Cristina Torrão's Blog, page 64
January 15, 2016
Transferência do Estudo Geral das Ciências
Foi em Janeiro de 1307 (não se sabe o dia exato) que se fez
o pedido de transferência, de Lisboa para Coimbra, do Estudo Geral das
Ciências, percursor da Universidade.
O Estudo Geral tinha sido fundado em
Agosto de 1290, em Lisboa, através da bula De
Statu Regno Portugaliae, emitida pelo papa Nicolau II. Poucos anos depois,
iniciaram-se conflitos com a Casa da Moeda em relação ao terreno que Dom Dinis
doara para a construção do edifício, no Campo da Pedreira à Lapa, perto do Mosteiro
de São Vicente de Fora. Também haveria conflitos entre os estudantes e a
população de Lisboa, embora os motivos, tanto para uns, como para outros, não
sejam hoje claros. No meu romance, esforcei-me por dar uma explicação plausível:
O
Estudo Geral continuava a ser um problema bicudo. A contestação dos
escolares aumentava, pois a Casa da Moeda instalara-se definitivamente naquele
que havia sido o seu edifício e o rei ainda não conseguira disponibilizar os
terrenos para a construção de um novo. As querelas descambavam, muitas vezes,
em autênticas zaragatas, que se alargavam à população residente à volta do bairro
dos estudantes. Estes, por seu turno, reclamavam do monarca a proteção especial
que Nicolau IV lhes havia destinado. E Dinis ponderava a transferência do
Estudo Geral. Custava-lhe afastá-lo de Lisboa, mas a situação tornava-se
insustentável.
Considerava
a hipótese de Coimbra. O Estudo Geral teria de se situar obrigatoriamente numa
cidade, já que era o bispo quem concedia o grau de licenciado aos estudantes.
Santarém e Leiria, por exemplo, não sendo assento episcopal, possuíam apenas o
estatuto de vila. Em Portugal, havia apenas nove cidades, tantas, quantos os
bispos: a Braga arquiepiscopal à cabeça, seguindo-se Lisboa, Coimbra, Porto,
Lamego, Viseu, Guarda, Évora e Silves.
A transferência para Coimbra foi autorizada pelo papa
Clemente V em 26 de Fevereiro de 1308. No entanto, a Universidade mudaria de
local, entre Lisboa e Coimbra, várias vezes, e só ficou definitivamente instalada junto ao Mondego muito depois da morte de Dom Dinis.
À altura da Fundação do Estudo Geral das Ciências de Lisboa,
já existiam as Universidades de Paris, Oxford, Cambridge, Nápoles, Pádua,
Montpellier e Salamanca, todas fundadas na primeira metade do século XIII.
Bolonha, a mais antiga, foi fundada ainda no século XII.
Estátua D. Dinis em Coimbra
o pedido de transferência, de Lisboa para Coimbra, do Estudo Geral das
Ciências, percursor da Universidade.
O Estudo Geral tinha sido fundado em
Agosto de 1290, em Lisboa, através da bula De
Statu Regno Portugaliae, emitida pelo papa Nicolau II. Poucos anos depois,
iniciaram-se conflitos com a Casa da Moeda em relação ao terreno que Dom Dinis
doara para a construção do edifício, no Campo da Pedreira à Lapa, perto do Mosteiro
de São Vicente de Fora. Também haveria conflitos entre os estudantes e a
população de Lisboa, embora os motivos, tanto para uns, como para outros, não
sejam hoje claros. No meu romance, esforcei-me por dar uma explicação plausível:
O
Estudo Geral continuava a ser um problema bicudo. A contestação dos
escolares aumentava, pois a Casa da Moeda instalara-se definitivamente naquele
que havia sido o seu edifício e o rei ainda não conseguira disponibilizar os
terrenos para a construção de um novo. As querelas descambavam, muitas vezes,
em autênticas zaragatas, que se alargavam à população residente à volta do bairro
dos estudantes. Estes, por seu turno, reclamavam do monarca a proteção especial
que Nicolau IV lhes havia destinado. E Dinis ponderava a transferência do
Estudo Geral. Custava-lhe afastá-lo de Lisboa, mas a situação tornava-se
insustentável.
Considerava
a hipótese de Coimbra. O Estudo Geral teria de se situar obrigatoriamente numa
cidade, já que era o bispo quem concedia o grau de licenciado aos estudantes.
Santarém e Leiria, por exemplo, não sendo assento episcopal, possuíam apenas o
estatuto de vila. Em Portugal, havia apenas nove cidades, tantas, quantos os
bispos: a Braga arquiepiscopal à cabeça, seguindo-se Lisboa, Coimbra, Porto,
Lamego, Viseu, Guarda, Évora e Silves.
A transferência para Coimbra foi autorizada pelo papa
Clemente V em 26 de Fevereiro de 1308. No entanto, a Universidade mudaria de
local, entre Lisboa e Coimbra, várias vezes, e só ficou definitivamente instalada junto ao Mondego muito depois da morte de Dom Dinis.
À altura da Fundação do Estudo Geral das Ciências de Lisboa,
já existiam as Universidades de Paris, Oxford, Cambridge, Nápoles, Pádua,
Montpellier e Salamanca, todas fundadas na primeira metade do século XIII.
Bolonha, a mais antiga, foi fundada ainda no século XII.
Estátua D. Dinis em Coimbra
Published on January 15, 2016 03:03
January 12, 2016
O neto chamado Dinis
Dom Dinis teve um neto com o seu nome, nascido a 12 de Janeiro
de 1317.
«Estabeleceu-se
uma acalmia no início do novo ano, ao dar-se um feliz acontecimento:
Beatriz deu à luz mais um menino, a 12 de Janeiro, e o príncipe deu o
nome de Dinis àquele filho. O rei disse a Isabel aquela ser a prova de
que nada de grave sucederia. Afonso parecia cair em si, abstendo-se de
continuar a hostilizar o pai, cumprindo enfim a tradição de dar ao seu
herdeiro o nome do avô. Isabel, porém, pediu-lhe que não exagerasse na
sua alegria e que não ignorasse os problemas existentes».
As desavenças entre o rei e o seu herdeiro Afonso, que desembocariam
numa guerra civil, eram já graves, nesta altura. Dom Dinis parece ter tido muita
esperança neste neto, que foi jurado como herdeiro do trono
pelos concelhos do reino cerca de cinco meses depois de nascer (a 14 de Junho).
Estaria Dom Dinis a pensar transmitir o trono diretamente ao neto, seu
homónimo?
«A
14 de Junho, Dinis deu mais uma vez azo à euforia que lhe provocara o
nascimento do neto, ao exigir que os concelhos do reino jurassem o
pequeno como herdeiro do trono. Uma atitude que, porém, caiu mal ao
filho Afonso. A criança, de apenas cinco meses, não carecia de
legitimidade, nem tão-pouco faltava ao reino um príncipe herdeiro
adulto. Porque dava o soberano um sinal claro em relação ao neto, em vez
de o fazer com o filho? Pretenderia ele passar por cima de Afonso?»
Porém, o pequeno
infante Dinis morreu com cerca de um ano de idade. Era o segundo neto que
lhe morria, depois de um outro chamado Afonso, nascido em 1315.
«Em
Estremoz, Dinis recebeu a notícia da morte do neto que tinha o seu
nome, nas vésperas do primeiro aniversário! Na sua desolação, a família
real convencia-se de que Deus, por algum motivo, a castigava. Seria
pelos diferendos entre os seus membros? O certo é que nem Isabel
encontrava resposta para tanta calamidade e, em Fevereiro, Dinis
resolveu ir em peregrinação a Santiago de Compostela.
Embora
acompanhado de grande comitiva, incluindo os seus cavalos, o monarca
andava muito a pé. Os prelados aconselhavam-no a assim fazer, pelo
menos, metade do caminho.
(…)
O
rei rezou longamente junto ao túmulo do apóstolo, pois bem tinha de lhe
suplicar, novamente atacado pelo fantasma do rei velho e enfermo,
abandonado por tudo e todos… E recordava que sua mãe o avisara de poder
estar sujeito a destino semelhante. Desprezara o conselho, mas pedia
agora ao santo que o livrasse de tal sina, permitindo-lhe ser rei até
exalar o seu último suspiro, à semelhança de seu pai.
Suplicou
paz para o reino… E um herdeiro para o filho! Porque já lhe levara Deus
dois netos legítimos, não consentindo inclusive que o sucessor de
Afonso tivesse o seu nome? Tanto se convencera de que aquele
principezinho haveria de reinar um dia…
Ao
pedir um herdeiro para o filho, suplicava igualmente que aquele
possuísse mais bom senso do que Afonso, que se lhe assomava melancólico e
rancoroso, rodeado de maus conselheiros. Que estava destinado ao reino
de Portugal sob a regência de Dom Afonso IV? Por alguma razão, Dinis
temia pela sua amada terra e, através do apóstolo, suplicava a Deus que
lhe permitisse viver o suficiente, não só para assistir ao nascimento de
um outro neto varão, como para ter oportunidade de se aperceber do
carácter do pequeno. Desejava um príncipe mais alegre, mais aberto, mais
dado aos prazeres e às belezas da vida».
Dos sete filhos do futuro
Dom Afonso IV, apenas três atingiram a idade adulta: duas filhas, Maria e
Leonor, e um filho que seria rei, Dom Pedro I, nascido a 8 de Abril de 1319, dois anos depois
do pequeno Dinis.
Dom Pedro I, neto de Dom Dinis
de 1317.
«Estabeleceu-se
uma acalmia no início do novo ano, ao dar-se um feliz acontecimento:
Beatriz deu à luz mais um menino, a 12 de Janeiro, e o príncipe deu o
nome de Dinis àquele filho. O rei disse a Isabel aquela ser a prova de
que nada de grave sucederia. Afonso parecia cair em si, abstendo-se de
continuar a hostilizar o pai, cumprindo enfim a tradição de dar ao seu
herdeiro o nome do avô. Isabel, porém, pediu-lhe que não exagerasse na
sua alegria e que não ignorasse os problemas existentes».
As desavenças entre o rei e o seu herdeiro Afonso, que desembocariam
numa guerra civil, eram já graves, nesta altura. Dom Dinis parece ter tido muita
esperança neste neto, que foi jurado como herdeiro do trono
pelos concelhos do reino cerca de cinco meses depois de nascer (a 14 de Junho).
Estaria Dom Dinis a pensar transmitir o trono diretamente ao neto, seu
homónimo?
«A
14 de Junho, Dinis deu mais uma vez azo à euforia que lhe provocara o
nascimento do neto, ao exigir que os concelhos do reino jurassem o
pequeno como herdeiro do trono. Uma atitude que, porém, caiu mal ao
filho Afonso. A criança, de apenas cinco meses, não carecia de
legitimidade, nem tão-pouco faltava ao reino um príncipe herdeiro
adulto. Porque dava o soberano um sinal claro em relação ao neto, em vez
de o fazer com o filho? Pretenderia ele passar por cima de Afonso?»
Porém, o pequeno
infante Dinis morreu com cerca de um ano de idade. Era o segundo neto que
lhe morria, depois de um outro chamado Afonso, nascido em 1315.
«Em
Estremoz, Dinis recebeu a notícia da morte do neto que tinha o seu
nome, nas vésperas do primeiro aniversário! Na sua desolação, a família
real convencia-se de que Deus, por algum motivo, a castigava. Seria
pelos diferendos entre os seus membros? O certo é que nem Isabel
encontrava resposta para tanta calamidade e, em Fevereiro, Dinis
resolveu ir em peregrinação a Santiago de Compostela.
Embora
acompanhado de grande comitiva, incluindo os seus cavalos, o monarca
andava muito a pé. Os prelados aconselhavam-no a assim fazer, pelo
menos, metade do caminho.
(…)
O
rei rezou longamente junto ao túmulo do apóstolo, pois bem tinha de lhe
suplicar, novamente atacado pelo fantasma do rei velho e enfermo,
abandonado por tudo e todos… E recordava que sua mãe o avisara de poder
estar sujeito a destino semelhante. Desprezara o conselho, mas pedia
agora ao santo que o livrasse de tal sina, permitindo-lhe ser rei até
exalar o seu último suspiro, à semelhança de seu pai.
Suplicou
paz para o reino… E um herdeiro para o filho! Porque já lhe levara Deus
dois netos legítimos, não consentindo inclusive que o sucessor de
Afonso tivesse o seu nome? Tanto se convencera de que aquele
principezinho haveria de reinar um dia…
Ao
pedir um herdeiro para o filho, suplicava igualmente que aquele
possuísse mais bom senso do que Afonso, que se lhe assomava melancólico e
rancoroso, rodeado de maus conselheiros. Que estava destinado ao reino
de Portugal sob a regência de Dom Afonso IV? Por alguma razão, Dinis
temia pela sua amada terra e, através do apóstolo, suplicava a Deus que
lhe permitisse viver o suficiente, não só para assistir ao nascimento de
um outro neto varão, como para ter oportunidade de se aperceber do
carácter do pequeno. Desejava um príncipe mais alegre, mais aberto, mais
dado aos prazeres e às belezas da vida».
Dos sete filhos do futuro
Dom Afonso IV, apenas três atingiram a idade adulta: duas filhas, Maria e
Leonor, e um filho que seria rei, Dom Pedro I, nascido a 8 de Abril de 1319, dois anos depois
do pequeno Dinis.
Dom Pedro I, neto de Dom Dinis
Published on January 12, 2016 02:51
January 11, 2016
A Citação da Semana (95)
«Não julguem ninguém e assim Deus não vos julgará! É que Deus há de julgar-vos do mesmo modo que julgarem os outros, usando a mesma medida que usarem para os outros».
Mt 7,2
Mt 7,2
Published on January 11, 2016 02:38
January 10, 2016
Cidades Medievais Portuguesas (10)
Erguido no topo do Monte do Pilar - o maior monólito granítico do país com quase 400 metros de altura -, o castelo de Lanhoso, às portas de Braga, testemunhou um momento importante da nossa História, com o cerco de Dona Urraca a Dona Teresa, mãe de Dom Afonso Henriques, em 1121. Como se sabe, as duas meias-irmãs andavam constantemente em disputas de poder. O cerco de Lanhoso acabou bem, as duas chegaram a acordo (que, como habitualmente, não foi duradouro).
No Verão de 2009, a propósito dos 900 anos de Dom Afonso Henriques, o Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso levou à cena uma peça intitulada Eu Reino, baseada no meu romance Afonso Henriques - o Homem.
Fotografias
© Horst
Neumann
No Verão de 2009, a propósito dos 900 anos de Dom Afonso Henriques, o Centro de Criatividade da Póvoa de Lanhoso levou à cena uma peça intitulada Eu Reino, baseada no meu romance Afonso Henriques - o Homem.
Fotografias
© Horst
Neumann
Published on January 10, 2016 03:21
January 8, 2016
Foral de Ourique
Imagem Wikipedia
Assinala-se hoje o 726º aniversário do foral de Ourique,
outorgado por Dom Dinis.
Castelo de Ourique
Published on January 08, 2016 03:38
January 7, 2016
691º aniversário da morte de Dom Dinis
Mal começo o ano dedicado ao Rei Lavrador, vejo-me obrigada a
anunciar o aniversário da sua morte!
Dom Dinis faleceu a 7 de Janeiro de 1325, com sessenta e três anos,
sendo aclamado seu filho Afonso IV como rei de Portugal.
Dom Dinis teve um reinado preenchido e, dos quarenta e seis
anos que reinou, cerca de quarenta foram felizes, pois o soberano estava, desde
o início, perfeitamente vocacionado para a sua tarefa, sentindo-se, por assim
dizer, como peixe na água.
Os últimos anos foram, porém, marcados pela guerra civil
contra o seu próprio herdeiro, o que muito o amargurou e tanto desgastou, que o
conflito bem pode ter acelerado a sua morte.
«Dinis
andava estafado. As dores de cabeça e as tonturas aumentavam e ele emagrecia,
pois muitas vezes se sentia enjoado ou, simplesmente, sem apetite. Mais do que
os combates ferozes, era a guerra de nervos que o esgotava. Dinis tinha
consciência de que a ansiedade permanente, aquele receio constante de ser
derrotado pelo príncipe, estava a matá-lo. Quando lhe vinham dizer que os
soldados de Afonso haviam ganho mais uma escaramuça e que seria cada vez mais
difícil impedi-lo de entrar na cidade, o monarca só pedia a Deus que não o
deixasse morrer derrotado e deposto, como o avô. Tornara-se rei com dezassete
anos de idade, quase não se lembrava de não o ter sido. E pretendia sê-lo até ao
fim».
In D. Dinis - a quem chamaram o Lavrador
Abstenho-me de
referir mais pormenores, pois eles irão surgindo, à medida que vou desfiando o
seu reinado, durante este ano.
Conforme sua vontade, Dom Dinis foi sepultado no mosteiro de
Odivelas, mandado construir por ele próprio.
©José Custódio Vieira da Silva
O estado degradado em que se encontra a sua sepultura, levou um grupo de cidadãos a criar uma página no Facebook, a fim de alertar quem de direito para a necessidade da sua recuperação. Se quiser apoiar este movimento, ponha um gosto na página: Vamos salvar o túmulo do rei D. Dinis!
Published on January 07, 2016 03:29
January 6, 2016
Fama
Imagem daqui
«Imagina que vai um famoso a passar e ninguém repara! Que aconteceria a todos aqueles que pisam o tapete vermelho usando roupas caras, ou àqueles que sobem ao pódio para festejar uma vitória, se ninguém disso tomasse conhecimento, aplaudisse, ou desmaiasse de emoção? A fama é normalmente proporcionada por aqueles que não a possuem, aqueles que admiram o sucesso alheio a partir da berma, que observam o tapete vermelho por trás da barricada da polícia, ou que olham de longe para o pódio. Os famosos são-no pelos seus espectadores e admiradores.
Há uns anos, a equipa de futebol de uma pequena cidade alemã subiu à primeira divisão e a autarquia resolveu enfeitar as janelas da câmara com as fotografias dos heróis, bem grandes, para se verem ao longe.
Apesar de não ser apreciador de futebol, achei bem. E propus que as janelas da câmara também tivessem lugar para as fotografias daqueles que, nessa cidade, se ocupam dos mais fracos, dos pobres, dos refugiados, e também para quem faz donativos, apesar de não possuir muitas notas na carteira. Afinal, essa gente, tal como os heróis do desporto, contribui para a imagem da cidade.
Até hoje, porém, as fotografias das pessoas que ajudam outros ainda não apareceram nas janelas da câmara».
Christoph Stender
(Padre alemão)
Nota: texto traduzido do alemão
Published on January 06, 2016 02:56
January 4, 2016
Fundação de Vila Real e morte de Sancho II
Wikipedia
Faz 727 anos que Dom Dinis fundou a Vila Real (hoje, cidade), logo lhe concedendo foral. Na
medieval terra de Panóias, existia uma outra cidade, Constantim, que acabou por
decair. O pai de Dom Dinis, Dom Afonso III, tentou desenvolver a região,
concedendo foral e direitos reais sobre a terra de Panóias, mas o povoamento
não se deu. Dom Dinis empenhou-se em renovar o malogrado plano, e fundou aquela
que se tornaria uma grande cidade.
Vila Real
À altura da sua fundação, Vila Real foi
doada a Dona Isabel.
Hoje verifica-se igualmente o 768º aniversário da morte do
rei Dom Sancho II, tio de Dom Dinis, no seu exílio em Toledo.
Dom Sancho II
Incapaz de impor a ordem no reino, Sancho II foi afastado do
trono pelo seu irmão mais novo Afonso. O caos que se verificava em Portugal
levou uma delegação portuguesa a França, onde vivia o infante Dom Afonso, feito
conde de Bolonha, por casamento com Matilde de Bolonha. A
delegação portuguesa, composta de clérigos e nobres, foi pedir ao conde de
Bolonha que intercedesse na situação portuguesa, exigindo justiça e a imposição
da ordem no reino. Jurou-lhe obediência, em Paris, a 6 Setembro de 1245, depois
de, a 24 de Julho, o papa Inocêncio IV ter emitido a bula Grandi non immerito, que ditara a deposição de Sancho II, aí
considerado rex inutilis.
Afonso III, Na Viagem Medieval da Terra de Santa Maria 2015
O futuro rei Dom Afonso III jurou respeitar as liberdades da
Igreja, mas, durante o seu reinado, envolveu-se numa série de conflitos com o
clero, que culminaram com o interdito em Portugal, lançado pelo papa Alexandre
IV em Maio de 1255. Este papa também acusou Afonso III de adultério e incesto,
numa bula de Abril de 1258, exigindo a restituição do dote a Matilde de
Bolonha, a consorte ignorada pelo rei português, que casara entretanto com
Beatriz de Castela, filha de Afonso X o
Sábio. A situação era complicada, mas Matilde acabou por morrer ainda nesse
ano de 1258.
Published on January 04, 2016 07:11
A Citação da Semana (94)
Published on January 04, 2016 03:04
January 3, 2016
Infanta Dona Constança de Portugal, Rainha de Leão e Castela
Ver nota no final
A 3 de Janeiro de 1290 nasceu a infanta Dona Constança de
Portugal, a primeira filha de Dom Dinis e de Dona Isabel. O casal teve apenas
mais um filho, o futuro rei Dom Afonso IV, que nasceu cerca de um ano mais
tarde.
Apesar de nascida em berço de oiro e se ter tornado rainha, a infanta Dona Constança
não terá sido muito feliz na sua curta vida, como acontecia a muitas donzelas
da época medieval. Foi obrigada a separar-se dos pais com apenas sete anos, por
ocasião do Tratado de Alcañices,
a 12 de Setembro de 1297, pois estava prometida em casamento ao rei Fernando IV
de Leão e Castela. Em casos destes, era habitual que a noiva fosse criada pelos
sogros.
Fernando IV tinha apenas doze anos, à altura do Tratado de Alcañices, mas era rei por morte de seu pai Sancho IV. Sua mãe, Maria de Molina, exerceu a
regência durante a sua menoridade.
Fernando IV e sua mãe Maria de Molina*
O casamento foi celebrado em Janeiro de 1302, tinha a noiva
doze anos e o noivo dezassete. Fernando IV, porém, morreria subitamente dez
anos mais tarde. Constança escreveu aos pais a pedir proteção para o filho
Afonso, o novo rei, de apenas um ano.
A cena política de Castela
tornou a agitar-se, despertando lutas pela sucessão do trono. Levantava-se o
problema da tutoria do pequeno rei e da regência do reino e a situação tornou-se
insuportável para a frágil rainha, incapaz de lidar com as intrigas. Passou
uma fase muito confusa, cortando inclusivamente relações com a sogra que a
criara.
Sobre isto, dois excertos do meu romance:
No
início do Outono, chegou à corte um apelo desesperado de Constança. O pequeno rei, de apenas dois anos, encontrava-se em Toro,
com a avó, que, ofendida com a nora, a proibia de ver o filho! No seu
desespero, Constança suplicava o apoio do pai para levar o tio Juan a exigir a
custódia completa do filho, contra Maria de Molina!
Dinis
censurou Isabel por ter arrastado a filha para o tio aragonês e a rainha,
mortificada, escreveu a Constança, pedindo-lhe que viesse ter com eles. A
filha, porém, respondeu que tentaria fazer as pazes com a sogra, esperando que
esta a autorizasse a entrar em Toro.
-
Que se passa?
Isabel
respondeu num sussurro:
-
Tive um sonho…
-
Um pesadelo?
-
Não sei… Uma mensagem… Ou uma premonição…
Mais
uma? Dinis fez esforço por vencer o enfado, pois haveria uma razão forte que a
trouxera ali, numa noite tão fria. Acabou por dizer:
-
Sentai-vos e contai-me o que vos atormenta!
Depois de pousar a vela sobre a mesinha ao lado da cama, Isabel iniciou o
seu relato:
-
Há cerca de uma semana, andando para os lados da Azambuja, deparei com um
eremita à beira da estrada. Parecia muito perturbado e eu desmontei da minha
mula e perguntei-lhe se havia mister do meu auxílio. Ele não respondeu,
limitou-se a fixar-me numa tristeza infinita. Já tratei de muitos enfermos e
assisti a muitas aflições, mas nunca vira olhos tão tristes. Insisti na minha
pergunta. Depois de me fixar durante mais alguns momentos, ele abanou a cabeça
e afastou-se de mim sem uma palavra.
Isabel
baixou a cabeça e prosseguiu:
-
Não mais olvidei aquele olhar. Passado uns dias, tornei ao local, a fim de o
procurar. Mas não o encontrei. Perguntei por ele nas aldeias da região,
descrevendo-o o melhor que podia. Ninguém parecia conhecê-lo. Indicaram-me
alguns eremitas que por ali viviam e fui ter com eles. Mas nenhum era o que eu havia
visto. O homem parecia ter-se esfumado, ou sido engolido pela terra… Tentei olvidá-lo.
Mas hoje…
Começou
a tremer mais violentamente:
-
Sonhei com ele…
-
Ora, ficastes impressionada com a sua figura…
-
No sonho, ele falou comigo. E disse-me… - Olhou-o, muito trágica: - Que Constança
havia morrido!
Constança
faleceu a 18 de Novembro, com apenas 23 anos, vítima de uma febre que a levou
em três dias. Sem ter feito as pazes com a sogra, sem ver os pais uma última
vez, nem sequer o filho de dois anos.
Também a 3 de Janeiro, mas no ano de 1312, dá-se um
acontecimento, à primeira vista, corriqueiro, mas que se revelaria de
importância, pois avolumou as discórdias entre Dom Dinis e o seu herdeiro: a sentença do tribunal régio no processo dos herdeiros do
1º conde de Barcelos Dom João Afonso Telo.
A sentença favoreceu Afonso Sanches, um dos genros do
falecido e filho ilegítimo de Dom Dinis, que é nomeado mordomo-mor do pai. O
outro genro, Dom Martim Gil de Riba de Vizela, apesar de ter sucedido ao sogro
no título, tornando-se no 2º conde de Barcelos, foi muito prejudicado nas
partilhas. A sentença chocou-o tanto,
que se exilou em Castela, morrendo antes do fim do ano. O seu testamento
referia que nenhum dos seus bens fosse parar às mãos do cunhado Afonso Sanches,
o que, por decisão régia, acabaria por acontecer!
O escandaloso favorecimento do filho bastardo Afonso Sanches,
por parte de Dom Dinis, terá sido uma das razões para a revolta do príncipe
herdeiro Afonso, revolta que desembocou numa guerra civil, amargurando os
últimos anos de vida do rei Poeta e Lavrador.
Afonso IV, filho de D. Dinis
Nota: não encontrei nenhuma representação de Dona Constança. Deparei, nas minhas pesquisas, com esta imagem de Sansa Stark, uma personagem d'As Crónicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin. Decidi usá-la porque se aproxima muito da Constança que descrevo no meu romance D. Dinis, a quem chamaram o Lavrador.
* Pintura de Antonio Gisbert Pérez, 1863
Published on January 03, 2016 04:20


