Izzy Nobre's Blog, page 61
August 4, 2013
Porque criar vergonha na cara e aprender a fazer coisas das quais você depende é extremamente importante
Eu penso em muitas coisas.
Às vezes, na calada da noite, quando já ajustei a posição do lençol e do travesseiro quinhentas vezes e eles pararam de me incomodar, quando já tou segurando o iPhone meio de lado e apenas com um olho aberto (um sinal claro de que o sono está vencendo), eu dou uma última apalpada na bunda da minha esposa, viro pro lado, e finalmente relaxo pras minhas 5 ou 6 horas de inconsciência noturna.
E nessas horas eu penso em inúmeras coisas. Talento, por exemplo. Mais especificamente, a falta de talento.
Quando eu penso em “talento”, eu penso em tantas pessoas que conheço — inclusive muitas da minha própria família — que tem tantas habilidades especiais, e penso na injustiça que é o fato de que eu não sei fazer praticamente nada.
Meu irmão, por exemplo, é bastante habilidoso com desenhos. Aprendeu sozinho; uma vida inteira assistindo os mais variados narutos o conferiu a capacidade de desenhar os mais variados personagens possíveis com cara de malvado e/ou aparentemente forçando as entranhas para expelir excreções de circunferências épicas.

Este desenho não é dele mas deu pra entender o espírito, né?
Pois bem. Eu não sei fazer praticamente nada no que diz respeito a sensibilidades artísticas. Sou um guitarrista bem medíocre (por que vocês acham que nunca fiz vídeos tocando guitarra, afinal de contas?); não sei desenhar, não sei dançar, não manjo dos negócio de design… sou um zero a esquerda nessas coisas.
E isso estava começando a me incomodar, porque pra produzir conteúdo pra internet é necessário ter alguma habilidade artística. E a vida esfregou isso na minha cara recentemente.
You see, eu produzo conteúdo pro youtube. E todos os gurus do negócio insistem que fazer thumbnails pros vídeos é uma estratégia extremamente necessária pro marketing das suas produções.
E eu não duvido. Só que, como já deixei claro, esse tipo de coisa é além das minhas habilidades. Não sei NADA sobre edição/diagramação de imagem; se for depender de mim, eu tou fodido e os vídeos vão ficar sem “capinha” mesmo. Foda-se.
O Gustavo Kondo, um leitor do meu site se ofereceu a fazer algumas thumbnails pros meus vídeos, mas como em praticamente qualquer situação que você se vê dependendo de alguém que você não está pagando — ou seja, alguém que está doando seu tempo livre pra te ajudar –, não dá pra depender disso. Mais cedo ou mais tarde a pessoa vai acabar cansando de trabalhar de graça pra você, e aí você está na mesma situação de antes.
Aliás, uma situação pior que antes: depois que comecei a usar os thumbs feitos por esse broder — que eram muito bacanas, aliás, e me mostraram o quão mais bem produzido um vídeo fica quando você as usa –, acostumei os telespectadores àquele padrão de valores de produção. Parar de usar capinhas subitamente realçou a sua ausência muito mais do que se eu nunca as tivesse usado antes.
É tipo quando você vai se mudar e, com uma preguiça absurda de contribuir de forma tangível ao esforço da mudança, apenas tira os quadros da parede. E você não consegue deixar de notar que o cômodo em questão fica IMEDIATAMENTE esquisito. Aquele quadro já tinha sido assimilado no seu filtro mental de coisas que você vê mas nem percebe; tira-lo fez os alertas de estranheza dispararem.
Então. Decidi que se vou levar esse meu “trabalho” na internet a sério (invisto bastante energia e tempo à HBD Media, e sou ressarcido financeiramente em troca. Já posso chamar de “trabalho” ou é muita petulância?), eu não posso me dar ao luxo de faltar com valores de produção por “não saber mexer com esses negócios de edição de imagem“.
Não tenho Photoshop, e não gosto de usar software pirata. Felizmente, existe algo como o Pixlr Editor, uma xerox online do Photoshop que é bem cheio de features.
Comecei a fuçar no Pixlr, mexendo nisso e naquilo, aprendendo a usar as ferramentas. Outro leitor/telespectador (essa multimidialização do HBD tem como efeito colateral o fato de que não sei mais que termo usar pra alguém que acompanha meu trabalho), o Pedro Ortega, me mandou uns layouts bacanas pra padronizar a arte do canal de acordo com o programa — seja o HBDtv, Daily Vlog, ou Engrish Challenge.
E o resultado é que meus vídeos (antes sem capa e meio sem graça ao espectador novato) agora são assim:
Eu gostaria muito de poder me enganaar e julgar as capinhas um primor do design, mas estou perfeitamente ciente dos seus defeitos — esse é um dos problemas de ser perfeccionista com uma pitada de complexo de inferioridade: ninguém jamais será um crítico mais ferrenho de qualquer coisa que eu faça do que eu mesmo. Mesmo assim, o canal está 100% melhor do que estava há, digamos, um mês atrás.
Simplesmente porque decidi tomar as rédeas da parada e aprender a fazer aquilo do qual eu dependo diretamente. Decidi que o canal realmente ficava melhor com essas capinhas, e me perguntei “agora não tem mais ninguém pra fazer o negócio pra você. Vai voltar a deixar como estava antes? Você sabe que não tem mais como”.
Valeu a pena o esforço e o tempo gasto pra aprender a mexer com isso. Acho que a identidade visual dos vídeos é extremamente importante; é o motivo pelo qual me dou ao trabalho de criar uma capinha até mesmo pros vídeos do Daily Vlog — uma aparente contradição, já que essa série é “sem edição, sem firula, sem porra nenhuma”.
E thumbnail feito com um Photoshop online definitivamente configura como “firula”.
Mas fazer o que? Deixa a parede nua, sem quadros…?

August 3, 2013
Nada na cabeça
July 31, 2013
Assista o trailer de Bad Grandpa, novo filme do selo Jackass
Jackass era uma série da MTV que foi a pioneira no formato “idiotas se filmando enquando fazem idiotices” — um segmento cinematográfico democratizado com o advento de celulares com câmeras e a internet. As presepadas da trupe, que outrora fomentavam em mim um sentimento de “nossa, como são destemidos esses rapazes!” hoje em dia são nada senão o padrão quando um grupo de amigos — geralmente bêbados — inventa de fazer alguma merda diante de uma câmera ligada.
E à medida que o “movimento” que eles criaram se proliferou na grande rede mundial de computadores, o apelo da série diminuiu cada vez mais. Pra que pagar a entrada no cinema pra ver um cara enfiando fogos de artifício no cu e em seguida acendendo-os quando deve haver pelo menos 50 vídeos similares no youtube, boa parte deles usando como soundtrack algumas de suas bandas favoritas ainda por cima? Poderiam os Jackasses continuar fazendo dinheiro competindo com jackasses da internet?
E a resposta é: eles resolveram diversificar a marca. Em vez de desafiarem Darwin com loucuras cada vez maiores (literalmente; o Johnny Knoxville quase decepou a própria estrovenga num acidente de moto em 2007 durante as gravaçõs de Jackass 2)…

“Rapaz, dessa vez o Johnny Knoxville despirocou mesmo”
…o selo Jackass lançou seu primeiro filme que realmente se parece com um filme — e um cujas filmagens eles tiveram chances maiores de sobreviver: Bad Grandpa.
Acompanhe o trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=_MSrAwfagG4
O filme relata as desventuras de Irving Zisman, que é ninguém mais ninguém menos que o próprio Johnny Knoxville usando uma maquiagem de septuagenário. O personagem nasceu no primeiro Jackass.
Bad Grandpa tem uma pegada Boratística , ou seja: tem script, tem aparentemente um arco tradicional em 3 atos, mas é cheio de situações “reais” envolvendo pessoas “reais” cujo nível de conhecimento prévio sobre as pegadinhas jamais saberemos ao certo.
A cena final, em que ele traveste o neto pra que este participe de uma dessas competições de pequenas modelos, é impagável.
Estou igual o Fox Mulder: quero acreditar que esta cena aconteceu realmente diante de pais atônitos, mas sei não. Bad Grandpa sai aqui em outubro deste ano.
Cê vai assistir Bad Grandpa quando ele sair no Brasil, ou seja, em 2017?

July 29, 2013
As aventuras de um picolezeiro cearense no Canadá
Como todo imigrante que chega no exterior sem dinheiro e sem domínio pleno do inglês, eu também tive uma pequena coleção de empregos, digamos, fodidos. Longe de mim querer desmerecer qualquer trabalho honesto; acontece que não há como glamurizar o tipo de coisa que eu fiz nos meus primeiros anos no Canadá. Lavei prato, tirei neve de calçada, vesti-me de macaco pra trabalhar numa espécie de casa mal assombrada no Halloween (sério) e vendi picolés.
Sim, vendi picolés. Pra CANADENSES, o que é quase equivalente a vender gelo pra esquimó. Que demônio de vida maluca é essa que eu vivo, mano.
Pois bem. Como tudo mais que me acontece, meu breve emprego de vendedor de picolés rendeu um post no HBD.
O texto a seguir foi originalmente publicado no meu site há mais de 7 anos. Como de lá pra cá meus leitores aumentaram uns 15000%, achei justo republicar esta lamentável história.
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5 de maio de 2006
Oshawa, nos arredores de Toronto, Canadá
Rapaz, a temporada mal começou e já tou cheio de causos consideravelmente verídicos pra contar. Se o ritmo de aventuras se manter estável, aguardem um post em que eu relatarei ter assistido um atropelamento ao vivo ou coisa parecida — isso se o atropelado não tiver sido eu mesmo.
Desde a minha chegada ao país canadense popularmente conhecido como “quintal da América” ou “Estados Unidos Júnior”, acumulei debaixo do meu cinto uma porção média de fritas de experiências pouco satisfatórias com a gurizada gringa. Entre o hilário porém traumatizante emprego de Halloween, o cansativo trabalho de sorveteiro do ano passado (que repito este ano), e por último mas não menos importante, a constante convivência com Dana, minha “cunhadinha” de 7 ou 8 anos, acabei tendo que avisar à namorada que se ela algum dia ousar ficar grávida, serei obrigado a carinhosamente empurrá-la da varanda do meu apartamento.
Não sei quanto tempo demorará pra que eu ao menos considere remotamente a idéia do conceito da possibilidade de que eu mesmo, um dia, por motivos talvez contrários à minha vontade, seja o responsável pela existência de uma criatura infernal dessas.
Conheça Dana, a irmã da namorada. Se você ainda não sente vontade de arrancar a cabeça desta menina com um abridor de envelopes, uma de duas possibilidades está acontecendo aqui – ou você é uma pessoa infinitamente melhor que eu, ou sua internet está provavelmente com defeito.
Ao longo do tempo desenvolvi um sofisticado sentimento de puro ódio por qualquer ser humano com idade escrita com menos de dois dígitos. Esses abortos ambulantes, que não têm o menor senso de responsabilidade ou respeito por alguém que está apenas tentando fazer seu trabalho, são um verdadeiro desperdício de órgãos. Se algum dia um político de verdade subir ao poder em algum país obscuro do continente africano ou do leste europeu, teremos a felicidade de ver no jornal uma manchete como “Extra – Primeiro Ministro do Turcomenistão aprova hoje lei que torna obrigatória a remoção de fígados de todas as crianças acima de 4 anos. O programa de transplate involuntário, já considerado um sucesso pelos cientistas políticos internacionais, beneficiará centenas ou até milhares de alcóolatras e restaurantes de baixa qualidade no interior do país.”
A mera presença da criançada catarrenta ao meu redor já é suficiente pra me desejar que seus pais sofram um ataque cardíaco fulminante e cada um dos pivetes fique preso dentro de casa, sofrendo de inanição fatal e convivendo ao redor de seus próprios excrementos, tendo que lutar contra ratos pra garantir suas fezes como sua única forma de alimentação.
Sim, eu estou um pouco chateado. O motivo pelo qual não me importaria se todas as crianças do mundo entrassem em ignição espontânea é que anteontem algo bastante curioso aconteceu. Tenho que te contar, nada jamais me deu tanta vontade de realinhar a configuração facial de alguém com um martelo de açougue como os eventos de quarta feira.
O dia começou tranquilo. Lá estava eu na minha bicicletinha, desfrutando a presença de ninguém além das moléculas de gás carbônico que eu exalava após cada fungada, quando de repente fui abordado por um desses demônios em forma de gente, que segurava uma nota de cinco dólares na mão. Atraídos pela musiquinha da bicicleta, seus pequenos companheiros das profundezas infernais saíram correndos de suas respectivas casas terrenas, sacodindo cédulas na mão e derrubando moedinhas no chão. Me vi cercado de moleques endinheirados, e por um momento pensei “fenomenal, farei uma nota preta aqui. Que diz feliz e agradável”
Quão enganado eu estava. É como ir pra casa todo feliz achando que descobriu a festa surpresa que a família e os amigos estão preparando pra você, mas ao chegar no seu domicílio você descobre que ao invés de preparar uma festa, todos os seus familiares e conhecidos cometeram um ritualístico suicídio coletivo deixando provas suficientes pra convencer a polícia de que você os matou.
Os moleques começaram a rodear a bicicleta, todos pedindo seus sorvetes simultaneamente porque afinal de contas qual é a melhor forma de ser atendido por alguém senão gritar seus pedidos ao mesmo tempo que outras vinte crianças fazem o mesmo?
Alguns decidiram que isso não me irritaria/desorientaria o bastante, então um deles aproximou-se por trás de mim e injetou um berro de quatrocentos decibéis diretamente dentro do meu canal auricular. Sou um cara que sabe levar as coisas com esportividade, então relevei a animação da pivetada e pensei nas milhares de vendas que faria. Eu precisaria apenas 1) pegar a grana dos infelizes, 2) entregar as guloseimas, 3) dar o fora, 4) arrumar uma forma de esfregar tais picolés em meus testículos entre a primeira e segunda etapas.
Rapidinho eu estaria longe dos moleques, é melhor ficar calmo.
O problema é que naquele dia, a molecada decidiu que não descansaria enquanto não me tirasse do sério. Acho que eles se reuniram todos no pátio da escola no dia anterior e formaram uma assembléia pra debater formas de irritar o próximo sorveteiro que se atrevesse a tentar trabalhar na rua deles. Foi de fato o que aconteceu.
Contrariando minhas maiores esperanças, os moleques não saíram do meu redor após adquirir seus sorvetes e terem 10% de seu troco surrupiado por alguém que entende um pouco mais de matemática que eles. Eles ficaram lá, plantados ao redor da bicicleta, coletivamente devorando seus picolés e tagarelando animadamente sobre qualquer coisa certificadamente insignificante que esse tipo de criança costuma conversar. Pelos dois minutos que eles demoraram pra devorar os picolés e ao mesmo tempo sujar a cara toda no processo, tive considerável paz. Eu poderia ter ido embora naquele momento, mas achei que poderia arrumar mais algumas vendas se ficasse na rua dos moleques mais um tempinho.
Grande, grande erro.
Terminado os picolés, a gurizada voltou à animação de antes. Um deles quebrou a última barreira de autoridade que eu poderia ter e desafiou minha presença sentando na bicicleta. Foi a deixa – como movidos por molas, a pivetada saltou de onde estava e SUBIRAM NA BICICLETA. Um ficou em pé em cima do parachoque da frente, outros dois sentaram em cima da caixa frigorífica, um outro sentou no quadro do da bicicleta. Um último pivete cuja presença eu não tinha notado até então pôs-se a empurrar a bicicleta, na intenção de levar a molecada a um passeio pela rua.
Imagina a cena. Simplesmente levaram meu instrumento de trabalho embora.
Nos dois segundos que a situação acima demorou pra se estabelecer, consegui apenas assistir perplexo. Esses moleques sequestraram minha bicicleta na minha frente? Apressei-me e alcancei aquela putaria sobre rodas, e tentei convencer a gurizada a sair de cima da bicicleta. Chamem-me de imbecil por achar que os demônios me ouviriam, mas foi o que erroneamente pensei. Ao notar que os pivetes não estavam dispostos a colaborar a menos que eu começasse a distribuir pequenos presentinhos de violência corporal, abandonei a diplomacia e tentei manualmente remover as crianças de cima da bicicleta. Estendi os braços, agarrei o moleque mais próximo – o único que estava sentado no local corredo da bicicleta, o assento — e ergui-o de lá.
Não parei pra pensar isso no momento, mas esta inocente manobra magicamente transformou minha bicicleta numa gangorra. E pior ainda, uma gangorra desequilibrada. De um lado da bicicleta estava a caixa frigorífica repleta de sorvetes E crianças, do outro, um assento vazio. A bicicleta inclinou-se pra frente assim que o contrapeso em forma de pivete foi removido do assento. Larguei o moleque e joguei a mão na bicicleta, tentando impedir que ela tomasse pra frente. Com o movimento, a criançada saiu de cima da caixa.
Minhas tribulações não haviam acabado. Pensar em manifestar-se violentamente estava fora de cogitação. Tendo o dobro do tamanho e peso daquela criançada, qualquer gesto de auto-defesa seria compreendido como ato sádico de violência contra os pequeninos canadenses que representam o futuro da nação; um futuro que eu sinceramente espero não viver o bastante pra ver.
Agora a molecada meteu na cabeça que não me deixariam em paz se eu não desse sorvete de graça pra eles. Não adiantava tentar explicar que eu não daria sorvete de graça pra eles nem que alguém tivesse sequestrado toda a minha família e pedissem sorvete de resgate — os pivetes não entendem lógica. Eles não entendem a questão de que eu trabalho em função de vendas e que se desse sorvete de graça, teria que pagar o prejuízo. Eles não compreendem coisa alguma. Pra eles, sou apenas um humano lutando contra suas investidas e impedindo o acesso ao sorvete.
De repente, não mais que de repente, um dos moleques me aparece com uma bola de basquete e sem a menor cerimônia, atira-a em cima do guarda-sol da bicicleta. O resto da pivetada aproveita a distração pra abrir a caixa frigorífica e meter a mão dentro. Apenas um dos guris foi mais ágil e conseguiu alcançar um sorvete antes que eu pudesse os afastar da bicicleta. Corri em volta da caixa, agarrei o moleque pelo braço e tomei o picolé da mão dele, ignorando suas ameaças de processo por ter tocado em seu braço. Quando penso em dar uma resposta, sou interrompido pela música da bicicleta.
Olho pra trás e vejo que o mesmo moleque que havia arremessado a bola contra a bicicleta estava agora montado nela, tentando alcançar os pedais e brincando com o aparelho de música da bicicleta. Tento tirar o menino de lá, e ele começa a gritar.
Desligo a música e viro-me pra pivetada pra inventar alguma ameaça tipo “nunca mais venderei sorvete pra vocês, ein!” e antes mesmo que eu pudesse fazer isso, outro moleque enfia a mão na caixinha que guarda o aparelho de música e liga aquela porra de novo. Seus companheiros berram em êxtase.
Fiquei de saco cheio. Dei a volta na bicicleta, peguei minha mochila (que eu havia deixado na calçada por causa de uma desconfortável irritação nos ombros) e, quando eu preparava-me pra subir na bicicleta, um moleque vem correndo, levanta a tampinha da caixa que guardava o aparelho musical e liga aquela desgraça pela milésima vez. Tento tirar a mão do pivete do botão, mas ele está irredutível.
Chega. Foda-se.
Sem pensar duas vezes, cerro o punho e bato com força na tampa da caixa, prendendo a mão do moleque. A criançada berra em êxtase, e o moleque — por algum motivo que nem Satanás entenderia — apenas riu. Soltei a mão dele e me preparei pra abandonar aquela rua maldita.
Eis que nesse momento uma menina chega por trás de mim e me manda um belo chute no meio da batata da perna. “Isso é por não ter me dado sorveteeeee“, argumenta ela.
Ahhhh, que se foda mesmo.
Ignorando a (i)legalidade da ação, pus a mão no ombro dela com firmeza e dei um safanão na menina, fazendo com que o centro de gravidade dela se deslocasse pra uma cidade próxima e ela caísse de bunda no chão. A menina preparou a patenteada Cara de Choro®, mas antes que os amigos pudessem dar apoio moral, abri o meu próprio berreiro.
Com frases decididas, expliquei pra eles que da próxima vez que eu aparecer naquela rua (se eu algum dia perder minha sanidade e concordar pôr os pés naquela rua mais uma vez), ao invés de uma calculadora, estarei trazendo um lança chamas. Completei a ameaça abusando de gentis palavrões e apontando pra cada um dos moleques com um olhar assassino na cara. Aí fui em direção ao moleque da bola e meti um chute por baixo do braço dele, o que fez a bola projetar-se no ar como a conclusão da minha explosão furiosa.
Por uns dois ou três segundos a gurizada apenas olhou pra mim estupefata. Estava esperando alguma resposta, mas nenhuma veio — logo em seguida cada um deles deu meita volta, apanhou seu skate/gameboy/bicicleta e voltou pras suas casas.
Todo mundo caladinho.

[ Dica de podcast ] We Hate Movies
Como quase todo nerd chato, eu gosto da “brincadeira”, digamos assim, de desconstrução do mundo da cultura pop. Uma das minhas formas favoritas disso é ler criticas de filmes ruins.
Pra quem tem preguiça de ler (o que diabos você está fazendo no meu blog?!), tenho uma dica excelente. Essa semana eu descobri um fenomenal podcast que destrincha filmes ruins com timing, química e respeitável know how do processo cinematográfico em si.
E além disso tudo, com um senso sarcástico (e às vezes até um pouco cruel) de humor.
Seja bem vindo ao We Hate Movies.
No We Hate Movies, você encontrará uma análise extremamente pertinente e engraçada de alguns filmes que você talvez até goste, mas se verá incapaz de discordar com os pontos levantados pelo hosts. É que nem como o TVTropes destrói a sua ilusão que aquele filme ou aquele elemento em particular de storytelling é super original e inédito. O WHM fará você repensar sobre os filmes que você adora.
E eles não apenas reclamam; embora o tom às vezes beire o nitpicking nerd de um Comic Book Guy, os caras embasam suas críticas dando exemplos de como uma certa cena ou até mesmo um elemento da trama poderia ter sido melhor desenvolvido. Aí que a compreensão dos caras em relação a cinematografia os diferenciam de simples reclamões. Suas objeções em relação a pontos dum filme e as mudanças que eles oferecem realmente fazem sentido. Mesmo num filme que você gosta, é difícil discordar.
E o melhor de tudo, o senso humorístico deles é excelente. As piadas não são repetitivas, as comparações são hilárias, a revolta deles em relação às partes mais injustificáveis dos filmes é impagável. Recomendo fortemente o programa.
E as imitações que eles fazem dos atores dos filmes que eles zoam são excelentes.
Episódios favoritos: o de Men in Black 2 (eu nunca tinha atentado ao fato de que é um filmezinho simplório que repete a trama do primeiro descaradamente), o de A Rede (eles ridicularizam o que o público e Hollywood em geral achava que internet era na época) o de Star Wars Episode I (esse dispensa explicações)
Ah, e é em inglês.

July 26, 2013
[ Vergonha Alheia da Semana ] Ashlee Simpson se humilhando no SNL
Este aqui é bem velho, mas contém doses cavalares de vergonhalheína, então tá valendo. Até porque escrever esse post me fez rever o vídeo, e depois ouvir a versão de estúdio da porra da música (pra decidir com autoridade empírica qual é pior), o que deve ter feito meus vizinhos acharem que sou um fã desvairado da Ashlee Simpson então acho bom vocês gostarem desta porra.
Você sabe quando está no carro com amigos e uma música que você adora começa a tocar no rádio? Manja quando você tenta cantar junto com o vocalista e erra a letra? É humilhante, né? Aliás, até quando eu faço isso SOZINHO eu fico com vergonha.
Então. Lá em 2004 (caralho mano, faz quase DEZ ANOS!), a Ashlee Simpson tinha algum cacife no mundo pop pra cantar no Saturday Night Live (um programa que na época também tinha algum cacife pra ser chamado de humorístico). A menina é apresentada pelo Jude Law, e em seguida faz o seguinte:
http://www.youtube.com/watch?v=26CN2Q_d8EU
Como você pode averiguar pelo vídeo, o que aconteceu é que a produção de som do programa tocou a música errada nos alto-falantes do estúdio. A menina leva o microfone à boca pra fingir que está cantando e aí se surpreende visivelmente com canção errada. Não tendo a habilidade de fazer a apresentação continuar, que é basicamente a única regra de ouro do show business, a menina primeiro ensaia uma bizarra dança, desiste, tenta de novo, percebe que a situação está inconsertável, e simplesmente sai do palco.
E sua banda continua lá tocando, sem saber exatamente o que devem fazer em seguida — provavelmente rezando mentalmente pra que a menina ao menos volte ao palco e comece a cantar junto pra salva-los da humilhação.
E o pior: no encerramento do programa, a desgraçada tentou pôr a culpa justamente na banda que estava ajudando a desmerdalhar a situação.
Mas é uma patife de pior qualidade mesmo!
A propósito: quando ela acerta a música a situação não é muito melhor, não.
http://www.youtube.com/watch?v=bY2cN3BgPsU
Pronto, agora os vizinhos estão rindo da minha cara mesmo.

July 23, 2013
Como esse novo espírito de manifestações vai acabar prejudicando o Brasil
Em Matrix (que é até hoje um dos meus filmes favoritos, perdendo apenas talvez pra Enfermeiras Safadas 5), o Morpheus dá uma lição importantíssima sobre pessoas alienadas defendendo um sistema que as explora. Eis a a brilhante cena, que eu tenho a impressão de que nunca foi tão relevante quanto atualmente:
http://www.youtube.com/watch?v=pIoMXYBztdg
E eis a frase chave: “você precisa entender que a maioria dessas pessoas não está pronta pra ser desplugada. E algumas delas estão tão acostumadas, tão dependentes do sistema, que lutarão para protege-lo“.
Num texto recente, confundi os inúmeros leitores que sempre me julgaram um playboyzinho reacionário de direita ao dizer que não apenas apóio a onda de manifestações que está acontecendo no Brasil, como acho que mais importante que os objetivos imediatos dos revoltosos é o efeito dominó que, quem sabe, instile em nosso povo um sentimento de obrigação cívica. O brasileiro é há muito tempo criticado por sua inércia; finalmente, nos emputecemos o suficiente pra tocar a revolta pública que há muito tempo cobrávamos de nós mesmos.
E em tempo de campeonato de futebol, ainda por cima! Daí você tira o quão puto o povo brasileiro estava: nem o pão e circo tradicional serviu pra segurar a onda. Aliás, o “pão e circo tradicional” (nosso futebol mundialmente respeitado) é parte do problema: o preço da Copa do Mundo do ano que vem encabeça a lista de motivos pra se revoltar.
Então. Eu nem parei pra pensar que esse novo espírito revoltoso, que esse novo brasileiro 2.0 que vai pra rua e reinvidica, pudesse ser manipulado para o “mal”. E hoje percebo que minha análise desse novo ânimo manifestante foi muito ingênuo.
Começaram a estourar manifestações de apoio a empresas de MMN que foram recentemente bloqueadas pela Justiça. Em Brasília, eles fecharam o acesso ao aeroporto.
Ao ver esse tipo de coisa, não consigo NÃO lembrar da cena de Matrix. O que o Morpheus alertou é exatamente isso que você vê na imagem e nos links acima: um grupo tão dependente de um sistema nocivo que os explora, que chegam a levantar a voz para defender o sistema contra seu desligamento.
Não demorou nada pra que gente pilantra cooptasse o novo espírito de manifestações do nosso povo pra divulgar e defender suas safadezas…

July 22, 2013
Geekmoot, um evento nerd independente em Calgary (que vocês vão me ajudar a divulgar)
Não costumo pedir nada pra vocês, mas hoje quebrarei essa tradição.
Uma vez eu estava numa loja de nerdices e vi um poster curioso na parede. Infelizmente não tenho mais a foto do poster (preciso ser mais organizado com elas), mas era basicamente uma carta gigante de Magic que usava a mecânica de gameplay do jogo pra propagandear um evento. Sabe aquelas piadinhas que imaginam personagens clássicos como se fossem uma carta de Magic, pra fazer a graça? Tipo, carta do Chuck Norris e coisas do tipo? Era desse jeito: um evento de nerds descrito como se fosse uma carta de Magic.
O evento chamava-se GeekMoot. Totalmente grátis, aconteceria no próximo final de semana num parque próximo aqui de casa. Aí eu… OPA, entrei no grupo do evento no Facebook, pedi a foto do cartaz e acharam:
Era isso aí. Então, sendo o evento grátis, eu fiquei um pouco desconfiado: quando a esmola é grande o santo desconfia, né? Mas resolvi dar uma olhada.
O planejador do evento se chama Cory. É um cara super gente boa, aquele típico “gordinho bem humorado amigo de todo mundo”. O cara tinha uma visão: um outro evento de nerds além do Calgary Comic Entertainment Expo, conhecido coloquialmente como “Comic Con de Calgary”. Então ele simplesmente pegou grana do próprio bolso e alugou um espaço num parque público, alugou um monte de jogos de tabuleiro (as lojas de nerdice aqui permitem isso), comprou comida e saiu espalhando esse poster aí nos habitats naturais dos nerds de Calgary.
Ou seja: a parada é totalmente independente. Começou porque um cara queria conhecer outros nerds da cidade.
Eu comparei ao primeiro evento, em 2011. Tirei algumas fotos.
Até o momento que eu fui embora deu umas 25-30 pessoas, mais ou menos (parei de tirar foto quando mais pessoas começaram a chegar). Considerando que uma vez uns 3 amigos apareceram pra comemorar meu aniversário, o Cory teve bastante sucesso em atrair um bando de nerds desconhecidos pro pequeno churrasco lá dele. Passamos a tarde inteira jogando os inúmeros jogos que você viu naquela primeira foto, comendo hamburgers, falando sobre videogames, memes de internet, filmes, etc.
A segunda edição do evento, no ano passado, foi um pouco maior. Essa eu não pude comparecer, infelizmente, pois estava trabalhando.
E pro terceiro ano deste pequeno evento nerd que está crescendo aos poucos, eu resolvi ajudar meu broder. Este evento será maior que os outros dois e está tomando o formato de um “real” evento nerd — vai ter concurso de cosplay, campeonato oficial de Magic, o caralho. Vai ter até show de uma banda nerd, a Thwomp.
Então. Como eu sou extremamente apoiador da idéia de criar coisas bacanas com seu tempo livre, este ano resolvi ajudar o Cory. E quero convocar vocês a me ajudarem a ajudar o rapaz!
Seguinte. Como das outras vezes em que zoamos a minha cidade, vamos usar a hashtag #yyc pra chamar atenção da galera de Calgary. O que peço de vocês é o seguinte: se possível, poste uma dessas mensagens no seu twitter durante essa semana:
Hey Calgary! @GeekMootYYC is happening this Sat, July 27, 2pm-12am! Games, cosplay, food, $5 admission http://ow.ly/n9AnF #yyc #gaming
Are you a bored nerd in Calgary? Come to the @GeekMootYYC! Sat July 27 2pm-12am $5 admission CHECK IT OUT http://ow.ly/n9AnF #yyc
Don’t miss @GeekMootYYC this Saturday, July 27, at 2pm! Bring your costumes, too! $5 admission http://ow.ly/n9AnF #yyc #gaming
Não importa se você tem 10 mil seguidores ou DOIS, cada tweet com a hashtag da minha cidade (#yyc) fará o evento ficar mais visado independente de quantas pessoas te seguem. Se você tem 1 followers ou 300 mil, o seu tweet será visto igualmente pela galera local que olha a hashtag da cidade.
Por isso estou convocando emergencialmente a ajuda de todos vocês. Não precisa ser “famosinho de internet” pra ajudar, e você gastará mais ou menos 3 segundos pra fazer isso.
Considerem como pagamento pelo tutorial de emulação no iOS, que deu bem mais trabalho pra fazer (postei um adendo pra resolver o problema de emuladores que pararam de funcionar recentemente por causa de medidas da Apple, aliás).
Nas outras vezes que brincamos com a hashtag da minha cidade, até o jornal notou a putaria. Quero abrir o twitter e não ver nada na search por #yyc a não ser propaganda dessa porra. VALENDO!
(Não, não estou ganhando NENHUM CENTAVO ajudando o cara, quero deixar isso bastante claro. Aliás, nem entrada grátis eu pedi, agora que parei pra pensar. Tou ajudando porque boto muita fé na idéia de um segundo evento nerd rolando na minha cidade, porque o cara é SUPER gente boa, e porque vocês jamais me deixaram na mão quando preciso de ajuda com qualquer coisa).

July 19, 2013
[ Vergonha Alheia da Semana ] Will.I.Am, dos Black Eyed Peas, fingindo que manja de design gráfico
O will.i.am é um sujeito curioso. Do seu corte de cabelo que desafia as convenções do aceitável, a grafia questionável de seu nome artístico, até sua insistência em provar pra gente que tem talento pra atuação, o cantor tem inúmeros motivos que nos permitem tirar uma onda com a sua cara.
Há duas coisas que, além das suas contribuições no mundo da música (digo “contribuições”, mas você pode ler como “crimes” se preferir e a conta continua fechando sem problema), definem o caráter do will.i.am: primeiro, é que ele gosta de se meter em esferas nas quais ele claramente não tem um grande domínio.
Músicos egocêntricos fazem isso o tempo todo e o resultado é quase sempre hilariante. Por exemplo: neste vídeo o rapper Lil Wayne, que há alguns anos tenta provar a todos que é um músico “de verdade”, se arrisca num solo de guitarra que soa exatamente como se você tivesse jogado uma mão cheia de bolas de gude contra o braço de uma guitarra e gravado as notas que saem quando as bolas batem nas cordas.
O outro problema do will.i.am é que no exercício de se meter em empreitadas que não são seu objeto de expertise (fazer música ruim), é que ele tenta FALAR SOBRE ELAS. O resultado é, como se pode esperar nesses casos, um festival de vergonha alheia. Eu já estava familiarizado com esse hábito do rapper quando o vi falando na Macworld sobre o case de iPhone que ele “inventou”.
Ele vai se perdendo no meio do caminho e falando maluquices como se estivesse canalizando o espírito do Michael Scott, de The Office.
Então. Essa semana achei este vídeo em que o will.i.am fala sobre design gráfico. Primeiro ele começa falando as obviedades que você aprende num curso de Introdução ao Design — sua logo marca tem que ser bacana, tem que ser facilmente redimensionável, tem que ter aparência distinta mesmo quando em preto e branco, etc. Will.i.am, este doutor em design gráfico, nos oferece essas pérolas de sabedoria porque afinal de contas, é pra esse tipo de insight inédito que levamos nossas dúvidas mais ardentes a este sábio contemporãneo.
Aí ele entra numa tangente maluca sobre a Índia e seu suposto alfabeto maluco. Não tem uma boa forma de explicar essa parte porque é basicamente isso aí: após dar alguns conselhos óbvios em design gráfico, sem qualquer conexão com o assunto, ele começa a falar da Índia. Na cabeça dele existe alguma conexão direta entre os dois assuntos que nós simplesmente não captamos.
http://www.youtube.com/watch?v=8gFA7DUM008
Vá entender o que se passa na cabeça do maluco.

July 14, 2013
As 6 mentiras contadas pelos participantes do marketing multinível (TelexFree, BBOM, Herbalife, Multiclick)
Tenho uma relação de amor e ódio com marketing multinível (MMN, na sigla brasileira, ou MLM, na sigla inglesa de “Multilevel Marketing“). Odeio essa merda por motivos óbvios — é uma pilantragem chefiada por picaretas que vitimizam pessoas ingênuas –; amo porque não consigo ignorar a parada.
Simplesmente não consigo. Sempre que alguém menciona MMN eu tenho que entrar na discussão. É quase uma obsessão.
Por isso, preparei esta listinha de lorotas típicas que os participantes desses esquemas gostam de contar por aí quando tentam convencer incautos. Tendo lido esse texto, você JAMAIS ficará sem resposta quando aquele seu amigo mala tentar te recrutar pra esses lixos usando um suposto “bom argumento” a favor de MMN.
1) “MMN não é uma pirâmide…”
Erradíssimo. Aliás, o simples fato de que é preciso enfatizar distinção é um indício de má índole do sistema.
MMN é uma pirâmide; este modelo de negócio tem todos os sintomas clássicos:
Ênfase em recrutamento desenfreado (geralmente empregando “seminários” onde contratam “distribuidores/divulgadores” em massa, sem qualquer critério — se é tão boa oportunidade, por que é tão fácil entrar…?);
Promessa de dinheiro fácil (trabalhe sem sair de casa! Apenas postando anúncios na internet! Gaste apenas duas horas por dia!);
Uso ostensivo de símbolos de status/premiações para convencer novos recrutas do potencial de carreira.
A distinção “mas é MMN, não pirâmide” nada mais é que uma ginástica semântica. Você pode dar o nome que quiser ao esquema, mas o que realmente define sua identidade é a forma como ele se comporta.
E MMN se comporta exatamente como pirâmide.
2) “…porque tem produtos!”
Você já conheceu alguém que use produtos da BBOM, ou Herbalife, ou TelexFree, ou qualquer uma dessas empresas e que não seja TAMBÉM divulgador dela? Alguém QUE NÃO FAÇA PARTE DA EMPRESA já te recomendou o serviço da TelexFree, por exemplo, dizendo der “excelente”…?
Amigos recomendam produtos e serviços pros outros o tempo todo, e no entanto isso nunca acontece com produtos e serviços supostamente sendo vendidos por empresas de MMN — a menos que o sujeito faça parte da pirâmide.

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Os únicos que realmente usam produtos dessas empresas são os seus participantes, e olhe lá — porque a grande maioria do público em geral sequer sabem o que eles comercializam.
E como isso acontece? Como é que o produto de uma empresa com tantos divulgadores é tão desconhecido…?
O que empresas de MMN realmente vendem é a esperança de liberdade financeira. É por isso que 99% dos anúncios delas enfatizam a oportunidade de trabalhar lá, e não o produto em si.

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Se você acha que estou sendo tendencioso, faça uma busca no Google Imagens com o nome de qualquer MMN. Compare a proporção de anúncios do PRODUTO (que eles orgulhosamente alegam tratar-se da distinção primordial entre MMN e pirâmides), e anúnios de recrutamento.
3) “Marketing Multinível é ensinado em Harvard!”
Não. Isto jamais aconteceu.
A verdade é que Harvard, como qualquer faculdade, tem matérias que tratam de inúmeros assuntos como “case studies”. Um desses case studies chama-se “Causes of Failure in Network Organizations“, de 1992 — um estudo com óbvio tom negativo sobre esse tipo de negócio. Mary Kay Inc.: Direct Selling and the Challenge of Online Channels, de 2004, foi outro case study similar — com conclusão igualmente NEGATIVA.
Dizer que a prestigiosa faculdade ensina ou endossa Marketing Multinível por ter publicado um estudo sobre o modelo é como dizer que seu professor de história aprova o Holocasto por dar uma aula sobre o assunto. Foi uma mentira inventada por oportunistas e repetida por gente ignorante que não verifica a informação.
Essa lorota existe já faz um bom tempo; a faculdade já se pronunciou sobre isso em 1995, numa matéria do Wall Street Journal.
Desafie o cara que te falou isso a procurar o código da matéria sobre MMN no site da Harvard. Ou pelo menos a achar o nome do curso.
4) “Mas seu emprego/governo do nosso país é uma pirâmide também, se for por isso!”
Não. Em um emprego legítimo, você não precisa pagar pra participar. Não é obrigado a comprar o produto da empresa. Não precisa adesivar seu carro com a marca da firma. Não precisa tentar convencer todos que você conhecem a entrar também. Você não sente a necessidade de dizer pra todo mundo que seu chefe é MUITO rico.
E da mesma forma, nenhum político fica tentando convencer outros cidadãos a se candidatarem a cargos públicos.
Embora essas estruturas possam aparentemente ter formatos similares, é preciso entender POR QUE elas tem esse formato. Seu departamento só tem um chefe porque o cargo não requer muito mais que isso; da mesma forma como um país precisa de mais eleitores que deputados, e de mais deputados do que presidentes.
Por outro lado, MMNs tem esse formato porque há um ímpeto em recrutar todo mundo que eles veem pela frente — algo que não acontece no cenário político, ou na empresa em que você trabalha.
Percebe a diferença…?
5) “Não precisa recrutar ninguém se você não quiser!”
E no entanto isso é o que todos os participantes fazem. Porque como já ficou claro, MMNs não tem produtos — eles têm disfarces para que a prática de pirâmide não fique mais evidente. A única forma de fazer dinheiro nesses negócios é recrutando, e por isso a cultura de “ENTRE AGORA GANHE DINHEIRO JÁ” é predominante em MMN.
6) “Nós continuamos recrutando porque toda empresa faz isso, ou a Coca Cola vai um dia parar de vender refrigerante?”
Essa mentira revela um detalhe curioso sobre a grandíssima maioria dos proponentes de MMN — eles não tem lá um intelecto invejável, e portanto são incapazes de fazer analogias que façam sentido.
Por mais bizarro que esse ponto possa parecer, ele é o argumento central deste vídeo em que um sujeito chamado Junior Multinível responde a este meu vídeo. No meu vlog (perceba aliás que ele pensa que “Daily Vlog” é meu nome, apesar do fato de que eu digo meu nome no vídeo, confirmando a primeira frase deste item), explico que se MMN fosse como qualquer outra empresa, chegaria o ponto em que contratar tantos empregados não seria mais necessário pois já se atingiu o limite operacional.
O sujeito do vídeo — que até onde sei tem certa fama nessa cena MMN — explica que a Coca Cola nunca parará de vender refrigerante, logo, é por isso que a TelexFree não para de recrutar distribuidores. Isso é um nonsequitur absurdo; não estou criticando a TelexFree por vender seu VOIP, e sim por recrutar agressivamente novos vendedores.
A comparação seria válida se a Coca Cola tentasse ativamente recrutar distribuidores com um ímpeto similar ao das empresas de MMN, e sabemos que essa correlação é falsa.
As confusões legais recentes da TelexFree e da BBOM reiteram o que qualquer pessoa com bom senso já sabe (são furadas) e praticamente garantem que o uso eufemístico do termo “marketing multinível” vai em breve perder sua pouca legitimidade. Prevejo que em breve esse tipo de esquema passará a ser chamado por outro nome.
Mas não se deixe enganar por uma mudança de rótulo; se o negócio se vende como uma excelente oportunidade e envolve recrutar outras pessoas, passe longe.
Se algum parente ou amigo seu pensa em entrar nessas merdas, mande este link pra ele.

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