Cristina Torrão's Blog, page 56

May 31, 2016

Flores do Verde Pino

Esta cantiga de amigo deve ser a mais conhecida de Dom Dinis. Hoje
deixo-vos com momentos das cenas que escrevi à volta destes versos:




Pauta e Músicos.jpg


Num
serão de Março, as taças de vinho esvaziavam-se facilmente e o rei
encarregou os trovadores João Anes Redondo e Pêro Anes Coelho de
entoarem a sua nova cantiga. Começava com um lamento dirigido à
natureza, uma donzela pedia às flores notícias do amigo que tardava em aparecer, receando que ele lhe houvesse mentido. O refrão consistia precisamente na pergunta: Ai Deus, e onde está?



                        Ai flores, ai flores do verde pino

                        se sabedes novas do meu amigo!

                        Ai Deus, e u é?



                        Ai flores, ai flores do verde ramo,

                        se sabedes novas do meu amado!

                        Ai Deus, e u é?



                        Se sabedes novas do meu amigo,

                        aquel que mentiu do que pôs comigo?

                        Ai Deus, e u é?



                        Se sabedes novas do meu amado,

                        aquel que mentiu do que m’ há jurado,

                        Ai Deus, e u é?



A natureza interpelada punha fim à angústia da donzela, dizendo-lhe que o amigo
estava vivo e sano e viria ter com ela dentro do prazo prometido. A
simplicidade e o ritmo harmónico da cantiga pôs os convivas a cantar o
refrão «Ai Deus, e u é?» em coro:



                        Vós me perguntades polo voss’ amigo?

                        e eu bem vos digo que é san’ e vivo.

                        Ai Deus, e u é?



                        Vós me perguntades polo voss’ amado?

                        e eu bem vos digo que é viv’ e sano.

                        Ai Deus, e u é?



                       E eu bem vos digo que é san’ e vivo,

                        e será vosc’ ant’ o prazo saído.

                        Ai Deus e u é?



                        E eu bem vos digo que é viv’ e sano,

                        e será vosc’ ant’ o prazo passado.

                        Ai Deus, e u é?



Se o fervor dos aplausos surpreendeu Dinis, maior foi o seu espanto, quando se exigiu a repetição da cantiga:

                       

                        Ai flores, ai flores do verde pino

                        se sabedes novas do meu amigo!

                       Ai Deus, e u é?



Os
versos não custavam a fixar e em breve todos cantavam em conjunto com
os trovadores, erguendo as suas taças na altura do refrão:



                        Ai Deus, e u é?



Gerara-se
uma rara descontração e, assim que a cantiga chegou ao fim, foi exigida
uma terceira vez! Aquela noite parecia diferente das outras, havia algo
de especial no ar morno, convidativo ao deleite.




Notação Musical.jpg Notação musical original de Dom Dinis ©Arquivo Nacional Torre do Tombo




Era
mais um dia esplêndido e os fidalgos e as damas, ao embrenharem-se
pelos prados, começaram espontaneamente a entoar a cantiga do serão:



                                   Ai flores, ai flores do verde pino,

                                   Se sabedes novas do meu amigo!

                                   Ai Deus, e u é?



           
Parecia feitiço! Dinis espantava-se mais uma vez com o efeito de uma
cantiga que não lhe dera grande trabalho a compor. Escrevia outras, bem
mais elaboradas, que lhe custavam muito esforço e que, embora
apreciadas, asinha se olvidavam. Parecia haver magia naquelas palavras e
naquele ritmo:



                                   Ai flores, ai flores do verde ramo,

                                   Se sabedes novas do meu amado!

                                   Ai Deus, e u é?







O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .




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Published on May 31, 2016 03:30

May 30, 2016

A Citação da Semana (115)

«Todos os seres vivos, à exceção dos humanos, sabem que o sentido da vida consiste em gozá-la».


Samuel Butler






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Published on May 30, 2016 02:28

May 25, 2016

May 24, 2016

Foral de Vila Flor

Vila Flor Brasão.png
Verifica-se hoje o 730º aniversário do foral de Vila Flor (Trás-os-Montes), outorgado por Dom Dinis (24 de Maio de 1286).




Arco do Castelo de Vila Flor.JPG

Arco do Castelo de Vila Flor

Imagens Wikipedia
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Published on May 24, 2016 03:37

May 23, 2016

A Citação da Semana (114)

«A força não tem origem na energia física, mas numa vontade indomável».


Mahatma Gandhi




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Published on May 23, 2016 02:26

May 20, 2016

Morte de João XXI

João XXI.jpg
Imagem Wikipedia


A 20 de Maio de 1277, morreu o único papa português, João XXI, de acidente, em Viterbo.



Dom Dinis, de dezasseis anos, ainda não era rei, seu pai Dom Afonso III só morreria quase dois anos mais tarde, a 16 de Fevereiro de 1279. Mas o rei Lavrador terá conhecido João XXI, antigo deão da Sé de Lisboa.



Transcrevo uma pequena cena do meu romance, relativa à morte do papa português:



- O senhor vosso pai pede-vos que volvam a Lisboa! Acabou de receber a notícia do passamento de Sua Santidade o papa João XXI.

- Mestre Pedro Julião finou-se? - surpreendeu-se Dinis.

O
antigo deão da Sé de Lisboa, conhecido no estrangeiro como Pedro
Hispano, estudara Artes em Paris e Medicina em Montpellier. Escrevera
várias obras sobre Teologia e outros campos do saber e passara
temporadas na cúria papal, tornando-se físico do papa Gregório X, a quem sucedera. Ainda não era velho, nem se lhe conhecia enfermidade:

- Mas como pode tal haver sucedido?

-
Foi um acidente, em Viterbo - respondeu o mensageiro. - O Santo Padre
inspecionava umas obras de uma nova ala que mandara edificar no palácio
dos papas, quando uma parte do edifício desabou.




Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg


O meu romance sobre Dom Dinis pode ser adquirido na forma de ebook na LeYa Online e na Wook .


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Published on May 20, 2016 03:30

May 18, 2016

Comparações...

Gosto muito do papa Francisco, mas ele já me desiludiu duas vezes (enfim, ninguém é perfeito). A primeira foi quando elogiou um pai que lhe comunicou bater no filho, mas nunca na face, para não lhe atacar a dignidade. Na minha opinião, é grave um papa apoiar qualquer tipo de violência. Alguém me poderá dizer porque há de ser mais escandaloso bater num adulto do que numa criança? Com a agravante de que a criança é mais pequena e mais fraca do que o adulto. Não aprendemos que não devemos bater nos mais fracos, ou em todos aqueles que não se possam defender? Confesso: também eu era adepta da disciplina à custa da estalada, foi assim que
aprendi. Um exame de consciência, porém, numa certa altura da minha
vida, ajudou-me a perceber que a estratégia me prejudicou mais do que
ajudou. 



Adiante! Passemos à segunda desilusão, esta recente, que o papa me causou:



O papa Francisco lamentou hoje que algumas pessoas sintam compaixão pelos animais, mas depois mostrem indiferença perante as dificuldades de um vizinho.



Claro que devemos pôr as pessoas à frente dos outros animais. Mas a forma que o papa escolheu para o dizer foi muito infeliz. Ele não devia fazer comparações entre pessoas, alegando que umas valem mais do que as outras, vai contra o princípio da igualdade! Além disso, quem não gosta de animais, vê-se confirmado na sua crença de que pessoas que gostam de animais não gostam de outras pessoas e isso está longe de ser verdade. Há casos e casos. Declarações destas contribuem para que ainda mais animais sofram, pois, quem ajuda animais, vai ter mais problemas, vai ser mais insultado, já que quem é contra se sente com mais legitimidade para o fazer. Um papa deve apelar à piedade e à compaixão, apelar a que ajudemos o próximo, que compartilhemos da sua tristeza... Sim, é essencial! Mas sem comparações destas, por favor!

Palavras destas são aproveitadas para cavar ainda mais o fosso entre os amigos dos animais e aqueles que os odeiam, ou seja, causam inimizades, insulto e ódios, em vez de unir! Claro que há casos extremos e comportamentos inaceitáveis, mas devíamos
pensar muito, antes de compararmos pessoas, ou comportamentos. E uma
pessoa com a autoridade moral do papa tem responsabilidades acrescidas.


Todos nós devíamos evitar comparações, como entre irmãos, por exemplo, dizendo que um é mais inteligente ou dinâmico que o outro, ou coisa parecida. É sempre uma grande desconsideração em relação à pessoa que fica mal vista e cria desentendimentos, inimizades, invejas, até ódio.



Não gosto de comparações, cada um é como é e cada um se dedica às causas que acha certas. Quem se dedica à causa animal, faz algo de bom e devia ser elogiado, em vez de criticado. Porque uma coisa é certa: não será por desistirmos de nos dedicarmos aos animais que o mundo ficará mais justo, ou que menos pessoas sofrerão.




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Published on May 18, 2016 03:00

May 16, 2016

Foral de Vila Nova de Foz Coa

V N Foz Coa Brasão.png


A 16 de Maio de 1299, Dom Dinis concedeu foral a Vila Nova de Foz Coa e ordenou o seu povoamento.



O meu romance sobre Dom Dinis pode ser adquirido na forma de ebook na LeYa Online e na Wook .


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Published on May 16, 2016 03:17

A Citação da Semana (113)

«Quem segue a sua estrela, que não dê meia-volta!»


Leonardo da Vinci






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Published on May 16, 2016 02:24

May 14, 2016

Cantiga de Escárnio

Do ponto de vista poético, Dom Dinis é sobretudo conhecido pelas suas
cantigas de amor e de amigo. Mas ele compôs também algumas cantigas de
escárnio e aproveito para lembrar uma passagem do meu romance, onde
enquadrei uma dessas cantigas:




Serão na Corte 2.jpg

 Serão na corte, por H. Vanez


Assim
se viu Dinis rodeado de fidalgos pomposos a disputar-lhe a atenção,
tentando impressioná-lo com as suas proezas, sem sequer haver uma sessão
musical que o distraísse. O Paço episcopal não era o local indicado
para fazer a corte às senhoras através de cantigas trovadorescas, para
já não falar de uma ou outra dança.

Por
entre as conversas, Dinis recordou uma cantiga de escárnio que
compusera sobre um fidalgo de província, por ele apelidado de Dom Foam e
que falava intermitentemente, sem se aperceber do cansaço e do tédio
que causava ao seu soberano:



U noutro dia seve Dom Foam,

a mi começou gram noj’ a crecer

de muitas cousas que lh’ oí dizer.

Diss’ el: - «Ir-m’ ei ca já se deitaram»;

e dix’ eu: - «Boa ventura hajades

porque vos ides e me leixades».



E muit’ enfadado do seu parlar

sevi gram peça, se mi valha Deus,

e tosquiava estes olhos meus.

E quand’ el disse: - «Ir-me quer’ eu deitar»

e dix’ eu: - «Bõa ventura hajades

porque vos ides e me leixades».



El seve muit’ e diss’ e porfiou,

e a mim creceu gram nojo por em,

e nom soub’ el se x’ era mal se bem.

E quand’ el disse: - «Já m’ eu deitar vou»

e dix’ eu: - «Bõa ventura hajades

porque vos ides e me leixades».



Nota: o meu romance está à venda sob a forma de ebook na  Leya Online , na Kobo e na Wook


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Published on May 14, 2016 04:14