Cristina Torrão's Blog, page 72
August 17, 2015
Entrevista de Yanis Varoufakis ao semanário alemão “Die Zeit” (2)
Die
Zeit : [A propósito do
gesto obsceno à Alemanha, surgido num vídeo de 2010] Seja sincero: fê-lo, ou
não?
Varoufakis: Já
não sei bem, mas não o consigo imaginar. Fazer um gesto desse tipo não
corresponde à minha maneira de agir.
Die
Zeit : Como é possível que já não se lembre?
Varoufakis: Perguntei
a três pessoas que, na altura, estavam comigo. Uma disse que eu mostrei o dedo,
as outras acham que não.
Ah,
bom! Se são dois contra um…
Nota:
a entrevista foi publicada a 30 de Julho de 2015; a tradução e o comentário são
de minha autoria.
Published on August 17, 2015 11:43
A Citação da Semana (74)
«Os atos de uma pessoa são consequência dos seus princípios. Sendo estes errados, também o serão os seus atos».
Bernhard Lichtenberg
Bernhard Lichtenberg
Published on August 17, 2015 03:35
August 15, 2015
Entrevista de Yanis Varoufakis ao semanário alemão “Die Zeit” (1)
Die
Zeit : E as fotografias na revista francesa “Paris Match”, para
as quais posou com a sua mulher como um casal da high-society? Estavam adequadas à situação, ou foi pura vaidade?
Varoufakis: Estava
em Paris, na altura, e a minha editora francesa propôs-me duas entrevistas: uma
para uma revista de Filosofia e outra para a “Paris Match”. Eu não sabia o que era a “Paris Match”.
Por isso, autorizei o texto. A jornalista enviou-mo e achei-o muito bom.
Depois, a redação telefonou a dizer que queria tirar algumas fotografias em
minha casa. Planeavam três horas para a sessão. A minha mulher ainda disse que
não seria boa ideia. Eu não tinha tempo para me ocupar disso. Estive apenas 15
minutos na sessão fotográfica, pois tinha um encontro com o Primeiro-Ministro.
Eles tiraram as suas fotografias e eu nem me dei ao trabalho de saber o que se
passava. Foi um erro.
Não te
justifiques tanto, Yanis! As tuas fãs tudo te perdoam e os outros não acreditam.
Nota:
a entrevista foi publicada a 30 de Julho de 2015; a tradução, o destaque e o
comentário são de minha autoria.
Published on August 15, 2015 07:38
August 13, 2015
O que os adultos podem aprender com as crianças
KiZ online
Normalmente, são as crianças que aprendem com os adultos. Mas porque não tentar o contrário? Afinal, desaprendemos muito, ao crescer, desaprendemos tanto, que não nos lembramos do que é ser criança e ver o mundo através dos olhos de uma criança.
Dez coisas que podemos (re)aprender com crianças:
1 - Ingenuidade
Pablo Picasso passou muito tempo da sua vida a tentar adquirir a visão do mundo das crianças: ingénua e sem esquemas. Parava sempre que via crianças a desenhar algo na rua. «Aprendo sempre algo», dizia ele. E a verdade é que, tal como as crianças, Picasso desenhava rostos de lado como se os visse de frente
2 - Sinceridade
As crianças são capazes de perguntar aos pais, em público, se também neste ano não há dinheiro para férias. A sua frontalidade pode magoar, embaraçar, ou confundir. Por outro lado, se dizem algo agradável a alguém, pode ter-se quase a certeza de que são sinceras.
3 - Rir
Estudos dizem que os adultos riem 15 a 20 vezes por dia. As crianças riem 400 vezes. E o seu riso é contagiante, quem vive com crianças, ri mais vezes.
4 - Brincar
Uma cama é um barco de piratas, uma escada é uma montanha. As crianças podem brincar em qualquer lado, muitas vezes, quase sem brinquedos. E são exímias em trocar os seus papéis num ápice: um monstro transforma-se no super-homem, uma princesa numa corredora de automóveis.
5 - Curiosidade
«Porque é o cimo de uma montanha frio, se está mais perto do sol? Onde estava eu, antes de nascer, já estava morto/a?» As crianças fazem, por vezes, perguntas que qualquer adulto se devia fazer.
6 - Criatividade
As crianças são criativas por natureza. Até criam palavras novas.
7 - Afinidade digital
As crianças são boas a interpretar símbolos. Por isso, mesmo antes de aprenderem a ler, já conseguem manejar o tablet ou o smartphone.
8 - Ouvir
A maior parte dos adultos gosta, sobretudo, de falar e ser ouvido. As crianças gostam de ouvir (e não só contar histórias). Fixam uma grande quantidade de pormenores. Não raro, confrontam os adultos com as próprias contradições.
9 - O olhar para as pequenas coisas
As crianças podem ser muito materialistas. Mas, muitas vezes, o brinquedo de que gostam mais é o mais barato. Numa visita a Paris, não se fascinam com a Torre Eiffel, mas, talvez, com uma pomba a debicar um pedaço de pão, no passeio.
10 - Viver
Talvez a coisa mais importante que as crianças ensinam aos adultos seja: vive o momento! E, talvez por isso, saibam tão bem perdoar. Brigas e tristezas depressa são esquecidas.
Daqui (em alemão; tradução minha).
Published on August 13, 2015 03:39
August 11, 2015
Deus Branco
Brutais, as palavras da escritora e jornalista Ana Margarida de Carvalho, na sua crítica ao filme húngaro Deus Branco , publicadas na Revista Visão do passado 28 de Maio, mas que só agora li. Passo a citar:
«A nossa condição de omnívoros porduz atrocidades contra as espécies comestíveis. Mas acontece que entre o cão e homem há uma ligação que remonta ao fundo dos séculos, um entendimento único entre espécies, e um grau de confiança que não tem equiparação com nenhuma outra - nós somos uma espécie de Deus para eles (e isto não é necessariamente bom). Por isso assistimos a este filme de coração esmagado. Primeiro, o abandono, a perplexidade do animal, a ameaça do trânsito, na perspectiva do cão, as rodas do carro roçam-lhe a cabeça... Depois, a perseguição dos canis, matadouros em série. Em seguida, a maldade, as lutas de cães, os espancamentos, os doppings para se tornarem agressivos, máquinas de matar... E um cão dócil é forçado a aprender a maldade, por parte daqueles em quem sempre confiou, e que ainda por cima têm a responsabilidade de serem homo duplamente sapiens...»
Muitas vezes, não sei porque é que Deus nos deu inteligência (ou aquilo que consideramos inteligência).
Resta acrescentar que não vi o filme, nem tenciono ver. Confesso que sou fraca demais, que não tenho estômago.
Published on August 11, 2015 03:43
August 10, 2015
A Citação da Semana (73)
Published on August 10, 2015 03:32
August 6, 2015
A Lenda Desconhecida de Francisco Caga-Tacos
Um
miúdo misterioso e solitário, do qual se desconhece o pai, nem a própria mãe
faz ideia de quem seja; um músico que deixou de tocar o seu violino, por um
acidente lhe ter levado o amor da sua vida; um vendedor de imóveis que olha
apenas para os próprios sapatos; um agente da autoridade cooperador com os
arranjinhos e a corrupção local; uma aldeia que é o microcosmos do nosso país. São
estes os pontos de partida que João J. A. Madeira escolheu para desenvolver o
seu romance melancólico, trágico mesmo.
As
pessoas são desconfiadas, por natureza, receiam o desconhecido, em suma, tudo o
que lhes parece estranho, não hesitando em inventar explicações abusivas para
certos fenómenos, que se transformam em verdades absolutas e que podem pôr
existências em perigo. A aldeia que serve de palco a este enredo encerra em si
mesma a miséria e a falta de perspetivas causadas pela crise atual, mas também
os vícios da sociedade portuguesa, na sua mesquinhez, na sua aptidão para a
solução fácil, o jogo de interesses e o pequeno delito, ao qual todos fecham os
olhos, porque, enfim, temos de nos ajudar uns aos outros. E muitas pessoas, não
obstante o seu bom coração, escondem algo no seu íntimo, pelo qual se
envergonham, incapazes de o confessar. Algumas adotam comportamentos excêntricos,
que nem elas próprias sabem explicar. E o único remédio parece ser a morte, que
tudo acaba e tudo resolve…
Será?
«Estranhamente
não leva os olhos ao céu que vislumbra através da abertura da porta. Lá não acontece
nada. É ali, em baixo, na terra que ela pisa e que se gruda a uma bola redonda
que os mistérios acontecem. Mas, resolvidos uns, outros acontecerão. Até quando?».
(p. 301)
No
meio da melancolia e da tragédia, há sempre uma réstia de esperança. Porque,
afinal, o amor é sempre possível, mesmo para quem já desistiu dele (ou pensa
ter desistido). E assim se cria um pequeno foco de felicidade, num romance sem
final feliz.
Mais um livro de João J. A. Madeira que vale a pena ler!
(Já aqui tinha falado de O Rio que corre na Calçada)
Published on August 06, 2015 03:48
August 4, 2015
Judas – traidor, ou um simples peão nos planos de Deus?
Judas, por Carl Heinrich Bloch
No seu
livro Judas, Amos Oz dá uma nova
explicação para o comportamento do apóstolo, através do estudante Schmuel
Asch, a personagem principal (link
em alemão). Schmuel Asch possui a firme convicção de que Judas tanto amou e acreditou
em Jesus, que estava à espera que ele descesse da cruz, provando que, de facto,
era Deus. Ao constatar que tal não aconteceu, enforcou-se.
É
curioso constatar que em Bad Gandersheim, uma
pequena cidade alemã, se pode assistir a uma peça de teatro, da autora holandesa
Lot Vekemans, igualmente sobre a interpretação do comportamento de
Judas. A peça, que dura hora e meia, consiste num monólogo do próprio Judas.
Numa entrevista à KirchenZeitung,
Christian Schramm, um estudioso da Bíblia, fala dela.
O
teólogo chama a atenção para o facto de que, na Bíblia, há muito poucas
informações sobre Judas e rigorosamente nenhuma sobre os motivos que o teriam
levado a entregar Jesus. E, na verdade, a entrega foi crucial para que os
planos de Deus, anunciados pelo próprio filho, se concretizassem, ou seja, se
Judas não o tivesse traído, ele não teria morrido na cruz, salvando a
humanidade.
Christian
Schramm evidencia a contradição existente na Bíblia: o próprio Cristo anuncia
que tem de cumprir o caminho que lhe foi destinado, mas, ao mesmo tempo, condena-se
quem o entrega. Talvez por isso, na peça, Judas pergunte aos espetadores: não
estão contentes por eu ter feito o que fiz?
Um outro
aspeto focado na peça é o político: Judas terá ficado profundamente desiludido,
ao constatar que o Messias, afinal, não pretendia resistir aos opressores
romanos. A Bíblia não menciona este aspeto, mas Judas parece ter pertencido ao
grupo daqueles que estariam dispostos a lutar contra as forças ocupantes.
Christian Schramm põe mesmo a hipótese de se terem juntado vários desses apoiantes, muitos deles, armados. Judas terá
insistido com o Messias para que agisse. A desilusão teria provocado a traição.
O
monólogo de Judas não representa uma defesa dos seus atos, é mais uma tentativa
de explicação, porque, afinal, no Evangelho, não temos a sua perspetiva. O seu
comportamento é-nos apresentado e comentado por terceiros.
Nota:
não sei se o livro de Amos Oz já existe em Portugal. Pesquisando na internet, só
encontrei, na Amazon, uma versão
«em português do Brasil».
Published on August 04, 2015 03:49
August 3, 2015
A Citação da Semana (72)
Reflete mais uma vez, antes de dares; duas vezes, antes de aceitares; mil vezes, antes de exigires».
Marie von Ebner-Eschenbach
Marie von Ebner-Eschenbach
Published on August 03, 2015 03:29
August 1, 2015
Férias e Animais
É
conhecido que, em chegando as férias, o abandono de animais domésticos aumenta
drasticamente. Por isso, não posso deixar de destacar uma notícia, que pode
servir de exemplo a quem não tem coração.
Um
jovem casal alemão levou consigo o cão Flecki, na sua viagem de férias à
Croácia. No regresso, porém, ao fazerem uma pausa numa estação de serviço, ouviu-se
um estrondo, o cão assustou-se e fugiu disparado. O casal ficou na estação de
serviço, dias a fio, porque se sabia que Flecki andava nas imediações, só que
não arranjava coragem de se aproximar dos donos.
Fonte
Sempre que surgia perto do
local, o cão assustava-se com o movimento, ou era enxotado. Numa ocasião, o casal até
o viu, a cerca de 200 metros de si. Chamaram-no, mas o Flecki não se atreveu a passar
pela confusão de pessoas e automóveis e tornou a desaparecer.
Hoje, cerca
de uma semana e meia mais tarde, a perseverança do casal foi recompensada. A
história era conhecida, na zona, uma equipa pertencente à defesa dos animais
estava a postos para ir buscar o Flecki, assim que alguém o visse e os avisasse.
Foi o que aconteceu: uma mulher viu o cão no seu jardim e avisou quem de
direito. E o Flecki pôde enfim reunir-se à sua família.
Fonte
Quando levamos um animal para nossa casa, assumimos uma grande responsabilidade. É uma questão de ética, de lealdade e, muitos de nós sabem-no, também de amor.
Published on August 01, 2015 08:40


