Rodrigo Constantino's Blog, page 393

February 9, 2012

Um evento interessante

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Published on February 09, 2012 03:40

February 8, 2012

Isolado, economista escocês prevê queda de PIB chinês

Por Fernando Torres, Valor Econômico

Jim Walker, diretor da Asianomics: os sinais estão em todos os lugares

Enquanto os economistas do mundo todo debatem se a China terá pouso leve ou forçado, Jim Walker demonstra não ter nenhuma dúvida. Para esse escocês, ex-economista do banco francês Crédit Lyonnais e hoje diretor da consultoria Asianomics, a conclusão é simples: "Economias não fazem pouso suave - nem na Ásia e nem em nenhum lugar. Economias ou simplesmente não pousam ou realizam pousos forçados", afirma o especialista, que trabalha em Hong Kong.

Praticamente isolado nessa posição excessivamente pessimista sobre a China, ele deixa claro do que está falando quando usa a expressão pouso forçado. Isso significa pelo menos um ano de queda do Produto Interno Bruto (PIB) numa comparação anual - ainda que os números oficiais do governo chinês não apontem isso.

"Nem os torcedores de carteirinha da China terão como negar a conclusão da ocorrência de um pouso forçado quando os preços das ações, os balanços dos bancos, os balanços das empresas e dados 'micros', como preço de residências e produção de energia, lhes disserem contrário."

Essa previsão, que consta de um relatório da Asianomics, foi feita por Walker em outubro, antes de o governo chinês começar a relaxar novamente sua política monetária - assim que a alta nos índices de preços deu uma trégua -, para tentar dar novo impulso à economia.

Procurado no fim de janeiro para saber se mudou seu prognóstico, ele foi enfático em manter não apenas a previsão, mas também a estimativa de que o pouso forçado ocorrerá num horizonte de 12 a 18 meses.

"O 'timing' está mantido. Os sinais da desaceleração econômica estão em todos os lugares - produção de aço em queda na comparação anual, ausência de negócios no setor imobiliário, exportações fracas, liquidez apertada no mercado interbancário, índice de gerentes de compras abaixo de 50 (o que indica retração da indústria) e empresas de logística perto de quebrar", disse Walker, por e-mail.

Segundo ele, o afrouxamento das condições de liquidez promovido pelo governo chinês é relativo. "A redução no depósito compulsório apenas permitiu que os empréstimos que estavam fora dos balanços dos bancos pudessem ser reapresentados como crédito oficial", afirmou.

Para chegar à conclusão de que a China viverá um período de retração da economia, Walker começa a análise pela expansão da disponibilidade de moeda e de crédito no país, que considera exagerada. Segundo a Asianomics, nos últimos três anos a China teve uma expansão nominal de crédito equivalente a 45% do PIB do ano anterior. Em um exemplo, se o PIB foi de 100 unidades em um ano, o total de empréstimos na economia teve incremento de 45 unidades no ano seguinte. E assim sucessivamente por três anos, entre 2009 e 2011. "Esses dados pintam o quadro de uma das mais gigantescas inflações da era moderna", disse.

Para efeito de comparação, ele cita que a expansão média anual do crédito ante o PIB do ano anterior ficou entre 20% e 30% nos EUA no período que antecedeu a crise do fim de 2008, para depois apontar retração de 3,5% em 2009 e ficar praticamente estagnada desde então. Walker argumenta que o crescimento excessivo da disponibilidade de recursos leva a más decisões de investimento, que se mostram viáveis apenas enquanto a bicicleta da alta do crédito e da inflação continua a girar.

Segundo o economista, muito desse dinheiro foi empregado na economia real, com construção de casas, universidades, distritos financeiros, estradas, ferrovias e pontes. "Entretanto, também não existe dúvida de que parte desse dinheiro e crédito foi para o preço de ativos - terrenos, casas, carvão, minério de ferro, cobre etc."

Já como resultado dessa "má alocação" de recursos, Walker ressalta que o PIB da China teve crescimento anual real de 9,2% a 10,4% entre 2008 e 2010. No período de 2003 a 2007, diz, quando a disponibilidade de dinheiro e crédito na economia subiam em linha com o PIB nominal, o avanço real da economia chinesa variou entre 10% e 14% ao ano.

De acordo com Walker, que cita o economista austríaco Friedrich Hayek, basta que a expansão monetária desacelere (ela nem mesmo precisa ter retração) para que os sintomas de recessão comecem a aparecer. Na China, diz, esse impacto aparecerá pelo canal do investimento. Walker lembra que a formação bruta de capital fixo (FBCF), um dos componentes do PIB sob a óptica da demanda, é muito mais volátil do que o PIB cheio, já que o consumo das famílias, outro item do PIB, bem mais estável, tende a funcionar como um amortecedor de suas variações. E aí ele tira uma conclusão óbvia dessa observação. "Quanto maior a participação do investimento no PIB, é mais provável que as variações do próprio PIB sejam mais voláteis e maiores entre o pico e o vale." Na China, o peso da FBCF fixo ficou perto de 48% do PIB nos anos de 2009 e 2010.

Walker admite que o governo autoritário do país pode traçar e pôr em prática um plano de construção de estradas e ferrovias na parte oeste da China, para tentar evitar a retração econômica. "Mas isso apenas vai se somar aos já existentes maus investimentos e tornar a perspectiva futura de crescimento econômico do país ainda menos interessante." Ele menciona ainda que já nos últimos anos o incremento adicional de aporte de capital necessário para se somar mais um dólar na produção está aumentando, o que indica perda de eficiência nos investimentos.

Em um exemplo, ele argumenta que o crescimento apoiado em investimentos no setor imobiliário, como visto mais recentemente, é pior do que uma expansão baseado na construção de fábricas. "Casas podem ser um bom lugar para morar, mas elas não produzem nada no dia seguinte", explica.

Como arma de Pequim contra a retração, ele cita a possibilidade de desvalorização da moeda, como feito em um momento de desaceleração da economia em 1994. Os efeitos colaterais seriam pressões políticas e inflação doméstica.[image error]
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Published on February 08, 2012 09:56

Escravos do mercado

Rodrigo Constantino

Meu artigo de ontem na Folha, sobre a intervenção estatal na cultura, suscitou a revolta de alguns, que partiram para o ataque gratuito por email. Em comum na verborragia, a acusação de que eu não entendo nada de arte (monopólio dos fins nobres - só quem quer subsídios estatais pode defender a cultura, naturalmente) e a pergunta retórica: "Você quer que sejamos escravos do mercado?"

Eufemismos à parte, o que quer dizer ser um escravo do mercado? Quer dizer, até onde minha compreensão alcança, que um artista, para sobreviver da sua arte, precisa agradar o público e convencê-lo a pagar pelo espetáculo voluntariamente. A alternativa que vejo, a única, é impor aos consumidores o pagamento destes espetáculos, à sua revelia. Ou seja, para o artista não ser "escravo do mercado", o mercado (o público) deve ser seu escravo.

Eu entendo como a vida de artistas sérios é dura em um país que só quer saber de samba, funk, futebol e BBB. Gostaria muito que o teatro fosse mais valorizado no Brasil, que a literatura fosse parte de nossa cultura, que bons filmes nacionais fossem feitos e até exportados (isso está começando, devagar). Mas não acho que o estado deve fazer isso. Não acho que minhas preferências devem ser impostas aos demais. Este é um caminho perigoso.

Para quem tiver interesse no assunto, seguem artigos meus antigos que aprofundam meus argumentos:

O Intelectual e o Mercado

Simbiose Artística

Cinema Nacional nas Escolas[image error]
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Published on February 08, 2012 09:17

TV Pública ou Privada?

Rubem de Freitas Novaes

São muitas as campanhas na internet contra programas televisivos julgados como sendo de mau gosto. A mais recente destas campanhas investe pesadamente, valendo-se de um texto de autoria falsa do Luís Fernando Veríssimo, contra o Big Brother e a TV Globo. Note-se que a TV aberta encontra-se num momento difícil em que tenta preservar qualidade e, ao mesmo tempo, atender a um público cada vez menos, digamos, exigente. Televisão já foi entretenimento apenas de elite. Quedas de preço dos aparelhos, abundância de crédito aos consumidores e elevação da renda média de brasileiros, antes marginalizados da economia de mercado, colocaram a "telinha" em todas as residências. Acresce que dezenas de canais da TV por assinatura atraem, cada vez mais, a clientela mais sofisticada com programações direcionadas a gostos específicos. Querer que a TV aberta não atenda a seu público, mantendo apenas programação de "alto nível", parece atitude elitista e autoritária. Como bem ressaltou Veríssimo em sua coluna, o telespectador insatisfeito tem a sua disposição a maior das armas: o controle remoto. Que mude de canal ou desligue o aparelho!

Vivemos ainda numa economia de mercado onde se impõe a soberania do consumidor. Se não é a vontade do telespectador, que vontade deverá ser atendida? O desejo de melhorar o homem por imposição de vontades pode ter suas boas intenções, mas, na prática da História, levou-nos ao nazismo e ao comunismo, onde governantes controlavam a educação e a informação para atingir seus objetivos, nem sempre os mais nobres. Uma TV privada, para sobreviver economicamente independente, precisa atender a seu público, para que tenha audiência e anunciantes. A alternativa a ela é a TV pública ou a TV dependente de esmolas públicas. Entre o telespectador e o Estado decidindo o que é bom ouvir e ver, fiquemos com o consumidor telespectador![image error]
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Published on February 08, 2012 07:54

February 7, 2012

Capitalismos

João Luiz Mauad, O GLOBO

Em meio a declarações bombásticas, como "o capitalismo faliu a sociedade" ou "precisamos redesenhar o modelo", foi realizado em fins de janeiro, o Fórum Econômico Mundial, versão 2012, que, segundo os organizadores, buscava "novos modelos para reformar o capitalismo" (quanta pretensão!).

Ao ler esses disparates, tem-se a nítida impressão de que o Fórum de Davos se parece cada vez mais com o famigerado Fórum Social Mundial. Mais alguns anos e os socialistas do FSM nem precisarão mais gastar dinheiro com sua patuscada anual em Porto Alegre. A trupe dos Alpes - composta de lideranças políticas, empresariais e acadêmicas -, ela mesma a responsável primária pelos problemas atuais dessa coisa disforme que ainda insistem chamar de capitalismo, fará todo o serviço por eles.

Foi Marx quem deu nome ao modelo de organização econômica que substituiu o feudalismo e o mercantilismo. O capitalismo, entretanto, não foi criado por nenhuma mente brilhante, nem parido em saraus intelectuais que visavam mudar o mundo ou a natureza humana. Ao contrário, surgiu como resultado natural dos processos sociais de divisão do trabalho e trocas voluntárias, realizados num ambiente de liberdade até então poucas vezes visto ao longo da história.

Os economistas clássicos chamavam-no de laissez-faire. O governo era um mero coadjuvante, cujo papel limitava-se a fazer cumprir os contratos, proteger a vida e a propriedade dos cidadãos. As maiores virtudes desse modelo, na visão de Adam Smith, eram a liberdade de empreendimento e o governo limitado – este último um antídoto contra as arbitrariedades, os desmandos e as falcatruas inerentes ao poder político. Em resumo, o sistema pouco dependia das virtudes dos bons governantes, enquanto os danos causados pelos maus eram mínimos.

Por conta de um desses grandes paradoxos da vida, no entanto, o livre mercado preconizado pela Escola Clássica, embora tivesse trazido volumes de riqueza inauditos aos países que o abraçaram, foi sendo paulatinamente substituído, principalmente no decorrer do século XX, por um novo arranjo institucional, na verdade uma teratologia apelidada de capitalismo de estado.

O processo de substituição foi bastante facilitado pelo fato de que muito poucos estavam dispostos a defender, politicamente, o capitalismo liberal. Não é de admirar. O liberalismo, afinal, é muito arriscado, pouco previsível e totalmente incontrolável, seja por empresários, políticos ou acadêmicos. Tal modelo, embora possibilite uma acumulação coletiva extraordinária de riqueza, está longe de ser um caminho seguro para o sucesso individual.

No capitalismo de estado, por outro lado, o governo é capturado por grupos de interesse que o utilizam para promover a transferência de riqueza e status. Num processo lento, mas ininterrupto, castas influentes e bem articuladas obtêm privilégios especiais, contratos, empregos, benefícios fiscais, créditos baratos, resgates e proteções diversas, sempre às custas do imposto alheio. No fim e ao cabo, haverá mais parasitas que hospedeiros. O resultado final dessa loucura não é fácil de antever, mas os cenários possíveis são pouco animadores: desemprego em massa, hiperinflação, revolução, guerra ou alguma combinação.

Embora seja muito difícil ao bom senso aceitar que certos vícios pessoais - gastos maiores que a renda; endividamentos progressivos; intromissão siatemática na vida alheia - possam ser virtuosos quando praticados por governos, o que se vê atualmente é o mais absoluto desprezo às virtudes da prudência e da parcimônia, bem como às liberdades individuais, tão caras aos economistas clássicos.

Diariamente, os jornais dão conta de salvamentos bancários, injeções maciças de recursos públicos em empresas falidas, torrentes de dinheiro despejadas no sistema, além da produção de centenas de milhares de novas regulamentações. Apesar disso, os arautos do capitalismo de estado, na ilusão de que todos os problemas econômicos podem ser resolvidos pela vontade política, insistem em que o mundo precisa de ainda mais supervisão, mais gastos e mais regulação, o que fatalmente redundará em mais corporativismo e mais favorecimento.

Os defensores da espiral intervencionista, no entanto, se esquecem que hoje vivemos o amanhã de ontem. E, malgrado esta quimera que chamam de neoliberalismo, para qualquer lado que se olhe, nos últimos 80 anos, só enxergamos o inchaço dos estados. Na realidade, se o capitalismo de estado fosse essa panacéia toda, jamais teríamos mergulhado noutra crise.[image error]
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Published on February 07, 2012 09:16

Os pequenos príncipes

JOÃO PEREIRA COUTINHO, Folha de SP

Viajo de trem todas as semanas. Pode ser a melhor viagem do mundo. Ou a pior. Depende das crianças. Da existência delas.
Quando não há crianças a bordo, são três horas de puro hedonismo pessoal. Entro na carruagem, desligo o celular, sento-me. Descalço os sapatos. Leio um pouco, escrevo um pouco. Bebo também um pouco -um uísque de malte, tolerável, embora em copo de plástico (não há mundos perfeitos). Escuto música, assisto a um filme antigo no laptop.
E durmo -20 minutos, 30 minutos de meditação profunda, só para restaurar a minha beleza natural. Já pensei em levar duas rodelas de pepino no bolso só para colocar sobre as pálpebras exaustas.
Quando chego ao destino, sinto-me tão relaxado que a minha vontade é comprar uma passagem de volta e repetir o spa ferroviário.
São as crianças que estragam tudo. Minto. São os pais das crianças. Existem dois grupo nas minhas experiências ambulantes.
O primeiro é composto por múmias deslumbradas com os filhos. Não se mexem. Contemplam. E contemplam com orgulho a forma como a descendência berra, suja e destrói a carruagem. O amor dos pais-múmia não se manifesta por ação, mas por omissão. Os filhos são tão absolutamente adoráveis que a selvajaria deles é digna de uma bailado de Nijinsky (1890-1950).
O segundo grupo é tão pernicioso quanto o primeiro. Mas onde antes havia deficit de disciplina, agora há excesso. Um gesto brusco dos filhos é mimetizado por um gesto brusco dos pais. Os filhos levantam-se subitamente, os pais levantam-se logo a seguir. Os filhos correm, os pais correm atrás. Os filhos berram, os pais berram com eles. Os filhos destroem a carruagem, os pais destroem os filhos.
Seja como for, o resultado é sempre o mesmo: uma viagem arruinada para terceiros. Certa vez, em desespero de causa, ainda tentei encontrar um compromisso. E perguntei a uma das assistentes de bordo se não seria possível a existência de uma carruagem à parte, só para crianças, como acontece com certos animais de estimação.
A donzela respondeu-me com um trejeito de horror profundo, como se eu fosse o Dr. Mengele a sugerir mais uma experiência médica. Deus meu, serei um monstro?
Pamela Druckerman diz que não. A sra. Druckerman é uma escritora americana a viver em França, mãe de três crianças e admiradora confessa das crianças dos outros. Crianças francesas, entenda-se, que se comportam em público e privado como os seus próprios filhos não se comportam em lado algum.
Como explicar a educação esmerada dos pequenos gauleses por oposição à rebeldia incontrolável dos pequenos americanos?
A resposta pode estar em "Bringing Up Bébé: One American Mother Discovers the Wisdom of French Parenting". O livro é lançado nesta semana, mas o "Wall Street Journal" já avançou com um aperitivo.
O segredo, conta Druckerman, não está no excesso de disciplina; muito menos na escassez dela. Está na forma adulta como os adultos normalmente (não) tratam as crianças. Ou descem ao nível mental delas; ou, pior, procuram elevá-las violentamente ao nível mental deles.
Que cada um tenha um papel específico na relação (a saber: educar e ser educado), eis um pensamento simplório que não passa pela cabeça dos pais modernos.
E, no entanto, é precisamente esse papel que os pais franceses tentam imprimir nos filhos. Como? Mostrando-lhes, de preferência sem berrar ou bater, que "não" é simplesmente "não"; que a frustração e o tédio fazem parte da existência humana; e que, às vezes, é preciso adiar a gratificação instantânea, sobretudo em matéria gastronômica.
Tudo isso é comunicado sem violência ou sentimentalismo; apenas com respeito e firmeza.
O resultado, escreve Druckerman, pode ser visto em restaurantes, lojas, escolas -e nas casas de cada um: paz na hora das refeições; paz nas compras cotidianas; paz na aprendizagem escolar; e paz, também, para amigos ou convidados da família.
Moral da história? Da próxima vez que tomar meu trem, prometo levar na mala alguns exemplares do livro da sra. Druckerman. Para oferecer em caso de emergência.
Se nem isso funcionar, paciência: só me resta abrir a janela e jogar fora pais e filhos.[image error]
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Published on February 07, 2012 07:51

Casamento difícil

Rodrigo Constantino, O GLOBO

Completam-se hoje duas décadas da assinatura do Tratado de Maastricht, marco da criação da União Europeia. A data é adequada para uma análise da situação na região, que vive sua pior crise desde então, com a maior taxa de desemprego dos últimos tempos. A própria sobrevivência do euro não está garantida.
O projeto que criou a moeda comum partiu das elites europeias, incluindo socialistas franceses que sonhavam com um meio para recuperar seu prestígio e influência. O principal objetivo era político: domar a Alemanha recém-unificada. A ortodoxia de seu banco central (Bundesbank) e as reformas conhecidas como "ordoliberalismo" transformaram o país em uma potência na região. A valorização do marco frente às demais moedas era uma constante humilhação para todos.
O sonho de se criar os Estados Unidos da Europa veio a calhar para aqueles que desejavam enterrar de vez o Bundesbank. Mas os alemães não iriam sucumbir facilmente. Houve muita resistência ao projeto, e o maior receio era justamente a perda do rigor monetário. O Banco Central Europeu (BCE) teria que ser independente. Nenhum país poderia ter mais que 3% do PIB em déficit fiscal ou mais de 60% do PIB de dívida pública.
Tudo acertado, foi dada a largada rumo à convergência. Quando gregos, portugueses, espanhóis e italianos puderam se endividar pagando taxas alemãs, teve início uma farra de crédito. O estado de bem-estar social encontrou farto financiamento para suas benesses. Todos pareciam felizes. Mas havia um detalhe: aqueles países continuavam muito diferentes entre si.
Enquanto a Alemanha fazia seu dever de casa, o restante acumulava dívidas impagáveis. A Grécia é um caso extremo, mas a situação é caótica para os outros também. Com a crise deflagrada em 2008, a era da bonança de crédito fácil acabou. A Europa, que nadava nua, ficou exposta.
Logo surgiram fortes pressões para duas medidas: união fiscal e atuação mais agressiva do BCE. No primeiro caso, fala-se de "solidariedade", o que pode ser traduzido como os mais trabalhadores e produtivos sustentando os mais preguiçosos e ineficientes. No segundo caso, trata-se da saída inflacionária, uma espécie de calote disfarçado.
Nenhuma das alternativas agrada os alemães. Ficar transferindo mesada para gregos não pode ser uma solução séria para a crise. Quanto à inflação, os alemães morrem de medo, pois já passaram por isso e o resultado foi Hitler. Por isso os alemães insistem tanto na necessidade de duras reformas de austeridade.
Apertar os cintos, contudo, exige postura de estadista, que foca no longo prazo. Estadistas estão em falta na Europa (e no mundo). Os políticos parecem preocupados apenas com as próximas eleições, e desejam empurrar os problemas com a barriga. O que querem é mais estímulo fiscal e monetário. Mas foi justamente isso que agravou a crise!
O acúmulo de rombos fiscais e endividamento está no cerne dos problemas atuais. As autoridades pedem mais veneno para curar a doença. Na vã esperança de evitar a ressaca, sonha-se ser possível permanecer eufórico com mais bebida.
O governo Obama foi por este caminho, produziu o maior déficit fiscal da história americana, o banco central inundou os mercados com dólares, mas o desemprego segue elevado e a economia patinando. Os investidores sabem que terão de pagar a conta, e perdem a confiança no futuro. E quem produz riqueza de fato é o setor privado, não o governo.
O que existe na Europa é um grave problema de baixa competitividade nos países periféricos, além da enorme dívida e de uma bomba-relógio demográfica, mortal para o welfare state. A região perdeu dinamismo, as "conquistas" trabalhistas engessam a economia, e os privilégios do setor público criaram uma classe de parasitas acomodados. Nada disso vai ser resolvido com mais estímulos do governo.
Austeridade ou crescimento? Trata-se de uma falsa dicotomia. O governo, para gastar, precisa tirar do setor privado via impostos ou produzir inflação, o que dá no mesmo. A diferença é que alguns focam somente no curtíssimo prazo, enquanto outros estão preocupados com a sustentabilidade do crescimento.
O ministro das Finanças alemão compreende isso, e declarou que uma redução razoável dos elevados déficits é condição sine qua non para um crescimento sustentável. Já a França deve eleger um socialista, cujo discurso vai à contramão das reformas necessárias para sair da crise.
Duas décadas depois do Tratado de Maastricht, os membros da zona do euro ainda falam línguas diferentes. Assim fica muito difícil salvar este casamento.[image error]
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Published on February 07, 2012 04:16

O mecenas estatal

Rodrigo Constantino, Folha de SP

As obras de arte, a literatura, os filmes e a música - tudo aquilo que procura dar um sentido mais elevado à nossa existência, enfim - merecem especial atenção de quem estiver preocupado em evitar que a vida seja uma simples rotina pela sobrevivência material. Os homens têm (ou deveriam ter) sede por cultura, o alimento da alma. Mas surge logo a questão: qual tipo de cultura?

Muitas pessoas bem-intencionadas defendem que o Estado deve se imiscuir nessa tarefa e estimular a cultura nacional.

Sua premissa costuma ser a de que o povo consome lixo porque os grandes veículos de comunicação empurram goela abaixo dos consumidores somente porcaria. Mas, como já disse o George Stigler, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, "o mercado reage aos gostos dos consumidores com bens e serviços vendáveis, sejam os gostos refinados ou grosseiros".

O mercado é eficiente no atendimento da demanda. A qualidade não é responsabilidade da TV, da editora, da rádio ou do estúdio de cinema. Quem culpa os produtores erra o alvo. O YouTube, por exemplo, oferece vídeos para todos os gostos. É possível encontrar excelentes concertos e documentários, e também há muita besteira. Se os vídeos idiotas recebem mais atenção, não é culpa do YouTube.

A postura de quem deseja mais intervenção estatal na cultura parece um tanto arrogante. Acredita-se que as escolhas dos consumidores deveriam ser "melhores". Mas quem vai decidir?

Os defensores de "reservas de mercado" para produtos nacionais gostariam que o povo escolhesse filmes brasileiros em vez de "enlatados" de Hollywood. Mas os próprios consumidores querem os filmes americanos. Ninguém é obrigado a vê-los.

Os estúdios americanos são ricos justamente porque priorizam os seus consumidores. Já os filmes franceses, feitos para agradar aos próprios produtores subsidiados pelo governo, são adorados pelos intelectuais, mas desfrutam de baixa receptividade popular.

Aplaudir este modelo é acreditar que o povo, por meio de seus impostos, deve ser forçado a sustentar as preferências da elite. Isso é incompatível com a liberdade de escolha.

Além disso, há o claro risco de proselitismo nas artes. Quando os príncipes católicos eram os únicos mecenas na praça, toda a arte era voltada para satisfazer as suas crenças religiosas. Não se pode negar que obras maravilhosas nasceram assim. Tampouco se deve ignorar que a abrangência de temas foi ainda maior com o avanço da burguesia.

Em sua biografia sobre Mozart, Norbert Elias mostra como esse gênio "burguês" foi capaz de romper com a dependência exclusiva da aristocracia da corte, e como isso foi fundamental para sua obra.

A independência do artista é crucial para sua criação. O cão não morde a mão que alimenta. Quando o artista depende das verbas estatais para sobreviver, ele terá que atender a demanda de burocratas poderosos que decidem o seu futuro com uma canetada.

Quem alega que os artistas nacionais precisam da mão estatal ignoram que é justamente a livre concorrência que obriga a busca constante pela melhoria. Quando o produto é bom, as cotas e subsídios são inúteis. Basta ver o sucesso de alguns filmes brasileiros recentes. Nada como a concorrência para aprimorar a qualidade.

A cultura é algo extremamente valioso. Justamente por isso, o governo não deve interferir no assunto. A cultura não deve ser imposta de cima para baixo, mesmo que as elites condenem a preferência vulgar do povo. Deve-se preservar a liberdade de escolha. Quanto a tais escolhas, deve-se lembrar que gosto não se discute, só se lamenta.[image error]
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Published on February 07, 2012 03:56

February 6, 2012

Socialismo x Capitalismo

Uma imagem vale mais do que mil palavras...

Do Bastiat Institute[image error]
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Published on February 06, 2012 12:17

Senhorita Christina

LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

Há algumas semanas, eu escrevia sobre "exus" e sua "ciência das mulheres". Muitos leitores estranharam a conversa entre o niilista e uma entidade sobrenatural. Lamento dizer que também já conversei com (supostos) "extraterrestres".
Sempre nutri um interesse específico por almas penadas. Não por acaso, tornei-me, entre outras coisas, um estudioso de religião.
Para alguém como eu, dado a uma sensibilidade monotonamente cética, espanta como há 300 mil anos (desde o Paleolítico), mais ou menos, a humanidade crê em e vive cercada de seres sobrenaturais atormentados que nos atormentam.
As almas que padecem como se fossem vivas me encantam. Uma amiga minha costuma dizer que o mundo do além é pior do que este em que vivemos. Esta forma de crença em espíritos me apetece.
A forma segundo a qual, como apresenta o horroroso filme "Nosso Lar", espíritos desfilam seus modelitos batas hippies à la Roma antiga e suspiram ares de amor por toda a humanidade me entendia profundamente.
Portanto foi a agonia do sobrenatural, o possível desespero sem fim da alma humana nas suas variadas formas, desde o pecado original judaico-cristão até o abismo sem fundo de espíritos condenados às paixões humanas mais baixas e eternas (enfim, o mal na sua forma encarnada) o que me levou ao estudo das religiões, e não qualquer forma de fé em divindades ou ódio ideológico (comum em especialistas em religiões) contra as religiões.
Sou imune à dependência ou necessidade psicológica que caracterizam a maioria dos crentes. Tampouco partilho da falsa virtude intelectual que alimenta o orgulho infantil de muitos ateus.
Parece ter sido algo semelhante que levou o romeno Mircea Eliade (1907-1986) a se tornar um dos maiores historiadores da religião.
Eliade começou sua carreira escrevendo, junto com seu doutorado, sobre mística hindu, ficções de terror, e o título desta coluna tem a ver com uma boa notícia para quem aprecia a obra desse grande intelectual romeno.
A editora Tordesilhas acaba de publicar entre nós, numa edição muito bem-acabada, o romance gótico "Senhorita Christina", de 1936, de Mircea Eliade ("Domnisoara Christina", em romeno).
A edição traz um excelente posfácio analítico assinado por Sorin Alexandrescu (especialista em literatura romena e sobrinho de Mircea Eliade). Para Alexandrescu, Eliade descreve um mundo entre a carne, a morte e o diabo. E seu romance nos leva para esse mundo.
Senhorita Christina, a personagem principal do romance que carrega seu nome, é uma "strigoi".
"Strigoi", em romeno, significa um ser sobrenatural maldito, meio humano, meio monstro, um morto-vivo. O famoso vampiro é uma forma de "strigoi".
A cultura ancestral romena é saturada de narrativas de "strigoi".
O pessimismo na Romênia brota do solo dos Cárpatos e da Transilvânia. Vem junto com o leite materno. Basta lermos outros romenos ilustres da mesma geração de Eliade, como o filósofo Cioran e o dramaturgo Ionesco.
"Strigoi" são sedentos de sangue humano, assim como da vida dos mortais, que são consumidos por esses infelizes atormentados para quem o fardo maior é saber que a morte pode não ser um descanso.
Christina, uma mulher linda, sensual e rica, morta aos 20 anos por um amante, depois de uma vida devassa, atormenta a propriedade onde vivia e que, agora (quase 30 anos após sua morte), é habitada por sua irmã e duas filhas.
Igor, um pintor famoso, apaixonado por uma das sobrinhas da vampira Christina, se hospedará na propriedade. A infeliz vampira se apaixonará por ele e tentará desesperadamente seduzi-lo.
A obra foi considerada por muitos um livro pornográfico, devido às cenas eróticas entre a morta Christina e o pintor Igor.
Ao contrário do que se espera, Christina sofrerá como qualquer mulher apaixonada devorada pelo desejo erótico negado. Suas habilidades monstruosas emudecem diante do amor impossível pelo mortal Igor.
O livro é uma história de amor e desejo como maldição eterna, por isso é uma obra romântica que fala da alma sempre presa entre o corpo e o mal. Sem a esperança da morte, Christina sofrerá.[image error]
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Published on February 06, 2012 03:55

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Rodrigo Constantino
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