Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 28
September 8, 2014
Dia 8
ao oitavo dia
caímos para dentro
um do outro
e em cada queda
abre-se o espaço
do mundo
é o amor esta quebra
não o rio circular das
utopias
PG-M 2014
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Published on September 08, 2014 05:00
September 7, 2014
Dia 7
ao sétimo dia, criado o
mundo,
ninguém abranda
subiu-se o mês
desamparado,
descer-se-á
em carros de rolamentos
tu no meu colo a fingir
tudo
PG-M 2014
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Published on September 07, 2014 01:41
September 5, 2014
Dia 6
Published on September 05, 2014 17:02
September 4, 2014
DIa 5
ao quinto dia sê infungível, preclara dócil puta há espelhos à nossa volta seremos o que não formos:
ninguém
PG-M 2014fonte da foto
Published on September 04, 2014 17:34
September 3, 2014
Dia 4
Ao quarto dia Lázaro
dirá coisas velhas
como novas
em Lárnaca
Lázaro dirá
por todos os templos
e ruas
com ou sem
voz
e até que anoiteça
de vez
(ou até que amanheça
de vez)
todos os amores
incindíveis
PG-M 2014
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Published on September 03, 2014 16:37
September 2, 2014
Dia 3
ao terceiro dia ressuscita o mês passado, as promessas incompletas,o medoencosta delicadamentea boca,o cauleda língua
mas não me amessabes, os beijos, ao contrário do amor,
nunca terminam
PG-M 2014fonte da foto
Published on September 02, 2014 16:51
September 1, 2014
Dia 2
do segundo dia não há regresso
estás sentada na cadeira basculante
incandescente
os dedos a disparar
todas as manhãs a luz branca do ecrã te adormece
te dilui
te devora
vais à janela fumar
caneta
é uma janela com vista
o sofrimento não
do segundo dia
não há regresso
é o mês completo da incompletude
do pregresso
talvez venham tardes, pensas,
de descidas em suspenso pelas ruas da cidade, talvez voltem
beijos bruscos
o sol bate nas pálpebras
é quase noite
em ti
PG-M 2014
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Published on September 01, 2014 16:11
Clown Laboratori Porto
Como expliquei mais extensa e profundamente na entrada "(não) exercício de teatro pleno", talvez eu não ame nem seja apaixonado pelo teatro: dizem que o amor é incondicional, e o meu amor pelo teatro não é. Ou teria de me atrever a chamar não-teatro às tentativas afectadas de massacrar plateias com tédio e encenações pretensiosas de textos que, em si, o não continham, já para não falar das obras sobrevalorizadas de certos gigantes. Mas não me vou atrever, para já, a questionar o grande, sendo tão pequeno. Venho antes fazer aquilo que gostava que fizessem mais vezes: dar-vos um conselho firme. E ele é:
Sempre que o Clow Laboratori Porto monte um espectáculo, não pensem duas vezes: vão ver.
Sábado era um dia em que me apetecia estar no teatro.A oferta portuense é, contudo, neste Agosto, muitíssimo pobre. Nem sequer há um portal decente e integrado que ofereça um cartaz de teatro. O menos mau ainda é o Guia do Lazer, do Público, que contudo continha um erro: colocava uma certa peça com um nome estranho, "LABARÉ 3: A MORTE" com duas horas de apresentação diferentes e em dois locais diferentes, o que foi esclarecido ao longo da tarde: bastou enviar um mail ao Clown Laboratori a perguntar "onde fica a morte?". A morte respondeu.
A apresentação era em Vila do Conde, onde, por acaso, havíamos estado nessa mesma tarde. Voltamos a Vila do Conde? Depois do que li e vi, tinha uma fé. É certo que que estávamos com a pele ainda sensível de uma sessão de tédio numa noites de curtas vilacondenses (na competição nacional, porque na interncional tivemos o estonteante e poderosíssimo "Habana", de Edouard Salier), entre outras más experiências teatrais.
Essa fé veio-me dos pedaços de quadros que espreitei no facebook do Clown Laboratori Porto ou no canal do youtube da mesma companhia, que é uma plataforma em formação contínua. Tentando não ver os quadros completos, para não estragar a experiência do vivo (hoje sei que não estraga, porque se sentem de outra forma e se volta lá para rir mais): em vários lugares, em várias noites, havia uma coisa em comum: riso, muito riso, compulsivo riso.
Na nossa noite houve dois risos singulares: um bebé que o dobrava e uma rapariga que perdeu as estribeiras, divertindo-nos a todos - estava desesperada de tanto rir. Ao que sei, isso acontece amiúde, ataques de riso de rebolar pelo chão, e o que foi particularmente grato de "observar" (ouvindo) foi o momento e as personagens que activam mais ou menos o riso a esta ou aquela pessoa. Como se a clareza e a lucidez tivessem descido sobre todos no escuro, o riso de cada um parecia separado do riso dos outros, identificável, juntando-se durante os quadros, como ondas. A verdade é que na noite de Vila do Conde toda a plateia riu muito, cada um em momentos diferentes, muitos nos mesmos, mas riram. Eu tenho dito que há uns vinte anos que não me ria tanto - e com o cérebro a funcionar.
Muitos de nós dizem que não gostam de palhaços, sendo certo que a maioria se quer referir aos palhaços clássicos, o rico e o pobre, de circo. Para quem desconfia da palavra e do conceito, fica de pé atrás logo na sinopse, mas o pé não resiste quando, nos vídeos do facebook ou do youtube, se ouve as pessoas rir. Quem não quer soltar os fantasmas, rir até ao limite da resistência fisica? Afinal, o que este colectivo de gente virtuosa nos traz é um bem escasso.
O palhaço moderno é cáustico e inteligente. A minha mulher diz-me que o meu pico de gargalhadas e choro misturados aconteceu no quadro das carpideiras. O estudo do choro é tão belo, tão preciso, tão contundente, tão realista até, se quiserem, que nos desarma. Que me desarmou o corpo e a alma: ai, obrigado, obrigado muitíssimo. Lembro-me também do quadro dos cantores líricos em "alemão macarrónico" (nunca vi inventar tão bem a sonoridade do alemão), onde a personagem da "Morte" - mérito do actor Janela Magalhães, mas depois de todos os outros que a vestem - nos conquista definitivamente.
Para ela, o momento de descontrolo (porque é isso mesmo que acontece) foi o quadro talvez mais básico e histriónico: os patinhos. Não vou contar, mas há algo de incrível na exposição da estupidez à grande inteligência, que é o que acontece em toda a peça.
Corajoso e sintomático o quadro do Cristo com sede que, confundido com um Zé Manel, percorre também a peça.
Mas creio que, sendo todas as palhaças e palhaços memoráveis (memoráveis mesmo), a mais desconcertante é esse mulherão que é a Marta Costa. Entra-nos com a sua beleza esfíngica a fazer de "partenaire", mas conquista-nos defintivamente no primeiro quadro em que é protagonista. Dizem que as palhaças não podem ser bonitas e elegantes. A Marta descontrói tudo, porque se vê claramente que está no domínio de corpo e alma. É magnífica.
E claro que para mim sobreveio o drama mais literário do palhaço: a peça é fisicamente esgotante, muito exigente mesmo, e como lidará o actor dentro de si depois de ter, literalmente, exposto as vísiceras de todos, e as suas próprias, pelo riso - que também contém (e muitas) lágrimas? Como se protege um actor destes, como cobre as feridas, como serena a carne, como regressa à pele? É tremendo.
Está de parabéns o encenador Pedro Fabião .
Estes "miúdos", a trabalhar assim, não deviam ter de precisar de fazer mais nada na vida. Nós temos o dever de pagar bilhete e os deixar viver a fazer tão bem e a fazer-nos tão bem. O Clown Laboratori Porto passou a ser uma realidade, não um mero colectivo ou plataforma. É uma realidade que vou procurar e uma hora para onde vou fugir: ah, sobre essa hora, eu pensei inicialmente que a duração da peça, sessenta minutos, era escassa para o bilhete que se paga, que nem é caro, 7,5 Euros. Saí com uma sensação completamente diferente: a experiência é tão poderosa, tão intensa, que nenhum de nós aguentava muito mais a rir assim.
Nunca desapareçam, por favor.Pelo menos deixem-me morrer primeiro, caramba.
PG-M 2014fonte da foto
Published on September 01, 2014 12:04
Dia 1
Amo-te no primeiro dia de todos os meses
não como no último
há uma linha alta e larga
ou nula
no fim de tudo
há uma linha fina
no princípio dos amantes
pactos de sangue
nas traições
silêncios negros
nas promessas
e, sabes bem, velórios,
em cada nascimento
PG-M 2014
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Published on September 01, 2014 01:58
August 30, 2014
Dia 30
ao trigésimo dia do mês, finalmente
Herberto porque nós comemos tudo
"não sei como dizer-te que a minha voz te procura"
fica em silêncio, então
é hoje ou amanhã que acabará tudo
e,
ou não começas nada ou não terminas tudo
fica em silêncio, então amanhã mesmo
ou hoje
cala-se o resto do mundo
PG-M 2014fonte da foto
Published on August 30, 2014 00:49


