Cristina Torrão's Blog, page 66
December 21, 2015
A Citação da Semana (92)
Published on December 21, 2015 02:56
December 20, 2015
Conto de Natal (2)
A família da
Sandra não se anunciara para o almoço e foi comer um prego no prato a um snack-bar. Regressaram na altura em que
o avô iniciava as suas caminhadas no corredor, para trás e para a frente, a fim
de fazer a digestão. A casa não tinha uma grande fachada para a rua, mas era
comprida, com dois longos corredores, no rés-do-chão e no primeiro andar, e um
quintal nas traseiras. Se não caminhasse a sua horita, o avô não digeria o
almoço e, em dias chuvosos e frios, substituía as ruas da vila pelos corredores,
o que lhe proporcionava o exercício extra de subir e descer as escadas.
A avó mostrou à
filha e à neta as treze postas de bacalhau a demolhar em duas bacias de água e
o cabrito e o galo capão, para o almoço de Natal, em vinha-de-alhos. Géninha, a
mãe de Sandra, aproveitou para combinar os pormenores da consoada. Havia que
dividir as tarefas, a fim de não se atrapalharem umas às outras. Foi nessa
altura que chegou Tininha, com o marido Carlos e o filho Toninho.
Ainda antes de
cumprimentar a irmã, Géninha lamentou vê-la tão magra. «Então tu não comes?»,
perguntou-lhe, com a expressão trágica com que via as crianças vítimas de fome
na televisão. Tininha alegou que comia, mas que não conseguia engordar. Na
verdade, ficava enfartada só de ver comida, pelo que os bolharacos empilhados nas travessas, as bacias de bacalhau e o
cabrito e o capão no seu banho de vinho logo lhe fizeram subir a bílis à
garganta. Sabia, de antemão, que teria dificuldades digestivas, depois da
consoada e das sobremesas.
Já os primos Filipe
e Toninho não se incomodavam com a fartura de vitualhas e fizeram-se aos bolharacos, o que lhes valeu um ralhete
da avó, que ainda era cedo, que as travessas chegariam vazias à consoada… Sandra
interessou-se mais pelo saco cheio de prendas que a tia Tininha trazia. Também
ela e a mãe foram buscar os presentes que haviam comprado para a família e as
três distribuíram-nos pelo bordo do fogão de sala, tendo o cuidado de deixar
lugar para os que estavam ainda para vir. Em cada prenda se escrevia o nome de
quem a deveria receber. E a tia trouxera, como de costume, um mimo extra: uma
tablete de chocolate suíço para cada primo, sem esquecer a do avô, o único
adulto a ter direito a tal benesse.
A tia Tininha e
o tio Carlos tinham conhecimentos na Suíça, uma amizade estabelecida com um
casal num parque de campismo do Algarve. Visitavam-se regularmente. Os tios
contavam maravilhas do país dos Alpes: como tudo era limpo e ordenado, como
havia civismo, como se faziam boas compras e como eram bonitas as montanhas. Sandra
ouvia os relatos fascinada, mas o pai Narciso contrapunha um prodígio português
por cada maravilha suíça: então e as montanhas de Trás-os-Montes também não
eram bonitas? E não se fazia ski na Serra da Estrela? E não havia igualmente shoppings em Portugal?
Published on December 20, 2015 08:16
Cidades Medievais Portuguesas (7)
Braga não é medieval, Braga é milenária!
Na Idade Média, como cidade arqui-episcopal, era a sede da Igreja portuguesa. A independência de Portugal também foi conseguida por o arcebispo Dom João Peculiar, grande colaborador de Dom Afonso Henriques, ter assegurado a sua independência em relação a Toledo, cujo arcebispo era considerado o arcebispo-primaz da Hispânia.
Fotografias
© Horst
Neumann
Na Idade Média, como cidade arqui-episcopal, era a sede da Igreja portuguesa. A independência de Portugal também foi conseguida por o arcebispo Dom João Peculiar, grande colaborador de Dom Afonso Henriques, ter assegurado a sua independência em relação a Toledo, cujo arcebispo era considerado o arcebispo-primaz da Hispânia.
Fotografias
© Horst
Neumann
Published on December 20, 2015 03:35
December 19, 2015
Conto de Natal (1)
A Sandra gostava
daqueles natais com avós, tios e primos, já que a sua vida familiar só era
suportável porque ela e o irmão passavam muito tempo no liceu e os pais nos
seus empregos. Ao fim-de-semana, quando se juntavam para as refeições, as comportas
cediam à pressão acumulada. Em tempos mais recuados, os pais guerreavam um com
o outro. Agora, que o filho ia entrando na adolescência, as batalhas aconteciam
entre ele e o progenitor.
Com quinze anos,
a Sandra não perdera ainda o medo do pai Narciso, embora tivesse havido uma
metamorfose na origem desse medo, uma transformação lenta e dissimulada, da
qual ela nem se apercebera: o pavor dos castigos que ele lhe infligia em
criança dera lugar ao medo de o magoar. Pai tirano, Narciso era, ao mesmo tempo,
quebradiço como porcelana. Se não hesitava em usar de violência como método
educativo, rachava ao menor toque. Transferia a culpa dos seus ressentimentos a
quem estivesse à mão, normalmente a filha. Além de ser mulher, era mais frágil do
que a esposa. A Sandra tratava-o com pinças e comia caladinha. Já ao irmão
Filipe, um ano mais novo, permitiam-se ousadias. Mesmo assim, Narciso perdia as
estribeiras, caso o rebento pisasse em ramo verde, nas suas cavaqueiras de
fim-de-semana.
A família da
Sandra era a primeira a chegar a casa dos avós. Narciso fazia-os andar numa
lufa-lufa, antes da partida. Aprontava-se depressa, arranjava até ocasião para
ir ao café. Mas esvazia-se uma chávena desse aromático néctar em três tempos e,
no seu regresso, Narciso explodia, ao constatar que a mulher e os filhos ainda
se debatiam com os preparativos. Com um ar de quem está a ser torturado, insistia
em não perceber porque precisavam eles de tanto tempo.
A Sandra imaginava-se
a responder-lhe: talvez porque tu não tens de fazer as malas, já que é a mãe,
com a minha ajuda, que as faz para toda a família; e talvez também porque
exiges ser o primeiro a usar a casa de banho; já agora, devias igualmente considerar
que não tomas pequeno-almoço; e que a mãe, além de nos preparar o
pequeno-almoço, ainda tem de arrumar a cozinha; e isto só para dar pequenos
exemplos, passando por cima de outros pormenores, como as mulheres precisarem
de mais tempo para arranjarem o cabelo e se pintarem. E não reclames, que também
gostas de as ver arranjadas!
Enfim,
quedavam-se mudos, na sua roda-viva, enquanto Narciso zurzia neles: «à vossa
espera, passo a minha vida à vossa espera».
A
sala de jantar dos avós cheirava a bolharacos,
empilhados em várias travessas, sobre o aparador. Os bolharacos, uma espécie de sonhos de abóbora e noz, polvilhados com
açúcar e canela, eram tradição. A Sandra não lhes ligava, mas o avô adorava-os.
Infiltrava-se na cozinha, enquanto a mulher os fritava, a fim de surripiar um
ou outro, ainda quente, o que exasperava a esposa, que não gostava de homens naquele
seu canto que considerava sagrado.
Nem de homens,
nem de mulheres. Punha e dispunha, não admitia ajudas nem palpites. À altura em
que foram dadas em casamento, Géninha e Tininha, as suas duas filhas, não
sabiam fritar um bife. Mas os anos iam pesando, cozinhar para treze pessoas punha-a
nervosa e admitiria, pela primeira vez, a ajuda das filhas e da nora Guiomar.
Published on December 19, 2015 06:13
December 17, 2015
Balanço literário
Não tencionava fazê-lo, mas o Goodreads fê-lo por mim e, já agora, aqui vão alguns factos mais ou menos interessantes:
1 - Li dezanove livros, em 2015, num total de 4.622 páginas - não é muito, mas tenho outras coisas para fazer, inclusive, escrever os meus próprios livros ;-)
2 - Livro mais curto: Um Amor Inventado , de José Cipriano Catarino - 106 páginas
3 - Livro mais longo: Perguntem a Sarah Gross , de João Pinto Coelho - 448 páginas
O Goodreads apresenta um mosaico com as capas dos restantes livros, das quais se destacam duas, pelo tamanho. Não sei qual foi o critério, mas deixou-me satisfeita:
O Rio que corre na Calçada , de João J. A. Madeira
Portugal - a Flor e a Foice , de José Rentes de Carvalho (o único ao qual dei cinco estrelas).
Por respeito aos outros autores, aqui vai a lista completa, por ordem cronológica de leitura:
O Mistério da Estrada de Sintra , Eça de Queirós
Uma Outra Voz , Gabriela Trindade Ruivo
Moolb, o Reverso , Pedro Sande
O Cavalheiro Inglês , Carla M. Soares
O Meu Irmão , Afonso Reis Cabral
Livro sem Ninguém , Pedro Guilherme Moreira
O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel , Mário de Carvalho
O Futuro é Passado no Presente , Pedro Sande
A minha História com Bob , James Bowen
Sultão - o Burreco que veio de Miranda , Isabel Mateus
A Lenda desconhecida de Francisco Caga-Tacos , João J. A. Madeira
Lessons from a Sheep Dog , Phillip Keller
O Rei do Monte Brasil , Ana Cristina Silva
Índice Médio de Felicidade , David Machado
De Nome Esperança , Margarida Fonseca Santos
1 - Li dezanove livros, em 2015, num total de 4.622 páginas - não é muito, mas tenho outras coisas para fazer, inclusive, escrever os meus próprios livros ;-)
2 - Livro mais curto: Um Amor Inventado , de José Cipriano Catarino - 106 páginas
3 - Livro mais longo: Perguntem a Sarah Gross , de João Pinto Coelho - 448 páginas
O Goodreads apresenta um mosaico com as capas dos restantes livros, das quais se destacam duas, pelo tamanho. Não sei qual foi o critério, mas deixou-me satisfeita:
O Rio que corre na Calçada , de João J. A. Madeira
Portugal - a Flor e a Foice , de José Rentes de Carvalho (o único ao qual dei cinco estrelas).
Por respeito aos outros autores, aqui vai a lista completa, por ordem cronológica de leitura:
O Mistério da Estrada de Sintra , Eça de Queirós
Uma Outra Voz , Gabriela Trindade Ruivo
Moolb, o Reverso , Pedro Sande
O Cavalheiro Inglês , Carla M. Soares
O Meu Irmão , Afonso Reis Cabral
Livro sem Ninguém , Pedro Guilherme Moreira
O Varandim seguido de Ocaso em Carvangel , Mário de Carvalho
O Futuro é Passado no Presente , Pedro Sande
A minha História com Bob , James Bowen
Sultão - o Burreco que veio de Miranda , Isabel Mateus
A Lenda desconhecida de Francisco Caga-Tacos , João J. A. Madeira
Lessons from a Sheep Dog , Phillip Keller
O Rei do Monte Brasil , Ana Cristina Silva
Índice Médio de Felicidade , David Machado
De Nome Esperança , Margarida Fonseca Santos
Published on December 17, 2015 11:54
December 16, 2015
Um Amor Inventado
Começo com uma citação tirada de um outro livro, Portugal
- A Flor e a Foice, de J. Rentes de Carvalho:
«Para eles [escritores] o povo era folclórico, estúpido,
pobre por culpa da sua própria ignorância. Quando se lêem os romances em que,
supostamente, o povo está presente, constata-se na generalidade este fenómeno
curioso: aquele povo não existe, é a imagem deformada obtida pelos escritores
que vão à província ver os camponeses como os curiosos vão a um jardim
zoológico ver os animais. A prova: na maioria, na grande maioria dos romances
portugueses, os personagens populares são postos a falar com empolamento
académico, ou então com a ênfase pesada dos maus dramas de teatro».
Comecei com esta citação porque José Cipriano Catarino faz
precisamente o contrário: descreve, como ninguém, o nosso povo, a sua
linguagem, a sua mentalidade, o comportamento, o modo de vida. Ele tem a capacidade
de despir a nossa província dos seus enfeites, dando-nos a ver o interior, o
verdadeiro corpo, sem fantasias nem laivos de intelectualidade. Estes retratos são tão fiéis,
que qualquer um de nós se reconhece nos seus livros, mesmo aqueles que nasceram
e foram criados numa cidade. Os seus romances convidam à reflexão sobre o nosso
país e o nosso passado.
Sobre o enredo em si, cito a sinopse
da LeYa Online, onde se pode adquirir este romance sob a forma de eBook:
«Governa Salazar com mão de ferro este país pobrezinho mas
remendadinho quando dois jovens, seduzidos pelas proezas do grande ciclista
Alves Barbosa, saem pela primeira vez da aldeia natal, à aventura, para
fazerem, também eles, a Volta a Portugal em bicicleta (…) Decididos a abreviar
o périplo, querem, mesmo assim, terminar com proeza que lhes assegure glória: a
Serra da Estrela e a subida até à Torre. Na descida, em Manteigas, um deles inventa
o amor, apaixonando-se por humilde sopeira, e essa paixão vai crescer como o
Zêzere, tão humilde na nascente, verdadeiro mar em Castelo de Bode».
Published on December 16, 2015 03:14
December 14, 2015
A Citação da Semana (91)
Published on December 14, 2015 02:46
December 13, 2015
Cidades Medievais Portuguesas (6)
Lamego era de grande importância, na Idade Média. Na época de Dom Dinis, apenas as localidades com assento episcopal eram cidades, todas as outras tinham estatuto de vila. Lamego contava assim entre as nove cidades, ao lado de Braga, Lisboa, Coimbra, Porto, Viseu, Guarda, Évora e Silves.
Quando lá estivemos, em 2008, o castelo estava na "posse" dos escuteiros, o que dava ao interior da torre um aspeto interessante.
Quando lá estivemos, em 2008, o castelo estava na "posse" dos escuteiros, o que dava ao interior da torre um aspeto interessante.
Published on December 13, 2015 03:41
Cidades Medievais Portuguesas (7)
Lamego era de grande importância, na Idade Média. Na época de Dom Dinis, apenas as localidades com assento episcopal eram cidades, todas as outras tinham estatuto de vila. Lamego contava assim entre as nove cidades, ao lado de Braga, Lisboa, Coimbra, Porto, Viseu, Guarda, Évora e Silves.
Quando lá estivemos, em 2008, o castelo estava na "posse" dos escuteiros, o que dava ao interior da torre um aspeto interessante.
Quando lá estivemos, em 2008, o castelo estava na "posse" dos escuteiros, o que dava ao interior da torre um aspeto interessante.
Published on December 13, 2015 03:41
December 11, 2015
Misericórdia
«Diz-se que esta quadra abre o coração, que nos
tornamos mais mansos, conciliatórios, generosos. A misericórdia, porém, não significa
esmolas, mas sim empatia, acompanhamento, estar com o coração no outro. Nesta
quadra, podemos aprendê-lo e treiná-lo, mas isso só funciona se não andarmos
apenas ocupados na caça ao presente, pelos centros comerciais».
Tradução de um apontamento da teóloga alemã Andrea
Schwarz num jornal católico
Published on December 11, 2015 11:11


