Cristina Torrão's Blog, page 67

December 9, 2015

Ser ou não ser génio


Stock Montage/Hulton Archive/Getty Images

Não pretendo propriamente contestar a condição de génio da literatura atribuída a Shakespeare, mas, para ser franca, sempre me pareceu que a sua fama se prendia mais com certos "temas-símbolo" do que com as suas qualidades de dramaturgo. Com "temas-símbolo" refiro-me a ideais, como o amor absoluto de Romeu e Julieta, ou conflitos humanos intemporais, como o complexo de Édipo de Hamlet.



Já aqui escrevi sobre o erro de Shakespeare, referindo-me à sua peça Richard III, em que o dramaturgo descreve este rei como
«poisonous bunch-back’d toad», uma personagem que se tornou num símbolo universal de malignidade. Historiadores recentes têm, porém, chegado à conclusão de que Ricardo III estava longe de ser o vilão criado por Shakespeare e os seguidores deste monarca, que se apelidam a si próprios de ricardians , mostram-se decididos a tudo
fazer para modificar a imagem de monstro criada pelo dramaturgo mais famoso da História.



Polémicas históricas à parte, deparei recentemente com um artigo em que grandes personalidades da literatura e da filosofia contestam (ou contestaram) a condição de génio de Shakespeare.



Comecemos com Leo Tolstói, que, num ensaio que se pode descarregar gratuitamente (em língua inglesa), descreve as peças de Shakespeare como  «trivial and positively bad», considerando a sua fama universal «pernicious», descrevendo o próprio dramaturgo como «insignificant, inartistic writer». 



Também Voltaire terá desdenhado de Shakespeare e George Bernard Shaw fez críticas muito duras a certas peças no jornal londrino Saturday Review, embora pareça que a sua opinião terá melhorado à medida que ele próprio se ia tornando famoso...



J. R. R. Tolkien usou igualmente palavras desfavoráveis para qualificar Shakespeare em certas situações, considerando, como professor de Inglês, que se perdia tempo demais com o autor de Romeu e Julieta, prejudicando o ensino de outros escritores igualmente valiosos.



Robert Greene, um dramaturgo igualmente popular na época isabelina, parecia incomodado com o facto de Shakespeare, que começou como ator, ousar escrever as suas próprias peças! Certo é que o "ator atrevido" se tornou mundialmente famoso e, pelos vistos, eterno, enquanto Robert Greene, apesar de igualmente ter escrito inúmeros poemas, peças, contos e ensaios, perdeu-se na poeira dos séculos.




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 09, 2015 06:54

December 7, 2015

A Citação da Semana (90)

«Os amigos são como as estrelas na noite; mesmo que, por vezes, não as vejas, sabes que estão lá».



Da Índia




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 07, 2015 02:42

December 6, 2015

Cidades Medievais Portuguesas (5)

«Enrodilhadas no terreno acidentado, as muralhas de Sintra pareciam uma cobra gigantesca a esgueirar-se por entre as escarpas».



In Afonso Henriques o Homem



A vila de Sintra assinala hoje 20 anos de Património Mundial da Unesco, na categoria de Paisagem Cultural.

Certo: Sintra é o
Palácio da Pena, o romantismo dos parques, as queijadas... Mas Sintra é
também o Castelo dos Mouros, que possui hoje o encanto de ter sido
adotado pela Natureza circundante.



Fotos: © Horst
Neumann


















 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 06, 2015 04:10

December 3, 2015

O Espinho de São Paulo


Imagem daqui

"E para que eu não ficasse vaidoso com a grandeza dessas revelações, foi colocado no meu corpo um espinho, um enviado de Satanás que me atormenta continuamente. Isso impede que eu me envaideça. Por três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Mas ele respondeu-me: «Basta que tenhas a minha graça. Pois a minha força manifesta-se melhor nas fraquezas.» Por isso, acho muito melhor orgulhar-me das minha fraquezas, para que a força de Cristo desça sobre mim. Alegro-me, portanto, com as fraquezas, as injúrias, as privações, as perseguições e as angústias que passei por amor de Cristo. Pois quando me sinto fraco, então é que sou forte".

2 Co 12,7-10



Esta passagem da segunda Carta aos Coríntios faz os teólogos pensarem que São Paulo carregaria uma doença que lhe causava muito sofrimento. Ele interpreta-a como um espinho que lhe terá sido colocado no corpo pelo diabo, deixando, porém, em aberto a que tipo de sofrimento, ou de deficiência, estaria sujeito. Teólogos atuais deduzem que seria uma doença crónica que lhe causava dores fortes e talvez fosse o resultado dos perigos decorrentes das suas viagens. Sabe-se que São Paulo esteve várias vezes em risco de naufrágio, que foi chicoteado e apedrejado. Porém, como ele refere ter suplicado várias vezes a Deus que o livrasse de tal espinho, outros teólogos pensam que se poderá ter tratado de um mal psicológico que ciclicamente o atormentava. Também há quem ponha a hipótese da epilepsia, ou simplesmente de uma grande tentação contra a qual ele energicamente lutava.




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 03, 2015 07:53

December 1, 2015

Os Bons Velhos Tempos






Quase toda a gente recorda nostálgica os bons velhos tempos, desejando que voltem. Mas eu pergunto-me quando foi o mundo mais justo, mais pacífico, mais igualitário. Quando viveram as pessoas com mais conforto e mais cuidados? E houve tempos em que houve menos guerras do que hoje? E em que as crianças eram mais bem tratadas?



O que nos faz recordar nostálgicos os "bons velhos tempos" é apenas a saudade de uma época em que éramos bem mais novos, uma época que idealizamos, infância incluída. Toda a gente considera que teve uma infância feliz, mesmo sem a ter tido. Precisamos dessa crença para não soçobrarmos. Isto, aliado ao facto de, no presente, as falhas da sociedade e os seus piores aspetos serem mais tematizados, é que nos dá a ilusão de que antigamente tudo era melhor.



Porque antigamente não se falava nas mulheres subjugadas e maltratadas em casa. Tinham marido e filhos, o que queriam mais? Também não se falava dos maus tratos a crianças. Tinham um teto e pais que as alimentavam, o que queriam mais? Não se falava dos problemas das prostitutas, nem da marginalidade em que eram forçados a viver os homossexuais. Muitas coisas se ignoravam, fazia-se de conta de que não existiam. Hoje, muitos desses problemas são, e ainda bem, trazidos à luz do dia. Por isso, temos a impressão de que há mais problemas, de que há mais gente a sofrer e a ser maltratada. Também temos mais acesso a informação sobre o que se passa no mundo e ficamos com a impressão de que nunca houve tanta guerra e tanta violência.



Aproveitemos o tempo em que vivemos! Isto não significa apenas gozá-lo, mas também aproveitar a queda dos tabus para ir ao fundo dos aspetos menos bonitos e menos bons, tentando modificá-los.




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on December 01, 2015 07:22

November 30, 2015

A Citação da Semana (89)

«Se considerarmos que somos todos malucos, está explicada a vida».



Mark Twain




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 30, 2015 02:40

November 29, 2015

Cidades Medievais Portuguesas (4)

Em Santa Maria da Feira, faz-se um lido passeio até ao castelo medieval, situado num enorme e bem tratado parque. O castelo da Feira é muito antigo, de origem moura, e à volta dele foram criadas várias lendas, o que não admira, olhando assim para ele, no meio do arvoredo, com as suas pontas cónicas:















Usei o castelo da Feira para uma cena do meu romance Afonso Henriques, o Homem, relacionada com a barregã Châmoa Gomes. Miguel Bernardes, um empresário de Santa Maria da Feira, aproveitou-a para criar o licor de Chamoa.







 Em Santa Maria da Feira, realiza-se, todos os anos, um dos maiores espetáculos medievais portugueses: a Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, que ganhou, na Gala dos
Eventos em Lisboa, organizada pela Expo Eventos, o prémio de Melhor
Evento Público 2014.



Em 2016, a 20 ª edição da Viagem Medieval é simbólica, por isso a organização promete um evento memorável, integralmente dedicada ao reinado de D. Dinis.








 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 29, 2015 03:56

November 26, 2015

De Nome, Esperança




Gostei muito do estilo da escrita de Margarida Fonseca Santos, que, mais do que ações, nos transmite emoções, rico em termos estilísticos, sem ser complicado. Também gostei do tema abordado: uma mulher extremamente inteligente, mas com uma doença psicológica que a impede de usar as suas capacidades anormais de redigir e decorar textos. Por acaso, há alguém que descobre algum do seu talento, numa altura em que Esperança trabalha como empregada de limpeza na redação de um jornal e prontamente a promove a revisora. Ninguém sabe, porém, que ela igualmente escreve os seus próprios textos, ela não os mostra. E ainda salva um jornalista que perdeu o texto de uma notícia importante, pois Esperança já o tinha corrigido e reescreve-o, palavra por palavra, recorrendo à sua memória prodigiosa. Uma outra notícia, porém, de um desastre mineiro, põe-na em contacto com o seu trauma de infância e ela sofre tão grande recaída, na sua esquizofrenia, que tem de ser internada.



O romance mostra-nos, de forma muito sensível, o dilema da vida destas pessoas que se veem impedidas de fazer uma vida normal, para já não falar de uma vida de sucesso, mas também o desespero de quem as acompanha e se apercebe das suas capacidades. E fico-me por aqui, pois quiçá já tenha revelado demais sobre o enredo.



Porém, se o estilo de Margarida Fonseca Santos é agradável, a maneira como constrói o romance, na minha opinião, não o é. O enredo é contado em episódios curtos, sem qualquer ordem cronológica, o que aliás se ultrapassa facilmente. Já o facto de a autora constantemente mudar de narrador, mas o fazer sempre na primeira pessoa, dificulta muito a compreensão e acaba por prejudicar a leitura. Quando o leitor está muito interessado no destino de Esperança e começa novo episódio, com outro narrador, mas sem fazer ideia de quem "fala", é bastante confuso e irritante. E, quando se apercebe qual a personagem em foco, tem de voltar meia página atrás, a fim de perceber melhor o evoluir da situação. Acontecendo isto constantemente, a leitura acaba por ser muito prejudicada. Penso que não tirei todo o proveito do romance precisamente por causa disso. E tive pena.




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 26, 2015 06:59

November 24, 2015

Figos de Cacto

Depois de termos estado em Mourão (ver post do dia 22), e estando o depósito do carro quase vazio, resolvemos ir meter gasolina a Espanha, que é bem mais barato (já foi em 2010, mas a situação era idêntica). No caminho para a fronteira, viam-se, na berma da estrada, muitos figos de cacto, o que encantou o Horst, pois na Alemanha não há destas coisas. De regresso, parámos o carro em plena planície alentejana, a fim de ir fotografar os frutos, que, em Setembro, estavam ainda um pouco verdes.




























 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 24, 2015 07:23

November 23, 2015

A Citação da Semana (88)

«Liberdade implica responsabilidade. É essa a razão por que a maioria das pessoas a teme».



George Bernard Shaw




 •  0 comments  •  flag
Share on Twitter
Published on November 23, 2015 02:35