Cristina Torrão's Blog, page 59

April 1, 2016

Amores de Dom Dinis*


Codex Manesse



Findas as Cortes, Dinis preparava-se para descansar da agitação,
quando lhe surgiu Aldonça Rodrigues da Telha. Caiu-lhe nos braços,
suplicando-lhe que não a continuasse a ignorar, pois andava angustiada e
sem vontade de viver.

Sentindo a barregã a apertar-se contra si,
era custoso resistir-lhe… Mas pensou no doce amar de Isabel, como ela o
aguardava em Lisboa, tratando dos dois infantes, que eram o orgulho da
sua vida…

Arranjou força para afastar Aldonça de si.

Os olhos de corça miraram-no perplexos:

- Recusais-me, senhor?

- Tentai compreender! Agora que…

- Não me achais suficientemente boa para vós?

- Não se trata disso…

- Se me mandais embora, matar-me-ei! Atirar-me-ei para a primeira ribanceira que vir pelo caminho!

Aquele arrufo de tragédia enfastiou Dinis, recordou-lhe Maria Rodrigues de Chacim. E sentiu-se mais apto a acabar com o caso:

- Abstende-vos de me intimidar com desvarios dessa ordem, minha senhora! Mais não conseguis do que dar-me cabo da paciência!

Aldonça
não desarmava facilmente. Levou as mãos atrás do pescoço, onde o
vestido apertava nas costas e, num gesto repentino, abriu a veste,
rasgando-a em parte, soltando os seios nus. Aproveitou aquele momento de
espanto do rei para lhe agarrar nas mãos e as colocar sobre o peito
farto, suplicando-lhe:

- Não me mandeis embora, senhor! Que morro…

Dinis continuava perplexo e ela agarrou-se a ele, murmurando, entre beijos:

- Morro de amor… como nas vossas cantigas. Tende dó de tal coita!



* Do meu romance Dom Dinis, a quem chamaram o Lavrador, à venda na Wook e na Leya Online .




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Published on April 01, 2016 03:04

March 29, 2016

Cantiga de Amor de Dom Dinis





Fonte da imagem



*As cantigas iam ficando mais ousadas, mais inflamadas. Dinis estava
deslumbrado com a sua barregã, mas, no fundo, subsistia o desejo de
provocar Isabel, de criar algo que lhe despertasse emoções fortes, como
na cantiga onde o poeta mui receava o dia em que não pudesse ver a sua
senhor. O sofrimento seria tal, que morreria, o que, no entanto, lhe
reservava um conforto: ao morrer, deixaria de sofrer.

    Quant’ eu, fremosa mia senhor,
    de vós receei a veer
    muit’ er sei que nom hei poder
    de m’ agora guardar que nom
    (vos) veja; mais tal confort’ hei
    que aquel dia morrerei
    e perderei coitas d’amor.

O
poeta continuava, dizendo que não conseguia imaginar maior pesar do que
sentir a ausência da amada. E que Deus lhe perdoasse, pois encontraria
conforto na morte, ao livrar-se do maior sofrimento que Nosso Senhor a
alguém havia dado:

    E como quer que eu maior
    pesar nom podesse veer
    do que entom verei, prazer
    hei ende, se Deus mi perdom,
    porque por morte perderei
    aquel dia coita que hei
    qual nunca fez Nostro Senhor.

    E, pero hei tam gram pavor
    d’ aquel dia grave veer
    qual vos sol nom posso dizer,
    confort’ hei no meu coraçom
    porque por morte sairei
    aquel dia do mal que hei
    peior do que Deus fez peior.





*Do meu romance Dom Dinis, a quem chamaram o Lavrador, à venda na Wook e na Leya Online .


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Published on March 29, 2016 03:53

March 28, 2016

Aviso-Comunicação

Caros colegas bloggers:



Há algum tempo que não consigo abrir os mails que contêm respostas aos meus comentários nos blogues do sapo.pt. Não faço ideia qual será o problema, mas, em muitos casos, respostas dessas ficam por ler, com bastante pena minha. Quando vejo um mail desses, costumo ir ao blogue onde comentei, mas nem sempre me lembro em qual post o fiz e a procura torna-se exaustiva. Dá-se então o caso de eu interromper a discussão e/ou não responder a perguntas que me façam, pelo que peço desculpa, embora os motivos sejam alheios à minha vontade.




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Published on March 28, 2016 05:14

A Citação da Semana (106)

«Não foi para condenar o mundo que Deus lhe enviou o seu filho, mas sim para que o mundo fosse salvo por ele».



Jo 3,17




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Published on March 28, 2016 03:05

March 25, 2016

Foral de Mirandela e confirmação do Foral de Beja


Câmara Municipal de Mirandela




Foto © Horst
Neumann





Verifica-se, durante o mês de Março (não se sabe o dia), o 725º aniversário do foral de Mirandela e da confirmação do foral de Beja.



Acabara
de nascer o futuro Dom Afonso IV, herdeiro de Dom Dinis, e no primeiro
documento, o rei referiu com orgulho que o mesmo era concedido
juntamente com a rainha «e com os meus filhos Infantes Dom Afonso e Dona
Constança». A filha tinha pouco mais de um ano.





No Castelo de Beja




Foto © Horst
Neumann




O meu romance sobre Dom Dinis encontra-se disponível em ebook na LeYa Online e na Wook (clique).




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Published on March 25, 2016 04:20

March 23, 2016

A Escrava Isaura













Graças ao Projecto
Adamastor
, pude ler este romance. Vi a primeira versão da telenovela, realizada em
1976
e com os desempenhos de Lucélia Santos e Ruben de Falco. Uma
telenovela é considerada obra menor, por não dar grande (ou mesmo nenhuma)
profundidade às personagens e se servir de clichés e de artifícios “baratos”
e/ou pouco originais para o enredo. Este romance, por outro lado, é considerado
um clássico e esta dualidade pôs-me curiosa.




Quando o livro foi publicado pela primeira
vez, em 1875
, o movimento abolicionista no Brasil estava no seu auge, com
muita repercussão social, e o objetivo principal do autor Bernardo Guimarães
foi apoiar esse movimento. Mostra o absurdo da escravatura em várias passagens:




«- Tu o disseste, Geraldo: amo-a muito, e hei-de amá-la
sempre e nem disso faço mistério algum. E será coisa estranha e vergonhosa
amar-se uma escrava? O patriarca Abraão amou sua escrava Agar, e por ela abandonou
Sara, sua mulher» - pág. 108




«- Infame e cruel direito é esse, meu caro Geraldo. É já um
escárnio dar-se o nome de direito a uma instituição bárbara, contra a qual
protestam altamente a civilização, a moral e a religião. Porém, tolerar a
sociedade que um senhor tirano e brutal, levado por motivos infames e
vergonhosos, tenha o direito de torturar um frágil e inocente criatura, só
porque teve a desdita de nascer escrava, é o requinte da celeradez e da
abominação» - pág. 109




«vemos a lei armando o vício, e decepando os braços à
virtude» - pág. 127




«deplorável contingência, a que somos arrastados em
consequência de uma instituição absurda e desumana»- pág. 127




Como se vê, a escravatura é atacada de maneira muito
eloquente. As tiradas enérgicas saem da boca de Álvaro, apaixonado pela escrava
Isaura. Ao mesmo tempo, porém, esta é uma grande fraqueza do romance, já que é
uma branca belíssima, filha de um branco e de uma mulata, que personifica a desumanidade
da escravidão. A sociedade em que vivia Bernardo Guimarães, mesmo a que exigia o
abolicionismo, não aceitaria tais eloquências amorosas por parte de um branco em relação a uma negra.




O romance não deixa de ser datado também na maneira como
caracteriza as mulheres: frágeis, extremamente dóceis e encantadoras,
totalmente dependentes dos homens.




Achei igualmente desadequada a sua estrutura de peça de teatro.
Várias cenas se passam no mesmo cenário, conforme as personagens entram e saem.
Todo o romance (que aliás não é grande) se passa em apenas cinco cenários.




Enfim, tem a vantagem de caracterizar uma época, o que lhe
confere o epíteto de clássico.





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Published on March 23, 2016 04:01

March 21, 2016

A Citação da Semana (105)

«Justiça não quer dizer dar o mesmo a todos, mas dar a cada um aquilo que ele precisa. As pessoas são diferentes e necessitam de coisas diferentes. Este precisa de um bom conselho, aquela precisa de um abraço e  um outro de dinheiro. Para isso, precisamos todos de aprender a ver e a ouvir. E também não esquecer de nos perguntarmos: do que preciso eu?».



Andrea Schwarz

(teóloga alemã e autora de livros religiosos)




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Published on March 21, 2016 04:31

March 18, 2016

O Fim dos Templários


Fonte da Imagem

A 18 de Março de 1314, Jacques de Molay, Mestre dos Templários
franceses, assim como outros grandes dignitários da Ordem, foram
queimados em Paris, por ordem de Filipe IV. Foi o culminar da grande
campanha de difamação, levada a cabo pelo monarca francês.

Ao ser
queimado, Jacques de Molay fez uma profecia que se veio a cumprir. Disse
ele que, ainda antes do fim desse ano de 1314, os dois maiores
responsáveis pela destruição dos Templários morreriam!

De facto, o
papa Clemente V morreu passado cerca de um mês, a 20 de Abril, com
cinquenta anos. E o rei francês Filipe IV acabaria por sucumbir a um
acidente de caça, a 29 de Novembro, com apenas quarenta e seis.





Fonte da Imagem

O meu romance sobre Dom Dinis encontra-se disponível em ebook na LeYa Online (clique).




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Published on March 18, 2016 03:45

March 16, 2016

Cantiga de Amor de Dom Dinis (com excerto do romance)









Quer’ eu em maneira de proençal
fazer agora um cantar d’ amor,
e querrei muit’ i loar mia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi em:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.

Dinis
escrevia cantigas à moda provençal, louvando a senhor que provava ser
melhor do que todas as outras, não lhe faltando formosura, bondade,
sabedoria, afabilidade e bom senso:

Ca mia senhor quiso Deus fazer tal,
quando a fez, que a fez sabedor
de todo o bem e de mui gram valor,
e com tod’ esto é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sem,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis que lh’ outra foss’ igual.

Ca em mia senhor nunca Deus pôs mal,
mais pôs i prez e beldad’ e loor
e falar mui bem, e riir melhor
que outra molher; desi é leal
muit’, e por esto nom sei hoj’ eu quem
possa compridamente no seu bem
falar, ca nom há, tra-lo seu bem, al.

Dinis
deixara de ver defeitos em Isabel. Na sua serenidade e temperança, a
rainha conferia uma harmonia rara à sua vida, como se ele houvesse
encontrado uma paz há muito desejada.







Nota:
Todas as Cantigas de Amor transcritas no meu romance são originais de
Dom Dinis, embora seja fictício o contexto em que são inseridas.



O romance pode ser adquirido na  Leya Online e na Wook .


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Published on March 16, 2016 05:30

March 14, 2016

Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo

 

Imagem daqui



Faz hoje 697 anos que foi instituída, no reino de Portugal, a Ordem de Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo, através da bula Ad ea ex quibus
de João XXII. O papa determinava que a nova Ordem se destinava a manter
a cruzada religiosa contra os sarracenos. Atribuiu-lhe a regra de
Calatrava, sujeitou-a à jurisdição do abade de Alcobaça e colocou a sua
sede em Castro Marim.

A Ordem de Cristo veio substituir a dos
Templários, suprimida pelo papa Clemente V, influenciado pelo rei
francês Filipe IV, que tudo fez para difamar os cavaleiros do Templo.



Dinis tornou a receber notícias da Santa Sé: a bula Regnans in coelis,
que compreendia um relato dos crimes de que os Templários eram
acusados. Clemente V insistia naquilo que Dinis considerava um absurdo,
não havia dúvida de que se tornara num mero instrumento de Filipe IV.
Mas o que tinha o monarca francês contra a Ordem do Templo? Seriam
verdadeiros os rumores de que, estando à beira da ruína, Filipe
pretendia apoderar-se do valioso património? Acabar com uma Ordem,
criada pela própria Santa Sé, no início das cruzadas, e queimar centenas
de freires como hereges, apenas por ganância?



Na
Península Ibérica, porém, a campanha de difamação não encontrou grande
eco, devido à fama dos Templários, criada nas lutas da Reconquista. À
semelhança dos outros reis hispânicos, Dom Dinis protegeu a Ordem e
promoveu diligências para que uma outra fosse criada, entregando à Ordem
de Cristo todos os bens que tinham pertencido aos Templários. Teve, no
entanto, de enfrentar alguma oposição interna:



Em
Março, quando se deu início à construção de um claustro no mosteiro de
Alcobaça, Dinis recebeu notícias da Santa Sé que confirmavam os receios
do Mestre. Numa bula com data de 22 de Novembro, intitulada Pastoralis praeeminentiae,
Clemente V recomendava a todos os príncipes da Cristandade a prisão dos
Templários e a confiscação dos seus bens. Dinis entrou em contacto com o
genro Fernando IV e o cunhado Jaime II e resolveu-se não se tomarem
medidas, enquanto se aguardava pelo resultado do inquérito do clero
hispânico, o que aliás implicava ignorar a bula.

Em
Abril, quando Dinis chegou à Beira, constatou que tal resolução estava
longe de agradar a toda a gente. O bispo da Guarda Dom Vasco Martins de
Alvelos advogava o cumprimento das recomendações do pontífice:

-
Ignorais uma bula papal? E olvidais que Jacques de Molay confessou os
pecados mais terríveis? Heresia, usura, sodomia! Se os franceses se
davam a essas práticas repugnantes, os hispânicos não serão mui
diferentes…

-
Credes realmente que os freires do Templo fomentavam tais costumes? -
contrapôs Dinis. - Sob tortura, qualquer um é levado a confessar,
principalmente, o que não fez. Além disso, o Mestre francês desmentiu a
sua confissão dois meses mais tarde.

- O que prova a sua falta de carácter!

- Ou constatar o não cumprimento de certas promessas?

O bispo olhou o seu monarca desconfiado:

- Que quereis dizer?

-
Frei Vasco Fernandes é de opinião que Jacques de Molay terá confessado
os crimes, acima de tudo, perante a promessa de que, se o fizesse, os
restantes irmãos seriam poupados aos suplícios que ele próprio já
experimentara. Mais tarde, ao verificar que tal não passava de uma
mentira, desmentiu a sua confissão.

-
Ora, Alteza, é claro que eles se protegem uns aos outros! A opinião de
Frei Vasco Fernandes, neste caso, é mais do que suspeita.

Dinis olhou o prelado de soslaio, convencido de que ele cobiçava o património dos freires. Retorquiu:

-
Tenho Frei Vasco Fernandes em grande estima e confio no seu juízo. Como
aliás em todos os membros portugueses da Ordem. Bem sabeis como eles
sempre lutaram com bravura contra a ameaça sarracena e como a sua
presença é preciosa em muitos pontos da fronteira, garantindo a defesa e
o povoamento.

Depois de um momento de vacilação, o bispo insistiu:

- As bulas papais são para se cumprirem!

-
Pois eu estou certo que na Hispânia não se ateará uma fogueira que seja
contra os Templários! Nem tão-pouco se procederá à alienação dos seus
bens!



Excertos do meu romance, disponível em ebook na LeYa Online (clique).








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Published on March 14, 2016 09:30