Joel Neto's Blog, page 36

May 11, 2014

Ou talvez fosse por o dono do restaurante também ser das ilhas

Almoço de amizade e de trabalho - sereno e num lugar especial. Lisboa fervilhante de criatividade, entusiasmo e oportunidades. Talvez seja da Primavera, ou talvez sem estes dois anos de distância eu não conseguisse vê-lo tão claramente. Tenho de voltar a passar mais tempo nesta cidade.


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Published on May 11, 2014 12:14

Tudo isto para usar a expressão "Larga-me da mão"

E, pronto, agora extraí um pequeno tumor na pele. Coisa simples, aparentemente, sem profundidade e sem biópsia. Mas ainda assim. Um tipo chega aos quarenta anos e todos os dias encontra uma maleita nova. Despistá-la ou não? A B., que é enfermeira, diz que sim – que não ignorar os sinais é o único caminho para uma boa saúde. Pergunto-me que vida viveremos de tal sorte. Ainda há dias dei comigo com os pés inchados, do calor. E logo um amigo cirurgião cardiovascular, coincidentemente presente: “Pode ser início de enfisema.” Respondi: “Eu tenho 40 anos, pá. Tenho tudo no início. Larga-me da mão.” Vou acabar hipocondríaco.

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Published on May 11, 2014 12:12

Coisas horríveis que ofendem a nossa sensibilidade


Acho que fomos uma turma divertida e trabalhadora, diligente em cima do palco e foliona fora dele, e talvez fosse preciso um público como o brasileiro, ao mesmo tempo descontraído e ávido, para apreciá-lo. Curiosamente, falou-se mais de literatura no Flipoços, nas sessões públicas e nos momentos privados, do que em dois terços dos outros certames em que participei. Posso estar errado, mas a impressão que tenho é a de que os festivais portugueses estão hoje demasiado politizados. Fala-se cada vez mais de Passos Coelho, cada vez menos de literatura, apenas o suficiente do acto criativo e quase nada da relação com o leitor. Pelo contrário, em Poços de Caldas, onde todos éramos até certo ponto malditos – malditos perante a crítica, malditos perante o grande público ou malditos perante os dois –, falou-se em permanência de literatura, desde a ideia original (desde antes disso, aliás: desde essa inquietude só depois decifrada como necessidade de escrever, e só depois ainda enformada como ideia) ao momento da assinatura do autógrafo, e mesmo para além dele. E, então, eu pude receber uma das mais extraordinárias lições destes quinze anos que levo a escrever e a publicar: simplesmente assistindo ao modo como trabalham Luís Miguel Rocha e Eric Frattini – como lidam com a organização de um evento, como gerem os tempos e os conteúdos de uma sessão pública, como comunicam, como se relacionam com um livreiro e com o leitor diante deste. Tudo coisas horríveis, que ofendem a nossa sensibilidade, como perguntar o nome das pessoas, efectivamente olhar nos olhos delas, perceber o que os livros lhes dizem e as razões por que elas os procuram. Espero aprender muito mais.

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Published on May 11, 2014 12:10

Lição a reter: proibido fazer vídeos quando se está com os copos

Poços de Caldas é uma cidade de 160 mil habitantes, situada no Sul de Minas Gerais, com São Paulo como principal referência geográfica. É bela. Parece às vezes uma pequena metrópole sul-americana, sôfrega e caótica, mas depois irrompe em praças arborizadas e serenas a que os hibiscos e as azáleas acrescentam uma declinação fértil, tropical-húmida.  Está em quinto lugar no ranking brasileiro de qualidade de vida e em primeiro nos índices de leitura de Minas Gerais, mérito que talvez apenas a profusão de literatura espírita e/ou de auto-ajuda obscureça um pouco. Fomos felizes durante aquela semana. Passeámos rindo e depois demorámo-nos pelos cafés e pelos restaurantes, rindo ainda. Alguns subiram à Serra de São Domingos, de teleférico, e outros até foram jogar golfe, como Ruben A. teria ido. Entendemo-nos tão bem com o lugar e uns com os outros que fizemos um vídeo com uma canção da moda, dançando pela cidade. O Teatro da Urca, epicentro do festival, acompanhou-o com palmas, e, quando na tela apareceu o Miguel Roza, vibrando em piruetas apesar dos seus 84 anos, pôs-se de pé. No fim, umas garotas literatas vieram dizer-nos que as intervenções dos portugueses haviam sido o ponto alto não apenas desta edição do festival, mas das três últimas. Uma delas tinha acabado de declamar para a câmara do PGM, de cor, todo o “Tabacaria”, de Pessoa.

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Published on May 11, 2014 12:07

Uma indústria que às vezes dá vontade de rir


Quatro escritores portugueses num festival brasileiro tornavam inevitável que em algum momento se levantasse a questão do Acordo Ortográfico de 1990. Éramos em geral contra, e eu pessoalmente lamento que (por um lado) as editoras e (por outro) os jornais portugueses tenham cedido à tentação de alinhar. Independentemente do grau de desespero de cada uma das duas indústrias, os resultados comerciais perseguidos são e serão nulos. Houvessem eles resistido, e a aberração já teria abortado. De resto, íamos na comitiva três autores sem livros editados recentemente no Brasil. Eu já nem me desgastei em esforços para que, no dia em que chegasse a Poços de Caldas, lá estivessem os meus livros portugueses, prontos a assinar. Um dos meus colegas começou a fazer contactos seis meses antes, telefonou e mandou e-mails ao longo do Inverno todo, acabou por passar o festival a caminho da livraria onde os volumes deveriam chegar, e onde todos os dias chegariam de certeza absoluta no dia seguinte – e depois ainda deu um salto a São Paulo, na esperança (insana) de encontrá-los pelo menos, e como combinado, na sucursal da Avenida Paulista.  Outro, é verdade, foi mais prático: levou ele próprio os livros, pô-los à venda e assinou-os. Mas em nenhum dos casos, de todo o modo, as editoras levantaram um dedo. Não levantaram porque não conseguem levantar – é simples. Para que aceitaram este Acordo Ortográfico, então? Para vender livros no estrangeiro é que não foi, de certeza absoluta.

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Published on May 11, 2014 12:01

Hei-de levar uma mala só com queijo Minas

O que nós temos comido esta semana, meu Deus…



 

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Published on May 11, 2014 11:59

Tornei-me um sacana de um cliché

Telefonei à Jorgina assim que aterrei em São Paulo, e entretanto já voltei a telefonar duas vezes. Tenho saudades do meu cão.

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Published on May 11, 2014 11:56

O dia em que eu inventei uma namorada mineira

Correu muito bem, a nossa sessão no Teatro da Urca. Nenhum tempo para escrever sobre ela, infelizmente. Ou nenhuma vontade. A ver se, no fim, consigo alinhar umas ideias.


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Published on May 11, 2014 11:54

April 25, 2014

A qualidade de ser íntimo – apenas isso, talvez

Hoje escrevi isto sobre um homem que morreu: "Era simpático e o homem a quem o tímido se dirige, em busca de afago, ao entrar numa sala que lhe parece hostil." Não conheço qualidades muito superiores a essa.

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Published on April 25, 2014 14:02

Abril não tem dono – e, se tem, somos nós todos


A programação televisiva dedicada ao 25 de Abril tem sido muita e diversa, e o esforço de produção feito pela generalidade das estações nacionais, generalistas e temáticas, de acesso livre e de distribuição por cabo (ou afins), é o primeiro dado a reter. Em regra, e para além da oportunidade que a data representa do ponto de vista da conquista e da fixação de audiências, a nossa televisão tem procurado estar à altura das suas responsabilidades.



Encontro-lhe sobretudo um descuido, aliás transversal à comunicação social portuguesa, jornais incluídos: um evidente desequilíbrio entre o protagonismo oferecido às figuras da extrema-esquerda, por oposição ao espaço permitido às restantes personalidades públicas, partidárias ou não, do nosso espectro político. Isso acontece em parte porque os partidos portugueses situados à direita do PS (em especial estes) continuam a celebrar demasiado envergonhadamente a data, como se no fundo ela não lhes pertencesse. Mas acontece também porque se convencionou fazer assim.


O 25 de Abril, para os media portugueses, TV incluída, é da esquerda em geral, e da extrema-esquerda em particular. Chega-se a entrevistar, para documentários, dirigentes do Bloco de Esquerda com catorze anos de idade.


E talvez nada comprove que Abril permanece um ideal (como, aliás, permanecerá sempre) como a necessidade de dizê-lo. Mas é de facto preciso dizê-lo: o 25 de Abril é um monumento à liberdade e deve ser a festa da democracia – de toda a democracia. Foi feito por homens que eram de esquerda e por homens que não eram de esquerda e deve ser celebrado em público, transmitido ao público e legado às novas gerações como a data que nos une, e não como a data que nos separa.

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Published on April 25, 2014 14:01