Cristina Torrão's Blog, page 51

August 11, 2016

Amores de Dom Dinis





Fonte da imagem



Dom Dinis ficou para a História como um rei mulherengo e, de facto, teve bastantes filhos fora do casamento.

A
este propósito, um excerto do meu romance em que o Rei Lavrador se
encanta com uma protegida de Dona Isabel, o que lhe trará dissabores:



Dinis
apercebeu-se que Isabel vinha ao seu encontro. E, ao lado da rainha,
uma aparição encantadora paralisou o monarca! Cabelos louros e
ondulados, coroados por um diadema de prata, enquadravam uma face alva,
onde luziam olhos da cor do mar num dia estival. Um vestido rosa pálido
envolvia um corpo bem proporcionado, de peito cheio e cintura fina.

O rosto delicado corou intensamente, quando Isabel lhe anunciou:

- É esta a donzela de quem vos falei!

- De quem… me falastes… - gaguejou Dinis atarantado.

- Mas será possível que constantemente olvideis Dona Branca Lourenço de Valadares?

- Dona…?

Dinis
nem queria acreditar! Era aquela a filha do falecido Lourenço Soares de
Valadares, que com ele colaborara na corte? A filha de quem o fidalgo
chegara a relatar brincadeiras nos verdejantes vales minhotos? A donzela
a quem ele haveria de arranjar um esposo…

- Não vos sentis bem? Pareceis um pouco pálido.

As
palavras de Isabel trouxeram-no de volta à realidade, dando-se conta de
que não podia fazer daquela moça sua barregã! Branca Lourenço de
Valadares era uma donzela de apenas dezasseis anos, sob a proteção da
rainha! Ele ia a caminho dos trinta e nove…

-
Perdoai, foi um dia fatigante. - Concentrou-se em Isabel, a fim de
recuperar a sua lucidez: - Principalmente a reunião com Afonso
consumiu-me, como podeis calcular.

A rainha olhou na direção do infante:

- Parece-me bem-disposto.

- Com ele, nunca se sabe…

-
É verdade. Mas mudemos de assunto, que estamos a confundir Dona Branca.
- Virando-se para ela: - Podeis cumprimentar el-rei Dom Dinis!

O
monarca pegou na mão frágil que se lhe estendia e, ao segurá-la, sentiu
o encanto da juventude, experimentou sensações esquecidas. Depois de
uma vénia, a donzela pousou nele os seus olhos azuis mar, espelhando o
fascínio que a figura do monarca lhe causava.






Dom Dinis Série (1).JPG




O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.


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Published on August 11, 2016 03:24

Que bom que era...

Através do blogue Stone
Art Books
, de Magda Pais, entrei em contacto com esta passagem do livro Para Onde vão os Guarda-Chuvas, de
Afonso Cruz: 



«Krishna mentiu, negando
que tivesse comido terra, mas Yasoda insistiu para que ele abrisse a boca.
Quando espreitou lá para dentro, viu o universo inteiro, planetas a deambular,
sóis a brilhar, galáxias, essas coisas.

(...)

Isso acontece com todos
os pais. Não é preciso ser pai de Krishna nenhum. É assim que se vêem os
filhos, dentro deles está todo o universo, todos os mundos possíveis e
impossíveis». 




É uma passagem belíssima, maravilha
qualquer um e mostra o grande talento deste escritor, talento, aliás,
confirmado com inúmeros prémios.



Por outro lado, deixa-me um
certo amargo de boca.



Não sei se cometo um
sacrilégio, ao criticar palavras de tão conceituado escritor, mas…

«Isso acontece
com todos os pais»? 

«Todos»?



Somos regularmente bombardeados
com notícias referentes à violência exercida sobre crianças pelos próprios
pais. Violência física, psicológica, abusos sexuais… Dizer que todos os pais
veem o universo inteiro dentro dos filhos parece-me uma utopia, para não dizer
uma “história da carochinha”, daquelas que se contam para nos pôr
bem-dispostos, convencidos de que no seio das famílias apenas existe amor e
carinho.



Quis o destino que deparasse com a seguinte passagem, no livro que atualmente leio:



«São sem conta e antigas as razões de não se gostar de um filho, abundam no Velho Testamento, na mitologia grega, com pouco esforço as encontramos à nossa volta».



O autor destas palavras é igualmente um grande escritor: José Rentes de Carvalho (in Meças, p. 146).



O problema, na primeira citação, está na palavra "todos". O que Afonso Cruz escreveu continua a ser lindíssimo. Mas talvez tivesse sido melhor substituir "todos" por "muitos", ou "quase todos", ou por "a maioria dos".

  

Muitos
pais veem o universo inteiro dentro dos filhos - sim, é verdade. E não seria demais acrescentar que filhos desses são uns
felizardos.





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Published on August 11, 2016 02:16

August 9, 2016

Fundação do Estudo Geral das Ciências de Lisboa

Depois de, a 30 de Junho de 1290,
ter decretado o fim do interdito a que o reino português esteve sujeito
durante vinte e três anos, o papa Nicolau II emitiu, a 9 de Agosto de 1290, a bula De Statu Regno Portugaliae, confirmando a fundação do Estudo Geral das Ciências de Lisboa, percursor da Universidade.



A
Universidade foi de facto fundada em Lisboa. Durante muito tempo,
oscilou entre Lisboa e Coimbra, e só se estabeleceu definitivamente
junto ao Mondego em 1537, mais de duzentos anos depois da morte de Dom Dinis.



A bula De Statu Regno Portugaliae
confirmava o ensino de Cânones, Leis, Medicina e Artes e autorizava a
concessão de grau de licenciado pelo bispo ou vigário da Sé lisbonense.
Contudo, apenas dez anos depois, começaram os problemas. Não se sabendo
exatamente qual a sua origem, é conhecido que, ainda antes da
autorização papal, as aulas já decorriam num edifício situado no Campo
da Pedreira à Lapa. A 4 de Setembro de 1300, porém, Dom Dinis tentou
disponibilizar outro terreno para a construção de um edifício para o
Estudo Geral, por ter problemas com a Casa da Moeda.



Em Janeiro de 1307, é feito o pedido de transferência para Coimbra, autorizado por Clemente V a 26 de Fevereiro de 1308 e, a 15 de Fevereiro de 1309, pela Charta magna privilegiorum, Dom Dinis estipula os estatutos do Estudo Geral de Coimbra.






Dom Dinis Série (1).JPG


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.


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Published on August 09, 2016 02:16

August 8, 2016

Sentença Arbitral de Torrellas

Faz hoje 712 anos que se proferiu a Sentença Arbitral de Torrellas,
na fronteira castelhano-aragonesa, estabelecendo a paz definitiva entre
Aragão e Castela, o resultado de um longo processo, no qual Dom Dinis
foi o medianeiro principal, apoiado pelo papa e pelo rei francês Filipe
IV. É por isso estranho que o acontecimento seja praticamente
desconhecido entre nós, não sendo referido, quando se enumeram as
principais ocorrências durante o reinado do rei Lavrador.




Dinis e Isabel - Leiria.jpg Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria


As
disputas entre Aragão e Castela tinham a ver com a sucessão do trono
castelhano, assunto por resolver desde a morte do avô de Dom Dinis, Dom
Afonso X o Sábio, vinte anos antes. Em Junho de 1304, saiu de
Portugal uma solene e enorme comitiva, que incluía quase toda a corte
portuguesa. A presença da rainha Dona Isabel era imprescindível, já que o
monarca aragonês Jaime II era seu irmão.



Isabel
e Jaime cumprimentaram-se emocionados. Haviam-se separado há mais de
vinte anos, nas idades de onze e catorze respetivamente. Dinis achou-os
parecidos, também o cunhado possuía olhos e cabelos negros, estes
cortados à altura do pescoço, com a sua franja curta. Jaime, no entanto,
não ostentava a palidez da irmã, era robusto, nas suas vestes
escarlates, bordadas a fio de ouro.

O
herdeiro do trono português foi apresentado ao tio, que lhe elogiou a
postura, arrancando-lhe um sorriso e espantando Dinis, que raramente
assistia a tal reação por parte do rebento. O monarca aragonês fez ainda
questão de mencionar a parecença do moço com o avô Pedro III,
embevecendo Isabel. Dinis, por seu lado, ouvia-o contrafeito, apreciaria
mais que o príncipe fosse parecido com ele… Como Afonso Sanches!



Dom
Dinis tinha todo o interesse em que a paz fosse estabelecida na
Hispânia, pois, embora Portugal não estivesse diretamente implicado,
esta crise passava pela legitimação dos filhos do falecido rei de
Castela, Dom Sancho IV. O seu sucessor, Fernando IV, ainda menor, era o
noivo da infanta Dona Constança, filha de Dom Dinis e de Dona Isabel.



A
comitiva portuguesa iniciou a viagem de regresso a 16 de Agosto, passou
cinco dias em Valhadolid e só entrou em Portugal a 7 de Setembro.




Dom Dinis Papel (1).JPG


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



Para adquirir a versão em papel, contacte-me através do email andancas@t-online.de.


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Published on August 08, 2016 03:06

August 7, 2016

Comprar o romance sobre Dom Dinis




O meu romance Dom Dinis - a quem chamaram o Lavrador está à venda em várias plataformas em formato digital, vulgo ebook, permitindo a sua compra no estrangeiro, através do pagamento em várias moedas.



Em Portugal, pode ser adquirido na LeYa
Online
, na Wook e na Kobo .



A Amazon permite igualmente o pagamento em euros (dou o link da Amazon espanhola, mas podem utilizar-se outros), se bem que a Amazon.com permite o pagamento em dólares.



No Brasil, com pagamento em reais, está disponível na Livraria Saraiva e na Livraria Cultura .



Existe versão em papel, mas não se encontra à venda nas livrarias, pelo que os interessados devem contactar-me pelo email andancas@t-online.de, ou através de mensagem privada no Facebook .







Os dois primeiros capítulos estão disponíveis no Goodreads (ficheiro PDF), para ler e/ou descarregar gratuitamente.



 
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Published on August 07, 2016 10:32

O Rei Lavrador

A justificação mais comum para o cognome de Dom Dinis é o facto de
ele ter mandado plantar o pinhal de Leiria. É uma justificação um pouco
redutora, por duas razões:

- em primeiro lugar, Dom Dinis fomentou a agricultura em todas as suas vertentes;

-
em segundo lugar, talvez tenha mandado plantar mais pinhais. O pinheiro
bravo cresce depressa e Dom Dinis terá apostado nesta espécie, a fim de
dar resposta ao consumo exorbitante de madeira que se verificava na
Idade Média.




Dinis e Isabel - Leiria.jpg








Estátuas de Dom Dinis e Dona Isabel em Leiria













A este pretexto, um excerto do meu romance:



Urgia
criar novos espaços agrícolas. Excetuando os vales férteis do norte do
reino, os solos de argila arenosa não eram muito produtivos e a maior
parte deles encontrava-se esgotada, ao mesmo tempo que a população
crescia. Havia que aproveitar terrenos até ali insalubres, não só para
produção de pão, vinho e azeite, mas também para o cultivo de
leguminosas e fruta e o ganho de linho, burel e estopa.

Dinis
aprendera com o pai a fomentar a agricultura e celebrava contratos
minuciosos com os agricultores dos reguengos, chegando ao ponto de, no
caso da vinha, neles mencionar a conveniente adubação, ou a renovação
das cepas mortas por meio da mergulhia ou do plantio de novas vides,
passando pela escava, cava, sacha, poda e empa.

Frei
Martinho de Alcobaça explicava ao seu soberano como se fariam as
abertas e quais as culturas que melhor se dariam no Paul de Ulmar. Assim
que a drenagem estivesse concluída, Dinis distribuiria as terras,
formando grupos de casais ou aldeamentos, em que os moradores seriam
foreiros, ou seja, pagariam o foro à Coroa, que normalmente consistia
num quarto daquilo que a terra produzisse.

Próximo da praia, apontando para as vastas dunas, o cisterciense declarou:

-
As ventanias vindas do mar arrastam a areia para o interior, acabando
por cobrir as terras aráveis. - Apontou para uma zona de floresta de
pinheiro manso e acrescentou: - As árvores protegem os campos, mas são
cada vez menos.

Dinis
estava a par do problema da desertificação das florestas, a fim de
satisfazer o consumo exorbitante de madeira, necessária à construção de
travejamentos, tetos e soalhos, para não falar dos móveis e utensílios
domésticos. Além disso, consistia praticamente no único material com que
eram construídos estábulos, adegas, espigueiros e moinhos e servia
ainda para aprestos agrícolas, desde forquilhas, ao carro e ao arado. A
madeira era ainda o principal combustível. Sem lenha, não havia pão,
alimentos cozinhados, nem um mínimo de conforto no Inverno. Dela se
faziam igualmente estacaria para amparar culturas ou levantar vedações e
fertilizantes do solo, quer através de folhagens apodrecidas, quer de
cinzas, que serviam ainda para produzir sabão.

Como conciliar tão grande consumo com o travar da desertificação das florestas?

Dinis sabia que o pinheiro pertencia ao género de árvores que mais lestas cresciam e Frei Martinho acrescentou:

-
O pinheiro bravo ainda se desenvolve mais rápido do que o manso, além
de dar muito pez e resina. E com as agulhas, que se conservam muito
tempo sem apodrecer, também se faz bom lume.

-
Tomarei providências para que seja aumentada esta área florestal,
substituindo o pinheiro manso pelo bravo, a fim de não só abastecer as
populações de madeira, mas também evitar que a areia cubra as terras
aráveis… Um procedimento que poderá aliás ser usado noutras zonas
costeiras.




Cover neu3 Dom Dinis 100.jpg


O meu romance sobre Dom Dinis está à venda sob a forma de ebook na LeYa Online , na Wook e na Kobo .



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Published on August 07, 2016 03:05

August 6, 2016

August 4, 2016

Em defesa dos "aveques"




E como estamos em Agosto, venho dar uma palavrinha em favor dos tais
"aveques", que costumam invadir Portugal nesta altura e que são tão
desdenhados pelos compatriotas residentes. Conhecedora das duas faces da medalha, estou em condições de dizer que a mistura de línguas por
muitos usada não serve apenas para se armarem ao pingarelho. Alguns
fá-lo-ão com esse propósito, mas acreditem-me: nem todos!


Quando se
vive num país estrangeiro e se começa a falar a língua local, é comum
começarmos a misturar as duas. Os pais das crianças portuguesas, às
quais dei aulas em Hamburgo, falavam-me quase sempre numa mistura de
português e alemão. E era óbvio que não se estavam a armar, a situação
não o exigia.


Na verdade, é preciso bastante disciplina e autocontrolo para não fazer a
mistura. Sem querer diminuir ninguém, apenas ser objetiva, há pessoas
mais letradas do que outras. As menos letradas são as que têm mais
dificuldades em notar quando metem palavras francesas (ou afrancesadas),
ou palavras alemãs (ou "alemãsadas") no meio de uma frase em português.


Eu tive o privilégio de me poder licenciar. Sendo a minha licenciatura
no campo das Letras e, dentro destas, das Línguas e Literaturas, tenho
mais facilidade em fazer a distinção. Mesmo assim, garanto-vos que, em
certas situações, não é fácil. Por vezes, em Portugal, tenho mesmo de me
travar para não meter uma argolada alemã pelo meio e dou comigo a falar
mais devagar na minha língua-mãe, ponderando bem as palavras que
uso.



O problema é que todas as línguas têm palavras e/ou expressões ideais para certos casos, ou situações, difíceis de traduzir, e a tentação de as usar, caso caibam no contexto, é muito grande. Por isso, não liguem tanto às acrobacias linguísticas dos "aveques", por mais que elas vos irritem!



P.S. E se, em Portugal, derem comigo a falar alemão com a minha Lucy,
não se escandalizem! Os cães fixam de facto o som das palavras, são até capazes de entender algumas frases. E
considerem que há uma grande diferença acústica entre
"Deita" e "Platz", ou "Onde está a tua bola?" e "Wo ist dein Ball?"











Bom Agosto!








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Published on August 04, 2016 03:08

August 2, 2016

Crianças problemáticas

Os dados oficiais dizem que a violência doméstica é o principal factor de risco para jovens em Portugal.



A violência, sempre! Numa altura em que a violência doméstica contra as mulheres está (e muito bem) na ordem do dia, era bom que se fizesse o mesmo, quando as vítimas são as crianças. Nunca hei de entender porque é mais aceitável que se bata em crianças do que em adultos! Infelizmente, bater ainda é um método educativo muito aceite e ninguém se atreve a questionar o comportamento dos pais. Sei que não é fácil, pois os pais são muito inflexíveis em relação à educação que dão aos filhos, não aceitando qualquer tipo de conselhos ou sugestões. Compreendo. Mas não posso deixar de pensar que podiam, pelo menos, ouvir! Ouvir não quer dizer aceitar o que os outros dizem. Mas quem sabe, houvesse algo que os fizesse ponderar...



A negligência vem em segundo lugar e, mais abaixo, em oitavo, o abuso sexual. Mas «o número de abusos sexuais está sub-representado. É um crime muito difícil de diagnosticar, normalmente as crianças não denunciam».



Olhamos muitas vezes para o lado, mas devíamos andar mais atentos! Sempre que deparamos com um jovem problemático, devíamos perguntar-nos qual o motivo: violência, negligência ou abuso sexual? Estou certa de que o risco de errarmos é muito baixo, mais baixo do que calculamos.




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Published on August 02, 2016 03:14

August 1, 2016

A Citação da Semana (124)

«Os animais falam por vezes com mais sensatez com os olhos do que os humanos com a boca».



Ludovic Halévy




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Published on August 01, 2016 03:08