Cristina Torrão's Blog, page 92
August 5, 2014
Nada como ler os clássicos (8)
Perguntado porque deixara de tomar rapé, costume indicativo de homem pensador e estudioso, respondeu que alguns escritores modernos atribuíam ao amoníaco, parte componente do rapé, o deperecimento das faculdades retentivas, pela acção deletéria que o poderoso alcali exercitava sobre a massa encefálica. Além de que a fumarada do charuto, sobre ser purificante e antipútrida, dava aos alvéolos solidez, e consistência aos dentes.
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
Published on August 05, 2014 04:32
August 4, 2014
A Citação da Semana (20)
«Nunca te esqueças de que, para muitas pessoas, a tua vida é o único evangelho que elas lerão».
Dom Helder Câmara
Dom Helder Câmara
Published on August 04, 2014 02:01
August 1, 2014
Judeus alemães reclamam solidariedade
Dieter Graumann, Presidente do Conselho Central dos Judeus, na Alemanha (Zentralrat der Juden) reclamou mais apoio da população contra a onda de anti-semitismo que, na sua opinião, se está a levantar neste país. Pergunta porque não se forma uma onda de solidariedade para fazer frente às palavras de ordem anti-semitas, gritadas em manifestações contra a violência israelita na Faixa de Gaza, como: "judeu, porco cobarde" (Jude, Jude, feiges Schwein), ou "Israel infanticida" (Kindermörder Israel).
Note-se que a grande maioria dos manifestantes são de origem turca ou árabe.
Numa carta dirigida aos cidadãos judeus alemães, Dieter Graumann escreve: "Permaneceremos como sempre fomos: judeus de corpo inteiro, que não carregam a sua tradição judaica como um fardo, mas com inquebrável orgulho" (tradução minha).
Deixo isto à vossa consideração.
Nota: o link conduz a uma notícia em língua alemã).
Note-se que a grande maioria dos manifestantes são de origem turca ou árabe.
Numa carta dirigida aos cidadãos judeus alemães, Dieter Graumann escreve: "Permaneceremos como sempre fomos: judeus de corpo inteiro, que não carregam a sua tradição judaica como um fardo, mas com inquebrável orgulho" (tradução minha).
Deixo isto à vossa consideração.
Nota: o link conduz a uma notícia em língua alemã).
Published on August 01, 2014 04:15
July 31, 2014
Escritos soltos # 1
Nunca dei à
Luísa a atenção devida. Nem sequer a desejei completamente, quando nasceu,
perguntando-me porque fizera o raio daquele casamento, de que me arrependi mal
pronunciei o «sim». Porque fazemos tais coisas, sabendo, no íntimo, que não vão
resultar?
Medo da solidão…
Estava cheia de me sentir sozinha. Estava cheia de mágoas, não
aguentava mais o caos em que se transformara a minha vida, a partir daquele março
de 1974, cheia de depender da caridade de quem, no fundo, me desprezava.
Conheci o
Armando numa das manifestações do Verão Quente, numa altura em que julgava não mais ser capaz de amar. O Armando divertia-me, com
aquele seu jeito despreocupado. E eu queria deixar as agruras para trás, queria
acreditar que a vida ao lado dele fosse mais fácil. Casámos em 1976, quando ele
arranjou o emprego no banco, apesar de eu ainda andar a tirar o curso.
A despreocupação
do Armando revelou-se uma grande armadilha, mais uma, na minha vida. Era esbanjador,
incapaz de assumir responsabilidades. Começou a faltar o dinheiro para a renda
da casa, para as compras… O ordenado do banco fugia-lhe entre os dedos como
areia numa mão aberta, sobrevivíamos à custa das minhas explicações de
português e francês. Ficava cada vez mais difícil, as discussões eram
constantes. E eu debatia-me com insónias, pesadelos e ataques de ansiedade.
Sabia que o
melhor seria a separação… Não fosse a minha insegurança, o medo da solidão que
me guia para dependências cegas. Comecei a acreditar que tudo melhoraria, assim
que acabasse o curso e começasse a dar aulas. E assim que tivéssemos um filho! De
repente, senti-me como se tivesse descoberto a pólvora: o meu ordenado de
professora dar-nos-ia conforto financeiro, um filho aproximar-nos-ia, salvando
o casamento… Fiquei tão obcecada, que deixei de tomar a pílula no meu último
ano de faculdade, sem sequer informar o Armando. No fundo, sabia que ele não
concordaria. Dizia constantemente que ainda não queria filhos, que éramos muito
novos, que deixássemos passar algum tempo.
Ficou furioso,
quando soube da gravidez, queria que eu abortasse. Mas eu acreditava firmemente
que um filho nos uniria. Ser pai haveria de lhe incutir responsabilidade…
Porque tendemos
a acreditar que a nossa felicidade e a solução dos nossos problemas dependem unicamente
de fatores exteriores a nós? É um erro, mesmo um abuso, usar um ser ainda não
nascido para salvar um casamento. Ou para atingir um qualquer objetivo pessoal.
Qualquer vida deve valer por si própria, nunca ser um instrumento para atingir
um fim. Não uma vida!
Published on July 31, 2014 03:14
July 29, 2014
Nada como ler os clássicos (7)
Meu amado Calisto. Cá soube pelo mestre-escola que tens botado algumas falas nas cortes, e que tens muita sabedoria. O senhor abade já cá veio ler-me um pedaço do teu dito, e oxalá que seja para bem da religião. Olha se botas abaixo as décimas, que é o mais necessário. Aqui veio um padre de Miranda para tu o despachares para abade; e o regedor também quer que tu lhe arranjes um hábito de Cristo para ele, e uma pensão para a tia Josefa, que é viúva de um sargento de milícias de Mirandela. Assim que arranjares isso, manda para cá.
Saberás que mandei trocar os dois barrosãos à feira dos onze, e comprei vacas de cria. Os cevados não saíram de boa casta, e acho que será bom trocá-los na feira dos dezanove. A porca ruça teve dez leitões ontem de madrugada. E, com isto, olha se isso lá acaba depressa, que eu ando por cá triste e acabrunhada de saudades. Na semana que passou andei mal dos rins, e muito despegada do peito. Hoje vou ver medir dois carros de centeio, que vão para a feira, por isso não te enfado mais. Desta tua mulher muito amiga,
Teodora
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
Saberás que mandei trocar os dois barrosãos à feira dos onze, e comprei vacas de cria. Os cevados não saíram de boa casta, e acho que será bom trocá-los na feira dos dezanove. A porca ruça teve dez leitões ontem de madrugada. E, com isto, olha se isso lá acaba depressa, que eu ando por cá triste e acabrunhada de saudades. Na semana que passou andei mal dos rins, e muito despegada do peito. Hoje vou ver medir dois carros de centeio, que vão para a feira, por isso não te enfado mais. Desta tua mulher muito amiga,
Teodora
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
Published on July 29, 2014 04:27
July 28, 2014
A Citação da Semana (19)
Published on July 28, 2014 01:57
July 27, 2014
O Peso do Passado
A Alemanha e os alemães estão a tratar com pinças este conflito
israelo-palestiniano. Sente-se a contenção, tanto nas ruas, como nos
programas noticiosos. E a situação mais delicada são as manifestações
contra a violência israelita. Já se sabe, facilmente se cai no
anti-semitismo, se dizem e cometem excessos... E anti-semitismo vindo da
Alemanha é um caso sério! A maioria dos manifestantes são muçulmanos.
Desde turcos a iraquianos e iranianos, passando por paquistaneses, afegãos
e os próprios palestinos, há milhões de muçulmanos a viver na Alemanha
(talvez tantos, quantos portugueses há em Portugal). Os representantes
governamentais vêm-se aflitos para manter o equilíbrio, não melindrar
nem uns nem outros. É o peso do passado, visível em cada rosto, em cada
praça, em cada esquina. Mas também é esta sociedade multi-cultural em
que se tornou a nação alemã.
israelo-palestiniano. Sente-se a contenção, tanto nas ruas, como nos
programas noticiosos. E a situação mais delicada são as manifestações
contra a violência israelita. Já se sabe, facilmente se cai no
anti-semitismo, se dizem e cometem excessos... E anti-semitismo vindo da
Alemanha é um caso sério! A maioria dos manifestantes são muçulmanos.
Desde turcos a iraquianos e iranianos, passando por paquistaneses, afegãos
e os próprios palestinos, há milhões de muçulmanos a viver na Alemanha
(talvez tantos, quantos portugueses há em Portugal). Os representantes
governamentais vêm-se aflitos para manter o equilíbrio, não melindrar
nem uns nem outros. É o peso do passado, visível em cada rosto, em cada
praça, em cada esquina. Mas também é esta sociedade multi-cultural em
que se tornou a nação alemã.
Published on July 27, 2014 11:27
July 26, 2014
Para que conste!
Numa altura em que estudiosos do comportamento animal estão a chegar à conclusão de que a alegria, a tristeza, as saudades, a afeição pelos filhos (crias), a capacidade de transmitir informação à geração seguinte, mas também o enganar, o trair, ou o dissimular, não são características apenas humanas, já era altura de Portugal ir dando os primeiros passos em legislação deste tipo.
Para quem quiser ler mais sobre os estudos que se têm feito:
Animais com Sentimentos
Animais com Memória
Uma história de elefantes
«Os cães e, provavelmente, muitos outros animais (em especial os nossos "familiares primatas") parecem ter emoções tal como nós, o que significa que temos de reconsiderar o tratamento que lhes é dado».
Published on July 26, 2014 07:54
July 22, 2014
Nada como ler os clássicos (6)
Foi neste instante que o morgado da Agra de Freimas sentiu no lado esquerdo do peito, entre a quarta e a quinta costela, um calor de ventosa, acompanhado de vibrações eléctricas, e vaporações cálidas, que lhe passaram à espinha dorsal, e daqui ao cérebro, e pouco depois a toda a cabeça, purpureando-lhe as maçãs de ambas as faces com o rubor mais virginal.
Disto não deu tento Adelaide nem a outra gente.
Duas enfermidades há aí, cujos sintomas não descobrem as pessoas inexpertas; uma é o amor, a outra é a ténia. Os sintomas do amor, em muitos indivíduos enfermos, confundem-se com os sintomas do idiotismo. É mister muito acume de vista e longa prática para discriminá-los. Passa o mesmo com a ténia, lombriga por excelência. O aspecto mórbido das vítimas daquele parasita, que é para os intestinos baixos o que o amor é para os intestinos altos, confunde-se com os sintomas de graves achaques, desde o hidrotórax até à espinhela caída.
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
Só não concordo com: «os sintomas do amor (...) confundem-se com os sintomas do idiotismo». Mas não deixa de ser um interessante naco de prosa.
Disto não deu tento Adelaide nem a outra gente.
Duas enfermidades há aí, cujos sintomas não descobrem as pessoas inexpertas; uma é o amor, a outra é a ténia. Os sintomas do amor, em muitos indivíduos enfermos, confundem-se com os sintomas do idiotismo. É mister muito acume de vista e longa prática para discriminá-los. Passa o mesmo com a ténia, lombriga por excelência. O aspecto mórbido das vítimas daquele parasita, que é para os intestinos baixos o que o amor é para os intestinos altos, confunde-se com os sintomas de graves achaques, desde o hidrotórax até à espinhela caída.
In "A Queda Dum Anjo", Camilo Castelo Branco
Só não concordo com: «os sintomas do amor (...) confundem-se com os sintomas do idiotismo». Mas não deixa de ser um interessante naco de prosa.
Published on July 22, 2014 04:18
July 21, 2014
A Citação da Semana (18)
«O pior não é a queda. O pior é permanecermos caídos no local da queda».
Sócrates
Sócrates
Published on July 21, 2014 01:52


