Cristina Torrão's Blog, page 71

September 5, 2015

Post a várias vozes

Primeira voz - A Merkel e o Schäuble são nazis e querem dominar a Europa!



Segunda voz - Os maluquinhos dos animais entretêm-se a tratar de cães e gatos, enquanto há tanta gente na miséria! As pessoas estão primeiro do que os animais, ouviram?



Terceira voz - Quem depende dos cuidados de saúde gratuitos, morre antes de ser tratado, mas as desavergonhadas que querem fazer abortos são logo atendidas.



Quarta voz - Que vergonha, Europa! Fechas as fronteiras e surgem crianças mortas nas tuas praias!



Quinta voz - Não há dinheiro para acabar com a pobreza, nem soluções para debelar a fome em Portugal. Mas, de repente, há soluções e movem-se mundos e fundos para acolher três mil refugiados!



Mas que grande salgalhada! Ou será antes bacalhau com todos?




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Published on September 05, 2015 03:14

September 2, 2015

O Rei do Monte Brasil













Através
do régulo Gungunhana, detentor
do vastíssimo império de Gaza, no atual território de Moçambique, entramos em
contacto com a cultura africana que resistia à colonização, uma cultura que se
nos afigura cruel e sanguinária. Porém, o domínio branco esteve longe de
apaziguar tais costumes, ou de dar um exemplo de civilidade, pois também ele se
revelou na violência gratuita, com doses insuportáveis de arrogância, gerando a
colossal revolta que se conhece.




O
romance de Ana Cristina Silva dá-nos a perspetiva africana, pela voz de
Gungunhana, mas também da portuguesa colonizadora, através do oficial de cavalaria
Mouzinho de Albuquerque, o captor do régulo. Gungunhana acaba por ser
trazido para Lisboa como um troféu. Ele, sete das suas mulheres e mais alguns
parentes, incluindo um filho, são exibidos como animais de zoo à ignorante
sociedade portuguesa de finais do século XIX. Segue-se o exílio nos
Açores.




Mouzinho
de Albuquerque consegue subjugar as tribos à administração colonial portuguesa
e é aclamado pela imprensa como um herói da pátria, mas, nos corredores do
Paço, criticam-se os seus métodos, ao mesmo tempo que o governo se revela
indiferente em relação aos seus planos para África. Sentindo-se incompreendido
e inútil, a que se junta uma paixão secreta pela rainha D. Amélia, Mouzinho de
Albuquerque acaba por se suicidar.




A
notícia da sua morte é recebida com algum regozijo por Gungunhana, no seu
exílio no Monte Brasil, uma floresta da ilha Terceira onde ele se refugia e se
entretém a caçar coelhos, por ser um local que lhe lembra a sua terra-natal. O
antigo régulo nunca mais pisará terras africanas, morrendo amargurado.




As
reflexões perante a evidência da morte, tanto do régulo africano, como do seu
captor, são o ponto de partida para este romance
escrito a duas vozes. A autora apresenta-nos as duas versões sem tomar partido
nem deixar transparecer um julgamento ou uma opinião que seja, o que muito apreciei.
Põe igualmente em evidência a amargura do fim, qualquer fim, mesmo o daqueles
que, em algum momento da sua vida, conheceram a glória.





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Published on September 02, 2015 02:42

August 31, 2015

A Citação da Semana (76)

«Se a tua única oração, proclamada durante toda a tua vida, fosse apenas "obrigado", já chegava».



Meister Eckhart




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Published on August 31, 2015 03:43

August 29, 2015

23 Anos!






Éramos
pen-friends.


Querem início mais meloso?
E daí, talvez nem tanto. Afinal, em vez de emails,
escrevíamos cartas (à mão, senhores!), coisa muito tida em consideração, hoje
em dia, especialmente entre a malta 50+.




Começámos
a escrever-nos em 1982, tinha eu dezassete. Só seis anos mais tarde nos conhecemos pessoalmente,
apesar de eu ter estado em Berlim, em 1984, e muito me amofinar por o mancebo
(andava na tropa, sim, um soldado alemão, isto está cada vez melhor) não
aproveitar a oportunidade para nos encontrarmos. Bem, ele era do oeste e talvez
não estivesse com vontade de se sujeitar aos controlos de duas apertadas
fronteiras para chegar à metade igualmente ocidental daquela cidade. É verdade
que eu me sujeitei, mas foram apenas mais duas de várias fronteiras que, na
altura, existiam entre Portugal e a Alemanha. Aquilo para mim era uma aventura
e, com dezanove anos, uma pessoa precisa dessas coisas.




Escrevíamo-nos
em inglês. Depois de ter entrado em “Germânicas”, resolvi armar-me ao pingarelho e escrever-lhe uma
carta no idioma de Nietzsche, embora o meu alemão (essa língua desgraçada)
fosse muito macarrónico. Até me dei ao trabalho de fazer um rascunho, para que
a missiva não fosse toda riscada e com setinhas em várias direções (para quem
não sabe, a ordem das palavras nas frases alemãs é um autêntico quebra-cabeças).




Na sua resposta, penso que ele tencionou elogiar-me: «apreciei muito que
tivesses escrito a carta em alemão e, na maior parte das vezes, consegui mesmo entender
o que me querias dizer». E eu que me preparava para ser professora de alemão! Para
ser ainda mais simpático, respondeu igualmente na língua de Bismarck, sem erros
e com tudo bem ordenado no seu devido lugar. Não percebi quase nada!




Casámos
em 1992. Estou convencida que, para isso, muito contribuiu a sua habilidade
(que mantém) para me fazer rir. Convenhamos: um alemão que encontra sempre
maneira de pôr uma portuguesa a rir às gargalhadas não se enquadrará muito na
sua norma!







Ele
tinha montes de pen-friends (todas
mulheres). Eu só o tinha a ele (como pen-friend). Moral da história: tenho muito melhor pontaria!
Ou sou mais aventureira. É conhecido que os alemães necessitam de analisar
minuciosamente várias hipóteses, antes de se decidirem. Nesse caso, consegui
impor-me perante uma concorrência que, de Portugal, e passando pela República
Checa, ia até à Austrália (e, agora que penso nisso, acho que também havia
alguém no Canadá).




E estamos quase nas Bodas de Prata (meu Deus, como me sinto velha...)! 





















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Published on August 29, 2015 02:58

August 27, 2015

Sem disfarces








«Nenhuma
memória é mais funesta do que aquela que antecede a morte e permite olhar a
vida toda ao mesmo tempo».




In O Rei do Monte Brasil, Ana
Cristina Silva (Oficina do Livro 2012)







P.S. Em breve a minha opinião sobre este livro.





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Published on August 27, 2015 02:32

August 25, 2015

Entrevista de Yanis Varoufakis ao semanário alemão “Die Zeit” (5)








Varoufakis:
Tentei igualmente transmitir ao povo alemão a minha grande ligação à Alemanha.



Die
Zeit
: Não parece que o tenha conseguido.

Varoufakis:
Receio que não. Os media
apresentaram-me, desde o início, como o tal maluco que queria ir ao bolso dos
alemães. As minhas palavras nunca chegaram ao público alemão.

Die
Zeit
: Tem pena disso?

Varoufakis:
Muita. Foi uma das maiores desilusões do meu tempo como Ministro.









Político sofre…









Nota:
a entrevista foi publicada a 30 de Julho de 2015; a tradução e o comentário são
de minha autoria.





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Published on August 25, 2015 02:58

August 24, 2015

A Citação da Semana (75)

«Não se pode ser justo, se não se for humano».



Luc de Clapiers Vauvenargues




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Published on August 24, 2015 03:37

August 22, 2015

Entrevista de Yanis Varoufakis ao semanário alemão “Die Zeit” (4)








Die
Zeit
: Quer dizer que os outros políticos mentem, quando dizem
que a Grécia é a principal responsável pela sua própria situação?



Varoufakis: Pode
dizê-lo assim. Eu abstenho-me de comentar. Quando entrei na política, jurei a
mim mesmo: se começar a pensar como um político, demito-me. Não me dobrarei a
pretexto de uma carreira política. Se dizer a verdade significa que sou
afastado do governo, ou expulso do partido, ou que tenho de ir para a cadeia,
então será assim.

Die
Zeit
: Você exagera. Além disso, na questão da crise grega, há
surpreendentemente muitas verdades.

Varoufakis: Eu
também não digo que tenho razão em tudo.







Talvez
ele dê cursos sobre a melhor maneira de rodear as questões…







Nota:
a entrevista foi publicada a 30 de Julho de 2015; a tradução e o comentário são
de minha autoria.





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Published on August 22, 2015 06:53

August 20, 2015

Entrevista de Yanis Varoufakis ao semanário alemão “Die Zeit” (3)








Die
Zeit
: Como definiria a sua relação com Wolfgang Schäuble?



Varoufakis: Era
excelente.

Die
Zeit
: Não acreditamos.

Varoufakis: No
nosso primeiro encontro, no seu escritório em Berlim, a atmosfera estava
bastante gelada. Mas, derreteu, passado algum tempo e, mais tarde, Wolfgang e
eu tivemos conversas muito agradáveis.




Agora
é que estragaste tudo, Yanis! Isso de ser muito tu cá, tu lá com alguém que
muitos chamam de nazi será um bico-de-obra, mesmo para as tuas fãs…







Nota:
a entrevista foi publicada a 30 de Julho de 2015; a tradução e o comentário são
de minha autoria.





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Published on August 20, 2015 03:49

August 18, 2015

Lessons from a Sheep Dog













Cheguei
a este pequeno livro por acaso. Foi-me oferecido pelo meu marido, por sua vez, atraído
pelo título e pela capa. Sobre o autor, Phillip Keller, não encontrei muito na
internet, a não ser que nasceu no Quénia, em 1920, filho de missionários
(brancos), e que escreveu vários pequenos livros sobre a religião cristã,
nomeadamente, sobre como encontrar Deus na Natureza, tendo, por base, a sua
profissão de pastor. Também foi fotógrafo do mundo animal.




Neste pequeno livro,
não obstante as, por vezes, fastidiosas lições sobre a Bíblia, nota-se o enorme
respeito que Phillip Keller votava à Criação Divina. Através da sua relação com
a cadela pastora Lass, uma Border Collie,
o autor faz um paralelo com a relação entre Deus e os humanos.




O
livro cativou-me pela sua ternura. Phillip Keller, com vinte e poucos anos,
acabava de se mudar de África para uma região inóspita do Canadá, na costa
oeste, e adquirira um rebanho. Na sua procura por um bom cão pastor, deu com
uma Border Collie mal tratada, num
exíguo pátio de traseiras, na cidade mais próxima. A cadela, com
cerca de dois anos, era mantida acorrentada por os seus donos não saberem lidar
com a sua energia. Quando a soltavam, ela corria e atacava
tudo o que se movesse, incluindo crianças de bicicleta.




Embora
Lass o recebesse agressiva, Phillip Keller ficou com ela, mais por piedade do
que por convencimento de que o animal lhe pudesse ser útil. E quase se
arrependeu. Lass estava tão traumatizada, desconfiava tanto de humanos, que
parecia impossível fazer algo dela. Manteve-a igualmente presa, durante algum
tempo, para que ela não fugisse, mas Lass recusava-se a comer. Quando começou a
ficar perigosamente magra, o dono soltou-a… E ela desapareceu na floresta.




Phillip
procurou-a durante dias, perguntou nas quintas das redondezas… Em vão. Até que a
viu no cimo de um rochedo, observando-o com as suas ovelhas. Levou-lhe comida, mas
ela logo tornou a fugir. Phillip deixou a tijela da comida em cima do rochedo e
constatou, na manhã seguinte, que estava vazia. Na sua sensibilidade,
compreendeu que nada deveria forçar: ou Lass vinha ter com ele de forma
voluntária, ou nada feito. Todos os dias ia deixar comida ao rochedo e todas as
manhãs dava com a tijela vazia.



Um dia, estando a observar o pôr-do-sol
no mar, no cimo de uma escarpa, com as ovelhas à sua volta, sentiu um narizito canino, muito tímido, a tocar nas suas mãos, atrás das costas. Phillip Keller
designa esse momento como um dos mais bonitos da sua vida. E eu classifico essa
cena como uma das mais comoventes que já li! Pela paciência revelada pelo
humano e pelo ganhar de confiança de uma criatura traumatizada. Um momento, apenas, um toquezinho, que nos marca para sempre.




Phillip
e Lass tornaram-se grandes amigos, revelando-se a cadela indispensável para o
sucesso da quinta. Além de guardar e defender o rebanho de animais selvagens,
Lass era exímia em reunir as ovelhas, que se espalhavam, ou se perdiam, nas
redondezas, aprendendo a interpretar todos os comandos e sinais que o dono lhe
transmitia.




Claro que esta linda história de amizade me encantou. Para o próprio autor,
o mais importante foi, nas suas palavras, «o que Deus lhe ensinou através do trabalho
com esse animal maravilhoso». O paralelo que ele estabelece com a relação entre
Deus e os humanos, e que não é de desprezar, está bem patente nesta passagem:




«Deus depara
connosco, muitas vezes, como eu deparei com Lass: no local errado, presos em fanatismo
e teimosia, caídos em mãos erradas e mal tratados por um amo sem coração.

Esta
importante verdade espiritual foi-me revelada naquela tarde, em que fui buscar
a Lass, enquanto a dona não parava de reclamar sobre o comportamento mentecapto da
sua Collie. Ela não fazia ideia do
que um animal tão maravilhoso precisava, a fim de revelar as qualidades que lhe
permitiam desempenhar uma atividade específica. Nada sabia, nem estava
interessada em saber, sobre o desperdício de tão grande potencial daquela
criatura de Deus.

A
cadela, presa pela corrente e encolhida no pó, tornou-se, para mim, na imagem
do destino de tantos homens e mulheres, que estarão dotados de qualidades
específicas, mas que se encontram nas mãos erradas. Pessoas presas no desespero
dos anos e das oportunidades perdidos».




Mesmo os
leitores que abominam qualquer religiosidade hão de ver a beleza de sentimentos incluída nestas
palavras…




Nota:
li o livro em alemão, com o título Was
mein Hirtenhund mich lehrte
, sendo a tradução do excerto de minha autoria. A versão
inglesa pode ser adquirida na Amazon .




Por acaso, gosto mais da capa alemã, que apresenta uma verdadeira Border Collie:



















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Published on August 18, 2015 03:43