Joel Neto's Blog, page 37

April 24, 2014

Ainda não está com o aspecto que eu quero, mas vai ficar

Está montada a horta. Veio cá o Chico Pamplona, para dar uma ajuda, e plantou em três horas o que eu levaria duas semanas a plantar: feijão verde e milho doce com fartura, os inevitáveis tomateiros (a que o Rodrigo vai juntar mais três ou quatro pés de uma espécie maluca, vietnamita ou assim), pimentos, nabos, beterraba muita, muita alface. Ficam a faltar as beldroegas, que vou trazer do Pezinho de Nossa Senhora este fim-de-semana, mais as abóboras, os alhos e pouco mais. A ver se ainda consigo deixar prontas, antes de viajar, as estufinhas e as redes. E assim se dá por iniciada a melhor fase do ano. Em 2015 marco umas férias em Março, para ir espairecer algures. Uf.


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Published on April 24, 2014 01:47

Mas os totalitaristas são donos da luta contra o totalitarismo?

Que sentido fazem documentários televisivos sobre o 25 de Abril a partir de entrevistas a dirigentes do Bloco de Esquerda com 14 anos de idade? A extrema-esquerda não é dona do 25 de Abril. Ainda é preciso dizê-lo, e talvez nada demonstre tão bem  que Abril continua por cumprir em pleno.

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Published on April 24, 2014 01:27

April 23, 2014

Contra-sensos que explicam o milénio e a espécie

No fundo, é apenas isto. Alguém que escreve diariamente vai a escrever "Se eu tivesse inscrevido o meu nome na lista, talvez tivesse sido seleccionado" e logo se obriga a escrever "Se eu tivesse inscrito o meu nome na lista, talvez tivesse sido seleccionado" – depois vai a escrever "Se a Scarlett Johansson tivesse ganhado um Óscar, tínhamos podido ver mais fotos dela" e logo se obriga a escrever "Se a Scarlett Johansson tivesse ganho um Óscar, tínhamos podido ver mais fotos dela". O mais provável é que as conjugações originais, sendo a certas, não passem no revisor – e, se passarem, lá estará o leitor, sempre judicioso, na caixa de comentários online (quando não os próprios colegas, zangadíssimos, nos grupos de Facebook): "Ganda palhaço! Estes jornalistas são uns grandes ATRASADOS MENTAAAAIS. Não é 'inscrevido' nem 'ganhado', ó FDP!" É metade do retrato de um tempo. A outra metade é o escriba forçar-se a escrever mal só porque já não tem pachorra para insignificâncias.


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Published on April 23, 2014 02:38

April 20, 2014

Um domingo para esquecer

Chovem carroças no dia em que o Benfica vai ser campeão. Uma desgraça nunca vem só.



 

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Published on April 20, 2014 06:06

E haverão de procurar-me no outono e na bagacina


O poema do Rui Cóias, apesar de tudo:



 


“16.


 


O mar invadiu as outras costas, chegou ao centro da ilha. Não sinto.


 


Subiu no nevoeiro pelo lado do vulcão, mas não o sentimos, perto da urze.


 


A chuva vem caindo há semanas inteiras enquanto mordemos o mentastro.


 


Posso agora atenuar a voz, deixá-la junto a ti, para que te acompanhe.


 


Vai depressa. Vai, e se quiseres, perdoa-me. Mas simplesmente


vai e recua apenas o tempo de colher as framboesas.


 


Então perdoa-me.


 


A verdade é que recomeçarei a fuga, traçarei nos mapas o clarão nocturno


e o perigo do arquipélago visível. E tudo o que me resta é sossegar.


 


Farei da memória a função do geógrafo. E adormecerei, despercebido.


 


A minha companhia levar-me-á de porto em porto, até sinal teu já não haver.


 


Hei-de regressar às cidades, mas quando ficarem cobertas de um pó fino.


 


E na enseada do ouvidor, dirão um dia poder encontrar-te em certa ilha


entoando sapateias aos amantes que vieram ouvir a nossa história.


 


Não temo o meu anjo, aguardarei que me chame, até ficar ferido.


 


E haverão de procurar-me no outono e na bagacina, meu amor...”


 


RUI CÓIAS


In “A Função do Geógrafo”


Edições Quasi, Dezembro de 2000

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Published on April 20, 2014 06:03

Selfies, investimentos narcísicos e polegares oponíveis


Tudo aquilo sobre que não escrevi nas últimas semanas.


O que verdadeiramente acho sobre o fenómeno Manuel Forjaz, o modo como viveu os seus últimos anos e a maneira como o país, a comunicação social e uma certa classe social os viveram com ele. O jantar com os Capareiras no Ti Choa, numa noite fria, em que a dada altura se levanta o António Pinto da Basto para cantar Sinatra e depois voltamos dois, eu e a Catarina, a ouvir aos berros o “Down To The Waterline”, uma das canções da adolescência que efectivamente ainda se conseguem ouvir. O encontro com Alberto da Ponte em Angra e o almoço com Poiares Maduro em São Mateus. O prémio com que o Jornal da Praia decidiu honrar-me. A impressão de que Março e Abril, com a sua chuva infernal após um Inverno que se julgava vencido, são os melhores meses para um homem se tornar alcoólico. A festa dos 125 anos da Sociedade Recreio dos Lavradores da Ribeirinha e o momento que tive o privilégio de dividir com o Maduro Dias e uns velhotes muito divertidos. A urgência de umas férias, as dificuldades de concentração e os perigos para os prazos do romance. A enchente de Angra no Sábado de Aleluia, com filas de trânsito nas ruas e fila até à porta n o Basílio Simões – tudo para comprar amêndoas de Páscoa e plantios para as hortas domésticas. Os planos para pintar a casa. O poema do Rui Cóias sobre os Açores. O heimlich e o unheimlich. A desilusão em geral e em particular. A gloriosa elaboração da Ana Bárbara sobre o narcisismo dos diálogos de hoje em dia: “Selfie em forma de conversa.” O elucidativo conceito pós-freudiano que o Pereira introduziu ao almoço de ontem, enquanto falávamos precisamente disso: “Investimento narcísico.” A graçola com que, afinal, resolvemos a tarde de má-língua: “Depois olhamos-lhe para o polegar e verificamos, não são alguma surpresa, que é de facto oponível."


Nada disso deixou der selfie também, naturalmente.

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Published on April 20, 2014 06:01

Este ano acho que nem para a horta dá

Tenho a impressão de que os plantios, este ano, secam no alguidar. Um dia de sol para se poder plantar uma horta - um dia de sol, ao menos!


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Published on April 20, 2014 05:59

April 17, 2014

A perfeição

Brilho artístico, perfeição técnica, argúcia emocional e – sim – popularidade. Gabriel García Márquez não foi apenas um escritor: foi uma bênção.  Quem não gostaria de ter sido ele – mesmo que isso implicasse morrer hoje, aqui, agora mesmo?

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Published on April 17, 2014 13:28

April 15, 2014

Um ano e meio numa casca de noz

Viver fora faz-nos muito açorianos. Viver dentro faz-nos muito portugueses.

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Published on April 15, 2014 13:50

Não, tu não fizeste o 25 de Abril. Respeita-o.


A julgar pela comunicação social, pelas entrevistas e pelo marketing da programação cultural, há cinquenta escritores, dois mil músicos, duzentos jornalistas, trinta cineastas e, no total, para cima de dois milhões de portugueses que fizeram o 25 de Abril com as suas próprias mãos. Bate certo: elegeram a Revolução dos Cravos como a data mais importante da História de Portugal e, portanto, estavam a falar de si próprios. Chega a causar-me vómitos. Parte do respeito que devemos aos grandes marcos da nossa luta pela liberdade, o supremo bem da organização social, está na disponibilidade para homenagearmos aqueles que verdadeiramente arriscaram a pele para os consumar. Andar por aí a bater no peito e a gritar "Eu também fiz o 25 de Abril", "Eu saí à rua no 25 de Abril e as minhas palmas foram fundamentais", "Eu tinha vinte anos quando foi o 25 de Abril e, portanto, fui eu que reconstruí este país sobre os escombros da velha senhora" – andar por aí a bater no peito e a gritá-lo é a melhor maneira de reduzir o 25 de Abril a nada. E muito me agradaria dizer que o frenesi em curso é subsidiário deste novo mundo dos reality shows, do voto online e das caixas de comentários dos jornais, em que todos podemos até certo ponto ser pelo menos co-protagonistas de tudo o que nos apatecer. O narcisismo lusitano é mais antigo do que isso e nem sequer se limita à classe média. Provavelmente, explica imensas datas, mas nenhuma daquelas que mais gostaria de explicar.

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Published on April 15, 2014 13:47