Rodrigo Constantino's Blog, page 345
November 9, 2012
O safári da miséria

Lady Gaga está em um “bad romance” com a pobreza carioca. No Rio para um show, a cantora, cercada de seguranças, foi visitar a favela de Cantagalo e jogou bola descalça com as crianças. Ela ganha a imagem de descolada e sensível, as crianças ganham... o que mesmo? Alguns podem dizer “autoestima”, mas há controvérsias. O “romance” parece desigual. Na verdade, parece exploração da miséria alheia para autopromoção.
A esquerda caviar adora enaltecer as favelas como se fossem cool, como se a pobreza fosse charmosa. Uma elite culpada olha para os guetos como verdadeiros “zoológicos” humanos. Os gringos fazem um “safári” pelos morros cariocas, tiram fotos, e mostram para os amigos sua “aventura” depois. Como ninguém é de ferro, retornam para a civilização em seguida. Não parece hipocrisia?
Joãozinho Trinta acertou na mosca quando disse que intelectual é que gosta de pobreza, pois pobre gosta mesmo é de luxo. A autora Glória Perez, por exemplo, vem pintando um quadro positivo das favelas em sua novela “Salve Jorge”, elogiando inclusive o baile funk como um programa de família. Mães e filhos dançam juntos, uma coisa linda! Achar aquilo vulgar e de baixo nível é coisa de gente preconceituosa.

Em tempo: esta valorização da periferia chegou ao Enem. Uma reportagem de O Globo mostra que várias questões abordaram, com viés ideológico, o uso de termos coloquiais na linguagem. Para a esquerda festiva, falar errado é o certo. Falta coragem a esta turma para chamar a ignorância pelo nome. [image error]
Published on November 09, 2012 04:19
November 8, 2012
Bolsa empresário
Deu no Valor, por Ribamar Oliveira:
Os parlamentares e os contribuintes não sabem, portanto, qual é o custo dos empréstimos do Tesouro ao BNDES, embora essa seja, atualmente, uma das mais importantes variáveis fiscais do país, por afetar a dívida líquida do setor público. Os empréstimos do Tesouro autorizados para o BNDES, desde 2009, já chegam a R$ 285 bilhões, sendo o valor total dos financiamentos subvencionados pela União de R$ 227 bilhões.
[...]
Com base nessa metodologia, a STN estimou que o subsídio concedido pelo Tesouro nos empréstimos ao BNDES foi de R$ 19,2 bilhões em 2011, segundo o relatório do TCU sobre as contas do governo Dilma no ano passado. Somado aos subsídios do PSI, o custo total foi de R$ 22,8 bilhões. De 2009 a 2011, o custo dos empréstimos ao BNDES chegou a R$ 28,2 bilhões.
Apenas como termo de comparação, o custo dos empréstimos do Tesouro ao BNDES e do PSI em 2011 foi quase o dobro da despesa pública com o principal programa social do governo federal, que é o Bolsa Família. Este ficou em R$ 13,6 bilhões no ano passado. O gasto com o "Bolsa Empresário" superou em muito, portanto, a despesa da União com o Bolsa Família.
Os parlamentares e os contribuintes não sabem, portanto, qual é o custo dos empréstimos do Tesouro ao BNDES, embora essa seja, atualmente, uma das mais importantes variáveis fiscais do país, por afetar a dívida líquida do setor público. Os empréstimos do Tesouro autorizados para o BNDES, desde 2009, já chegam a R$ 285 bilhões, sendo o valor total dos financiamentos subvencionados pela União de R$ 227 bilhões.
[...]
Com base nessa metodologia, a STN estimou que o subsídio concedido pelo Tesouro nos empréstimos ao BNDES foi de R$ 19,2 bilhões em 2011, segundo o relatório do TCU sobre as contas do governo Dilma no ano passado. Somado aos subsídios do PSI, o custo total foi de R$ 22,8 bilhões. De 2009 a 2011, o custo dos empréstimos ao BNDES chegou a R$ 28,2 bilhões.
Apenas como termo de comparação, o custo dos empréstimos do Tesouro ao BNDES e do PSI em 2011 foi quase o dobro da despesa pública com o principal programa social do governo federal, que é o Bolsa Família. Este ficou em R$ 13,6 bilhões no ano passado. O gasto com o "Bolsa Empresário" superou em muito, portanto, a despesa da União com o Bolsa Família.
Published on November 08, 2012 09:02
Filme imperdível... que você nunca vai ver no Brasil
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Published on November 08, 2012 06:05
The best is yet to come
Obama, um tanto desgastado, apelou para o “The best is yet to come”, tentando renovar um pouco o bordão da esperança mesmo depois de quatro anos medíocres. Segue Scorpions cantando “The best is yet to come”, que na verdade ocorrerá somente daqui a mais quatro anos agora...
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Published on November 08, 2012 04:42
Royalties socialistas
Rodrigo Constantino
Não deixa de ser curioso ver a reação da classe artística e da esquerda caviar como um todo na questão dos royalties do petróleo. Vão tirar recursos do Rio, e isso não pode! É aqui que se produz o petróleo, corre-se o risco de vazamentos, poluição etc. Não é justo, em nome da igualdade, dividir os recursos com os demais estados.
Sim, crítica absolutamente legítima, claro. Mas um tanto incoerente com o socialismo pregado pela turma dentro do próprio estado! Não é exatamente esse o discurso esquerdista? Que os ricos devem pagar mais em nome da igualdade? Então! Os deputados levaram o recado a sério e querem meter a mão no butim. Os cariocas reclamam agora porque dói no bolso?
Mas a partilha dos royalties é exatamente o que prega a cartilha socialista! Tirar do Rio e mandar para o Maranhão de Sarney! Isso é socialismo, gente! Não gosta dele? Não acha justo o Rio perder estes recursos? Então ao menos enterra o discurso socialista de vez, para TODAS as ocasiões!
Dentro do estado, do país, do município, não é mais justo coisa alguma transferir recursos dos mais ricos para os mais pobres em nome da igualdade. Isso é socialismo, e isso é injusto e ineficiente. Entenderam agora?[image error]
Não deixa de ser curioso ver a reação da classe artística e da esquerda caviar como um todo na questão dos royalties do petróleo. Vão tirar recursos do Rio, e isso não pode! É aqui que se produz o petróleo, corre-se o risco de vazamentos, poluição etc. Não é justo, em nome da igualdade, dividir os recursos com os demais estados.
Sim, crítica absolutamente legítima, claro. Mas um tanto incoerente com o socialismo pregado pela turma dentro do próprio estado! Não é exatamente esse o discurso esquerdista? Que os ricos devem pagar mais em nome da igualdade? Então! Os deputados levaram o recado a sério e querem meter a mão no butim. Os cariocas reclamam agora porque dói no bolso?
Mas a partilha dos royalties é exatamente o que prega a cartilha socialista! Tirar do Rio e mandar para o Maranhão de Sarney! Isso é socialismo, gente! Não gosta dele? Não acha justo o Rio perder estes recursos? Então ao menos enterra o discurso socialista de vez, para TODAS as ocasiões!
Dentro do estado, do país, do município, não é mais justo coisa alguma transferir recursos dos mais ricos para os mais pobres em nome da igualdade. Isso é socialismo, e isso é injusto e ineficiente. Entenderam agora?[image error]
Published on November 08, 2012 04:08
November 6, 2012
Pequenos Assassinatos
Carta da MP Advisors
"Falar mal do governo é tão bom que não deveria ser privilégio só da oposição" Milton Campos, governador de Minas Gerais entre 1946 e 1950.
O governador mineiro, se vivo fosse, estaria frustrado em ver que sua frase não faz muito sentido nos dias atuais. Afinal, mal existe uma oposição, e aqueles que se intitulam “oposição”, pelo visto, não gostam de falar mal do governo. Já que a oposição não faz o que tem que fazer, os bolsistas do andar de baixo (bolsa família) também não e tão pouco os bolsitas do andar de cima (bolsa BNDES). Sobra para nós, os “sem bolsa”, essa deliciosa tarefa. Vamos a ela.
O objetivo desta carta é sair um pouco da análise de curto prazo da política econômica e dos mercados e olhar um pouco mais atentamente para outros direcionamentos do governo, que, no momento, não impactam o seu bolso, mas no futuro irão afetar a sua vida e a de seus filhos também.
Vamos começar pelo conceito de meritocracia, algo bem simples como: conquista-se coisas na vida de acordo com seu esforço e mérito. Aquele que usa os finais de semana para estudar tende a conseguir as melhores vagas nas universidades (e depois no mercado de trabalho) do que aquele que fica fiscalizando a natureza na praia, certo? Não mais. Desde a criação de um programa eleitoreiro de compra de votos, o bolsa família (sem a famosa porta de saída), passando pelo sistema de cotas e terminando no balcão dos amigos do BNDES, o que vemos é um sistema perverso que não estimula mais o esforço próprio e a busca pela superação.
O atual sistema de incentivos estimula o "coitadismo", a troca de votos por migalhas e, no caso do empresariado, de que mais valem bons contatos em Brasília do que a equação de cérebro afiado mais trabalho duro. Tudo aponta para uma sociedade onde a tônica é a "servidão voluntária" ao estado babá. De onde se pode esperar crescimento de longo prazo advindo de uma sociedade de zumbis? De onde virá a inovação?
Analisando o sistema de cotas, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, que reserva 50% das vagas nas universidades públicas para alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Desse total, a metade será voltada para estudantes com renda familiar de até um salário e meio por pessoa. A outra metade para alunos negros, pardos e índios de acordo com a proporção dessas populações em cada estado, segundo o IBGE.
Há aí uma meia verdade que se transforma numa falácia. Que os alunos vindos das escolas públicas são precariamente formados, isto é um fato; porém não é correto correlacionar este fato à baixa renda. Afinal, pelo ensino público ser tão fraco academicamente é que as famílias de renda um pouco melhor buscam as escolas particulares. Basta o governo prover um serviço educacional digno, que haverá alunos de todas as classes sociais nas escolas públicas. O atual governo, em vez de endereçar o problema, ataca de forma populista as suas consequências. O resultado é que os cotistas se formarão em bem mais tempo do que os outros alunos, se é que se formarão.

O input do sistema educacional está dado, mas alguém já parou para pensar no output deste monstrengo? Deve haver um aumento na evasão de alunos, um menor número de formandos e uma qualidade deteriorada dos novos profissionais. Se juntarmos essa previsão com a informação de uma taxa de desemprego bem perto do que chamamos de pleno emprego, podemos projetar uma economia de baixa produtividade e custo alto. Em resumo, uma economia com competitividade ainda pior do que temos hoje.
Outro conceito a ser abordado é a estabilidade de regras. Começando pela mais tenra idade, sabemos que a criança criada com regras estáveis dentro de casa crescerá de maneira mais saudável do que a criança em cuja casa os pais mudam a regra do jogo toda hora. A criança do lar instável tenderá a ficar mais insegura e, no futuro, repetirá o comportamento de seus pais. O mesmo se aplica a economia.
Vamos ver o exemplo da fabricante coreana Kia Motors, que se instalou no Brasil trazendo uma proposta de alta qualidade com preço acessível. Rapidamente, chegou a 80 mil unidades vendidas, com uma boa rede de concessionárias e já caminhava para 100 mil carros vendidos por ano quando o governo, atendendo ao pleito dos simbióticos sindicalistas e montadoras, instalou um imposto de 30% sobre o automóvel importado. Da noite para o dia, o que acontece com o investimento de centenas de empresários e com a vida de milhares de funcionários que saíram de suas atividades anteriores para seguirem o Projeto Kia? Esse é o exemplo dos coreanos, mas poderia ter sido outro qualquer. Com o atual governo, quem é o louco de alocar tempo e dinheiro no Brasil? Somente se for muito bem conectado com Brasília, tiver uma ligação direta com o BNDES (quem sabe um apreço pela letra "X"). Mesmo com tudo isso, não há garantia de lucratividade.
A estabilidade de regras é crucial quando entendemos que governo não gera crescimento (a despeito do que até alguns vencedores de prêmio Nobel acreditam), ele apenas redireciona os recursos de A para B. No Brasil, além disso, entre A e B há o pit stop em C. Quem gera o crescimento são as entidades privadas. Se elas não tem regras estáveis de onde virá o estímulo ao crescimento?
O mais dramático de tudo, é que nossa infraestrutura está bem apertada e sucateada frente ao tamanho que chegamos. O governo demorou a reconhecer que o estado não pode e nem consegue construir o que necessitamos, mesmo assim ele quer ditar o quanto podem ganhar os operadores. Diga-se de passagem, bem pouco frente aos riscos. O resultado disso é que teremos investidores de segunda classe interessados. A concessão das estradas em 2007, e seu resultado pífio, demonstram bem isso. A dos aeroportos vai pelo mesmo caminho e o trem bala tem tudo para ser a "transamazônica" dos petistas.
É claro que ainda estamos em situação bem melhor do que estivemos na década de 80, porém nos preocupa ver que os pequenos assassinatos institucionais vão aos poucos erodindo as conquistas e reformas dos anos 90 e nos levando de volta para o passado. Tudo isso em nome de um esquerdismo anacrônico, autoritário e de resultados pífios pelo mundo. Afinal o que é a economia senão a psicologia aplicada à sistemas de incentivos corretos? Para nossa tristeza, os sistemas de incentivo corretos estão sendo destruídos diuturnamente.[image error]
Published on November 06, 2012 09:32
A ética petista

Será que devemos condenar todo o Partido dos Trabalhadores pelos erros de alguns de seus membros? Não resta dúvida de que muita gente aderiu ao PT com a melhor das intenções. Mas confesso não entender quem ainda insiste no erro. A bandeira da ética não foi rasgada hoje pelo PT. No fundo, o partido nunca teve muito apreço por ela. O que ele fazia era monopolizar o discurso da ética. Ao se colocar como seu único bastião, o PT enganou muitas pessoas ingênuas; mas seu objetivo sempre foi o poder pelo poder. O discurso petista é sensacionalista e demagógico. Ele usa a velha tática de dividir para conquistar. Negros contra brancos, mulheres contra homens, pobres contra ricos, empregados contra empresários: o PT sempre soube chacoalhar as árvores para colher os frutos; o que nunca soube fazer foi plantar boas sementes. Enquanto oposição, o PT sempre adotou postura destrutiva, contra os interesses nacionais. Foi contra Tancredo, não quis aprovar a Constituinte, lutou contra o Plano Real que derrotou a inflação, fez campanha contra as privatizações que modernizaram a economia, sempre de olho apenas no poder. A estratégia de marketing do PT em 2002 mostrava a bandeira brasileira sendo comida por ratos, e o texto dizia: “Ou a gente acaba com eles ou eles acabam com o Brasil”. A realidade se mostrou diferente. O próprio PT era uma ratazana disfarçada de caça-roedores. O caso envolvendo Waldomiro Diniz já era um alerta e tanto. Afinal, tratava-se de um homem da confiança de José Dirceu, que foi pego em gravação cobrando propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira. O esquema contava com a participação dos bingos, e o PT fez de tudo para sepultar a “CPI dos Bingos” na época, como fez agora no caso da Delta, a principal construtora do Programa de Aceleração do Crescimento do governo Dilma (que não cresce). A ligação do partido com o jogo do bicho vinha de longa data. O ex-governador Olívio Dutra esteve sob a mira de investigações por denúncias de ligações com o jogo ilegal. Uma fita gravada pelo ex-tesoureiro do partido, Jairo Carneiro, relatava o financiamento da campanha petista pelos contraventores. Um dos casos mais escabrosos diz respeito ao assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. O irmão da vítima, que teve de sair do país para se proteger, garante ter ouvido de Gilberto Carvalho a afirmação de que ele próprio entregava dinheiro das propinas a José Dirceu. Várias testemunhas do caso também morreram. A família nunca aceitou a versão de crime comum. Existem outros escândalos, mas o leitor já entendeu o ponto: o PT jamais abraçou a ética de verdade. Da mesma forma que a própria democracia nunca foi vista com muita simpatia pelo partido. Tanto que ele sempre flertou com regimes autoritários, como a ditadura cubana, até hoje reverenciada por muitos, e o modelo socialista de Chávez.Forçando um pouco a barra, podemos engolir a tese de que milhares de membros do partido ignoravam o que se passava por baixo dos panos. Não sabiam dos detalhes sórdidos, ainda que divulgados pela imprensa. A alienação permitia a manutenção da ilusão.Mas como usar a ignorância como escusa agora, depois que o STF condenou parte da cúpula do PT por corrupção e formação de quadrilha? Os “delinqüentes”, termo usado pelo decano do STF, tentaram dar um golpe em nossa democracia. E não estamos falando de peixe pequeno, mas sim dos mais graúdos dentro do PT.Para adicionar insulto à injúria, qual a reação dos lideres do partido, incluindo o maior deles, o ex-presidente Lula? Revolta contra os culpados que esgarçaram totalmente a bandeira ética do PT? Nada disso! O partido decide passar a mão na cabeça dos culpados e atacar o próprio STF, que tem a maioria dos ministros apontada pelo próprio PT, assim como a imprensa livre do país. Eles adorariam que o Brasil fosse Cuba.A melhor defesa que um petista tem hoje é a de que seu partido é “apenas” tão ruim quanto os demais. Isso, por si só, já seria patético para quem sempre tentou monopolizar as virtudes. Mas há um detalhe: é mentira. O PT é muito pior! Justamente por se colocar acima de todos, ele sempre adotou a máxima de que seus fins “nobres” justificam os mais nefastos meios. A reação ao julgamento do STF comprova que o PT em nada mudou. Com isso em mente, será que quem permanece filiado ao PT, de certa forma, não é cúmplice de uma quadrilha? É possível ter vergonha na cara e permanecer no partido? Alguns podem considerar isso muito radical. Mas não seria mais radical continuar petista depois de tudo que o PT aprontou? [image error]
Published on November 06, 2012 07:59
Dos Estados Unidos à Europa
João Pereira Coutinho, Folha de SP
1. Os americanos vão hoje às urnas. Não sou vidente. Não vou cansar o leitor com análises detalhadas sobre os "swing states", os votos colegiais, as últimas pesquisas. Tudo é possível.
Mas, dentro do possível, confesso que gostaria muito que Mitt Romney ganhasse. Eu sei, heresia: lemos a imprensa "liberal" (no sentido americano da palavra, ou seja, esquerdista) e Romney é apresentado como um fanático que acredita em extraterrestres. Pior: um fanático que pretende entregar os Estados Unidos à plutocracia doméstica, de que ele faz parte.Barack Obama, pelo contrário, é a personificação da bondade e do realismo. Mesmo Guantánamo, que continua a funcionar, tem outro sabor com Obama: no tempo de Bush, a prisão era o inferno terreno e a prova da malignidade republicana. Com Obama, Guantánamo é um jardim de infância.Sejamos sérios: o julgamento sobre Obama, quatro anos depois, não pode ser brando ou entusiasmante. Fato: em 2008, Obama recebeu de herança uma nação quebrada. Novo fato: em 2008, Obama dispunha de condições incomparáveis --aprovação popular em níveis estratosféricos, Congresso favorável etc.-- para fazer mais e melhor.Não fez. Um crescimento econômico que se arrasta penosamente nos 2% é tímido, para usar um eufemismo. O desemprego perto dos 8% seria o suficiente para que ele perdesse a reeleição. E a República, agravando o desvario iniciado por George W. Bush, continua dramaticamente endividada --e a endividar-se.Como escreveu certeiramente Tim Stanley, no "Daily Telegraph", o problema de Obama não é ser o anti-Bush. É, ironia das ironias, repetir os erros de Bush ao permitir um Estado sem controle na despesa e disposto a infiltrar-se na vida comum do cidadão comum.É por isso que a eleição de hoje não é apenas mais uma eleição na história da América. É, como afirma Romney e sobretudo o seu candidato a vice, Paul Ryan, uma espécie de plebiscito sobre o tipo de sociedade que a América pretende ser no século 21.Para Obama, o ideal seria que a América se aproximasse da Europa e do modelo de bem-estar social.Infelizmente, alguém deveria explicar ao presidente Obama que a crise corrente que ameaça destroçar a União Europeia está diretamente relacionada com a insustentabilidade desse modelo social.Cuidado, América: para Europa, já basta a que temos.2. E por falar em Europa: leio no "Times Literary Supplement" uma passagem notável das memórias de Madame de Staël.Conto rápido: já depois da Revolução de 1789, o ministro de guerra Louis de Narbonne-Lara discursava na Assembleia Legislativa.A páginas tantas, o infeliz ministro introduziu no discurso a expressão "apelo aos mais distintos membros desta Assembleia". Foi a revolta geral, com os jacobinos a relembrarem ao ministro que, naquela Assembleia, todos os membros eram igualmente distintos.A história é interessante para conhecermos a cabeça do fanatismo igualitário em ação. Mas mais interessante é a observação de Madame de Staël: "para os jacobinos", escreve ela, "a aristocracia de talento era tão repugnante como a aristocracia de berço".Relembro esta história, hoje, ao saber que na mesma França da Bastilha o presidente François Hollande pretende banir do sistema educativo os deveres de casa.Corrijo: Hollande não quer banir os deveres. Pretende apenas que eles sejam integralmente realizados na escola, não em casa. Isso permitirá que as diferenças socioeconômicas das famílias não tenham qualquer interferência no respectivo mérito escolar dos filhos. Todos iguais, todos na escola.Claro que, para sermos perversos, poderíamos perguntar ao senhor presidente o que tenciona ele fazer se alguns alunos, em manifesto desrespeito igualitário, violarem a medida. Como?
Estudando na escola e, depois, estudando um pouco mais em casa, ou nos cafés, ou nas bibliotecas. Será permitida essa busca da excelência extracurricular?Ou o Estado francês, em nome da igualdade, também pretende instalar um policial em cada casa, café ou biblioteca, disposto a vigiar e punir o mais leve sintoma de curiosidade intelectual?Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos.[image error]
Published on November 06, 2012 05:44
A democracia americana
Hélio Schwartsman, Folha de SP
Os EUA vão hoje às urnas e alguns analistas mencionam a possibilidade de um candidato ser escolhido presidente mesmo sem obter a maioria dos votos populares. Essa distorção seria uma cortesia do colégio eleitoral, o sistema indireto de votação estabelecido pelos fundadores do país há mais de 200 anos e hoje considerado obsoleto e até antidemocrático.Concordo com a avaliação, mas, antes de cravar que os "founding fathers" erraram, convém perscrutar melhor o que tinham em mente. "O modo de escolha do magistrado-chefe [presidente] é praticamente a única parte do sistema [constitucional] que escapou de censuras [...]. Não hesito em afirmar que, se a maneira não é perfeita, é pelo menos excelente". Essas palavras foram escritas em 1788 por Alexander Hamilton.Por paradoxal que pareça, os autores da mais longeva Constituição democrática do mundo faziam parte daquela categoria de democratas aristocráticos que tem horror a povo. Hamilton diz temer a possibilidade de "tumulto e desordem" num pleito direto e proclama que o sistema foi desenhado para evitar dar força aos demagogos, que ele descreve como "talentos para a baixa intriga e as pequenas artes da popularidade". Elbridge Gerry foi ainda mais explícito, citando a "ignorância do povo".Se há um conceito que se sobressai na democracia norte-americana, é o dos "checks and balances" (freios e contrapesos), a noção de que ninguém, nem mesmo a população, pode deter poderes absolutos e que a todo poder concedido corresponderá também um controle externo.Com o benefício da visão de retrospecto, podemos dizer que os "founding fathers", muito embora tenham feito lambança com o sistema eleitoral, acertaram na orientação geral. A profusão de "checks and balances" é um dos principais motivos pelos quais a democracia dos EUA vem funcionando razoavelmente bem e sem interrupção há dois séculos.
Comentário: Quando Al Gore ganhou mais votos populares, mas perdeu nos colégios eleitorais, a esquerda toda veio descendo o pau no modelo americano. Agora, que Obama pode passar pela mesma situação, vencendo nos colégios, mas perdendo no voto popular, seria curioso acompanhar a mudança de postura da esquerda. Um peso, duas medidas. Esta sempre foi e sempre será a marca registrada da esquerda, desonesta por natureza...[image error]
Os EUA vão hoje às urnas e alguns analistas mencionam a possibilidade de um candidato ser escolhido presidente mesmo sem obter a maioria dos votos populares. Essa distorção seria uma cortesia do colégio eleitoral, o sistema indireto de votação estabelecido pelos fundadores do país há mais de 200 anos e hoje considerado obsoleto e até antidemocrático.Concordo com a avaliação, mas, antes de cravar que os "founding fathers" erraram, convém perscrutar melhor o que tinham em mente. "O modo de escolha do magistrado-chefe [presidente] é praticamente a única parte do sistema [constitucional] que escapou de censuras [...]. Não hesito em afirmar que, se a maneira não é perfeita, é pelo menos excelente". Essas palavras foram escritas em 1788 por Alexander Hamilton.Por paradoxal que pareça, os autores da mais longeva Constituição democrática do mundo faziam parte daquela categoria de democratas aristocráticos que tem horror a povo. Hamilton diz temer a possibilidade de "tumulto e desordem" num pleito direto e proclama que o sistema foi desenhado para evitar dar força aos demagogos, que ele descreve como "talentos para a baixa intriga e as pequenas artes da popularidade". Elbridge Gerry foi ainda mais explícito, citando a "ignorância do povo".Se há um conceito que se sobressai na democracia norte-americana, é o dos "checks and balances" (freios e contrapesos), a noção de que ninguém, nem mesmo a população, pode deter poderes absolutos e que a todo poder concedido corresponderá também um controle externo.Com o benefício da visão de retrospecto, podemos dizer que os "founding fathers", muito embora tenham feito lambança com o sistema eleitoral, acertaram na orientação geral. A profusão de "checks and balances" é um dos principais motivos pelos quais a democracia dos EUA vem funcionando razoavelmente bem e sem interrupção há dois séculos.
Comentário: Quando Al Gore ganhou mais votos populares, mas perdeu nos colégios eleitorais, a esquerda toda veio descendo o pau no modelo americano. Agora, que Obama pode passar pela mesma situação, vencendo nos colégios, mas perdendo no voto popular, seria curioso acompanhar a mudança de postura da esquerda. Um peso, duas medidas. Esta sempre foi e sempre será a marca registrada da esquerda, desonesta por natureza...[image error]
Published on November 06, 2012 05:39
November 5, 2012
A moeda e o tecido social
Meu artigo de hoje no Ordem Livre sobre os riscos de se manipular a moeda de um país. [image error]
Published on November 05, 2012 03:23
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