Cristina Torrão's Blog, page 83

January 16, 2015

Somos Dois Em Um








Achei muito interessante a crónica de Gonçalo
M. Tavares, na revista Visão nº 1137
(18 a 24 de dezembro de 2014). Interessante e ternurenta, aliás. «Crescer é,
pois, entre muitas outras coisas, aprender a cuidar de si», escreve ele, «mais
tarde, já somos capazes de decidir (quando já caminhamos ou gatinhamos) se
avançamos para um ponto ou para o lado oposto (…) Começamos aí, a ser dois, a
deixar de ser um».




Gosto desta ideia de sermos dois, «uma parte
que cuida e outra que é cuidada», ou seja, «uma das nossas partes mantém-se
exatamente como nasceu». Isto confirma a teoria da criança
interior
, de que já aqui falei, ligando-a inclusivamente a Saramago. Somos
um núcleo (a parte que se mantém como nasceu, a verdadeira essência do nosso
ser) e o que aprendemos (a nossa «parte cultural», nas palavras de Gonçalo M.
Tavares). E, digo eu, o nosso equilíbrio – a nossa saúde mental e o nosso
carácter – depende da sintonia entre estas duas partes. Se formos culturais demais, esmagando ou ignorando
a nossa parte bebé/criança, vivemos oprimidos, insatisfeitos, stressados, tendemos
a depressões e outras neuroses. Ao contrário, isto é, se a nossa «parte cultural»
deixa a criança sem controlo, somos inconstantes, irresponsáveis, desrespeitadores,
o que aliás, além de prejudicar os outros, também pode gerar psicoses.




Só gostaria de acrescentar algo! Gonçalo M.
Tavares diz que «o cuidar do outro é a base da humanidade». E, embora ele
acrescente, entre parênteses, «no nosso caso», ao lermos a sua crónica, ficamos
com a impressão de que os humanos são os únicos capazes de transmitir experiência
e sabedoria aos descendentes e de construir solidariedade entre si. «Há animais
que mal nascem (…) são logo autónomos nas situações mais extremas (…) já caçam
e matam». É verdade. Mas também há inúmeros animais que, tal como nós, só
sobrevivem porque «está outro ao lado, mais velho, que não cuida apenas de si
próprio». Nalguns casos, esse acompanhamento é igualmente longo, dura vários
anos, como acontece com os elefantes. Animais desse tipo (mamíferos, mas talvez não todos) também são capazes de
interagir, de construir relações sociais complexas e de desenvolver ternura por
alguns membros da sua sociedade.




A humanidade é qualidade exclusiva dos
humanos, sim, porque é o nome que damos à solidariedade que construímos entre
nós. Mas não nos devíamos esquecer de que há muitas outras criaturas de Deus capazes
de criarem solidariedade e cumplicidade. Perguntem ao Criador, que Ele
confirma!





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Published on January 16, 2015 03:10

January 14, 2015

O Rio que corre na Calçada













Este é um livro de início discreto, mas que encerra
em si uma pérola. De repente, deparamos com cenas de grande intensidade e beleza,
que nos deixam suspensos, se nos entranham no pensamento e demoram a partir.




Conta a história de um bairro lisboeta, de
ambiente familiar como o de uma aldeia, com as suas vantagens e desvantagens:
por um lado, o facto de todos se conhecerem e ajudarem, por outro, o controle
sobre as vidas de cada um, que, por vezes, deixa pouco espaço para a
privacidade. Principalmente para as mulheres:




«Leonor viu-lhe as costas e soube que tinha
de pensar depressa. Soube saber o que queria. A solidão cheirava a plástico,
tinha o sabor artificial do nada. Mas hoje as estrelas tinham caído. Só não
sabia que todas para dentro da sua cabeça onde se chocavam estrelejavam,
rompendo em fagulhas que lhe minavam o juízo. Entreabriu os lábios mas o som
não saiu. E ele afastava-se. Sabia o que provocaria quando verbalizasse o que
pensava. Os homens olhá-la-iam de outro modo, as mulheres chamar-lhe-iam nomes.
Mas ela sabia que o seu nome era apenas mulher» (p. 84).




Este romance de João J. A. Madeira é também uma
interrogação sobre a vida que levamos, que tantas vezes não é aquela que
queremos, mas a que programaram para nós, ou a que nos dá a ilusão de
felicidade. Esbarramos constantemente nas pessoas erradas, que nos roubam a essência
e a energia. Procuramos escapes, seja no envolvimento em casos amorosos que nos
consolam enquanto duram, mas que acabam de maneira abrupta, inglória, seja na
escrita de um livro, no fundo, a construção de uma segunda vida:




«Pensei, sem saber porque disso me convenci,
ter sido bafejado no nascimento pelo dom de escrever quando, na realidade, a
qualidade doada fora a de saber afastar-me de mundos que sentia não serem os
meus. Graças à palavra, que nem fui capaz de usar de viva voz nos momentos
adequados, refugiei-me isso sim escondidinho com ela num canto, aquecendo-nos e
apoiando-nos mutuamente como dois seres abandonados aos quais ninguém mais
compreendia» (pp 110/111).




O acordar para a realidade pode ser brutal. E,
porém, mesmo depois de tomarmos consciência de que vivemos amarrados e desejamos
a libertação, mesmo depois de descobrirmos a pessoa certa, no lugar e nas
circunstâncias mais inesperados, tornamos a sucumbir às amarras, seja por amor,
por medo, pelas convenções, ou por simples habituação. Rodeamo-nos de silêncios,
de incógnitas, de palavras não ditas, de explicações não dadas, de desilusões.




Um romance cheio de vidas e oportunidades
desperdiçadas.

Não será essa a nossa sina?





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Published on January 14, 2015 10:55

January 13, 2015

Imagem de marca




A Lucy deu a cara por mim durante quatro anos e meio de blogosfera. Porém, ao constatar que alguém me tinha desenhado, decidi alterar a fotografia do meu perfil. O autor é, como disse aqui, João Pinto-Coelho, que me incluiu num grupo de comentadores habituais do Horas Extraordinárias. Quando o contactei para o informar das minhas intenções, ele simpaticamente pôs o desenho que só a mim diz respeito à disposição.



Esta é, a partir de agora, a minha imagem de marca. E a Lucy continua presente :-)









Muito obrigada, João Pinto-Coelho!




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Published on January 13, 2015 03:20

January 12, 2015

A Citação da Semana (43)

«Sem entusiasmo, as nossas maiores forças murcham».



Johann Gottfried Herder




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Published on January 12, 2015 02:49

January 5, 2015

Então, Bem-Vindo, 2015!

Ilustro este post com o maravilhoso desenho que João Pinto-Coelho fez de alguns dos mais regulares comentadores do Horas Extraordinárias. Adivinhem lá quem sou eu ;-)









Com muita pena minha, tenho andado arredada da blogosfera e a situação só se começará a regularizar na próxima semana. Isto para explicar a minha ausência de certos blogues que gosto muito de visitar e comentar. Regressarei, prometo!



Para já, uma boa notícia: estarei, no próximo dia 7, na MTorga Biblioteca,
na Escola Secundária Miguel Torga, em Bragança, para falar dos meus
livros e, espero eu, despertar ou reforçar (conforme os casos) o
interesse dos alunos pela História de Portugal. Depois, aqui estarei para contar como foi e mostrar as fotografias.



Para mim, o ano não poderia começar de melhor maneira.

Espero que tenham entrado igualmente com o pé direito!

Um excelente 2015 para todos!




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Published on January 05, 2015 11:30

A Citação da Semana (42)

«Não te consideres pobre por os teus sonhos nunca se terem realizado. Verdadeiramente pobre é quem nunca sonhou».



Marie von Ebner-Eschenbach




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Published on January 05, 2015 02:46

December 30, 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (7)








- Há um ano, el-rei
D. Afonso chegou a temer pela cidade de Coimbra, quando os mouros ousaram um
ataque ao castelo templário de Soure. Os cavaleiros do Templo lograram
afugentar os infiéis, mas estes deixaram um rastro de destruição atrás de si:
casas e campos incendiados, colheitas destruídas e cadáveres espalhados. Dos
cristãos sobreviventes, fizeram cativos.



Jacinta e a irmã Hildegarda quedavam-se
angustiadas, o cavaleiro prosseguiu:



- Numa tentativa de vingar o ataque e
libertar os cativos, os Templários iniciaram uma série de represálias que
redundaram em pesada derrota. Os combatentes foram quase todos mortos e um
pároco bondoso, D. Martinho de Soure, foi capturado.



- Valha-nos Deus!



- Ninguém mais soube do seu paradeiro e muita
gente pranteia o seu sumiço. Era incansável no seu auxílio aos pobres, até se
dizia que era santo. Há cousa de um mês, o alcaide de Leiria juntou-se a
cavaleiros de Coimbra, que se dirigiam para um fossado, na esperança de
conseguir libertar D. Martinho de Soure, caso ele ainda estivesse vivo. Pedro
Antunes e eu fomos incluídos no contingente. – Engoliu em seco. – Nada
conseguimos. Pedro foi atingido por uma flecha e trouxemo-lo para casa, mas
chegámos a pensar que não chegasse cá vivo. O físico de D. Soeiro Pais Mouro
diz que a operação é arriscada demais, que a flecha está muito próxima do
coração. E o homem arde em febre…








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Published on December 30, 2014 03:16

December 29, 2014

A Citação da Semana (41)

«Para compreenderes o coração e o raciocínio de uma pessoa, não olhes para aquilo que ela alcançou, mas para aquilo que ela cobiça».



Khalil Gibran




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Published on December 29, 2014 02:41

December 26, 2014

Os Segredos de Jacinta - Excertos (6)








- Tirámos o chiadouro a muita mourama –
acrescentou Bartolomeu. – Começámos por reconquistar Leiria. Depois,
atravessámos um grande rio chamado Tejo e um outro chamado Guadiana. Por onde
passávamos, atacávamos as povoações, devastávamos os campos, destruíamos as
colheitas e apoderávamo-nos das riquezas.



- Ninguém nos molestou – prosseguiu Ataulfo,
– as hostes mouras achavam-se ocupadas num cerco para os lados de Toledo. Mas,
quando já vínhamos de volta, os infiéis cortaram-nos o caminho.



- Ali estávamos nós, com aqueles despojos
todos, os cativos e os animais, naquela terra de ninguém, de uma secura tão
grande, que todos os arbustos se convertem em palha. Não há florestas, nem há
nada. Só o sol, que nos queima e deixa a terra seca e dura.



- Foi quando surgiu um grande arraial mouro –
intrometeu-se o Bartolomeu, alargando os braços – três vezes maior do que o
nosso e comandado por cinco reis! Começámos a encomendar as nossas almas. Mas
el-rei prometeu-nos a vitória.

- El-rei? - admirou-se Laurinda. - El-rei de Leão também lá estava?





- Qual Leão, qual carapuça – retorquiu
Ataulfo. – El-rei D. Afonso Henriques, por nós proclamado!








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Published on December 26, 2014 03:14

December 23, 2014

Boas Festas!

O Andanças vai estar praticamente sem atividade até à segunda semana de janeiro e não queria deixar de desejar a todos os comentadores e seguidores um Bom Natal e um excelente ano de 2015!




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Published on December 23, 2014 03:39