Cristina Torrão's Blog, page 86
November 21, 2014
Casamentos com Divórcio à Vista
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Numa época em que os divórcios se sucedem (alguns, quiçá, de ânimo leve), a expressão que serve de título a este post usa-se com ironia. Serve, porém, na perfeição ao novo porgrama do canal alemão SAT 1, com o título Casamento à Primeira Vista ( Hochzeit auf den ersten Blick , no original).
Oito adultos, (quatro pares) candidatam-se a um casamento com alguém que não conhecem. São aconselhados por vários experts, entre os quais uma psicoterapeuta e um pastor evangélico, que analisam as suas personalidades e decidem quem casa com quem. Os nubentes veem-se pela primeira vez em pleno Registo Civil, depois de já se terem comprometido a dizer sim. São depois acompanhados durante dois meses pelas câmaras, ao fim dos quais têm liberdade para decidir: continuarem casados ou divorciarem-se.
Enfim, parece que na guerra e no amor tudo é permitido, principalmente quando está em causa a guerra das audiências televisivas...
Published on November 21, 2014 03:39
November 20, 2014
Crónicas das Minhas Teclas
A sessão de lançamento das Crónicas das Minhas Teclas, do jornalista Antunes Ferreira, vai acontecer já no próximo dia 26 de novembro, em Lisboa.
Published on November 20, 2014 04:06
November 18, 2014
Negócio do Livro em Portugal
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Não é segredo nenhum que em Portugal se lê pouco. Comparando
o mercado livreiro do nosso país com o alemão, parece-me que se poderia obter
melhores resultados, considerando dois pontos muito importantes:
1 – Os livros em
Portugal são caros demais! Não está em causa o valor inestimável de uma boa
obra literária, mas, querendo vender mais, seria bom alterar a estratégia. Os
livros, na Alemanha, são mais baratos e os salários, em média, três vezes
superiores aos portugueses! Não admira que os alemães sejam mais espontâneos na
hora de adquirirem um livro. Na Alemanha, há basicamente duas versões de
livros: capa dura e edições de bolso (Taschenbuch).
Diga-se de passagem que os Taschenbücher
são de muito melhor qualidade do que as edições portuguesas correspondentes. O
seu preço varia entre os 10 e os 14 € (conforme a quantidade de páginas). A
grande maioria dos livros é editada sob a forma de Taschenbuch, pelo que se podem comprar as novidades e as grandes
obras literárias por aqueles preços convidativos. Nunca nenhum escritor se
queixou (e não me consta que os escritores portugueses tenham algo contra o
serem editados na Alemanha). Obras que se sabe de antemão que vendem bem, têm,
por vezes, uma primeira edição de capa dura e aí o seu preço varia entre os 20
e os 40 €. Mais cedo ou mais tarde, surge a edição de bolso, normalmente,
quando a outra deixa de vender. Em Portugal, os livros são, digamos, híbridos – nem capa
dura, nem de bolso. A qualidade é boa, sim, mas os preços iniciam-se pelos 18
€. Definitivamente, caros demais!
2 – Os livros em
Portugal são difíceis de adquirir! Sim, na Alemanha também se editam livros
sem fim, limitando o tempo de exposição nas livrarias. Mas há algo muito
importante: pode-se adquirir qualquer livro, em qualquer altura, em qualquer
livraria (mesmo na mais remota província). Não o tendo em stock, o livreiro garante-o no prazo máximo de três dias (muitas
vezes, de um dia para o outro), independentemente de ser uma edição conhecida e/ou premiada, um auto-publicado, um
print on demand, um livro antigo, ou
mesmo um livro do qual o livreiro nunca ouviu falar. Uma simples consulta ao
computador diz-lhe se o livro se encontra disponível; com um simples clique,
o livro fica encomendado. Em Portugal, dizem-nos que o livro está esgotado,
quando ele, muitas vezes, apodrece num qualquer depósito do distribuidor! É uma
falta de respeito pelos clientes e (talvez ainda mais) pelos escritores. Por isso, o meu apelo: se o sistema não compensa que se façam
encomendas de um simples livro, modifique-se o sistema!
Published on November 18, 2014 03:44
November 17, 2014
A Citação da Semana (35)
«As pessoas sem humor parecem mais velhas. O humor talvez não nos mantenha jovens, mas mantém-nos despertos».
Loriot (humorista, ator, realizador e ilustrador alemão)
Algumas das suas ilustrações:
Loriot (1923 / 2011)
Loriot (humorista, ator, realizador e ilustrador alemão)
Algumas das suas ilustrações:
Loriot (1923 / 2011)
Published on November 17, 2014 02:24
November 15, 2014
Filhos de um deus menor
Um livro só é livro e um escritor só é escritor quando editado numa
editora considerada, sendo examinado por editor e revisor profissionais?
Se eu disser que não, troçam de mim. E se for um escritor com provas
dadas, finalista de um Prémio LeYa, como Pedro Guilherme-Moreira?
«Recebo qualquer livro com entusiasmo», diz-nos ele no seu blogue, «mas
desconfio sempre dos que têm ar de serem auto-editados, porque respeito
tanto o ofício de editor e revisor profissional». Tal não impediu
de se render ao livro "Memórias da memória", de Cesário Costa, já
editado em 2002, por um escritor que ninguém conhece, por uma editora
que ninguém conhece, sem direito a revisão profissional. Teve a
humildade de partilhar tal publicamente e a coragem de contradizer
Saramago. A homenagem que Pedro Guilherme-Moreira faz a este livro é tocante. Aconselho a pessoas que se consideram eleitas por um Deus maior
e desprezam os «filhos de um deus menor»!
Published on November 15, 2014 10:56
November 14, 2014
Mania de Escritor
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O título é roubado a um post da editora Maria do Rosário Pedreira e este texto é baseado no meu comentário.
Em primeiro lugar, não sei se sou escritora, se não. Para alguns, serei; para mim, sou (caso contrário não me dava ao trabalho de exercer uma atividade que monetariamente não compensa); para outros, ando a armar-me em.
Enquanto escrevo, sempre no computador, a minha única mania é... anular manias. Nada de café, bolos, chocolates, álcool, cigarros (deixei de fumar há cerca de vinte anos, uma das melhores decisões da minha vida). No máximo, tenho um copo de água a meu lado. A utilidade disto tudo? Não alimentar vícios que são extremamente difíceis de erradicar. E sou de opinião de que, quando se come, ou se bebe, não se deve fazer outra coisa ao mesmo tempo (talvez apenas conversar) para melhor apreciarmos aquilo que engolimos.
Às vezes, esqueço-me de comer durante quatro ou cinco horas.
Disciplinada? Sou! Deve ser por isso que me dei bem na Alemanha, desde o primeiro dia. Mas há quem diga que a disciplina é essencial ao escritor...
P.S. Estou a rever o romance sobre D. Dinis (já não pegava nele há mais de três anos) e estou a adorar! Em breve, porei algumas páginas à disposição para download.
Published on November 14, 2014 11:10
November 11, 2014
Excerto (5)
A pesada régua de castanho sobe e desce furiosa, o moço contorce-se e grita, tenta fugir com a mão e então recebe o resto do castigo no corpo, nas costas, no rabo, até na cabeça - Bem feito, que não paras quieto!, justificar-se-á o mestre, tudo isto debaixo dos meios sorrisos dos meninos prendados, que, no entanto, não ousam rir abertamente, receosos de represálias: - Lá fora, tu comes-as!
Para os Escabelados, pouco importa o motivo do castigo, pois todos os dias haverá outros, pode ser a falta de equipamento, que não têm botas, nem bata, nem livros e cadernos, apenas pedra, como chamamos ao rectângulo de ardósia onde escrevemos com o ponteiro a tabuada e fazemos as contas, apagando com cuspo e manga de camisa, pode também ser a ignorância: sempre que o mestre-escola precisar de exercitar mão ou régua bastará pedir-lhes que papagueiem a tabuada do nove ou as preposições simples ou os apeadeiros do ramal de Tomar...
Published on November 11, 2014 11:32
November 10, 2014
A Citação da Semana (34)
«A vida é um campo a perder de vista, quando a encaramos no seu início. Mas parece medir apenas duas ou três jardas, quando, no fim, olhamos para trás».
Adalbert Stifter
Adalbert Stifter
Published on November 10, 2014 03:03
November 9, 2014
Divagações
Ninguém censura pais que não tratam bem dos filhos, diz-se que são métodos educativos. Mas toda a gente censura filhos que não tratam bem dos pais.
Concebe-se que os pais batam nos filhos, mas não se concebe o contrário. É, sem dúvida, chocante e inadmissível bater num idoso. O idoso é fraco, é cobarde agredi-lo. Mas não o é agredir crianças? As crianças têm menos direitos que os idosos?
Os pais talvez tivessem a ganhar se fossem mais abertos a outras formas educativas e ouvissem outras opiniões. Costumam ser inflexíveis, no que respeita à educação dos seus filhos. Ninguém tem o direito de se meter! Não terá? E se sentirmos que a criança é reprimida, tratada com injustiça, vítima de violência, objeto de chantagem emocional, posta sob pressão?
Não estou a dizer que nos devemos imiscuir em tudo. Mas não faria mal nenhum aos pais ouvirem e refletirem sobre outras opiniões. A eles pertence sempre a opção de as aceitarem ou não.
Porque se depreende que os filhos foram bem tratados? Porque agimos sempre, em relação a idosos, como se eles tivessem sido pais exemplares? Tratou de ti, lavou-te, alimentou-te, sustentou-te... Sabe-se lá o que acontecia pelo meio do tratar, do lavar, do alimentar, do sustentar...
Foram os pais que puseram os filhos no mundo, não o contrário.
Concebe-se que os pais batam nos filhos, mas não se concebe o contrário. É, sem dúvida, chocante e inadmissível bater num idoso. O idoso é fraco, é cobarde agredi-lo. Mas não o é agredir crianças? As crianças têm menos direitos que os idosos?
Os pais talvez tivessem a ganhar se fossem mais abertos a outras formas educativas e ouvissem outras opiniões. Costumam ser inflexíveis, no que respeita à educação dos seus filhos. Ninguém tem o direito de se meter! Não terá? E se sentirmos que a criança é reprimida, tratada com injustiça, vítima de violência, objeto de chantagem emocional, posta sob pressão?
Não estou a dizer que nos devemos imiscuir em tudo. Mas não faria mal nenhum aos pais ouvirem e refletirem sobre outras opiniões. A eles pertence sempre a opção de as aceitarem ou não.
Porque se depreende que os filhos foram bem tratados? Porque agimos sempre, em relação a idosos, como se eles tivessem sido pais exemplares? Tratou de ti, lavou-te, alimentou-te, sustentou-te... Sabe-se lá o que acontecia pelo meio do tratar, do lavar, do alimentar, do sustentar...
Foram os pais que puseram os filhos no mundo, não o contrário.
Published on November 09, 2014 02:58
November 6, 2014
«Um mouro de trabalho»
Ilustração de Jorge Miguel
Os mouros eram conhecidos por serem excelentes artífices. Eram melhores em tudo: os melhores jardineiros, carpinteiros, oleiros, telheiros, tanoeiros, etc. Porém, as suas competências eram desprezadas, em vez de reconhecidas. Sob regência cristã, os mouros constituíam o estrato mais baixo da sociedade. E assim, durante séculos, se desdenhou das suas profissões, outrora tão cobiçadas. Não se concebia que um cristão fizesse certos serviços, afinal havia os mouros, que transmitiam os seus valiosos conhecimentos de geração em geração, uma mão de obra barata, até porque muitos deles eram escravos.
Ao recordar esta característica da sociedade medieval portuguesa, não posso deixar de a ligar às pertinentes palavras de Rui Curado da Silva no Aventar:
«O ensino técnico em Portugal é tratado como um ensino de segunda, ou pior, olhado frequentemente como uma via para delinquentes e marginais. Isso está muito errado. Deveria ser a base de uma carreira digna, responsável pela introdução de mais qualidade e de novas tecnologias na sociedade. Uma oportunidade para a criação de emprego com potencial para gerar novos empregos».
As declarações de Merkel sobre o suposto excesso de licenciados em
Portugal, tiveram, pelo menos, um mérito: puseram muita gente (eu
incluída) a falar sobre a falta de um sistema de ensino
tecnico-profissional em Portugal. Na verdade, a Alemanha tem uma tradição bem diferente. Os artífices, na Idade Média, eram especialistas considerados, que se protegiam, e à sua sabedoria, em confrarias. Só quem passasse com distinção num exigente exame, poderia exercer a sua profissão de pedreiro, carpinteiro, ou até de limpa-chaminés. Ainda hoje é assim, pelo que os jovens não necessitam de um curso superior para se sentirem respeitados e admirados.
Connosco parece ser diferente. Quem se ocupa de certas atividades ainda é «um mouro de trabalho».
Published on November 06, 2014 11:30


