Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 64
May 12, 2015
Estádios Padrão Fifa voltam a ser Padrão CBF
Torcedor padrão Brasil
Um dos legados (talvez o maior) da Copa de 2014 se manifesta no começo da temporada de futebol de 2015: os estádios e arenas.
Visíveis, os estádios até engrandecem e embelezam os jogos. Pelas TVs, começamos a ver partidas que lembram as da Europa. Clássicos e jogos rotineiros de norte a sul agora têm estádios Padrão Fifa.
No entanto, parte do torcedor brasileiro não se adaptou aos novos tempos.
No Ceará, quebra-quebra na Arena Castelão na final do campeonato estadual assustou pelo grau de violência e vandalismo no estádio de 67 mil lugares que custou por baixo R$ 623 milhões, o primeiro a ficar pronto para a Copa, uma PPP com o Consórcio Galvão, Andrade e BWA.
Em Porto Alegre, torcida do Grêmio quebrou cadeiras no último GRE-NAL.
A diretoria do Inter resolveu retirar as cadeiras, rebaixando o estádio Padrão Fifa, o Beira-Rio: 500 cadeiras já foram retiradas do espaço onde fica a torcida ‘Guarda Popular’.
A torcida palmeirense quebrou 800 cadeiras da Arena Corinthians, no mata-mata do Paulistão. A diretoria do Verdão pagou pelo preju.
Certamente vai ter troco, quando o Corinthians jogar no Allianz Parque.
A do São Paulo já tinha quebrado sua cota.
Enquanto as torcidas organizadas do próprio time, Gaviões e Camisa 12, do outro lado, não conseguiram se adaptar ao novo sistema e pediram à diretoria corintiana que retirasse as cadeiras para pular, cantar: torcer.
Agora virou rotina: a torcida visitante quebra cadeiras do estádio do time adversário, e seu time de coração arca com o preju.
Alguns torcedores levam cadeiras como troféu e postam em redes sociais seu espólio de guerra
O pior é que as autoridades estão deixando barato.
Não há punidos nem punições.
São vândalos de uniforme de um time estragando a festa organizada por outros vândalos de cartola.
Enquanto a maioria lamenta os estádios ou arenas voltarem a ser Padrão CBF, Federação Paulista, Carioca…
May 10, 2015
O que se tem lido no Brasil?
Epílogo viral
Quando dois internautas que não abrem mão de suas opiniões começam a discutir furiosamente pela rede social, num debate aparentemente sem fim geralmente no post de um terceiro que nem os conhece, com uma argumentação em que não há vencedores e prova a radicalização do fraco e emocional discurso político atual (fraco porque é emocional ou emocional porque é fraco?), costumam encerrar a disputa com a máxima que se torna um epílogo viral: “Vai ler história!”
“Vai ler história!”, que não é argumento, mas um conselho presunçoso, quase uma ordem, como se apenas um lado a conhecesse, e a opinião contrária fosse uma versão deturpada dela, pode até encerrar uma discussão vencida pela exaustão, mas não muda a opinião de ninguém.
A teimosia desse tipo de internauta aumenta a voltagem nas redes sociais e nos leva às perguntas: “O que se tem ensinado nas escolas? O que se tem lido no Brasil?”
Uma das vítimas recentes foi Paulo Freire, o mais pesquisado pensador brasileiro, adotado em escolas americanas e grandes universidades, taxado de “marxista petista” pela simplificação do maniqueísta debate político, em que algum surfista irrequieto da onda “Fora Dilma!” deve ter descoberto no Wikipédia que esteve na fundação do PT, portanto ligado ao Mensalão ou Lava Jato e deveria ir para Cuba se estivesse vivo.
Aliás, ir para Cuba é uma sugestão que vivo recebendo. Eu já fui a Cuba. E recomendo. Quando me mandam ir para Cuba, lamento que não me mandem passagens (agora tem voo direto), vouchers de um hotel e translado. Eu iria de novo.
Também aceito a sugestão de ir para Miami. Já fui, é linda.
Um internauta ficou eufórico quando descobriu que Nazismo vem de nacional-socialismo, portanto, concluiu, Hitler era socialista, e os socialistas são os verdadeiros fascistas.
Passou meses tuitando a sua descoberta. Não sei se alguém teve paciência de elucidar a confusão semântica.
Já li coisas incríveis, como que a Rede Globo, fundada em 1965, foi responsável pelo Golpe de 1964.
Aliás, ao elogiar a dramaturgia da empresa, milhares de internautas me excomungaram.
Um blog com assento no iG disse que sofro de Síndrome de Estocolmo, “estado psicológico em que uma pessoa, submetida a um longo período de dominação, apaixona-se por seu agressor”. Exagero. Não me apaixonei por nenhum agressor, mas admiro a dramaturgia de Dias Gomes, Vianinha, Bráulio Pedroso, do departamento que adaptou Machado, João Ubaldo, Jorge Amado, Guimarães Rosa (no magnífico e ousado Grande Sertão: Veredas), Clarice Lispector, Lima Barreto, Nelson Rodrigues (em vários formatos), Erico Veríssimo, exibiu obras como O Bem Amado, Saramandaia, TV Pirata (com todo pessoal do Asdrúbal Trouxe o Trombone associado ao Manhas & Manias).
Vítimas da ditadura também costumam sofrer ataques e simplificações virtuais: comunistas, terroristas, assaltantes e sequestradores, que não lutavam contra uma ditadura, mas queriam implantar outra!
A Comissão Nacional da Verdade, que não veio para julgar, mas anexar uma “verdade”, incluiu um surpreendente documento de 60 páginas sobre a violação de direitos humanos dos povos indígenas.
O relatório prova a existência de genocídio, tortura e até uma prisão em Governador Valadares (MG), o Reformatório Krenak, em que prendiam e torturavam índios “rebeldes”.
Os povos indígenas sofreram violações não esporádicas, mas sistemáticas, por ação direta ou omissão do Estado, como extorsão de terras. O antigo Serviço de Proteção aos Índios, do Ministério da Agricultura, foi substituído pela Fundação Nacional do Índio em 1967, do Ministério do Interior, o mesmo responsável pela abertura de estradas e política desenvolvimentista. A anomalia jurídica extinguiu o órgão tutor dos índios e passou para o controle direto dos militares (general Bandeira de Mello).
Surgiram casos de violações associados à extração de madeira, minérios, à colonização e obras de infraestrutura.
A apropriação de terras indígenas foi favorecida pela corrupção de funcionários. Não foi controlada a violência de grupos privados contra índios.
Os Panará na década de 1970 sofreram remoções forçadas e um contato sem cuidados sanitários, que dizimou metade da população.
O Ministério Público do Paraná, baseando-se na definição de genocídio da Lei no 2.889/1956, fala em genocídio no caso dos índios Xetá.
O projeto Brasil Grande da ditadura implantou o Plano de Integração Nacional. Ignorando a existência de povos indígenas na região, abriu estradas, como a Perimetral Norte e a Transamazônica. O ministro do Interior, José Costa Cavalcanti, admitiu que a Transamazônica cortaria terras de 29 etnias indígenas, incluindo 11 grupos isolados e nove de contato intermitente, acarretando em remoções forçadas, que serviam também para liberar terras indígenas para a implantação de projetos agroindustriais.
Um exemplo foi o documento em que Bandeira de Mello, ao negar em 1970 à empresa Vila Bela Agropastoril S/A uma certidão negativa de existência de índios Nambikwara, acrescentou: “Logo que atraídos e pacificados e transferidos para a reserva definitiva, esta presidência poderá atender ao pedido de V.Sa”.
Sobre os Yanomami, o insuspeito ex-ministro da Justiça, coronel Jarbas Passarinho, reconheceu:
“Logo que o Projeto Radam evidenciou a presença de ouro no subsolo, e a Perimetral Norte levou o acesso até a terra milenarmente ocupada pelos Yanomami, que aconteceu? A morte de mais de 50% da tribo de Catrimani, causada por gripe e doenças, que não são mortais para nós, mas o são para índios não-aculturados. Não foi só nessa tribo, mas em várias outras, onde que se deu a presença dos garimpeiros. Eles poluíram os rios com mercúrio, afastaram a caça pelo barulho, provocaram a fome e a desnutrição dos índios, enquanto contra nós avolumava-se a acusação de que praticávamos o genocídio. Não era exagerada a denúncia.”
História que deveria ser lida.
+++
O texto de 60 páginas da CNV foi elaborado sob a responsabilidade da conselheira Maria Rita Kehl.
Pesquisas, investigações e redação foram desenvolvidas com a colaboração da Comissão da Verdade
Indígena, como parte das atividades do Grupo de Trabalho da Comissão Nacional da Verdade sobre Graves Violações de
Direitos Humanos no Campo ou contra Indígenas, com apoio dos pesquisadores Beto Ricardo, Cleber Buzzato, Clovis
Brighenti, Daniel Pierri, Egon Heck, Egydio Schwade, Fany Ricardo, Gilberto Azanha, Ian Packer, Iara Ferraz, Inimá
Simões, Isabel Harari, Laura Faerman, Levi Marques Pereira, Luis Francisco de Carvalho Dias, Luiz Henrique Eloy Amado,
Manuela Carneiro da Cunha, Marcelo de Souza Romão, Marcelo Zelic, Marco Antonio Delfino de Almeida, Maria
Inês Ladeira, Neimar Machado de Sousa, Orlando Calheiros, Patrícia de Mendonça Rodrigues, Porfírio Carvalho, Rafael
Pacheco Marinho, Rogerio Duarte do Pateo, Spensy Pimentel, Tatiane Klein e Vincent Carelli.
E conclui:
Por todos os fatos apurados e analisados neste texto, o Estado brasileiro, por meio da CNV,
reconhece a sua responsabilidade, por ação direta ou omissão, no esbulho das terras indígenas ocupadas
ilegalmente no período investigado e nas demais graves violações de direitos humanos que se
operaram contra os povos indígenas articuladas em torno desse eixo comum. Diante disso, são apresentadas
algumas recomendações.
I) Recomendações
- Pedido público de desculpas do Estado brasileiro aos povos indígenas pelo esbulho
das terras indígenas e pelas demais graves violações de direitos humanos ocorridas
sob sua responsabilidade direta ou indireta no período investigado, visando
a instauração de um marco inicial de um processo reparatório amplo e de caráter
coletivo a esses povos.
- Reconhecimento, pelos demais mecanismos e instâncias de justiça transicional do
Estado brasileiro, de que a perseguição aos povos indígenas visando a colonização
de suas terras durante o período investigado constituiu-se como crime de motivação
política, por incidir sobre o próprio modo de ser indígena.
- Instalação de uma Comissão Nacional Indígena da Verdade, exclusiva para o estudo
das graves violações de direitos humanos contra os povos indígenas, visando aprofundar
os casos não detalhados no presente estudo.
- Promoção de campanhas nacionais de informação à população sobre a importância
do respeito aos direitos dos povos indígenas garantidos pela Constituição e sobre as
graves violações de direitos ocorridas no período de investigação da CNV, considerando
que a desinformação da população brasileira facilita a perpetuação das violações
descritas no presente relatório.
- Inclusão da temática das “graves violações de direitos humanos ocorridas contra os
povos indígenas entre 1946-1988” no currículo oficial da rede de ensino, conforme o
que determina a Lei no 11.645/2008.
- Criação de fundos específicos de fomento à pesquisa e difusão amplas das graves
violações de direitos humanos cometidas contra povos indígenas, por órgãos públicos
e privados de apoio à pesquisa ou difusão cultural e educativa, incluindo-se investigações
acadêmicas e obras de caráter cultural, como documentários, livros etc.
- Reunião e sistematização, no Arquivo Nacional, de toda a documentação pertinente
à apuração das graves violações de direitos humanos cometidas contra os povos indígenas
no período investigado pela CNV, visando ampla divulgação ao público.
- Reconhecimento pela Comissão de Anistia, enquanto “atos de exceção” e/ou enquanto
“punição por transferência de localidade”, motivados por fins exclusivamente
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5 – violações de direitos humanos dos povos indígenas
políticos, nos termos do artigo 2o, itens 1 e 2, da Lei no 10.559/2002, da perseguição a
grupos indígenas para colonização de seus territórios durante o período de abrangência
da referida lei, visando abrir espaço para a apuração detalhada de cada um dos casos
no âmbito da Comissão, a exemplo do julgamento que anistiou 14 Aikewara-Suruí.
- Criação de grupo de trabalho no âmbito do Ministério da Justiça para organizar
a instrução de processos de anistia e reparação aos indígenas atingidos por atos de
exceção, com especial atenção para os casos do Reformatório Krenak e da Guarda
Rural Indígena, bem como aos demais casos citados neste relatório.
- Proposição de medidas legislativas para alteração da Lei no 10.559/2002, de modo
a contemplar formas de anistia e reparação coletiva aos povos indígenas.
- Fortalecimento das políticas públicas de atenção à saúde dos povos indígenas, no
âmbito do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde
(Sasi-SUS), enquanto um mecanismo de reparação coletiva.
- Regularização e desintrusão das terras indígenas como a mais fundamental forma
de reparação coletiva pelas graves violações sofridas pelos povos indígenas no período
investigado pela CNV, sobretudo considerando-se os casos de esbulho e subtração
territorial aqui relatados, assim como o determinado na Constituição de 1988.
- Recuperação ambiental das terras indígenas esbulhadas e degradadas como forma
de reparação coletiva pelas graves violações decorrentes da não observação dos direitos
indígenas na implementação de projetos de colonização e grandes empreendimentos
realizados entre 1946 e 1988.
May 7, 2015
Incrível desabafo do ex-assessor de Lula
O incrível e sincero desabafo do ex-assessor de Lula
Ricardo Kotscho, 67, repórter desde 1964, é dos profissionais mais queridos e respeitados do meio.
Educado, sempre sorridente, trabalhou nos principais veículos da imprensa brasileira como repórter, repórter especial, editor, chefe de reportagem, colunista e diretor de jornalismo.
Passou pelas redações do Estadão, Folha, JB, das revistas Isto É, Época e da TV Globo, CNT, SBT e Rede Bandeirantes. Recebeu quatro vezes o Prêmio Esso de Jornalismo.
Atualmente, é comentarista do Jornal da Record News, repórter especial da revista Brasileiros, que ajudou a fundar, e mantém o blog Balaio do Kotscho no R7.
Por um tempo, foi para o outro lado do balcão. Assessorou Lula, que conheceu cobrindo as primeiras greves do ABC, quando ainda era um metalúrgico com um partido em formação.
Foi seu porta-voz em campanha que rodou o Brasil em caravanas.
Foi o Assessor de Imprensa de Lula da histórica campanha de 2002.
Estar no primeiro governo Lula era extensão de anos de trabalho e militância.
De 2003 a 2004, foi secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República.
Discretamente e sem dar explicações, saiu cedo do Poder e voltou para o lado de cá. Mas nunca deixou de militar pela causa.
Surpreendeu ao publicar agora um desabafo amargo no seu blog, retratando com carinho o personagem e amigo que conhece como poucos: “Lula está na mira, isolado no palanque e sem discurso”.
Aqui, alguns trechos para a reflexão:
“Fiquei triste ao ver e ouvir o discurso de Lula neste 1º de Maio da CUT, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Basta rever as imagens na internet. Em toda a sua longa trajetória, do sindicato ao Palácio do Planalto, Lula nunca ficou tão isolado num palanque, sem estar cercado por importantes lideranças políticas, populares e sindicais. A presidente Dilma já tinha avisado que não viria, mas desta vez nem o prefeito Fernando Haddad apareceu. Só havia gente desconhecida a seu lado e, ainda por cima, um deles segurava o cartaz em que se lia ‘Abaixo Plano Levy – Ação Petista’, mostrando o descompasso entre a CUT, o partido e o governo.”
“Também não me lembro de ter visto Lula falando para tão pouca gente, e tão desanimada, num Dia do Trabalhador. Não havia ali sinais de alegria e esperança em quem o ouvia, como me acostumei a acompanhar desde o final dos anos 70 do século passado, nas lutas dos metalúrgicos no ABC. Lamento muito dizer, mas o discurso de Lula também não tem mais novidades, não aponta para o futuro. Tem sido muito repetitivo, raivoso, retroativo, sempre com os mesmos ataques à mídia e às elites, sem dar argumentos para seus amigos e eleitores poderem defendê-lo dos ataques.”
“Não que Lula deixe de ter caminhões de razões para se queixar da imprensa, desde que o chamado quarto poder resolveu assumir oficialmente a liderança da oposição e fechar o cerco contra os governos petistas. Só não podemos esquecer, porém, que foi com esta mesma mídia, com os mesmos donos, com as mesmas elites conservadoras, que nunca se conformaram com a mudança de mãos do poder, que o PT ganhou sucessivamente as últimas quatro eleições presidenciais.”
Kotscho afirma que assiste ao fim de um “ciclo mágico”, que levou um líder operário ao Poder e promoveu profundas transformações sociais. Lembra que Lula reelegeu a sucessora e deixou o governo com 80% de aprovação popular. Até Obama reconhecia: “Este é o cara”
E se pergunta: “O que aconteceu?”
Também está em busca de uma resposta.
“De lá para cá, tanta água passou por debaixo da ponte, em tão pouco tempo, que, em algum lugar da estrada, perderam-se a velha confiança e a capacidade de dar a volta por cima, sem que Lula consiga encontrar um novo discurso capaz de mobilizar os jovens eleitores e os velhos companheiros que ficaram pelo caminho. Vida que segue”, finaliza.
May 6, 2015
Militância petista pulsa
Muitos abandonam o partido. Marta Suplicy saiu atirando. O PDT mostrou descontentamento. O PSOL, em seu programa partidário, atacou. O PMDB lidera um motim no Congresso.
Mas a militância petista mostrou sua força ontem.
Não vale a pena discutir se é ação coordenada, se a ordem veio do Palácio, quem são?
Não aparentam robôs, já que a maioria tem avatar.
Podem ser funcionários da administração federal ou de algumas prefeituras, como São Paulo.
E professores estaduais em greve mobilizados contra os governos tucanos de SP e PR.
Mas enquanto o panelaço rugia pelas varandas de muitas cidades do Brasil, convocado até pelo PSDB, durante o programa eleitoral do PT, um panelaço virtual, #ToNaLutaPeloBrasil, em defesa do partido, ficava em primeiro nos TTs (trending topics) dos Assuntos do Momento Brasil no Twitter, e em quarto nos TTs mundiais.
E fez a alegria de Rui Falcão (@rfalcao13), que tuitou: “#ToNaLutaPeloBrasil Eu e toda essa militância aguerrida que mais uma vez mostra sua cara aqui no Twitter.”
O tom por vezes era de propaganda eleitoral: Lula e Dilma abraçados a criancinhas, aplaudidos em comícios, gráficos com feitos do governo petista, gente sorridente e aliados famosos.
O PSDB e a Rede Globo eram demonizados.
Rodrigo 13 (@RodP13 ) tuitou: “Duas diversões dessa gente: 1) Bater panelas 2) Bater em professores.”
Muitos lembravam que agora a panela do povo estava cheia, e que quem batia eram coxinhas em bairros nobres.
Como Conceição Oliveira (@maria_fro): “Itaquera não teve patacoada de #cabeçavazia #oficinadoOlavo, povo de Itaquera está de #panelacheia”
PTna Câmera, PTBrasil, @portalvermelho, @midiacrucis, e algumas celebridades petistas, como Emir Sadfer (@emirsader), que escreveu que “a oposição se retirou das ruas para bater panelas das sacadas das suas coberturas”, eram retuitadas.
Alguns já lançavam Lula candidato a 2018.
Enquanto muitos faziam barulho pelas janelas, outros faziam pelas redes, num país dividido.
May 4, 2015
Cotidiano em cores de Berlim em 1945
Montagem em HD traz imagens do cotidiano de Berlim logo depois do fim da Segunda Guerra.
Feita agora pelo Chronos History, incrível acervo alemão independente de filmes.
São filmes coloridos da situação da cidade destruída logo depois da Capitulação da Alemanha.
Takes no verão de 1945 do bunker e da cova onde Hitler teria sido queimado, da destruição do Reichstag, do Portão de Brandenburger, Adlon, Führerbunker, mulheres e crianças trabalhando na reconstrução da cidade e do precário transporte coletivo.
Imagens sem narração que falam por si.
Produção da Kronos Media
May 2, 2015
1 de maio esvaziado
Na Itália, o pau comeu- protestos contra a Expo Milão que custou 50 bilhões de dólares.
Na Turquia, o pau comeu.
Na Coreia do Norte, teve aquela coreografia em praça pública em que ensaiaram desde 2 de maio de 2014 e um jogo de futebol irrelevante no maior estádio de futebol do mundo, o Rungrado Mayday Stadium (150 mil espectadores), em Pyongyang.
Na Grécia, marcharam todos juntos com o super-ministro de extrema-esquerda, o muso Yanis Varoufakis, contra a austeridade econômica.
No outro extremo, Marine le Pen marchou com milhares na França, onde a direita cresce a cada ano.
No Brasil, Aécio discursou na zona norte, no comício da Força Sindical, e Lula na região central, no da CUT, retomando a bipolaridade esquizofrênica eleitoral brasileira.
A Força Sindical sorteou carros no Campo de Bagatelle.
Informou que tinha 1 milhão (PM disse 20 mil), e apresentou um leque numeroso de cantores sertanejos. Da base do governo, lá estava o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com os “opositores”. Defenderam a PEC da terceirização.
E comeram pastel.
A CUT levou Lecy Brandão. E Lula de volta ao palanque, defendendo a Petrobrás e contra o projeto da terceirização. Defendeu o partido que é Poder há 12 anos.
E comeram pastel.
Eu nasci em 30 de abril, mas meu pai me registrou 1 de maio, pela importância da data; eu só soube disso já velho, quando minha mãe me alertou na hora de fazer um mapa astral.
Data que mobilizava espontaneamente os trabalhadores do mundo todo, ela se esvaziou numa economia de empreendedores e terceirizados, numa política não movida apenas pela luta de classes da pirâmide social: trabalhadores contra patrões.
A presidenta dos trabalhadores, chamada de “desgraçada” pelo Paulinho da Força, fundador da entidade e deputado (SD-SP), sumiu dos palanques.
No Brasil, os “trabalhadores”, ou o partido deles, está no Poder.
Resta sortear casas, carros e pagar o cachê do maior número de sertanejos pops.
Só a ideologia não mobiliza mais.
April 26, 2015
Melhor ficarmos com a Globo
Ainda bem que tem a Globo
Há uns dias, manifestantes protestaram contra a Rede Globo, em frente à sede da emissora, exigindo que o governo cancelasse a concessão que, como você já sabe, faz 50 anos.
Nas manifestações de junho de 2014, protestaram em frente da sede de São Paulo, picharam o símbolo, e correu boatos no Rio de que invadiriam o Projac, o que detonou uma dispensa antecipada de funcionários.
Mas sem a Globo, teríamos o quê?
Uma novela turca dublada, como na Band, evangélica, como na Record, ou reprises e adaptações mexicanas dubladas, como no SBT?
Pedir o fim da Globo é daquelas besteiras fenomenais que movimentos sociais sem rumo, sem sentido, fora do seu tempo, propõem.
Eu prefiro a Globo.
Gestos que se veem ainda numa instável América Latina: pressão de governos ditos democráticos contra meios de comunicação; como alguns do PT, que ameaçaram com o indigesto controle do mercado, regras sobre o fazer jornalismo, ameaças de cassações.
Quem viu ontem o especial de 50 anos da emissora, focado basicamente na teledramaturgia da emissora, tem mais é que agradecer por ela ter empregado os melhores dramaturgos, atores, adaptado grandes obras da nossa literatura, em novelas, séries ou seriados.
Por ter empregado Chico Anysio, Chacrinha, único programa a divulgar a Tropicália e principal difusor do rock brasileiro, Dias Gomes, Oduvaldo Vianna Filho, Mário Lago, Bráulio Pedroso, ter adaptado Jorge Amado, Linspector, Guimarães Rosa, Suassuna, Fagundes Telles, Mad Maria, Os Carbonários, ter empregado Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Marília Pêra.
Contratou todo Asdrúbal Trouxe o Trombone, Manhas e Mania, duplas do besteirol, com Falabella, Karan e Pedro Cardoso.
Contratou todo elenco de A Máquina, do João Falcão! Sabe quem era: Vladimir Britcha, Wagner Moura, Lázaro Ramos.
Contratou os malucos dos tabloides Planeta Diário e Casseta Popular, e agora, Marcelo Adnet.
E Os Normais, Tapas e Beijos, Os Aspones, Guerra dos Sexo, Grande Família… Geniais!
Ainda hoje, não para de contratar talentos do nosso mundo teatral alternativo da Praça Roosevelt, para nós veteranos como Guizé, Maria Manoella, Paula Cohen e Maria Casavedall.
Empregam meus amigos Antônio Prata e Marçal Aquino. Até Mário Bortolotto fez a série do Bráulio Mantovani, lá.
Associou-se a Fernando Meirelles, à O2 e Conspiração Filmes.
Se cometeu erros no Jornalismo, o que admitem hoje, sua teledramaturgia fez muito bem ao Brasil.
Melhor ficarmos com a Rede Globo.
E parabéns pelos 50 anos.
April 24, 2015
Conheça Rua Marighella, paralela à Lamarca
Não se sabe se os dois se encontraram pessoalmente.
Suas organizações, sim, trabalharam juntas, como no roubo do cofre do ex-governador de SP, Adhemar de Barros.
Mas em São Bernardo do Campo, o líder da ALN e o da VPR, as duas maiores organizações clandestinas de esquerda, que combateram nos anos 1960-70 a Ditadura Militar, estão lado a lado.
Heróis para uns, terroristas para outros, são as figuras mais importantes da luta armada, ambos mortos a bala (o primeiro em 1969 em São Paulo, e Lamarca em 1971 no sertão da Bahia).
A Rua Deputado Carlos Marighella é paralela a Rua Capitão Carlos Lamarca.
E um morador me contou que foi a comunidade quem nomeou as ruas, continuação da Rua dos Caçadores.
O pai dele, morador antigo, fã dos dois, convenceu os vizinhos.
Filho mora na Lamarca, pai na Marighella.
No bairro Jardim Brasilândia.
April 22, 2015
Diretas Já no sapato da Globo
Diretas Já no sapato da Globo
O movimento Diretas Já, de mais de 30 anos atrás, maior mobilização popular que o Brasil testemunhou e que pedia a eleição direta para presidência da República, ou, nas entrelinhas, o fim da ditadura, ainda atormenta a Globo.
Na verdade, não o movimento, mas a omissão e teimosia da emissora em não divulgá-lo, temendo perder privilégios conquistados durante o regime militar.
A demora deu no grito de guerra que ecoa até hoje: “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.
Ontem, a empresa, na voz de William Bonner, que por sinal militou nas Diretas Já, como a maioria dos seus jornalistas, relembrou o comício de 25 de janeiro de 1984, noticiado pela Globo como se fosse apenas uma concentração para comemorar o aniversário de São Paulo, uma festa, esvaziando o sentido do ato, despolitizando-o:
“Essa reportagem provocou muita polêmica ao longo de muitos anos porque, embora ela falasse do comício das Diretas, o texto que introduzia a reportagem, lido pelo apresentador na época, não falava em comício pelas Diretas”.
E reproduziram o texto lido pelo apresentador do Jornal Nacional da época: “Um dia de festa em São Paulo. A cidade comemorou seus 430 anos com mais de 500 solenidades. A maior foi um comício na Praça da Sé”.
“Isso aí foi visto durante muitos anos como uma tentativa da Globo de esconder as Diretas e, obviamente, depois de muitos anos também, foi reconhecido como um erro”, confessou Bonner.
Todo jornalista, colunista e editorialista que já escreveu sobre o ridículo episódio recebeu resposta de algum chefe da Central de Jornalismo da emissora exigindo a correção. Num texto-carta padrão, dizia que, ao contrário, a Globo fora a primeira a se manifestar a favor das Diretas.
Um erro que custa ser digerido e causa uma eterna desconfiança na isenção jornalística da maior empresa de comunicações do país. Ou na falta de.
Creio que pararemos de receber o pedido de correção.
ps> É bom lembrar que, quando os comícios começaram a ser frequentados por milhões, a Globo cobriu o movimento.
Aplicativos carentes
Domingo às 22h30 recebi pelo celular a notificação do Ifood, aplicativo de entrega de comida, que quebra um galhão e evita o tempo perdido com o estômago roncando na linha na esperança de sermos atendidos por um antiquado telefone fixo:
“Se Joffrey tivesse pedido pelo Ifood estaria vivo ainda.”
Foi a primeira notificação que o Ifood me mandou, que um sobrinho baixou numa emergência gastronômica conhecida como larica, em cujo logo simpático tem um tracinho-flechinha embaixo dos dois “os” (olhinhos) do “food”, para lembrar um sorriso.
Então, a revelação e o susto!
Falavam de Joffrey Barratheon, personagem da séria bombada da HBO, Game of Thrones, o príncipe herdeiro do Trono de Ferro, mimado, volúvel e cruel, que torturava garotas e morreu envenenado na quarta temporada, psicopatinha fruto da relação incestuosa entre a mãe, Rainha Cersei, e o irmão gêmeo, Jaime Lannister.
Domingo estreava a quinta temporada da série.
Me aterrorizou a descoberta de que um aplicativo de comida sabia que às 22h30 eu a assistia.
Meu sobrinho não só se esqueceu de desabilitar a função “mandar notificação”, como também não desabilitou o “localizador”, que magicamente mostraria à rede de espiões digitais que eu estaria em casa, provavelmente em frente a uma TV, sintonizado na HBO naquele instante. Ou será que o Ifood mandou para todos os usuários, naquele dia, naquele horário, a sua piada sobre a morte de Joffrey? Ou, numa parceria com a HBO, mandou para todos os usuários assinantes do canal?
A piada não é ruim.
Não existiam celulares no tempo da guerra dos tronos de Westeros, onde “verões duram décadas, e os invernos uma vida inteira”, muito menos aplicativos de entrega de comida, e Joffrey morreu num banquete bebendo um vinho batizado.
Alguém pede vinho pelo eficiente aplicativo de entrega emergencial de comida? E como sabiam que o cara que uma vez pediu um kebab, eu, assina o canal pago? Muito intrigante, como tudo no universo de softwares lúdicos, ferramentas inteligentes chamadas aplicativos.
Vivemos a era da infantilização dos meios. Ou será que uma garotada jovem e infantilizada demais domina os empreendimentos bem-sucedidos da Tecnologia de Informação? Um amigo me disse: o nerd é o surfista de antigamente, o galã da escola.
Se nos basearmos na idade em que muitos deles se tornaram milionários, pode apostar que o mundo está nas mãos de uma molecada que projetou seus aplicativos assistindo a Simpsons, Beavis & Butt-head (meu favorito), South Park e desova o repertório de imagens divertidas e simplificadas do inconsciente em seus promissores startups, empreendimentos.
Movidos pela cruz do messias de todos eles: o símbolo da Apple é uma maçã mordida, como se a empresa nos fornecesse, ao nos associarmos a ela, login e senha para o mundo dos prazeres mundanos.
O logo do Safari, seu navegador, é uma óbvia e sem rodeios bússula. O do Twitter, um passarinho. O do Waze, um balão de gibi sobre rodinhas com olhinhos e um sorriso maneiro. O da rede social Doodle.ly é uma coruja fofa. O do rabt (em minúscula), app de entretenimento, é um coelhinho. O do aplicativo de foto e vídeo Brushstroke é um papagaio multicolorido. O do Shadow Puppet, só de vídeo, também é um coelho. Tem o antivírus Panda. Até onde se exigiria sobriedade, como o mercado financeiro, a infância é retomada: o do Zepig Finanças é um porquinho simpático feliz, o do Orçamento Diário é, lógico, um cofrinho- porquinho, como o do Loan Calculator. O do Evernote, depositário de conteúdo pesado, é um elefante. Solzinhos, raios e nuvenzinhas têm para todos os gostos, felizes, risonhas, tristinhas, bravinhas, furiosas, até em aplicativos fundamentais para o dia a dia, como Skype e iCloud. Dropbox é uma caixa (de presente) aberta. O símbolo do Swype, aplicativo de teclado, é um dedinho deslizando. O do Nightstand, uma luazinha.
Submarino é um submarino de brinquedo amarelo.
Aquele apetrecho que hoje se tornou inseparável, nosso bem mais valioso, que cuida de nós, nos desperta e cria a nossa identidade, guarda nossas músicas, nosso passado, nossa memória (fotos e vídeos e lembretes), os contatos dos amigos, nos alimenta, nos coloca em aviões, fora do trânsito, conectados com o mundo, tem na tela coelhinhos, passarinhos, sorrisos, nuvenzinhas, porquinhos, ursinhos, corujas, céus com nuvens, com lua, como o colorido livro infantil do tempo mágico em que brincar era o sentido da vida.
E faz barulhos que lembram a trilha de um cartoon.
Ficamos felizes. Nos relaxa, nos diverte, nos faz companhia, nos faz bem.
Ao ligar um smartphone, entramos no mundo mágico e hipnótico de uma creche, cercados por paredes e móbiles com desenhos.
Como idealizou o genial Steve Jobs: serve para tornar as maçantes tarefas diárias uma brincadeira.
Pais se perguntam espantados como pode meu filhote, que nem fala, ser obcecado pelo celular ou tablet e entender seu funcionamento, abrir páginas, programas, deslizar dedos, cutucar. Não são os hormônios que injetam em frangos ou no gado que o amadurece antes do tempo. A industrialização da comida não gerou uma geração de gênios precoces. Os aplicativos e os processadores que são infantis, trazem à tona nossas lembranças felizes; conscientemente ou não. Alguns são até carentes: nos pedem atenção, localização, atualizações constantes e, agora, avaliações.
Como bichinhos de estimação.
Nossos gremlins.
Nossos nenês.
Como o Macbook, que parece respirar (ou melhor, a luz do carregador, que acende e apaga num ritmo cardíaco relaxante).
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