Luiza Frazão's Blog, page 6

January 12, 2021

Notícias do Sol num dia de Inverno

 

Esta manhã o sol brilhava intensamente quando abri a janela do meu quarto rasgada a Leste. Saudei-A como faço habitualmente, à Mãe do Fogo, a nossa Estrela do Dia, Trebaruna, Brígida, Sul, Sula, Aurora, e fechando os olhos, visualizei a Sua luz dourada penetrando em cada célula do meu corpo, trazendo-me energia e renovação, fé, entusiasmo, propósito e capacidade de agir neste mundo. Preciso de me lembrar de que o fiz quando a letargia bater à porta, e de me sintonizar com a energia solar que convoquei para o meu corpo e para a minha alma. Preciso de muita energia para tudo o que tenho de organizar e agora também para responder a todas as mil e uma questões que começam a chegar de todos os lados...

Das tarefas que tenho de fazer, as mais agradáveis são sem dúvida a leitura, e vários livros demandam agora a minha atenção. São os meus livros de estudo, melhor dizendo. Deusas Solares, Êxtase, Feminino Activo e Solar e temas afins.

Incrível como nos temos contentado com a Lua com centenas de Deusas do Sol a acenarem-nos nos diversos panteões do mundo, mas cuja existência basicamente desconhecíamos, embora a própria Brígida, se pararmos para pensar, seja uma delas. Mas fomos levadas a voltar-lhes as costas, conformadas com o nosso reino da noite, com a luz projectada de fora, com a passividade como dote do nosso casamento com as sombras... o que, convenhamos também tem sido uma boa desculpa para não entrarmos em pleno na cena do mundo. Antes deixámo-la ser dominada por um masculino solar abrasador, desertificador, atómico, nitidamente com necessidade da sua parte lunar para equilibrar os excessos de todo esse fogo malparado...

Mas tanto que fazer neste dia, acrescidas de tarefas tão banais como ir à mercearia... e os meus pés com tantas saudades de pisarem a terra...

E depois gerir todas as solicitações nacionais e internacionais de pessoas querendo vir oferecer o seu saber à nossa Conferência... Como dizer "já não cabe", "já não é possível", a tanta abundância e generosidade?... parece que estamos a precisar de magia para gerir o programa, de ser capazes de esticar o tempo... Mas para já, Mãe Sol, apenas um sentimento, Gratidão.

Imagem: estandarte da Deusa Trebaruna realizado por Helena Lebre


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Published on January 12, 2021 05:38

January 10, 2021

BORA LÁ SALTAR NO ESCURO – Confissões duma Mulher para lá da Meia-Idade

Sou uma mulher de 68 anos. Fui professora e continuo a sê-lo, embora a estrutura da instituição tenha mudado radicalmente ou já nem exista. Não trabalho com rede, como aconteceu por largos anos. Não tenho rede. Afirmo a minha visão por mim própria, dou a cara por ela, como se diz, embora por outro lado possa dizer que tenho uma vasta rede de apoio, constituída pelas mulheres que me precederam ou que são minhas contemporâneas no Movimento da Deusa, mulheres com as quais comungo da mesma perspectiva das coisas, da mesma devoção à Deusa, da mesma certeza de que sem a Sua representação no panteão divino da humanidade actual, as mulheres nunca poderão aspirar a assumir verdadeiro poder neste mundo (ver Carol Christ “Por que é que as mulheresprecisam da Deusa”). Mulheres que comungam do mesmo sonho dum futuro sustentável, para a concretização do qual o papel do sexo feminino é decisivo. Mulheres que sabem que é preciso resgatar a Deusa antiga, nas Suas várias faces ou arquétipos, que reflectem a nossa humanidade, nas Suas múltiplas denominações e qualidades; que precisamos de refazer a nossa cultura própria, de reinventar as nossas tradições, a nossa forma própria de ser e de estar no mundo, antes da domesticação patriarcal, de levantar do chão e de limpar da ignomínia o nosso poder de dar e de cuidar da vida, de redescobrir e de sacralizar o poder do sangue menstrual, de sacralizar o corpo e toda a natureza de que somos parte.

Sou uma mulher de 68 anos, activista da Deusa, e há partes de mim que por vezes se sentem cansadas, quase esgotadas… Sou uma mulher. Ser uma mulher com uma visão ou ser um homem com uma visão são realidades muitíssimo distintas. Na tradição masculina, na androcracia em que vivemos, por trás dum homem, grande ou pequeno, há sempre uma mulher – quanto mais não seja para acarretar com culpas e frustrações – mas uma mulher que está lá quando ele chega a casa cansado, que o apoia, que diz ámen à sua visão, que torce por ele e fica orgulhosa quando as coisas lhe correm bem. Ela faz a sopa, mantém o espaço, cuida dos aspectos práticos do quotidiano. Atrás dum homem está uma Esposa, que é uma espécie de extensão ou substituta da mãe, com funções acrescidas. Claro que isto é o quadro clássico, ou seja, já era, hoje em dia em que tudo está mais fluído, o que temos é a Companheira, que poderá ser mais intermitente, descartável, mas eventualmente bem mais talentosa e tecnologicamente funcional. Sempre existe uma ou mais para suprir as necessidades de apoiar, gerir, manter o espaço, torcer, dizer ámen, ajudar, e de forma cada vez mais prática e eficiente.

Embora também existam, são raros, raríssimos, convenhamos, os casos em que estes papéis se invertem. Por norma, atrás duma mulher com uma visão não está ninguém a proteger o seu espaço nem a dar-lhe energia. O mais certo é que aconteça precisamente o contrário. Atrás dela pode estar o próprio marido a disputar a sua atenção e energia, ou o resto do clã familiar, que não acha a mínima graça à sua originalidade, que a conhece demasiado bem e por isso sabe que é um fake, que sempre foi. “Quem é que pensas que és?”. Óbvio que se ela fosse um homem, sim, aí teria toda a legitimidade para escrever e publicar livros, por exemplo, com toda a família a assistir orgulhosa ao seu lançamento. Já uma mulher sozinha a lançar um livro pode acontecer não ter uma única pessoa da família a assistir e a apoiá-la nesse momento. Ninguém. Não se fala nessa bizarrice, “Mas quem és tu afinal?”. 

Pode ser que atrás dela estejam pessoas que continuam a ver nela a mãe, cujo dever é apenas o de dar, e é bem possível até que nem ela própria saiba receber, que tacteie no escuro à procura do mais básico sentimento humano que é a sensação de que a sua existência é legítima, de que tem o direito de existir. E não se pode existir sem ter voz própria. E esta não é uma questão que amadureça saudável à medida que flui o tempo e se sucedem as estações, muito pelo contrário. Duvida sempre quando te disserem que a esperança de vida aumentou…

As suas dúvidas existenciais como mulher são projectadas sobre pessoas que muitas vezes contestam a sua autoridade, desvalorizando tudo aquilo que com tanto esforço e trabalho, enfrentando tantos desafios, conseguiu, à custa de ter desmontando uma a uma todas as suas possíveis zonas de conforto (ou quase...). Uma mulher sozinha, recusando um enterro em vida, uma existência medicalizada, silenciosa e invisível, uma mulher com a sua visão e voz própria, tem de ser capaz de conviver e de abraçar a impostora que se lhe colou à pele e à imagem, tem de poder olhar para ela no espelho e sossegá-la “Bora lá saltar no escuro, segura-te!”. É a impostora em si que aguenta a parte das mil e uma razões para não, nunca estar à altura daquela Anciã longínqua, duma qualquer cultura exótica, idealizada pelo fotoshop e enquadrada pelas frases prontas a servir do fast food verbal new-age. Uma mulher real a partir de certa idade é por norma suspeita, e se algum poder conquistou com o seu esforço, discernimento e coragem vai ser-lhe pedido que trate de o repartir, pedacinho a pedacinho, até não sobrar mais nada, ou que o use para promover outras pessoas. Afinal se já não és a mãe que se sacrifica como a vela se consome e arde para que haja luz, para que serves afinal? Pergunta o utilitarismo patriarcal...

Mas nesta escuridão criativa da alma, abençoada seja, a luz da Deusa nítida se recorta: “Pára de resmungar, de lamber as feridas, avança”… Pois… talvez, quem sabe, abrindo caminhos...

©Luiza Frazão

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Published on January 10, 2021 17:06

January 9, 2021

POR QUE ESTUDAR A ANTIGA CIVILIZA����O DE CRETA �� T��O IMPORTANTE PARA N��S?

 

Uma Hist��ria que nos Traz Esperan��a, por Elizabeth Chloe Erdmann

H�� muitos anos atr��s, havia uma antiga civiliza����o minoica na ilha grega de Creta que foi anterior ��s nossas ideias mais comuns de como era a Gr��cia antiga ...

Antes de Plat��o, Arist��teles, da Acr��pole, antes de Alexandre - antes da Guerra de Troia - antes de Esparta...

Havia uma civiliza����o como nenhuma outra em Creta, a maior das ilhas gregas flutuando de forma autossuficiente num espa��o entre o sul da Europa e o norte da ��frica; era uma cultura de com��rcio mar��timo. H�� quatro mil anos, pequenas aldeias agr��colas come��aram a construir "centros sagrados", geralmente chamados de "estruturas palacianas". O seu fim permanece um mist��rio altamente contestado. Os valores da Creta antiga eram semelhantes a muitas culturas e tradi����es ind��genas - como os Haudenosaunee ou os iroqueses: rever��ncia por todas as esp��cies animais e vegetais e um sentido profundo da natureza colectiva da exist��ncia.

Isso �� muito diferente da arte e das representa����es que surgem depois no continente grego, onde os her��is conquistam serpentes de nove faces e realizam tarefas aparentemente imposs��veis para Deuses e Deusas que t��m um relacionamento complicado com os seres humanos. O pr��prio nome da Europa vem de Europa, que era uma jovem donzela atra��da para fora de sua casa em Creta num touro, como parte de um truque inventado por Zeus. Esses mitos v��m duma ��poca em que o dom��nio sobre a natureza �� tido como fundamental: �� a hist��ria que se desenrola nas imagens narrativas da Acr��pole de Atenas.

Ent��o, o que acontecia antes nessa misteriosa ilha de Creta?

O povo minoico. A cultura dessas pessoas era diferente daquela que veio depois. Os seus centros sagrados eram dedicados a eventos pol��ticos, art��sticos e culturais. O seu sentido do sagrado impregnava as actividades di��rias. Nessa sociedade via-se a pr��pria vida como sagrada. Houve uma redistribui����o ou partilha de bens e alimentos nesses locais, de modo que ningu��m passou fome ou escassez. H�� muito pouca indica����o de fortifica����o e armas, especialmente em compara����o com as civiliza����es posteriores, como os gregos mic��nicos. A arte minoica retrata mulheres em posi����es de poder - como sacerdotisas com os bra��os erguidos em estados de ��xtase e muitas vezes nuas at�� a cintura. Homens s��o mostrados cantando quando voltam da colheita, h�� vasos que mostram a alegre vida marinha e estatuetas de c��es sorridentes feitos de barro. Quando percorremos o museu, n��o podemos deixar de pensar ��� uau, essas pessoas sabiam como se divertir. Elas parecem felizes por estarem vivas. Viviam em harmonia com a natureza.

Os seus frescos retratam jogos que consistiam em saltar sobre um touro. (Sim, falamos de pessoas que saltam sobre os chifres duma criatura bovina.) Isso contrasta totalmente com o foco na viol��ncia contra os animais, como touradas e sacrif��cios, retratados nas civiliza����es que se sucedem �� min��ica. Os frescos minoicos mostram figuras masculinas e femininas agarrando o touro pelos chifres e saltando atrav��s deles dando uma esp��cie de salto mortal. Saltar sobre o touro poderia ter sido um desporto sagrado e ext��tico para a gera����o mais jovem ou um tipo de inicia����o.

O que torna a antiga cultura minoica diferente das que a seguem - daquelas com as quais estamos mais familiarizadas e familiarizados na cultura popular e na academia? Deixe-me dar um RESUMO em 8 PALAVRAS: representa����o feminina, menos viol��ncia, sem escravid��o, recursos partilhados.

Ent��o, voltando ao que aconteceu com essa cultura, �� algo de muito misterioso. Sabemos por escava����es que houve um imenso evento vulc��nico catastr��fico na antiga Thera (agora conhecida como Santorini), que enfraqueceu a cultura minoica. A chegada dos mic��nicos da Gr��cia continental levou a uma mistura relativamente breve de culturas. Na arte mic��nica, vemos cenas que retratam her��is conquistando a natureza, mulheres como v��timas e viol��ncia contra animais. Depois de algumas centenas de anos, a sociedade mic��nica chegou ao fim. As pessoas retiraram-se para as montanhas e a Gr��cia entrou num per��odo conhecido como idade das trevas que durou cerca de quinhentos anos. Depois disso, vieram Homero e os famosos fil��sofos da Gr��cia.

Existem tra��os da vis��o de mundo minoica na nossa cultura? E por que devemos preocupar-nos com Creta e a cultura minoica?

A resposta �� simples: a esperan��a est�� em n��s.

 

Elizabeth Chloe Erdmann �� uma te��rica apaixonada pela ���Teologia N��made��� - com uma profunda atrac����o pela hist��ria relacionada com a Deusa. Erdmann tem mestrado em estudos teol��gicos pela Boston University, esteve associada ��  Amarkantak Tribal University na ��ndia e actualmente faz um doutorado pesquisando sobre o Contemporary Feminist Goddess Worship & Thealogy, na University College Cork, Irlanda. �� autora publicada e palestrante regular sobre cultura, religi��o e feminismo e co-lidera a Peregrina����o da Deusa, que tem lugar na Primavera a Creta, com Carol P. Christ. Mora em Chittenango, no interior do estado de Nova York, nas terras ancestrais da soberana Na����o Onondaga, guardi��es do fogo do Haudenosaunee - um povo ind��gena matrilinear com muitos costumes semelhantes aos da Creta antiga. Envolvida em ativismo e pesquisa com Sally Roesch-Wagner, no centro Matilda Joslyn Gage para Justi��a Social em Fayetteville, NY, considera-se uma mulher curiosa e apaixonada pelos mist��rios do mundo.

https://feminismandreligion.com/2020/...

 

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Published on January 09, 2021 12:31

POR QUE ESTUDAR A ANTIGA CIVILIZAÇÃO DE CRETA É TÃO IMPORTANTE PARA NÓS?

 

Uma História que nos Traz Esperança, por Elizabeth Chloe Erdmann

Há muitos anos atrás, havia uma antiga civilização minoica na ilha grega de Creta que foi anterior às nossas ideias mais comuns de como era a Grécia antiga ...

Antes de Platão, Aristóteles, da Acrópole, antes de Alexandre - antes da Guerra de Troia - antes de Esparta...

Havia uma civilização como nenhuma outra em Creta, a maior das ilhas gregas flutuando de forma autossuficiente num espaço entre o sul da Europa e o norte da África; era uma cultura de comércio marítimo. Há quatro mil anos, pequenas aldeias agrícolas começaram a construir "centros sagrados", geralmente chamados de "estruturas palacianas". O seu fim permanece um mistério altamente contestado. Os valores da Creta antiga eram semelhantes a muitas culturas e tradições indígenas - como os Haudenosaunee ou os iroqueses: reverência por todas as espécies animais e vegetais e um sentido profundo da natureza colectiva da existência.

Isso é muito diferente da arte e das representações que surgem depois no continente grego, onde os heróis conquistam serpentes de nove faces e realizam tarefas aparentemente impossíveis para Deuses e Deusas que têm um relacionamento complicado com os seres humanos. O próprio nome da Europa vem de Europa, que era uma jovem donzela atraída para fora de sua casa em Creta num touro, como parte de um truque inventado por Zeus. Esses mitos vêm duma época em que o domínio sobre a natureza é tido como fundamental: é a história que se desenrola nas imagens narrativas da Acrópole de Atenas.

Então, o que acontecia antes nessa misteriosa ilha de Creta?

O povo minoico. A cultura dessas pessoas era diferente daquela que veio depois. Os seus centros sagrados eram dedicados a eventos políticos, artísticos e culturais. O seu sentido do sagrado impregnava as actividades diárias. Nessa sociedade via-se a própria vida como sagrada. Houve uma redistribuição ou partilha de bens e alimentos nesses locais, de modo que ninguém passou fome ou escassez. Há muito pouca indicação de fortificação e armas, especialmente em comparação com as civilizações posteriores, como os gregos micénicos. A arte minoica retrata mulheres em posições de poder - como sacerdotisas com os braços erguidos em estados de êxtase e muitas vezes nuas até a cintura. Homens são mostrados cantando quando voltam da colheita, há vasos que mostram a alegre vida marinha e estatuetas de cães sorridentes feitos de barro. Quando percorremos o museu, não podemos deixar de pensar — uau, essas pessoas sabiam como se divertir. Elas parecem felizes por estarem vivas. Viviam em harmonia com a natureza.

Os seus frescos retratam jogos que consistiam em saltar sobre um touro. (Sim, falamos de pessoas que saltam sobre os chifres duma criatura bovina.) Isso contrasta totalmente com o foco na violência contra os animais, como touradas e sacrifícios, retratados nas civilizações que se sucedem à minóica. Os frescos minoicos mostram figuras masculinas e femininas agarrando o touro pelos chifres e saltando através deles dando uma espécie de salto mortal. Saltar sobre o touro poderia ter sido um desporto sagrado e extático para a geração mais jovem ou um tipo de iniciação.

O que torna a antiga cultura minoica diferente das que a seguem - daquelas com as quais estamos mais familiarizadas e familiarizados na cultura popular e na academia? Deixe-me dar um RESUMO em 8 PALAVRAS: representação feminina, menos violência, sem escravidão, recursos partilhados.

Então, voltando ao que aconteceu com essa cultura, é algo de muito misterioso. Sabemos por escavações que houve um imenso evento vulcânico catastrófico na antiga Thera (agora conhecida como Santorini), que enfraqueceu a cultura minoica. A chegada dos micénicos da Grécia continental levou a uma mistura relativamente breve de culturas. Na arte micénica, vemos cenas que retratam heróis conquistando a natureza, mulheres como vítimas e violência contra animais. Depois de algumas centenas de anos, a sociedade micénica chegou ao fim. As pessoas retiraram-se para as montanhas e a Grécia entrou num período conhecido como idade das trevas que durou cerca de quinhentos anos. Depois disso, vieram Homero e os famosos filósofos da Grécia.

Existem traços da visão de mundo minoica na nossa cultura? E por que devemos preocupar-nos com Creta e a cultura minoica?

A resposta é simples: a esperança está em nós.

 

Elizabeth Chloe Erdmann é uma teórica apaixonada pela “Teologia Nómade” - com uma profunda atracção pela história relacionada com a Deusa. Erdmann tem mestrado em estudos teológicos pela Boston University, esteve associada à  Amarkantak Tribal University na Índia e actualmente faz um doutorado pesquisando sobre o Contemporary Feminist Goddess Worship & Thealogy, na University College Cork, Irlanda. É autora publicada e palestrante regular sobre cultura, religião e feminismo e co-lidera a Peregrinação da Deusa, que tem lugar na Primavera a Creta, com Carol P. Christ. Mora em Chittenango, no interior do estado de Nova York, nas terras ancestrais da soberana Nação Onondaga, guardiães do fogo do Haudenosaunee - um povo indígena matrilinear com muitos costumes semelhantes aos da Creta antiga. Envolvida em ativismo e pesquisa com Sally Roesch-Wagner, no centro Matilda Joslyn Gage para Justiça Social em Fayetteville, NY, considera-se uma mulher curiosa e apaixonada pelos mistérios do mundo.

https://feminismandreligion.com/2020/...

 

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Published on January 09, 2021 12:31

January 7, 2021

Magia de Natal - fa��a voc�� mesma

7 de Janeiro, dia de desmontar a ��rvore e as decora����es de Natal

A ��rvore de Natal, pinheiro, ou abeto, �� um s��mbolo de perman��ncia no confronto com a realidade da finitude da vida, proposto pelo Inverno. Por isso a decoramos com luzes, brilhos e cores, com bolas que evocam a luz do sol eterno, que renasce pelo Solst��cio. 

Quando o frufru natal��cio se anuncia e  me atinge tamb��m a mim, dou asas �� imagina����o do meu self-crian��a, e �� minha, e juntas montamos a ��rvore, sempre inspirada no tema da inf��ncia, e nos ��ltimos tempos honrando tamb��m a Deusa que venero. Mas sem d��vida que ela �� dedicada em especial ao meu tempo de crian��a, quando esta celebra����o era motivo de tanta excita����o, pura alegria (havia f��rias!) e deleite. No cora����o do Inverno, in��spito, h��mido, enregelado, a festa do Natal reconfortava e aquecia a alma. Nunca vou esquecer o encantamento provocado pela vis��o s��bita do cortejo de pequenos anjos que irrompia capela adentro a meio da missa desse dia na aldeia. Era como se um portal se abrisse directamente no c��u trazendo at�� n��s a vis��o de criaturas do alt��ssimo. T��o pouco esquecerei a dor da revolta pelo cancelamento sem mais desse prodigioso evento. Profunda agonia por sentir que qualquer peda��o de para��so podia ser t��o fugaz, t��o facilmente destru��do, como se n��o houvesse vontade humana suficiente para dele cuidar, nem suficiente compreens��o da import��ncia primordial da beleza, o pr��prio amor solidificado, materializado ali naqueles anjinhos vestidos de branco delicado como os seus passinhos de crian��a e as suas solenes asas de penas. Era inquietante saber que n��o havia nesta dimens��o guardi��s e guardi��es do para��so �� altura, suficiente protec����o contra cultivadores de distopias. Foi muito cruel.

Pode ter sido a�� que o meu compromisso com a utopia e a magia foi assinado, embora tamb��m seja poss��vel que ele venha da noite dos tempos, dos alvores da hist��ria da minha alma, uma suspeita levantada pelo encontro com Fran��ois Vatel, do filme estreado no ano de 2000. Claro que o genial mordomo do Pr��ncipe de Cond�� tinha meios com que n��o tenho sequer compet��ncia para sonhar. Restam-me os requintes dos musgos, das bagas negras das heras e do alfeneiro, das pinhas, da verdura da ��poca e dos enfeites v��rios coleccionados ao longo dos anos e actualizados de acordo com as altera����es do gosto. Nos ��ltimos tempos, al��m de satisfazerem os caprichos da minha crian��a interior, eles procuram tamb��m honrar a minha devo����o �� Deusa. Foi assim que as aves do para��so vieram em bando, ou que fui atra��da por um enfeite com a forma da m��o de Tanit, por outro que replica a Babuska, pela miniatura do gato chin��s, que tem como origem uma antiga Deusa, por outro ainda com a forma dum bal��o de hidrog��nio, honrando a M��e do Ar deste festival. 

Por debaixo da ��rvore, sapatinhos, como �� l��gico, j�� que n��o tenho lareira: umas botas que foram usadas pelo meu pai em crian��a, uns sapatos de menina dourados com fivela de brilhantes trazidos duma charity shop inglesa, e ainda uma cadeira de fada, uma caixa rosa f��chsia brilhante para as rifas de Natal, uma lanterna e, no lugar de honra, a minha colec����o dos quatro The Lady Bird Nature Books, que com a compostura, a gra��a e a candura dos anos 50 do s��culo XX, ensinavam a nossa crian��a a ver a paisagem, a reconhecer as altera����es, as marcas e os sinais que cada esta����o imprime na natureza e nas actividades humanas. Por vezes tamb��m l�� ficam a destilar o seu sortil��gio a colec����o de Contos de Andersen ou o livro das Princesas Esquecidas e Desconhecidas, de Rebecca Dautremer e Philippe Lechermeir���

Com o tempo, criei tradi����es de Natal muito pr��prias e pessoais, e repito-as, ou recrio-as, a cada ano. Sozinha ou acompanhada, pouco importa neste cap��tulo. Depois do sumi��o que levou o cortejo encantado dos anjinhos de Natal, e do encontro com outros e outras desmancha-prazeres, cuidei de aprender a criar magia para consumo pr��prio. Sem d��vida uma das melhores aprendizagens que levarei desta vida.

Luiza Fraz��o 

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Published on January 07, 2021 14:08

Magia de Natal - faça você mesma

7 de Janeiro, dia de desmontar a árvore e as decorações de Natal

A árvore de Natal, pinheiro, ou abeto, é um símbolo de permanência no confronto com a realidade da finitude da vida, proposto pelo Inverno. Por isso a decoramos com luzes, brilhos e cores, com bolas que evocam a luz do sol eterno, que renasce pelo Solstício. 

Quando o frufru natalício se anuncia e  me atinge também a mim, dou asas à imaginação do meu self-criança, e à minha, e juntas montamos a árvore, sempre inspirada no tema da infância, e nos últimos tempos honrando também a Deusa que venero. Mas sem dúvida que ela é dedicada em especial ao meu tempo de criança, quando esta celebração era motivo de tanta excitação, pura alegria (havia férias!) e deleite. No coração do Inverno, inóspito, húmido, enregelado, a festa do Natal reconfortava e aquecia a alma. Nunca vou esquecer o encantamento provocado pela visão súbita do cortejo de pequenos anjos que irrompia capela adentro a meio da missa desse dia na aldeia. Era como se um portal se abrisse directamente no céu trazendo até nós a visão de criaturas do altíssimo. Tão pouco esquecerei a dor da revolta pelo cancelamento sem mais desse prodigioso evento. Profunda agonia por sentir que qualquer pedaço de paraíso podia ser tão fugaz, tão facilmente destruído, como se não houvesse vontade humana suficiente para dele cuidar, nem suficiente compreensão da importância primordial da beleza, o próprio amor solidificado, materializado naqueles anjinhos vestidos de branco delicado como os seus passinhos de criança e as suas solenes asas de penas. Era inquietante saber que não havia nesta dimensão guardiãs e guardiães do paraíso à altura, suficiente protecção contra cultivadores de distopias. Foi muito cruel.

Pode ter sido aí que o meu compromisso com a utopia e a magia foi assinado, embora também seja possível que ele venha da noite dos tempos, dos alvores da história da minha alma, uma suspeita levantada pelo encontro com François Vatel, do filme estreado no ano de 2000. Claro que o genial mordomo do Príncipe de Condé tinha meios com que não tenho sequer competência para sonhar. Restam-me os requintes dos musgos, das bagas negras das heras e do alfeneiro, das pinhas, da verdura da época e dos enfeites vários coleccionados ao longo dos anos e actualizados de acordo com as alterações do gosto. Nos últimos tempos, além de satisfazerem os caprichos da minha criança interior, eles procuram também honrar a minha devoção à Deusa. Foi assim que as aves do paraíso vieram em bando, ou que fui atraída por um enfeite com a forma da mão de Tanit, por outro que replica a Babuska, pela miniatura do gato chinês, que tem como origem uma antiga Deusa, por outro ainda com a forma dum balão de hidrogénio, honrando a Mãe do Ar deste festival. 

Por debaixo da árvore, sapatinhos, como é lógico, já que não tenho lareira: umas botas que foram usadas pelo meu pai em criança, uns sapatos de menina dourados com fivela de brilhantes trazidos duma charity shop inglesa, e ainda uma cadeira de fada, uma caixa rosa fúchsia brilhante para as rifas de Natal, uma lanterna e, no lugar de honra, a minha colecção dos quatro The Lady Bird Nature Books, que com a compostura, a graça e a candura dos anos 50 do século XX, ensinavam a nossa criança a ver a paisagem, a reconhecer as alterações, as marcas e os sinais que cada estação imprime na natureza e nas actividades humanas. Por vezes também lá ficam a destilar o seu sortilégio a colecção de Contos de Andersen ou o livro das Princesas Esquecidas e Desconhecidas, de Rebecca Dautremer e Philippe Lechermeir…

Com o tempo, criei tradições de Natal muito próprias, e repito-as, ou recrio-as, a cada ano. Sozinha ou acompanhada, pouco importa neste capítulo. Depois do sumiço que levou o cortejo encantado dos anjinhos de Natal, e do encontro com outros e outras desmancha-prazeres, cuidei de aprender a criar magia para consumo próprio. Sem dúvida uma das melhores aprendizagens que levarei desta vida.

Luiza Frazão 

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Published on January 07, 2021 14:08

December 18, 2020

NOITE DE NATAL - A ANTIGA NOITE DAS M��ES

 Ser�� por esta a raz��o profunda que o Dia da M��e em Portugal se celebrou a 8 de Dezembro at�� tempos relativamente recentes?

"Noite das m��es: as antigas origens pag��s do Pai Natal?

Essa tradi����o de uma mulher viajar pelo mundo trazendo presentes tamb��m est�� incorporada na tradi����o irlandesa. Isso poderia ser um remanescente das deusas antigas trazendo boa fortuna?


Um antigo festival de inverno que remonta pelo menos �� Idade do Ferro �� a Noite das M��es ou Modraniht.

Esta celebra����o ocorreu na actual v��spera de Natal e foi associada a uma homenagem ��s ancestrais e esp��ritos femininos, da�� a associa����o com as m��es.

O que pode ser surpreendente para algumas pessoas �� que essa celebra����o tamb��m ecoa no folclore irland��s da v��spera de Natal.

Ao contr��rio de outras festas menos atestadas que ocorreram nesta ��poca, temos documenta����o escrita definitiva desta festa que remonta ao s��culo VIII, e rel��quias dessas mesmas divindades na forma de D��sir e Matres do primeiro s��culo.

A tradi����o oral remonta muito mais longe, possivelmente ��s primeiras deusas da fertilidade europeias.

Deusas triplas semelhantes da Idade do Bronze tamb��m s��o encontradas na Anat��lia, talvez indicando uma raiz proto-indo-europeia. As sete deusas Matrika, por exemplo, remontam a pelo menos 3.000 aC.

O D��sabl��t do Norte da Europa foi realizado durante as noites de inverno, bem como o Equin��cio Vernal.

Agora, esta �� uma ocorr��ncia interessante porque as fadas e esp��ritos associados com as Pl��iades (incluindo a mencionada Matrika) tamb��m eram reconhecidos nessas ocasi��es. Mas isso provavelmente �� um post para depois, excepto para dizer que n��o devemos esquecer-nos de que as estrelas eram tanto um motivo para esta celebra����o sazonal quanto o renascimento do sol!

Neste contexto, as noites mais longas do ano teriam acontecido numa ��poca em que as estrelas estavam mais presentes na vida das pessoas e, portanto, teriam sido vistas como mais influentes.

Como j�� escrevi algumas vezes aqui, vamos cada vez encontrando mais e mais monumentos alinhados com constela����es e posi����es de estrelas polares em dias auspiciosos, o que confirma o que dissemos antes.


Espero que seja este o caso tamb��m aqui na Irlanda.

Mas voltando �� Noite das M��es, era uma noite em que oferendas e sacrif��cios eram feitos ��s deusas, antepassadas e ancestrais femininas. Oferecer uma por����o de uma refei����o, sem manteiga, mel ou bebida eram meios populares de apaziguar e expressar respeito e agradecimento.

Acender fogueiras, queimar incenso e fazer profecias para o ano seguinte eram outras actividades associadas a esta noite. Isso n��o deveria ser surpresa, considerando os v��nculos entre as D��sir, as Norns e as Moirai, todos grupos triplos de mulheres / deusas sobrenaturais controlando o destino.


�� interessante olhar para esta tradi����o �� luz de uma deusa anterior mencionada aqui, La Befana, que entrava pela casa voando, trazendo presentes para as crian��as que haviam sido boas e peda��os de carv��o para aquelas que se tinham portado mal.

Befana �� similar a Perchta e �� rainha das fadas, Nicnevin, que muitas vezes era considerada a l��der da Ca��ada Selvagem no Yule. Esta era uma prociss��o de elfos, esp��ritos de fadas, mortos e mortas e outras entidades sobrenaturais.

Embora seja frequentemente considerado de mau agouro encontrar o desfile desta ca��ada, �� interessante notar os aspectos mais l��dicos e provocadores dos encontros folcl��ricos irlandeses. (Para n��o ignorar as mortes reais de outros que s��o arrastados por esta persegui����o fantasmag��rica!)

Essa tradi����o de uma mulher viajar pelo mundo trazendo presentes tamb��m est�� incorporada na tradi����o irlandesa. Isso poderia ser um remanescente das deusas antigas trazendo boa fortuna?

Aqui est�� um exemplo de uma hist��ria sobrevivente que foi gravada em Carlow em 1937.

���Diz-se que na noite de Natal uma velha vai de tren�� de um lado ao outro do mundo. O tren�� �� puxado por c��es e caminha pelas nuvens. Numa certa v��spera de Natal, por��m, o eixo do tren�� quebrou-se e ela caiu ao ch��o, pousando ao lado de uma carpintaria. O carpinteiro fez um eixo para o seu tren��.

Ele mirou e remirou at�� que ela estar fora de vista, e quando ent��o olhou para o ch��o, por algum poder m��gico, todas as sobras de madeira se tinham transformado em ouro. ���

Fonte original aqui: https://www.duchas.ie/en/cbes/5044666/5030337/5142569

Com o folclore irland��s posterior da v��spera de Natal, muito parecido com Brigid no Imbolc, por exemplo, vemos Maria substitu��da pela antiga figura da Deusa.

Como podemos ver, ent��o, h�� tamb��m alguns paralelos surpreendentes com La Befana, que era uma deusa que voava de casa em casa nos contos antigos na Europa continental no meio do inverno. E, como j�� foi mencionado, a pr��pria La Befana est�� conectada com as deusas Perchta e Holda.

A velha, neste caso, tamb��m pode ser outra forma da Cailleach, �� claro. H�� fortes liga����es com a Cailleach como inicialmente associado a figuras de deusas da Europa continental antes das associa����es com a Irlanda e a Esc��cia

Existem tamb��m antigas tradi����es relacionadas com a figura da M��e do Veado dos povos xam��nicos asi��ticos, bem como das tribos da Escandin��via, Esc��cia e dos povos ind��genas norte-americanos.

Veja a postagem anterior para mais informa����es sobre isso. J�� mencionamos como as v��rias figuras da Deusa voaram pelo ar em um tren��, carregaram o sol nos chifres de um cervo e entregaram presentes ao povo.

Ent��o, talvez a v��spera de Natal deva ser lembrada por sua associa����o muito mais antiga com ancestrais e esp��ritos femininos, bem como sua associa����o com o in��cio de um novo ciclo solar anual.

A Noite das M��es foi um momento de proximidade e reflex��o pessoal para fam��lias, filhas e filhos.

Foi um momento de recordar as m��es que faleceram e, �� medida que as noites escuras chegavam ao fim e a nova luz estava para nascer, era o momento de contacto entre fins e novos come��os.

(C.) David Halpin.

Fotos.

1. A reconstru����o da Shamaness of Bad D��rrenberg por James Dilley

2. C��rculo de pedras de Boleycarrigeen

3. Uma foto em preto e branco de Haroldstown Dolmen

4. La Befana, a Bruxa do Natal Italiana, em https://italiancenter.net/events/fest...


Vers��o original:

https://www.facebook.com/CircleStoriesDavidHalpin/posts/1349492972066042

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Published on December 18, 2020 13:24

NOITE DE NATAL - A ANTIGA NOITE DAS MÃES

 Será por esta a razão profunda que o Dia da Mãe em Portugal se celebrou a 8 de Dezembro até tempos relativamente recentes?

"Noite das mães: as antigas origens pagãs do Pai Natal?

Essa tradição de uma mulher viajar pelo mundo trazendo presentes também está incorporada na tradição irlandesa. Isso poderia ser um remanescente das deusas antigas trazendo boa fortuna?


Um antigo festival de inverno que remonta pelo menos à Idade do Ferro é a Noite das Mães ou Modraniht.

Esta celebração ocorreu na actual véspera de Natal e foi associada a uma homenagem às ancestrais e espíritos femininos, daí a associação com as mães.

O que pode ser surpreendente para algumas pessoas é que essa celebração também ecoa no folclore irlandês da véspera de Natal.

Ao contrário de outras festas menos atestadas que ocorreram nesta época, temos documentação escrita definitiva desta festa que remonta ao século VIII, e relíquias dessas mesmas divindades na forma de Dísir e Matres do primeiro século.

A tradição oral remonta muito mais longe, possivelmente às primeiras deusas da fertilidade europeias.

Deusas triplas semelhantes da Idade do Bronze também são encontradas na Anatólia, talvez indicando uma raiz proto-indo-europeia. As sete deusas Matrika, por exemplo, remontam a pelo menos 3.000 aC.

O Dísablót do Norte da Europa foi realizado durante as noites de inverno, bem como o Equinócio Vernal.

Agora, esta é uma ocorrência interessante porque as fadas e espíritos associados com as Plêiades (incluindo a mencionada Matrika) também eram reconhecidos nessas ocasiões. Mas isso provavelmente é um post para depois, excepto para dizer que não devemos esquecer-nos de que as estrelas eram tanto um motivo para esta celebração sazonal quanto o renascimento do sol!

Neste contexto, as noites mais longas do ano teriam acontecido numa época em que as estrelas estavam mais presentes na vida das pessoas e, portanto, teriam sido vistas como mais influentes.

Como já escrevi algumas vezes aqui, vamos cada vez encontrando mais e mais monumentos alinhados com constelações e posições de estrelas polares em dias auspiciosos, o que confirma o que dissemos antes.


Espero que seja este o caso também aqui na Irlanda.

Mas voltando à Noite das Mães, era uma noite em que oferendas e sacrifícios eram feitos às deusas, antepassadas e ancestrais femininas. Oferecer uma porção de uma refeição, sem manteiga, mel ou bebida eram meios populares de apaziguar e expressar respeito e agradecimento.

Acender fogueiras, queimar incenso e fazer profecias para o ano seguinte eram outras actividades associadas a esta noite. Isso não deveria ser surpresa, considerando os vínculos entre as Dísir, as Norns e as Moirai, todos grupos triplos de mulheres / deusas sobrenaturais controlando o destino.


É interessante olhar para esta tradição à luz de uma deusa anterior mencionada aqui, La Befana, que entrava pela casa voando, trazendo presentes para as crianças que haviam sido boas e pedaços de carvão para aquelas que se tinham portado mal.

Befana é similar a Perchta e à rainha das fadas, Nicnevin, que muitas vezes era considerada a líder da Caçada Selvagem no Yule. Esta era uma procissão de elfos, espíritos de fadas, mortos e mortas e outras entidades sobrenaturais.

Embora seja frequentemente considerado de mau agouro encontrar o desfile desta caçada, é interessante notar os aspectos mais lúdicos e provocadores dos encontros folclóricos irlandeses. (Para não ignorar as mortes reais de outros que são arrastados por esta perseguição fantasmagórica!)

Essa tradição de uma mulher viajar pelo mundo trazendo presentes também está incorporada na tradição irlandesa. Isso poderia ser um remanescente das deusas antigas trazendo boa fortuna?

Aqui está um exemplo de uma história sobrevivente que foi gravada em Carlow em 1937.

“Diz-se que na noite de Natal uma velha vai de trenó de um lado ao outro do mundo. O trenó é puxado por cães e caminha pelas nuvens. Numa certa véspera de Natal, porém, o eixo do trenó quebrou-se e ela caiu ao chão, pousando ao lado de uma carpintaria. O carpinteiro fez um eixo para o seu trenó.

Ele mirou e remirou até que ela estar fora de vista, e quando então olhou para o chão, por algum poder mágico, todas as sobras de madeira se tinham transformado em ouro. ”

Fonte original aqui: https://www.duchas.ie/en/cbes/5044666/5030337/5142569

Com o folclore irlandês posterior da véspera de Natal, muito parecido com Brigid no Imbolc, por exemplo, vemos Maria substituída pela antiga figura da Deusa.

Como podemos ver, então, há também alguns paralelos surpreendentes com La Befana, que era uma deusa que voava de casa em casa nos contos antigos na Europa continental no meio do inverno. E, como já foi mencionado, a própria La Befana está conectada com as deusas Perchta e Holda.

A velha, neste caso, também pode ser outra forma da Cailleach, é claro. Há fortes ligações com a Cailleach como inicialmente associado a figuras de deusas da Europa continental antes das associações com a Irlanda e a Escócia

Existem também antigas tradições relacionadas com a figura da Mãe do Veado dos povos xamânicos asiáticos, bem como das tribos da Escandinávia, Escócia e dos povos indígenas norte-americanos.

Veja a postagem anterior para mais informações sobre isso. Já mencionamos como as várias figuras da Deusa voaram pelo ar em um trenó, carregaram o sol nos chifres de um cervo e entregaram presentes ao povo.

Então, talvez a véspera de Natal deva ser lembrada por sua associação muito mais antiga com ancestrais e espíritos femininos, bem como sua associação com o início de um novo ciclo solar anual.

A Noite das Mães foi um momento de proximidade e reflexão pessoal para famílias, filhas e filhos.

Foi um momento de recordar as mães que faleceram e, à medida que as noites escuras chegavam ao fim e a nova luz estava para nascer, era o momento de contacto entre fins e novos começos.

(C.) David Halpin.

Fotos.

1. A reconstrução da Shamaness of Bad Dürrenberg por James Dilley

2. Círculo de pedras de Boleycarrigeen

3. Uma foto em preto e branco de Haroldstown Dolmen

4. La Befana, a Bruxa do Natal Italiana, em https://italiancenter.net/events/fest...


Versão original:

https://www.facebook.com/CircleStoriesDavidHalpin/posts/1349492972066042

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Published on December 18, 2020 13:24

December 14, 2020

A LAVADEIRA DO VAU

 


A Lavadeira do Vau

(The Washer at the Ford) e a Ribeira da Mulher Morta

Mexilhoeira Grande, concelho de Portimão, Serro do Algarve

A Ribeira da Mulher Morta vem de Pereiro e desagua no rio Mexilhoeira

A cultura algarvia é rica em vestígios celtas e em lendas de Mouras Encantadas e Portimão é uma dessas zonas particularmente afortunadas, dentro daquilo que já pude perceber. Nessa área, não longe da foz da Ribeira de Boina, por exemplo, o monumento funerário de Alcalar apresenta grandes semelhanças com New Grange na Irlanda, construído no vale do River Boyne. Pensa-se que Boina e Boyne se relacionam com o teónimo Bovinda, que por sua vez se relaciona com o nome da Grande Deusa celta, Brígida.

Acontece que uma das minhas alunas trouxe-me há dias uma pérola da cultura celta encontrada quando, ao investigar a Gruta da Mulher Morta, no Serro do Algarve, se deparou com a Ribeira da Mulher Morta. Lendas ouvidas sobre o lugar contam que uma mulher aí se afogou quando insistiu em ir lavar num dia tão sagrado quanto a Quinta-feira da Espiga. O som da roupa a ser batida na pedra ainda ecoa certos dias, a certas horas…

Ora, uma assombração feminina que lava a roupa no rio, no vau, subsiste na cultura irlandesa, onde é designada por the Washer at the Ford, que traduzindo dá a Lavadeira do Vau. A roupa que lava está ensanguentada e ela é considerada um avatar da Deusa Banshee da Irlanda, ou Bean Sidhe do País de Gales, e noutras interpretações da Deusa Morrigan. 

Esta anunciadora da morte, divindade do Samhain, portanto, também se pode encontrar no folclore da Galiza, onde é justamente referida como a Lavadeira do Vau. Curiosamente, ainda no concelho de Portimão, ao escrever o nome desta figura no motor de busca, fui remetida para a localidade de Ladeira do Vau

Na minha perspectiva e interpretação, estas figuras, vão para além da cultura celta e parecem ser aparentadas com o fantasma de La Llorona, do México, ou com as personagens de Medeia, da mitologia grega, e de Lilith, da mitologia hebraica. Relacionam-se também, estas entidades, com o  fantasma da Mulher de Branco, presente na nossa cultura e, ao que parece, em variadíssimas outras latitudes deste mundo e dimensão.

O que eu sinto é que Elas nos trazem notícias do Corpo de Dor do Feminino, remetendo-nos para o grande vazio que o impacto devastador da cultura patriarcal criou na alma da mulher...

©Luiza Frazão

 

 

 

 

 

 

 

Imagem: httpsbruxapoetisa.wordpress.com20180303lavadeira-do-vau

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Published on December 14, 2020 15:16

December 9, 2020

O SOL DA DEUSA - A LUZ QUE GUIA E O CALOR DA VIDA CONSCIENTE

 

A lua tornou-se uma das imagens centrais da espiritualidade da Deusa. No entanto... precisamos de examinar a sua potência contra-imaginal - o sol. Se a Deusa deve estar totalmente representada na nossa sociedade, ela também deve ser a luz que guia e o calor da nossa vida consciente. O Sol não deve ser considerado apenas como um símbolo patriarcal irrecuperável, mas como uma representação da vida e do alegre prazer da Deusa.

_ Caitlin Matthews, Voices of the Goddess: A Chorus of Sibyls
O sol é uma força activa que governa a cura, a luz e a abundância por fazer crescer as searas. A lua entretanto é vista como passiva, governando a noite, a psique e os mares através da sua capacidade para criar as marés. Mas se te perguntassem pelos géneros destas luminárias o que dirias?

Quase sempre a resposta seria que o sol é masculino e a lua feminina. Na verdade, a lua é talvez o símbolo mais conhecido do divino feminino na actual espiritualidade da Deusa. No entanto, se tivesses feito a mesma pergunta a uma pessoa pagã do passado, terias muito provavelmente tido uma resposta diferente. Enquanto na Grécia e em Roma se reverenciava a lua como Artemis e Diana e o sol como Hélios e Apolo, o conceito dum sol masculino e duma lua feminina não era universalmente partilhado em todos os sistemas mitológicos. Das tribos celtas ao povo Inuit da América do Norte, o sol era visto mais frequentemente como uma deusa do que como um deus.

Então como é que hoje em dia vemos o sol como sendo exclusivamente masculino? Quando comparamos os papéis e géneros das luminárias entre culturas, torna-se claro que as nossas antepassadas e os nossos antepassados pagãos não conseguiam atingir a unanimidade sobre a questão do sol ser masculino e a lua feminina. Encontramos panteões que cultuavam deuses solares e deusas lunares e outros que viam o sol como feminino e a lua como masculina.

Parece que o povo celta não conseguia decidir-se nesta matéria, tendo numerosas deusas lunares mas também deusas solares, que coexistiam com deuses solares. De forma semelhante, no Egipto também havia deuses e deusas solares. Assim sendo, se algumas culturas veneravam o sol como uma deusa e outras como um deus, e outras ainda como deus ou como deusa, por que razão é que hoje em dia o conceito de sol feminino nos parece tão pouco familiar?

Em última análise, o conceito do sol como exclusivamente masculino é bastante recente e a origem desta classificação exclusiva remonta à época vitoriana.

Com efeito, esta época trouxe com ela um renovado interesse pela mitologia, em particular pelos mitos solares. A arqueologia e o estudo da cultura popular eram novos campos de interesse académico e obras versando sobre mitologia clássica tornaram-se extremamente populares. Os mitos gregos e romanos serviam de bitola para comparar e sistematizar o estudo de outras mitologias, e foi assim que que o conceito do sol/deus e da lua/deusa se tornou aceite como sendo a forma “correcta” de ver estas duas luminárias. Se os mitos de outras culturas diferiam, considerava-se que isso apenas reflectia a inferioridade cultural desse grupo ou um desvio acidental da norma mitológica. O trabalho de Friedrich Max Müller, um dos fundadores do campo de estudo da mitologia comparada, popularizou grandemente o conceito de masculino solar, conectando cada divindade e herói ao sol e proclamando que todas as religiões derivavam do monoteísmo solar original que via o sol como o criador masculino. As teorias de Müller foram mais tarde ridicularizadas, mas as suas influências perduram até hoje.

Apesar da deusa solar parecer um conceito estranho para muitas e muitos de nós, ela está mais presente no paganismo moderno do que aquilo que poderíamos supor, apenas não a classificamos como tal. Com efeito, Brígida, uma das deusas mais populares do panteão celta e cujo festival o paganismo celebra a cada Imbolc, tem inúmeros atributos solares. Apesar disso, Brígida é habitualmente referida como deusa do fogo e da inspiração, nunca como uma deusa solar.

As suas conexões solares permaneceram até nas histórias de santa Brígida, a versão cristianizada da deusa. Santa Brígida veio ao mundo ao nascer do sol e a casa onde nasceu brilhava com tal intensidade que a vizinhança pensou haver um incêndio, mas quando foram ver, essa luz que viam emanava da própria santa. Também se diz que um dia ela suspendeu a sua capa de um raio de sol. Era ainda sobejamente conhecida a sua habilidade para curar a cegueira, uma capacidade comum às deusas solares, uma vez que o sol era considerado uma espécie de “olho” no céu.

Interessante é ainda o facto de tanto o nome irlandês como aquele que era usado no inglês antigo para designar o sol era feminino, indicando que estes povos viam o sol como uma força feminina. Sem esquecer que a cruz de Brígida não passa duma representação simbólica do sol.

In Darwing Down the Sun, Rekindle the Magic of the Solar Goddess, Stephanie Woodfield, 2014


Imagens:

Imagem 1 - https://druidry.org/resources/brigid-...

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Published on December 09, 2020 14:19

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Luiza Frazão
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