Luiza Frazão's Blog, page 9
March 8, 2019
MUDANDO O PARADIGMA DA TROCA PARA A O DA DOAÇÃO: ECONOMIA DA DÁDIVA OU DO DOM
Quando lemos Genevieve Vaughan in Kailo e redescobrimos que “Palavras são presentes sonoros” a esperança reacende. Quando doamos, sem expectativa de retorno, sem a necessidade da troca, apenas como satisfação de uma necessidade básica de doação, voltamos a ser felizes. Ao nutrir nossos filhos, seus corpos e mentes, estamos nutrindo e abastecendo de afeto nossa comunidade. “Essa comunicação sem sinal, envolvendo dar e receber sem retorno, é o que nos torna humanos geração após geração” (Kailo, 2018.)O texto de Kaarina Kailo ( finlandesa) sobre a Terra Feminarum, a Terra das Mulheres do Norte (Lapónia) emocionou-me. Como ela diz, quando perdemos o DOM Imaginário, que são as doações, as dádivas, que doamos ao Outro sem exigir trocas, a Mãe Terra se sente devastada e desonrada. A vida deveria ser entendida como Sementes de Mudanças, o novo precisa de espaço para se manifestar. Ao mudarmos o paradigma da troca pela doação, neste novo contexto, estaremos Honrando a Mãe Terra, a Mãe Doadora de Vida, a Mãe em Nós. A semente da mudança está nas mãos das Mães. Devemos ensinar às nossas crianças este conceito de DOM, da abundância.
Percebo que hoje as crianças muito pequenas já tem um novo DNA que as faz mais presentes, mais questionadoras e mais conectadas à Mãe Terra. Não podemos “cortar estas asinhas” com conceitos ultrapassados, mas estimular o novo, o DOM. Saber-se parte de toda a natureza, desta Inteireza de SER.
Carmen Eloah Boff
Published on March 08, 2019 02:18
February 16, 2019
A GAJA
(Só é válido para o Português de Portugal, mas certamente que o Brasil tem algum termo semelhante...)
“Eu sempre me senti um bocado gaja…” Diz um dos moços que acompanha Ricardo Araújo Pereira em algum dos seus programas que de vez em quando me aparecem à frente no Youtube. Por vezes, admito, a inteligência de RAP fascina-me, a graça com que desmascara o chicoespertismo nacional dos Sócrates, Varas e outros patriarcas de serviço, por exemplo, é irresistível. Neste caso discutia-se algo como o politicamente correcto nas questões de género, ou assim, e um dos participantes, tentando parecer civilizado e disfarçar o machismo que se toma no próprio leite produzido nos prados nacionais, proferiu a frase com que inicio este texto. O termo, como é óbvio, rasgou o éter com a violência do insulto, apesar da intenção... E ouviu-se ao fundo a voz de RAP, pai orgulhoso de duas filhas: “Estás a insultar centenas de mulheres…” ou algo assim, que se perdeu no ar, porque, claro, a assistência feminina ali é toda ela serena, cordata e sorridente, longe daquelas “boas raparigas” sentirem-se ofendidas… Pois, “ofendidas” não seria o termo correcto aqui, “feridas”, sim. Há termos que não ofendem, eles ferem como se de repente naquele número do circo em que o homem atira facas a uma mulher contra uma parede, uma delas tivesse mesmo acertado… não era suposto, mas acertou num nervo qualquer e foi doloroso… Quando paro para sentir, quando “caio em mim”, como se diz, sei que doeu mesmo…“Gaja”, como sabemos, não é o feminino de “gajo”, tal como “puta” não é o feminino de “puto”… “Gaja” é um pacote… e não cheira bem, tresanda… Analisar este pacote iria tomar-me tempo a mais ou requer mais argúcia e talento do que os que tenho… Mas não é preciso análise de maior para perceber que o sujeito dentro de cuja cabeça este termo foi concebido é homem ou é uma mulher patriarcalmente socializada para hostilizar outra mulher percebida como uma ameaça… “Gaja” é sempre, digamos, um marcador de alteridade. Por isso é que o moço disse aquilo com a desfaçatez de quem não sabe o que diz, ou sabe, mas finge que não sabe para parecer simpático. Vejamos, “gajo” é um termo vulgar, é calão, sim, mas um homem pode perfeitamente dizer: “Estava aqui um gajo muito descansadinho da vida…” falando de si próprio. Uma mulher nunca diz “gaja” referindo-se a si própria, “gaja” é sempre “a outra”, a que lhe quer roubar o homem, por exemplo. E a verdade é que não há termo masculino para isto, os homens, por norma, não temem que lhes roubem as esposas, em vez disso, um homem “vai às gajas”… Pois, é aí nessa zona esconsa que o verdadeiro sentido e todo o sabor deste termo pode ser encontrado, como de resto todas e todos sabemos muito bem.
Ora, depois de Bruxa, cá está mais um termo a reclamar se queremos curar a grande cisão patriarcal do feminino e da mulher... se há uma Gaja nisto tudo, essa sou eu!
Créditos da imagem: Duy Huynh, Blue Moon Expedition
Published on February 16, 2019 06:24
December 19, 2018
ACESSAR A SABEDORIA DA CICLICIDADE FEMININA
Voltei a ter ciclo menstrual há 6 meses, quando tomei a decisão de suspender o uso do anticoncepcional que tomei por muitos anos. Aos 15, descobri que tinha ovários poliquísticos e logo comecei o uso contínuo do anti. Durante esses anos realizei algumas tentativas para suspender o uso, no entanto, todas as vezes que parei foi muito difícil o meu ciclo, (cólicas, atrasos) o que me fez ficar anos usando. Há 6 meses comecei a ter sonhos com mulheres que falavam que já era hora de voltar a ter ciclo, mesmo muito receosa e com muito medo de como seria o meu ciclo, devido às memorias nada agradáveis, decidi parar.Neste momento acabei me tornando Moon Mother por Miranda Grey e foi surpreendente ouvir e compreender a nossa natureza cíclica e resgatá-la. Desde Junho estou vivendo o meu ciclo e tem sido uma grande descoberta e uma surpresa adorável. Não é duro como eu imaginava, pelo contrário, é através do meu ciclo que consigo compreender como funciono e como posso utilizar a sua energia em meu auxílio. Compreendi o quanto sou cíclica e como estou conectada com esse ritmo natural feminino. Estou a redescobrir-me a cada mês, e conectando com esse ciclo lunar, assim como a lua vivencio a primavera na fase crescente, o inverno na nova, o verão na lua cheia e o outono na minguante.
Compreender esses ciclos e como eles atuam na minha energia é transformador.Descobri que todas as vezes que menstruo o meu corpo precisa de acolhimento e recolhimento, aprendi com esse período que eu posso parar, que eu posso ficar comigo. O meu maior desafio ao longo da minha vida é aprender a relaxar, a entregar-me, e com a menstruação permito-me parar. É incrível como esse recolhimento me alimenta a alma, eu entro em contato com o mais profundo da minha alma, acesso através de sonhos a minha sabedoria interna. Estou aprendendo a me entregar na fase escura, a me entregar para meu interior e é incrível quanta sabedoria existe nesse lugar. Estou aprendendo a parar de temer a escuridão e a encontrar a minha luz nesse espaço. E quando esse processo termina, um novo ciclo se reinicia com toda a sua força, possibilidades, e assim percorro novamente todo o percurso… renovar, fertilizar, soltar e morrer.... Sendo sempre cíclica.Está sendo uma jornada incrível esse despertar da minha feminilidade.
Mariane TS
Published on December 19, 2018 12:34
December 9, 2018
Still fond of you Megan Markle! / Continuas no meu Coração, Meghan Markle!
I know that the British royal family, which is the epitome of Patriarchy, should be the very last of my interests and concerns, but it happens that a very shining young woman joined recently the “firm”, and I was drawn to the trail of this light... At the beginning, I was not paying attention, but then something on this woman caught my eye, and I became very fond of her. Not because she is classy, brainy or a social climber (finally, what is wrong with that? I believe that to grow and thrive is a sacred rule in this universe, and everyone is free to choose the direction in which they wish to extend). I got fond of her essentially because she is so passionate about the things she believes. No matter with which family she is involved, actually one that gives her a world stage, she is simply great, because she has strong beliefs, with which I resonate, and she aims to bring justice into this world. She is my girl! Of course, to have strong opinions is a big sin in this world, especially if you are a woman, especially if you are such a young and pretty woman. They rather prefer to have you just smiling in a permanent catwalk having nothing to say… And no doubt it would be much safer for you…
I have read that her astrological chart indicates that with her everything is about money, making money... That's probably why the cook book she wrote with the women victims of the Grenfell Tower fire in London is giving this project, the Hubb Kitchen, thousands of pounds… Good... But anyway no one seems to care about this wonderful project which is inspiring lots of similar projects around the world…
Just to make it short and go to the point, my question is: Why whole of a sudden, Meghan Markle was swept from the top of the world? I must confess that I am tempted to believe that the reason is as follows: someone gave MM the unexpected role of a patsy or a scapegoat. She is alone and vulnerable, and She is an easy target…
If the subject interest you, Just to your own research: Go to the same stage, look around, and try to figure out from what they are trying to distract our attention? What is the really issue involving someone in this family right now? To give you some clue, not wanting to name and shame anyone, just follow the energy of the #MeToo movement... Yes, there is a young woman, actually another American girl, claiming something about someone there…
Maybe then you will realise that Meghan Markle has been transformed in a very convenient scapegoat… or is it “patsy” the right word?Wonderful Meghan, Just keep doing what you are doing, do not let anyone extinguish your fire, and keep faithful to your avocado, beach, yoga medicine!
Continuas no meu coração, Megan Markle!
Eu sei que a família real britânica, que é o epítome do Patriarcado, devia ser o último dos meus interesses e preocupações, mas acontece que uma jovem brilhante se juntou recentemente à “firma”, e fui atraída pelo rasto dessa luz ... A princípio não liguei, mas a certa altura algo nessa mulher começou a prender a minha atenção, e fiquei fã. Não por ela ser tão elegante, inteligente ou com preocupações de ascensão social (finalmente, o que há de errado com isso? Acredito que crescer e prosperar é uma regra sagrada neste universo, e todas as pessoas são livres para decidirem para que lado querem expandir-se).
Gosto dela essencialmente por ser tão apaixonada pelas causas que defende, por aquilo em que acredita. Que importa neste caso a família com que está envolvida (na verdade, uma que lhe dá um palco mundial), ela é simplesmente genial. Tem crenças fortes e um sentido de justiça com que me identifico. É das minhas! Mas, claro, ter opiniões fortes é um grande pecado neste mundo, especialmente no caso duma mulher, especialmente duma mulher tão jovem e bonita. Seria preferível ela ocupar apenas a passarela em permanência, nada tendo a dizer… sem dúvida que seria muito mais seguro…
Ouvi algures que o seu mapa astrológico indica que com esta moça tudo tem a ver com dinheiro, com fazer dinheiro ... Provavelmente é por isso que o livro de culinária que escreveu com as mulheres vítimas do incêndio da Torre Grenfell em Londres está a dar ao projeto, chamado a Cozinha Hubb, milhares de libras ... Boa! ... Mas quem é que tem cabeça agora para se interessar por um projeto solidário tão louvável que está a inspirar outros semelhantes por esse mundo fora?! ...
Mas para resumir e ir direito ao ponto, a minha pergunta é: Por que será que, de repente, Meghan Markle foi atirada abaixo do topo do mundo?...
Se o assunto lhe interessar, sugiro que faça a sua própria pesquisa. Situe-se no mesmo cenário, olhe ao redor da moça e tente descobrir de que é que estão tentando desviar a atenção do público, qual é o verdadeiro problema envolvendo alguém dessa família no momento presente...
Para lhe dar uma pista, não querendo referir nomes, apenas siga a energia do movimento #MeToo ... Sim, há uma jovem, na verdade outra moça americana, alegando algo sobre alguém do mesmo clã…Talvez então dê para perceber que Meghan Markle foi transformada num muito conveniente bode expiatório…
Cara Meghan, Continua a fazer o que fazes, não deixes ninguém ofuscar a tua luz e vai-te mantendo fiel à medicina do abacate, da praia e do yoga! Luiza Frazão
Published on December 09, 2018 09:02
December 1, 2018
OS HOMENS E A DEUSA
Os homens têm tanto direito de servir a Deusa como as mulheres, com o coração, a mente e todo o seu ser. A Deusa não discrimina ninguém por uma questão de sexo. A todas e a todos Ela ama por igual. Dito isto, porém, nesta tarefa de trazer de volta a Deusa para reassumir o Seu lugar por direito neste mundo, eu considero que às mulheres cabe a tarefa essencial de relembrarem a Sua história. Tal como Ela foi caluniada e esquecida ao longo dos tempos, assim as mulheres têm sido difamadas e abusadas, e continuam a sê-lo na grande maioria das culturas e sociedades. Temos um interesse pessoal em trazê-la de volta com entusiasmo a este mundo patriarcal em que vivemos.
Por outro lado, os homens parecem ter muito a perder ao honrarem a Deusa e as mulheres, uma vez que os poderes que o mundo patriarcal lhes dá devem ser continuamente reforçados pela competição, pela necessidade de vencerem, de permanecerem na linha da frente e, portanto, separados do resto da humanidade. Claro que os homens também estão na longa jornada de se desfazerem desse poder mundano ilusório, à medida que eles mesmos reivindicam a Deusa.
Na verdade, os homens têm tudo a ganhar honrando a Deusa e as mulheres. Em meu entender, o seu papel é o de amarem e servirem a Deusa e todas as Suas criaturas, que são as mulheres, as crianças, os outros homens, os animais, as aves e toda a Sua natureza. É função dos homens serem os guardiões da Sua natureza, uma tarefa muito importante de cura nestes tempos em que a Sua terra está a ser saqueada e explorada pela ambição do lucro. É dever dos homens invocarem o Deus dentro de si próprios, Aquele que ama e serve a Senhora e a sua alegria consiste em unirem dentro de si a Deusa e o Deus.
É função dos homens serem os Seus sacerdotes, partilhando o Seu amor e cuidado, criando cerimónias de cura e transformação para quem delas precisa. Sem dúvida que existe um lugar igualmente importante para os homens dentro do mundo da Deusa.
Traduzido por Luiza Frazão de Priestess of Avalon, Priestess of the Goddess, Kathy Jones
Published on December 01, 2018 12:12
May 31, 2018
O COMPLEXO DE PIGMALIÃO
Ouvi falar há dias de homens que são Facilitadores do Sagrado Feminino e um deles, que é artista plástico, disse-me que no seu trabalho pretendia “dar mais glamour à Deusa”, não achava eu que as representações das Deusas de Avalon eram demasiado “escuras”?... A minha tendência nestes casos, confesso, é para assumir aquela posição de “Porquê eu? Por que é que estas questões não são colocadas, por exemplo, à Kathy Jones?”.... Complicado explicar num país onde toda esta discussão passou ao lado antes do Sagrado Feminino se tornar moda…
Mas vejamos, desde o Deus da Bíblia criando Eva, uma mulher mais adequada para o seu programa com Adão do que a selvagem e indomável Lilith, até aos magos Math e Guydion que criam a donzela Blodeuwedd para o filho de Arianrod, na mitologia galesa (felizmente logo ela se põe a andar com o eleito do seu coração), passando pelos gurus da moda e pelo lobby da indústria farmacêutica, sem falar nos padres da igreja, nem nos talibãs, nem no Zeus de cuja cabeça saiu a sua filha Atena, o que é que mudou realmente?
Não faço ideia de qual seja a abordagem dos homens que “facilitam” o Sagrado Feminino, mas imagino que muitas mulheres até devam achar o máximo serem a “deusa” do seu guru, que, provavelmente, qual Pigmalião, vai querer transformá-las na mulher perfeita, insuflando vida na estátua perfeita, tornando-se assim, à falta de útero, num criador que dá à luz com o poder do seu ideal de perfeição masculino para a mulher. Pois eu para estes casos extremos sempre recomendo a leitura/estudo da obra de Jean Markale (um homem, certo?) La Femme Celte, em inglês The Women of the Celts, nunca traduzido para português (se estiver enganada, digam, por favor, para celebrarmos). É ele, um homem, que, daquilo que eu sei, melhor desfaz estes equívocos de homens pretendendo ensinar mulheres a serem mulheres…
Não querendo ser sexista, nem ofender ninguém (isto não é nada de pessoal), só dizer que a proposta destes tempos saturados de androcracia é precisamente para desaprendermos toda a programação masculina que recebemos até aqui e aprendermos nós, por nós mesmas e/ou umas com as outras, a sermos Mulheres. Seria aliás decente pensar que o mesmo estariam os homens a fazer uns com os outros (mas aqui desconfio que na sua grande maioria eles continuam a achar-se os perfeitos “reis da criação”, valha-nos a Deusa…). Quanto a mim, essa seria mesmo a melhor maneira de servirem a Deusa e o Sagrado Feminino (e Masculino!) nestes tempos e cultura em que se morre à míngua dum Homem que realmente o saiba ser e que tenha uma ideia justa do seu lugar na relação entre os sexos. E que a Deusa nos abençoe a tod@s.
Imagens: Google
Published on May 31, 2018 06:49
May 17, 2018
REPRODUÇÃO HUMANA - ou as imagens distorcidas que têm permeado a nossa perceção
Se não tivermos uma interpretação da fertilização que nos permita olhar para o óvulo como ativo, nunca iremos procurar as moléculas que podem provar isso. Nós simplesmente não podemos encontrar atividades que não conseguimos visualizar. -Scott GilbertEntendendo o milagre da concepção
Para nós, seres humanos, não há nada tão excitante como o milagre da concepção, juntamente com os complexos processos biológicos e práticas culturais que levam à criação de uma nova vida. A relação entre cultura e biologia produz insights infinitos para quem aproveita o tempo para explorar e reflectir. Num mundo governado pela força e pelo poder, com uma longa história de guerra, não é de admirar que a nossa noção de concepção refletisse a noção de que o espermatozoide penetra o óvulo como se estivesse invadindo uma terra estrangeira. É por isso que as descobertas recentes sobre o momento da concepção que nos dizem mais sobre receptividade, cooperação e escolha feminina, em oposição à conquista, podem fornecer uma bela perspectiva sobre como podemos remodelar a nossa cultura de forma a que espelhe melhor a nossa biologia interior.Como seres sociais, a maioria de nós passa uma boa parte do nosso tempo animad@s pelo amor, a paixão e a atração. Os bardos cantavam, escreviam poemas, oferecia-se flores, fazia-se duelos e muito mais para ganhar o favor duma bela donzela. Existem mecanismos biológicos que moldam esse comportamento, que é central em grande parte de nossos tesouros artísticos e culturais. Na verdade, trata-se dum coquetel sagrado, misterioso, cultural e biológico, de infinitas possibilidades criativas.
Tudo começa com um beijoO nosso nariz e a nossa boca são cobertas por uma substância oleosa chamada sebo. Pesquisas mostram que essa substância contém feromonas, que são os produtos químicos que transmitem informações sobre a composição biológica duma pessoa. A troca de feromonas durante um beijo faz com que as pessoas envolvidas fiquem mais ou menos sexualmente atraídas uma pela outra, dependendo do que os seus sistemas biológicos detetam. Aparentemente, as pessoas preferem as feromonas de indivíduos que têm um tipo de sistema imunológico diferente do delas. Os biólogos e as biólogas evolucionistas acreditam que essa diferença genética é boa para o sistema imunológico da futura prole.
Hoje em dia, a teoria mais aceite do beijo é que os seres humanos o praticam porque ele os ajuda a detetar um parceiro ou uma parceira de qualidade. Quando os nossos rostos estão próximos, as nossas feromonas “falam”, trocando informações biológicas sobre se duas pessoas serão ou não fortes criadoras. – Livescience
Seres conscientes continuam a ser governados pela biologia
A neurobiologia do amor e dos relacionamentos mostra-nos que é possível viciarmo-nos nos nossos próprios neurotransmissores, mas o nosso neocórtex permite-nos direcionar a nossa intenção consciente. É esse belo equilíbrio entre o impulso inconsciente e a intenção consciente que nos torna seres humanos tão interessantes (pelo menos para nós mesmos). É aqui que práticas culturais como a sexualidade sagrada e o tantra se tornam a expressão refinada da humanidade que vive em harmonia com a sua natureza biológica.
Se um ovo é quebrado por uma força externa, a vida termina. Se for quebrado pela força interior, a vida começa. Grandes coisas sempre começam de dentro. -Jim Kwik
O Ovo Todo-PoderosoConhecemos o estafado mito do exército de esperma guerreiro invadindo o útero para salvar a donzela em perigo (o ovo moribundo), lutando entre si pelo caminho para dominar, com o vencedor penetrando no óvulo e criando vida. A metáfora deu origem a grandes contos de fadas e filmes dos Monty Python, mas na verdade não é muito precisa, biologicamente falando. Os espermatozoides são na verdade nadadores frágeis, e os mais fortes ajudam os mais fracos através da mucosa uterina, semelhante à maneira como as aves migratórias ou uma equipe de ciclistas se revezam na liderança. Quando o espermatozoide chega ao destino, é o óvulo que escolhe o esperma e o atrai para si.
Às vezes a mente quer o que o corpo não quer e vice-versa. Às vezes, a mente muda com o fluxo e refluxo de hormonas. Não é de admirar que nós seres humanos tenhamos desenvolvido tradições e mitos culturais tão elaborados para nos ajudar a navegar neste drama tão primitivo. Pode ser uma luta, uma conquista ou mesmo uma dança harmoniosa, dependendo de como gostamos de nos relacionar com ela, mas se for vista com respeito mútuo, ela sempre produzirá resultados positivos.
Os seus esforços (de Emily Martin) para destacar as imagens masculinas distorcidas que permeiam a nossa visão da reprodução colocaram-na no centro de um crescente debate sobre como os mitos culturais podem transformar-se em mitos científicos e vice-versa. Discovery MagazinePara destruir ainda mais o mito comum, o espermatozoide selecionado realmente tenta nadar para longe do óvulo, mas é amarrado ao óvulo pelas hormonas femininas. A membrana ao redor do ovo literalmente abre-se e engole o espermatozoide. Embora a feroz metáfora da batalha sempre tenha um vencedor dominando, parece que esse processo é mais sobre cooperação por um desejo compartilhado de criar vida. Agora é amplamente conhecido e aceite que a experiência da vida uterina e do nascimento deixam impressões emocionais para a vida inteira, na verdade cada pessoa tem a sua própria história de criação!
Antes da fertilização, uma nuvem de células ao redor do óvulo liberta a progesterona, a hormona sexual feminina, provocando um influxo de cálcio no espermatozoide. Essa enxurrada de cálcio faz com que o espermatozoide bata rapidamente seus flagelos (membranas microscópicas que lhe permitem nadar), uma ação necessária para penetrar através do revestimento de proteína gelatinosa protetora do ovo. A progesterona também foi implicada no fornecimento de um elemento químico pelo qual os espermatozoides podem navegar em direção ao óvulo. – The Scientist
Conquistar ou cooperar?
Manipular e controlar os resultados é algo que os seres humanos fazem muito bem. Cada género tem o seu próprio estilo, pontos fortes e fracos quando se trata de atração no romance que leva à procriação. Como o mito versus a realidade biológica molda a maneira como nos envolvemos nessa dança? O cavaleiro de armadura brilhante e o mito da donzela em perigo foi adotado em dinâmicas sociais bem além dos filmes ou contos de fadas. O mundo é governado por histórias ... Como é que o mundo muda quando mudam as nossas histórias para descrevê-lo?
Emily Martin, Ph.D em Antropologia Cultural, passou muito tempo explorando esse conceito e a maneira como ele influencia a investigação científica, bem como crenças sociais sobre a biologia humana, os nossos corpos e o mundo ao nosso redor. No seu livro, A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução, ela estudou a dialética entre metáforas médicas para os processos reprodutivos das mulheres e as próprias opiniões das mulheres sobre esses processos. Scott Gilbert, um biólogo do desenvolvimento do Swarthmore College "prefere pensar no óvulo em diálogo com o espermatozoide em vez de engolindo-o".
Se não temos uma interpretação da fertilização que nos permita olhar para o óvulo como ativo, nunca iremos procurar as moléculas que podem provar isso. Nós simplesmente não podemos encontrar atividades que não conseguimos visualizar. -Scott Gilbert
Nós prestamos atenção à ciência, mas os e as cientistas também são influenciadas pelos nossos mitos e atitudes culturais. Os seres humanos são convidados a cooperar de maneiras sem precedentes à medida que lidamos com questões climáticas globais. A noção de conquista já não serve como forma de nos relacionarmos entre os géneros nem como nos envolvemos com o meio ambiente. A observação biológica, assim como a atenção e a presença espirituais, podem mostrar-nos novas maneiras de moldar as nossas vidas, a cultura e o mundo. É uma dança subtil e bela que requer partes iguais de escuta, observação e ação. Todos e todas nós somos recipientes deste presente chamado vida, como é que vamos devolver esse presente ao mundo à nossa volta?
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Published on May 17, 2018 12:20
O MITO DA COMPETIÇÃO DOS ESPERMATOZÓIDES - ou as imagens masculinas distorcidas que permeiam a nossa visão da reprodução
Se não tivermos uma interpretação da fertilização que nos permita olhar para o óvulo como ativo, nunca iremos procurar as moléculas que podem provar isso. Nós simplesmente não podemos encontrar atividades que não conseguimos visualizar. -Scott GilbertEntendendo o milagre da concepção
Para nós, seres humanos, não há nada tão excitante como o milagre da concepção, juntamente com os complexos processos biológicos e práticas culturais que levam à criação de uma nova vida. A relação entre cultura e biologia produz insights infinitos para quem aproveita o tempo para explorar e reflectir. Num mundo governado pela força e pelo poder, com uma longa história de guerra, não é de admirar que a nossa noção de concepção refletisse a noção de que o espermatozoide penetra o óvulo como se estivesse invadindo uma terra estrangeira. É por isso que as descobertas recentes sobre o momento da concepção que nos dizem mais sobre receptividade, cooperação e escolha feminina, em oposição à conquista, podem fornecer uma bela perspectiva sobre como podemos remodelar a nossa cultura de forma a que espelhe melhor a nossa biologia interior.Como seres sociais, a maioria de nós passa uma boa parte do nosso tempo animad@s pelo amor, a paixão e a atração. Os bardos cantavam, escreviam poemas, oferecia-se flores, fazia-se duelos e muito mais para ganhar o favor duma bela donzela. Existem mecanismos biológicos que moldam esse comportamento, que é central em grande parte de nossos tesouros artísticos e culturais. Na verdade, trata-se dum coquetel sagrado, misterioso, cultural e biológico, de infinitas possibilidades criativas.
Tudo começa com um beijoO nosso nariz e a nossa boca são cobertas por uma substância oleosa chamada sebo. Pesquisas mostram que essa substância contém feromonas, que são os produtos químicos que transmitem informações sobre a composição biológica duma pessoa. A troca de feromonas durante um beijo faz com que as pessoas envolvidas fiquem mais ou menos sexualmente atraídas uma pela outra, dependendo do que os seus sistemas biológicos detetam. Aparentemente, as pessoas preferem as feromonas de indivíduos que têm um tipo de sistema imunológico diferente do delas. Os biólogos e as biólogas evolucionistas acreditam que essa diferença genética é boa para o sistema imunológico da futura prole.
Hoje em dia, a teoria mais aceite do beijo é que os seres humanos o praticam porque ele os ajuda a detetar um parceiro ou uma parceira de qualidade. Quando os nossos rostos estão próximos, as nossas feromonas “falam”, trocando informações biológicas sobre se duas pessoas serão ou não fortes criadoras. – Livescience
Seres conscientes continuam a ser governados pela biologia
A neurobiologia do amor e dos relacionamentos mostra-nos que é possível viciarmo-nos nos nossos próprios neurotransmissores, mas o nosso neocórtex permite-nos direcionar a nossa intenção consciente. É esse belo equilíbrio entre o impulso inconsciente e a intenção consciente que nos torna seres humanos tão interessantes (pelo menos para nós mesmos). É aqui que práticas culturais como a sexualidade sagrada e o tantra se tornam a expressão refinada da humanidade que vive em harmonia com a sua natureza biológica.
Se um ovo é quebrado por uma força externa, a vida termina. Se for quebrado pela força interior, a vida começa. Grandes coisas sempre começam de dentro. -Jim Kwik
O Ovo Todo-PoderosoConhecemos o estafado mito do exército de esperma guerreiro invadindo o útero para salvar a donzela em perigo (o ovo moribundo), lutando entre si pelo caminho para dominar, com o vencedor penetrando no óvulo e criando vida. A metáfora deu origem a grandes contos de fadas e filmes dos Monty Python, mas na verdade não é muito precisa, biologicamente falando. Os espermatozoides são na verdade nadadores frágeis, e os mais fortes ajudam os mais fracos através da mucosa uterina, semelhante à maneira como as aves migratórias ou uma equipe de ciclistas se revezam na liderança. Quando o espermatozoide chega ao destino, é o óvulo que escolhe o esperma e o atrai para si.
Às vezes a mente quer o que o corpo não quer e vice-versa. Às vezes, a mente muda com o fluxo e refluxo de hormonas. Não é de admirar que nós seres humanos tenhamos desenvolvido tradições e mitos culturais tão elaborados para nos ajudar a navegar neste drama tão primitivo. Pode ser uma luta, uma conquista ou mesmo uma dança harmoniosa, dependendo de como gostamos de nos relacionar com ela, mas se for vista com respeito mútuo, ela sempre produzirá resultados positivos.
Os seus esforços (de Emily Martin) para destacar as imagens masculinas distorcidas que permeiam a nossa visão da reprodução colocaram-na no centro de um crescente debate sobre como os mitos culturais podem transformar-se em mitos científicos e vice-versa. Discovery MagazinePara destruir ainda mais o mito comum, o espermatozoide selecionado realmente tenta nadar para longe do óvulo, mas é amarrado ao óvulo pelas hormonas femininas. A membrana ao redor do ovo literalmente abre-se e engole o espermatozoide. Embora a feroz metáfora da batalha sempre tenha um vencedor dominando, parece que esse processo é mais sobre cooperação por um desejo compartilhado de criar vida. Agora é amplamente conhecido e aceite que a experiência da vida uterina e do nascimento deixam impressões emocionais para a vida inteira, na verdade cada pessoa tem a sua própria história de criação!
Antes da fertilização, uma nuvem de células ao redor do óvulo liberta a progesterona, a hormona sexual feminina, provocando um influxo de cálcio no espermatozoide. Essa enxurrada de cálcio faz com que o espermatozoide bata rapidamente seus flagelos (membranas microscópicas que lhe permitem nadar), uma ação necessária para penetrar através do revestimento de proteína gelatinosa protetora do ovo. A progesterona também foi implicada no fornecimento de um elemento químico pelo qual os espermatozoides podem navegar em direção ao óvulo. – The Scientist
Conquistar ou cooperar?
Manipular e controlar os resultados é algo que os seres humanos fazem muito bem. Cada género tem o seu próprio estilo, pontos fortes e fracos quando se trata de atração no romance que leva à procriação. Como o mito versus a realidade biológica molda a maneira como nos envolvemos nessa dança? O cavaleiro de armadura brilhante e o mito da donzela em perigo foi adotado em dinâmicas sociais bem além dos filmes ou contos de fadas. O mundo é governado por histórias ... Como é que o mundo muda quando mudam as nossas histórias para descrevê-lo?
Emily Martin, Ph.D em Antropologia Cultural, passou muito tempo explorando esse conceito e a maneira como ele influencia a investigação científica, bem como crenças sociais sobre a biologia humana, os nossos corpos e o mundo ao nosso redor. No seu livro, A mulher no corpo: uma análise cultural da reprodução, ela estudou a dialética entre metáforas médicas para os processos reprodutivos das mulheres e as próprias opiniões das mulheres sobre esses processos. Scott Gilbert, um biólogo do desenvolvimento do Swarthmore College "prefere pensar no óvulo em diálogo com o espermatozoide em vez de engolindo-o".
Se não temos uma interpretação da fertilização que nos permita olhar para o óvulo como ativo, nunca iremos procurar as moléculas que podem provar isso. Nós simplesmente não podemos encontrar atividades que não conseguimos visualizar. -Scott Gilbert
Nós prestamos atenção à ciência, mas os e as cientistas também são influenciadas pelos nossos mitos e atitudes culturais. Os seres humanos são convidados a cooperar de maneiras sem precedentes à medida que lidamos com questões climáticas globais. A noção de conquista já não serve como forma de nos relacionarmos entre os géneros nem como nos envolvemos com o meio ambiente. A observação biológica, assim como a atenção e a presença espirituais, podem mostrar-nos novas maneiras de moldar as nossas vidas, a cultura e o mundo. É uma dança subtil e bela que requer partes iguais de escuta, observação e ação. Todos e todas nós somos recipientes deste presente chamado vida, como é que vamos devolver esse presente ao mundo à nossa volta?
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Published on May 17, 2018 12:20
May 10, 2018
A DIMENSÃO DA DEUSA EM PORTUGAL - CURSO NA CASA DO FAUNO
Published on May 10, 2018 11:58
April 30, 2018
CANTIGAS DE AMIGO – um caso de usurpação de propriedade intelectual
Tão óbvio, não?… como é que não conseguimos ver antes?...
Ria Lemaire é uma académica de origem holandesa, ligada à universidade de Poitiers, França, que há largos anos estuda a tradição poética medieval galaico-portuguesa das Cantigas de Amigo e que desenvolveu uma tese de doutoramento sobre elas e a sua autoria. O que descobriu na sua investigação, surpreendentemente, choca com a análise oficial que todos os dias se ensina aos alunos e às alunas de literatura das nossas escolas, ou seja, que nelas o sujeito poético, quem fala, é uma mulher, mas quem compõe é o trovador… na verdade, o estudo de Ria Lemaire prova que, pelo menos em grande parte dos casos, o trovador apenas recolhe uma tradição oral feminina, imbuída de vestígios da antiga religião pagã, passa-a da oralidade à escrita e assina por baixo com o seu próprio nome… um caso de pura usurpação de propriedade intelectual… “Quando comecei a estudar português, encontrei as Cantigas de Amigo e nelas reconheci imediatamente as pegadas da minha própria tradição alemã e holandesa, que também começa com antigos fragmentos de canções femininas. Notei porém que aqui essas canções eram atribuídas aos grandes trovadores da época, e fiquei espantada. Supõe-se que esses autores com uma genial intuição da alma feminina teriam colocado essas músicas na boca das mulheres para explicar os seus sentimentos…”
A análise de Lemaire também muda a nossa perspectiva sobre a mulher na Idade Media.
“Não são mulheres chorosas, infelizes e traídas por homens. Elas surgem nas cantigas como agentes ativos. O verbo mais usado é “ir”, trata-se de pessoas que procuram ativamente o seu namorado com metáforas que falam de desejo feminino e da necessidade de o satisfazer. Aparece uma mulher sexualmente activa, que sabe o que quer fazer e o que vai fazer. Isto revela uma cultura diferente daquela que nos é normalmente ensinada, e que também está muito relacionada com a cultura que havia na altura no resto da Europa. As mulheres nem sempre foram aquilo que a sociedade burguesa do XIX considerou que foram.”
Reportagem desenvolvida aqui neste jornal galego:
Published on April 30, 2018 23:48
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