Cristina Torrão's Blog, page 75

June 18, 2015

Irmãos e irmãs de Jesus

Há várias passagens da Bíblia que referem irmãos de Jesus Cristo:



"Muitos, ao ouvirem-no ficaram tão admirados que se perguntavam: «Donde lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que lhe foi dada? Que milagres são estes que as suas mãos realizam?! Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e Simão? Não vivem também aqui connosco as suas irmãs?» E não queriam nada com ele. Então Jesus disse-lhes: »Nenhum profeta é desprezado a não ser na sua terra e entre os seus parentes e familiares.»"

Mc 6, 1-5



"Mas como a festa judaica das Tendas se aproximava, os seus irmãos disseram-lhe: «Por que não sais daqui e vais até à Judeia para que os teus discípulos possam ver as maravilhas que fazes? Se alguém quer ser conhecido não pode fazer as coisas em segredo. Já que fazes coisas como estas, mostra-te ao mundo!» A verdade é que nem os seus próprios irmãos acreditavam nele."

Jo 7, 2-6



"Todos tomavam parte nas reuniões de oração com regularidade e no mesmo espírito, juntamente com algumas mulheres, entre as quais Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus."

At 1,14



Para alguns dos primeiros teólogos do Cristianismo, também conhecidos como Pais da Igreja, estes irmãos eram filhos de um primeiro casamento de São José.

Tertuliano (um dos Pais da Igreja, à volta do ano 200) considera-os filhos de José e Maria, nascidos depois de Jesus, uma hipótese aceite no Protestantismo. A interpretação católica da Bíblia, porém, vê-a como incompatível com o dogma da virgindade de Maria e sugere que os termos «irmãos» e «irmãs» se usem num sentido alargado, referindo-se a primos ou outros parentes, que seria inclusive um costume da época.



É de facto verosímil que José e Maria tenham tido vários filhos. Além disso, é interessante verificar que, nas duas primeiras passagens citadas, sugere-se uma espécie de rivalidade entre Jesus e os seus irmãos, que parecem desdenhar dos ensinamentos e das pregações do Messias.



Uma família, no fundo, igual às outras? É pena que não se explore esta faceta da vida de Cristo...




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Published on June 18, 2015 03:32

June 16, 2015

História da Vida Privada em Portugal - A Idade Média (16)




Os pedagogos dos finais da Idade Média começaram, também, a abordar o tema da instrução das meninas, sobretudo as oriundas da nobreza, dedicando-lhes passagens ou até partes dos seus tratados, embora sem as inovações introduzidas na matéria destinada aos rapazes. De uma forma geral, o seu discurso sobre as raparigas encontra-se bastante condicionado pelo facto de as conceberem na qualidade de grupo que não só partilhava com as mulheres a suposta condição de um sexo dotado de fraca racionalidade, como também correspondia a uma idade, a infantil, considerada naturalmente indisciplinada e moralmente débil.

Neste contexto, não se insistia muito na educação letrada das raparigas. Ressalvando o caso das que se destinavam à vida religiosa, desaconselhava-se mesmo a aprendizagem do alfabeto e da escrita, para que as raparigas não se sentissem estimuladas a dizer secretamente por escrito o que não ousariam afirmar oralmente. Contudo, alguns pedagogos não lhes recusavam o direito de aprender a ler e a escrever, porque, ao aplicarem-se assiduamente nessas honestas ocupações, afastavam os maus pensamentos e os consequentes pecados da carne e da vaidade.



A Criança, Ana Rodrigues Oliveira - pp. 267/268




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Published on June 16, 2015 06:16

June 15, 2015

A Citação da Semana (65)

«Há uma forma melhor de aceitar a vida do que com amor e humor?»



Charles Dickens




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Published on June 15, 2015 02:33

June 13, 2015

Surpresas




«A vida na rua rouba-nos a dignidade, a personalidade e... no fundo, tudo. Deixamos de existir para tudo e todos. Um sem-abrigo é invisível para os seus semelhantes. Era o que mais me custava. Ninguém quer ter alguma coisa a ver com um Zé-Ninguém. Quando aterramos na rua, não temos um único amigo em todo o mundo».



«Há montes de desculpas e razões para nos viciarmos numa droga, mas eu sei exatamente o que me levou a isso. Foi a maldita solidão. A heroína anestesia a sensação incómoda do isolamento. Fazia-me esquecer que não tinha família nem amigos nesta terra. Sentia-me tão sozinho. Isto pode soar estranho ou mesmo inverosímil, mas a heroína era o meu único amigo».



«Dei as minhas trinta libras e recebi o troco. Tinha acabado de gastar o ganho de um dia em medicamentos para gatos. Mas que me restava? Eu não podia virar as costas ao meu novo amigo!»



Este livro não é apenas a história de amizade entre um homem e um gato. É muito mais do que isso, uma boa surpresa!




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Published on June 13, 2015 05:59

June 11, 2015

Livro Sem Ninguém
















Embora
não o conheça pessoalmente, aprecio muito o Pedro Guilherme-Moreira por, além
de escrever muito bem, me parecer uma pessoa sincera, humilde e dona de uma
grande (enorme) sensibilidade. Estas impressões são-me transmitidas por aquilo
que leio no seu blogue, que sigo
há alguns anos (foi mesmo dos primeiros blogues que comecei a seguir) e pelo que ele vai postando no Facebook.




Por isso
me custa dizer que este livro não me cativou. Está bem escrito, sim, mesmo
muito bem; é um «romance profundamente original», sim, como diz a sinopse da
contracapa. E, no entanto...




Admito
que o defeito seja meu, confesso que me perdi num livro sem personagens. Elas estão
lá, mas apenas pelos objetos em que tocam, ou que mudam de sítio, por pegadas
na terra, por uma bola que rola, pelo que põem a secar, pelo que se esquecem
num banco de jardim, etc. Mas perdi-me nas inúmeras descrições
da montra da florista, ou em mais uma repetição de que certos óculos estão
novamente na mesa do café, ou à décima vez que se refere que o lenço
assim-assim está novamente pendurado...




Acho
que preciso mesmo das personagens, das suas expressões, das suas ações, dos
seus gestos, dos seus pensamentos, de fazer a sua análise psicológica. Neste
exercício literário interessante e original, faltou-me a vida.





muitos posts do IGNORÂNCIA que me entram no coração. Mas este livro...


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Published on June 11, 2015 02:54

June 9, 2015

Os Segredos de Jacinta (26)








Ele não contradisse aquela possibilidade.
Encarou a vastidão do Tejo, com uma ruga na testa. Jacinta fixou igualmente a
sua atenção no rio-mar. O sol já ia baixo, mas ainda refletia na água, que, de
tão serena, se podia julgar ser possível andar sobre ela, uma superfície
prateada.





Jacinta tornou a sentir-se envolvida pela
luminosidade. Murmurou:





- Disseste que a vida começa de novo. A vida
está sempre a começar, desde que o queiramos. Mas sem nada se apagar. É essa a
vantagem do renascer. Quem nasce pela primeira vez, é atirado indefeso para
braços que tanto podem ser fortes, como frouxos, carinhosos, como cruéis. O
recém-nascido não está em condições de escolher. Mas nós estamos. Façamos as
pazes connosco próprios, acarinhemos o recém-nascido que vive dentro de nós,
esse ser frágil que já fomos, que requer atenção e cuidados, mas que nós
facilmente rejeitamos e olvidamos. Só quando o abraçamos, aceitando todas as
suas fraquezas, nos sentimos fortalecidos para começar de novo, uma outra vida.





Afastou-se, sem mais uma palavra. Pedro não
tentou impedi-la, nem sequer chamou por ela. De que adiantaria tentar agarrar o
sol que desaparecia no horizonte?





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Published on June 09, 2015 03:03

June 8, 2015

A Citação da Semana (64)

«Nunca devemos considerar o perdão como uma fraqueza. Há muita grandeza nele».



Ignatz Bubis




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Published on June 08, 2015 02:25

June 2, 2015

Os Segredos de Jacinta - Excertos (25)








«É um mundo cruel para as mulheres, este em
que vivemos», dissera-lhe a velha do Serro do Cão.



Jacinta conhecera várias formas de crueldade.
Mas também a Emília, que vivera ao abrigo da família, conhecera crueldades,
outro tipo de crueldades, aquelas com que se modelavam as moças, como se elas
fossem pedaços de barro nas mãos de um oleiro. Não lhes davam voz. Quiçá nem
sequer lhes dotassem o rosto de uma boca.





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Published on June 02, 2015 03:01

June 1, 2015

A Citação da Semana (63)

«A benevolência é o nosso forte. Ela resolve todas as dificuldades e ultrapassa todos os obstáculos».



Papa João XXIII




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Published on June 01, 2015 02:20

May 28, 2015

Perdoar








(Texto baseado
nas declarações do teólogo e pedagogo alemão Christoph Hutter, do centro de
aconselhamento psicológico de Lingen – artigo da Kirchenzeitung de 05.04.2015)






Em
casos de ofensas ou abusos graves, a reconciliação só é possível se o culpado
permitir o perdão à vítima, ou seja, reconhecer que agiu mal. Para isso, é
necessário termos uma relação mais descontraída com a culpa. A nossa sociedade
torna difícil o reconhecimento dos erros, há uma grande necessidade de causar
boa impressão, de parecer perfeito, o que nos torna incapazes de suportar a
culpa. Só quando se torna evidente e aceitável que toda a gente erra, se criam condições
para resolver conflitos e discórdias.




O
pedido “perdoa-me” é como que uma ponte dourada entre ofensor e
ofendido e permite sanar os conflitos. E é mais fácil pedir perdão e
perdoar se não tentarmos, por todos os meios, sermos perfeitos e aceitarmos que
errar é natural. Assim se torna igualmente mais natural discutir de modo
saudável, ter consideração pelo outro, estabelecer e aceitar fronteiras,
aceitar a culpa, perdoar e reconciliar-se.




Existe
a ideia de que a reconciliação exige muito sacrifício, mas não tem de ser
assim. As relações que possuem um fundamento sólido tornam mais fácil o pedir
perdão, o perdoar e a reconciliação, como é o caso dos apaixonados, ou de
relações duradouras, em que os parceiros sentem prazer em estar um com o outro.
O sistema que rege as relações interpessoais no nosso cérebro coopera com a
motivação. A minha ligação aos outros anda de mão dada com o reconhecimento das
minhas qualidades e com o sentir-me bem na minha pele.




A
decisão de perdoar e o desejo de continuar, ou reatar, uma relação ficam,
porém, ao critério de cada um. Por vezes, existem boas razões para um
distanciamento ou separação, para o quebrar do contacto, mas é psicologicamente
prejudicial entregarmo-nos ao rancor, à ira ou ao ódio. Normalmente, as pessoas
vivem mais felizes, se conseguirem libertar-se um pouco das suas feridas e
preocupar-se menos com contas por saldar. Este pode ser um bom caminho para a
reconciliação. A decisão, porém, continua a ser de cada um e ninguém tem o
direito de exigir a reconciliação ao seu semelhante. Muito menos, o causador
das feridas.





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Published on May 28, 2015 04:26