Luiza Frazão's Blog, page 10

March 19, 2018

AS HEROÍNAS PORTUGUESAS DA HISTORIADORA FINA D' ARMADA


 Acabo de receber este presente fabuloso! Bem na energia de Ostara, do tempo de honrar e celebrar a Donzela Exploradora. Precioso...
HEROÍNAS PORTUGUESAS: Mulheres que Enganaram o Poder e a História. Ésquilo. 2012
INTRODUÇÃO
"Heroínas! O que são Heroínas?Tal como a Terra gira e se renova, na marcha do tempo e da vida, também as heroínas mudam com os ventos da História.
Disse Robert Charroux que, se um homem matava outro, ia parar à cadeia como criminoso. Se matava dez, metiam-no num hospital psiquiátrico, era tolo. Mas, se matava milhares numa batalha, virava herói e erigiam-lhe uma estátua em praça pública.Outrora, as heroínas eram as mulheres “virago”, as que imitavam os homens nas suas lutas guerreiras. Se alguma mulher pusesse esse mundo em causa, era mal vista e desprezada pela sociedade.
Houve tempos em que as heroínas eram as que morriam em defesa da sua fé. Nasceram assim as santas.As “minhas” heroínas não estão em paralelo com os heróis. São outras.
Não sei se as heroínas selecionadas para esta obra serão heroínas para toda a gente. Mas são as “minhas” heroínas, aquelas que considero valorosas em nosso tempo.
Heroínas são, para mim, mulheres que fizeram algo fora do comum, novo, digno de registo, que provocou transformações sociais e mudanças de mentalidade. Estão ligadas à via, à mudança, nunca à morte. São aquelas que superaram a tragédia ou estigma de terem nascido do sexo feminino. As que vieram ao mundo para pôr em causa esse mesmo mundo. As que romperam o próprio conceito de sagrado que até esse tem sido masculino. Assim, uma moça de Coimbra foi morta pela Inquisição, porque não era filha amada de Deus como sempre lhe disseram. Ela atreveu-se a ser representante Dele na terra e ser padre jesuíta durante 18 anos.
Também houve mulheres que descobriram que, afinal, não eram filhas dos homens. Estes, os que tinham poder, em vez de as tornarem felizes, como filhas amadas, serviram-se delas, roubando-lhes os filhos e bens, e nas leis destinaram-lhes apenas proibições. Rompendo essas proibições, não cumprindo o determinado pelos senhores, o que exigiu sempre coragem e sofrimento, eis as novas heroínas!
Heroínas, para mim, foram as que abriram caminhos. As que derrubaram portas fechadas. As que enganaram o poder e as normas para sobreviver. As que suportaram a morte, o desprezo, a crítica, o abandono para que um novo mundo nascesse. Para que na vida houvesse mais felicidade e as mulheres, meia humanidade deste planeta, também pudessem saborear o conceito de liberdade.
As heroínas deste livro, na medida em que são desconhecidas, ou quase, demonstram que o próprio tempo as aprisionou e foi enganado por elas. Este livro tenta libertá-las da prisão da história e de mentalidades de tempos idos. Esta é uma maneira de as cantar e de lhes agradecer.
As heroínas perpetuadas nesta obra são mulheres de quem me orgulho, como vindoura."
Fina d’ ArmadaRio TintoJunho de 2012
Fina d’ Armada (1945-2014) foi uma das historiadoras e escritoras mais originais e prestigiadas do nosso tempo. Recebeu em 2005 “Mulher investigação Carolina Michaëlis”.
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Published on March 19, 2018 03:25

February 28, 2018

CONFERÊNCIA DA DEUSA PORTUGAL 2019



Atenção interessadas e interessados do BRASIL neste evento:
Monica Giraldez e Yasmin Meera, de Florianópolis, estão organizando um grupo para viajarem até à Conferência da Deusa Portugal, em maio de 2019 



Este é um texto de 2015, que decidi republicar porque entretanto o projeto de uma Conferência da Deusa para Portugal saiu do armário!... não sendo mais apenas o meu projeto, mas sim o projeto da Associação Cultural Jardim das Hespérides.Sugiro então que salvem as datas de 17, 18 e 19 de maio de 2019. 
Para as nossas antepassadas e os nossos antepassados, o momento das colheitas, Lammas e Mabon, entre agosto e setembro, depois de todo o esforço despendido, era tempo de celebrar e sobretudo de agradecer à Deusa por todos os dons recebidos, pela manifestação das nossas intenções e projetos. Ainda hoje assim é no nosso território, onde em todos os fins-de-semana de verão várias localidades honram a sua Senhora ou o santo que Lhe tomou o lugar. Na espiritualidade da Deusa, a grande festa anual foi concebida por Kathy Jones em Glastonbury, Reino Unido, com a designação de Conferência da Deusa. O conceito de conferência neste caso pouca semelhança tem com aquilo que a palavra evoca para nós. Poderíamos chamar-lhe Festival, e várias pessoas no início alertaram a sua fundadora para a excessiva seriedade patriarcal de que o conceito se reveste, o que poderia desmotivar o público, constituído como é óbvio por mulheres e homens “da Deusa”. Kathy Jones, entretanto, não se deixou demover e levou a sua ideia por diante, até porque também queria que o evento se revestisse de seriedade. O facto é que o modelo se impôs e serve hoje em dia de referência e de inspiração para todas as Conferências da Deusa que anualmente acontecem por esse mundo fora.
Quando em 2011 fui pela primeira à de Glastonbury, senti que a minha vida só teria mesmo sentido se eu pudesse repetir a experiência, ir todos os anos participar naquilo que considero serem os Mistérios da Deusa, semelhantes a uma atualização das antigas vivências dos povos da Grécia em Elêusis. Pensar que a Conferência poderia estar a acontecer sem a minha presença seria demasiado doloroso, e este sentimento é partilhado por muitas pessoas que conheço e que aí vão todos os anos, custe o que custar. Vários testemunhos de mulheres, entretanto, comprovam que o que aconteceu comigo é um sentimento muito generalizado: uma profunda transformação nas nossas vidas. Isso deve-se não apenas a tudo aquilo que compõe o programa, comunicações, cerimónias, performances, workshops, como também a tudo o que lhe é transversal e que é igualmente sublime. De repente realizamos que somos criativas o suficiente, capazes o suficiente, fortes o suficiente, divertidas o suficiente, brilhantes o suficiente para criar eventos cheios de significado e de grandiosidade, feitos por e especialmente para mulheres. Percebemos como é relaxante e libertador estarmos em zonas livres de patriarcado, zonas de empoderamento do feminino e da mulher, e tomamos consciência da expansão que representa para nós enquanto seres humanos ocuparmos o centro, normalmente saturado de androcracia e patriarcalismo. Exultamos de alegria, de exuberância, de autoaceitação e de aceitação de toda a gente, mulheres, homens, crianças. Todas as formas, cores, tamanhos, géneros e idades são aceites e apreciadas tal como são, pelo que são, incorporações da Deusa, manifestações da Sua infinita criatividade.
Algumas convidadas são profundamente emblemáticas desta conferência como foi o caso de Lady Olivia Robertson (1917-2013), uma das primeiras sacerdotisas da nossa era, co-fundadora da Fellowship of Isis, que enquanto foi viva e lhe foi possível, teve sempre o seu momento especial na Conferência. Também Lydia Ruyle (1935-2016) e os seus estandartes representando Deusas de todas as culturas do mundo são parte do cenário de qualquer Conferência. E a lista é longa de artistas, autoras, performers e comunicadoras de todas as latitudes. De membro do público participante, entretanto, tornei-me Melissa e tive a minha primeira intervenção facilitando um workshop sobre a universalidade da Banshee em 2014. Na próxima, além dum workshop terei a função de Sacerdotisa do Círculo, neste caso uma Sacerdotisa Orbe, Orb Priestess, assim designadas em homenagem à Mãe do Ar o elemento celebrado nesta Conferência. E profundamente agradeço à Deusa por até aqui sempre me ter ajudado a concretizar o desejo que formulei em 2011 de estar presente neste evento, que trouxe à minha vida e à minha alma profunda expansão e significado. O meu projeto entretanto é, com a colaboração de outras irmãs sacerdotisas, trazer este evento também para Portugal.
Imagens:1 e 2 - Glastonbury Goddess Conference 20173 - Glastonbury Goddess Conference 2015, com Lydia Ruyle
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Published on February 28, 2018 05:06

November 14, 2017

October 26, 2017

TEMPO DE HONRAR A DEUSA ANCIÃ



A DEUSA NEGRA - A SOMBRA FEMININA In MYSTERIES OF THE DARK MOON – The Healing Power of the Dark Goddess, Demetra George, HarperSanFrancisco, 1992 Traduzido por Luiza Frazão
“Não basta dizermos que é preciso uma nova relação com o feminino. Aquilo de que precisamos mesmo é de nos relacionar com o lado negro do feminino.” Fred Gustafson, The Black Madonna (Boston, Sigo Press, 1990)
Nas sociedades tradicionais, que reverenciavam a lua como Deusa, a 3.ª fase negra era personificada pela Deusa Negra, sábia e compassiva, que governava os mistérios da morte, transformação e renascimento. Com o tempo, sucessivas culturas foram gradualmente esquecendo o antigo culto da lua, e o antigo conhecimento da ciclicidade da realidade, reflectida nas suas fases perdeu-se.Na nossa sociedade actual a maior parte de nós desconhece o potencial de cura e de renovação que existe como qualidade intrínseca do processo cíclico da fase escura da lua. Em vez disso, associamos a ideia de escuridão à da morte, do mal, da destruição, isolamento e perda. Numa sociedade governada pela clara consciência solar, fomos ensinad@s a temer, rejeitar, desvalorizar e desempoderar tudo quanto se relaciona com os conceitos de escuridão – pessoas de cor, mulheres, sexualidade, menstruação, natureza, o oculto, o paganismo, a noite, o inconsciente, o irracional e a própria morte. Do ponto de vista mítico, associamos todos estes medos da escuridão à imagem do feminino demoníaco conhecido como a Deusa Negra, intimamente relacionada com a lua negra.
Ao longo da história, o poder original da Deusa Negra enquanto renovadora foi esquecido e ela tornou-se assustadora e destruidora. Em muitas mitologias do mundo, ela foi descrita como a Tentadora, a Mãe Terrível, a Anciã que traz a morte. As suas biografias mais tardias descrevem-na como negra, malvada, venenosa, demoníaca, terrível, malevolente, fogosa. À medida que a cultura patriarcal se tornou dominante, ela foi-se transformando num símbolo da devoradora sexualidade feminina que faz com que o homem transgrida as suas convicções morais e religiosas, consumindo-lhe a essência vital no seu abraço mortífero.
Na imaginação mítica das culturas dominadas pelo homem, a sua natureza original foi distorcida e ela tomou proporções horríficas. Enquanto Kali, ela surge nos crematórios, adornada com uma grinalda de caveiras, empunhando a cabeça cortada do seu companheiro, Shiva, escorrendo sangue. Enquanto Lilith, ela voa pelos céus nocturnos como uma demoníaca criatura que seduz os homens e mata criancinhas. Enquanto Medusa, a sua bela e abundante cabeleira tornou-se uma coroa de serpentes sibilantes e o seu olhar feroz transforma os homens em pedra. Enquanto Hécate, ela persegue os homens nas encruzilhadas pela noite com os seus ferozes cães do inferno.
Podemos perguntar-nos por que razão a Deusa Negra apresenta uma imagem tão terrífica e de que modo ela e a sua contraparte psicológica, o feminino negro, ameaçam a nossa sociedade e criam destruição nas nossas vidas. E ainda como é que o seu poder destruidor se relaciona com as suas qualidades de cura que permitem a renovação. De que formas a Deusa Negra representa o nosso medo do escuro, do oculto, da morte, da mudança; o nosso medo do sexo, bem como o do confronto com o nosso ser e essencialmente com a nossa essência e a nossa própria interpretação da verdade. As respostas para estas questões podem encontrar-se na transição de uma cultura matriarcal para uma cultura patriarcal que ocorreu há 5 mil anos. As pesquisas actuais sobre a história antiga, nos domínios da teologia, da arqueologia, da história da arte e da mitologia, estão a trazer à evidência que, com início há 3 mil anos AC, ocorreu uma transformação nas estruturas religiosas e políticas que governavam a humanidade. Sociedades matriarcais que cultuavam as Deusas da terra e da lua, como Innana, Ishtar, Ísis, Deméter e Artemis, deram lugar a sociedades patriarcais, seguidoras do deus solar e dos heróis masculinos, como Gilgamesh, Amon Ra, Zeus, Yahweh e Apolo.
Antes disso, uma conexão entre a morte e o renascimento estava implícita na cíclica renovação da Deusa Lua, cultuada pelos povos antigos. A Deusa ensinava que a morte mais não é do que a precursora do renascimento e que o sexo não serve apenas para a procriação, serve também para o êxtase, a cura, a regeneração e a iluminação espiritual. Quando a humanidade adoptou o culto dos deuses solares, os símbolos da Deusa começaram a desaparecer da cultura e os seus ensinamentos foram esquecidos, distorcidos e reprimidos.
Académic@s contemporâne@s começam a descobrir evidências de como o culto da Deusa foi suprimido, os seus templos e artefactos destruídos, os seus e as suas seguidr@s perseguid@s e assassinad@s e a sua realidade negada. O novo sistema de crenças das tribos dos conquistadores solares patriarcais renegaram a renovação cíclica, negando assim o ciclo natural do nascimento, morte e regeneração da Deusa Lua, o terceiro aspecto da Deusa Tripla. A Deusa Tripla da Lua, na sua fase nova, cheia e escura, era o modelo da natureza feminina enquanto Donzela, Mãe e Anciã. No seu culto original da Deusa Negra, como o terceiro aspecto desta trilogia lunar, ela era honrada, amada e aceite pela sua sabedoria, pelo seu conhecimento dos mistérios da renovação.Durante a prevalência da cultura patriarcal, entretanto, ela e os seus ensinamentos foram banidos e remetidos para os recantos escondidos do nosso inconsciente.(…)Com a diminuição da luz da lua, ela transforma-se na Anciã Negra na lua escura minguante que recebe @ mort@ e @ prepara para o renascimento. Na sua sabedoria que deriva da experiência, ela relaciona-se com a estação do inverno e o mundo subterrâneo. Enraizada na sua força interior, a Deusa da Lua Negra está repleta de compaixão e de compreensão da fragilidade da natureza humana e o seu conselho é sábio e justo.Ela governa as artes da magia, o conhecimento secreto, os oráculos. A Anciã da Lua Negra era artisticamente representada como a terrível face da Deusa que devora a vida, e algumas imagens representam a sua vulva como símbolo da subsequente renovação. Rainhas da magia e do submundo, como Hécate, Kali, Eresh-Kigal, são símbolos da fase minguante da Deusa da Lua Negra.(…)@s antig@s sabiam que tal como ela morria todos os meses com a velha Lua Negra, também renasceria na Lua Nova crescente. Era a Anciã da Lua Negra que tomava a vida no seu útero; mas @s antig@s também sabiam que a Deusa Virgem da Lua Nova daria à luz a nova vida. A anciã era a doadora da morte assim como a virgem era a que trazia o renascimento. A reencarnação era representada pela refertilização da anciã-tornada-virgem. Sabia-se que a interacção contínua entre a destruição que se transforma em nova criação é a eterna dança que sustém o cosmos.
A Deusa Negra eliminava e consumia aquilo que estava velho, degradado, desvitalizado e sem préstimo. Tudo isso era transformado no seu caldeirão e oferecido depois como elixir. Como podemos ver nos seus antigos rituais sagrados, as antigas religiões partilhavam o conceito dum submundo para onde a Deusa Negra conduzia a alma através dos negros espaços do sem forma, onde ela exercia os seus secretos poderes de regeneração.A palavra inglesa “hell” vem do nome da terra subterrânea da Deusa escandinava Hel. O seu subterrâneo não era entretanto um lugar de punição, mas antes o escuro útero, simbolizado pela cave, o caldeirão, o fosso, a cova, o poço. A Deusa Negra não era temida e o seu espaço não era um lugar de tortura. Ela guardava os seus e as suas iniciad@s nos cemitérios, a entrada do seu templo. Através da morte o indivíduo entra no ciclo da fase escura da lua; aí encontra a Deusa Negra que o conduz através da passagem intermédia de volta à vida.
Quando este natural desfecho do tempo de vida era compreendido e aceite, a Deusa Negra era honrada pela sua sabedoria e amada pela sua ilimitada aceitação e compaixão para com os habitantes da terra. Ela não era temida pelos povos que cultuavam a lua, que entendiam a morte como um hiato no tempo entre vidas.
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Published on October 26, 2017 11:47

August 29, 2017

TENDA VERMELHA NO TEMPLO DA DEUSA




“Afirma Borneman que o surgimento do patriarcado foi uma contrarrevolução sexual, na qual se perderam os hábitos sexuais das mulheres (désaccoutumance sexuelle, na versão francesa da obra); que as mulheres só puderam ser subjugadas despojando-as da sua sexualidade, o que é consistente com os mitos originais dos heróis solares e santos, que matam o dragão, a serpente e o touro. O rasto destes hábitos sexuais, que nos chegam através da arte e da literatura, é muito importante porque nos dá uma ideia daquilo que se destruiu com a contrarrevolução sexual.  Um lugar-comum dos hábitos perdidos são os círculos femininos e danças do ventre universalmente encontradas por todo o lado, desde os tempos mais remotos (pinturas paleolíticas como as de Cogull (Lérida) e Cieza (Múrcia), cerâmica Cucuteni do 5.º milénio a C., arte minoica, etc.), que nos falam duma sexualidade autoerótica e partilhada entre mulheres, de todas as idades, desde a infância (...)” Casilda Rodrigañez Bustos (https://sites.google.com/site/casildarodriganez/ A Tenda Vermelha, também conhecida sob a designação em inglês Moon Lodge, é um conceito que se torna cada dia mais popular. Trata-se dum espaço feminino por excelência, reservado aos mistérios do sangue das mulheres, do sangue da vida das mulheres. Ela começa por ser um espaço bonito, o mais possível, decorado com tecidos em tons de vermelho e rosa, como saris indianos, por exemplo, ou outros, e também almofadas, fragrâncias, velas, flores, incensos, óleos de massagem, chocolate ou outras iguarias. Estes são alguns dos itens que contribuem para o ambiente íntimo, sensual e mágico da Tenda Vermelha. Música suave, sobretudo para a meditação inicial, também é importante para que todos os nossos sentidos se deleitem, e que se apaga durante a partilha. Uma partilha em que a mulher que fala sabe que é ouvida com respeito, e compaixão e sem ser interrompida, e por isso costuma haver um bastão de palavra que a oradora segura nas mãos como sinal de que apenas ela detém naquele momento o direito de falar. Sabe também que a sua experiência ecoa a de praticamente todas as presentes, que a ouvem muitas vezes como se a si mesmas se ouvissem. Sabe ainda que quanto mais longe se permitir ir, mais incentivará as outras mulheres a irem também e por isso o bastão de palavra pode passar mais do que uma vez. E de que se fala numa Tenda Vermelha? Pois, óbvio, daquilo de que normalmente não se fala, de todos aqueles temas que a nossa educação se esforçou por nos ensinar a calar, coisas como: “Como foi a tua primeira menstruação?”, “Como foi fazer um aborto?”, “Como foi a tua primeira experiência sexual?”… Coisas que aprendemos a silenciar e que por norma estão carregadas de toxinas emocionais numa sociedade onde os mistérios do sangue e a sexualidade em geral têm sido tabu por tempo demasiado longo. Coisas que aqui poderão ser ditas porque aquela que facilita, que mantém a sacralidade daquela espaço, teve o cuidado de logo no início lembrar a todas as participantes o dever da confidencialidade, o que se diz e se ouve numa Tenda Vermelha pertence a esse espaço sagrado e nele ficará.

Uma Tenda Vermelha recria aquilo que, como disse Casilda Rodrigañez Bustos na citação acima, o patriarcado nos tirou com a sua contrarrevolução sexual. Ela incentiva a intimidade, emocional e física, o toque entre as mulheres, e por isso a massagem é bem-vinda numa Tenda Vermelha. Outros exercícios que reativem o corpo erótico são também apropriados, e muito importantes são também as cerimónias de cura das feridas emocionais que foram entretanto ativadas ou cerimónias de empoderamento. E tudo o que for alegre e expressivo e incentivar a criatividade cabe num espaço assim.
Tendas Vermelhas são necessárias em cada bairro, corroborando o que disse Kay Leigh Hagen, em Fugitive Information: “Alívio para a constante exposição ao homem e às necessidades do sexo masculino é necessário para uma mulher poder perceber a profundidade do seu próprio poder feminino inato, que ela foi condicionada a ignorar, negar, destruir ou sacrificar. Tempo gasto sozinha ou em espaços conscientemente construídos exclusivamente para mulheres permitem-lhe explorar aspectos de si mesma que não podem vir à tona na companhia dos homens.” e Ruth Barret, Women’s Mysteries, Women’s Truth: “Ao darmos prioridade a espaço só para mulheres, seja em espaço ritualístico ou na vida diária, muitas mulheres conseguem encontrar o seu próprio centro e explorar a sua própria verdade.” 
in, A Deusa do Jardim das Hespérides, Luiza Frazão (a sair em outubro de 2017 pela Zéfiro Editores, Sintra, 3.ª edição) 


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Published on August 29, 2017 09:02

August 28, 2017

PROTEÇÃO E AFILIAÇÃO: O MUNDO GOVERNADO PELAS MULHERES SERIA UM LUGAR MAIS SEGURO

Oxitocina vs testosterona... Em situações de ameaça, as mulheres juntam as crianças, defendem @s mais débeis, procuram formas de cooperação com outras mulheres... uma reação tipicamente feminina muito diferente da masculina...


"Apesar da desconstrução do género, iniciada pelas feministas em meados do século XX, ter tomado proporções absurdas na era pós-moderna, quando se defende não existirem diferenças essenciais entre homens e mulheres, um estudo recente sobre a resposta de cada um dos sexos a situações de stresse acrescentou um dado novo que reforça a prova de que existe mesmo uma base biológica significativa para essa diferença.

Os resultados deste importante estudo, conduzido na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) pelas doutoras Laura Cousin Klein e Sherlley Taylor 1, produziu evidências de que o mecanismo de luta-fuga descreve apenas a forma como os homens respondem às situações de ameaça. Em tais situações, os seus organismos produzem testosterona, enquanto nas mulheres essa reação é mitigada pela libertação de oxitocina, que em última análise produz um efeito calmante. Apesar das investigadoras descreverem a resposta feminina ao stresse de forma ligeiramente simplista, “tend and befriend”  (oferta de proteção e procura de afiliação 2), que se traduz na prática por juntar as crianças e colaborar com as outras mulheres, a sua pesquisa documenta mesmo uma diferença significativa na resposta das mulheres ao stresse em relação à do sexo oposto, que é basicamente de luta-fuga. O curioso é que até aqui esta era a resposta considerada ser a norma para qualquer ser humano na mesma situação de ameaça, porque 90 por cento da pesquisa científica das últimas 4 décadas foi feita em indivíduos do sexo masculino. Esse facto levou a que ninguém até à realização desta investigação tivesse reparado no facto das mulheres responderem ao stresse de forma completamente diferente da dos homens.
As investigadoras, entretanto, aprofundaram o seu trabalho e provaram que ter amigas/os mantém as pessoas saudáveis, apontando para, no caso das mulheres, haver mesmo uma necessidade biológica de disporem duma rede de amigas.
As conclusões e interpretações destes estudos que foram publicadas até agora ficaram-se por aqui, mas não precisamos de muito mais para reconhecermos que esta capacidade biológica especial das mulheres - ficarem calmas em situações de stresse e agirem com sabedoria e preocupação em relação às outras pessoas - vai muito para além da simples necessidade de terem amigas: na verdade o que fortemente se infere disto é que o mundo seria um lugar muito melhor se fossem as mulheres a  governá-lo."
1. S. E. Taylor, L. C. Klein, B. P. Lewis, T. L. Gruenewald, R. Gurung, and J. A. Updegraff, “Female Responses to Stress: Tend and Befriend, Not Fight or Flight”, Psychological Review, 107 (3), 41-42 
in The Double Goddess, Vicki Noble
2. Este estudo realizado em Portugal, no âmbito duma tese de mestrado, chega às mesmas conclusões: http://docplayer.com.br/43817558-Seminario-de-investigacao-em-psicologia-clinica-e-do-aconselhamento-julho-2007-resumo.html 
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Published on August 28, 2017 16:44

August 24, 2017

O CONFRONTO ENTRE A RAINHA DO CÉU E O SENHOR DOS EXÉRCITOS OU A DESTRUIÇÃO DA ANTIGA CULTURA PACÍFICA E PRÓSPERA DA DEUSA



 UM ESTRANHO 'AMOR', sem dúvida, o do Deus da Bíblia pelas suas criaturas...
Será que prestamos mesmo atenção suficiente às palavras do Deus de “amor” da Bíblia e seus profetas?… Afinal é este o Livro mais influente da nossa cultura…
“Esta é a palavra do Senhor, que foi dirigida a Jeremias, para todos os judeus que estavam no Egito e viviam em Migdol, Tafnes, Mênfis, e na região de Patros:"Assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Vocês viram toda a desgraça que eu trouxe sobre Jerusalém e sobre todas as cidades de Judá. Hoje elas estão em ruínas e desabitadas por causa do mal que fizeram. Seus moradores provocaram a minha ira queimando incenso e prestando culto a outros deuses, que nem eles nem vocês nem seus antepassados jamais conheceram.Dia após dia, eu lhes enviei meus servos, os profetas, que disseram: ‘Não façam essa abominação detestável! ’Mas eles não me ouviram nem me deram atenção; não se converteram de sua impiedade nem cessaram de queimar incenso a outros deuses.Por isso, o meu furor foi derramado e queimou as cidades de Judá e as ruas de Jerusalém, tornando-as na ruína desolada que são no dia de hoje.Jeremias 44:1-6
"Assim diz o Senhor, o Deus dos Exércitos, o Deus de Israel: Por que trazer uma desgraça tão grande sobre si mesmos, eliminando de Judá homens e mulheres, crianças e recém-nascidos, sem deixar remanescente algum?Por que vocês provocam a minha ira com o que fazem, queimando incenso a outros deuses no Egito, onde vocês vieram residir? Vocês se destruirão a si mesmos e se tornarão objeto de desprezo e afronta entre todas as nações da terra.Acaso vocês se esqueceram da impiedade cometida por seus antepassados, pelos reis de Judá e as mulheres deles, e da impiedade cometida por vocês e suas mulheres na terra de Judá e nas ruas de Jerusalém?Até hoje eles não se humilharam nem mostraram reverência, e não têm seguido a minha lei e os decretos que coloquei diante de vocês e dos seus antepassados"."Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos, Deus de Israel: Estou decidido a trazer desgraça sobre vocês e a destruir todo o Judá. Jeremias 44:7-11
Tomarei o remanescente de Judá, que decidiu partir e residir no Egito, e todos morrerão no Egito. Cairão pela espada ou pela fome; desde o menor até o maior, morrerão pela espada ou pela fome. Eles se tornarão objeto de maldição e de pavor, de desprezo e de afronta.Castigarei aqueles que vivem no Egito com a guerra, a fome e a peste, como castiguei Jerusalém.Ninguém dentre o remanescente de Judá que foi morar no Egito escapará ou sobreviverá para voltar à terra de Judá, para a qual anseiam voltar e nela anseiam viver; nenhum voltará, exceto uns poucos fugitivos".Então, todos os homens que sabiam que as suas mulheres queimavam incenso a outros deuses, e todas as mulheres que estavam presentes, em grande número, e todo o povo que morava no Egito, e na região de Patros, disseram a Jeremias:"Nós não daremos atenção à mensagem que você nos apresenta em nome do Senhor!Jeremias 44:12-16
É certo que faremos tudo o que dissemos que faríamos: Queimaremos incenso à Rainha dos Céus e derramaremos ofertas de bebidas para ela, tal como fazíamos, nós e nossos antepassados, nossos reis e nossos líderes, nas cidades de Judá e nas ruas de Jerusalém. Naquela época tínhamos fartura de comida, éramos prósperos e em nada sofríamos.Mas, desde que paramos de queimar incenso à Rainha dos Céus e de derramar ofertas de bebidas a ela, nada temos tido e temos perecido pela espada e pela fome".
Jeremias 44:17-19https://www.bibliaonline.com.br/nvi/jr/44  
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Published on August 24, 2017 04:25

August 13, 2017

CONFERÊNCIA DA DEUSA DE GLASTONBURY 2017



22.ª CONFERÊNCIA DA DEUSA DE GLASTONBURY
Incrível esta 22.ª edição da mundialmente famosa Conferência da Deusa de Glastonbury, onde pelo terceiro ano consecutivo fui uma das Sacerdotisas do Círculo, designadas este ano por World Temple Priestesses. Éramos nove Sacerdotisas do Templo do Mundo, cada uma de nós simbolizando um dos pilares do Templo, tema representado graficamente nos nossos respetivos estandartes.  Esta Conferência foi ainda mais incrível pelo facto de ter sido a primeira organizada pela dupla Marion Brigantia, Katinka Soetens, a quem Kathy Jones, a fundadora, passou a pasta no ano passado. O par esforçou-se, trabalhou duro, esmerou-se, imprimiu ao projeto a excelente qualidade que já conhecemos do seu trabalho e o resultado foi para lá de brilhante.
 Pessoalmente, sinto-me grata por também ter feito parte do painel das apresentadoras, com um trabalho sobre a nossa Deusa de Duas Faces.

Mas voltando à Conferência, vou mencionar aquilo que mais me marcou no meio dum leque de trabalhos de extraordinária qualidade, o que ao nível dos workshops é apenas uma pequena amostra, uma vez que sendo em simultâneo apenas pude escolher 4. O primeiro deles entretanto já teria valido a deslocação a Glastonbury… Foi dinamizado pelas Mothers of the New Time, lideradas por Yeshe Rabbit Matthews, dos Estados Unidos. 12 mulheres (a 13.ª não pôde deslocar-se), todas elas líderes na sua própria comunidade, trabalhando em conjunto, sem perderem pitada do seu poder pessoal, em irmandade e parceria. Muito curador da forma como fomos educadas dentro do sistema patriarcal a competir e a “dividir para reinar”… Destaco ainda a pesquisa sobre a Deusa na República Checa, um trabalho profundo, criativo, inovador e inspirador, coordenado por Lilia Khousnoutdinova. Também foi inspirador ouvir sobre a criação da Roda do Ano da Deusa no Canadá, por Roz Bound, uma pesquisa vasta e delicada, que, garantiu-nos a investigadora, apenas verá a luz do dia caso obtenha d@s líderes das várias etnias indígenas permissão para incluir Deusas que pertencem aos seus panteões, evitando assim uma apropriação cultural que é outra forma de colonialismo…
Adorei o Egyptian Grove, onde trabalhámos com a poderosa energia de várias Deusas egípcias, uma oficina coordenada pela egiptóloga Olivia Kinsman e por Annabelle Markwick-Staff com a participação de outras sacerdotisas da tradição egícia.
Uma das autoras mais famosas da Deusa, a holandesa Destaco por último a sueca Elin Baath, sacerdotisa, professora e co-fundadora do partido Feminista da ilha de Gotland, na Suécia. Sim, precisamos de descer ao concreto, de meter mãos à obra na transformação do mundo, de trazer uma nova forma de lidar com as questões práticas e concretas, de governar o mundo numa perspetiva diferente, pondo o bem comum em primeiro lugar. Get political! E logo a seguir a grande revelação: a visão MotherWorld (MãeMundo), concebida por Kathy Jones e desenvolvida por um grupo ligado ao Templo da Deusa de Glastonbury, será transformada em partido político em Inglaterra! Blessed be!
No meio disto tudo, deixei para trás coisas fantásticas, como o espetáculo de quinta-feira à noite, the Wonderment Evening, com o show de marionetas sagradas das sul-africanas Aja Nomoya Marneweck, Makgathi Mokwena e Noxolo Blandile e a assistência musical de Heloise Pilkington, do UK. A noite acabou com o drama sagrado, um encontro de Deusas do mundo antigo – “The return of the top girls”… deslumbrante e cheio de graça.
É isso, a conferência de Glastonbury é mais do que um evento, é uma escola onde somos incentivadas a alcançar e a dar o melhor de nós mesm@s e por isso reúne cada vez mais o melhor do mundo inteiro. Abençoada seja!

Só acrescentar como é terapêutico estar num evento criado e abrilhantado por mulheres, sentindo e usufruindo do nosso poder, talento, sabedoria e criatividade - zona livre de patriarcado... Vários homens, que entendem que no centro agora é importante e urgente que esteja o Feminino e a Mulher, colaboram neste evento e são bem-vindos e muito amados e estimados, note-se.

Luiza Frazão
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Published on August 13, 2017 03:30

April 28, 2017

A CONSCIÊNCIA DE AFRODITE

Afrodite, a Deusa Alquímica
Deusa do Amor e da Beleza

 Afrodite inclui-se na categoria muito própria de Deusa Alquímica, uma designação adequada ao processo mágico ou poder transformador que só Ela tinha.

Na mitologia grega, Afrodite era uma presença reverenciada e temida, que levava @s mortais e as divindades (à excepção das três deusas virgens) a apaixonarem-se e a criarem vida. Embora possua algumas características em comum tanto com as deusas virgens como com as deusas vulneráveis, não pertence a nenhum dos grupos.

Afrodite, a deusa que teve mais ligações sexuais, não era definitivamente uma deusa virgem, apesar de se parecer com Ártemis, Athena e Héstia pelo facto de fazer apenas o que lhe agradava. Também não era uma deusa vulnerável, embora se assemelhasse a Hera, Deméter e Perséfone pelo facto de se ligar a divindades do sexo masculino e/ou ter filhos. Todavia, ao contrário dessas deusas, Afrodite nunca foi vítima da paixão indesejada dum homem por ela. Valorizou a experiência emocional com outros mais do que a independência em relação a eles (que movia as deusas virgens) ou os laços permanentes com outr@s, que caracterizam as deusas vulneráveis.

Enquanto Deusa alquímica, Afrodite apresenta algumas semelhanças com as outras duas categorias, apesar de ser intrinsecamente diferente de ambas. Para Afrodite, as relações são importantes, mas não enquanto compromissos a longo prazo com outras pessoas (que caracterizam as deusas vulneráveis). 

Afrodite procura consumar relações e gerar nova vida. Esse arquétipo pode ser expresso por meio de relações físicas ou de um processo criativo.

 O que Ela procura difere do que procuram as deusas virgens, mas Afrodite assemelha-se a elas pelo facto de ser capaz de se focar no que é pessoalmente significativo para Ela; os outros não a conseguem fazer desviar do seu objectivo. E, no facto de o que Ela valoriza ser unicamente subjectivo e não poder ser medido em termos de êxito ou reconhecimento, Afrodite é, paradoxalmente, mais semelhante à anónima e introvertida Héstia que, à superfície, é a Deusa menos parecida com Afrodite.

Qualquer pessoa ou qualquer coisa que Afrodite imbua de beleza é irresistível. Ocorre uma atração magnética entre as pessoas, uma “química”, surgindo um desejo de união acima de tudo. As pessoas sentem um desejo irresistível de se aproximarem, de terem relações, de consumarem a união – ou de “se conhecerem” uma à outra, no sentido bíblico da expressão. Embora essa necessidade possa ser puramente sexual, o impulso é muitas vezes mais profundo, representando uma necessidade tanto psicológica como espiritual. Ter relações é sinónimo de comunicação ou comunhão, consumar pode significar um forte desejo de plenitude ou perfeição, união significa ambas as pessoas fundirem-se numa só e conhecer é realmente compreenderem-se mutuamente. É o desejo de conhecer e de ser conhecida/o que Afrodite gera.

Se conduz à intimidade física, esse desejo pode ser seguido de fecundação e de nova vida. Se a união é também, ou é tão-somente, entre as mentes, os corações ou os espíritos, observa-se um novo desenvolvimento nas esferas psicológicas, emocionais ou espirituais. Quando Afrodite influencia uma relação, o seu efeito não se limita aos aspectos românticos ou sexuais. O amor platónico, a ligação das almas, a amizade profunda, a harmonia ou a compreensão empática são expressões de amor. Sempre que há crescimento, melhoria na compreensão, desenvolvimento do potencial ou estímulo à criatividade (como pode acontecer nas actividades de tutoria, aconselhamento, educação, direção, ensino, psicoterapia), lá está Afrodite, afectando ambas as pessoas envolvidas.

A CONSCIÊNCIA DE AFRODITE 

A qualidade de consciência associada a Afrodite é única. As deusas virgens são associadas à consciência focada e são os arquétipos que permitem às mulheres concentrarem-se no que é importante para elas. A receptividade das deusas vulneráveis equivale à consciência difusa. Afrodite, porém, possui uma qualidade de consciência muito própria, a “consciência de Afrodite”. É focada, embora receptiva; semelhante consciência não só capta aquilo a que presta atenção como é afectada por isso.

 A consciência de Afrodite é mais focada e intensa do que a consciência difusa das deusas vulneráveis. Porém, é mais receptiva e atenta àquilo em que se foca do que a consciência focada das deusas virgens. Por conseguinte não é nem um candeeiro de sala, que ilumina e faz brilhar suavemente tudo o que se encontra no seu raio de alcance, nem um holofote ou um raio laser.

Para Jean Shinoda Bolen, a consciência de Afrodite é semelhante às luzes de teatro que iluminam o palco. O que observamos sob estas luzes da ribalta, acentua, dramatiza ou amplia o impacto que a experiência tem sobre nós. Captamos e reagimos ao que vemos e ouvimos. Essa iluminação especial permite que sejamos transportad@s emocionalmente durante uma sinfonia ou que sejamos tocad@s por uma peça ou pelas palavras dum orador; os sentimentos, as impressões dos sentidos e as memórias brotam de nós em reação ao que vemos e ouvimos. Em contrapartida, as pessoas que estão no palco podem sentir-se inspiradas por uma audiência e estimuladas pela relação que sentem que se está a estabelecer. O que se encontra sob as “luzes da ribalta” absorve a nossa atenção. Somos atraídas/os sem esforço para o que vimos e sentimo-nos descontraídas/os na nossa concentração. Seja o que for que vejamos sob a luz dourada da consciência de Afrodite, torna-se fascinante: o rosto ou o carácter duma pessoa, uma ideia sobre a natureza do universo ou a transparência e forma duma peça de porcelana.

Quem se tenha apaixonado por uma pessoa, um lugar, uma ideia ou um objeto, foca-se neles e capta-os com a consciência de Afrodite. Porém, nem todas as pessoas que usam a consciência de Afrodite estão apaixonadas. A forma “apaixonada”, típica de Afrodite, de prestar atenção a outra pessoa, se ela é fascinante e bela, é característica das mulheres que personificam o arquétipo e é uma maneira natural de relacionamento e de recolha de informações para muitas mulheres (e homens) que gostam de pessoas e focam toda a sua atenção nelas de uma forma intencional.

ma mulher assim apreende as pessoas da mesma forma que um conhecedor de vinhos presta atenção às características dum vinho interessante e desconhecido e se apercebe delas. Para apreciar plenamente a metáfora, imaginemos um entusiasta de vinhos a gozar o prazer de se familiarizar com um vinho desconhecido. Ergue o recipiente contra a luz para observar a cor e a transparência do vinho. Inala o bouquet e sorve lentamente um golo para captar o carácter e a suavidade do vinho; chega a saborear o travo que fica na boca. Porém, seria um erro partir do princípio de que a “atenção afectuosa” e o interesse que revela pelo vinho significam que esse vinho em particular é especial, valorizado ou mesmo apreciado. 

Trata-se do erro que as pessoas cometem frequentemente quando reagem a uma mulher com a consciência de Afrodite. Expostas ao brilho do seu foco, sentem-se atraentes e interessantes à medida que ela as estimula e reage com afeto ou apoio (em vez de com avaliações ou críticas). É o seu estilo de se envolver genuína e momentaneamente com seja o que for que a interesse. O efeito sobre a outra pessoa pode ser sedutor e enganoso, se a sua maneira de interagir dá a impressão de que está fascinada ou enamorada, quando não é esse o caso. 



CONSCIÊNCIA, CRIATIVIDADE E COMUNICAÇÃO DE AFRODITE

Jean Shinoda Bolen refere que descobriu a consciência de Afrodite quando compreendeu que nem a “consciência focada” nem a “consciência difusa” descreviam o que ela própria fazia no seu trabalho de psicoterapeuta.

Ao estabelecer a comparação com artistas e escritores, apercebeu-se de que, no trabalho criativo, funcionava um terceiro modo, que passou a denominar “consciência de Afrodite”. “Numa sessão de terapia, reparei na ocorrência de vários processos em simultâneo. Estou absorta a escutar o meu doente, que tem toda a minha atenção e compaixão. Ao mesmo tempo, a minha mente está ativa, estabelecendo associações mentais com aquilo que ouço. Ocorrem-me coisas que já sei sobre a pessoa: talvez um sonho passado, informações sobre a família, um incidente anterior ou acontecimentos correntes na sua vida que podem estar relacionados. Às vezes surge uma imagem ou uma metáfora. Posso ainda ter uma reação emocional, quer ao material quer à forma como é expresso, reação essa que anoto. A minha mente trabalha ativamente, mas de uma forma recetiva, estimulada pelo facto de estar absorta na outra pessoa (…).”

A consciência de Afrodite está presente em todo o trabalho criativo, incluindo naquele que se realiza na solidão. O diálogo da “relação” processa-se pois entre a pessoa e o trabalho, do qual emerge qualquer coisa nova. É uma troca entre o artista e a tela e o resultado é a criação de qualquer coisa que antes não existia. 

 Fonte: Jean Shinoda Bolen, AS DEUSAS EM CADA MULHER, Planeta Editora

Imagens: altar de Afrodite
              Alexander Rokoff
              Vénus Verticórdia, Dante Gabriel Rosseti
              Afrodite Urânia, Christian Griepenkerl
              Herman Smorenburg
              Laurie Blank

Tudo sobre Afrodite/Vénus: http://pt.fantasia.wikia.com/wiki/Afrodite
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Published on April 28, 2017 14:06

April 26, 2017

AFRODITE, GRANDE DEUSA MÃE, MOSTRA-NOS O CAMINHO



Nenhuma outra deusa representa as qualidades femininas do amor e da beleza como Afrodite. Esta deusa grega é na verdade a mais antiga encarnação da Grande Mãe, Deusa da Fertilidade e de tudo o que é. Trata-se dum arquétipo que remonta a um tempo porventura ainda anterior ao Neolítico.

Todas as figurinhas redondas representando a Deusa Mãe encontradas na Europa e na Ásia são chamadas Vénus, tal como a Vénus de Willendorf, a Vénus de Lespugue, a Vénus de Dolni, etc. Elas representam a forma mais antiga do sagrado feminino, a Grande Deusa. Vénus é a Sua homóloga romana mais moderna, mas esta divindade não representa a ligação profunda e o amor pela terra e por todas as suas criaturas, nem a associação com a Lua Cheia e a fertilidade, como a Grande Mãe.

O nome “Afrodite” significa “nascida da espuma do mar”, do oceano, do útero da Grande Mãe. Diz-se que o seu local de nascimento é perto da Ilha de Chipre, embora outr@s digam que Ela vem das estrelas. O Seu mito, no entanto, descreve-A sempre surgindo no mar ou dirigindo-se para a terra vinda do mar. Neste sentido, podemos considerar que Afrodite deu origem a si mesma, tal como nós podemos renascer de nós mesmas, vendo-nos duma forma completamente nova.


Há várias representações da Deusa olhando-se num espelho, o que evoca o tema da Deusa refletindo-nos a nós mesmas. Ao vermos a deusa do amor e da beleza na forma de Afrodite, vemos o nosso próprio amor e beleza e todas as suas possibilidades devolvidas a nós mesmas. Ao vermo-nos a nós mesmas desta maneira, através da lente do divino feminino, com novos olhos, por assim dizer, nós renasceremos numa nova forma feminina, e muito bela aos nossos olhos, e poderemos amar cada parte de nós. Todos os nossos defeitos e imperfeições desaparecem. Para a atriz Alfrie Woodard “Tod@s tempos uma parte do nosso corpo de que não gostamos, mas eu deixei de me queixar do meu porque não quero criticar o trabalho da própria natureza. A minha tarefa consiste apenas em permitir que a luz faça brilhar esta obra-prima.”

Devemos aprender a amar-nos a nós mesmas, a aceitar a confusão e os erros das nossas vidas, todos os solavancos e protuberâncias, dúvidas e medos, para, com muito amor, as podermos transformar. Diz-se normalmente que Afrodite é uma Deusa alquímica, pela Sua capacidade de nos transformar a partir do nosso interior. Quando conseguimos amar as nossas imperfeições, podemos amar as das outras pessoas, trazendo para a nossa vida mais tolerância e aceitação, ingredientes indispensáveis na alquimia do amor. Quando deixamos de nos julgar, deixamos de julgar também as outras pessoas. Quando deixamos de sentir a necessidade de nos criticarmos a nós mesmas, deixamos de sentir a necessidade de criticar as outras pessoas. Afrodite mostra-nos o caminho permitindo-nos ver que cada forma de beleza tem as suas falhas e que a perfeição é uma ilusão, um exercício de futilidade destruidor da alma.

Se nós aceitarmos, e se até amarmos os nossos defeitos, as nossas peculiaridades, as nossas “perfeitas imperfeições”, nós redefiniremos o conceito de beleza incluindo nele a nossa própria forma, a nossa humanidade. É por isso que precisamos de aprender a cuidar de nós mesmas duma forma radical. Precisamos de aprender a amar-nos a nós próprias primeiro porque só assim seremos capazes de amar outras pessoas de forma completa. Isto não significa que eu me torne narcísica, mas sim que eu comece o amor por mim mesma e só então ele irradiará para fora de mim.


Demasiadas vezes as mulheres sentem-se vazias, esgotadas, mas sempre a dar aos outros, esquecendo-se de si próprias. Esquecemo-nos de encher o poço. E para isso precisamos de nos sentir merecedoras e é aí que surge Afrodite. Embora haja várias formas de olhar para o arquétipo de Afrodite, eu escolho vê-la como uma Grande Deusa Mãe, que nos pode ajudar a amarmo-nos a nós mesmas, a vermos a nossa própria beleza e a tomar melhor cuidado de nós. Toda a boa mãe sente que a sua filha e o seu filho merece muito amor. Sem dúvida que Afrodite sente que merece muito amor e prazer e Ela sabe que nós também merecemos. Precisamos de pôr esta ideia em prática, de redescobrir e intensificar a nossa natureza sensual, para nos descobrirmos a nós mesmas através da criatividade e aprendermos a ir mais fundo na vida e especialmente a amarmo-nos e a cuidarmos melhor de nós mesmas.

http://owlandcrow.saladd.com/2012/02/... (traduzido e adaptado por Luiza Frazão)
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Published on April 26, 2017 04:12

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Luiza Frazão
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