Cristina Torrão's Blog, page 62

February 16, 2016

Aclamação de Dom Dinis e Tratado de Badajoz




Faz hoje 737 anos que Dom Dinis foi aclamado rei de
Portugal, com apenas dezassete
.


Neste mesmo dia, morreu seu pai Dom Afonso III, sendo
sepultado em São Domingos de Lisboa. Dez anos mais tarde, foi trasladado para
Alcobaça.







Também a 16 de Fevereiro, mas doze anos antes, foi assinado
em Badajoz o documento que legitimou para sempre a integração do Algarve em
Portugal
.




Dom Afonso III conquistara as praças do
Algarve com a ajuda da Ordem de Santiago, cujos cavaleiros portugueses estavam
dependentes do Mestre castelhano. Por isso se sentia o rei Afonso X de Leão e
Castela com direito a exigir vassalagem ao monarca português por esse
território.





Conquista de Loulé, Luís Furtado





Os primeiros passos para a resolução do problema foram dados
em Maio de 1253, quando Dom Afonso III, ignorando o seu casamento com Matilde
de Bolonha, desposou a filha mais velha do rei castelhano (ilegítima) Dona
Beatriz. Depois do nascimento do príncipe herdeiro Dom Dinis, Afonso X de
Castela enfeudou o Algarve ao neto.




A situação continuava a desagradar à corte portuguesa, pois,
uma vez chegado ao trono, Dom Dinis deveria vassalagem ao rei castelhano por
aquele território. Assim, no dia 16 de Fevereiro de 1267, em Badajoz, Afonso X
concordou em renunciar a todos os seus direitos sobre o Algarve, recebendo em
compensação as povoações de Aroche e Aracena, conquistadas por Afonso III em
1251. O Guadiana ficou a demarcar a fronteira entre Portugal e Leão, a partir
da foz do Caia para sul, fronteira que seria modificada trinta anos mais tarde,
no Tratado de Alcañices (12 de Setembro
de 1297).








Afonso X de Leão e Castela
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Published on February 16, 2016 03:14

February 15, 2016

A Citação da Semana (100)

«A verdadeira sabedoria da vida consiste em ver o maravilhoso no quotidiano».



Pearl S. Buck




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Published on February 15, 2016 03:00

February 14, 2016

Dom Dinis "reloaded"







Conto reeditar, no fim deste mês, a versão revista e melhorada do meu romance sobre Dom Dinis, sob a forma de ebook. Em Maio, talvez surja uma versão em papel.



Para já, deixo-vos com a capa. E um excerto:



Num serão de Março, em que os cálices se esvaziavam num ápice, o rei encarregou os trovadores João Anes Redondo e Pêro Anes Coelho de entoarem a sua nova cantiga. Começava com um lamento dirigido à natureza: a donzela pedia às flores notícias do amigo que tardava em aparecer, receando que ele lhe houvesse mentido. O refrão consistia precisamente na pergunta: ai Deus, e onde está?

    Ai flores, ai flores do verde pino
    se sabedes novas do meu amigo!
        Ai Deus, e u é?

    Ai flores, ai flores do verde ramo,
    se sabedes novas do meu amado!
        Ai Deus, e u é?

    Se sabedes novas do meu amigo,
    aquel que mentiu do que pôs comigo?
        Ai Deus, e u é?

    Se sabedes novas do meu amado,
    aquel que mentiu do que m’ há jurado,
        Ai Deus, e u é?

 

A natureza interpelada punha fim à angústia da donzela, dizendo-lhe que o amigo estava vivo e sano e viria ter com ela dentro do prazo prometido. A simplicidade e o ritmo harmónico da cantiga pôs os convivas a cantar o refrão Ai Deus, e u é? em coro:

    Vós me perguntades polo voss’ amigo?
    e eu bem vos digo que é san’ e vivo.
        Ai Deus, e u é?

    Vós me perguntades polo voss’ amado?
    e eu bem vos digo que é viv’ e sano.
        Ai Deus, e u é?

    E eu bem vos digo que é san’ e vivo,
    e será vosc’ ant’ o prazo saído.
        Ai Deus e u é?

    E eu bem vos digo que é viv’ e sano,
    e será vosc’ ant’ o prazo passado.
        Ai Deus, e u é?


Se o fervor dos aplausos surpreendeu Dinis, maior foi o seu espanto, quando se exigiu a repetição da cantiga. Os versos não custavam a fixar e em breve todos cantavam em conjunto com os trovadores, erguendo os seus cálices na altura do refrão: Ai Deus, e u é?
(...)
No dia seguinte, os fidalgos e as damas, ao embrenharem-se pelos prados, começaram espontaneamente a entoar a cantiga do serão:

    Ai flores, ai flores do verde pino,
    Se sabedes novas do meu amigo!
        Ai Deus, e u é?


Parecia feitiço! Dinis espantava-se com o efeito daquela cantiga. Compunha outras bem mais elaboradas e que, embora apreciadas, asinha se olvidavam. Parecia haver magia naquelas palavras e naquele ritmo...





Nota: Embora transcritas na sua versão original, as cantigas de autoria de Dom Dinis são, no romance, enquadradas num contexto fictício.




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Published on February 14, 2016 03:45

February 11, 2016

Casamento de Dom Dinis e Dona Isabel









Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria







Faz hoje 735 anos que Dom Dinis e Dona Isabel casaram por
procuração
.




O matrimónio de Dom Dinis representou um problema, pois, por
desavenças entre seu falecido pai Afonso III e o clero, o reino de Portugal
esteve sob interdito durante cerca de vinte anos, ou seja, as igrejas
mantiveram-se fechadas, sendo proibidas todas as cerimónias religiosas e os
sacramentos.




Assim que ficou estabelecido o consórcio com Dona Isabel, a fim de quebrar a
supremacia de Castela, Dom Dinis nomeou três procuradores, que, a 11 de Fevereiro
de 1281
, representaram, por palavras de presente, o seu monarca na cerimónia de
recebimento de Dona Isabel de Aragão, no Paço Real de Barcelona. Os três
procuradores eram os cavaleiros João Pires Velho e Vasco Pires e o clérigo Dom
João Martins de Soalhães, futuro bispo de Lisboa.





Excerto do meu romance: 



Foi então com Grácia Anes que Dinis
estreou os restaurados aposentos no Palácio da rua Padelo à Alcáçova. O novo
soalho cheirava à madeira fresca, as paredes haviam sido caiadas e guarnecidas
de novos tapetes e a alcova real resplandecia de sedas e veludos.

A gentil barregã, porém, não o
encantava apenas nos momentos íntimos. Nesse Inverno, viviam-se na corte lisboeta
serões cheios de música, poesia e outras atividades de bom gosto: jogava-se o
xadrez e outros jogos de tabuleiro, proseava-se sobre falcoaria e organizavam-se
caçadas, nas quais as senhoras participavam. Grácia Anes inspirava igualmente
os outros trovadores, que disputavam o seu amor platónico.

Dir-se-ia que a corte portuguesa
encontrara a sua rainha… Não fosse uma mocinha aragonesa de dez anos, ainda
alheia a tais sucessos. Enquanto Dinis vivia o seu romance idílico e os
encantos de Grácia Anes eram cantados no Paço Real da Alcáçova, o clérigo João
Martins de Soalhães e os cavaleiros João Pires Velho e Vasco Pires
encontravam-se em Aragão, a fim de representarem el-rei na cerimónia de
casamento por palavras de presente. A 11 de Fevereiro de 1281, no Paço Real de
Barcelona, a infanta Dona Isabel de Aragão tornou-se na rainha consorte de
Portugal.

 





Dona Isabel era filha do rei
Dom Pedro III de Aragão e de Dona Constança da Sicília. A noiva só deu entrada
em Portugal cerca de ano e meio mais tarde, sendo as bodas do par real
festejadas em Trancoso, a 26 de Junho de 1282.




Dom Dinis e Dona Isabel estiveram quase quarenta e quatro anos casados.





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Published on February 11, 2016 03:30

February 8, 2016

725º Aniversário de Dom Afonso IV







Fonte







Faz hoje 725 anos que nasceu um dos reis mais enigmáticos da
nossa História: Dom Afonso IV





Ficou sobretudo conhecido por ter mandado
assassinar Inês de Castro, embora os verdadeiros contornos dessa conspiração
permaneçam nebulosos.




Dom Afonso IV era filho de Dom Dinis e de Dona Isabel. Diz-se
que era mau e irascível desde a infância, o que não deixa de ser curioso, sendo
os seus pais um rei exemplar e uma rainha que foi canonizada. Muitas vezes me
pergunto: porque não conseguiram Dom Dinis e Dona Isabel transmitir bom
carácter ao filho? E porque nunca Dom Dinis se deu bem com o seu próprio
herdeiro? Coisas que ficarão para sempre envolvidas na bruma dos séculos…




Dom Afonso IV casou com a infanta Dona Beatriz de Castela, dois anos
mais nova, filha de seu tio-avô, o rei Sancho IV, e de Dona Maria de Molina. O
casamento parece ter sido feliz, o que não deixa de ser estranho num homem que
se julga não ter conhecido escrúpulos. Afonso IV é mesmo um caso raro entre os
monarcas portugueses, pois não se lhe conhecem barregãs nem filhos ilegítimos. 




Terá sido dono de grande moralidade, transmitida
pela mãe Dona Isabel? Isto poderia explicar a sua falta de tolerância a desvios
de comportamento do seu próprio filho e herdeiro, Dom Pedro I. E também
explicaria que, sendo mais ligado à mãe, se tivesse afastado do pai, que
parecia preferir a companhia do seu bastardo Afonso Sanches.




A infanta Dona Beatriz de Castela, tornada rainha de Portugal por
matrimónio com Afonso IV, viveu na corte portuguesa desde os quatro anos de
idade. Foi criada pela sogra Dona Isabel, assim que ficou estabelecido o seu
consórcio com o príncipe herdeiro, por ocasião do Tratado de Alcañices, a 12 de Setembro de 1297, onde ficaram definitivamente estabelecidas as fronteiras do reino português. 




 Todas as informações conhecidas sobre Dom Afonso IV estão reunidas na biografia de autoria de Bernardo Vasconcelos e Sousa (Temas e Debates, 2009).







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Published on February 08, 2016 07:51

A Citação da Semana (99)

«Uma pessoa é tão mais humana, na medida em que tem um coração e o usa, ou seja, quando ama».



Alfred Delp




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Published on February 08, 2016 02:57

February 7, 2016

Cidades Medievais Portuguesas (14)

Só tinha estado uma vez em Beja, com dez anos e, fosse por ser ainda criança, fosse por só termos parado lá para almoçar, fiquei com a impressão de que era uma cidade sem grande interesse. Enganei-me redondamente! A verdade é que Beja não costuma ser mencionada como cidade medieval e quando lá fui, em 2010, a surpresa não podia ter sido maior! Beja é lindíssima!

Fico-me hoje pelo castelo.



Fotos © Horst
Neumann















































Uma boa surpresa foi também o restaurante Dom Dinis, mesmo ao lado do castelo.

Entramos um pouco cautelosos, pois o aspeto do lado de fora é bastante discreto.

Depois de entrar, porém, dá-se com um local cuidado e acolhedor.



A comida era também deliciosa, comemos as melhores migas dessas férias!

Lembro que isto se passou em Setembro de 2010, mas espero que o restaurante D. Dinis ainda lá esteja, quando regressar a Beja!

































O fotógrafo himself ;-)







































E um amiguinho que por lá vimos...
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Published on February 07, 2016 11:06

February 6, 2016

O irmão de Dom Dinis


Codex Manesse



Faz hoje 753 anos que nasceu o infante Dom Afonso, irmão de
Dom Dinis
, mais novo cerca de ano e meio. Dom Afonso parece nunca ter
superado a sua condição de filho segundo, pois causou problemas ao rei durante
toda a vida. Por três vezes se insubordinou, obrigando Dom Dinis a usar da
força, pondo cerco aos lugares onde se refugiava: Vide, Arronches e Portalegre.
Por outro lado, é notável que o Rei Poeta sempre lhe tenha perdoado e o tenha
protegido, mesmo em circunstâncias absurdas.





O infante Dom Afonso casou com Dona Violante Manuel, filha
do infante Dom Manuel de Castela, recebendo senhorios no reino de Múrcia. O matrimónio,
porém, não foi reconhecido pela Igreja, devido ao parentesco: Dom Manuel de
Castela, sendo irmão do rei Afonso X, era tio-avô do infante português.




Dom Dinis, sempre protetor, legitimou-lhe os filhos, na sua
qualidade de rei, sem consultar a Igreja, provocando um protesto formal de Dona
Isabel, por sinal, no dia do 34º aniversário do cunhado (ver abaixo).




Dom Afonso teve um fim de vida muito amargo. O seu filho e
herdeiro morreu com apenas dezassete anos, em 1302, e, apesar de ter ainda três
filhas, o infante não conseguiu superar a morte daquele que era o orgulho da
sua vida. Terá começado a comportar-se de maneira estranha, chegando mesmo a
assassinar a esposa, caso que foi abafado por Dom Dinis, apesar de o rei de
Aragão, cunhado do monarca português e igualmente parente da falecida, o instar
a esclarecer a questão.




Dom Dinis protegeu o irmão até ao fim. Dom Afonso morreu a 2
de Novembro de 1312, com apenas quarenta e nove anos, sendo sepultado na igreja
de São Domingos de Lisboa, no túmulo que o próprio mandara fazer.







Foi igualmente a 6 de Fevereiro (em 1297) que Dona Isabel
apresentou, na alcáçova de Coimbra, protesto formal contra a legitimação dos
sobrinhos, filhos do seu cunhado Dom Afonso. Apresentou como motivos o facto de o irmão do rei se ter insubordinado algumas vezes e o provável perigo que os filhos deste pudessem significar para o reinado do filho Dom Afonso IV. De qualquer maneira, é curiosa uma atitude deste tipo por parte de uma rainha caridosa, que sempre procurou consensos.





Rainha Santa Isabel





Apesar de ter aceite o protesto, Dom Dinis não se
escusou a redigir a carta que legitimou os filhos de seu irmão, dois dias mais
tarde.




O filho de Dom Dinis e de Dona Isabel, o príncipe herdeiro
Afonso, apresentou igualmente um protesto a esta legitimação, passados onze
anos, o que teria desagradado ao pai. Aliás, Dom Dinis nunca verdadeiramente se
entendeu com o seu herdeiro, futuro Dom Afonso IV.





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Published on February 06, 2016 03:56

February 4, 2016

Quem sai aos seus...








Uma reportagem no Diário
de Notícias
, na qual os entrevistados eram jovens, alguns estudantes do
Ensino Superior, levou uma conhecida editora a perguntar-se se «terá a
juventude de sofrer na pele para perceber que a política lhe diz respeito
».




Penso que o teor do texto peca por generalizar, é a eterna
lengalenga de «este mundo está perdido», já usada por nossos bisavós, trisavós
e tetravós. Além disso, é faccioso: «À pergunta se
é de esquerda ou de direita, uma rapariga de 21 anos que estuda na Faculdade de
Letras afirma ser de direita “por uma questão familiar” (hereditariedade?)». O
tom irónico prende-se com o facto de a estudante dizer ser de direita, porque,
quando se é de esquerda, a hereditariedade até dá prestígio: fica sempre bem
dizer que o pai ou o avô foi perseguido pela PIDE, ainda melhor que esteve
preso.




Ponhamos a mão no coração, como dizem os alemães (nós diríamos
na consciência): quantos de nós se desviam da tendência política familiar? Quem
cresceu numa família de esquerda, costuma ser de esquerda, o mesmo se passando
com a direita.




E isto leva-me a outro tema: usa-se e abusa-se daquilo que
se herda da família… Mas apenas se a herança for considerada adequada. Os
desgraçados que não tiveram a sorte de nascer numa família de prestígio, ou “às direitas” -
desculpem, será melhor dizer “em condições” - veem-se às aranhas. É por isso
que embirro com expressões do género: «foi assim que aprendi, tive quem me
transmitisse valores»; ou «em minha casa, sempre houve educação». Como se fosse
uma virtude própria e não pura sorte! Expressões destas, ditas com arrogância q
b, só servem para espezinhar quem não teve tal fortuna. São, no fundo, uma
forma de discriminação, levada a cabo por gente que normalmente se vangloria de
não discriminar, porque, afinal, na casa deles «transmitiram-se valores».




Gente dessa desvaloriza-se, não tem virtudes próprias, tudo
lhes foi transmitido.




Virtude e valor tem aquele que reconhece que não aprendeu o
que é certo e possui a coragem de fazer o contrário! Embora não possa apregoar
aos quatro ventos: «tive quem me ensinasse valores», prova possuir coragem e
espírito de sacrifício. Se há algo custoso na vida é tentar fazer o contrário
daquilo que se aprendeu, funcionando este princípio para o bem e para o mal.





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Published on February 04, 2016 03:14

February 2, 2016

2016 é cada vez mais o ano de Dom Dinis!






A Feira Medieval de Alhos Vedros,
a decorrer no último fim de semana de Maio, será, este ano, baseada nas
personagens de Dom Dinis e de Dona Isabel, a propósito dos 500 anos da 
beatificação da Rainha Santa. Foi o papa Leão X que a ordenou, a 15 de
Abril de 1516.



Este ano é, cada vez mais, o ano de Dom Dinis, já que o seu reinado serve igualmente de tema da próxima Viagem Medieval em Terra de Santa Maria.



E em Março sairá o meu romance sob a forma de eBook!






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Published on February 02, 2016 02:22