Pedro Guilherme Moreira's Blog, page 26
September 22, 2014
Dia 23
O dia vinte e trêsé de quem mirra
ou recua no mar
antes da vaga
derradeira
de quem está planta
sem vaso
pião sem giro
mulher sem
tempo
menina
(plim, plim, plim,
mulher sem tempo,
menina)
tem longos e frisados cabelos
negros
corpo seguro
boca lisa
olhos
tristes
dança, salta, canta,
actua, encena
ensina
(plim, plim, plim,
menina)
gira, afinal,
numa caixa
sem corda
será sempre o esplendor
em cada volta
terá sempre o pedestal
(plim, plim, plim,
menina)
terás sempre o pedestal
do nosso amor
PG-M 2014
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Published on September 22, 2014 17:52
Dia 22
No vigésimo segundo dia
lembras-te que o mês
passou por ti
sem saberes
guardas os grandes
projectos
os grandes
poemas
os grandes
poetas
debaixo do
tapete
e no dia das limpezas
(com a estrofe italiana)
assombras
PG-M 2014
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Published on September 22, 2014 12:03
September 21, 2014
Dia 21
No vigésimo primeiro dia
seremos duros,
secos, planos,
lá fora, "pelos espaços
da noite nua, uma
memória grande
de paz"
temos sede de
Vergílio
queremos beber palavras
sem tempo
não por culto
ou redenção,
rejeito o elemento
doce da tabela
periódica
tomo-lhe a mão que dilui
agora a frase
onde te amo
é orgânica e voraz
PG-M 2014
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Published on September 21, 2014 01:48
September 19, 2014
Dia 20
Ao vigésimo dia amo-te nua
como no décimo
segundo,
mas desta vez
em silêncio
estás imune ao meu corpo
não aos meus
poemas
gemo-te as didascálias
(o não de Eurídice é contido, sumindo-se
como um sim)
não? não? não?
e ao meu lado à meia-luz
hesitas, e eu
gemo outra vez
as disdascálias
desta forma subtil e doce que te leva
pelas paredes
do firmamento
(o não de Eurídice é contido, sumindo-se
como um sim)
os lábios redondos
os olhos cerrados
ris-te outra vez
ah ah ah ah ah ah ah
e as línguas destes
poemas
em fogo
Oh, Orfeu.
Oh, Eurídice.
Cala-te, dizes
tu.
PG-M 2014
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Published on September 19, 2014 17:21
September 18, 2014
Dia 19
Ao décimo nono dia o título olímpico nos olhos de um cão rendo uma vida por ti, diz o cão, onde não há palavras, só ordens e sons só fome e detalhe, só medidas infinitas de virtudese abandono
e pequenezem ti
diz o cão
PG-M 2014
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Published on September 18, 2014 18:15
September 17, 2014
Dia 18
Ao décimo oitavo dia concordamos
que nem tudo é sobre o amor
que não se escala um mês
sem frieza
que não se vive a vida
sem vidro nos olhos
e sombra
na alma
ao fim da noite percebemos
nas dobras dos lençóis
nos braços sobre pernas
sobre braços
sobre pernas
que este poema
é mentira
PG-M 2014
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Published on September 17, 2014 20:34
Dia 17
Ao décimo sétimo dia
serei o brilho
do príncipe
o fisionomista
coreano
que valida os reis
o verbo curto
na obra-prima:
disse ele
disse
Cummings
e depois
disse ela
disse ele
permite
que sinta?
mas eu só deixo
palavras com o teu
limite
e tu não tens
sexo
nem fronteira
e o corpo aninha
sem medida
o amor
é sobre-urbano
o amor
é sobre-humano
PG-M 2014
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Published on September 17, 2014 00:16
September 16, 2014
Falta de humildade, falta de competência, falta de respeito
Há anos que não escrevo sobre isto.Mas esta inenarrável história de incompetência do Citius e quejandos faz-me sair da toca. Fiz parte da concepção da justiça moderna, estou nas fundações dela e levarei esse orgulho para o túmulo - sem falsas modéstias ou assombros. Em 1999 já andava a dar entrada de peças por email, mas o Estado ainda não tinha meios, sequer, para os receber, ou não tinha dado formação aos funcionários. Mas já tinha feito as leis. Em 2004, um trabalho integrado com o Bastonário José Miguel Júdice e, imaginem, o ministro Aguiar-Branco e o seu chefe de gabinete João Miguel Barros, fez com que uma equipa curta - com alguns carolas a ajudar por fora, sem receber um cêntimo - projectasse uma modernização rápida e funcional: um decreto-lei que sempre esteve para não entrar totalmente em vigor - o que obrigava a que todas as peças entrassem por email - impeliu os advogados a comprarem computadores e a aprenderem a usá-los. Foi um momento bonito, puro, mas onde rapidamente foi também possível observar no que se torna a actuação cívica pura: tudo o resto seguiu o seu caminho à nossa margem e na habitual teia de intereses. O sistema de vídeo-conferências, totalmente inadequado e caro (custou muitos milhões, quando já havia meios para o fazer a baixo custo), a treta do MDDE e o próprio Citius foram entregues a empresas e a consultores que obviamente algum político conhecia, mas não nós, os pioneiros da modernização. Alguns consultores e empresas receberam milhões, não nós. Andei dois anos a dar conferências - sempre gratuitamente e a expensas próprias - em nome da OA a audiências universitárias de estudantes de Direito, Economia e Contabilidade, a dizer que, embora houvesse legislação que aprovava a certificação digital, ela não era legalmente possível, porque a lei previa uma entidade certificadora que não existia. Nessa altura, um político ligado à modernização da justiça, e que não vou nomear, com funções no governo, explicou que uma assinatura digital era uma digitalização da assinatura manual, hein? Tornei-o anedota das conferências, claro, embora sempre lhe tenha poupado o nome, elegância que ele, certamente, não teria comigo, porque a política actual é canalha. Entretanto afastei-me, desde 2007, como sabem, para me dedicar à literatura. Fechei o meu site gratuito de informação jurídica que, e eu sempre estanhei isto, dava as informações mais rápido que alguns sites muito profissionais ligados aos Estado. Mas nunca deixei de exercer a advocacia, que ainda hoje me põe o pão na mesa. Agora aconteceu isto. Fez-se tudo aos pontapés e à pressa- e principalmente sem concepção qualificada. Se tivesse havido competência e humildade política, a senhora ministra tinha pedido ajuda a toda a gente. A OA enviaria os seus pares mais qualificados (se me pedissem para ir uma semana trabalhar de graça, a bem do país, eu fá-lo-ia sem pensar, como fiz sempre no passado), os funcionários judiciais idem, os magistrados idem, e nós púnhamos sozinhos esta merda de reforma de pé. Aliás, nem eram precisas deslocações. Bastava que todos os agentes forenses tivessem sido chamados a ajudar, e fosse possível a actualização cruzada do sistema com validação pelos mandatários, magistrados e funcionários de cada processo. Simples. As mudanças iam acontecer à medida das necessidades e o sistema nunca pararia. Ia haver notificações específicas para validar a mudança nos processos - e, claro, mais trabalho, mas isso é o que andam os funcionários a fazer, processo a processo, caixa a caixa, e é muito mais fácil de fazer digitalmente - mas a verdade é que todos iam participar e ajudar e mexia-se primeiro nos processos vivos, quando agora se tratam da mesma forma os mortos, moribundos ou vivos. Claro que isto só acontece porque os políticos, os decisores, não fazem ideia do que está a ser feito e de como as coisas funcionam e mentem às pessoas e aos profissionais com todos os dentes que têm. E, sim, a OA, os funcionários, os magistrados e até o povo, através da acção popular, deviam accionar o Estado e pedir-lhe contas - por exemplo, a começar pela devolução das taxas de justiça, porque o bem/ serviço fornecido tem graves deficiências. Algo que a senhora ministra, onde eu não reconheço uma advogada, tinha de ter tido humildade e competência. Ainda as pode ter. Chame-nos, peça-nos ajuda. Eu ajudo, ainda que lhe chame pacóvia na cara e na hora que mo pedir. Mas ajudo. Não finja que está tudo bem ou vai ficar perfeito rapidamente. Isto é tão grave, tão grave, que os movimentos políticos se têm dirigido a tapar o sol com a peneira. Aliás, a oposição também deve perceber pouco disto, porque não tem dito ou feito nada que se veja. Talvez consigam enterrar este escândalo, mas nós sabemos o que está a acontecer: em vez de envolverem todos, estão a rebentar com meia-dúzia de rapazes e raparigas que trabalham à unha 24 sobre 24. De forma perfeitamente amadora e impensável no ano de 2014 e em pleno século XXI. Como eu costumo dizer, não PG-M, mas PQP!!!
PQP 2014fonte da foto
Published on September 16, 2014 09:06
September 15, 2014
Dia 16
Ao décimo sexto dia
percebo
o poema infinito
do amor
passámos o meio de
nada
e ainda se escreve igual
se o amor está no silêncio
na mão que subtrais
em público
para ninguém saber
de nós
na ponta dos dedos
que seguem o meu
cabelo
no cheiro das manhãs
sem ti
o amor
estará sempre
o amor
estará todo
calado
PG-M 2014
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Published on September 15, 2014 22:35
Plátano, Madeira e o Prémio M.A.Pina 2012
O Prémio M.A. Pina 2012 foi um prémio de poesia que tive uma imensa honra de vencer com o poema Plátano - Manuel António Pina já não fez parte do júri desse ano, em que ainda se chamava "Concurso nacional de Textos de Amor", do Museu Nacional da Imprensa, e veio a falecer no dia 19 de Outubro, precisamente de 2012. Um ano marcante. Fui o primeiro éditor a vencer o Prémio Pina, e essa foi uma das principais razões de ter concorrido: não haver éditos que o tivessem vencido, até à data. É um prémio promovido por uma instituição da minha terra natal, o Porto, e senti-me obrigado a contribuir para que crescesse e alargasse o espectro de participantes. Desde essa data, lutei por este prémio, cujo gozo finalmente me foi permitido, com uma maravilhosa viagem à Madeira. Esta fotografia simboliza-o. Gosto muito dela. Se eu vos dissesse que tinha uns cinquenta anos, poucos duvidariam. Mas tem uns dias, apenas - é já de 5 Setembro de 2014. É no Monte, na Madeira. Os moços despegam lá pelas 13h, e vem um autocarro para carregar estes e despejar mais uns cinquenta - turno da tarde. Deles ouvi as mais inspiradas declarações às mulheres bonitas de todo o mundo. O turismo madeirense está incorporado em todas as almas, temos muito a aprender com elas.
Published on September 15, 2014 11:15


