Joel Neto's Blog, page 91
June 26, 2012
A televisão a bater no fundo e o fundo a descer ainda mais um bocadinho

O problema do desinteresse de RTP, SIC e TVI na Superliga de futebol não é o cumprimento do serviço público. Nem a divulgação do futebol como diversão possível para um tempo de crise. Nem mesmo o desenvolvimento da indústria futebolística. O problema é a preservação da TV generalista como modelo. Já aqui o escrevi várias vezes: não acredito na sua longevidade. Mas, virando ela tão claramente as costas a um símbolo da sua própria existência como é o campeonato nacional, então sento-me já aqui nesta cadeira, a fazer cruzinhas no calendário até que, enfim, venha o Alma Grande e lhe dê o abafamento. Os senhores programadores devem pensar que conseguem fazer sobreviver isto só com variações de A Tua Cara Não Me É Estranha. Esquecem-se de que talvez tenham de esperar outros cinco anos por milagre igual. De resto, o facto de A Tua Cara Não Me É Estranha esmagar semanalmente Ídolos nas audiências diz tudo. Este público gosta muito do talento e gosta muito de concursos e gosta muito de galas, mas aquilo de que gosta mesmo é de voyeurismo. Aparentemente, apenas os “famosos”, hoje em dia, são uma aposta segura. Nem sequer as emoções dos derbies e dos clássicos de futebol se lhes podem comparar. Queira-se ou não, o desinteressa dos canais generalistas no campeonato nacional também é sinal de que a TV portuguesa vai voltar a piorar. Ou, pelo menos, está disposta a chantagear o mercado com esse cenário, o que não é tão diferente quanto isso. E nós à espera da tal revolução criativa com que a cultura popular sempre riposta em momentos de crise económica. Já nem as crises se fazem como antigamente. Haja coração./DN
Cá para mim isto agora até já é uma questão de honra, miúdos

Dir-me-ão que Fàbregas é um bom miúdo. Dir-me-ão que é franco e assertivo. Dir-me-ão mesmo que alguém que se queixa da vacuidade do discurso dos futebolistas, como eu já aqui fiz, não pode reclamar agora por Fàbregas ter encarado de frente as perguntas sobre Portugal, assumindo claramente que o adversário de amanhã é mais forte se jogar em contra-ataque. A mim, que sou um desconfiadão, a sua condescendência entrou-me pelos olhos adentro. Tivesse verdadeiro respeito por nós e Fàbregas não se punha a sugerir-nos a melhor táctica para valorizar a meia-final do Europeu e, como tal, engrandecer a vitória espanhola. Só espero que os jogadores portugueses tenham ficado tão enfurecidos como eu. A fúria já provou ser o nosso melhor tónico. Aliás: tenho aqui compilado um monte de exemplos históricos em que fomos alvo da condescendência, da sobranceria e do paternalismo espanhóis. Se for preciso fazê-los chegar à Ucrânia, apitem que o email segue já. Quero essas bocas a verter espuma, rapazes. Andam a pedir-nos que ao menos demos alguma luta. Mas estão a brincar connosco, ou quê?
Não tarda vêm-me outra vez com a Nossa Senhora, não?

Espero que a opção de jogar de branco frente a Espanha, tomada pela comitiva nacional, tenha a ver com factores comerciais. Ou seja: que tenha nascido por pressão da Nike, convicta de que a camisola branca tem mais potencial nas lojas. Sempre é melhor do que termos escolhido o branco em vez do vermelho por superstição, na suspeita de que a camisola em causa dá mais sorte. Ninguém quer mais do que eu o regresso do velho futebol, feito de homens em vez de autómatos. Mas, caramba, nem eu sou tão saudosista. Galinhas pretas, preparados de azeite e alho e camisolas-talismã – por favor, mantenham-se longe./O JOGO
É preciso nunca descurar o poder do desdém e da maldade humana em geral
Algumas leitoras zangaram-se por eu ter escrito ontem que futebol é coisa de homem. Até parece que tomar de assalto o universo masculino não é precisamente o maior gosto delas ao aproximarem-se do futebol./O JOGO
June 25, 2012
Um lugar a que possas chamar teu
Casa cheia, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, para o último lançamento de "Os Sítios Sem Resposta", com (extraordinária) apresentação de Cunha de Oliveira. Faltam duas sessões de leitura, mas o essencial está feito. Agora, e em definitivo, o novo romance. Já era tempo. (foto © Margarida Quinteiro)
Caminhadas de final de tarde III
A cultura pop e a sua visãozinha do mundo andam mesmo uma merda
Estes senhores não saberiam o que é a sensualidade nem que fossem atropelados por um monte de Kate Winslets da fase supercheinha correndo nuas atrás de um fondue de chocolate esvoaçante.
Já estou que não posso com isto da "mulher de jogador"
Tenho, já se sabe, uma visão particular sobre a relação entre as mulheres e o futebol. Em regra, acho que se trata de uma relação contranatura. Futebol é coisa de homens e para homens. Quando se trata da seleção, porém, descubro-me cheio de bonomia. Por mim, elas podem participar. Até nos ajudam a assimilar a ideia de conclave de nacionalidades, tão diversificados (e bonitos) são os rostos em desfile nos nossos televisores. Outra coisa é isto da mulher do jogador. Ou da namorada. Durante décadas, conhecíamos apenas meia-dúzia e olhávamos para elas ao mesmo tempo com respeito e desdém. Eram elas quem proporcionava aos nossos heróis a estabilidade necessária ao heroísmo, mas também quem lhes tirava o tapete nos momentos menos oportunos. Depois, apareceu a moda das manequins. Foi o tempo de Adrianna Karembeu, de Victoria Beckham. No fundo, significavam uma aspiração. Os nossos heróis tinham mulheres lindas e isso era mais uma razão para nós querermos ser como os nossos heróis. Nada como a banalização de agora, porém. Por esta altura, não há duas ou três. Na verdade, não há futebolista que não tenha a sua mulher-troféu, não há sopeirinha mais ou menos apetrechada de busto que não procure o seu jogador da bola e não há casamento que não pareça uma brincadeira feita à medida das revistas do coração. Isso é verdade o ano todo e é ainda mais verdade neste tempo de grandes competições internacionais. E, com franqueza, chega. Não é só a mim que vai faltando a paciência para isto, pois não?/O JOGO
Nunca mais é quarta-feira

Se eu gostava mais que França tivesse batido Espanha, não era pela facilidade do jogo das meias-finais. O que eu acho é que, se Portugal alguma vez estivesse preparado para ajustar com a França as contas de três meias-finais perdidas, seria este ano. De resto, o jogo português encaixa melhor no espanhol – e a profusão de selecionados portugueses que jogam ou jogaram em Espanha ajuda a desmistificar o adversário. Confesso: estou confiante. Oxalá quarta-feira fosse já hoje./O JOGO
June 24, 2012
TERRA CHÃ, 24 DE JUNHO DE 2012
Ando sem vontade de ler romances. É sempre assim quando dou por mim à procura de um novo autor: quase toda a restante ficção – restante para além desse que ainda nem sei quem é, e cujo obra em breve percorrerei de uma ponta à outra – me aborrece. Por outro lado, o "borderCrossings", de Vamberto Freitas, deixou-me cheio de vontade de ler ensaio sobre literatura. Como tenho toda essa parte da biblioteca em Lisboa, fui ontem de manhã à procura de "O Cânone Ocidental", de Harold Bloom, cuja leitura venho adiando há tanto tempo. Parei na In Folio – está fechada ao sábado. Dei um salto à Loja do Adriano – não havia sequer ideia do que eu estava a falar. Hoje peço-o à Solmar, de Ponta Delgada. Pois já aí vem pelo correio. De facto, falta um livreiro a sério em Angra. O proprietário da Loja do Adriano, por exemplo, viu-me entrar e acorreu solícito, simpático. Queria mostrar-me os livros meus que tinha à venda. Mas só sabia da existência de três, o último deles de 2007. Não se dera conta nem de uma das dezenas de reportagens e entrevistas publicadas e transmitidas a propósito de "Os Sítios Sem Resposta". E, por outro lado, a Porto Editora, que lhe vende milhares de livros escolares por ano, tabém não o havia informado, nem da "Banda Sonora", nem d'"Os Sítios". Felizmente, há a Tabacaria Angra, dos meus amigos Armando, Carlos e Álvaro. Sem o seu profissionalismo e a sua amizade, nunca os terceirenses leriam livros meus.


