Rodrigo Constantino's Blog, page 388

March 8, 2012

O enigma de Verissimo

Rodrigo Constantino

Quando você lê com certa frequência as colunas do Verissimo, como eu faço (provavelmente por causa do meu lado masoquista), você começa a compreender melhor como o simpático colunista faz para passar suas mensagens pelas entrelinhas. As mensagens, invariavelmente, levam ao mesmo lugar: a defesa do socialismo. A forma é dissimulada, envergonhada muitas vezes. Mas o destino é sempre este. É o nosso Toohey tupiniquim, para quem leu "A Nascente", de Ayn Rand (para quem ainda não leu, está esperando o que?).

No artigo de hoje, "O enigma", Verissimo tenta culpar o anacronismo russo pela desgraça soviética, livrando assim a cara do comunismo/socialismo. Eis o que ele escreve:

"A própria experiência comunista só enfatizou o enigma. Grande parte da armação teórica da revolução partiu da 'intelligentsia' russa, mas não havia lugar mais improvável para uma revolução proletária do que a Rússia, com sua tradição de servos hereditários e submissos e seu feudalismo medieval. O próprio Marx levou um susto. Um dos problemas do Ocidente na sua relação com a União Soviética durante a Guerra Fria era nunca saber se estava tratando com o comunismo soviético ou com o anacronismo russo, passional e imprevisível."

Perceberam a malandragem? A experiência comunista não veio dos proletários (em lugar algum veio), e o lugar era inapropriado para tal revolução. POR ISSO é que deu errado, ora bolas! Não vem ao caso lembrar que o comunismo deu errado em Cuba, na Coréia do Norte, na China, na Iugoslávia, na Polônia, e onde mais tenha sido imposto pela "intelligentsia" (da qual, por sinal, o próprio Verissimo é um ícone perfeito).

Também não vem ao caso que, segundo Verissimo, o próprio Marx levou um susto com o experimento russo, sendo que Lênin tomou o poder pela força em 1917, enquanto Marx morreu em 1883. Como exatamente Marx fez para levar um susto com um evento que ocorreu 34 anos após sua morte permanece um mistério.

Talvez ESSE seja o enigma do artigo! Até porque, convenhamos, no restante não há enigma algum. O comunismo, inexoravelmente, leva ao caos, miséria e escravidão. Na Rússia ou em qualquer outro lugar, feudalista ou não, anacrônico ou não. Verissimo pode ignorar o fato o quanto ele quiser, mas o fato não muda: o problema é o comunismo em si, este modelo nefasto que deixou um rastro de 100 milhões de mortes na história.

Mas isso não é tudo! Verissimo, depois, tenta ridicularizar Reagan, como fazia a "intelligentsia" mundial na época, por chamar a coisa pelo seu nome, com os devidos pingos nos is. Ele escreve:

"O 'Império do Mal', nas palavras do Ronald Reagan, seria do mal mesmo sem o comunismo. De tais simplificações era feita a política externa americana."

Viram só? Reagan era "simplista" por chamar um "Império do Mal", que escravizou o povo todo, matou milhões, ameaçou a paz mundial, exportou o caos e levou todos à miséria, de "Império do Mal". Eu digo que Reagan era apenas objetivo, e disse uma verdade autoevidente. Isso costuma chocar os comunas mesmo. E novamente, Verissimo tenta jogar a culpa da desgraça soviética nos russos, e não no modelo. Seria o mal "mesmo sem o comunismo".

Calma que não acabou! Verissimo escreve ainda:

"Quando o comunismo caiu, a Rússia adotou o capitalismo selvagem sem nem um período de adaptação. Talvez seja mesmo um caso de caráter nacional."

Verissimo solta no ar a transição para o "capitalismo selvagem", colocando o capitalismo no mesmo saco podre do comunismo, e concluindo que deve ser um problema do "caráter nacional" do país. Entenderam como a estratégia dele funciona?

Haja Engov para aturar Verissimo!

PS: Neste meu artigo de 2005, para o IL, mostro como Putin já derrubava os pilares frágeis do capitalismo no país, resgatando o modelo soviético.
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Published on March 08, 2012 09:32

Falta poupança e a culpa é do governo

O GLOBO

Paulo Levy, economista do Ipea, defende que o país crie mais estímulos para o investimento do que para o consumo. "A taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5% de forma sustentada". E lembra ainda que é preciso adotar políticas para conciliar redução de desigualdade e expansão: "O país redistribui renda e sufoca o crescimento".

O GLOBO: O desempenho da economia em 2011 requer ainda mais cortes de juros?

PAULO LEVY: Os resultados do PIB e da produção industrial não deveriam alterar a rota sinalizada pelo Banco Central. O PIB ficou compatível com a inflação elevada e a política monetária atua pelo lado da demanda, que, mesmo robusta, não é problema. Com isso, a decisão certa seria cortar juros por mais uma ou duas reuniões, podendo levar a Selic para 9% ou 9,5% ao ano, patamar baixo para os critérios brasileiros.

Mas a política monetária olha para a inflação...

LEVY: A inflação está declinante e deve, em maio, ficar em torno de 5,2% no acumulado em 12 meses. A partir daí, com estímulos à demanda e o desempenho dos serviços, os preços devem subir, menos que em 2011. Então, seria a hora de parar e esperar.

O governo enfrenta dilemas macroeconômicos? Qual deveria ser a sua prioridade?

LEVY: A variável chave é poupança. Países com crescimento elevado têm taxa de poupança elevada. Caso de China e Coreia do Sul. No Brasil, a contribuição do governo para a poupança nacional é negativa: ele despoupa. Como mudar isso? Aumentando o peso dos investimentos e reduzindo o peso relativo dos gastos correntes.

Nossa taxa de investimento é baixa?

LEVY: A taxa de investimento é insuficiente para crescer 4,5% de forma sustentada. Só mesmo com 24%, 25% do PIB (no quarto trimestre foi de 19,3%). O certo seria criar estímulos para o investimento crescer mais que o consumo. Hoje, há uma visão oposta e equivocada. Na China, o investimento é 47% do PIB; na Coreia, 30%. O Brasil tenta avançar no consumo e no investimento ao mesmo tempo. Isso não é factível.

Como segurar o consumo diante de uma classe média ávida por consumir?

LEVY: Há uma camada da população que tem necessidades básicas a atender. E isso gera uma pressão forte sobre o consumo, o que reduz a taxa de poupança da economia e gera desequilíbrios. É preciso adotar políticas que permitam conciliar redução de desigualdade com crescimento. caso contrário, o país redistribui renda e sufoca o crescimento. E isso tem vida curta.
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Published on March 08, 2012 06:06

March 7, 2012

Salários iguais para as mulheres?

Rodrigo Constantino

A lei que obriga a equalização de salário entre homens e mulheres para o mesmo cargo (e a produtividade e eficiência, quem mede?) vai agora para a sanção da presidente. Na prática, mais poder arbitrário para fiscais e burocratas. Mais dificuldades criadas para a venda de facilidade ilegal depois. Mais um exemplo de boa intenção pavimentando as ruas do inferno.

Quando as benesses estatais extras para a licença de maternidade foram aprovadas, escrevi o seguinte artigo, alegando que as mulheres não precisam da tutela estatal. Os argumentos servem para o caso atual também.

Como perguntou um colega do Facebook: os top models masculinos vão ganhar o mesmo que a Gisele Bundchen?

Mas calma que o governo sempre tem uma nova medida intervencionista para resolver os problemas causados pela outra. Mulheres serão menos contratadas agora? Então basta impor uma COTA para mulheres nas empresas! Toda empresa tem que ter no mínimo 45% de mulher no quadro de pessoal. Melhor não dar idéia, nem de brincadeira...
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Published on March 07, 2012 13:13

March 6, 2012

Hitler e Stalin

"O socialismo nunca proporcionou a mesma qualidade de vida a todos. A União Soviética foi construída a partir da ideia de hierarquia, e não de igualdade. As ordens de Lenin eram no sentido de liquidar todas as pessoas que não o apoiavam. O socialismo e o comunismo baseiam-se em se livrar de alguns grupos de pessoas e roubar suas propriedades. Isso não é igualdade. O Gulag não é tão conhecido porque durou mais e porque nunca foi condenado como os crimes nazistas foram. Nunca houve um julgamento como o de Nuremberg. Também não é sexy e agradável filmar na Sibéria. E também porque a Rússia não é muito prestativa aos pesquisadores - num breve período dos anos 90, o acesso aos arquivos era fácil, mas eles estão fechados novamente. Mais: o Gulag não é conhecido porque a KGB, a organização responsável por ele, nunca foi condenada. E você não enfrenta problemas profissionais se tem uma passagem pela KGB em seu currículo. Putin é um ex-oficial da KGB; então, você pode até se tornar um presidente com esse tipo de experiência. Mas não dá para imaginar um político alemão tendo o carimbo da SS em seu passado. Além disso, os soviéticos nunca foram muito ativos em documentar seus crimes como os nazistas foram. Mas é preciso lembrar que levou cerca de 20 anos depois da guerra para que o Holocausto começasse a ganhar atenção. Então, leva tempo." (Sofi Oksanen, escritora finlandesa autora de "Expurgo", respondendo ao Estadão porque há mais filmes anti-Hitler do que anti-Stalin)[image error]
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Published on March 06, 2012 16:55

Bebês para abate

João Pereira Coutinho, Folha de SP

SE UM feto pode ser abortado, por que não um recém-nascido? Boa pergunta. Perigosa pergunta. Os filósofos Alberto Giubilini e Francesca Minerva tentaram responder positivamente a ela no reputado "Journal of Medical Ethics".
A Europa estremeceu de horror. Pior: choveram ameaças de morte sobre os pobres pesquisadores.
Sem razão. Li o ensaio ("After-Abortion: Why Should the Baby Live?"; aborto pós-nascimento: por que deve o bebê viver?) e aplaudo o rigor científico do mesmo. Que parte de premissas razoáveis: em muitas sociedades do Ocidente, o aborto é livre por mera vontade dos pais. Tradução: não é preciso invocar nenhuma razão médica para terminar a gravidez. Basta querer -e fazer.
Essa autonomia radical, que é a base da posição progressista sobre o assunto, deve ser extensível ao recém-nascido, diz o ensaio, sobretudo quando há doenças ou deformações que não foram detectadas durante a gestação. Exemplos? Vários.
A asfixia perinatal, que ocorre durante a gravidez, o parto ou até depois, é um deles e pode deixar danos físicos ou mentais irrecuperáveis na saúde da criança.
A síndrome Treacher-Collins é outro, responsável por malformações craniofaciais que, dizem os pesquisadores, raramente são rastreadas pelos progenitores. Sem falar da doença de Down: olhando para os registros de 18 países europeus, Giubilini e Minerva afirmam que, entre 2005 e 2009, só 64% dos casos de Down foram diagnosticados.
Por outras palavras: nasceram 1.700 crianças com o distúrbio; 1.700 crianças que, em sua maioria, não teriam sequer visto a luz do dia se os pais soubessem a tempo.
Horrorizado, leitor? Não esteja. Terminar com a vida de um recém-nascido indesejado não é uma originalidade: nem na história humana, nem na história do presente.
Na Holanda, por exemplo, o Protocolo Groningen, a que os pesquisadores também fazem referência, já permite que crianças com doenças ou sofrimentos insuportáveis sejam "eutanizadas" por vontade dos pais e aconselhamento do médico.
A grande diferença entre o caso holandês e a proposta filosófica de Giubilini e Minerva é que o aborto pós-nascimento não é propriamente uma "eutanásia". Porque não é a vontade da criança que deve ser respeitada; é a vontade dos pais. Como afirmam os pesquisadores, o aborto pós-nascimento considera que a vontade das pessoas atuais é superior aos hipotéticos interesses de hipotéticas pessoas potenciais.
Também por isso o aborto pós-nascimento não pode ser confundido com o "infanticídio". Para haver um "infanticídio", escrevem eles, é preciso haver uma "pessoa" no sentido moral do termo, ou seja, alguém que atribui à sua existência algum valor, considerando o fim dessa existência uma perda real.
Mas o feto não é uma "pessoa" no sentido moral; e um recém-nascido não é assim tão diferente de um feto: ambos podem ser humanos, sem dúvida, mas nenhum deles atribui à sua existência qualquer valor particular.
Moral da história? O ensaio de Giubilini e Minerva é importante porque leva até as últimas consequências as premissas progressistas do debate sobre o aborto.
Sim, são raríssimas as sociedades contemporâneas que contemplam a possibilidade de legalizar o aborto pós-nascimento. Pelo menos por enquanto.
No entanto, o debate sobre o aborto será sempre um debate entre aqueles que defendem a autonomia dos progenitores sobre a inviolabilidade da criança e aqueles que defendem a inviolabilidade da criança perante a autonomia dos progenitores.
Pessoalmente, a inviolabilidade da criança sempre me pareceu superior à autonomia dos pais, exceto nos casos em que a gravidez representa ameaça para a saúde física ou psíquica da mãe. Só quando duas vidas estão em conflito é possível decidir salvar uma delas.
Giubilini e Minerva discordam. E limitam-se a esticar as premissas "autonomistas" do aborto livre de uma forma intelectualmente coerente: os argumentos a favor do aborto do feto podem e devem ser aplicados à morte de um recém-nascido indesejado.
Que isso perturbe as consciências, a começar pelas progressistas, eis um problema a que os próprios progressistas terão de responder.

Comentário: Esse tema cabeludo do aborto possui dois lados extremos, ambos bem "malucos", em minha opinião. De um lado, os "carolas" que alegam que o feto, já no momento da concepção, tem uma "alma" e, portanto, é exatamente como uma criança de 5 anos em direitos. Logo, a mulher que toma a pílula do dia seguinte seria como uma mãe que mete uma bala na nuca de seu filhinho. Esses crentes mais fanáticos não aceitam aborto em hipótese alguma, até por coerência lógica (quem disse que loucos não possuem lógica?). Estupro, anencefalia, risco de morte da mãe, nada importa! Aborto é assassinato e ponto final.

(Conheço o argumento aristotélico de ato e potência, mais laico, mas não aceito que uma semente seja igual a uma floresta. Pode ser uma floresta em potencial, mas não é, definitivamente, a mesma coisa. E o feto só será uma criança se as condições permitirem, inclusive dependendo dos atos da mãe. Aliás, quantas gestações não são interrompidas naturalmente até os três meses? Seria a natureza, ou deus, o maior abortista de todos então?)

Do outro lado, temos os seguidores de Rothbard, afirmando que o feto é um "intruso", um "parasita", e que a mãe, dona do seu corpo, faz o que quiser com ele. Propriedade privada, sagrada e acima de qualquer outro valor. Se der na telha tirar o "parasita" aos 6 meses de gestação porque ela se arrependeu, ninguém tem nada com isso, e bola pra frente. Maluquice embasada com lógica "pura".

Resta a turma com mais bom senso, que fica ali entre os dois extremos, compreendendo que as escolhas são complexas, nada triviais, e que direitos e valores conflitantes estão em jogo, impondo a necessidade de decisões parciais, imperfeitas e sempre dolorosas. A "pureza" do argumento lógico nestes casos delicados e cabeludos é uma das coisas mais perigosas que existem. Coisa de "intelectual" apaixonado por uma idéia, mas sem muita empatia pelo ser humano de carne e osso.
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Published on March 06, 2012 06:30

O homem que combatia com o cérebro

Rodrigo Constantino, O GLOBO

Há exatos 30 anos falecia a novelista russa Ayn Rand. Trata-se de uma ilustre desconhecida no Brasil. Mas, em uma pesquisa feita pela Livraria do Congresso americano, seu principal livro ficou atrás apenas da Bíblia em termos de influência naquele país. "A Revolta de Atlas", à venda nas livrarias brasileiras, ajudou a resgatar o individualismo do povo americano.
Nascida em 1905 em São Petersburgo, Alissa Rosenbaum fugiu com 21 anos de idade de seu país, então sob o regime comunista. Em busca de liberdade e já determinada a ser uma escritora, foi para Hollywood, onde se casou e se naturalizou americana, adotando o novo nome artístico.
Seu primeiro romance de sucesso foi "A Nascente", que virou filme em 1949, estrelado por Gary Cooper. Nele, sua filosofia de vida, que ficou conhecida como Objetivismo, já ganhava contornos quase definitivos.
O herói da história, Howard Roark, é um arquiteto apaixonado pelo que faz, e absolutamente intransigente quando precisa fazer concessões para atender às demandas dos outros. Ciente de seu valor, ele não está disposto a sacrificar a integridade de sua obra em prol do modismo do momento.
Ali, Ayn Rand já expõe sua visão de "egoísmo racional", sustentando que os indivíduos não existem para satisfazer desejos alheios, nem mesmo de uma maioria, mas sim para viver de forma a explorar ao máximo suas potencialidades individuais. O indivíduo seria um fim em si mesmo, não um meio sacrificável pelos interesses coletivos.
Mas foi em "A Revolta de Atlas" que sua filosofia se mostrou completa, com o personagem de John Galt. Trata-se de um indivíduo que simplesmente não aceita viver como um escravo dos demais, e decide combater o coletivismo com sua maior arma: seu cérebro. Ele convence outros empreendedores como ele a entrar em greve, demonstrando ao mundo quem é o verdadeiro responsável pelo progresso.
Em uma época em que capitalistas eram atacados com freqüência pelos populistas de plantão, Ayn Rand veio defender sem eufemismos aqueles que remavam contra a corrente coletivista e, em busca do lucro, garantiam a criação de riqueza e prosperidade ao país. Empresários não deveriam ter vergonha ou sentir culpa por seu sucesso, se obtido honestamente no livre mercado.
Ao contrário: eles deveriam se sentir orgulhosos de suas conquistas.
Enquanto muitos intelectuais ainda olhavam para a União Soviética em busca de inspiração, Ayn Rand sabia melhor o que tal modelo representava na prática: a morte do indivíduo, a escravidão do povo e muita miséria espalhada. Ela fugira daquele inferno justamente para respirar ares mais livres, e estava comprometida com a defesa de seu ideal de liberdade na América, ícone deste sonho, apesar de suas imperfeições.
Ayn Rand escreveu: "A menor minoria de todas é o indivíduo; aqueles que negam os direitos individuais não podem alegar serem defensores das minorias". O que ela viveu em sua terra natal foi suficiente para lhe despertar profundo asco por slogans aparentemente belos e nobres, mas que serviam apenas como manto para ocultar suas verdadeiras intenções.
Ela via o socialismo e demais formas de coletivismo como uma espécie de idealização da inveja. Retira-se a embalagem altruísta e não resta nada além da inveja, do desejo de condenar o sucesso individual em vez de realmente criar riqueza e, desta forma, reduzir a miséria. Os vilões de seus romances, um tanto caricatos, expressam de forma bastante clara este tipo de mentalidade mesquinha, típica daquele que acha que pode correr melhor se o vizinho quebrar a perna.
Recentemente, Ayn Rand ganhou algum destaque na América Latina quando o jornal equatoriano "El Universo", sob censura do governo Correa, postou o seguinte trecho de sua autoria: "Quando você perceber que para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em autossacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada".
Trata-se de um alerta e tanto para os brasileiros.
Radicalismo e excentricidade à parte, Ayn Rand é um farol de racionalidade na escuridão que domina o debate intelectual latino-americano. É leitura indispensável para todos que valorizam a liberdade individual.
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Published on March 06, 2012 04:57

A Mulher não existe

Arnaldo Jabor - O Estado de S.Paulo

Depois de amanhã é o Dia Internacional da Mulher. E várias amigas já me pedem: "Escreve, escreve sobre nós!..." E muitas me dão pistas, dicas do que dizer. Uma delas, se disse "perua inteligente" e me escreveu: "Antes, as mulheres eram escravas passivas, hoje somos ativas, mas continuamos escravas. Mesmo sendo frígidas, temos de insinuar grandes desempenhos sexuais. Temos de prometer 'funcionamento'. Não é por acaso que eles nos chamam de 'aviões'. É só olhar as revistas masculinas. O que está acontecendo no Brasil é a libertação da 'mulher-objeto'. A publicidade é toda em cima de sexo."

É verdade, penso eu: a bunda é a esperança de milhões de Cinderelas. O corpo tem de dar lucro.

As mulheres querem ser disputadas, consumidas, como um bom eletrodoméstico. Ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pelos pubianos nos salões de beleza e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, uns bigodinhos verticais que lembram o Hitler ou bigodinhos nordestinos. A liberdade de mercado produziu o mercado da "liberdade".

Sempre me espanto com o Dia da Mulher. O psicanalista Lacan disse que "A Mulher" não existe, pois não há nenhuma coisa que as unifique. Eu nunca conheci a Mulher. Eu já amei e odiei "mulheres". Então, por que esse título genérico? Existe a mulher de burca, a stripteaser, existe a freira, a bondosa, a malvada, existe Eva e Virgem Maria, existe a histérica, a obsessiva. A "Mulher" é invenção dos machos.

Sempre que chega esse Dia Internacional, nós machistas elogiamos o lado "abstrato" das fêmeas, sua delicadeza, sua capacidade de perdão (sic), sua coragem, em textos de hipocrisia paternalista, como se falássemos de pobres, de crianças ou de vítimas. Claro que na História, as mulheres foram e são oprimidas, estupradas na alma e corpo.

Mas não é como vítimas que devemos lamentá-las ou louvá-las . Sua importância é afirmativa, pois elas estão muito mais próximas que nós da realidade deste mundo aberto, sem futuro ou significado. Elas não caminham em busca de um "sentido" único, de um poder brutal. Não é que sejam "incompreensíveis"; elas são mais complexas, imprevisíveis como a natureza. O homem se crê acima do mistério, mas as mulheres estão dentro. São impalpáveis como a realidade que o homem "pensa" que controla. A mulher pensa por metáforas. O homem por metonímias. Entenderam? Claro que não. Digo melhor, a mulher compõe quadros mentais que se montam em um conjunto simbólico, como a arte. O homem quer princípio, meio e fim.

A mulher não é um enigma. Nós é que somos, disfarçados de sólidos. Os homens são óbvios, fálicos. A mulher não acredita em nosso amor. Quando tem certeza dele, para de nos amar. O homem só vira homem quando é corneado. A mulher não vira nada nunca... Nem nunca é corneada, pois está sempre se sentindo assim... Como no homossexualismo: a lésbica não é veado.

A mulher precisa do homem impalpável. As mulheres têm uma queda pelo canalha (cartas indignadas para a redação). O canalha é mais amado que o bonzinho. Ela sofre com o canalha, mas isso a legitima, pois ela quer que o homem a entenda e o canalha lhe dá um sentido claro com sua viril antipatia. As mulheres não sabem o que querem; o homem acha que sabe. O masculino é certo; o feminino é insolúvel. A mulher é metafísica; homem é engenharia. A mulher deseja o impossível; desejar o impossível é sua grande beleza.

Elas ventam, chovem, sangram, elas têm inverno, verão, TPMs, raiam com a luz da manhã ou brilham à noite, elas derrubam homens com terremotos, elas nos fazem apaixonados porque nelas também buscamos um sentido que não chega jamais. Elas querem ser decifradas por nós, mas nunca acertamos no alvo, pois não há alvo, nem mosca.

Daí o pânico que sentimos diante dessas forças da natureza, com nossas gravatas da cultura, daí o ódio que os primitivos cultivam contra elas, daí os boçais assassinos do Islã apedrejando-as até a morte. As mulheres são sempre várias. Isso não as faz traidoras; nós é que nos achamos "unos". Só os autoconfiantes são traídos. Esta é uma das razões do sucesso das putas. O que buscamos nelas? Os homens pagam para que elas não existam, para que sejam úteis, sem vida interior. Pagamos a prostituta para que nos dê uma trégua, para que não nos confunda, não nos traia. Nós nos deixamos enganar e ela finge que não nos engana. Ela nos despreza, claro, mas muitos preferem essa humilhação consentida, em vez de um amor puro e perigoso. A prostituta só ama o cafetão porque ele a esbofeteia e lhe dá o alívio de se sentir injustiçada.

O único grande mistério talvez seja a divisão entre os sexos. Por mais que queiramos, nunca chegaremos lá. Lá, aonde? Lá na diferença radical onde mora o "outro". Há alguns exploradores: os veados, sapatões, travestis, que mergulham nesse mar e voltam de mãos vazias, pois nunca saberemos quem é aquele ser com útero, seios, vagina, aquele ser maternal, bom, terrível quando contrariado no "ponto G" da alma. Por outro lado, elas nunca saberão o que é um pênis pendurado, um bigodão, a porrada num jogo do Flamengo, um puteiro visitado de porre, nunca saberão do desamparo do macho em sua frágil grossura. Elas jamais saberão como somos. O amor é a tentativa de pular esse abismo. Eu sou hoje o que as mulheres fizeram comigo ou o que eu aprendi com elas, no amor ou no sofrimento. Eu descobri defeitos e qualidades que me formaram, como acidentes que me foram desfigurando. O que aprendi com elas? Não tenho ideia, mas sei que me mudaram. Eram como quebra-cabeças: ao tentar armá-los, eu achava que sabia tudo, mas entrava em novos labirintos. Com elas, loucas, sóbrias, boas e más, descobri que não tenho forma nem lógica e que sempre me faltará uma peça na charada.
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Published on March 06, 2012 04:45

March 5, 2012

Tsunami monetário

Segue minha entrevista ao jornal das seis na GloboNews, com Leila Sterenberg, sobre o "tsunami monetário" e suas consequências ao Brasil.
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Published on March 05, 2012 15:19

Conhece-te a ti mesmo

Luiz Felipe Ponde, Folha de SP

Decidi mudar. Não serei mais aquela pessoa que acha que as pessoas não mudam e que não há história, mas sim um eterno retorno do mesmo. Nietzsche nunca mais, só Rousseau e seu estado de natureza angelical.
Acredito agora nas primaveras que cortam o mundo. Fui à livraria mais próxima, ou melhor, ao iPad mais próximo, e comprei um livro que me indicaram: "Dez passos para ser um novo Pondé", autoria de um certo sábio chinês que talvez seja um neto de coreano nascido na Califórnia de pais porto-riquenhos.
O primeiro passo é aprender a respirar. Sou dono da minha respiração agora. Em seguida, alimentação. Nunca mais carne vermelha. De início, ainda frango e peixe, mas em breve pretendo me tornar um amante das rúculas e alfaces, mas sempre pedindo perdão por precisar tirá-las de sua vida doce e promissora fazendo fotossíntese. Coca-Cola, nem pensar. Além do mais, é americana! Vinho, só natural.
Um segredo: continuarei a ir aos EUA porque um tênis lá custa cinco dólares! Irei escondido e voltarei com dez malas. Mas, temos ou não direito a ter tênis baratos? Acho uma falta de respeito proibir as pessoas de comprar tênis e jogos eletrônicos baratos em Miami.
Amarei a África. Abraçarei todas as ONGs do mundo. Direi às pessoas que elas são lindas e que o mundo faz parte de uma confederação cósmica. Os maias foram o povo mais avançado da história e decidi frequentar escolas aborígenes para aprender seu complexo modo de criar sociedades mais justas.
Religião: nunca mais essa coisa pesada de judaísmo e cristianismo, religiões que nos estragam com sua moral "imposta". Candomblé também não. Claro, como é religião africana, seria aprovada pelo meu novo eu, mas em alguns terreiros baixam pombagiras, e elas foram prostitutas e adúlteras, e não quero nem chegar perto disso! Aliás, decidi que essas coisas não existem.
Minha nova religião será uma forma de budismo light, aquele tipo que cultua a energia do universo. Sei que existem outros tipos, mas aqueles são autoritários. Toco as plantas com mais cuidado e percebi que elas são mais sábias do que Freud. Claro, comprei uma estatueta de um golfinho e joguei fora aquela esfinge do Édipo horrorosa que minha irmã me deu em Londres.
Nunca mais tragédia grega, agora só revistas que nos ensinam como o mundo pode ser melhor se arrumarmos nossos sofás de forma mais harmônica com as estrelas. Contratei uma mestra em decoração oriental. Ela é uma mulher supermagra e equilibrada. Imagine que curou um câncer em seu gato com reiki.
Direi para todo mundo que não gosto de dinheiro e que gosto das pessoas pelo que elas são e não pelo que elas têm. Perguntarei aos artistas com consciência social o que posso dizer e fazer.
Vendi meu horroroso carro inglês. Estou aprendendo a andar de bike (já sabia andar de bicicleta, mas bike é outra vibe). Ainda que tenha que atravessar as ladeiras das Perdizes para ir trabalhar (pena que ainda tenha que fazer parte desse mundo terrível de pessoas que trocam sua dignidade por dinheiro), já me explicaram que cada pedalada evita duas moléculas de gás carbônico, o que faz de mim uma pessoa com pegada de carbono sustentável.
Sexo, agora, só verde. Se provarem que esperma polui o mundo, evitarei o orgasmo, assim como na Idade Média dizem que mulheres santas evitavam gozar para serem puras aos olhos de Deus. Enfim, sinto-me leve com meu novo eu. Provavelmente, serei mais amado, e isso é que conta, não? Acredito, agora, num mundo melhor.
De repente, acordei. Sentei na cama. Ao lado, minha mulher dormia, com seu corpo de pecadora.
Fui até a biblioteca e vi os livros de Nietzsche, Freud, Pascal, Dostoiévski, Cioran, Bernanos, Roth, Camus, Nelson Rodrigues me olhando com olhos de profetas.
Os dedos indicadores em riste apontavam para mim.
Ao lado de minha estatueta da esfinge de Édipo, lia-se: "Conhece-te a ti mesmo". Voltara a ser eu mesmo. Esse miserável escravo das moiras, de felicidade complicada, doçura rara, boca seca e olhos vermelhos. Reconheci-me: sou o mesmo pecador de sempre, sem esperança.
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Published on March 05, 2012 06:33

March 4, 2012

Daniel Everett na Veja

Recomendo a entrevista nas páginas amarelas da VEJA com Daniel Everett, "A Linguagem nos Faz Humanos". Ele afirma que Noam Chomsky tem tanto poder por causa de seu proselitismo político (é comuna antiamericano até à alma), e não por sua teoria sobre a linguagem (de que esta seria uma ferramenta inata).

Para Everett, a linguagem é uma ferramenta criada pelos homens, com diferenças culturais importantes. É ela que nos faz humanos, por nos dar o poder da comunicação e, acima de tudo, uma história de identidade. Sabemos quem é nosso avô, ao contrário dos cachorros.

Seguem alguns trechos:

‎"Acredito que Chomsky só tenha conseguido esse poder que tem hoje de falar o que quiser, mesmo mentiras, por sua atuação política, criticando os Estados Unidos. Graças a esse proselitismo, ganhou uma leva de seguidores, e ergueu-se um muro de defesa em torno dele. Recebo cartas desaforadas e emails violentos por discordar dele. Mas não posso deixar de defender o que acho correto".

‎"Eu disse a ela que, para mim, Jesus, se existiu mesmo, foi apenas uma pessoa boa, mas não o filho de Deus. Eu me senti livre, dono daquela liberdade de alguém que consegue superar suas crenças e se sente, então, honesto consigo mesmo".
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Published on March 04, 2012 10:21

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
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