Rodrigo Constantino's Blog, page 383
March 26, 2012
As filhas da desgraça
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
"Eu sou um ex-covarde", escreveu Nelson Rodrigues, no "Globo", no dia 18/10/1968. E continua: "... o medo começa nos lares, e dos lares passa... para as universidades, e destas para as Redações... Sim, os pais têm medo dos filhos; os mestres, dos alunos".
Sobre Nelson, leia "Inteligência com Dor, Nelson Rodrigues Ensaísta", de Luís Augusto Fischer (ed. Arquipélago). Grande livro, rodriguiano até a medula: a inteligência é mesmo uma ferida aberta.
Paulo Francis dizia que um dia o mundo seria tomado pelos comissários do povo. Chegamos perto disso: os comissários dos ofendidos babam de vontade de tomar conta do pensamento público, esmagando tudo o que não concorda com sua autoestima.
Não conseguirão porque o pensamento público é como uma guerra. A arena do pensamento público cria valores na mesma medida em que enfrenta seus algozes.
Não ter medo é um tema mais filosófico do que parece. O filósofo alemão Nietzsche, crítico feroz do cristianismo e da metafísica, era na realidade um crítico do medo. A chave de sua crítica ao ressentimento é a identificação do medo como morte do Eros. E Eros é tesão pela vida.
Quando ele diz que o homem do futuro não necessitará de artigos de fé, ele não pensa apenas na religião, nível menor da sua crítica e onde muita gente fica, mas sim em artigos de fé menos evidentes como "meu eu", "meus valores", "minha dignidade", "minha concepção de vida" ou "meu direito a autoestima".
Enfim, toda essa parafernália brega em moda hoje em dia entre os puritanos seculares (aqueles que perderam Deus, mas continuam derretendo de medo dos seus demônios). Escondidos atrás de esquemas para garantir que seu "eu" não seja inundado pelo pânico da "hostilidade primitiva do mundo", da qual fala Camus.
Por isso basta falar de figuras malditas que o horror sobe à superfície. Uma das figuras que mais carrega esse halo de mal é a prostituta, essa filha da desgraça, como dizia Nelson. Basta mencioná-la e o atávico horror vem à tona.
E aí..., pânico na bancada da classe média. A classe que se define pelo medo, principalmente quando assume ares de rigor moral: treme em surtos de eterno puritanismo.
O problema com a classe média é seu espírito. Diria um marxista blasé que "espírito" é mero epifenômeno do "bolso", mas, como não sou marxista, dou o benefício da dúvida para classe média. O espírito da classe média é um ressentido, por isso teme qualquer abalo em seu mundo do bem. Para ele, enxergar o mundo de frente é fora do orçamento, como uma BMW para alguém que ganha salário mínimo.
Mas o que é a prostituta e por que ela é eterna? A prostituta não é apenas o sexo fácil, é a mulher fácil. É o "lugar" onde o homem descansa e, por isso, é parte essencial de toda civilização. Por isso é um mito.
Para mim, ver o mito da prostituta nos sonhos femininos mais misteriosos é um elogio ao Eros da mulher. Enfim, talvez nem todos os homens amem as prostitutas, só os normais. O amor à promiscuidade confessa é uma arte rara.
Às vezes, segundo as profissionais do ramo, o consumidor nem quer sexo, quer uma "namorada" que o ouça e que ele saiba exatamente quanto custa. Sem ter que pagar pelo "amor" dela (jantares, joias, discussões sobre a relação, cobranças, desempenho sexual, atenção).
Os homens temem as mulheres, e as prostitutas são aquelas de quem eles podem ter menos medo porque acham que as tem em suas mãos.
Mas é difícil para muitas mulheres entender isso. Quer ver?
Colaborei com um veículo importante da mídia numa pesquisa sobre garotas de programa de luxo. Meninas caras, mas nunca tão "caras" quanto namoradas e esposas de verdade.
O que disse acima aparece na pesquisa: a prostituta é a companheira fácil, por tempo determinado e custo previamente estabelecido.
Mas o incrível é que, mesmo essas profissionais, quando indagadas se achariam que seus futuros maridos precisariam de suas ex-colegas um dia, respondem: "Não, nós seríamos mais do que suficiente para eles".
"Ignorance is bliss." A realidade é mesmo insuportável, e a verdade é uma ferida incurável.
"Eu sou um ex-covarde", escreveu Nelson Rodrigues, no "Globo", no dia 18/10/1968. E continua: "... o medo começa nos lares, e dos lares passa... para as universidades, e destas para as Redações... Sim, os pais têm medo dos filhos; os mestres, dos alunos".
Sobre Nelson, leia "Inteligência com Dor, Nelson Rodrigues Ensaísta", de Luís Augusto Fischer (ed. Arquipélago). Grande livro, rodriguiano até a medula: a inteligência é mesmo uma ferida aberta.
Paulo Francis dizia que um dia o mundo seria tomado pelos comissários do povo. Chegamos perto disso: os comissários dos ofendidos babam de vontade de tomar conta do pensamento público, esmagando tudo o que não concorda com sua autoestima.
Não conseguirão porque o pensamento público é como uma guerra. A arena do pensamento público cria valores na mesma medida em que enfrenta seus algozes.
Não ter medo é um tema mais filosófico do que parece. O filósofo alemão Nietzsche, crítico feroz do cristianismo e da metafísica, era na realidade um crítico do medo. A chave de sua crítica ao ressentimento é a identificação do medo como morte do Eros. E Eros é tesão pela vida.
Quando ele diz que o homem do futuro não necessitará de artigos de fé, ele não pensa apenas na religião, nível menor da sua crítica e onde muita gente fica, mas sim em artigos de fé menos evidentes como "meu eu", "meus valores", "minha dignidade", "minha concepção de vida" ou "meu direito a autoestima".
Enfim, toda essa parafernália brega em moda hoje em dia entre os puritanos seculares (aqueles que perderam Deus, mas continuam derretendo de medo dos seus demônios). Escondidos atrás de esquemas para garantir que seu "eu" não seja inundado pelo pânico da "hostilidade primitiva do mundo", da qual fala Camus.
Por isso basta falar de figuras malditas que o horror sobe à superfície. Uma das figuras que mais carrega esse halo de mal é a prostituta, essa filha da desgraça, como dizia Nelson. Basta mencioná-la e o atávico horror vem à tona.
E aí..., pânico na bancada da classe média. A classe que se define pelo medo, principalmente quando assume ares de rigor moral: treme em surtos de eterno puritanismo.
O problema com a classe média é seu espírito. Diria um marxista blasé que "espírito" é mero epifenômeno do "bolso", mas, como não sou marxista, dou o benefício da dúvida para classe média. O espírito da classe média é um ressentido, por isso teme qualquer abalo em seu mundo do bem. Para ele, enxergar o mundo de frente é fora do orçamento, como uma BMW para alguém que ganha salário mínimo.
Mas o que é a prostituta e por que ela é eterna? A prostituta não é apenas o sexo fácil, é a mulher fácil. É o "lugar" onde o homem descansa e, por isso, é parte essencial de toda civilização. Por isso é um mito.
Para mim, ver o mito da prostituta nos sonhos femininos mais misteriosos é um elogio ao Eros da mulher. Enfim, talvez nem todos os homens amem as prostitutas, só os normais. O amor à promiscuidade confessa é uma arte rara.
Às vezes, segundo as profissionais do ramo, o consumidor nem quer sexo, quer uma "namorada" que o ouça e que ele saiba exatamente quanto custa. Sem ter que pagar pelo "amor" dela (jantares, joias, discussões sobre a relação, cobranças, desempenho sexual, atenção).
Os homens temem as mulheres, e as prostitutas são aquelas de quem eles podem ter menos medo porque acham que as tem em suas mãos.
Mas é difícil para muitas mulheres entender isso. Quer ver?
Colaborei com um veículo importante da mídia numa pesquisa sobre garotas de programa de luxo. Meninas caras, mas nunca tão "caras" quanto namoradas e esposas de verdade.
O que disse acima aparece na pesquisa: a prostituta é a companheira fácil, por tempo determinado e custo previamente estabelecido.
Mas o incrível é que, mesmo essas profissionais, quando indagadas se achariam que seus futuros maridos precisariam de suas ex-colegas um dia, respondem: "Não, nós seríamos mais do que suficiente para eles".
"Ignorance is bliss." A realidade é mesmo insuportável, e a verdade é uma ferida incurável.
Published on March 26, 2012 06:00
Mentalidade autoritária
Meu artigo no OrdemLivre hoje: Pessoas que costumam afirmar que deveria ter uma lei contra isso ou aquilo, porque não gostam disso ou daquilo, denotam forte tendência autoritária.
Published on March 26, 2012 05:41
March 24, 2012
Ética de mercado

Rodrigo Constantino, revista VOTO
Uma reportagem do "Fantástico" na Rede Globo gerou indignação em muitos brasileiros, cansados das cenas constantes de corrupção que vem à tona sem surtir o efeito desejado. Nas imagens chocantes, ainda que o fato em si seja de conhecimento geral, representantes de empresas privadas fornecedoras de produtos para um hospital público conversavam tranquilamente sobre as propinas envolvidas no negócio.
A certa altura, um dos envolvidos repete que esta é a "ética de mercado", querendo dizer que este tipo de esquema é o normal. A deixa foi aproveitada pelos governantes. O foco voltou-se totalmente para os corruptores. Falou-se em CPI, em investigação das empresas privadas envolvidas, em cancelar os contratos. Ou seja, ataca-se os sintomas do problema, preservando intactas as verdadeiras causas da enorme corrupção que campeia no país.
E quais seriam então estas causas? Em primeiro lugar, no topo da lista, a impunidade. Não basta mostrar imagens que embrulham o estômago dos brasileiros decentes, se estes sabem que nada de concreto vai acontecer com os culpados. Após tantos escândalos de corrupção e nenhum peixe graúdo atrás das grades, fica difícil manter a confiança na justiça. Vale lembrar que nem o "mensalão" foi julgado ainda. Um país com tanta impunidade destroça seu tecido social, as pessoas perdem a esperança e o incentivo para serem corretas. O jeitinho compensa, a honestidade é punida.
Mas acabar com a impunidade, ainda que necessário, não é suficiente. Mesmo um país com severas punições vai se ver diante de diversos casos de corrupção quando o governo concentra poder e recurso em demasia. A explicação é simples: o dinheiro é da "viúva", e faz parte da gestão pública um desleixo maior na administração dos recursos. É da natureza humana cuidar melhor daquilo que se tem a propriedade.
Ninguém apresenta o mesmo esmero ao cuidar de um carro alugado em comparação aos cuidados com o próprio carro. E funcionários públicos administram fortunas de titularidade alheia. Um convite e tanto à corrupção. O sujeito negocia contratos bilionários, sem o escrutínio de sócios privados preocupados com o uso de seus recursos, e sem um mecanismo adequado de incentivos à sua eficiência. Ou seja, ele não é premiado por competência como ocorre no setor privado, tampouco é punido da mesma forma quando se mostra pouco produtivo.
No setor público, de forma geral, há um estímulo às trocas de "favores", não de produtos e serviços eficientes em busca de maior lucratividade. Depender somente do altruísmo e da honestidade do funcionário que concentra tanto poder é um risco enorme. Qualquer um minimamente informado tem consciência disso, bastando pensar nos esquemas de licitação para obras públicas. Uma maior transparência pode ajudar, mas não resolve. As somas envolvidas e a natureza do governo fazem com que a corrupção seja tentadora demais.
Por isso o desvio do foco para o corruptor é um erro, que agrada justamente àqueles interessados em manter o status quo. Não que o corruptor deva ser poupado. Ao contrário: é preciso puni-lo com rigor, mas ciente de que isso não vai resolver o problema, não vai atacar suas raízes. As empresas X, Y e Z sairão de cena, apenas para dar lugar às empresas A, B e C. E a propina continuará existindo, assim como o superfaturamento das obras e outras formas de se desviar recursos públicos.
A ética do mercado, portanto, não tem nada a ver com o escândalo mostrado pelo "Fantástico". É justamente o oposto: a verdadeira ética do mercado é premiar a meritocracia, a competência, fazendo com que os melhores e mais eficientes no atendimento da demanda fiquem com os lucros justos, as recompensas legítimas das trocas voluntárias entre consumidores e produtores.
A fortuna que Steve Jobs criou ao oferecer ao mundo os desejados produtos da Apple, eis um bom exemplo da "ética de mercado". A livre concorrência garantindo que os mais aptos a satisfazer as demandas possam enriquecer de maneira honesta. Quando entendemos isso, fica claro que empresas subornando funcionários públicos para furar a livre concorrência não apresentam semelhança alguma com esta ética descrita acima, uma ética capitalista ou de mercado, na falta de termo melhor.
Enquanto o governo for o dono de um cartão de débito que lhe dá o direito de gastar 40% de tudo aquilo que é produzido no país, corruptores vão voar em torno dos funcionários públicos como moscas em volta de mel. A hipertrofia do governo é um convite irresistível aos parasitas de plantão, que disputam as infindáveis tetas estatais não por meio da ética de mercado, mas sim através das tentadoras propinas.
Resumindo, enquanto os brasileiros não voltarem sua atenção e energia para o cerne da questão, cenas abjetas como aquelas mostradas na TV serão parte de nosso cotidiano. A impunidade deve ser o primeiro alvo, sem dúvida. Tolerância zero com corruptos e corruptores. Mas é preciso mais. É preciso reduzir o poder e a quantidade de recursos que trafega pelo governo.
Published on March 24, 2012 15:32
Felicidade coletiva e mensurável

Rodrigo Constantino
Deu no Estadão: Índice vai medir felicidade do brasileiro
Diz a matéria:
A riqueza do País pode começar a ser mensurada de outra forma. No lugar do Produto Interno Bruto (PIB), a Felicidade Interna Bruta (FIB). A Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) está empenhada na elaboração da metodologia do novo índice. A intenção é fornecer os resultados ao governo federal para auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas.
O FIB já existe no Butão, um pequeno reino incrustado nas cordilheiras do Himalaia. Lá, o contentamento da população é mais importante que o desempenho da produção industrial. O índice pensado pela FGV, no entanto, não será tão radical. "O PIB será um dos componentes do cálculo", esclarece Fábio Gallo, professor da FGV-SP que, ao lado de Wesley Mendes, encabeça o desenvolvimento do estudo.
Modéstia às favas, até porque antecipar certas tendências neste país é tão complicado quanto acertar as próximas fases da Lua, eis um artigo meu profético, publicado em 2010. Nele, eu mostro meu lado Nostradamus:
O próximo passo talvez seja aquele adotado no Butão, que largou os indicadores mais objetivos, como renda per capita, e trocou PIB por FIB, ou seja, Felicidade Interna Bruta para medir o "progresso" do país.
E estamos chegando lá, Huxley! Anotem o próximo passo: o governo vai oferecer "soma" para todos os cidadãos, e o índice de "felicidade" (sic) vai às alturas! Se medir bananas somadas às maçãs já é algo extremamente complicado para calcular o PIB, imagina somar a "felicidade" do José com a do Pedro! A gente tem que rir para não chorar neste país. Alguém me consegue um Prozac?
Published on March 24, 2012 08:03
March 23, 2012
Socialismo não funciona... mais?
Rodrigo Constantino
Deu no GLOBO: Papa diz que comunismo não funciona mais em Cuba. Há duas coisas absurdas na simples chamada: Como assim não funciona MAIS? E como assim em Cuba? Ele NUNCA funcionou, e em lugar ALGUM!
Ao menos a reportagem teve um momento engraçado. Em um dia triste para quem aprecia o humor, com a perda do incomparável Chico Anysio, a matéria trouxe a PIADA DO DIA, proferida por Bruno Rodriguez, ministro de Relações Exteriores de Cuba: "Nós respeitamos todas as opiniões. Consideramos útil a troca de ideias". Um tanto de mau gosto, é verdade. Mas uma grande piada!
Para quem quer saber os motivos que sempre levaram e levariam o socialismo ao fracasso total, recomendo minha palestra (parte 1 e parte 2) no Forum da Liberdade sobre o assunto. Aqueles que argumentam que o socialismo nunca existiu de fato, lembro que enquanto fim ele jamais existirá, pois se trata de uma (terrível) utopia. Mas enquanto meio, existiu sim, deixando sempre um rastro de miséria e escravidão por onde passou.
Deu no GLOBO: Papa diz que comunismo não funciona mais em Cuba. Há duas coisas absurdas na simples chamada: Como assim não funciona MAIS? E como assim em Cuba? Ele NUNCA funcionou, e em lugar ALGUM!
Ao menos a reportagem teve um momento engraçado. Em um dia triste para quem aprecia o humor, com a perda do incomparável Chico Anysio, a matéria trouxe a PIADA DO DIA, proferida por Bruno Rodriguez, ministro de Relações Exteriores de Cuba: "Nós respeitamos todas as opiniões. Consideramos útil a troca de ideias". Um tanto de mau gosto, é verdade. Mas uma grande piada!
Para quem quer saber os motivos que sempre levaram e levariam o socialismo ao fracasso total, recomendo minha palestra (parte 1 e parte 2) no Forum da Liberdade sobre o assunto. Aqueles que argumentam que o socialismo nunca existiu de fato, lembro que enquanto fim ele jamais existirá, pois se trata de uma (terrível) utopia. Mas enquanto meio, existiu sim, deixando sempre um rastro de miséria e escravidão por onde passou.
Published on March 23, 2012 13:36
Portugal é a próxima Grécia?
Rodrigo Constantino
A revista alemã Der Spiegel perguntou ao gestor da PIMCO, El-Erian, se Portugal seria a segunda Grécia em 2011. Ele respondeu de forma direta: "Yes, unfortunately that will be the case". A revista discorda, e argumenta que as reformas estão acontecendo de forma muito mais rápida em Portugal, que teria condições de evitar o destino do calote grego. Como pontos positivos, Portugal conseguiu reduzir o défict de 9,8% para 4,5% do PIB, as medidas de austeridade desfrutam de maior apoio popular, a economia já está saindo da recessão, e o país possui algumas empresas competitivas, ao contrário da Grécia.
O veredicto ainda não saiu. O futuro é incerto. O que se sabe, entretanto, é que os excessos da era da bonança precisam ser ajustados, e que o ajuste será doloroso para os portugueses. Alguns jovens já começam a migrar para outros países em busca de oportunidade de emprego. Em artigo no Globo ano passado, eu expliquei melhor a situação de Portugal, fazendo inclusive um paralelo com o Brasil. A desgraça de nossos patrícios serve como alerta para os brasileiros. É melhor prevenir do que remediar, como diz o ditado.
A revista alemã Der Spiegel perguntou ao gestor da PIMCO, El-Erian, se Portugal seria a segunda Grécia em 2011. Ele respondeu de forma direta: "Yes, unfortunately that will be the case". A revista discorda, e argumenta que as reformas estão acontecendo de forma muito mais rápida em Portugal, que teria condições de evitar o destino do calote grego. Como pontos positivos, Portugal conseguiu reduzir o défict de 9,8% para 4,5% do PIB, as medidas de austeridade desfrutam de maior apoio popular, a economia já está saindo da recessão, e o país possui algumas empresas competitivas, ao contrário da Grécia.
O veredicto ainda não saiu. O futuro é incerto. O que se sabe, entretanto, é que os excessos da era da bonança precisam ser ajustados, e que o ajuste será doloroso para os portugueses. Alguns jovens já começam a migrar para outros países em busca de oportunidade de emprego. Em artigo no Globo ano passado, eu expliquei melhor a situação de Portugal, fazendo inclusive um paralelo com o Brasil. A desgraça de nossos patrícios serve como alerta para os brasileiros. É melhor prevenir do que remediar, como diz o ditado.
Published on March 23, 2012 10:34
Cuba capitalista?

Rodrigo Constantino
A revista alemã Der Spiegel publica matéria sobre Cuba, afirmando que Havana começa a sentir o gosto do livre mercado. A reportagem alega que o "presidente" (sic) Raul Castro tem adotado reformas liberalizantes no país, e que a Igreja Católica tem apoiado maior abertura.
A revista britânica The Economist dessa semana trata do mesmo assunto, com matéria de capa sobre Cuba. A reportagem afirma que finalmente o capitalismo está dando o ar de sua graça na ilha, e que os Estados Unidos deveriam incentivar estas mudanças.
Será que a ilha-presídio caribenha realmente vai caminhar em direção ao capitalismo, com reformas liberalizantes? Será que o feudo particular dos Castro vai fazer como a China, que manteve o controle político, mas adotou inúmeras mudanças econômicas em prol de maior liberdade, colhendo como resultado elevadas taxas de crescimento e milhões de indivíduos saindo da miséria? Tomara que sim! Mas eu teria muito mais cautela que as duas revistas. É cedo demais para comemorar.
Enquanto alguém com o sobrenome Castro estiver dando as cartas no inferno comunista do Caribe, eu duvido que mudanças realmente expressivas ocorram. Espero estar enganado, mas quem aposta para ver?
Em 2010, quando o próprio Fidel Castro supostamente afirmou que o modelo cubano não funcionada "mais", escrevi um artigo sobre o assunto. Recomendo a leitura.
Published on March 23, 2012 09:35
A liberdade e o ObamaCare
A Suprema Corte americana vai julgar em breve a constitucionalidade do ObamaCare. O editorial do WSJ hoje faz forte pressão pelo respeito aos pilares constitucionais do país. O jornal conclui:
The stakes are much larger than one law or one President. It is not an exaggeration to say that the Supreme Court's answers may constitute a hinge in the history of American liberty and limited and enumerated government. The Justices must decide if those principles still mean something.
Em artigo com base em livro de Thomas Woods, eu levanto a questão da morte da constituição, afirmando que é muito perigoso para a liberdade quando trocamos o império da lei pelo arbítrio dos governantes.
The stakes are much larger than one law or one President. It is not an exaggeration to say that the Supreme Court's answers may constitute a hinge in the history of American liberty and limited and enumerated government. The Justices must decide if those principles still mean something.
Em artigo com base em livro de Thomas Woods, eu levanto a questão da morte da constituição, afirmando que é muito perigoso para a liberdade quando trocamos o império da lei pelo arbítrio dos governantes.
Published on March 23, 2012 07:31
Política do puxadinho

Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A presidente Dilma se reuniu com vários empresários e banqueiros nesta quinta-feira, para cobrar mais investimentos na economia. Influenciada pelas teorias keynesianas, Dilma acredita que basta despertar o "espírito animal" dos investidores para aquecer a economia e produzir crescimento maior. Além da retórica, o governo acenou com algumas medidas pontuais e paliativas para aliviar um pouco o setor industrial, pressionado pela concorrência externa.
A presidente, que possui em seu currículo de empreendedora basicamente a falência de uma loja que vendia objetos simples por R$ 1,99, parece não compreender muito como funciona a economia real. Os investidores dependem de muitos fatores concretos, que não costumam se alterar com base no "espírito animal". O primeiro deles é a existência de um estoque razoável de poupança, necessário para financiar de forma sustentável os investimentos (a alternativa é por crédito sem lastro ou inflação, ambos insustentáveis).
Como sabemos, a poupança é limitada no país justamente porque o governo gasta demais. Com arrecadação tributária de quase 40%, sendo que quase tudo vai para gastos correntes, sobra muito pouco para investimentos produtivos. Para elevar a poupança doméstica para 25% do PIB, patamar que muitos analistas consideram adequado para garantir crescimento sustentável, o governo terá de reduzir os gastos públicos de forma substancial. Isso o governo não quer.
Além disso, todos estão cansados de saber sobre o custo Brasil, ou seja, os gargalos que impedem um ambiente favorável aos investimentos. Entre suas causas, temos uma burocracia asfixiante, uma mão de obra com baixa qualificação e produtividade, uma infraestrutura capenga, uma carga tributária absurda e complexa, uma lei trabalhista anacrônica com encargos muito elevados, entre outras coisas.
Portanto, chega a ser patética a tentativa do governo de pressionar os grandes empresários por maiores investimentos, uma vez que nenhum destes obstáculos criados pelo próprio governo serão retirados do caminho dos investidores. Essa "política de puxadinho" não pode substituir as necessárias reformas estruturais. Acreditar no contrário é aderir ao "espírito animal", aquele com orelhas compridas que costuma ser usado como transporte de carga.
PS: Atribui-se a expressão "laissez faire" ao comerciante francês Legendre, que teria respondido desta maneira ao poderoso Colbert, quando este mercantilista perguntou o que mais o governo poderia fazer para ajudar os empresários. Que falta fez um Legendre na reunião com a presidente Dilma!
Published on March 23, 2012 06:46
Maiores no voto, menores no crime
Vi agora uma propaganda do TSE estimulando o voto da garotada de 16 anos. Então fica assim: galalau de 16 anos é homem consciente e maduro na hora do voto, mas criança inimputável se matar alguém, e mentecapto indefeso diante do cigarro mentolado e da propaganda de chocolate. Cobrar coerência do governo é como cobrar decoro em um bordel mesmo!
Alguém desconfiado poderia afirmar que fazem isso porque é mais fácil conquistar o voto dos jovens com venda de promessas utópicas... Mas claro que ninguém acredita que nossos políticos tenham intenções tão maquiavélicas. Eles são tão sérios na média!
Escrevi um artigo em 2007 sobre os excessos do ECA, que protegem os marmanjos quando cometem crimes, tornando-os praticamente inumputáveis.
Alguém desconfiado poderia afirmar que fazem isso porque é mais fácil conquistar o voto dos jovens com venda de promessas utópicas... Mas claro que ninguém acredita que nossos políticos tenham intenções tão maquiavélicas. Eles são tão sérios na média!
Escrevi um artigo em 2007 sobre os excessos do ECA, que protegem os marmanjos quando cometem crimes, tornando-os praticamente inumputáveis.
Published on March 23, 2012 06:06
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