando subentendido que esse trabalho seria bem fora do comum/inconveniente.
9) “Aí se fala francês também, né? Cê aprendeu francês?”
Na realidade, só se fala francês MESMO em Quebec — que, como o Rio Grande do Sul ou a Confederação dos Sistemas Independentes, querem se separar da matriz. No país inteiro, placas, nomes e empresas e rótulos de produtos são bilígues (uma caixa de cereal é inglês de um lado e francês do outro, por exemplo), mas quão mais longe de Quebec você mora, menos se ouve francês.
10) “Você voltaria pro Brasil algum dia?”
ESSA é a pergunta que mais me surpreende.
Frequentemente alguém pergunta quais seriam as circunstâncias fictícias que me fariam voltar a morar no Brasil. Pra responder de forma simples, nada me faria voltar a morar no Brasil. Estando aqui há 13 anos, eu já estou completamente acostumado a tudo aqui — cultura, língua, tenho amigos, tenho família, emprego… não consigo pensar em nada, em país ALGUM, que me faria querer recomeçar do zero a essa altura do campeonato. Que dirá então o Brasil, que a essa altura do campeonato me oferece tão pouco.
Uma métrica que eu geralmente cito nesse contexto é a da proporção da vida canadense pra vida brasileira. Vim pro Canadá com 19 anos, mas desses 19, só podemos contar como vida “consciente” uns 14 ou 15; isso significa que eu estou cada vez mais próximo do dia em que eu terei uma experiência de vida canadense equivalente à minha experiência de vida brasileira. Será ainda mais bizarro daqui uns 9 anos, quando eu terei LITERALMENTE existido no Canadá por mais tempo que existi no Brasil.
Isso fode com minhas noções de auto-identidade, porque por tanto tempo eu vi minha vida brasileira como um componente majoritário de quem eu sou. Quando eu tiver 40 anos, o tempo que passei no Brasil será meio que apenas uma Season 1 da minha vida.
Assim sendo, a cada dia que passa, a vida brasileira se torna uma lembrança mais embaçada, o que tira qualquer incentivo de voltar ao Brasil. Pai, mãe e irmãos estão tudo aqui na mesma cidade em que eu moro, também.
Se você tem mais alguma pergunta, joga aí nos comentários!

January 2, 2016
Se você não queria chorar esse ano, não veja esse vídeo
Olha, se existe um inferno, deve existir lá em suas profundezas um círculo particularmente flamejante pra pessoas que agridem animais ou crianças.
Crueldade é infelizmente muito comum no nosso planeta, mas pessoas que são crueis com criaturas completamente indefesas é de uma filhadaputice difícil até de quantificar. A ciência evolucionária nos diz que somos biologicamente programados a sentir afeição por filhotes — sejam humanos ou animais –, então pra tratar animais com agressividade é preciso que algo esteja FUNDAMENTALMENTE ERRADO com os arranjos neurológicos do indivíduo.
E aí entra o vídeo abaixo. De acordo com a descrição, esse cachorrinho foi resgatado de um local onde o abusavam. Como o único toque humano que ele conheceu a vida inteira foi porrada (novamente, eu espero que seus antigos donos caiam de cu em cima de um poste metálico enferrujado e com farpas), o cachorro ficou completamente desesperado quando viu que mulher ia pegar nele.
A ponto de emitir sons que eu não sabia nem que cachorros eram fisiologicamente capazes de emitir. Ah, abaixe o som aí antes de dar o play!
Duas coisas importantes pra atentar neste vídeo: a primeira é que se você, como eu, não sabia nem que cachorros berravam, isso é perfeitamente comum. De acordo com a página na wikipédia sobre comunicação canina,
“Screaming: A yelp for several seconds in length much like a human child, then repeated – anguish or agony, a call to the pack-mates for help, is rarely heard.”
Ou seja, cachorros berram, sim, como um pedido desesperado de socorro pra outros cachorros. Só que isso é uma ocorrência rara, porque FELIZMENTE o tipo de filho da puta que maltrata cachorros ao ponto de que eles precisem chorar por ajuda não é lá tão comum. O cachorro provavelmente passou ANOS nesses pedidos fúteis de ajuda pra outros cachorros; uma ajuda que nunca veio.
O outro detalhe que achei curioso é que o cachorro sequer tentou se defender, ou morder a mulher que o “atacava”. Animais não tem o mesmo senso de preservação baseado em análise da situação/negociação com os atacantes que nós temos; quando em estado de risco, um animal frequentemente luta até a morte, mesmo quando em desvantagem numérica ou de tamanho. É por isso que uma aranha ameaçada vai tentar te picar, por mais que você possa achata-la com facilidade. Quando a aranha/cobra/cachorro/qualquer tipo de bicho que tenha a habilidade de morder tá sem saída, ela pensa “então foda-se maluco, vamos os dois juntos pro inferno então”.
Como a raciocínio mais elaborado é um dom unicamente humano, frequentemente quando um animal se vê ameaçado ele não pensa “vou ficar de boa e quem sabe esta criatura me poupa”; em vez disso, na maioria das vezes um bicho mostra os dentes e parte pra cima.
Mas esse cachorro não fez isso. Ele só se acuava cada vez mais no cantinho lá dele, berrando por socorro ao ponto de destruir os tímpanos dos usuários de headphones, sem nem tentar muita resistência.
Se serve como consolo, o cachorrinho está bem melhor hoje me dia.
Reiterando: que as pessoas que fizeram isso com o bichinho sejam sodomizadas com uma serra elétrica incandescente. E olha que nem sou dessa turma super amante de animais e tal.

December 15, 2015
Corno detona carro do melhor amigo que comeu a mulher
Lá nos idos de 2006 ou 2007, que foi mais ou menos a época em que as massas começaram a aderir ao orkut, surgiu o a máxima de condenar a “inclusão digital”. Lembra? Qualquer mazela na internet era colocada na conta da “inclusão digital”, que queria dizer que a nova facilidade de acesso à internet e facilitação de compra de computadores e celulares estava nos obrigando a coexistir na web com os “pobres”.
Embora não seja exatamente um fenômeno recente, a inclusão digital veio atingir força máxima com o recente advento do WhatsApp. De certa forma um sucessor espiritual do Orkut no Brasil — por essas bandas ele é definitivamente usado como rede social –, o WhatsApp nos permite uma janela pro mundo dessa galera. E hoje chegou à minha atenção um vídeo mais ou menos nesse estilo.
Não que os participantes do vídeo sejam pobres, necessariamente — é que tem certas tragédias da vida cotidiana que, em minha experiência, acostumam acontecer mais frequentemente nas periferias e tal; são o tipo de coisa que a classe média não costuma ter tanto contato assim. Antes que você me encha o saco, eu morei no que era praticamente uma favela de luxo na periferia de Fortaleza.
Meu ponto é que agora podemos vislumbrar todo tipo de maluquice das quais fomos resguardados a vida inteira, graças à magia de um plano de dados barato, um smartphone xingling parcelado em 400 vezes, e um app de instant messenging que brasileiros transformaram em rede social.
Enfim, vamos ao tal vídeo que aparentemente levou o Facebook ontem à ebulição.
Já já o YouTube deve tirar esse vídeo do ar então veja logo enquanto está quentinho.
Eis o play-by-play. O motorista da Saveiro tem no banco do passageiro a esposa do sujeito que o está impedindo de sair do carro. A mulher tinha dito que ia fazer as unhas, mas na real estava indo a um motel com o tal motorista — que é, de acordo com relatos, o melhor amigo do corno que está detonando seu carro, possuído de ódio.
O corno então segue detonando o carro do gordinho completamente (e detonando as próprias mãos no processo, que é o que acontece quando você soca vidro). O gordinho peralta assiste a cena com total impotência, sem dúvida sabendo que está errado de qualquer forma. em um momento o corno chega a arrancar a mina de dentro do carro pelos cabelos, ao passo que o cinegrafista amador manda um “deixa disso”. Aliás, o “comentário de diretor” do autor da filmagem começa como um bom acréscimo à narrativa mas rapidamente se torna irritante.
O corno insiste o tempo inteiro que chamem a polícia, o que me deixou em dúvida inicialmente porque até onde sei meter chifre em alguém não é um crime qualificado pelo Código Penal Brasileiro. Colegas no Twitter ofereceram a interpretação alternativa, no entanto — o corno estava tentando lavrar um registro de um PEF (Putaria Em Flagrante) para lograr êxito no divórcio mais fácil da história brasileira.
Meu veredito é que todos os envolvidos neste vídeo são escrotos. A mulher é escrota por trair o marido. O gordo é escroto porque além de gordo, comeu a mulher do melhor amigo. Se isso não é crime, deveria ser.
Já o corno é escroto porque tá dando um escândalo vergonhoso e ainda agrediu a mulher. O cinegrafista amador é escroto porque fica enchendo o saco o tempo inteiro com seus comentários impertinentes.
Segundo imagens que vi na internet, a polícia realmente foi acionada, e dando continuidade ao comportamento de cachorrinho com o rabo entre as pernas, nem a mina nem o gordo prestaram queixa contra o corno.
Será que os dois se tornarão um casal? A essa altura não há mais nada a perder, né.

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