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o mundo é assim, tudo o que acontece carrega a marca do seu potencial irrealizado.

era como uma permissão para ter a alma à solta, autorizada a manifestar-se pela beleza ou pelo espanto de cada coisa. estava autorizada à sensibilidade que fazia da vida uma travessia mais intensa.

ser o que se pode é a felicidade.

e cumprimentá-lo agora era fora do tempo, como voltar ao início de algo que já começara.

caminhou a sentir-se assim, perplexa e vazia, como se não fosse ninguém, apenas a encantada percepção do que há no mundo.

não era muito culpa sua, porque não o queria antes do tempo, mas o amor urgia, como se tivesse horas diferentes das do pensamento (...)

(...) e pensou que o seu filho era um gênio. e assim o pensaria de qualquer maneira, uma vez que amar fazia dessas grandezas.

a esperança era uma coisa muda e feita para ser um pouco secreta.

pensava que quando se sonha tão grande a realidade aprende.

a possibilidade de maravilhamento e transformação profunda está, se é que podemos compreender assim o mapa que esse depoimento nos sugere, muito mais perto do que poderíamos supor e, no limite, está dentro de nós mesmos

essa é a diferença entre viajantes e turistas. turitas voltam para casa com malas mais pesadas. viajantes voltam com mais leveza.

As pessoas têm um desejo profundo de acreditar (...) O mundo está carente de histórias.

Ele não sabia que eu estava me apaixonando pelo mundo. Queria fazer tudo e qualquer coisa. Aceitava o que a vida me jogasse. Eu queria tomar tudo do mundo e dar tudo de mim. Queria ter tudo. Queria ser tudo. E tudo que fosse, queria que fosse eu.

Eu tinha amado e me atrapalhado e errado caminhos e, ainda assim, eu tinha chegado ali (...) e eu não tinha a menor dúvida de que era ali que eu devia estar naquele momento. Eu tinha desejado muitas coisas ao longo da vida, e as tinha tido às vezes, a maioria não. Como acontece a todo mundo. Mas agora eu estava ali e não desejava nada. Era como ter tudo.

que você acaba perdendo o lugar no mundo.

Sabe, eu nunca vou entender completamente o que se passa na sua cabeça e meu mundo sempre vai ser mais preto no branco do que o seu. Quando eu quero uma coisa, eu quero uma coisa, quando eu não quero, não quero e pronto. Mas as suas vontades são cheias de condicionais e dúvidas e desdobres. Às vezes eu acho que você se esforça tanto para ser diferente, diferente de quem você é e diferente do que os outros são...

Falávamos sobre coisas sem importância, mas caminhávamos por cima dos escombros de nós dois, e às vezes alguma lembrança sobrevivente esticava o braço para cima e a resgatávamos para sorrir por uns minutos e conversar e rir de novo como se tudo não houvesse mudado.

Fomos felizes. Não existe maneira mais exata, mais completa ou específica de dizer o que fomos: soubemos ser felizes.

Eu não me reconhecia ali, nem em lugar algum. Só no passado eu parecia fazer sentido. Fiquei no corpo de Henrique, fiz daquelas mãos, pernas e lábios meu registro histórico. Ele era, mais que qualquer outra coisa, minha biografia. E desde que eu havia partido, andava por aí sem mim.

Não me importava muito quais coisas me aconteceriam, desde que coisas me acontecessem.

O que eu precisava era ler um romance fantástico, um romance besta, em que os homens e as mulheres fossem criações absurdas, não andassem magoando-se, traindo-se. Histórias fáceis, sem almas complicadas. Infelizmente essas leituras já não me comovem.

mas fiquei remoendo aquela ideia desagradável de explicar-me aos outros sobre coisas que só eram interessantes para nós.

Aquilo viera pouco a pouco, sem a gente sentir. Naturalmente gastei meses construindo esta Marina que vive dentro de mim, que é diferente da outra, mas se confunde com ela. (...) Os defeitos, porém, só me pareceram censuráveis no começo das nossas relações. Logo que se juntaram para formar com o resto uma criatura completa, achei-os naturais, e não poderia imaginar Marina sem eles.

Quando se cansa, agarra o jornal e lê com atenção os nomes dos navios que chegam e dos que saem. Nunca embarcou (...) mas tem o espírito cheio de barcos.

A lembrança chega misturada com episódios agarrados aqui e ali, em romances. Dificilmente poderia distinguir a realidade da ficção.

Em que ponto do trajeto me acho? Não tenho consciência dos movimentos, sinto-me leve. Ignoro quanto tempo fico assim. Provavelmente um segundo, mas um segundo que parece eternidade. Está claro que todo o desarranjo é interior.

Eu nunca tinha sido derrotado e não sabia como era fácil. E o que me venceu?, pensou ele. Nada — disse em voz alta. — Fui longe demais.

Navegava com rapidez, pois a embarcação estava leve, e ia sem pensamentos nem sentimentos de nenhuma espécie.

Não posso continuar a pensar nestes disparates. A sorte é uma coisa que vem de muitas formas, e quem é que pode reconhecê-la? Por mim aceitaria um bocado de sorte fosse qual fosse a forma como viesse e pagaria o que me pedissem
por ela. Gostaria de poder ver o brilho das luzes. Estou sempre desejando coisas. Mas essa é a que mais desejaria agora.

Além disso, pensou, tudo mata tudo de uma maneira ou de outra. Pescar mata-me tal como me faz viver.