Marcelo Rubens Paiva's Blog, page 82
June 16, 2014
O holocausto americano
O tempo é implacável para a História.
Transforma heróis em vilões, réus em vítimas, muda sentenças, versões.
O futuro é a segunda instância do passado.
A distância temporal o reinterpreta, torna claro o que estava obscurecido por preconceitos e dilemas morais.
Uma vítima foi Euclides da Cunha, que chegou em Canudos como repórter e, sobretudo, militante republicano. Foi narrar a repressão contra religiosos fanáticos, liderado por um insano corno, que se opunha a modernidade, Estado laico e casamento civil. Mandou reportagens carregadas na tinta.
Anos depois, se sentou num casebre à beira de um rio e escreveu a narrativa sobre o massacre, a luta entre passado e futuro. Uma busca da identidade brasileira.
Publicado em 1902 com estardalhaço, Os Sertões se esgotou em dias. Talvez tenha sido o primeiro best-seller de um Brasil que se industrializava. Que teve mais duas edições revisadas pelo autor. Em cada uma, ele mudava o final, reinterpretava, fazia adendos. Até surpreender na última versão e mudar de lado, fazer um mea-culpa, encontrar os verdadeiros insanos, o verdadeiro brasileiro, e repensar em seus ideais.
Outra tragédia é recontada décadas depois.
Uma que já matou mais que muitas doutrinas, tiranos e guerras (causou 36 milhões de mortes) e infecta três mil pessoas por dia: a do descaso com o vírus da aids.
Um filme produzido pela HBO, The Normal Heart, que acaba de estrear no cabo, com Mark Ruffalo e Julia Roberts, baseado na peça de Larry Kramer, roteirista de Horizonte Perdido- que militou no movimento gay e testemunhou a morte da metade dos amigos em Nova York no começo da epidemia- oxigena o incêndio criado por outro filme da HBO de 20 anos atrás, And The Band Plays On, baseado no livro de Randy Shits.
Shits relatou os dilemas que a nova doença, que atacava a comunidade gay, levantavam na sociedade arrastada pela nova onda conservadora, pêndulo que voltava depois dos delírios das décadas anteriores.
Em 1981, ela se espalhou entre frequentadores de saunas gays de San Francisco e Nova York. Já se sabia que era sexualmente transmissível e tinha uma mortalidade de 100%. Sem nome, ficou conhecida como “praga gay” ou “câncer gay’. Em 1983, quando os EUA contabilizavam 951 casos, 640 mortes, mudaram de Grid (Gay Related Immune Deficiency) para aids (Auto Immune Deficiency Syndrome).
O CDC (Centro de Controle de Doenças) começou a rastreá-la enquanto Reagan tomava posse e anunciava cortes públicos para combater a inflação (exceto na Defesa). O CDC não tinha verba para comprar um microscópio eletrônico. Descobriu um padrão de infecção, chegou ao chamado paciente zero, um comissário de bordo canadense, provou que bancos de sangue estavam contaminando hemofílicos, mas poucos acreditavam.
A indústria dos bancos de sangue se recusou a admitir a contaminação por transfusão, apesar dos números (89% os hemofílicos tinham o vírus da aids em 1982). A comunidade gay de San Francisco se recusou a fechar as saunas, para ela, o grande símbolo da afirmação homossexual e da revolução por liberdade e direitos civis.
Foram os franceses do Instituto Pasteur, que estudavam a doença entre imigrantes africanos desde 1978, que isolaram o vírus.
Depois, o infectologista americano Robert Gallo tentou patenteá-lo e se tornar “dono” do teste anti-HIV.
Os dois grupos foram à Justiça, enquanto a Era Reagan ignorava a doença, assim como o Departamento de Saúde Pública de Nova York, e religiosos insistiam em condenar o uso de preservativos, sob o aplauso do Vaticano.
Só em 1985, o FDA (Food Drugs Administration) aprovou o teste contra o HIV. Bancos de sangue o adotaram depois de contaminarem 28 mil pacientes, e Reagan finalmente reconheceu a aids como uma epidemia; 25 mil homens e mulheres já tinham morrido nos EUA.
Foram cinco anos cruciais.
O filme The Normal Heart mostra a insana e solitária luta de ativistas nova-iorquinos, que abrigava metade dos contaminados, para conseguir fundos para alertar sobre os perigos da doença.
Larry Kramer fundou com amigos o Gay Men’s Health Crises. Não conseguiu um tostão da prefeitura. O prefeito Ed Koch, apesar da fama de enrustido, não os recebia. Até a imprensa se calou nos primeiros anos. Percebia-se que uma força maior impedia que o debate se propagasse, admitisse a existência da epidemia. A Casa Branca os ignorava. Só havia uma explicação para a comunidade: há um pacto não declarado, invisível, para exterminar os gays do País. A homofobia estava matando.
Pensei nos amigos que perdi por causa da aids.
No meu professor da USP, Luiz Roberto Galizia, que estudou em Berkeley, na Califórnia, onde Cazuza morou em 1979. Trabalhou com Bob Wilson em Nova York, onde Renato Russo também se infectou. E aparecia na piscina do CRUSP com manchas pelo corpo (Sarcoma). Ninguém sabia o que eram aquelas manchas.
Morreu em 1985.
Cazuza em 1990.
Renato em 1996.
Pensei em Henfil, ídolo com quem trabalhei na TVA. Hemofílico, morreu em 1988. Pensei no meu primeiro diretor de teatro, João Albano. Que me dirigiu desde quando eu tinha 15 anos.
No ator e parceiro de pôquer Adilson Barros. Em 1984, fomos a Nova York apresentar Feliz Ano Velho. Ficamos num hotel da Washington Square, Village. Era o fim de um verão inesquecível. Fumar maconha no parque ainda estava liberado. Às noites, eu ia ao lendário CBGB. Ele, às boates e saunas gays com o produtor, Paulinho, e o cenotécnico, Carlinhos.

ADILSON À ESQUERDA COM ELENCO DE FELIZ ANO VELHO
Voltavam e contavam as estripulias sexuais. Os três morreram de aids na década seguinte.
Me pergunto se não estariam vivos, se o governo americano tivesse agido rápido e sem discriminação.

ADILSON BARROS E MARCOS FROTA
No mundo todo, 34 milhões vivem com HIV.
Aqui, 37 mil novos casos são notificados por ano.
Segundo pesquisa do SampaCentro publicada em 2012 na Revista da Fapesp, 6,4% dos jovens gays de São Paulo, entre 18 e 24 anos, os filhos da geração Coca-Cola, têm aids.
Foram entrevistados 1.217 frequentadores de bares, cinemas e boates da região da República-Consolação.
Descobriu-se que 15% têm HIV.
Mantem-se o pacto invisível para exterminá-los.
DETALHE. De acordo com o Ministério da Saúde, havia um caso de aids entre mulheres para cada 26 de homens em 1985. Em 2010, a proporção saltou de um caso em mulheres para cada 1,7 homem.
June 13, 2014
Inspiração da abertura da Copa
June 12, 2014
Kim Jong-Un na abertura da Copa
Torcedores brasileiros descobrem Kim Jong-Un na abertura da Copa.
Fotografaram o exótico líder da Coreia do Norte no final da partida de hoje.
“Tiramos essa foto uma hora depois do jogo terminar, não tinha mais ninguém e ele ficou tirando selfies com o estádio vazio. Gritamos o nome dele, ele olhou pra gente e voltou correndo para dentro”, disse Juca Avelino, depois de apontar a câmera para os camarotes da FIFA.
É ele mesmo?
Veio como Di Caprio, disfarçado?
+++
Quanto à festa da abertura, feita por uma coreógrafa belga, que parecia inspirada num livro do José de Alencar, esta montagem que circula na rede fala por si.
June 11, 2014
#BelasArtesMeuAmor
Uma ação inovadora para a cidade.
Um dos cinemas de rua que sobrevivem à especulação e dos espaços mais charmosos e tradicionais da cidade [além do ESPAÇO ITAÚ da Augusta e o RESERVA CULTURAL da Paulista], com uma programação voltada ao filme independente e de arte, reabrirá.
O Cine Belas Artes, conhecido endereço da Rua da Consolação 2423, que já foi Gaumont, HSBC, será reinaugurado, depois de 3 anos fechado.
Agora com patrocínio da Caixa Econômica Federal.
Passa a se chamar CAIXA BELAS ARTES.
Para o lançamento, criou a campanha #BelasArtesMeuAmor.
Dá uma olhada:
http://caixabelasartes.com.br/associados…
Quem quiser se tornar sócio do espaço e batiza uma das 300 poltronas da Sala 1; terá uma plaquinha com o nome do doador.
O Plano Sócio custa R$ 3 mil.
Dá direito a assistir a uma sessão por dia, com acompanhante, durante um ano, e convite para a festinha dos sócios.
Tem um guichê especial na retirada dos ingressos.
Já o Plano CIinéfilo paga R$ 800 por ano e dá direito a 1 ingresso por semana, com acompanhante.
Fica a dica: Fiquei sócio do Teatro Augusta quando o mesmo reabriu em 2001, adotei uma poltrona, paguei uma plaquinha, que está lá até hoje.
Toda vez que vou ao teatro, me sento atrás da minha poltrona.
E me deleito, além de fazer bonito para meu vizinho ou acompanhante.
Pega bem…
June 9, 2014
susto em quem para ilegalmente em vaga de deficiente
Canal BOOM e http://gladvideos.com/ zoa quem para vaga em de deficientes sem ter direito.
A pegadinha é discutível.
Mas calma lá: a tinta sai com água.
E prega um susto nos vândalos das leis de trânsito e da boa educação.
A PM e os grevistas

J F DIORIO
Minha opinião.
Muita gente roubou. É escandaloso o que aconteceu na preparação da Copa e deve ser investigado.
CPI da Copa já!
Achavam que os black blocs, os corruptos, a roubalheira, a burocracia que gera incompetência e a FIFA estragariam o brilho da Copa no Brasil.
Não. Por enquanto, são os metroviários de SP.
Ou melhor, o líder sindical desse movimento já considerado abusivo.
Mas muita gente trabalhou duro para que a Copa desse certo.
A greve do metrô é absurda a 4 dias da abertura.
Claro que a reação do Estado, com seu aparelho repressivo, como sempre, só piorou, oxigenou a chama.
Quem precisa de polícia?
Em quase 30 anos de democracia, o Brasil ainda só negocia com movimentos sociais com bombas e balas de borracha.
Mudou o regime, não a repressão.
Apontam-se os mesmos cassetetes e armas a cidadãos e bandidos.
A bala é de borracha.
O método é o mesmo, o sangue é da mesma cor, e a porrada dói do mesmo jeito.
A polícia não faz distinção entre um condutor de trem e um assaltante de banco.
Para o Estado, o movimento “incita” a população a pular a catraca.
Para os grevistas, o Estado não deveria atrapalhar o direito de ir e vir e autorizar a pular a catraca.
Se sindicalistas erraram, o governo errou mais.
Até não desmilitalizarmos a polícia, esse país não avança.
Enquanto o impasse continua, a população adere ao “Catracaço” [agora há pouco na Praça da Sé - Mídia Ninja].
+++
Dormindo com o inimigo: Seleção dos EUA vai passar mais tempo parada num congestionamento do que treinando.
Vai ser muito xingado o espertalhão yankee que instalou a Seleção dos EUA num hotel da Paulista, se o CT é na Barra Funda.
Vão adorar o traffic de SP.
Passaram na minha janela agora. Parecia rolê do Papa.
June 6, 2014
Vídeo no Youtube mostra PM atirando em grevistas dentro do metrô
Vídeo no Youtube mostra agressão da PM a grevistas dentro do metrô:
Trabalhadores do Metrô de SP foram reprimidos com bombas e balas de borracha durante essa madrugada, enquanto realizavam paralisação na Estação Ana Rosa.
Metroviários chegaram a propor a catraca livre enquanto forma de manter o protesto sem afetar a população.
Geraldo Alckmin afirma que o movimento é “político e sem sentido”, e atua com a força militar da polícia para impedir a reivindicação.
A PM sabe do risco que corre atirar, jogar bombas, dentro do metrô?
Está preparada pra isso?
Sabe por qual trilho passa a energia?
Completa anarquia na PM paulista
O que é isso que circula na rede?
Que tipo de operação está em andamento?
Quem comanda?
Tá virando rotina.
Como já ocorreu.
June 4, 2014
Entender junho de 2013
Você entendeu o que aconteceu em junho de 2013?
COMEÇOU com protestos contra o aumento das passagens do transporte público de SP, organizados pelo MPL [Movimento Passe Livre].
Foram protestos (des)organizados de forma horizontal, sem uma liderança convencional, que levou junto os identificados como vândalos e arruaceiros de movimentos anarco-punks, entre eles o mais conhecido, Black Blocs.
No começo, editoriais da imprensa pediam a intervenção policial imediata.
Da Europa, Alckmin deu carta branca.
A ação violenta da PM teve efeito contrário, aumentou a adesão ao movimento, que não parou nem quando governo e prefeitura voltaram atrás e congelaram as passagens.
O movimento se espalhou e, em dias, o inacreditável aconteceu: tentaram invadir a Prefeitura de SP, o Palácio dos Bandeirantes, a Câmera de Vereadores de SP, botaram fogo na Assembleia Legislativa do Rio, tomaram os arredores do Congresso, sitiaram deputados e senadores, ameaçaram invadir o prédio e botaram fogo no Itamaraty.
Colocaram fogo em carros da imprensa, cercaram as sedes da Globo aqui e no Rio.
Até o prédio da Abril foi atacado.
Black blocs de um lado, ativistas contra PEC 37 de outro, nacionalistas, ativistas de direita, ativistas que nem sabiam que defendiam causas da direita, como manifestações “sem partido”, jornalistas voltando atrás… Foi uma confusão.
Manifestantes gritavam: “Ih, fodeu, o povo apareceu!”
O gigante adormeceu. Mas e aí?
Entendeu o que aconteceu em junho de 2013?
Amanhã estreia o filme JUNHO, do grande fotógrafo João Wainer, produção de FERNADO CANZIAN, TV Folha com O2 Play.
Serão 15 cópias na rede ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA e, novidade, no iTune [para mais de 90 países], experiência inédita por aqui que, se der certo, abre um leque gigantesco para o mercado.
Imagens de dentro de fora das manifestações e da repressão policial dão a dimensão do clima das ruas.
Vê-se de dentro a tentativa de invasão da Prefeitura, o terror dos servidores sitiados, o esforço para impedir a invasão e a depredação do Itamaraty, em cujo saguão obras de Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti e Portinari dão as boas vindas.
Vladimir Safatle e Marcos Nobre, grandes nomes da nova filosofia política brasileira, junto com Boris Fausto, conseguem situar o movimento, as suas contradições e o racha, num País cujo debate político é ausente e, por isso, confuso.
Mas o melhor é a participação do poeta Sérgio Vaz, que organiza há quase 20 anos a Cooperifa, encontro de poetas da quebrada (da zona sul), atualmente no Jardim Ângela, e nos explica:
“Quantas mães da periferia não desejaram que as balas da PM aqui fossem de borracha.”
“A perifa nunca dorme.”
“Todos os dias deveríamos nos chicotear, porque deixamos acontecer o que acontece com o Brasil, merecemos este governo.”
“Esse movimento foi uma ejaculação precoce, quando ia tomar o Congresso, parou.”
Bem me lembrou Adhemar Oliveira, do Espaço Itaú: “Revolução é isso, se o Guillotin foi guilhotinado…”
Bem pensado.
A Revolução Francesa tinha um foco, destronar o rei. Porém seus líderes racharam e foram mortos pela invenção de Joseph Ignace Guillotin, a guilhotina, de Danton a Robespierre.
Até a restauração de uma monarquia exoesquelética sob a liderança de Napoleão.
Os efeitos da Revolução Francesa foram sentidos só muitas décadas depois.
No Brasil, JUNHO DE 2013 talvez seja o começo de algo mais amplo, uma reforma profunda das instituições, que virá com o tempo.
Provou que algo tem que ser feito. E que com o povo não se brinca.
Depois de 3 anos de atraso, Congresso aprovou ontem os 10% do PIB para educação.
Vai quase dobrar o investimento do país em educação.
Olha aí o começo das mudanças.
Outubro tem mais.
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Sábado lanço meu primeiro livro infantil.
7 de JUNHO DE 2014.
Parceria com Jimmy Leroy, PEQUENO CIDADÃO e Companhia das Letras.
Apareça
June 3, 2014
O avião banana
Qual teria sido a inspiração dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, osgemeos, para a pintura do 737 da Seleção Brasileira?
Tem gente palpitando na rede: o Boeing Banana
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