Joel Neto's Blog, page 95
June 20, 2012
Bom, é claro que, se fosse com Mário Soares...
... não havia problema nenhum. Na verdade, até dava para uma ou outra gabarolice nos livros de memórias.
O blog mais simpático para este, pelo menos da parte dos bem-sucedidos...
... é transformado em livro na sexta-feira. E eu, se estivesse em Lisboa, ia lá dar um beijinho à Sónia.
A isto se chama um estupor de um desperdício

É impressão minha ou, apesar da chegada aos quartos de final, continuamos a celebrar bastante comedidamente a carreira da seleção? As televisões fazem um esforço, os jornais dedicam-se de alma e coração. Mas não há bandeiras nas varandas, não há um hino consensual a ecoar a todo instante de cada janela aberta, a própria publicidade parasitária parece muito menos criativa. Ou muito me engano, ou falhámos uma bela oportunidade de exercitar a alegria. E, se calhar, valerá a pena recordá-lo da próxima vez, antes de estragarmos tudo com a obsessão de ajustar contas pelo mau momento coletivo que vivemos com quem não só não tem culpa, como ainda por cima nunca nos cobrou o que quer que fosse./O JOGO
Estou aliás pronto a marchar em defesa das causas feministas

Não sei quanto a vós, mas eu estou a adorar as manifestações das feministas ucranianas. Claro que, se o protesto é contra o turismo sexual, talvez não seja completamente boa ideia fazer tão belas exibições do produto que os turistas em causa mais procuram. Mas por mim, repito, estão à vontade. Isto a vida são dois dias – e o primeiro já foi ontem./O JOGO
As previsões de Platini são apenas um fait-divers (ou não serão?)

Certo: eu também preferia que Michel Platini tivesse vestido a camisola da equidistância, honrando as velhas e sofisticadas tradições europeias da independência e da igualdade de oportunidades. Sobretudo depois de, há uns tempos, ter dito que já nem era francês, mas suíço (por via do cargo de presidente da UEFA, isto é). Mas – por favor – previsões como a que ele fez, adivinhando uma final Espanha-Alemanha no Euro 2012, são mato noutras modalidades desportivas, em particular nos EUA. Destinam-se, acima de tudo, a promover o produto posto à venda. E, se nós não queríamos que o futebol se gerisse segundo as regras do capitalismo, então não devíamos ter deixado que a Champions League se tornasse no supremo modelo de competição de sucesso. O problema nasceu aí (e com Lennart Johansson), não neste Europeu (nem com Platini)./O JOGO
Tudo isto era apenas triste se não fosse absolutamente deprimente
Leio no inefável Sapo Fama: Luciana Abreu terminou as mudanças da moradia da Moita em que residia com Yannick Djaló e levou consigo quase todo o recheio; deixou a irmã Luísa a tomar conta da casa e ainda uma mobília do quarto; a irmã vai continuar a viver lá, uma vez que está a acabar o 9.º ano nas Novas Oportunidades da Escola Técnica e Profissional da Moita e era complicado ir todos os dias de Cascais.
É uma injeção de realidade. De vidinha. Leio a história e imagino logo as duas irmãs sentadinhas no sofá, assistindo à telenovela e aproveitando os silêncios para discutir os seus próprios dramas. E, no entanto, a imprensa engole isto. Liga diariamente a Luciana - e Luciana vai contando que levou o Smart e o Mini Cooper, que foi aos serviços municipalizados mudar a titularidade da conta da água, que avisou a mulher a dias que agora só receberá seis euros à hora e que as duas deram as mãos e choraram muito.
E os portugueses engolem-no também. Estão verdadeiramente solidários com a dor de Luciana, tanto quanto no passado estiveram encantados com os seus talentos musicais (primeiro) e com as suas maminhas de plástico (depois). E na verdade só têm pena de que as revistas não tragam um número de valor acrescentado para eles poderem votar que o Yannick é um grandessíssimo sacana.
É o público que temos e, claro, é o star system que temos também. Pedir melhor televisão, num contexto destes, seria uma quimera. Um público destes quer telenovelas, reality shows e galas musicais - e é telenovelas, reality shows e galas musicais que tem de se lhe dar. E assim a TV generalista se vai enfiando num gueto cada vez mais apertado./DN
June 19, 2012
Ai, que não tardam aí as tecnologias do Rui Santos

Perguntamos: "Para que gaita servem os árbitros de baliza?". E perguntamos bem, porque como nos mostrou o Inglaterra-Ucrânia os erros de arbitragem são possíveis mesmo com eles, e inclusive na matéria a que eles deveriam dar mais atenção (a linha de baliza). O pior é que, com o fracasso concretizado, o próximo passo há-de ser a tal coisa da "tecnologia de baliza". O Rui Santos ficará contentíssimo, claro. Já eu acho que o futebol tornará a perder um pouco mais do seu encanto. Primeiro, porque a linha de golo não é o principal palco dos equívocos de arbitragem (muito mais drama têm os penáltis e os foras-de-jogo), o que causará uma falsa ilusão de blindagem ao erro. Depois porque, no dia em que o jogo for tão transparente que não deixe espaço à dúvida, restará o quê? Futebol é debate, mais do que qualquer outra coisa. É discussão, acusação, insulto. Tanto quanto me parece, já há demasiada transparência nele – e, naturalmente, demasiada tecnologia também. Há câmaras, microfones, altifalantes. Há comentadores, especialistas, pivôs. Encontrar alguma coisa sobre a qual ainda haja dúvidas já é um suplício. Resta-nos o árbitro. E eu não quero vê-lo substituído por uma máquina. Quero dar um nome à minha frustração – e quero que esse nome seja o de um homem.
Nunca mais é sexta-feira.
Uma coisa a que eu assistiria se estivesse em Lisboa
O bom-gosto em vez da pertença, ao menos esta semana

Pior ainda do que a graçola do “checo com cobertura”, que não tarda começa a desfilar a pretexto do Portugal-República Checa de quinta-feira, tem sido isto das analogias piadéticas entre o embate Grécia-Alemanha no Euro e o suposto braço de ferro Grécia/Alemanha quanto à presença dos gregos no euro. Pior: o Grécia-Alemanha apenas se joga na sexta-feira, o que não só permite prolongar o piadismo, como provavelmente acabará por oferecer-lhe parte do soundbyte do fim de semana. Em princípio, confesso, torço pela Grécia. Não por via desta nova (e bastante deprimente) solidariedade entre os pobres da União, note-se: apenas porque à Alemanha não ganhamos nunca e, se os gregos pudessem fazer-nos o favor de os afastar desde já da final, tanto melhor. Mas preciso de acreditar que os jornais e as rádios e as televisões e o Facebook e as conversas de café não estarão no sábado inundadas de piadolas em torno da crise e da dita “vingança grega”. Seja para isso e saio já sambando com uma bandeira da Mannschaft sobre os ombros. Pelo amor de Deus: é que não se aguenta!/O JOGO


