Rodrigo Constantino's Blog, page 342

November 27, 2012

A Europa de Steiner

João Pereira Coutinho, Folha de SP

Estou sentado num café no centro de Lisboa. Sobre a mesa, os jornais do dia. Então um cavalheiro aproxima-se da minha mesa, olha para os jornais e pergunta: "São da casa?".

Eu sorrio, digo que não, que são meus, mas disponibilizo a prosa na mesma. O homem agradece, escolhe um deles, afasta-se e começa a leitura matinal. Então eu penso: isto é a Europa.

Penso eu e pensa George Steiner, em pequeno ensaio que recomendo. Intitula-se "A Ideia de Europa", foi uma conferência célebre proferida por Steiner no Instituto Nexus, da Holanda, e a ambição do autor era a de encontrar o patrimônio cultural que une os europeus.

Steiner é magistral, na forma e no conteúdo: não, aquilo que une os europeus não é a União Europeia, o euro e outras construções burocráticas presentemente em crise.

A ligação fundamental encontra-se, antes, na cultura, no pensamento e, enfim, numa certa forma de estar e de viver que, embora possa ser exportada para outras latitudes, tem um berço reconhecível.

Os cafés são um bom exemplo. As ilhas britânicas podem ter os seus pubs. As cidades americanas podem ter um bar em cada esquina. Mas os pubs e os bares não são os cafés de Lisboa, frequentados por Fernando Pessoa. Nem os cafés de Odessa, povoados pelos gângsteres de Isaac Babel.

Para Steiner, os cafés da Europa são lugares de encontro, ociosidade, debate e até produção intelectual. Como escreve o autor, podemos imaginar tudo num pub ou num bar. Não imaginamos a produção de uma obra filosófica; um debate político intenso; o nascimento de um novo movimento artístico; ou até, como agora, a simples partilha anônima dos jornais do dia para acompanhar o café da manhã.

A Europa são os seus cafés. E seria possível escrever uma história cultural do continente atribuindo a Karl Kraus, a Carnap ou a Musil o seu café particular, escreve Steiner.

Mas a ideia de Europa não se limita aos cafés. Nessa ideia, está também a dimensão humana e histórica dos lugares. A Europa não é percorrida por uma selva amazônica ou por um deserto do Saara. As suas distâncias não são geológicas ou continentais.

A Europa, desde sempre, foi um território pedestre, no sentido literal do termo: algo para ser descoberto a pé. As distâncias são humanamente modestas. E, em cada rua ou praça, não temos a classificação impessoal e numérica das grandes cidades americanas: Quinta Avenida, Sexta, Sétima, e por aí afora.

Temos marcas literárias, políticas, artísticas, de um continente saturado de passado. Steiner cita exemplos: rue Lafontaine, place Victor Hugo, Pont Henri IV. Os europeus convivem diariamente -melhor: caminham diariamente- pela evidência material e imaterial do que ficou para trás.

Por fim, não interessa se você nasceu em Lisboa, Paris ou Berlim. O europeu é sobretudo herdeiro de Atenas e Jerusalém: da cidade terrestre e da cidade celeste; da tensão permanente entre a razão e a fé; entre o espírito científico e as "intimações" da transcendência.

Foi desse diálogo, e até desse confronto, que nasceu o melhor das artes e das letras. Um patrimônio que sobrevive até hoje.

Claro que Steiner, o último grande humanista do nosso tempo, também sabe que a ideia de Europa não se limita a páginas nobres: a Europa foi igualmente o espaço de ódios viscerais e barbaridades sem perdão.

Como Steiner repetidamente escreve em várias das suas obras, o continente europeu foi aquele onde era possível escutar Schubert ao jantar e, na manhã seguinte, gasear judeus de consciência limpa.

Mas mesmo essa experiência negra conferiu aos europeus um "sentido de finitude" apurado. É essa consciência assombrada que distingue o homem europeu do otimismo fundacional que impera no Novo Mundo.

Moral da história?

Todos os dias, o leitor é confrontado com notícias apocalípticas sobre o futuro da União Europeia. E é possível que, lendo essas notícias, o leitor cometa o erro mais comum sobre a matéria: confundir a União Europeia com a Europa e os burocratas de Bruxelas com os europeus.

Nada mais falso. Ler George Steiner é reaprender que a ideia de Europa é anterior à União Europeia. E que, aconteça o que acontecer, essa ideia irá sobreviver a ela.
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Published on November 27, 2012 02:33

November 26, 2012

É hoje, Porto Alegre!

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Published on November 26, 2012 03:03

November 25, 2012

Crime e castigo

Ferreira Gullar, Folha de SP

VAMOS PENSAR juntos: você acha que seria viável uma comunidade humana sem leis, sem normas? Claro que não, porque onde não há normas a serem obedecidas, impera a lei do mais forte, o arbítrio.

Todos sabemos que a natureza não é justa, já que faz pessoas saudáveis e pessoas deficientes, pessoas belas e pessoas feias, talentosas, mas sem talento outras. Isso é o óbvio, mas nem todo mundo tem a inteligência de um Albert Einstein ou o talento musical de um Villa-Lobos. A justiça é, portanto, uma invenção humana, porque necessitamos dela.

De certo modo, a aplicação da Justiça decorre da necessidade de normas que regulem a sociedade -e que são resultado de uma espécie de acordo tácito, que torna todos, sem exceção, sujeitos a ela. Quem as viola deverá ser punido.

É chato ter que punir, mas, se não houver punição, as normas sociais correm o risco de não serem obedecidas, o que levará a sociedade à desordem total. Ao mesmo tempo, não é justo que todos sejam obrigados a obedecer às normas e que aqueles que não as obedeçam não paguem por isso.

Daí a instituição da Justiça na sociedade, que foi criada para que o cidadão que desrespeite as normas seja punido e passe a obedecê-las. A punição, portanto, não é represália, vingança da sociedade contra o transgressor: é o recurso de que ela dispõe para fazer justiça e manter o respeito às leis sem as quais o convívio social se torna inviável.

Faço essas óbvias considerações porque, como já observei aqui noutra ocasião, a impressão que se tem, muitas vezes, é de que punir é algo que só se deve fazer em último caso e do modo mais leve possível.

Participo, em parte, dessa opinião, desde que não implique em anular totalmente o objetivo da punição, que é manter a obediência dos cidadãos às normas que regem o convívio social. Se o princípio de justiça é de que todos são iguais perante a lei, a não punição de quem a viole é a negação desse princípio.

Isso é tanto mais grave quando se trata de pessoas ricas e poderosas que, em nosso país, dificilmente são punidas. Todos são iguais, mas há aqueles que são mais iguais.

Punir é, portanto, afirmar a vigência da lei e a equidade entre os cidadãos, sem o que as normas sociais perdem significação.

Isso fica ainda mais evidente se nos lembramos de como a punição funciona no futebol. Ali, como na vida social, todos estão sujeitos às mesmas normas, graças às quais o jogo se torna possível. E ali, como na vida, quem viola as normas deve ser punido, e com penas que variam de acordo com a gravidade da falta cometida. Se um jogador de um dos times chuta o adversário dentro da pequena área, a punição é o pênalti. Se o juiz não pune o infrator, o jogo perde a graça, e os torcedores se revoltam.

Na sociedade, também. Por isso, de vez em quando, vemos pessoas na rua se manifestando contra a falta de punição a indivíduos que, muitas vezes, não respeitam nem mesmo a vida humana.

A punição não é pura e simplesmente castigo pelo mal ou erro cometido. Nela está implícito o intuito de educar o infrator, de levá-lo a compreender que mais vale obedecer às normas sociais do que violá-las. Isso não significa, no entanto, que todo infrator, ao ser punido, passe a obedecer às normas sociais.

Sabemos que tal coisa nem sempre acontece, pois muitos deles jamais abandonam a prática do crime. Se isso não justifica tratar a todos como irrecuperáveis, tampouco implica em ver a punição como um abuso da sociedade contra o indivíduo. É igualmente inadmissível manter os presos em condições carcerárias sub-humanas.

Se faço tais considerações, é porque tenho a impressão de que nossos legisladores e os responsáveis pela efetivação da Justiça parecem ter esquecido o verdadeiro propósito da punição.

Sentem-se culpados em punir e, por essa razão, criam leis ou as aplicam de modo a, por assim dizer, anular a punição. Frequentemente, um prisioneiro deixa a prisão para visitar a família, some e volta ao crime. E você acha mesmo que um jovem de 16 anos não sabe que roubar e matar é errado? Mas nossas leis acham que não.

Tal procedimento não ajuda a ninguém. Quando um juiz de futebol pune o jogador que comete falta, não está praticando uma maldade, está seguindo a norma que permite que o jogo continue.
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Published on November 25, 2012 04:39

November 24, 2012

Mais um super-herói nacional


Guilherme Fiúza, O GLOBO
José Dirceu acertou uma: disse que o populismo chegou ao Supremo Tribunal Federal. E chegou mesmo. Não no mérito do julgamento do mensalão, que é o que Dirceu quer desclassificar. Mas nas maneiras e nos discursos afetados dos ministros, em especial o presidente que a Corte acaba de empossar, Joaquim Barbosa — o novo herói brasileiro.O presépio está ficando completo: a “presidenta”, afilhada do ex-operário, que indicou o negro para a elite do Judiciário. Negro como Barack Obama, o presidente da nação mais rica, que ganhou o Nobel da Paz sem fazer nada — não por seus belos olhos, mas pela cor da sua pele. O mundo politicamente correto é racista.Depois do Nobel “étnico”, Obama começou a trabalhar e mostrou enfim quem era: um líder fraco, canastrão, tentando se equilibrar entre o conservadorismo americano e seu símbolo de defensor dos fracos. Não agradou verdadeiramente a ninguém. Conseguiu uma reeleição apertada contra um dos piores candidatos republicanos dos últimos tempos. E já saiu anunciando aumento de impostos para os “ricos” — a única coisa que os populistas sabem fazer: garfar quem produz e quem investe para engordar a burocracia estatal.Claro que Obama não vai produzir bem-estar social nenhum desse jeito, sangrando uma economia asfixiada a pretexto de distribuir renda. Os esquerdistas que emergiram na Europa panfletando contra o rigor fiscal alemão já começaram a dar com os burros n’água. As sociedades cresceram demais, e o que pode salvá-las é mais dinamismo, e não mais impostos e gastos estatais. Mas o mito do governante bonzinho que vai salvar a todos parece indestrutível.O Brasil vive esse sonho de ter um governo mais humano por ser presidido por uma mulher. As pessoas acreditam em qualquer coisa. Basta ver os argentinos dando corda para os delírios autoritários de Cristina Kirchner (o presépio progressista tinha que ter uma viúva profissional). Cristina e Dilma são irmãs gêmeas em certas decisões maternais, como a redução na marra das tarifas de energia. O desastre decorrente dessa bondade já se consumou na Argentina, e começa a se consumar no Brasil, com as ações das empresas do setor desabando vertiginosamente. É comovente como o populismo arruína as estruturas de um país sem perder a ternura.Enquanto a propaganda do oprimido funcionar, o governo sabe que não precisa governar. A última pérola é a campanha publicitária da Infraero. Como se sabe, o governo Dilma não planeja nada (não dá tempo), e aí vem a Copa do Mundo jogar um holofote nos remendos da infraestrutura. O que faz então o governo? Propaganda. Após anos de escárnio no Aeroporto Internacional do Galeão, onde já se viu até passageiro arrastando bagagem pela escada por falta de elevador, o contribuinte tem que ouvir agora a mensagem de que a Infraero está trabalhando pelo seu conforto etc. Podem zombar, os brasileiros não ligam.Nem se importam que o ministro da Justiça faça comício contra as prisões brasileiras, quando seus companheiros mensaleiros se encaminham para elas. José Eduardo Cardozo disse que preferia morrer a ir preso no Brasil. Aparentemente, também prefere a morte a ter que descer do palanque e administrar as prisões. Com a crise de violência em São Paulo, um preposto do ministro apareceu para declarar que ofereceu uma maleta detetora de celulares ao governador paulista. O mais importante era avisar à imprensa que o governo tucano não respondera à generosa oferta. Em meio à onda de mortes, a estratégia do governo popular era fazer pegadinha partidária.Cardozo disse que as prisões brasileiras são medievais. Em seguida, por coincidência, Dias Toffoli, o ministro do PT no Supremo, declarou que as penas de prisão para os mensaleiros são medievais. Os brasileiros não se incomodam de ter um juiz partidário fingindo que julga seus companheiros, e aí ficam achando que o que julga de verdade é herói.Onde está o heroísmo de Joaquim Barbosa? Ele foi o relator de um processo julgado sete anos depois do fato — e nesse intervalo o partido dos réus fez a festa em três eleições. A estratégia petista de fazer o mensalão sumir no retrovisor só não deu certo porque a imprensa gritou contra o escândalo do escândalo — e praticamente empurrou o STF para o julgamento.Joaquim fez bem o seu trabalho. Mas também fez bravatas, mostrou pouca serenidade em bate-bocas com colegas (tivera um embate público quase infantil com Gilmar Mendes), se empolgou às vezes com sua própria mão pesada, mostrou-se intolerante e preconceituoso ao dizer a jornalistas que eles estavam fazendo “pergunta de branco”. Tomou posse no STF com discurso militante, para delírio dos progressistas que o veneram por sua origem pobre e pela cor da sua pele.O Brasil mimou o ex-operário e não aprendeu nada com isso. Continua em busca do seu super-herói social. Os parasitas da nação agradecem. Eles se saem muito bem no reino da fantasia.
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Published on November 24, 2012 04:21

Boicote a Israel


EU SOU A FAVOR DO BOICOTE A PRODUTOS ISRAELENSES:

Mas este boicote não pode ser "leve". Se é para boicotar, boicote MESMO, com coragem e até as últimas conseqüências.

Vamos ajudar os companheiros do Fórum Palestino a boicotar Israel, prestigiando o gênio Tarso Genro, patrocinador do evento.

Tomem nota de alguns produtos, inventos e patentes, de origem israelense:

• Medicamentos genéricos da TEVA, maior produtora de antibióticos e
medicamentos genéricos do mundo e que também desenvolveu um fármaco
para tratar o mal de Parkinson.

• Windows NT e XP desenvolvidos pela Microsoft Israel.

• Pen Drive, desenvolvido pela companhia israelense M-Systems.

• Telefones celulares, desenvolvidos pela primeira vez pela Motorola
Israel, em Haifa.

• Câmaras fotográfica de celulares, desenvolvidas pela companhía
israelense TransChip.

• Messenger, desenvolvido por uma equipe de quatro jovens engenheiros
israelenses.

• Antivirus, desenvolvido desde 79 em Israel.

• Sistemas de irrigação por gotejamento que minimizam a quantidade de
água necessária.

• “Babysense”, produto israelense que previne a síndrome de morte
súbita en bebês.

• Tecnologia para carros elétricos, em pleno desenvolvimento por
empresas israelenses.

. Aproveitamento da Energia solar

• “Exoesqueleto eletrônico”, que ajuda as pessoas con paralisia a
deslocar-se com maior facilidade.

• Nariz artificial, desenvolvido em Israel para detectar tumores cancerosos.

• Irrigação com água salgada, para diminuir o consumo de água doce.

• “Coplaxon”, fármaco contra a esclerose múltipla, “copolímero-1
(COP-1)”, que detém con êxito o avanço da esclerose múltipla,
especialmente em sua forma exacerbada/renitente.

• Tecnología Pentium MMX, Pentium 4 ou Centrino desenhados em Israel
pela Intel-Israel.

• ICQ, desenvolvido por jovens engenheiros israelenses em 1996.

• Diagnóstico do câncer de mama computadorizado e livre de radiações.

• Sistema computadorizado de administração de medicamentos, que
assegura uma administração mais eficiente, eliminando o erro humano em
tratamentos médicos.

. Projetos de segurança de eficiência praticamente total para a indústria aérea.

• Câmara de vídeo ingerível, pela Israel Givun, utilizada para
observar o interior do intestino delgado, ajudando no diagnóstico do
câncer e outras desordens digestivas.

• Dispositivo que ajuda diretamente o coração a bombear sangue através
de sistema sensorial para enfermidades cardíacas avançadas – inovação
com potencial de salvar vidas entre pessoas com insuficiência
cardíaca. O dispositivo, sincronizado com as operações mecânicas do
coração, funciona através de um sofisticado sistema de sensores.

• ClearLight, tratamento da acne, que produz uma luz de alta
intensidade, livre de raios ultravioletas de banda estreita, que faz
com que as bactérias da acne desapareçam sem destruir o tecido cutâneo
periférico.

. Tecnología VOIP, que permite que as chamadas internacionais sejam
simples, econômicas e acessíveis.

• Fármaco da empresa Pfizer de Israel para prevenir a cegueira.

• Conversor de resíduos radioativos em energia limpa.

• Teste para detectar a clamídia.

• Teste para detectar a hepatite A e B.

• Teste para detectar o citomegavirus.

• Teste para detectar a rubéola.

• Teste para detectar a toxoplasmose.

• Teste para detectar anticorpos HIV de alta confiabilidade em apenas
dois minutos.

• Fármacos para tratar os casos de malária mais renitentes.

• Peptídeo de crescimento osteogênico (OGP), que incrementa a formação
de tecidos ósseos (importante para tratar osteoporose).

• Anticoagulantes para tromboses.

• Remédios “Decog” para o diabetes juvenil.

• Sistemas de ultrassom utilizados em medicina.

• Tomógrafos de medicina nuclear.

• Medidores de pressão sem braçadeira.

• Monitores portáteis e informatizados de ondas cerebrales.

• Tecnologia para estimular eletricamente os músculos do braço para
tetraplégicos.

• Aviões comerciais que dispõem de sistema antimísseis.

• Tratamentos redutores da dor.

• Projetos de eletricidade em larga escala com energia solar e
totalmente funcional.

Agora, tomara que não cobrem a mesma postura do lado de Israel. O que seria da vida dos judeus sem as incríveis invenções dos palestinos, que tornaram o mundo um lugar tão melhor?
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Published on November 24, 2012 03:44

November 23, 2012

Populismo elétrico


Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A carga tributária representa 45% do valor final da tarifa de eletricidade no país. O governo Dilma resolveu que a redução das tarifas do setor é parte importante na estratégia de derrubar o Custo Brasil e melhorar a competitividade da nossa indústria. Qual a solução encontrada pelos brilhantes estrategistas do governo? Reduzir os pesados impostos do setor? Claro que não! Acharam melhor decretar a queda da tarifa e ponto final.
Como não existe almoço grátis, sobrou para as empresas do setor a fatura final. Mais especificamente, para a grande estatal que controla boa parte do setor, a Eletrobrás. O governo resolveu usá-la como centro de custo para seu objetivo míope de curto prazo. Suas ações já caíram mais de 70% no ano, e a insegurança jurídica agora é total, afugentando novos investidores. A capacidade de investimento foi gravemente afetada. O longo prazo foi sacrificado pelo curto prazo, como de praxe neste governo.
Mas há quem aplauda. A Firjan gastou um bom dinheiro para publicar hoje um anúncio de página inteira no jornal O Globo, defendendo a presidente e alegando surpresa com os opositores, supostamente um lobby em defesa das estatais. Curiosamente, o anúncio não cita uma única vez o tamanho da carga tributária no setor. A indústria não quer atacar as causas do problema. Prefere lutar por seus subsídios, e para o inferno com o amanhã!
Rogério Werneck, professor da PUC, detona em seu artigo no mesmo jornal os argumentos dos defensores desse populismo elétrico. Sua conclusão vai direto ao ponto: “Como consumidor de energia, o leitor pode até estar satisfeito. Mas, como contribuinte, deveria estar seriamente preocupado”. Lembrem-se sempre daquilo que não se vê no primeiro momento...
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Published on November 23, 2012 04:16

November 22, 2012

A marca de Raul Seixas

Rodrigo Constantino

Acabei de ver o documentário sobre Raul Seixas, de Walter Carvalho. Está bom. Raul foi, como todos nós de certa maneira, um homem de seu tempo, filho e também um pouco pai da contracultura, subversivo e rebelde. Mas imprimiu sua marca singular, o "raulseixismo", como ele mesmo disse.

O pêndulo com a revolução cultural dessa gente 'muito louca' parece ter ido longe demais para o outro lado, e creio ser hoje o verdadeiro "revolucionário" aquele que prega o resgate de certos valores e tradições perdidas ou latentes. Não o moralismo excessivo e hipócrita da era vitoriana, ou o reacionarismo carola, mas o bom senso mesmo. Algum equilíbrio, quem sabe?

O mundo da "metamorfose ambulante", das drogas, do alcoolismo, do "carpe diem", dos filhos espalhados mundo afora com várias mulheres diferentes, do "maluco beleza", e também da fama, esta que pode ser a droga mais pesada de todas, eis um mundo que costuma levar somente a um único lugar: o abismo! É preciso ter muita estrutura para experimentar o veneno e resistir, para fechar um pacto mefistofélico e sair bem dele, ileso. Parece-me que quase ninguém consegue.
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Published on November 22, 2012 18:25

Os inocentes Dirceu e Genoino


Aloísio de Toledo César, EstadãoSe alguém entrar numa penitenciária e conversar com os presos, individualmente, verificará uma situação muito curiosa, até mesmo engraçada: não há ali nenhum culpado. Quando se pergunta ao preso, como todo juiz faz, ao longo da carreira, "qual é a sua bronca?", logo vem a resposta: "Ah, doutor, armaram pra mim, eu num fiz nada".Se houver insistência quanto ao tipo de crime de que são acusados, quase todos se saem do mesmo jeito: "O meu é o 155", ou o 158, ou o 171, e assim por diante. Quase sempre há dificuldade em obter do preso afirmações como "eu matei", "eu roubei", "eu trafiquei drogas" e outras que tais, porque, afinal, todos se dizem inocentes. Por isso acham preferível dizer o número do artigo do Código Penal pelo qual foram enquadrados, julgados e condenados.O mesmo poderá acontecer com os condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no processo do mensalão José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares quando estiverem na cadeia, porque, conforme eles propagam o tempo todo, nada fizeram de errado e o que ocorreu - na desculpa esfarrapada com se encobrem - foi o julgamento de um partido político vitorioso. Sim, na visão que procuram propagar, o que houve foi tão somente um julgamento político de pessoas inocentes, tão inocentes que talvez pudessem até ser canonizadas.Enfim, quando José Dirceu, já preso, for indagado a respeito de sua "bronca", depois de reiterar a proclamação de inocência, ele poderá dizer que é o 333, ou seja, corrupção ativa, e o 288, formação de quadrilha. O primeiro prevê pena de 2 a 12 anos e o segundo, de 2 a 5 anos, além de multa, podendo ser aumentada da metade se a vantagem ilícita for também destinada a servidor ou agente público.Dada a gravidade da conduta, por envolver o então chefe da Casa Civil, o cargo mais poderoso da República após o de presidente, não se pode alegar que tenham sido severas as penas a ele impostas. Para os ministros do STF Ricardo Lewandowski, revisor do processo, e Dias Toffoli, não havia prova alguma contra José Dirceu e José Genoino. Havia, sim, provas contra todos os outros, menos contra esses dois mais poderosos.Na visão desses dois juízes, os mesmos delitos, decorrentes das mesmas condutas criminosas, foram admitidos para a imposição de penas aos demais réus, mas não a José Dirceu e Delúbio Soares. Isso equivale a dizer que as provas dos autos foram válidas para condenar e para absolver, conforme as pessoas, sugerindo um paradoxal silogismo jurídico, capaz de entortar o cérebro de quem buscar entendê-lo.Consequência disso está no infeliz surgimento de anedotas que mostram sempre o relator, Joaquim Barbosa, em posição de antagonismo com o revisor, Ricardo Lewandowski. Numa delas, que circula de boca a boca e também pela internet, aparece um preso, na hora do julgamento, pedindo, pelo amor de Deus, para ser julgado por Lewandowski. Apesar de ser tão sério o assunto, o espírito jocoso do brasileiro sempre encontra uma forma de se divertir.Contribui para tal o comportamento desse ministro, ao causar a impressão de que se opõe deliberadamente aos julgamentos e à forma de julgar do relator, Joaquim Barbosa. Lewandowski parece não se haver dado conta de que está sob a luz dos holofotes e de que milhões de brasileiros acompanham, pela televisão, cada gesto, cada olhar, cada palavra dele.Sua irritação quando se retirou do plenário do Supremo porque Barbosa alterou a ordem dos julgamentos, prerrogativa do relator, serviu para demonstrar que Lewandowski anda com os nervos à flor da pele. Não se vê o mesmo nervosismo em Gilmar Mendes, em Celso de Mello, em Marco Aurélio nem em nenhum outro.Essa atitude o diferencia e o deixa numa situação realmente desconfortável perante o julgamento que cada pessoa faz dos ministros daquela Corte. Sim, os ministros estão sendo julgados por cada um de nós e esse ponto é positivo para o reforço de uma instituição que há anos vem sofrendo processo de deboche e desmoralização.Também ganha com esse histórico julgamento a democracia brasileira. Exemplo disso está no próprio José Dirceu, que, ameaçadoramente, afirma que não se vai calar e que vai continuar lutando. Para sua sorte, ele está no Brasil e aqui vai cumprir pena, porque se estivesse na sua amada Cuba, cujo regime sonhou importar para nós, nunca mais poderia abrir a boca, a não ser para cantar o hino cubano e dar vivas a Fidel Castro.É curioso observar que o canto de sereia marxista, que encantou gerações e, felizmente, já não seduz, continuou a fazer estragos e vítimas no Brasil. José Dirceu e José Genoino são duas delas. A geração deles, a mesma da presidente Dilma Rousseff, passou anos a fio estudando Marx e discutindo se foi certa ou errada a opção de Stalin ou de Trotsky para substituir o moribundo Lenin.Até hoje, alguns desse grupo ainda acham que a matança de mais de 10 milhões de adversários, por Stalin, não é fato relevante nem deslustra o encanto do verdadeiro comunismo. Sempre é bom que cada um de nós pergunte a si mesmo se o verdadeiro comunismo é aquele de Cuba, o da China ou o que foi sepultado na Alemanha Oriental, com a queda do Muro de Berlim.Enfim, pelo jeito, foi por água abaixo o sonho do pequeno grupo que pretendeu usar dinheiro público - dinheiro nosso, arrecadado dos impostos que pagamos - para a aventura consistente em comprar votos no Congresso Nacional, em atos de corrupção e de formação de quadrilha, com o propósito de implantar no Brasil uma República sindical socialista.Por trás das grades, terão tempo suficiente para refletir. Dirceu e Genoino já cumpriram pena antes, mas, desta vez, a prisão a eles imposta não vem de ditadura alguma, mas do cumprimento da lei, à qual todos estamos subordinados.
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Published on November 22, 2012 05:44

Uma estátua para Dirceu

Rogério Gentile, Folha de SP

José Dirceu passou o feriadão na Bahia, onde, num dia, curtiu o sol e a praia com uma belíssima bermuda estampada e, no outro, foi homenageado por companheiros petistas com uma paella e uma saborosa costela de bode.

Em seu merecido descanso, teve tempo de sobra para refletir sobre o julgamento do mensalão e a argumentação do ministro Toffoli contra o emprego de pena de prisão para crimes contra o patrimônio público. Segundo Toffoli, que, por mera coincidência, foi assessor de Dirceu, multas e a recuperação de valores desviados surtem mais efeito "pedagógico" do que prender o responsável.

De fato, é um absurdo obrigar uma pessoa como Dirceu, que "dedicou sua vida ao Brasil e à luta pela democracia", como ele mesmo se descreve, a trocar os prazeres da Bahia pelo sol quadrado de uma penitenciária.

Afinal, coitado, ele não é o primeiro político a desviar recursos públicos e a comprar apoio parlamentar. E, definitivamente, mandar político para a cadeia não faz parte da tradição brasileira. Uma multinha seria mais do que suficiente para servir de exemplo aos demais, não seria?

Até porque não existem tantas provas contra Dirceu. É só uma grande coincidência, por exemplo, ele ter se reunido com Valério e dirigentes do BMG num dia e o banco ter liberado recursos para o mensalão dias depois. Também é só uma casualidade o fato de sua ex-mulher ter recebido favores do operador do esquema.

O problema é que o julgamento, em um tribunal formado em sua maioria por ministros indicados por Lula e Dilma, foi "político", como diz o PT, e permeado pela "paixão", como insinuou a presidente. Convenhamos, os ministros tinham motivos de sobra para castigar o PT, que lhes impingiu um emprego estafante, atulhado de processos e com sessões sonolentas. E o pior, como reclamou Ayres Britto na sua despedida do STF, com salários defasados. Vingança pura, claro. Pensando bem, Dirceu merece ganhar uma estátua.

Comentário: Corre o risco de os quadrúpedes que defendem o chefe de quadrilha José Dirceu não captarem o sarcasmo e divulgarem o artigo, demandando em coro a tal estátua. Essa gente, quando não é apenas canalha (a maioria dos casos), come capim!
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Published on November 22, 2012 05:09

November 21, 2012

Rodrigo Constantino's Blog

Rodrigo Constantino
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