Rodrigo Constantino's Blog, page 396

January 20, 2012

Leviatã capitalista


Rodrigo Constantino

A revista The Economist traz em sua última edição uma reportagem de capa sobre o avanço do capitalismo de estado nos países emergentes. A matéria disseca em várias páginas este "novo" modelo, fazendo um grande esforço para enxergar o lado positivo dele. Argumenta que há mudanças em relação ao passado, como uma maior profissionalização nas estatais ou o uso dos mercados de capitais para alavancar estas empresas.

Mas, mesmo sob uma lente obsequiosa, as conclusões da revista britânica não são nada favoráveis ao capitalismo de estado. Ele fomenta o "capitalismo de compadres", onde governantes escolhem os amigos vencedores, prejudicando todas as outras empresas. Ele acaba engessando a "destruição criadora", limitando as inovações dinâmicas. Ele causa grandes estragos sob governos incompetentes. Ele estimula bastante a corrupção e o autoritarismo, concentrando poder demais em poucos governantes. E por aí vai.

A revista conclui, portanto, que as desvantagens superam as vantagens, e que as falhas do modelo levam alguns anos até ficarem evidentes. Se as estatais são tão eficientes e competitivas como se argumenta, então mais um motivo para que não precisem do apoio estatal. Subsídios e protecionismo servem para garantir sobrevida aos incapazes de competir no livre mercado.

A conclusão da revista é óbvia para qualquer brasileiro mais atento, cansado de conhecer as desgraças do capitalismo de estado. Podem ter algumas mudanças no cenário que limitam o estrago do modelo, como uma maior abertura comercial e a presença de investidores estrangeiros atentos. Mas nada disso pode alterar sua essência, que será sempre a ineficiência. Faltam os mecanismos adequados de incentivo, presentes somente no capitalismo de livre mercado.

Para quem tiver interesse em se aprofundar no tema, recomendo a leitura do livro "The Commanding Heights", de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw. Ele não é novo, mas tampouco o agora reverenciado capitalismo de estado o é.[image error]
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Published on January 20, 2012 03:14

January 19, 2012

Leviatã capitalista

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Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal

A revista The Economist traz em sua última edição uma reportagem de capa sobre o avanço do capitalismo de estado nos países emergentes. A matéria disseca em várias páginas este "novo" modelo, fazendo um grande esforço para enxergar o lado positivo dele. Argumenta que há mudanças em relação ao passado, como uma maior profissionalização nas estatais ou o uso dos mercados de capitais para alavancar estas empresas.

Mas, mesmo sob uma lente obsequiosa, as conclusões da revista britânica não são nada favoráveis ao capitalismo de estado. Ele fomenta o "capitalismo de compadres", onde governantes escolhem os amigos vencedores, prejudicando todas as outras empresas. Ele acaba engessando a "destruição criadora", limitando as inovações dinâmicas. Ele causa grandes estragos sob governos incompetentes. Ele estimula bastante a corrupção e o autoritarismo, concentrando poder demais em poucos governantes. E por aí vai.

A revista conclui, portanto, que as desvantagens superam as vantagens, e que as falhas do modelo levam alguns anos até ficarem evidentes. Se as estatais são tão eficientes e competitivas como se argumenta, então mais um motivo para que não precisem do apoio estatal. Subsídios e protecionismo servem para garantir sobrevida aos incapazes de competir no livre mercado.

A conclusão da revista é óbvia para qualquer brasileiro mais atento, cansado de conhecer as desgraças do capitalismo de estado. Podem ter algumas mudanças no cenário que limitam o estrago do modelo, como uma maior abertura comercial e a presença de investidores estrangeiros atentos. Mas nada disso pode alterar sua essência, que será sempre a ineficiência. Faltam os mecanismos adequados de incentivo, presentes somente no capitalismo de livre mercado.

Para quem tiver interesse em se aprofundar no tema, recomendo a leitura do livro "The Commanding Heights", de Daniel Yergin e Joseph Stanislaw. Ele não é novo, mas tampouco o agora reverenciado capitalismo de estado o é.[image error]
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Published on January 19, 2012 14:51

The rise of state capitalism


The Economist

The spread of a new sort of business in the emerging world will cause increasing problems

OVER the past 15 years striking corporate headquarters have transformed the great cities of the emerging world. China Central Television's building resembles a giant alien marching across Beijing's skyline; the 88-storey Petronas Towers, home to Malaysia's oil company, soar above Kuala Lumpur; the gleaming office of VTB, a banking powerhouse, sits at the heart of Moscow's new financial district. These are all monuments to the rise of a new kind of hybrid corporation, backed by the state but behaving like a private-sector multinational.

State-directed capitalism is not a new idea: witness the East India Company. But as our special report this week points out, it has undergone a dramatic revival. In the 1990s most state-owned companies were little more than government departments in emerging markets; the assumption was that, as the economy matured, the government would close or privatise them. Yet they show no signs of relinquishing the commanding heights, whether in major industries (the world's ten biggest oil-and-gas firms, measured by reserves, are all state-owned) or major markets (state-backed companies account for 80% of the value of China's stockmarket and 62% of Russia's). And they are on the offensive. Look at almost any new industry and a giant is emerging: China Mobile, for example, has 600m customers. State-backed firms accounted for a third of the emerging world's foreign direct investment in 2003-10.

With the West in a funk and emerging markets flourishing, the Chinese no longer see state-directed firms as a way-station on the road to liberal capitalism; rather, they see it as a sustainable model. They think they have redesigned capitalism to make it work better, and a growing number of emerging-world leaders agree with them. The Brazilian government, which embraced privatisation in the 1990s, is now interfering with the likes of Vale and Petrobras, and compelling smaller companies to merge to form national champions. South Africa is also flirting with the model.

This development raises two questions. How successful is the model? And what are its consequences—both in, and beyond, emerging markets?

The law of diminishing returns

State capitalism's supporters argue that it can provide stability as well as growth. Russia's wild privatisation under Boris Yeltsin in the 1990s alarmed many emerging countries and encouraged the view that governments can mitigate the strains that capitalism and globalisation cause by providing not just the hard infrastructure of roads and bridges but also the soft infrastructure of flagship corporations.

So Lee Kuan Yew's government in Singapore, an early exponent of this idea, let in foreign firms and embraced Western management ideas, but also owned chunks of companies. The leading practitioner is now China. The tight connection between its government and business will no doubt be on display when the global elite gathers in the Swiss resort of Davos next week. Among Westerners there, government delegates often take the opposite view to those from the private sector: Chinese delegates from both sides tend to have the same point of view, and even the same patriotic talking-points.

The new model bears little resemblance to the disastrous spate of nationalisations in Britain and elsewhere half a century ago. China's infrastructure companies win contracts the world over. The best national champions are outward-looking, acquiring skills by listing on foreign exchanges and taking over foreign companies. And governments are selective in their corporate holdings. Overall, the Chinese state has loosened its grip on the economy: its bureaucrats concentrate on industries where they can make a difference.

Let a thousand mobiles bloom

Yet a close look at the model shows its weaknesses. When the government favours one lot of companies, the others suffer. In 2009 China Mobile and another state giant, China National Petroleum Corporation, made profits of $33 billion—more than China's 500 most profitable private companies combined. State giants soak up capital and talent that might have been used better by private companies. Studies show that state companies use capital less efficiently than private ones, and grow more slowly. In many countries the coddled state giants are pouring money into fancy towers at a time when entrepreneurs are struggling to raise capital.

Those costs are likely to rise. State companies are good at copying others, partly because they can use the government's clout to get hold of their technology; but as they have to produce ideas of their own they will become less competitive. State-owned companies make a few big bets rather than lots of small ones; the world's great centres of innovation are usually networks of small start-ups.

Nor does the model guarantee stability. State capitalism works well only when directed by a competent state. Many Asian countries have a strong mandarin culture; South Africa and Brazil do not. Coal India is hardly an advertisement for efficiency. And everywhere state capitalism favours well-connected insiders over innovative outsiders. In China highly educated princelings have taken the spoils. In Russia a clique of "bureaugarchs", often former KGB officials, dominate both the Kremlin and business. Thus the model produces cronyism, inequality and eventually discontent—as the Mubaraks' brand of state capitalism did in Egypt.

Rising powers have always used the state to kick-start growth: think of Japan and South Korea in the 1950s or Germany in the 1870s or even the United States after the war of independence. But these countries have, over time, invariably found that the system has limits. The Chinese of all people should understand that the best way to learn from history is to look at its long sweep.

But it may take many years for the model's weaknesses to become obvious; and, in the meantime, it is likely to cause all sorts of problems. Investors in emerging markets, for instance, need to watch out. Some may be taking a punt on governments as much as companies. State-capitalist governments can be capricious, with scant regard for minority shareholders. Others may find their subsidiaries or joint ventures in emerging markets pitted against state-backed favourites.

Another concern is the impact of the model on the global trading system—which, at a time when the likely Republican nominee for president wants to declare China a currency manipulator on his first day of office, is already at risk. Ensuring that trade is fair is harder when some companies enjoy the support, overt or covert, of a national government. Western politicians are beginning to lose patience with state-capitalist powers that rig the system in favour of their own companies.

For emerging countries wanting to make their mark on the world, state capitalism has an obvious appeal. It gives them the clout that private-sector companies would take years to build. But its dangers outweigh its advantages. Both for their own sake, and in the interests of world trade, the practitioners of state capitalism need to start unwinding their huge holdings in favoured companies and handing them over to private investors. If these companies are as good as they boast they are, then they no longer need the crutch of state support.[image error]
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Published on January 19, 2012 10:38

January 18, 2012

Propaganda infantil: proibir ou não?

Vídeo onde argumento contra a nova tentativa de proibirem a propaganda voltada ao público infantil das 7h às 22h na televisão. Trata-se de medida extremamente perigosa para nossas liberdades básicas.[image error]
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Published on January 18, 2012 14:38

A maldição do brizolismo


Rodrigo Constantino

Se estivesse vivo, Leonel de Moura Brizola completaria 90 anos de idade no próximo domingo. Dizem que não é educado atacar alguém que já faleceu. Mas quando suas idéias e seu mito ainda vivem, influenciando a política atual, considero legítimo o esforço de desmistificar o defunto. É justamente o que pretendo fazer, de forma sucinta, abaixo.

Brizola representa, em minha opinião, o que sempre houve de pior na política brasileira. Extremamente populista e demagogo, ele sempre esteve do lado errado nas lutas ideológicas. Se o Brasil é um país pobre e atrasado, então Brizola tem sua parcela de culpa nisso, por menor que seja (e não creio ser tão pequena). Especialmente para os cariocas, o estrago causado pelo brizolismo foi imenso, com seqüelas sentidas até hoje.

Eu tive a oportunidade de assistir um debate em que Brizola participou, na PUC do Rio. Lembro de ter questionado, à ocasião, sobre como aquela retórica vazia podia conquistar tantos estudantes. Reconheço que ele era bom na arte da retórica, ou seja, era um excelente sensacionalista. Ainda assim, era sensacionalismo puro! Mas os alunos ficavam encantados, repetindo aquelas palavras de ordem, aqueles chavões nacionalistas bobocas.

Vejamos o caso das privatizações. Brizola sempre foi uma das mais virulentas vozes contrárias ao processo de desestatização. Em abril de 1997, chegou a escrever no Jornal do Commercio: "A privatização da Vale é um ato insano e injustificável; eu desconfio da inteireza mental do presidente Fernando Henrique". O discurso de Brizola contra o suposto "entreguismo" sempre foi carregado de xenofobia, como se o comércio mundial fosse apenas uma batalha de estrangeiros contra brasileiros. Nada mais falso, obviamente.

A mentalidade caudilhista sempre esteve presente em Brizola, que foi lançado na política por Getúlio Vargas, um ditador. Sua ligação com o tirano de Cuba, Fidel Castro, era apenas um passo natural para um esquerdista que sonhava em impor o socialismo goela abaixo dos brasileiros (nos turbulentos anos de 1964, Brizola chegou a sugerir um "golpe preventivo" a seu cunhado, Jango). Brizola foi presidente de honra da Internacional Socialista, e conspirou a vida toda em prol deste regime que, por onde passou, deixou um rastro de miséria e escravidão.

Seu oportunismo fez com que Brizola fosse o único político a governar dois estados diferentes na história do Brasil: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Como carioca, posso atestar que esta foi a pior "exportação" que os gaúchos fizeram para o Rio, do ponto de vista dos moradores da Cidade Maravilhosa, naturalmente. Sem receio de exagerar na dose, Brizola foi o maior responsável pela desgraça que se abateu sobre o Rio desde então. Ao blindar as favelas contra a ação policial, sob o manto de proteção aos "pobres", Brizola ajudou a criar verdadeiras fortalezas do crime. A homenagem dos traficantes parece justa, ao nomearem a cocaína dos morros de "brizola".

Além disso, temos todos aqueles CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública) abandonados, mas estrategicamente colocados à beira das estradas, talvez para propaganda política. Esqueletos de cimento que serviram para o discurso populista de Brizola e seus seguidores, em prol da educação das crianças carentes. Os tais "Brizolões", com projeto arquitetônico do comunista Oscar Niemeyer, comprovam que não bastam boas intenções – se é que existiram de fato – para se obter bons resultados. A esquerda sempre tentou monopolizar as virtudes, sem ligar para as conseqüências concretas de suas ações.

Se Brizola já se foi, o brizolismo continua vivo. Infelizmente. Seus filhotes políticos governaram o Rio por muitos anos. Um dos principais ícones mais recentes deste brizolismo é Antony Garothinho. Sua marca é a demagogia elevada, a retórica de luta de classes, o nacionalismo xenófobo, e a idolatria do estado como único meio para os fins nobres. A simbiose entre governo e máfias sindicais tem sido outra marca do brizolismo também, herança absorvida pelo PDT de Carlos Lupi e companhia.

Todo este sensacionalismo daqueles que falam em nome dos pobres trabalhadores tem servido apenas para concentrar riqueza nos próprios sensacionalistas e seus apaniguados, espalhando miséria aos demais. Não custa lembrar que o próprio Brizola era um abastado fazendeiro, com grande criação de ovelhas no Uruguai. O que tem de político rico à custa dos pobres que alegam defender não é brincadeira!

Aliás, reza a lenda que parte do capital usado para a compra da fazenda no Uruguai veio do desvio de recursos que o ditador Fidel Castro teria dado a Brizola para financiar movimentos revolucionários no Brasil. O boato rendeu o apelido de "El raton" a Brizola. Não sei se é verdade ou não. Mas se for, trata-se da segunda coisa louvável de Brizola que tenho conhecimento (a primeira foi apelidar Lula, seu concorrente direto, de "sapo barbudo"): roubar dinheiro do El Coma Andante! Só de pensar na cara de raiva do senhor feudal cubano, impedido de revelar publicamente o fato para não passar recibo de otário, ah, isso não tem preço![image error]
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Published on January 18, 2012 09:32

January 17, 2012

Morrer pelos homens?

João Pereira Coutinho, Folha de SP

A "autoestima" das mulheres depende da estima que elas esperam receber dos homens

LIGO A TV. Notícias tenebrosas sobre os implantes mamários franceses e o risco que representam para milhares de mulheres no mundo inteiro. O meu interesse é cultural, não médico: quem diria que décadas de lutas feministas seriam enterradas por próteses de silicone defeituosas?

As lutas feministas, convém lembrar, tinham uma ambição civilizacional considerável: virar do avesso o mito de Pigmalião, o artista imortalizado pelo poeta Ovídio que, certo dia, esculpiu uma bela figura, apaixonou-se pelas suas formas e, como brinde dos deuses, viu a estátua virar mulher de verdade.

A história sempre me comoveu por motivos essencialmente "românticos": Pigmalião renunciara ao amor antes de esculpir a estátua; mas o destino é irônico e, por vezes, o que consideramos adormecido acaba por despertar novamente. Que a deusa Vênus tenha recebido as preces reprimidas de Pigmalião, concedendo vida à matéria inerte: eis a ideia redentora de que só o amor triunfa sobre a morte.

Mas isso sou eu a falar. Ou a delirar. Porque a sensibilidade feminista é mais literal e menos generosa: o mito de Pigmalião representa apenas a secular submissão da mulher ao homem. E quem é que os homens pensam que são, ao pretenderem "esculpir" a mulher para que ela cumpra os desejos falocêntricos dos machos?

Boa pergunta. George Bernard Shaw, um panfletário com talento, deu a resposta: revisitou o mito de Pigmalião na sua peça homônima e concedeu-lhe um final progressista.

Sim, o prof. Henry Higgins transforma a plebeia Eliza Doolittle numa verdadeira "lady" da retórica e das maneiras. Exatamente como no musical "My Fair Lady", inspirado na peça.

Porém, e ao contrário do que sucede no musical, é legítimo pensar que Eliza dá o seu grito do Ipiranga, abandonando o prof. Higgins no final por não suportar a natureza condescendente e desrespeitosa dele. É o supremo sonho feminista: a criatura liberta-se do criador e decide seguir em frente.

Infelizmente, muitas mulheres não conseguem seguir em frente. Que o digam as mulheres brasileiras, campeãs mundiais em cirurgias estéticas. Motivos do recorde?

Uma parte opta pela cirurgia por razões estritamente médicas: reconstruções do peito depois de doença oncológica ou acidente. São razões compreensíveis e sobre elas nenhuma palavra a dizer.

Mas existe uma vasta legião de mulheres saudáveis que se submete à cirurgia por motivos de "autoestima". A expressão, usada e abusada pelas revistas mentecaptas, pretende iludir uma verdade desconfortável: a "autoestima" das mulheres, sejamos honestos, depende da estima que elas esperam receber dos homens.

Claro que o leitor, e sobretudo a leitora, poderá argumentar que os homens funcionam da mesma maneira em matéria de vaidade física. Quem não conhece casos dramáticos de heterossexuais inseguros que passam horas na academia, em malhação marcial, em busca dos músculos perfeitos?

Verdade. Acontece que não conheço nenhum homem que, para obter o mesmo resultado e conquistar as atenções do sexo oposto (ou até do mesmo sexo), esteja disposto a passar pelo calvário das mulheres siliconadas.

No fundo, não conheço nenhum homem que esteja disposto a deitar-se numa sala de operações; a suportar os rigores da anestesia e do bisturi; a implantar uma qualquer prótese no interior do corpo para simular firmeza ou juventude; e, Deus nos livre, a correr sérios riscos de vida para ficar com aspecto de Adônis. Há limites. Até para conquistar mulheres.

O problema é que não parece haver limites para as próprias mulheres. O que nos leva de volta para o mito de Pigmalião, na sua interpretação literal: foram anos de lutas feministas para que elas deixassem de estar submetidas ao cinzel e ao escopo do escultor falocêntrico.

Mas ninguém esperava que, libertas, as mulheres corressem para o passado e voltassem a se submeter, de forma voluntária, ao escopo e ao cinzel do cirurgião plástico.

Na minha qualidade de homem, admito que tanta dedicação é comovente. Mas, acreditem, minhas senhoras, não vale a pena sofrer e morrer por nós.[image error]
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Published on January 17, 2012 03:59

January 16, 2012

Atire no mensageiro

Rodrigo Constantino

"Fatos não deixam de existir porque são ignorados." (Aldous Huxley)

Políticos sempre preferem a tática de "atirar no mensageiro" em vez de enfrentar os duros fatos da realidade. Com o rebaixamento da S&P não seria diferente. Até o ministro das finanças alemão, muito mais sério que o restante, não se segurou. Schäuble disse que houve interesse político na medida, assim como empresarial (agências concorrendo por atenção). E ainda afirmou que estão analisando formas de reduzir a influência destas agências americanas.

Não vem ao caso lembrar que os mercados já precificavam um cenário pior de crédito para estes países rebaixados há dois meses pelo menos, e que a S&P apenas sancionou aquilo que todos já sabiam. Tampouco é o caso de refrescar a memória dos políticos europeus com o fato de que a S&P rebaixou o próprio governo americano muito antes. O legal é mesmo "atirar no mensageiro" na esperança de que a realidade não tenha que vir à tona.

Essa gente acredita mesmo na máxima dos marqueteiros, de que percepção é realidade. Mas a realidade inexoravelmente prevalece para derrubar os ilusionistas. E a queda é diretamente proporcional ao tempo de "negação" das lideranças.[image error]
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Published on January 16, 2012 11:28

A dor na face

LUIZ FELIPE PONDÉ, Folha de SP

Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de "Self-Reliance" ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos ("misunderstood").
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.
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Published on January 16, 2012 09:04

Entre socialistas e populistas de direita


Rodrigo Constantino

Em reportagem no Financial Times, Marine Le Pen mostra suas bandeiras populistas na corrida eleitoral francesa. A candidata de direita pretende resolver os problemas do país saindo do euro, imprimindo dinheiro, proibindo a imigração e criando barreiras protecionistas. O downgrade da França pela Standard & Poor's forneceu o timing perfeito para a largada de sua campanha, com a retórica anti-euro.

Na tentativa de atrair as massas, Le Pen disse que pretende aumentar o salário dos mais pobres em 200 euros mensais, que seria pago com imposto de 3% sobre produtos importados. Além disso, ela pretende retornar ao franco, liberar o banco central para imprimir o equivalente a 100 bilhões de euros por ano, e pegar emprestado do banco até 45 bilhões de euros com taxa de juros zero. Le Pen não vê risco inflacionário nestas medidas.

Segundo pesquisas, o candidato socialista François Holland lidera com 27%, Sarkozy está em segundo com 23,5% e Le Pen em terceiro com 21,5% das intenções de voto. A França está dividida entre socialistas e populistas de direita, que são inclusive muito parecidos. Triste destino o que aguarda os franceses.

Neste vídeo eu falo sobre os tempos perigosos em que vivemos, uma vez que a crise cria um ambiente propício aos oportunistas de plantão, que vendem "soluções" mágicas e fáceis. Não faltarão emoções aos europeus nos próximos anos. Espera-se que algum resquício de razão possa prevalecer.
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Published on January 16, 2012 06:11

Pérsio Arida na Folha

Trechos da entrevista de Pérsio Arida na Folha de SP hoje.

Foi um erro ter freado a economia no início do ano passado?
O desaquecimento foi intencional e necessário, e foi numa boa medida. A economia brasileira não cresce a taxas de 2010 -são insustentáveis.
Por quê? O normal é um crescimento baixo?
Uma taxa de crescimento muito acima do normal leva a sobreaquecimento, pressão inflacionária excessiva, gargalos de infraestrutura, falta de poupança doméstica. Hoje a taxa sustentável é algo em torno de 3,5%, 4% -que é o que deveremos crescer neste ano, se não houver percalço maior. Para crescer mais do que isso, precisaria ter mais poupança doméstica ou ter mais poupança externa.
Como o sr. define a política econômica? É desenvolvimentista, ortodoxa?
Do ponto de vista fiscal, a performance de 2011 foi melhor do que a de 2010. É um governo mais austero. Houve uma contração dos balanços do BNDES, o que é positivo. Por outro lado, tem uma tendência protecionista que não é ideal.
Por exemplo?
Automóveis. Está protegendo um grupo de multinacionais contra outro. É difícil de entender a racionalidade.
Emprego no Brasil não seria uma justificativa?
Não. As medidas protecionistas dificilmente têm justificativa. A tendência intervencionista tem que ser contida, pois faz um desacerto no longo prazo.
Mas todos os países adotam medidas assim.
Não existe país perfeito no mundo. Se outros erram, é problema deles. Há uma série de reformas estruturais que poderiam ser feitas em sistemas como FGTS, FAT etc. O Brasil tem uma trajetória preocupante em gastos públicos, que não é de agora. Teria muito a ganhar com contração de gastos públicos e desoneração fiscal. Sei que é uma plataforma impopular.
Qual o impacto do novo salário mínimo?
É desastroso. É uma superindexação. Tem um efeito prejudicial para os custos do trabalho, exerce uma pressão inflacionária e tem um efeito danoso sobre os Orçamentos de Estados e municípios e na Previdência.
Mas esse aumento não dinamiza a economia?
Não. A maneira certa de dinamizar a economia é diminuir taxa de juros e impostos.
A alta do mínimo não distribui renda?
Não. Provoca pressão inflacionária e aumenta os gastos. A melhor distribuição de renda é diminuir a taxa de juros, permitir o desenvolvimento do sistema de hipotecas no Brasil, reajustar bem o FGTS. Evita que os trabalhadores sejam roubados. Quer melhor distribuição de renda do que essa?

O sr. concorda com a linha do BNDES de estímulo aos "campeões nacionais"?
Não, mas entendo a racionalidade dela. Coreia do Sul e outros países a adotaram. Há setores onde há falhas do mercado. Ainda há horizontes de empréstimos relativamente curtos. Mas a análise tem que ser a partir das falhas de mercado, e não da constituição de grupos. Quem tem acesso ao mercado de capitais privado não deveria usar recursos do BNDES. É a visão liberal. Se o mercado não estiver falhando, não tem por que [conceder empréstimo].

Como explicar isso?
Existe um pacto entre Estado e grupos empresariais e elites no Brasil que é um pacto antiliberal. Liberal no sentido norte-americano, que é o da plataforma, cronicamente fraca no Brasil, da diminuição da intervenção estatal e das liberdades civis.
O Brasil tem muitas similaridades com os EUA, mas, contrariamente a eles, aqui o liberalismo foi sempre fraco. Se olharmos para a escravidão, o FGTS ou a hiperinflação, há um denominador comum: os mais prejudicados são os mais pobres, sempre. O país tem um pacto entre elites e governo antiliberal.
É um pacto a favor do Estado e que sempre se pautou por uma certa repressão de liberdades civis.
É um pacto contra os mais pobres?
Ninguém é contra os pobres. Pacto é feito para tentar beneficiar. Quando se fazem políticas protecionistas, créditos direcionados, privilégios a determinados grupos, quem está implementando e quem recebe benefícios genuinamente pensa que está fazendo o bem comum.
A fraca tradição liberal se expressa nas dimensões econômica e política. Isso se aplica também para liberdades civis. O caso da Comissão da Verdade é um exemplo.
Basta comparar com a reação da sociedade norte-americana à violação das liberdades civis em Guantánamo em pleno contexto do 11 de Setembro.
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Published on January 16, 2012 04:58

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
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