Rodrigo Constantino's Blog, page 339

December 8, 2012

A encomenda

Rodrigo Constantino

A revista Carta Capital dessa semana ligou a metralhadora giratória contra a "direita". Não vou entrar no detalhe pois confesso que nem li a reportagem. Soube que é um verdadeiro lixo, como de praxe quando se trata dessa revista chapa-branca. Vou apenas comentar a acusação que a revista me faz: de que meu novo livro, Privatize Já, foi "encomendado" como resposta ao Privataria Tucana

Prezado Mino Carta, tenha a caridade de me dizer QUEM foi que encomendou meu livro, pois até agora nenhum centavo pingou em minha conta. Foi a CIA? A Mossad? Os tucanos que são criticados no livro (se ao menos os "jornalistas" da revista tivessem LIDO mais que o título)? Foi o Iluminatti? A Maçonaria? Gostaria muito de ter essa informação, para enviar a fatura.

Talvez quem encomendou o livro tenha feito algum depósito na Suíça ou em um paraíso fiscal e ainda não me avisou. Mino, caso você não conheça os meandros dessas contas secretas, será que poderia perguntar aos colegas do PT como isso funciona? Será que o Duda Mendonça faria a gentileza de me dar umas aulas sobre o assunto?

Sobre o livro do Amaury Ribeiro Jr., eu confesso que li. Na verdade, "tive" que ler, pois tinha uma PARTE do meu livro que fala da privataria petista, e eu queria saber se poderia aproveitar alguma coisa do livro dele. Doce ilusão! O livro não fala nada de privatização em si, e não passa de um ataque requentado ao José Serra (que eu, caso não saibam, jamais defendi - esquerdista demais). 

Portanto, o meu livro não tem absolutamente NADA a ver com o privataria tucana. Meu livro é uma compilação teórica e empírica que demonstra o sucesso da privatização, no Brasil e no mundo. E isso sem poupar críticas aos tucanos, que a revista insinua serem os responsáveis pela "encomenda".

Eis o fenômeno que estamos diante: o problema dos "jornalistas" da Carta Capital é que se projetam nos outros, ligam a metralhadora giratória na frente do espelho. Quando julgam o mundo pelo que enxergam neles mesmos, claro que só poderiam ver podridão, autores vendidos, safados, cafajestes. Tio Lênin ensinou para a turma: acusem seus inimigos daquilo que vocês são! Aprenderam direitinho...

Não é verdade, Mino?

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Published on December 08, 2012 16:20

December 7, 2012

Palestra do Privatize Já - Parte 2


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Published on December 07, 2012 14:58

Novas confissões

Rodrigo Constantino
Ainda chocado e desnorteado com as descobertas da revista Carta Capital, pretendo fazer novas confissões, antes que toda a verdade venha à tona.
Tive contatos com espiões da CIA sim, e parece que eles, junto com a Scotland Yard, planejam um golpe no Brasil para derrubar o governo popular (não populista!) do PT. É que nós, reacionários, não toleramos o fato de um metalúrgico ter chegado ao poder! Nossa revolta nada tem a ver com corrupção, aparelhamento da máquina estatal, tentativa de censura da mídia ou demais invenções que criamos na imprensa golpista.
Confesso que não sou parte da elite desse grupo tático, mas escutei algumas coisas aqui e acolá. Portanto, não chego a ser um espião da CIA, mas sei que a coisa é séria. Diria que até o 007 está envolvido no esquema, e a Carta Capital está em destaque entre nossos alvos mais perigosos. São muitos leitores, e muito poder de influência...
Tenho outras confissões a fazer. Meu cachorro se chama Bono, nome de esquerdista caviar, para disfarçar; mas na verdade ele é treinado pela CIA para atacar comunistas. Trata-se de um maltês ameaçador, e a ideia do Instituto Millenium é bancar um projeto de produção em série de cães desse tipo, para perseguir comunas. O projeto chama-se Pet McCarthy, e conta com fundos milionários levantados entre a comunidade judaica com anseio de conquistar o mundo.
Aproveito também para confessar que sou heterossexual. Sei que é uma coisa terrível de se dizer em público no século 21, mas estou passando tudo a limpo antes que a Carta Capital consiga me desmascarar ainda mais. O segredo é não dar chance ao inimigo, antecipando-se. Sim, eu gosto de mulher. Mea culpa! 
E aquele livro novo, Privatize Já, que a revista ainda não resenhou, foi sim encomendado pelos grandes conspiradores do capital. Recebi polpudas verbas para colocar aquelas mentiras todas no papel, manchando minha reputação. Onde eu estava com a cabeça para afirmar que a privatização da Telebras foi positiva para o povo? Ou para chamar de privataria petista o que, no fundo, não passa de um governo limpo e sem escândalos?
Sei que pessoas como Mino Carta e Luís Nassif não entendem esse tipo de atitude mesquinha, essa prostituição; mas sejam compreensivos: eu preciso colocar o leite das crianças em casa! Será que se vocês estivessem precisando, não aceitariam dinheiro para mentir um pouquinho? É, no caso de vocês talvez seja diferente, mas nós "reaças" nunca tivemos caráter mesmo...
Agora que a Carta Capital já sabe toda a verdade, espero ser deixado em paz. Não represento mais perigo para os planos democráticos de Dirceu e Mino Carta. [image error]
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Published on December 07, 2012 11:13

Debate com Elena Landau - Parte 1


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Published on December 07, 2012 09:12

Confissões

Rodrigo Constantino
Parece que a revista Carta Capital me descobriu. Não é mais possível esconder a verdade. Sim, eu sou um reacionário golpista! Meu intuito é dar um golpe na nossa democracia, impedindo que ela se aproxime do “excesso de democracia” venezuelana ou quiçá do paraíso social cubano. Mea culpa!
Sou tão reacionário, mas tão reacionário, que chego a preferir países capitalistas atrasados como Suíça, Austrália, Canadá e Nova Zelândia ao invés de lugares bem mais voltados para o social como Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia, todos administrados pelos camaradas do PT. Preciso confessar essas baixarias.
A Carta Capital é uma revista tão boa nas investigações, que descobriu inclusive o papel do Instituto Millenium, que ajudei a fundar. Tudo não passa de uma conspiração dos barões da mídia. Creio até que a família Marinho e a família Civita chegaram a depositar milhões em alguma conta suíça para mim, mas ainda não soube dos detalhes.
Mas isso não é tudo! O que eu preciso confessar aqui, em público, é meu sonho de um dia ser um jornalista tão sério e isento como Mino Carta, um símbolo da honestidade e integridade no ramo, alguém que não se vende, que não aceita pautar suas matérias de acordo com as verbas que recebe. Quando eu crescer, quero ser como o Mino Carta! Como o Mino Carta!
É isso, minha gente. Não passo de um reacionário patético, um lacaio do capital, um golpista barato. Agora, se me dão licença, tenho que ir para uma reunião com a cúpula dos tubarões da imprensa golpista para acertar detalhes da nossa estratégia de reação a essa bomba que a Carta Capital, uma das revistas mais lidas e respeitadas do planeta, soltou em cima de nós. Até a próxima! 
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Published on December 07, 2012 06:30

Sai daí, Mantega!

A dupla está rindo de que? 
Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A ficha já caiu para quase todo mundo. A política econômica do governo Dilma é terrível. Excessivamente intervencionista – conseqüência da ideologia arrogante daqueles que pensam ser possível controlar os mercados de cima para baixo –, a postura do governo afugentou os investidores, enquanto a estratégia de estimular o consumo com o crédito público já se esgotou.
O resultado é esse que está aí: crescimento pífio com inflação elevada. Alguns ainda tentam salvar a imagem de pragmática da presidente, alegando que o problema está na comunicação com o mercado. E dizem que ela é pró-mercado, oferecendo como evidência as demandas atendidas dos grupos de interesse como a Fiesp (mercado?).
A revista britânica The Economist, que já foi usada pelos petistas como prova do sucesso de seu governo na época das vacas gordas, resolveu colocar a presidente contra a parede: se ela é mesmo pragmática, então precisa demonstrar isso demitindo o ministro Guido Mantega. Claro que a reação dos petistas, dessa vez, não será tão amigável. Já tem gente mandando o recado de que não é a revista quem cuida da economia brasileira.
De fato não é. Quem cuida tampouco é o Mantega, mais perto de uma marionete. Sabemos que é a própria Dilma quem toca o barco e chancela tamanho intervencionismo arbitrário. Ela acredita nisso, e deve insistir no erro. Portanto, não basta demitir o Mantega. Sim, ele deveria pedir para sair. Mas tinha que levar junto com ele a presidente Dilma também. Só assim nossa economia teria uma chance de sair da mediocridade completa.

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Published on December 07, 2012 05:52

Razão e relinchos


Michel Laub, Folha de SP
Existe um livro de Schopenhauer chamado "Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão" (ed. Topbooks). Um dos riscos de escrever uma coluna de jornal hoje, ou de opinar em qualquer instância pública, é o oposto: ser ignorado, quando não perseguido e açoitado num pelourinho de grunhidos, relinchos e cacarejos, a despeito da mais cuidadosa argumentação.Convencer alguém a mudar de ideia não é algo comum em nosso tempo. Basta uma semana nas redes sociais para perceber: militantes pró e contra aborto, descriminação da maconha, eutanásia, cotas, cabras e sobrenomes Guarani-Kaiowá, a maioria está ali para confirmar certezas prévias ou se irritar com quem diz o contrário.Uma radicalização que também nasce do meio: para que os palpites sejam ouvidos entre tantas vozes, a tendência é que o adjetivo prevaleça sobre o termo exato, a ênfase sobre a ponderação, as regras generalizantes sobre as nuances que tiram a graça e o colorido das frases e slogans.Num cenário assim, não é difícil adotar um tom nostálgico ou apocalíptico. Talvez se possa lamentar o fim de uma suposta era de ouro dos debates elevados. Prefiro seguir achando que a humanidade não mudou tanto: apenas passamos a ouvir, graças a uma tecnologia muito mais benéfica que perniciosa, que criou possibilidades infinitas de compartilhamento de informação, as conversas antes restritas a botecos. É um choque descobrir que amigos são tão ignorantes, levianos ou idiotas, claro, mas até isso tem seu lado positivo.De certa forma, estamos diante de um problema das democracias maduras, que já superaram -ou deviam ter superado- questões graves referentes à liberdade de discurso. Ou seja, não estou falando da lei, que proíbe censura, calúnia, injúria e difamação. Nem da ética, que repele a desonestidade intelectual sem que seu autor precise ir para a cadeia. Estou falando é de etiqueta, a "pequena ética" que em sua face menos elitista propõe tolerar os modos alheios -um caminho para, quem sabe, prestar atenção ao que eles representam.Isso porque linguagem e tom -que são maneiras de segurar os talheres num debate- nem sempre arruínam as ideias por terem aparência tosca. Dá um pouco de cansaço, por exemplo, quando bikers defendem suas propostas para o trânsito com tamanha agressividade. Ou quando a pecha de "fascista", misturada à teoria política da salmonela, aparece na discussão sobre bisnagas de plástico proibidas em feiras e lanchonetes. Ainda assim, tudo a favor de ciclovias e meios alternativos de transporte, e abaixo aqueles saquinhos tristes de ketchup e mostarda.Num ensaio de 2005, um nome insuspeito quando o tema é a consequência das palavras -Salman Rushdie, que passou anos escondido por causa de um livro considerado blasfemo pelo Irã- escreveu: "Na Universidade de Cambridge, me ensinaram (...) que não se deve ser grosseiro com a pessoa com quem se discute, mas se pode ser extremamente grosseiro em relação a tudo que ela pensa". Parece uma citação descabida num texto sobre etiqueta. Na verdade, é a lembrança de uma regra ideal em debates: deveria importar o que é dito, e não quem diz. É o que impede um interlocutor de ser desqualificado por gênero, crença, classe ou etnia.Forçando um pouco a boa-fé, por que não abstrair também o partido em que o interlocutor vota, a empresa jornalística onde trabalha, os amigos que tem? Ou suas deficiências retóricas, sua ingenuidade, sua queda pelo vitimismo, pelo sentimentalismo, pelo insulto? A distinção total entre texto e autor é utópica, e o conteúdo de uma ideia pode ser indistinguível de sua forma, e às vezes tudo se resume mesmo a interesse ou tolice, mas o esforço para enxergar um pouco além disso é sempre virtuoso. Pensar com liberdade, o melhor atalho para identificar o lado certo numa disputa, passa por ouvir e aprender com vozes dissonantes. Mesmo que o timbre delas seja mais frequente em zoológicos, penitenciárias e hospícios.[image error]
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Published on December 07, 2012 05:10

Duro choque de realidade

Rogério F. Werneck, O GLOBO
Após cinco trimestres consecutivos de queda no investimento, a expansão do PIB talvez não chegue a 1% este ano. Tendo em conta que, no ano passado, chegou a apenas 2,7%, a taxa média anual de crescimento no biênio deverá ser de pouco mais que 1,8%. A divulgação desse desempenho tão pífio, quando a presidente está prestes a completar a primeira metade de seu mandato, impõe duro choque de realidade ao governo. A dúvida é se tal choque dará lugar a uma reavaliação séria, no Planalto, da forma como vem sendo conduzida a política econômica.

O que mais preocupa é a queda persistente do investimento. O governo alimentava a fantasia de que bastaria reduzir os juros e depreciar o câmbio para que o investimento deslanchasse. Se tivesse feito só isso — e mantido uma política macroeconômica coerente —, os resultados não teriam sido tão medíocres. Mas fez muito mais que isso. E foi esse algo mais que deu lugar a um quadro pouco propício ao florescimento do investimento.

O governo começou por desmoralizar a política fiscal, não relutando em recorrer a truques contábeis de todo tipo para exibir um simulacro de austeridade. Tendo se permitido a extravagância de montar gigantesco orçamento paralelo no BNDES, bancado por endividamento do Tesouro, deu asas ao delírio de que qualquer projeto que lhe encantasse poderia ser viabilizado, desde que sobre ele se despejasse um volume suficientemente generoso de dinheiro público. Do trem-bala a frigoríficos campeões nacionais. Da produção de energia artificialmente barata na Amazônia à construção de sondas marítimas de alta tecnologia.

A possibilidade mais promissora de investimento de que dispunha o País — a exploração do pré-sal — foi transformada em verdadeira missão impossível. Sobrecarregou-se a Petrobras com a exigência de que fosse a única operadora do pré-sal e de que detivesse pelo menos 30% de qualquer consórcio que vier a explorá-lo. E, para culminar, passou-se a exigir que equipamentos utilizados no pré-sal tenham percentuais absurdamente altos de conteúdo nacional.

A exigência de conteúdo nacional acabou estendida a outros setores, como o automobilístico, que, em troca, foi agraciado com um nível de proteção equivalente ao que seria propiciado por alíquotas nominais de importação da ordem de 70%! Sob a bandeira do fechamento, já não há estímulo a investimentos que contemplem a integração do País às cadeias produtivas da economia mundial.

Some-se a tudo isso a perspectiva de todo um mandato presidencial com inflação bem acima da meta, gestão desastrosa do investimento público, carga tributária saltando de de 33,5% para 35,3% do PIB, em 2011, propensão desmedida ao intervencionismo, truculência regulatória, como agora se vê no setor elétrico, e o que se tem é um quadro claramente inóspito para investimentos.

Dentro de 15 meses Dilma Rousseff se verá na cabeceira da pista da eleição presidencial. Embora tenha tão pouco tempo pela frente, talvez ainda possa corrigir o rumo da política econômica. Mas, sem mudança drástica na equipe econômica do governo, tal correção pareceria pouco crível. Uma simples dança de cadeiras no eixo Fazenda-BNDES não resolveria. Seria preciso trazer gente de fora.

Mas mudar é difícil. Procrastinar mudanças é muito mais fácil. E não faltará quem assevere ao Planalto que a direção da política econômica está correta. Ou quem se disponha a reiterar que as dificuldades se devem, em grande medida, ao quadro adverso que enfrenta a economia mundial. Tampouco faltarão advertências sobre a inoportunidade da mudança.

Leonel Brizola, de quem Dilma foi correligionária até 2000, quando trocou o PDT pelo PT, talvez lhe lembrasse agora do preceito gaúcho que costumava repetir a torto e a direito: "Não se troca de cavalo no meio do banhado." A presidente pode até estar tentada a esperar momento mais propício. Mas é bem possível que, mais à frente, o banhado se mostre ainda mais fundo. E a verdade é que, com o cavalo que tem, não lhe vai ser fácil chegar ao outro lado.[image error]
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Published on December 07, 2012 04:49

December 6, 2012

Governo e fantasia


Flávio Roberto Bezerra Ferreira, advogado
Certo dia estava com a minha filha ainda pequena, caminhando pelo centro de São Paulo, quando a atenção dela foi fisgada por um aglomerado de pessoas.  Ela me puxou pelo braço e nos aproximamos do grupo. Percebi que os transeuntes estavam diante de um ator performático, que, maquiado e devidamente fantasiado, permanecia absolutamente imóvel, como uma estátua representativa de divindade grega. A apresentação era tão convincente que minha filha perguntou o seguinte: “Pai, porque todos estão parados olhando essa estátua”? Nesse momento o artista fez um movimento brusco e assumiu outra posição, deixando a minha filha bem assustada. Eu a acalmei, explicando que ela não estava diante de uma estátua que se movia, mas sim, de um ator fazendo uma representação teatral de rua. Muito tempo passou desde então, até que recentemente esse fato aflorou de minha memória.
Estava lendo uma matéria a respeito da nova legislação que destina cotas nas universidades federais para estudantes que tiverem cursado todo o ensino médio em escolas públicas. No anúncio, o governo justifica a medida como necessária, e, até mesmo indispensável, pois nos vestibulares - devido a educação de baixa qualidade nos níveis fundamental e médio - os alunos provenientes de escolas públicas não estavam tendo condições de competir em pé de igualdade com aqueles egressos de escolas particulares, o que os afastava do ensino superior gratuito. A adoção do sistema de cotas seria, portanto, uma forma de praticar justiça social, além, é claro, de garantir melhor inclusão social. Muito se discutiu a respeito desse assunto, com acaloradas opiniões favoráveis e contrárias. Particularmente considero que não é a melhor forma de resolver o problema e, inclusive, nem será eficaz. Na realidade, sou de opinião que existe uma distorção na análise da questão, tendo em vista que o problema não é a dificuldade de acesso ao ensino superior para os alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas. Essa é uma mera consequência. O verdadeiro problema é a deficiência no ensino público básico, este sim, grande nódoa social, e que deve ser devidamente tratada. Ademais, não podemos esquecer que, como quase tudo na vida, o conhecimento segue etapas que não podem e nem devem ser suprimidas. Você precisa aprender bem as operações fundamentais da matemática (adição, soma, multiplicação e divisão)antes de estudar frações e álgebra, que por sua vez darão elementos para estudar equações, até que tenha condições de aprender complexos cálculos, indispensáveis para exercício de inúmeras profissões de nível superior. Você aprende as regras gramaticais e a escrita, sem isso, será impossível se comunicar de maneira satisfatória, bem como será difícil uma adequada leitura e interpretação de textos, tornando inviável o desempenho satisfatório em qualquer disciplina. Ora, o sistema de cotas quebra essa regra fundamental, nivelando de maneira artificial o acesso ao ensino superior, para pessoas com nível de conhecimento insuficiente para ingresso de maneira natural. Entretanto, esse acesso facilitado, não garante que os cotistas consigam um desempenho satisfatório nos cursos universitários. Segundo dados da ONG Todos Pela Educação, em 2009 o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) indicou que nenhuma das séries avaliadas (5º e 9º ano do Ensino Fundamental e 3º ano do Ensino Médio) possuía 35% dos alunos com aprendizado adequado, seja em língua portuguesa, seja em matemática. Em outras palavras, mais de 65% dos alunos não estavam plenamente habilitados em português e matemática, e teriam dificuldade para ler e interpretar textos mais longos, bem como para executar cálculos matemáticos mais complexos. Nessas condições, como serão formados, por exemplo, os nossos futuros médicos e engenheiros? O nosso grande avanço social se dará quando o governo corrigir o descompasso do ensino público. Essa sim, uma solução definitiva, justa e igualitária, uma vez que vai garantir que a totalidade dos alunos das escolas públicas, concorram ombro a ombro com os das escolas particulares, sem discriminação alguma, e em todos os campos, e não apenas no quesito universitário. Nessa hipótese estaremos realmente caminhando para atingir a verdadeira Justiça e Inclusão Social.
Infelizmente temo que essas políticas do governo, usem questões sociais apenas para encobrir e/ou justificar o aparelhamento estatal. Quem sabe o sistema de cotas tenha sido mera justificativa para a criação de uma espécie de secretaria vinculada ao Ministério da Educação, o que implicaria na necessidade de indicar um secretário e todo o pessoal de apoio, bem como dotar um orçamento especial para o programa. Fico preocupado, pois nessa hipótese, os cargos seriam “loteados” entre a base de apoio do governo e os partidos aliados, e a verba seria distribuída entre as universidades segundo critérios obscuros de alinhamento dos reitores com o poder central. Seria lamentável. Verdadeira inversão de valores, uma vez que os justos anseios do povo brasileiro seriam mero escudo para a adoção de políticas partidárias mesquinhas, quando o correto seria uma política dedicada aos interesses da população.
Aliás, o aparelhamento do Estado através da distribuição de cargos parece que é a tônica na administração pública. O caso do ex-deputado federal José Genoíno é paradigmático. Ele exerceu o último mandato político entre 2007 e 2010. Depois quase não se ouviu falar dele. Entretanto, por ocasião do julgamento e condenação na Ação Penal 470 (Mensalão), o Brasil tomou conhecimento que ele, sem mandato no legislativo federal, não estava desamparado pelo poder central, uma vez que exercia a função de “Assessor Especial da Defesa”, cargo de confiança e, portanto, de indicação política, vinculado ao Ministério da Defesa. Não se sabe bem a necessidade que o país tem no momento de possuir um “Assessor Especial da Defesa”, afinal não estamos sob ameaça territorial de nenhuma outra nação e/ou qualquer outro risco que justifique tal aparato especial. Também não são conhecidas as qualificações exigidas do ocupante do referido cargo e nem se o indicado as possuía. Parece que nada disso importa. O que interessa é encontrar - e, se necessário, criar - bons e prestigiosos cargos públicos para todos os amigos do poder.  Por outro lado, na cidade de São Paulo, o prefeito eleito, ainda não empossado, já estabeleceu a criação de uma secretaria nova para promoção da igualdade racial. Ele vai entregar a pasta para um vereador da base que deu apoio durante a campanha política. Não há como negar a importância de ações visando uma melhor inclusão social de parcela da população, entretanto, algumas questões ficam em aberto: Será que atualmente já não existe uma secretaria municipal funcionando, com capacidade de executar os projetos de promoção de igualdade racial propostos pelo novo prefeito? O município de São Paulo está financeiramente preparado para suportar a criação dessa nova secretária sem comprometer o orçamento de outras secretarias, e sem afetar a qualidade de serviços atualmente ofertados pela prefeitura? O indicado tem capacidade administrativa  para gerenciar a nova secretaria? Nada disso está claro, porém, confirma que a rotina do “você me ajuda na eleição e eu vou retribuir com cargos e verbas”, vigora em todas as esferas do poder político. Esse tipo de “política”, que privilegia basicamente o grupo governante e seus apoiadores, nos faz lembrar a definição de “Elite”, conforme exposta no Dicionário Michaelis: “Elite: sf. Palavra adotada em quase todas as línguas modernas, para significar o escol da sociedade, de um grupo, de uma classe; escol, nata”. O Brasil tem justo anseio por um governo do povo, pelo povo e para o povo, porém, o aparelhamento estatal indica justamente o contrário, ou seja, que o nosso governo é uma verdadeira elite, que antes de qualquer interesse público, prioriza em primeiro lugar os interesses particulares dos seus membros e apaniguados.
Por outro lado, é inegável que a elite que governa o país usa o patrimonialismo como forma de garantir a união do grupo e a manutenção do “status quo” da hierarquia de poder. Caso fosse feita uma auditoria em empresas públicas como a Petrobras, em agências reguladoras como a ANAC, ANATEL, ANEEL, ANS ou em órgãos do aparato estatal, como IBAMA, FUNAI e fundos de pensão estatais (Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) que possuem patrimônios bilionários, o que o povo brasileiro encontraria? Quantos cargos de indicação política, assessorias, consultorias, bem como outras formas de exercer tráfico de influência seriam detectados? E com relação ao uso da máquina pública em benefício pessoal dos membros da elite governante? Esse aparelhamento estatal é benéfico para a Nação Brasileira ou serve apenas aos interesses da elite que ocupa o poder? No caso de instituição de fomento, como por exemplo, o BNDES, o mesmo tem uma política transparente para concessão de empréstimos, ou é seletiva, privilegiando determinados grupos e/ou pessoas ligadas ao aparato estatal com uma espécie de “carta branca” de acesso ao cofre?
Além do patrimonialismo, a elite que nos governa também deixa claro um viés anti-republicano e antidemocrático. De fato, um dos pilares de uma república democrática é o da tripartição de poderes, que devem ser totalmente independentes e autônomos. Ora, quando o loteamento de cargos, indicações políticas, liberações de verbas e tantas outras manobras são utilizadas como forma de cooptar o apoio parlamentar, garantindo no congresso uma base aliada dócil e solícita aos interesses do executivo, você golpeia a estrutura republicana do país, e, é claro, a democracia nacional. Com um legislativo submisso, faltaria apenas e tão somente vencer a resistência do Poder Judiciário, para assumir totalmente e sem freios o completo domínio do Estado. O processo de controle do Judiciário poderia começar, por exemplo, através de asfixia econômica, gerando desestímulo e perda do quadro de pessoal, dificultando a prestação jurisdicional, o que “justificaria” a aplicação de medidas saneadoras, e, é claro, de caráter controlador pelo Executivo e Legislativo. Além disso, quando decisões judiciais afrontarem os interesses da elite governante, a base partidária poderia ser açulada em protestos contra o Judiciário, de maneira a exigir decisões em “sintonia”com o poder central.
É verdade que essas mazelas acompanham a nossa república deste sempre. O grande Rui Barbosa, que teve inegável papel na proclamação da república, ao final de sua brilhante carreira política demonstrou grande tristeza com o governo de sua época. Em memorável discurso proferido na tribuna no Senado declarou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto. Essa foi a obra da República nos últimos anos. No outro regime, o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre - as carreiras políticas lhe estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam, e que, acesa no alto guardava as redondezas como um farol que se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade”.
Entretanto, não é porque essa política espúria se arrasta desde o início de nossa República, que devemos continuar omissos. Na verdade, acho que é hora de uma completa mudança de paradigma na forma governar. Será que no momento não existe nenhum homem público capaz de empunhar e elevar a bandeira da moralidade, contra essas políticas governamentais iníquas, atentatórias aos nossos princípios republicanos e democráticos? E o nosso Judiciário não vai clamar em defesa do respeito a nossa Constituição Federal e da nação brasileira? Onde estão o Ministério Público e a OAB, que tanto lutam em prol das instituições do país, e em especial, na defesa dos direitos e garantias individuais do povo brasileiro? Vão assistir silentes ao apagar das luzes de nossa república? Que falta nos faz um grande Rui Barbosa, bradando veementemente contra os desmandos daqueles que usam o poder político quase que exclusivamente em benefício próprio!
Não há como negar que, tal qual o artista performático de rua, a grande sacada dos nossos governantes é o uso de uma excelente fantasia simulando um governo voltando para o povo, de maneira a encobrir a sua verdadeira natureza elitista, patrimonialista, anti-republicana e antidemocrática, porém, ao contrário do ator que ao final do dia retira os trajes e a maquiagem mostrando para todos a sua verdadeira face, a nossa elite não quer largar a sua fantasia de governo. [image error]
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Published on December 06, 2012 16:32

Economist recomenda demissão de Mantega

Deu na The Economist: "Business is cautious because the government meddles too much. A prime example is its apparent desire to drive down the return on investment by diktat, not just for banks but also for electricity companies and other infrastructure-providers. Even more than her predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, Ms Rousseff seems to believe that the state should direct private investment decisions. Such micro-meddling undermines trust in macroeconomic policy as well. […] The worry is that the president herself is meddler-in-chief. But she insists she is pragmatic. If so, she should fire Mr Mantega, whose over-optimistic forecasts have lost investors’ confidence, and appoint a new team capable of regaining the trust of business."

E então, qual vai ser, presidenta? Vai demitir o Mantega, ou vai confessar que não é pragmática coisa alguma, e sim uma crente do estatismo tosco?

Eu nunca caí nessa. Dilma é quem manda. Leiam:

O fator ideológico[image error]
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Published on December 06, 2012 11:15

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