Cristina Torrão's Blog, page 54

July 1, 2016

Guerra Civil de 1320/25


Imagem daqui



A 1 de Julho de 1320,
Dom Dinis apresentou o seu primeiro manifesto contra a revolta do
filho, o futuro Dom Afonso IV. Durante a guerra civil, que se verificou
entre o Rei Lavrador e o seu herdeiro, Dom Dinis apresentou três
manifestos.



Este primeiro manifesto foi lido nos paços
reais da alcáçova de Santarém e incluía várias queixas que o rei tinha
contra o filho, acusando-o de ingratidão. Porém, o mais importante foi a
apresentação de provas documentais, desmantelando duas acusações graves
que o infante fizera: de que seu meio-irmão Afonso Sanches o tinha
mandado envenenar e de que o pai preparava o seu afastamento do trono,
para o que já tinha pedido ao papa a legitimação de seu filho ilegítimo,
o mesmo Afonso Sanches.



Alguns momentos marcantes da guerra civil de 1320/25:



-
Em Março de 1321, partidários do príncipe assassinaram Dom Geraldo
bispo de Évora, junto da Igreja de Santa Maria de Estremoz. Dom Geraldo
estava, desde 1317, autorizado a excomungar os adversários do rei.



-
Em Abri de 1321, o príncipe Dom Afonso assumiu o controlo de Leiria e a
15 de Maio, Dom Dinis apresentou, em Lisboa, o segundo manifesto contra
o filho e seus partidários.



- No Verão de 1321 (altura do
desterro de Dona Isabel em Alenquer, por Dom Dinis a acusar de pactuar
com o filho) o príncipe Dom Afonso tentou conquistar Santarém e Tomar,
sem o conseguir (a alcáçova de Santarém é recuperada por Dom Dinis e o
Mestre da Ordem de Cristo fechou a fortaleza de Tomar ao infante).



-
Em Setembro de 1321, Jaime II de Aragão, cunhado de Dom Dinis, envia
Frei Sancho a Portugal, a fim de reconciliar o pai com o filho, mas o
prelado nada pôde fazer.



- A 9 de Dezembro de 1321, houve
um grande terramoto em Lisboa, interpretado como castigo de Deus pelos
desentendimentos entre pai e filho.



- A 17 de Dezembro de
1321, Dom Dinis apresentou o terceiro manifesto, em que desnaturava o
filho e considerava traidores quantos o seguissem.



- A 31 de Dezembro de 1321, o príncipe Dom Afonso apoderou-se de Coimbra, cidade que Dom Dinis cercou a 7 de Março de 1322.



-
Em Janeiro de 1322, Dom Dinis recuperou Leiria e castigou duramente os
traidores, que tinham fugido para o mosteiro de Alcobaça. Nesta altura, o
infante Dom Afonso ocupou os castelos de Montemor-o-Velho, Feira e Vila
Nova de Gaia e a cidade do Porto, onde se lhe juntou o conde Pedro de
Barcelos (seu meio-irmão).



- Em Maio de 1322, há um acordo de paz em Leiria. Dom Dinis foi acometido de doença grave à sua chegada a Lisboa
e fez segundo testamento. O seu estado melhorou no início de 1323, mas a
paz foi quebrada depois das Cortes de Lisboa em Outubro deste ano, com
Dom Afonso decidido a apoderar-se à força do trono, conquistando Lisboa.
Por intervenção de Dona Isabel, não chegou a travar-se a batalha no
campo de Alvalade (ou, segundo José Mattoso, no lugar chamado Albogas,
perto de Loures).




Isabel - Batalha Alvalade.jpg
Dona Isabel na Batalha de Alvalade




De
nada adiantava mandar emissários, depois da humilhação nas Cortes de
Lisboa, Afonso tudo faria para se apossar do trono! A batalha era
inevitável.

Dinis
sabia que fora longe demais. Mas que força o impedia de se entender com
o seu próprio herdeiro? Teria inconscientemente guiado os
acontecimentos de maneira a que Afonso Sanches lhe pudesse suceder? A
verdade é que ele próprio se via incapaz de responder a esta pergunta.
Lembrou-se do neto Pedro, que tanto o encantara em Frielas, mas também
Afonso Sanches tinha um filho que já fizera nove anos e que igualmente o
cativava…

Naquela
noite, véspera da batalha, Dinis mortificava-se. Estava a ir contra a
vontade de Deus, chefiando um combate contra o seu único filho legítimo?
O rei não conseguia adormecer, novamente atacado por tonturas, dores de
cabeça e suores. Tornaria a adoecer? Finar-se-ia ainda antes de se dar o
combate?

Deus
que decidisse! Nada mais lhe restava que não fosse confiar na força
divina. Desejou um milagre. Sabia que Isabel rezava, recolhida no seu
paço, depois de semanas de penitências rigorosas. Conseguiria ela
provocar um milagre?






Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



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Published on July 01, 2016 02:38

June 30, 2016

Levantamento do interdito

A 30 de Junho de 1290, foi levantado um interdito a
que o reino de Portugal esteve sujeito desde 1267. Dom Dinis herdou
assim um reino sob interdito, o que proibia sacramentos (incluindo
casamentos e batizados) e realização de missas, devido aos conflitos
entre seu pai Dom Afonso III e o clero.




DinisQuadro.jpg
Dom Dinis na sua corte (ignoro qual o autor desta imagem)




Dom Dinis começou a reinar a 16 de Fevereiro de 1279, mas foram longas e difíceis as negociações com a Santa Sé, até o papa Nicolau IV decretar o fim do interdito, em 1290.



E
naquele Estio (1290), festejou-se na corte portuguesa um grande
acontecimento: Nicolau IV levantou, a 30 de Junho, o interdito a que o
reino estivera sujeito mais de vinte anos!

Podiam
finalmente abrir-se as igrejas, celebrar-se os Ofícios Divinos,
proceder-se aos sacramentos, tudo coisas que, para uma grande parte da
população, não passavam de memórias longínquas, para não falar dos que
nunca haviam assistido a tais procedimentos. Haviam-se desenvolvido
cultos populares que se misturavam com ritos pagãos.

Curiosamente,
Isabel interessava-se muito por esses cultos, fazia inclusive planos
de, nas vilas que lhe pertenciam, integrar alguns nas celebrações
oficiais da Igreja. A rainha era sensível a tudo o que fosse espiritual,
sentia-se responsável pela salvação das almas das populações e
tencionava supervisionar pessoalmente a reorganização das igrejas
locais. Porém, Dinis proibiu-a de deixar a corte antes do nascimento do
segundo filho, ao que a rainha obedeceu, continuando a presidir a
reuniões com o clero responsável pelas vilas, não se cansando de dar
ordens e orientações.





Deixo-vos
com mais um excerto do meu romance, um diálogo entre Dom Dinis e seu
pai Dom Afonso III, pouco tempo antes da morte deste. Dom Dinis tinha
dezasseis anos:



-
Eu sei, filho, eu sei. Conheço-te bem, tens bom coração. - Observou-o
com carinho e disse depois: - Não olvides, porém, de exercer a tua
autoridade, mesmo quando o coração ameaça amolecer-te. Não te deixes
vencer por fidalgos que têm a mania que mandam mais do que o rei!
Rodeia-te de gente competente, de confiança, capaz de te dar as melhores
informações quanto ao que se passa em todos os cantos do reino. E vai a
todo o lado, mostra-te!

- Sim, senhor meu pai.

O monarca insistia nas lições do costume:

-
O primeiro grande dever de um soberano é a justiça, que abre o caminho à
paz! E, para melhor a aplicar, é essencial saber a verdade, que se
consegue por meio de inquiridores. As inquirições apresentam-te os
factos, dão-te a verdade!

Apesar de já ter ouvido tal várias vezes, Dinis manteve-se paciente, enquanto o pai fazia uma pausa, para depois prosseguir:

-
O rei é a autoridade suprema. Tudo o que, em matéria de justiça,
suscite dúvidas, deve passar pela corte! Encoraja as apelações, a todos
deve assistir a possibilidade de apelar a el-rei, sempre que haja
negligência por parte dos juízes locais. E a base de tudo isto, o
alicerce sobre o qual constróis a tua autoridade, é a escrita! O que se
passa e o que se ouve esvai-se da nossa mente… A não ser que seja retido
pela escrita, eternamente figurado na memória dos homens!





O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



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Published on June 30, 2016 03:31

June 29, 2016

Triunfo do Amor Português













Aqui se dá conta de relações amorosas da nossa História,
como Dom Pedro I e Inês de Castro, Leonor Teles e João Fernandes Andeiro, ou a
Severa e o Conde de Marialva. A escrita possui alto nível de erudição, como será
habitual em Mário Cláudio. Digo “será” porque foi o primeiro livro que li deste
autor. Atendendo, porém, aos prémios que já ganhou e ao estatuto atingido no
nosso meio literário, não há margem para dúvidas de que a sua escrita vale por
si mesma.




As ligações amorosas são tratadas de um ponto de vista
inabitual, dando ênfase, por exemplo, à decadência da corte e dos mosteiros no
século XVIII, no caso entre Dom João V e Madre Paula, com aspetos mesmo
grotescos, que se escondiam atrás dos luxos. No episódio envolvendo a Severa e
o Conde de Marialva, o ênfase vai para a promiscuidade e a miséria de certos
meios. Surpreendeu-me a ternura posta no descrever da paixão de Mariana
Alcoforado pelo Conde de Chamilly e o meu episódio preferido foi o de Camilo
Castelo Branco e Ana Plácido. Mário Cláudio é exímio no retratar do narcisismo dos
escritores, um narcisismo ligado à febre da produção literária, que põe todos os
outros aspetos da sua vida na sombra. No caso de Camilo Castelo Branco, e
devido à época em que viveu, essa fixação no próprio ego alia-se ao machismo, uma
mistura fatal para a igualmente culta Ana Plácido. Fiquei, no entanto,
desiludida com o capítulo dedicado a Dom Pedro I e Inês de Castro. Apesar de Mário
Cláudio fugir à descrição comum deste romance, não foi tão longe quanto eu
desejaria, mantendo alguns mitos.




Uma escrita que vale por si mesma, porém, sendo inimitável
na sua erudição e dando um estatuto único, por demais merecido, ao seu autor,
torna-se ela própria narcísica, ou seja, vive por si e para si, esquecendo-se,
por vezes, da sua função de veículo de um enredo e de personagens. Torna-se
assim fastidiosa a leitura de certas passagens.





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Published on June 29, 2016 02:46

June 28, 2016

Amores de Dom Dinis







Serão na corte





Excerto do meu romance Dom Dinis, a quem chamaram o Lavrador:



A
rainha teimava em não regressar do seu périplo pelas vilas que lhe
pertenciam e Dinis, de partida para Coimbra e desejoso de consolo
feminino, debatia-se com a dúvida sobre quem mandaria vir ao seu
encontro: Aldonça Rodrigues da Telha, ou Maria Pires? A fogueira
escaldante, ou a leveza das sardas num rosto sereno?

Quiçá
por se aproximarem os frios do Outono, Dinis decidiu-se pelas chamas.
Considerou, porém, que Aldonça deveria estar mui agastada, desde que
ele, em vez de reatar o romance com ela, depois do nascimento de Fernão
Sanches, se entretivera com a dama do Porto. Sabia, por outro lado, que
Aldonça não se atreveria a recusar um pedido dele. E dedicou-lhe um
poema na sua missiva, o melhor remédio para atenuar ímpetos arrebatados,
onde pedia perdão por não ter ido ver a amada nem lhe ter mandado
notícias durante tanto tempo:



                        Nom sei como me salv ’a mia senhor

                        se me Deus ant’ os seus olhos levar,

                        ca par Deus nom hei como m’ assalvar

                        que me nom julgue por seu traedor

                        pois tamanho temp’ há que guareci

                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.



(Não
sei como me justificar perante a “mia senhor”, para que ela me não
pense seu traidor, pois já há muito tempo não lhe mando notícia, nem a
vejo).




                        E sei eu mui bem no meu coraçom

                        o que mia senhor fremosa fará

                        depois que ant’ ela for: julgar-m’ á

                        por seu traedor com mui gram razom,

                        pois tamanho temp’ há que guareci

                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.



(Sei
muito bem no meu coração como reagirá a formosa “mia senhor”,
julgar-me-á por seu traidor e com razão, que já há muito tempo que não
lhe mando notícia, nem a vejo).




                        E pois tamanho foi o erro meu

                        que lhi fiz torto tam descomunal,

                        se m’ a sa gram mesura nom val,

                        julgar-m’ á por em por traedor seu,

                        pois tamanho temp’ há que guareci

                        sem seu mandad’ oir e a nom vi.



                        Se o juízo passar assi,

                        ai eu cativ’, e que será de mi?






Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg


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Published on June 28, 2016 03:34

June 27, 2016

A Citação da Semana (119)


Foto recebida por email





«Tem de haver corações que conheçam o fundo do nosso ser e que acreditam em nós, mesmo quando o resto do mundo nos deixa».



Karl Gutzkow








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Published on June 27, 2016 02:50

June 26, 2016

Bodas de Dom Dinis e Dona Isabel

Faz hoje 734 anos que Dom Dinis e Dona Isabel celebraram as suas bodas na vila de Trancoso, Beira Alta.





Sala dos Capelos, Universidade de Coimbra



Os
dois estavam casados por procuração desde 11 de Fevereiro de 1281, mas só dezasseis meses mais tarde, em Trancoso, se conheceram.
No meu romance, Dom Dinis sente algum receio em relação ao carácter da sua
jovem esposa:



Isabel
tornou a encará-lo com um esboço de sorriso. Dinis tomou-lhe uma das
mãos e o franciscano Dom Telo, arcebispo de Braga, envolveu as dos
soberanos com as suas, num gesto de bênção e aceitação. Portugal
encontrava-se sob interdito, com as cerimónias religiosas e os
sacramentos proibidos, e aquele gesto legitimava oficialmente a união em
solo português dos nubentes já casados por procuração.

(…)

Ao
outro dia, el-rei juntou-se com a sua comitiva à da rainha, a fim de
visitarem os acampamentos espalhados pelo planalto. Dinis olhou
estupefacto para as três carroças cheias de dádivas que Isabel mandara
carregar. E, depois de o informarem que haviam sido embalados pães e
bolas de carne inteiros, até capões assados, dirigiu-se à sua consorte:

-
Pensei que as sobras chegassem. Nestas carroças, encontram-se alimentos
que estavam previstos serem servidos hoje à nossa mesa!

- As minhas damas e eu prescindimos da nossa parte - replicou Isabel.

Depois de um momento de estupefação, Dinis inquiriu:

- E que comereis?

-
Se sobra sempre tanto, é porque não faltam vitualhas. E um dia a pão e
queijo não nos faria mal, pelo contrário. O sacrifício da carne aguça o
espírito.

Dinis achou que ela ia longe demais:

- Não permitirei que…

- Não vos aflijais, nada tirei que estivesse destinado a vós! E as minhas damas estão acostumadas a este meu procedimento.

Isabel
deu ordem para que a auxiliassem a montar a sua égua branca e Dinis
montou o seu cavalo castanho de sobrolho franzido. A sua rainha parecia
possuir mais uma qualidade: a de fazer imperar os seus desejos! Teria
ele, um rei que se preocupava em exigir obediência, dificuldades em
impô-la à sua própria consorte?



Dona Isabel tinha
apenas doze anos, pelo que se depreende que Dom Dinis tenha esperado que
ela se fizesse mulher para consumar o casamento (como aliás era hábito
na época). A primeira filha, Constança, só nasceria oito anos mais
tarde, a 3 de Janeiro de 1290; o segundo filho, futuro Afonso IV,
a 8 de Fevereiro de 1291.



O
facto de os dois filhos terem nascidos tão chegados prova, na minha opinião, que Dona Isabel seria fértil. Porém, o casal
não tornou a ter filhos, durante quarenta e quatro anos de casamento. A vida conjugal de Dom Dinis e de Dona Isabel, a rainha que foi
canonizada, suscita várias interrogações.




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Published on June 26, 2016 03:44

June 24, 2016

Bens dos Templários portugueses


Imagem daqui





A 24 de Junho de 1319, Dom Dinis entregou à Ordem de
Cavalaria de Nosso Senhor Jesus Cristo todos os bens que tinham pertencido aos
Templários. O primeiro Mestre da Ordem de Cristo foi Dom Frei Gil
Martins, anteriormente Mestre da Ordem de Avis.





Sobre a abolição dos Templários e o empenhamento de Dom Dinis em
salvá-los, ler os meus posts de 14 de Março, 18 de Março, 19 de Abril e 8 de Junho, com excertos do meu romance.







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Published on June 24, 2016 03:25

June 23, 2016

Doação de Sintra

Neste dia 23 de Junho do ano de 1287, Dom Dinis doou a vila de Sintra a
sua esposa Dona Isabel, cinco anos depois de terem celebrado as suas
bodas em Trancoso, assunto a que brevemente me referirei, já que se
verifica o seu 734º aniversário daqui a três dias.


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Published on June 23, 2016 02:58

June 20, 2016

Doença de Dom Dinis




A 20 de Junho de 1322 Dom Dinis foi acometido de doença grave, dois
anos e meio antes da sua morte. «Um ligeiro ataque vascular-cerebral ou
um pequeno ataque cardíaco?», pergunta-se o autor da biografia de Dom
Dinis (Temas e Debates, 2008), José Augusto Pizarro.



O rei
Lavrador tinha, nesta altura, sessenta e um anos e nunca tinha estado
verdadeiramente doente. Encontrava-se, porém, numa fase muito
desgastante da sua vida, que inclusive lhe terá acelerado a morte: a
guerra civil contra o seu próprio filho e herdeiro. Esta doença
verificou-se aliás depois do cerco a Coimbra,
que implicou duros combates. Através da mediação da rainha Dona Isabel e
do conde de Barcelos Pedro Afonso (filho ilegítimo de Dom Dinis), o rei
assinou as pazes com o infante, mas, no seu regresso a Lisboa, sentiu-se mal.



O
estado e Dom Dinis melhorou no início do ano seguinte, mas as pazes com
o filho foram de pouca dura. O acordo seria quebrado em Outubro de
1323, depois das Cortes de Lisboa. A guerra entraria na sua última fase,
com a Batalha de Alvalade, mas dedicar-me-ei ao assunto na altura
própria. Para já, um excerto do meu romance, quando já não havia
entendimento possível entre pai e filho:



De
nada adiantava mandar emissários, depois da humilhação nas Cortes de
Lisboa, Afonso tudo faria para se apossar do trono! A batalha era
inevitável.

Dinis
sabia que fora longe demais. Mas que força o impedia de se entender com
o seu próprio herdeiro? Teria inconscientemente guiado os
acontecimentos de maneira a que Afonso Sanches lhe pudesse suceder? A
verdade é que ele próprio se via incapaz de responder a esta pergunta.
Lembrou-se do neto Pedro, que tanto o encantara em Frielas, mas também
Afonso Sanches tinha um filho que já fizera nove anos e que igualmente o
cativava…

Naquela
noite, véspera da batalha, Dinis mortificava-se. Estava a ir contra a
vontade de Deus, chefiando um combate contra o seu único filho legítimo?
O rei não conseguia adormecer, novamente atacado por tonturas, dores de
cabeça e suores. Tornaria a adoecer? Finar-se-ia ainda antes de se dar o
combate?

Deus
que decidisse! Nada mais lhe restava que não fosse confiar na força
divina. Desejou um milagre. Sabia que Isabel rezava, recolhida no seu
paço, depois de semanas de penitências rigorosas. Conseguiria ela
provocar um milagre?




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Published on June 20, 2016 07:54

A Citação da Semana (118)

«Em cem pessoas, amo apenas uma; em cem cães, noventa e nove».



Marie von Ebner-Eschenbach




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Published on June 20, 2016 01:56