António Lobo Antunes's Blog, page 3
July 3, 2024
«A sociedade precisa de medíocres» | Mundo dos Poemas
March 22, 2024
Fado Alexandrino no Teatro Nacional São João de 5 a 28 de Abril (50 ANOS 25 ABRIL 1974)
A partir de 5 de Abril e até ao dia 28, estará em cena no Teatro Nacional São João (Porto), a adaptação do livro Fado Alexandrino, integrado no programa das comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril de 1974. A peça tem encenação, adaptação cénica e dramaturgia de Nuno Cardoso e é interpretada por um vasto elenco: Ana Brandão, António Afonso Parra, Joana Carvalho, Jorge Mota, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho, Pedro Almendra, Pedro Frias, Roldy Harrys, Sérgio Sá Cunha e Telma Cardoso.
SINOPSE:
“Estou em Lisboa e em Moçambique, vejo ao mesmo tempo os jardinzitos gotosos e as palhotas devastadas pelas metralhadoras.” Em Fado Alexandrino, António Lobo Antunes mergulha-nos num tempo compósito, accionado pelo movimento da rememoração. Cinco personagens, militares que regressaram da guerra em África dez anos antes, juntam-se num jantar, um encontro de reflexões sobre um fim e o seu luto, uma espécie de Última Ceia. Nuno Cardoso leva à cena aquele que é considerado o grande romance sobre o 25 de Abril, na celebração do seu cinquentenário. O palco devém um imenso mural, que confere matéria, pela presença e contracena dos actores, pelo trabalho dos criativos, às vivências das personagens em quatro tempos que se interpenetram: o Estado Novo, a memória da guerra colonial em Moçambique, a Revolução dos Cravos, o pós-Revolução. Mise en abyme da História do Portugal recente, Fado Alexandrino é uma alegoria sobre o fado de ser português.do site do TNSJ
TEASER:
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March 17, 2024
«António Lobo Antunes deixou de estar para nós» (Antena 1 - Postal do dia com Luís Osório)
[A rubrica Postal do Dia, da autoria de Luís Osório, estava na TSF e passou para a Antena 1. Partilhamos com os leitores desta página o que então proferiu o jornalista na sua rubrica em Janeiro deste ano. Cada qual tire as suas ilações.]
captura de imagem do site da Antena 1
Querido António Lobo AntunesSei que estás atrapalhado.E se te escrevo não é por te saber em baixo, mas pela impossibilidade de fazeres o que tens de fazer, de seguires todas as manhãs para o lugar da tua escrita, um lugar de fantasmas bons e maus, o lugar das sombras de uma guerra que viveste e que nunca te abandonou, dos teus personagens, das memórias que trazes, da decadência e dos falhados a quem deste uma vida em cada um dos teus livros.
2.
Sei que te é custoso abrir a porta da rua em direção à tua liberdade.Sempre viveste completamente sozinho estando quase sempre acompanhado.Com as filhas de que dependes afetivamente, com a mulher que amas e que te tem acompanhado nestes últimos vinte anos, com os amigos que partiram ou que ainda estão, o Daniel Sampaio sempre tão presente e sempre tão preocupado contigo, tantos outros, o teu editor, os teus leitores aqui e fora daqui.Mas sozinho, emparedado em diálogos imaginados, em gente que não existe para nós, mas existe para ti, livros por escrever, murmúrios soprados por um Deus em que não acreditas, folhas em branco que sentes nunca mais serão tocadas pelo pelo teu lápis impecavelmente afiado.Absolutamente sozinho, mas acompanhado pelo mundo que criaste. E pela espera dos que te idolatram ou dos que te detestam – os primeiros a aguardar pelo próximo lançamento, pelo próximo minuto em que te encontrarão numa qualquer feira do livro, os segundos a babarem-se para que falhes, para que caias, para que desapareças.
3.
Querido António Lobo AntunesUm dia disseste-me que era inseguro.
Que não podia continuar a escrever com a preocupação de ser amado, com a obsessão que me achassem bom, excelente ou uma merda.
De tanto te glorificar como escritor, esquecia-me que eras psiquiatra.
E sempre que estive contigo senti-me sempre no cabrão do divã. Sem saber o que dizer, com vergonha de estar ali, com medo de abrir a boca e saírem palavras ao lado, ridículas e pequeninas.
Pequeninas quando comparadas com as tuas.
Enorme António.
Ao contrário de nós, da maioria de nós, imortal.
Mesmo que estejas atrapalhado.
Mesmo que seja penoso teres de ficar em casa sem poder fugir para o teu lugar, o único em que te sentes menos sozinho, menos desamparado.
O lugar da escrita onde talvez não possas regressar.
O lugar onde, ainda assim, todos esperamos que voltes.
Demores o tempo que demorares.
Luís OsórioAntena 115.01.2024
December 30, 2023
Catarina Fonseca: «Mais leve que a água», uma leitura sobre As Outras Crónicas
Se, quando se fala nos romances de António Lobo Antunes, ainda pode haver quem recue perante a grandeza da empreitada, em
As outras crónicas
não há mesmo desculpas nenhumas: não temos de ler todo o livro de uma vez, ou na ordem porque está reunido (claro que, uma vez começado, é difícil não fazer isto, mas temos a liberdade de não o fazer). Essa liberdade dá ao leitor margem de manobra para tornar também suas estas crónicas. E um dos maiores dons de ALA é precisamente essa capacidade de, falando de si próprio, falar de todos nós.Já não me lembro quem é que inventou essa lei universal do jornalismo que diz que "quanto mais particular, mais universal". No caso de ALA, isso fica provado até à última linha. Nestas quase duas centenas de crónicas publicadas entre 2013 e 2019 na revista Visão, fala acima de tudo de si próprio – da sua experiência, da sua vida, da sua família, dos seus irmãos. E cada leitor encontrará aqui o seu espelho. Se calhar todos nós humanos somos iguais. Mas pouquíssimos têm esta capacidade de nos mostrar isso mesmo.
Para alguns leitores, será o primeiro contacto com as suas crónicas. Para outros, será o prazer de as reler. Os temas são imensos. Os livros, a lua, a morte, a guerra, os incêndios, o prazer, pais e filhos, mães e filhos, avós, família, o primeiro outono sem um irmão, a felicidade, a China, a dor, os vivos e os mortos. Acima de tudo, ALA tem o poder de nos fazer sentir. A escrita dele entranha-se no coração (e isto é tão kitsch que nem sequer é digno dele, mas é o que é).
Com estas crónicas, rimo-nos: «A minha mãe achava que a coisa mais sensual num homem era a inteligência e a coisa menos sensual um rabo grande, embora acrescentasse não haver nada mais estúpido que um homem inteligente.»
Choramos: «Permaneci especado até desapareceres na primeira curva, continuei especado durante imenso tempo, sozinho, depois meti as mãos nos bolsos e voltei para casa. Sozinho, isto é: sem ti.»
Pensamos: «O periquito morreu após anos e anos na gaiola, sempre no mesmo poleiro, calado, grave, solene. Nisso era igual a quase toda a gente só que as pessoas são ao mesmo tempo a gaiola e o pássaro e portanto acabam dentro de si mesmas.»
Interrogamo-nos: «Quem destrói um homem? Um homem, quando é homem, não acaba nunca.»
Sentimos saudades: «A maior manifestação de amor entre nós era fazermos chichi juntos, à noite, para a cascata. Agora mijo sozinho. Infelizmente.»
Ficamos frente a frente com os nossos fantasmas: «Ninguém está preparado para morrer, nem sequer um filósofo budista de cem anos, com sífilis, cólica renal, a unha do dedo grande do pé encravada e dor de dentes.»
Claro que ALA não fala apenas do quoditiano. Se fosse só isso, qualquer de nós seria um grande escritor. Ele mostra-nos o quotidiano de uma forma nunca vista. Vamos ao nosso mundo de todos os dias como se fossemos a Marte. Vamos às nossas memórias como se nunca lá tivessemos estado («Faz agora um ano que a minha mãe morreu e surpreende-me o que ela tem mudado depois de se ir embora.»).
Num homem que se vê na parte final da sua vida, ALA olha a morte de frente e faz muitas viagens ao passado, à família, às memórias, à infância, ao que ficou do que passou. O conjunto das crónicas, lidas assim, todas juntas, constrói uma espécie de auto-retrato sofrido mas não amargo, vivido mas poético.
Porque isto que ALA faz talvez se chame poesia, ou seja, talvez ele cumpra nas crónicas a mesma função dos poetas: acordar-nos, fazer-nos olhar e sentir de outra maneira. Talvez ele saiba há muito tempo o que António Damásio nos mostrou, que a razão e a emoção são duas faces da mesma moeda. A poesia (não que ele lhe chame isso) é óbvia e constante («O meu trabalho é escrever até que as pedras se tornem mais leves que a água»).
Ele próprio se pergunta a certa altura, «Que vida foi a minha?» O que restará de nós, o que viemos aqui fazer? Todos nós nos perguntamos isso, em alguma altura da nossa vida. Mesmo não tendo respostas, ALA tem pelo menos esperança: «Não cesso de escrever. Até ao fim não cessarei de escrever. Pode ser que ajude a aliviar um bocadinho o sofrimento das pessoas também.»
Se a missão dos escritores e da literatura for essa, aliviar um bocadinho o nosso sofrimento, então podemos dizer que a missão foi cumprida.
Olhem, parafraseando o fim de uma das crónicas, «Fico contente que este texto esteja tão mal escrito. Acho que me comovi demais.»
por Catarina Fonsecaem Activa29.12.2023
November 3, 2023
As Outras Crónicas: a escrita mais intimista de António Lobo Antunes
As Outras Crónicas , que conta com quase duas centenas de textos publicados na revista Visão e inéditos em livro e prefácio de Daniel Sampaio, chega agora às livrarias.
fonte: Publicações Dom Quixote
October 22, 2023
Hélder Beja sobre O Tamanho Do Mundo
O Tamanho do Mundo
é um livro para ler em voz alta, não como chamamento ou oração reconhecível pelos seguidores do credo antuniano, mas antes no recato dessa mesma solidão que se mede «pelos estalos dos móveis à noite», na companhia da garganta que tosse dentro da nossa a chamar, cientes de termos tantos ossos a mais no corpo. Fazê-lo (lê-lo mesmo assim, a sós e sonoramente) ajuda a perceber a força quase mântrica da palavra de António Lobo Antunes, provavelmente e ainda o maior escritor português deste tempo.A solidão de Lobo Antunes é muito maior do que se possa pensar. Comecemos por aquela de que nos dão conta as personagens deste livro e que é povoada por mortos e fantasmas, ecos e rememorações, uma mochila a transbordar com anos e mais anos de passado e um homem que remexe a trouxa – a infância e esses tempos adultos e vigorosos, a camisa preferida de uma filha que se amou e a roupa suja de todos os erros que se cometeu, as meias rotas de um arrependimento e as gravatas lustrosas de quando havia saúde e viagens. Para fazê-lo, esse homem senta-se numa casa vazia em que pode até escutar «a tosse de um cano na parede» e desejar que aqueles que lhe são mais queridos o assombrem: «ia jurar que os meus pais, afinal vivos, descem os degraus em passinhos leves, desaparecendo para sempre».
Dizer que O Tamanho do Mundo é um romance polifónico tem tanto de certo quanto de irrelevante. Porque se é verdade que a solidão de Lobo Antunes nos chega por três outras vias além da deste homem septuagenário (uma filha renegada pelo pai e cujo rancor fareja por ele no Outono da vida; uma mulher humilde com «dinheiro a dar com um pau» e cuja única tarefa é fazer companhia ao velho rico; um advogado que fugiu da província para se enterrar em Lisboa e que sente a falta «do cheiro da serra e do vazio dos domingos»), é ainda mais certo que uma voz atravessando todas as páginas jamais se altera, e essa é a voz do escritor, essa é a voz da solidão de Lobo Antunes.
Como um sacerdote louco e infalível, o escritor embala a pena numa vertigem descritiva, repetitiva e exaustiva pelo envelhecimento, a degradação e a morte, o desejo, os corpos e o sexo, as casas, as famílias, «os objectos que aumentam nos naperons» e os sapatos vazios, as cidades, os prédios e as ambulâncias, o amor, o sarcasmo, a indiferença e o sofrimento, o campo, as profissões, os cheiros e as «rugas futuras». As personagens de livros passados e o passado. As vidas. Tantas vidas cabem num romance de Lobo Antunes, tanta gente, tanta aventura e tanto lamento.
O Tamanho do Mundo claustrofóbico em que nos movemos aumenta consoante Lobo Antunes se aproxima de cada quadro dissecado, de cada paisagem, de cada objecto, de cada ser humano. A micro-câmera dos seus olhos, ligada a um motor de linguagem que parece inesgotável, consegue nomear o visível e o invisível para lá de tudo quanto se poderia supor. Avisa-nos que «é impossível para uma terra estar viva quando lhe tiram os mortos porque quem a habita e nos fala ao ouvido é quem sopra no vento». Lembra-nos que todos temos ou tivemos mãe, «o relógio acolá a tricotar minutos graças à agulha dos ponteiros, tecendo o cachecol do tempo a caminho da noite quando só ele e eu existíamos no escuro porque a minha mãe, ao adormecer, desaparecia no nada, apenas uma sílaba».
Estamos muito longe do territoriozinho da trama e do enredo, das telenovelas vendidas em formato tijolo de papel, das sinopses capazes de apaixonar aqueles senhores e senhoras muito postas. Estamos sozinhos e é por isso que uma certa solidão se mede também «pela quantidade de narizes que temos à volta». Numa comparação mal amanhada, é esse o outro tipo de solidão literária de que padece António Lobo Antunes. Porque são muito poucos os narizes ao seu redor capazes de mergulhar assim e suster a respiração durante tempo suficiente para que dali saiam umas linhas que valham para alguma coisa. O caso Lobo Antunes não é único: a solidão que o mata é a solidão que o salva, que o salva para poder trabalhar assim.
Declarar que ninguém escreve como Lobo Antunes é ao mesmo tempo um lugar comum e o melhor elogio que se lhe pode fazer. Agora é rezar ao deus do bom senso para que não se invente por aí um prémio capaz de lhe impingir aquela classe de herdeiros versados em «palavras que se acendem e apagam sem que ninguém as escute».
por Hélder Bejaem SIBILA01.02.2023
October 7, 2023
Fado Alexandrino no Teatro Nacional São João
Em Setembro último, o Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, anunciou que levará a cena no próximo ano a adaptação do livro
Fado Alexandrino
de António Lobo Antunes. Segundo a sinopse lida no site do TNSJ, trata-se de «continuar a dar palco à literatura contemporânea portuguesa», após a experiência com Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago, para o que também está pensada uma «incursão na obra de Agustina Bessa-Luís».«"Fado Alexandrino é uma História de Portugal", diz António Lobo Antunes, escritor que tem abordado com persistência a guerra colonial, tema recalcado no inconsciente colectivo nacional. Publicado em [1983], o romance devolve-nos o retrato implacável de uma sociedade em transição, do decrépito regime fascista à instauração da democracia, passando pelo horror de África e o luto da descolonização. Fado Alexandrino poderia ser descrito como o "requiem por um império que nunca nos existiu", nas palavras do ensaísta Eduardo Lourenço. O espectáculo, encenado por Nuno Cardoso, inscreve-se nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril» - citado da mesma fonte.
Fado Alexandrino terá início a 4 de Abril de 2024 e estender-se-á praticamente por todo o mês (dia 28). Com encenação de Nuno Cardoso (director artístico do TNSJ desde 2022), será interpretado por Joana Carvalho, João Reis, Jorge Mota, Lisa Reis, Patrícia Queirós, Paulo Freixinho e Pedro Frias, entre outros.
Trata-se de uma co-produção com o Centro Cultural de Belém, o Theatro Circo de Braga e o Teatro Aveirense, pelo que também será apresentado nestas salas, havendo já as datas para o CCB (Grande Auditório): 3 e 4 de Maio de 2024.
fonte: TNSJ
October 5, 2023
Ana Paula Arnaut: «A Insustentável Leveza da Morte» - dissertação sobre A Última Porta Antes Da Noite
Em entrevista dada à jornalista Ana Sousa Dias em 1992, António Lobo Antunes confessa que os seus romances assentam sempre num «cenário sólido», sendo «a casca» (pessoas, coisas, acontecimentos), depois vestida «por dentro e por fora conforme [lhe] apetece». Ora, se no caso de algumas obras a identificação com a realidade é de difícil, se não impossível, dilucidação, porque a matéria-prima não faz parte do domínio público, podendo resultar de histórias vividas ou contadas (por pacientes do Hospital Miguel Bombarda, por amigos ou por familiares), no que se refere a A Última Porta Antes da Noite (2018) a confirmação do enraizamento no real encontra-se, de facto, ao alcance de qualquer leitor atento ao quotidiano social português (assim como acontece com Que Farei Quando Tudo Arde, 2004, por exemplo).O ponto de partida do novo capítulo do tal único livro que diz vir escrevendo, é agora, então, uma série de notícias saídas nos jornais em novembro de 2016 sobre o homicídio de um empresário de construção civil do Norte de Portugal, raptado em frente à filha, em março desse mesmo ano. Embora as semelhanças passem ainda pelo móbil do crime ou pelo método adotado para fazer desaparecer o cadáver , entre outros pormenores, a verdade é que o génio criativo de António Lobo Antunes tudo transforma, afastando a tessitura narrativa de um registo meramente documental, que substitui por relatos de marcada dimensão poética, de novo exigindo que caminhemos pelas páginas do que escreve «como num sonho porque é nesse sonho, nas suas claridades e nas suas sombras, que se irão achando os significados do romance, numa intensidade que corresponderá aos [nossos] instintos de claridade e às sombras da [nossa] pré-história».
Um sonho para cuja ambiência volátil contribui a quase ausência de marcadores temporais concretos, nomeadamente os relativos à contagem das horas facultadas pelos relógios. Na esteira do que lemos em outras obras, também aqui – no passado como no presente, em fevereiro ou em dezembro – os relógios dão horas vagarosas ou estão parados, comem os traços do tempo, não têm ponteiros, e, por isso, não o podem dizer. Contudo, tal como o relógio de pulso na mesa de cabeceira da mulher do Doutor, que, apesar de inaudível os ensurdece a ambos, também as restantes personagens, ou as vozes em substituição de corpos que não ganham nunca contornos nítidos, vão progressivamente sentindo que o tempo, por vezes travestido de agentes da Polícia, cada vez mais os aperta, os cerca e os oprime.
Mas para criar a dimensão onírica do romance concorre, sobremaneira, como referimos, o recurso a uma linguagem contaminada por efeitos poéticos assinaláveis, os quais, de forma tão curiosa quanto fascinante, migrando para o além texto, acabam por regular a simpatia do leitor para com as personagens. Referimo-nos em particular, e principalmente, por um lado, à constante referência a uma ave retirada de um verso de David Mourão-Ferreira, um dos poetas de eleição de António Lobo Antunes: a todavia, o pássaro «capaz de voar, não na garganta, mais fundo», nas palavras da personagem encarregada de a trazer para o universo deste romance de António Lobo Antunes: o Irmão do Doutor. Por outro lado, não passa despercebido ao leitor da ficção antuniana o eco metatextualmente poético do final de A Ordem Natural das Coisas (1992) ou de O Esplendor de Portugal (1997), presentes na voz daquela que é, para nós, a mais torpe das personagens de A Última Porta Antes da Noite. Referimo-nos ao Doutor, por quem, apesar de tudo, conseguimos sentir alguma compaixão, como, de resto, em grau e em nível variados, sucede com as outras personagens do grupo, em especial com o Cobrador do Bilhar, que, pelo modo como usa a linguagem para redimensionar o real, nos parece ser aquele pelo qual o leitor mais positivamente regula a sua simpatia.
O excerto que abaixo citamos, respeitante a um momento em que o mandante do crime recorda a relação com a secretária, traz-nos, pois, à memória, por um lado, a «chuvinha de Outubro ascendendo no escuro», por entre a qual Julieta procura o irmão Jorge; por outro lado, convoca, ainda, o caminhar de Isilda, «na areia na direcção dos […] pais, de chapéu de palha a escorregar para a nuca, feliz, sem precisar de perguntar-lhes se gostavam» de si:
– Até amanhã a maior parte das vezes sem um sorriso para amostra e eu começava a contar-lhe os passos diminuindo corredor fora até a porta da rua se abrir com um ganido, fechar com um estalo, depois a do elevador, no seu chiar de cancela de jardim, a transportá-la, baloiçando, até ao rés do chão, quando subia dava-me sempre a ideia de entrar na barquinha de um balão a gás ultrapassando a claraboia do tecto para voar sobre a cidade, cada vez mais distante, cada vez mais pequena, até se tornar um pontinho, comigo dentro, na direcção do mar e seria essa, um dia, a minha maneira de partir, tornar-me um grão de nada entre grãos de nada, por exemplo o grão do meu avô na cadeira de baloiço – Traz aí da gaveta a caixa das damas
Estamos, pois, neste como em outros momentos de A Última Porta Antes da Noite, como Carlos Reis já assinalou a propósito da escrita cronística do autor, perante «um espaço que, por ser feito de palavras, encerra um potencial evocativo praticamente ilimitado». Recordando ainda a dimensão poética de obras como Não Entres Tão Depressa Nessa Noite Escura (2000), por exemplo, António Lobo Antunes revela-se, mais uma vez, «Como o poeta que é capaz de extrair de um episódio anódino (um ruído, um olhar, uma cor, um objecto de repente descoberto) os sentidos multímodos e plurissignificativos que só a palavra poética é capaz de enunciar».
Além do exposto, cabe registar que, como sucede em outras ocasiões, o sonho, ou a sua ambiência, pontual mas objectivamente se transforma na consciência da composição material de um livro cujo relato é, ou parece ser, delegado no Segundo Cobrador:
(…) não sei se num café ou numa casa ou na sede da polícia, preferia que num banco do parque sob as todavias onde a irmã do homem observava sem nos ver os próprios dedos enquanto eu lhe contava este livro (…) (…) no fim do miradoiro, um comboio a diminuir, os ninhos das cegonhas vazios, um texugo entre as ervas, esses bichos miúdos que a noite traz consigo, o ventinho de outubro a desordenar os arbustos, um cão vadio a alargar-se numa curva para se afastar de nós, este livro acabado, o que tenho mais a dizer, a minha avó numa censura em segredo – Para quê tudo isto menino? e o livro no fim, mais umas páginas e fecham-no (…)
Às cinco vozes que dão corpo à respiração poética, mas violenta, do romance (Cobrador do Bilhar, Irmão do Doutor, Ervanário, Segundo Cobrador, Doutor), que, sensivelmente até meio da obra, mantêm a mesma ordem de entrada em cena, cabe, portanto, a apresentação gradual, em registos que mutuamente se completam e, por vezes, se auto e heterocorrigem, da informação relativa ao crime cometido (preparação, consumação, ocultação e prisão de todos os membros do grupo). Sem grande dificuldade, e desde o início, o leitor apercebe-se, no entanto, de que este é apenas o mote que permite às personagens (ao autor?) as várias e sucessivas glosas em torno de algumas das mais conhecidas linhas temáticas da ficção antuniana: os desafectos, ou a carência dos afectos, a solidão, o abandono, o medo (que é também o da morte, este sobre todos os outros), o esfacelamento interior, a doença, ou a procura de quem se é. Tal como sucede entre a capa e a contracapa de outros universos narrativos, o essencial parece concentrar-se «no modo como seus personagens exprimem a sua vivência do cotidiano, que é maioritariamente invadida pela evocação do passado e da infância, mas também tingida pelos sonhos que se projetam no futuro, pelas fantasias que há lugar para querer viver» (Maria Alzira Seixo).
Deste modo, em contraponto com as vivências de presentes ensombrados pelas mais variadas angústias, todas as personagens protagonizam movimentos retrospectivos, de amplitude diversa, que as transportam quer para o tempo de preparação e de execução do crime quer para o tempo pretérito da infância. Esta, embora reduto de vidas mais felizes, surge já marcada por traumas, maiores ou menores, que, freudianamente, ajudam a explicar as atitudes e as acções do presente, pois, como assume um dos homens, o Irmão do Doutor, «com o tempo tudo gela por dentro».
Não por acaso, em momento de retrospecção que o leva àquela época, o Cobrador do Bilhar retoricamente se interrogue sobre «quem não tem um baú na cabeça cheio de tralha antiga, episódios na aparência sem nexo de repente a ganharem sentido e o passado a crescer», e ao qual (confundido embora com a pequena que mora consigo) pede que lhe conte quem é, que lhe explique a sua vida, que lhe pegue na mão, porque «é tão difícil sozinho».
Assim, a título de exemplo, talvez a falta de afecto do pai do Ervanário, que o abandona e à mãe, justifique o desabafo em que dá conta do ódio à figura paterna (inequivocamente transferido para o homem), em articulado discursivo que, de forma recorrente e de modo violento, e, porém, impregnado de impressionantes notas líricas, funde e confunde tempos e seres:
(…) não sei se era no homem ou no meu pai que batia a gritar-lhe – Por que motivo não quer saber de mim por que motivo nunca me procurou? e o meu pai tentando fugir-me sem conseguir fugir, tentando empurrar-me, tentando esconder-se debaixo do automóvel comigo a puxar-lhe a perna, a puxar-lhe o braço, a puxar-lhe o pescoço, a rasgar-lhe a calça, a manga do casaco, o colarinho enquanto um único olho me fixava, acho que a ver mas acho que não me via, acho que esquecido de mim e eu – Só se lembrou de si mesmo não foi só se lembrou de si mesmo de modo que lhe verti o ácido sulfúrico em cima senhor, de modo que o entornei no rio, de modo que no dia seguinte aposto que a sombrinha contra o muro no passeio do outro lado, em frente da marquise à espera dele o dia todo, ao cair da noite foi-se embora devagarinho, derrotada, se passar na rua da minha mãe, numa manhã de chuva, encontro-a lá de certeza, talvez arranje coragem para lhe tirar a sombrinha mas tenho medo que ao tirar a sombrinha dê não com uma mulher qualquer, com a irmã do homem por baixo dado que as alunas do secundário teimosas, a irmã do homem a fitar-me com as todavias em torno e eu na garagem a bater no meu pai, não apenas com a soqueira, os pés, a cabeça, como posso querer encontrá-lo se agora uma pasta amarela e negra no meio de girinos, sereias e peixes, a minha mãe sem acreditar em mim – Estás a dizer que o mataste?
Na mesma ordem de ideias, a maior fragilidade emocional que nos parece caracterizar o «palerma» do Irmão do Doutor, e que o leva a bater no homem menos do que os outros, ainda que diga fazê-lo «por respeito à irmã» deste, pode, porventura, enraizar-se em alguns traumas da meninice: no facto de se ver como feio, gordo e desajeitado, na circunstância de nunca ter tido «diminutivo nenhum», o que, segundo ele, explica a sua «infância infeliz» e a sua «melancolia de adulto», e, principalmente, no episódio em que, na praia, um veterinário amigo do pai, tenta abusar dele.
Seja como for, ainda que cheios de infância dentro, ainda que capazes de, ocasionalmente, se comoverem com os pequenos nadas do quotidiano, todos eles se consubstanciam, por conseguinte, num contraponto inultrapassável, em seres interiormente dilacerados, «peças sem alma», em analogia sugerida por ocasião do jogo entre o Cobrador do Bilhar e o polícia que o prenderá. Por isso, a tessitura narrativa é pontuada por referências que nos fazem mergulhar (afundar? afogar?) no mais íntimo recanto de cada uma destas almas fragmentárias, incompletas e desalinhadas, em si mesmas, na relação que vivem com os companheiros do crime e nos laços que mantêm com outras personagens do romance, nomeadamente com as femininas, também elas, aqui, objecto de violências diversas.
Assim, a título de exemplo, se do Doutor se diz «tropeçar no interior de si mesmo», em expressão atribuída com uma pequena variante ao Segundo Cobrador (que, de forma sucinta, tropeça «em si mesmo»), do Ervanário regista-se a voz «despegada do corpo a criar palavras sozinha que depois a gente nem supõe que fomos nós que as dissemos». À semelhança de exemplos que podemos colher em outros romances da constelação antuniana, a impressão (a certeza) de incompletude é ainda facultada pelo viés de uma técnica de caracterização que já designámos como em segunda mão, isto é, resultante do paralelismo que é possível delinear entre os traços das personagens (físicos e/ou psicológicos) e certos elementos de índole diversa, apenas aparentemente anódinos no que toca às potencialidades de representação do carácter das criaturas que percorrem as páginas do romance.
Deste modo, salvaguardando o imperativo de as adaptar ao contexto específico de cada uma das delas julgamos que seus retratos podem ser desenhados a partir de expressões-imagens como as seguintes: na «bailarina de vidro com uma falha no cotovelo», nos «caranguejos a avançarem nos penedos de patas aleijadas», num «tanque de roupa com uma perna a menos», no «automóvel do ervanário (…) com uma das lâmpadas traseiras fundidas», ou, ainda, em síntese que depois se explicita, no «que a gente encontra debaixo do sítio onde descansa (…), um botão de punho desirmanado, metade de um brinco, um resto do sol de ontem». Em última análise, estes seres falhos e incompletos encontram correspondência discursiva parcelar no desmembramento de períodos, na incompletude e nas suspensões semânticas de tantas das palavras que habitam o romance, como, aliás, é característica de grande parte das obras de António Lobo Antunes.
Todos, seres que se despenham no parapeito de si mesmos e que com eles nos arrastam pelos rios das frases, sílaba a sílaba, tirando as máscaras, e, num eco da ópera O Castelo do Barba Azul, do húngaro Béla Bartók, abrindo as portas de e para os segredos-espetáculos das suas vidas, passadas e presentes (do brilho da infância à escuridão do crime), desse modo procurando um sentido que, porém, sempre se revela difícil, ou, mesmo, impossível, de alcançar. Cada um deles acaba, portanto, como Barba Azul, por ficar irremediavelmente entregue à solidão, que foi a do casamento ou, talvez, a de toda a sua vida, e que é, no final, também a da clausura após o julgamento, também esta passível de ser entendida como uma espécie de morte.
Lembramos a propósito que, anos antes, quando publica a crónica «A Última Porta Antes da Noite» (sobre o falecimento do poeta Manuel António Pina), o autor escreve em Post Scriptum: «esta crónica chama-se assim porque Bartók, sei lá porquê, me veio neste momento à cabeça». Adaptando ao contexto melódico do romance as palavras de George Steiner, aqui, tal como na obra de Bartók, personagens-protaganistas e autor abrem, ou tentam abrir, «a última porta do castelo embora ela possa levar, ou talvez porque ela pode levar, a realidades que estão para além da capacidade do entendimento e controlo humanos. [Fá-lo-ão] com a lucidez desolada, que a música de Bartók prodigiosamente nos comunica, porque abrir portas é o trágico preço da nossa identidade» (George Steiner, No Castelo do Barba Azul. Algumas Notas para a Redefinição da Cultura).
Não sabemos se, com a escrita de A Última Porta Antes da Noite, Bartók voltou novamente à inconsciência consciente(?) do autor, mas a verdade é que existem vários fios, pontas soltas, ou apenas aparentemente soltas, que parecem unir os textos que, no limite, apontam para ele próprio e para o que julgamos (sentimos) ser a sua mais recente obsessão: a morte e, em concomitância, a vida como o caminho que a antecede. Esclarecemos que não pretendemos contrariar a presença destas linhas temáticas na globalidade da sua produção ficcional. Numa leitura e numa delimitação que assumimos como subjectivas, pensamos, porém, que a partir dos romances publicados depois de Da Natureza dos Deuses (2015), inclusive, a morte enquanto horizonte temático se lhe torna cada vez mais próxima, mais íntima, e, portanto, cada vez mais sujeita a ponderações tingidas de uma humana filosofia que a todos toca e que a todos chegará. Propusemos, já, por isso, que esse título inicie uma nova fase de produção literária de António Lobo Antunes: a da finitude.
Referimo-nos, assim, no caso do romance em apreço, não apenas ao facto de a morte efectiva do homem pelos cinco amigos de infância constituir o corpo central da narrativa, mas também ao facto de esta ser constantemente pontuada pela menção ao óbito de outras personagens e às consequentes reflexões em redor da vida. Sabemos, pois, ainda, do falecimento do cunhado do Cobrador do Bilhar, o que o leva a confessar que «ainda não entendo o meu cunhado porque em geral as pessoas demoram tempo a morrer, teimam em agarrar-se à vida e o que vale a vida, quem é feliz neste mundo ponha o dedo no ar». Em reflexão desencadeada pelo crime cometido, que metaforicamente resume a decadência física, o Ervanário considera que:
a partir dos trinta e cinco tudo começa a negar-se desde as gavetas à memória, olha a chave da entrada por exemplo, outrora tão simples, à qual a fechadura já resiste, olha o polibã cada vez mais tremendo de entrar lá dentro porque o rebordo subiu metros e metros e os joelhos não dobram ou dobram aos estalos como as navalhas espanholas em saltinhos penosos, a idade é uma empresa de demolições, desde a memória aos ossos, de modo que aquilo que o caixão levará já não éramos nós, sobras dispersas, sem préstimo, que se deixam varrer para uma pá qualquer.
O Doutor, que chega a desejar a morte do pai, por sua vez, encara a vida como um teatro, sentindo «ganas de pedir»
– Por favor endireita-te e vai ao camarim tirar a tua morte com um algodão molhado tem paciência Porque de repente não é a sua, é a nossa morte que vemos enquanto perguntamos cheios de medo – Tornei-me assim também?
Se para o irmão deste, que assume o medo do fim, «morrer é um acto que infelizmente demora», como se verifica pelas palavras do Cobrador do Bilhar ao descrever a doença (cancro) do pâncreas do seu pai, para o Segundo Cobrador, que confessa ter matado o homem «não por raiva» dele mas por raiva de si, «derivado a ter aceite o trabalho e portanto não a matar-te, a matar-me matando-te», a vida não se consegue aguentar «sem vontade de corrigir o texto inteiro» .
Dito ou pressuposto, no entanto, a correção do texto que é a vida não é possível. O que foi não pode ser alterado, o passado longínquo ou próximo permanece sem remissão. O tempo, inexorável, tudo desmembra e devora, deixando-se apenas perceber pelo que «escreve em rugas na nossa testa»; rugas que «nos dão medo por cuidarmos que é o anúncio da morte sem compreender que aquilo que nos espera é pior do que a morte, é a solidão não porque os outros nos abandonam, porque somos nós quem se vai embora da gente». O tempo, tal como os comboios que dele podem servir de metonímia, não volta nunca atrás, como sublinham o Ervanário e o Doutor. Este, apesar de nas linhas finais do romance, pela memória da sua imaginação de criança, voar no bico de uma cegonha em direção a Paris, não deixa, como os outros, de ter consciência da prisão.
Solitários, na estação que é a da vida, para continuarmos na linha imagética oferecida pelo líder do grupo, as personagens permanecem na mesma penosa noite, que começa cedo, no nascimento, ou na infância sempre presente, e, todavia, sempre e sempre ausente; sempre e sempre demasiado longínqua, tal como os comboios que nunca as levam consigo. E para onde iriam, Cobrador do Bilhar? Para onde, Segundo Cobrador? Para onde, António, escrita (aberta?) que está a última porta antes da noite?
por Ana Paula Arnautfonte: University of CaliforniaSanta Barbara Portuguese Studies, Volume 6
aceda aqui ao documento em pdf, com as notas da autora e bibliografia
September 29, 2023
As Outras Crónicas
Quase duas centenas de crónicas [exactamente: 187, nunca antes reunidas em livro] publicadas entre 2013 e 2019 na revista Visão são uma demonstração do poder de observação que tem o autor das pessoas e dos ambientes, do entendimento do mundo e dos homens - do que pode haver de burlesco ou transcendente nas suas vidas -, das relações amorosas ou familiares, dos mistérios da vida e da morte, da literatura, das viagens, dos amigos.
No Prefácio a estas crónicas escreve Daniel Sampaio sobre a obra e o autor: «As outras crónicas, reunidas neste volume, são uma demonstração clara da sua criatividade e da capacidade de falar dos temas do quotidiano ao leitor comum (…). Os temas são muito variados e embora o conjunto tenha grande coerência, qualquer um de nós pode ler estas crónicas como quiser, sem se preocupar em seguir uma ordem. Como terapeuta familiar, interessaram-me sobretudo as que escreveu sobre a família, pais, irmãos, avós, tios e primos, numa extraordinária galeria de personagens inesquecíveis.»
Publicação prevista para 24 de Outubro. Em pré-venda nas livrarias online.
António Lobo Antunes distinguido com o Prémio Literário Fundação Inês de Castro
O escritor António Lobo Antunes foi distinguido com o Prémio Literário Fundação Inês de Castro e a autora Yvette Centeno com o Prémio Tributo de Consagração de carreira, anunciou hoje aquela instituição.
Lobo Antunes, 81 anos, foi premiado pelo romance O Tamanho do Mundo (2022), um dos mais breves livros do autor, no qual faz uma reflexão sobre a velhice.
António Lobo Antunes é «um dos autores contemporâneos mais lidos e discutidos, no âmbito nacional e internacional», refere a Fundação Inês de Castro, realçando tratar-se de «um autor talentoso e inovador».
A fundação salienta que a influência de Lobo Antunes «na literatura contemporânea é inegável», sendo «frequentemente considerado um dos escritores mais importantes de língua portuguesa da actualidade».
Sobre a obra premiada, a sua editora, Publicações D. Quixote, adiantou a seguinte sinopse: «Por entre os estalos dos móveis da sua casa em Lisboa, um idoso observa o outro lado do Tejo enquanto se perde nas memórias sobre uma cave e um pequeno jardim com um baloiço. Independentemente de ter acabado por se tornar presidente de uma grande empresa, o sucesso jamais debelou a perda daquele tempo, acorrendo repetidas vezes ao local e imaginando que as pequenas coisas e as personagens (mais significativas, como a filha, ou mais casuais, como uma senhora que passa com um carrinho das compras) se mantêm intactas, tal qual um tempo impoluto».
No próximo dia 24 de outubro, é publicado o novo livro de crónicas de Lobo Antunes, As Outras Crónicas , com prefácio do psiquiatra Daniel Sampaio.
O escritor tem recebido vários prémios em Portugal e no estrangeiro. Entre os galardões nacionais, constam o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, em 1985 e 1999, o Prémio D. Diniz, da Fundação Casa de Mateus, também em 1999, o Prémio Fernando Namora, da Estoril Sol, em 2003, o Prémio Clube Literário do Porto, em 2008, e o Prémio Camões, em 2007.
Entre outras distinções, António Lobo Antunes recebeu ainda os prémios Rosalía de Castro (1998), Literatura Europeia (2000), União Latina, (2003) e o Prémio Autores Vida e Obra (2017).
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A Fundação Inês de Castro criada em janeiro de 2005, com sede em Coimbra, visa «estimular a investigação e a divulgação da história, da cultura e da arte relacionadas com a temática Inesiana, e apoiar estudos e actividades culturais centradas em Inês de Castro, a sua época ou épocas mais próximas deste mito, proporcionando o aparecimento de novos valores culturais».
[...]
A cerimónia de entrega dos galardões desta 16.ª edição do prémio, realiza-se em data a anunciar, este ano, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra.
fonte: Lusa / RTP29.09.2023
(sublinhados nossos)imagem colhida no site da Fundação Inês de Castro
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