Rodrigo Constantino's Blog, page 356
September 18, 2012
Primaveras ou invernos?
João Pereira Coutinho, Folha de SP
UM FILME amador sobre a vida do profeta Maomé incendiou a sempre pacífica "rua árabe". O embaixador americano na Líbia foi morto. Embaixadas americanas no Oriente Médio foram atacadas. E até lanchonetes da Kentucky Fried Chicken tiveram a sua dose de violência e destruição.Confesso: eu já almocei na KFC. Também tive vontade de a destruir depois de provar o menu da casa. Mas será que a qualidade do produto merece um ato tresloucado?Escutei Barack Obama. Escutei Hillary Clinton. Escutei o secretário-geral da ONU, um nome impronunciável que não vou checar. Escutei toda gente que é gente e a sentença, sem surpresa, é a mesma: o filme é nojento, ofensivo, ignorante; mas nada disso justifica a violência que ele provocou.Concordo com a segunda parte. Só não concordo com a primeira porque não sabia que Obama, Clinton, Ban Ki-moon (sim, chequei) e "tutti quanti" eram críticos de cinema.É indiferente saber se o filme é bom ou mau, nojento ou refinado, ofensivo ou altamente elogioso para o islã. Não é função de nenhum chefe político tecer comentários sobre a qualidade do que se diz, faz ou pensa em países ocidentais, onde a liberdade de expressão é um valor sacramental.E a liberdade de expressão comporta tudo: o repelente, o ofensivo, o ignorante, o sacrílego. Se existem fanáticos que não gostam desse modo de vida, o problema não é do Ocidente. O problema é dos fanáticos.Claro que, para além da violência superficial que se espalhou pelo Oriente Médio, existem questões mais perversas: e se os atos dos fanáticos não estiverem apenas relacionados com o filme?E se o ódio ao Ocidente for a verdadeira gasolina que faz arder esses atos? E se a Primavera Árabe, afinal, foi apenas uma forma de trocar velhos tiranos por novos?A mídia ocidental, que cavalgou romanticamente a Primavera Árabe, recua de horror ante a possibilidade. Na Líbia do detestável Gaddafi, no Egito do detestável Mubarak, ou na Tunísia do detestável Ben Ali, só podem florescer democracias civilizadas, respeitadoras dos direitos humanos e onde a liberdade individual não tem preço.Eis a suprema falácia do pensamento progressista, que o filósofo John Gray, em artigo recente para a BBC, destruiu sem piedade: o fato de derrubarmos um ditador não significa necessariamente que as alternativas serão melhores. E por quê?Aqui, Gray faz o que melhor sabe: mamar forte no pensamento do seu pai espiritual, o historiador das ideias Isaiah Berlin (1909 - 1997).No ensaio clássico "Dois Conceitos de Liberdade", que pode ser lido no livro "Estudos sobre a Humanidade" (Companhia das Letras), Berlin já tinha avisado que os valores mais importantes em política não podem ser confundidos uns com os outros.Liberdade é liberdade, não é igualdade. Igualdade é igualdade, não é liberdade. Democracia é democracia, não é justiça.Por outras palavras: o voto da maioria pode ser uma condição para a existência de regimes livres.Mas pode também ser o contrário: uma forma de liquidar a liberdade individual. Basta que a maioria, por exemplo, opte por um regime baseado na sharia islâmica, e não pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.E essa perversão nem sequer é uma exclusividade do islã. Será preciso recordar que Adolf Hitler é o exemplo mais eloquente de alguém que usou a democracia para liquidar a democracia?Hoje, no mundo islâmico, sabemos que ditaduras criminosas foram derrubadas. Mas também sabemos que islamitas tomaram o poder no Egito ou na Tunísia. E que várias facções, com vários graus de radicalismo fundamentalista, lutam pelo poder dentro de cada um desses países.O que não sabemos nem escutamos são vozes liberais dentro do Egito ou da Tunísia defendendo regimes democráticos respeitadores dos direitos humanos e da liberdade individual.Na década de 1960, perguntaram ao premiê chinês Zhou Enlai o que ele pensava sobre a Revolução Francesa de 1789. Resposta: "Ainda é muito cedo para dizer".Faço minhas as palavras dele sobre as primaveras que podem virar invernos.[image error]
Published on September 18, 2012 06:46
September 17, 2012
História do Brasil Vira-Lata

Rodrigo Constantino
“A nossa tragédia é que não temos um mínimo de autoestima”. Assim resumia de forma seca o escritor Nelson Rodrigues, aquilo que chamou de “complexo vira-lata” do povo brasileiro. Por que os brasileiros gostam tanto de depreciar sua própria história e cultura? Há motivos concretos para esta postura derrotista?
O livro de Aurélio Schommer representa um trabalho minucioso de pesquisa e reflexão para tentar responder estas questões. Nele, mitos são derrubados, sem, entretanto, cair no erro contrário de enaltecer uma realidade distorcida. A história da formação cultural brasileira é contada com riqueza de detalhes e casos específicos, que servem para ilustrar a mensagem do autor.
Interesses de grupos organizados e questões ideológicos representam grandes entraves a uma análise mais isenta de nosso passado. A visão idílica de “bom selvagem” que transforma os índios em mentecaptos indolentes, o racialismo que segrega a população de forma arbitrária, fechando os olhos para nossa mestiçagem, e a visão um tanto distorcida do valor dos portugueses que aqui chegaram em 1500, prejudicam um olhar imparcial sobre os fatos.
As características do brasileiro típico podem ser encaradas como negativas ou positivas, dependendo do ponto de vista. O brasileiro é amigável ou pacato? Ele é flexível ou acomodado? Tolerante ou preguiçoso? Muitos pensadores importantes depositaram no clima relevância enorme para definir os fatores culturais de um povo. Estaria o Brasil fadado então a este destino tropical de sombra e água fresca?
A Austrália, para ficar em um só exemplo, foi colônia de prisioneiros, e hoje é um país de primeiro mundo. Cultura evolui. Esta é uma das principais mensagens do livro. Hábitos e costumes mudam. O Brasil tem um passado com coisas boas e coisas ruins. Seus principais traços culturais apresentam um lado positivo e um lado negativo.
A interculturalidade, por exemplo, fruto do grande "melting pot" pacífico que é nosso país, pode ser um grande trunfo em um mundo com choque de etnias e religiões. A flexibilidade e o jogo de cintura podem ser formas adaptativas interessantes se não descambarem para a malandragem e o jeitinho.
O mais importante de tudo talvez seja justamente abandonar esta tradição autodepreciativa e passar a assumir a responsabilidade pelo nosso presente e futuro. Que país teremos 20 anos à frente? Que país nossos filhos e netos herdarão? Essa resposta depende apenas daquilo que vamos fazer, de nossas atitudes, e não de um apego excessivo às origens, em boa parte míticas, que servem como desculpa para nossa negligência diante de nosso destino.
Este livro funciona como um despertador para esta dura realidade. Não podemos nos escusar de nossos fracassos com base na eterna depreciação do povo brasileiro. Isso não é o mesmo que fechar os olhos para os problemas reais e abraçar um ufanismo boboca. Ao contrário: é preciso enxergar com clareza aonde residem os problemas, sem, entretanto, fechar os olhos para os acertos e qualidades.
Há muito que poderia ser mudado com boa educação e melhores oportunidades. O Brasil não está condenado, seja pelo clima, seja por suas raízes culturais, a ser o eterno país do futuro. A tarefa não será fácil. Por isso mesmo está na hora de arregaçar as mangas e começar um processo acelerado e sustentável de mudanças rumo ao progresso. Isso começa justamente por deixar de lado este discurso autodepreciativo, esse velho “complexo vira-lata” espalhado pelo povo brasileiro.
"Nenhum povo é incorrigível”, afirma o autor. Cultura não é algo fixo e imutável. Sem falar que temos sim aspectos culturais positivos, como fica claro no decorrer da leitura. Se o livro de Aurélio servir para resgatar esta herança positiva, derrubando certos mitos resistentes, e ainda jogar luz sobre os verdadeiros problemas que impedem um avanço cultural em nosso país, então ele terá cumprido sua função com maestria.
Published on September 17, 2012 13:03
Ipad baby
Luiz Felipe Pondé, Folha de SP
Vivemos numa era narcísica. Mas o narcisismo pode assumir formas mais sofisticadas do que ficar se olhando no espelho e escrevendo imbecilidades no Facebook: "Olha eu vomitando!".Mesmo ter filhos, hoje, pode ser uma das faces mais comuns do narcisismo. Ter filho é narcisismo quando ele é parte de seu ferramental de sucesso: trabalho, casa própria, sexo saudável, carro novo, ioga, alimentação balanceada, filho.Quando vir uma mãe tirando muitas fotos histéricas dela mesma com seu filho, saiba que você está diante de um poço de narcisismo que afoga a pobre criança num mar de projeções de si mesma. Segura o filho nas mãos como troféu de sua própria suposta beleza e saúde.Sim, ser mãe pode ser objeto de enorme crítica. Ou pai. Falar mal da maternidade ou paternidade é para iniciantes e coisa de crítica festiva.Mães são autoritárias, chantagistas, loucas, ausentes, presentes demais, enfim, infernais às vezes. Mas hoje, numa época dominada pela covardia chique, que teme dizer seu nome, covardia, covardia, covardia, podemos fazer um discurso chique para negar a maternidade.Com isso não quero dizer que toda mulher deva ser mãe. Longe de mim achar isso. Acho que você pode não ser mãe e não ser ridícula por isso. Suspeito apenas da negação da maternidade quando ela vem acompanhada de uma "ira contra a mãe" ou quando vem acompanhada de alguma "teoria" contra a maternidade. Sempre suspeito de teorias e não de práticas.Trata-se de um caso semelhante ao ateísmo: todo ateísmo militante é infantil e reativo. Toda crítica à maternidade é infantil e reativa. Um ateu e uma mulher que não quer ser mãe devem ser blasé com relação a Deus e a ter filhos. Se o lábio tremer ao falar de Deus e das mães, você está diante de um ressentido.O filósofo francês do século 17, Blaise Pascal, dizia que variamos as formas de "divertissement" (divertimento, autoengano), mas a fuga sempre fracassa. Sempre reencontro a causa da minha fuga, o medo do vazio. O narcisista é uma criança em pânico diante desse vazio.Vivemos a época mais covarde da história humana. A emancipação moderna se revelou um retrocesso em termos de coragem: todo mundo tem medo, mas nega e critica as formas de vínculos afetivos longos (maternidade, paternidade, casamento, etc.) para não enfrentar seus fracassos afetivos. Sou um miserável solitário, mas minto dizendo que escolhi sê-lo.Mas voltemos ao filho como troféu narcísico. Outro dia, num desses domingos preguiçosos (o ócio nos aparenta aos deuses), fui almoçar, minha mulher e eu, num desses lugares frequentados pela classe chique da zona oeste paulistana. Uma região habitada por "bikes". Precisa dizer qual é?Interessante como gente pobre sempre andou de bicicleta, mas agora, quando a bicicleta virou "bike", virou assunto da prefeitura. O trânsito, sofrido, tem que abrir espaço para as "bikes".Em Copenhague, capital da Dinamarca, uma das capitais mundiais das "bikes", podemos ver o "ethos" dessa moçada que se acha salvadora do mundo: lá eles atropelam gente e caminhões, movidos pela sua consciência de (falsa) superioridade moral urbana. Aqui já começa o mesmo processo.Mas dizia que estávamos num desses restaurante "descolados", mas rotineiros, da classe chique da zona oeste paulistana. Perto, um casal "desfilava" seu filho. Durante algum tempo, todo mundo era obrigado a ouvir a beleza estridente da maternidade narcísica.Trajes descolados, jeans rasgados e caros, camisetas tipo Hering, tênis surrados. Cabelos assanhados no modo correto, iPhones, bebê brincando com iPad, risadas altas.A criança, coitada, era quem menos gritava. Os pais, já os pais, estes faziam tudo para ele berrar, como numa demonstração de que, sim, "somos pais descolados que amam seu filho e
queremos que ele grite e brinque para mostrar que não o reprimimos". O filho ali tinha o mesmo estatuto que o iPad: um trunfo numa era narcísica. Assim como um carro coreano branco enorme.E fotos, muitas fotos, em todas as posições imagináveis em meio à pasta de domingo. Imagino que postaram no "Face".
Published on September 17, 2012 09:57
O Fla x Flu de Hélio Saboya Filho
Rodrigo Constantino
O advogado Hélio Saboya Filho escreveu um artigo em O Globo hoje claramente em resposta ao meu "A esquerda caviar". Segundo o advogado, eu estaria fazendo "patrulha" ao acusar de hipocrisia os artistas e intelectuais que pregam o socialismo e defendem o voto em Marcelo Freixo, do PSOL. Diz ele:
Combinação de intolerância com anacronismo, o raso raciocínio tem a "qualidade" de atingir indistintamente esquerda e direita. Transposto para o mundo do futebol equivaleria a se proibir mulambos de torcerem pelo Fluminense e almofadinhas pelo Flamengo.
Ora, meu caro Helinho Saboya (permita-me a intimidade, o senhor pode não recordar, mas foi advogado de minha mulher em nosso divórcio, hoje felizmente desfeito), comparar socialismo e capitalismo com Fla x Flu só interessa mesmo a um lado: o socialista! Não é uma simples questão de preferência, de gosto subjetivo, como gostar mais do azul que do amarelo. Não!
É uma questão de robustez teórica e ampla, farta, infindável validação empírica! O socialismo, onde foi testado, produziu apenas miséria, terror e escravidão. O capitalismo trouxe o progresso, especialmente para os mais pobres. Portanto, quem defende o socialismo defende algo "intolerante e anacrônico", para usar os termos que o senhor imputa à minha pessoa.
Aliás, ao dar o título de "patrulha" ao seu artigo, e citar Regina Duarte durante as eleições que deram a vitória ao Lula, o senhor consegue inverter tudo! A patrulha, quem faz, é o lado de lá. A esquerda dos artistas e intelectuais que operam em coro organizado contra qualquer um do bando que não abraçar a mesma cartilha sensacionalista (e hipócrita). Pergunte ao cantor Fagner, que deu uma entrevista na Veja alguns anos atrás sobre isso.
No mais, Regina Duarte estava certa em seu alerta, ora bolas. O mensalão não te convenceu disso? O Ancinav, o Conselho Nacional de Jornalismo, a tentativa de expulsar um jornalista gringo do país por acusar Lula de "bebum", o aparelhamento de quase toda a máquina estatal, nada disso foi suficiente para lhe abrir os olhos sobre as reais intenções do PT?
Por fim, seu artigo não respondeu a principal acusação que fiz no meu: nem uma palavra sobre a HIPOCRISIA de se pregar o socialismo enquanto se vive do bem e do melhor que só o capitalismo pode oferecer? O senhor realmente não vê nada demais em defender Fidel Castro de Paris, em enaltecer a igualdade material com milhões no banco?
Nesse caso, não posso lhe ajudar muito. Entendo que advogados aprendem a enxergar ambos os lados sempre, e que defender A VERDADE não costuma ser a maior qualidade da profissão. Mas eu, como juiz isento, preciso dar meu veredicto final de forma direta: os ricos defensores do socialismo são uma cambada de hipócritas!
O advogado Hélio Saboya Filho escreveu um artigo em O Globo hoje claramente em resposta ao meu "A esquerda caviar". Segundo o advogado, eu estaria fazendo "patrulha" ao acusar de hipocrisia os artistas e intelectuais que pregam o socialismo e defendem o voto em Marcelo Freixo, do PSOL. Diz ele:
Combinação de intolerância com anacronismo, o raso raciocínio tem a "qualidade" de atingir indistintamente esquerda e direita. Transposto para o mundo do futebol equivaleria a se proibir mulambos de torcerem pelo Fluminense e almofadinhas pelo Flamengo.
Ora, meu caro Helinho Saboya (permita-me a intimidade, o senhor pode não recordar, mas foi advogado de minha mulher em nosso divórcio, hoje felizmente desfeito), comparar socialismo e capitalismo com Fla x Flu só interessa mesmo a um lado: o socialista! Não é uma simples questão de preferência, de gosto subjetivo, como gostar mais do azul que do amarelo. Não!
É uma questão de robustez teórica e ampla, farta, infindável validação empírica! O socialismo, onde foi testado, produziu apenas miséria, terror e escravidão. O capitalismo trouxe o progresso, especialmente para os mais pobres. Portanto, quem defende o socialismo defende algo "intolerante e anacrônico", para usar os termos que o senhor imputa à minha pessoa.
Aliás, ao dar o título de "patrulha" ao seu artigo, e citar Regina Duarte durante as eleições que deram a vitória ao Lula, o senhor consegue inverter tudo! A patrulha, quem faz, é o lado de lá. A esquerda dos artistas e intelectuais que operam em coro organizado contra qualquer um do bando que não abraçar a mesma cartilha sensacionalista (e hipócrita). Pergunte ao cantor Fagner, que deu uma entrevista na Veja alguns anos atrás sobre isso.
No mais, Regina Duarte estava certa em seu alerta, ora bolas. O mensalão não te convenceu disso? O Ancinav, o Conselho Nacional de Jornalismo, a tentativa de expulsar um jornalista gringo do país por acusar Lula de "bebum", o aparelhamento de quase toda a máquina estatal, nada disso foi suficiente para lhe abrir os olhos sobre as reais intenções do PT?
Por fim, seu artigo não respondeu a principal acusação que fiz no meu: nem uma palavra sobre a HIPOCRISIA de se pregar o socialismo enquanto se vive do bem e do melhor que só o capitalismo pode oferecer? O senhor realmente não vê nada demais em defender Fidel Castro de Paris, em enaltecer a igualdade material com milhões no banco?
Nesse caso, não posso lhe ajudar muito. Entendo que advogados aprendem a enxergar ambos os lados sempre, e que defender A VERDADE não costuma ser a maior qualidade da profissão. Mas eu, como juiz isento, preciso dar meu veredicto final de forma direta: os ricos defensores do socialismo são uma cambada de hipócritas!
Published on September 17, 2012 07:21
September 14, 2012
Já vi este filme antes

O Fed anunciou nesta quinta-feira sua terceira rodada agressiva de expansão monetária, o QE3. O banco central americano vai comprar US$ 40 bilhões por mês adicionais em ativos hipotecários, além de prolongar as taxas de juros nulas até 2015. Se o emprego não reagir a contento, o Fed poderá comprar montantes ilimitados desses ativos. Os mercados financeiros celebraram.
Mark Twain dizia que a história pode não se repetir, mas com freqüência ela rima. Já Marx pensava que a história se repete, a primeira vez como tragédia, depois como farsa. Nós já vimos essa história antes. Mas, para quem tem somente um martelo, tudo se parece com pregos. Bernanke só conhece um instrumento, e parece disposto a usá-lo no limite da irresponsabilidade.
Quando foi que ficamos loucos a ponto de acreditar que basta criar montes de dinheiro do nada para colocar a economia em rota de crescimento sustentável? Perguntem aos alemães, que viveram na República de Weimar, se isso é possível. Perguntem aos miseráveis no Zimbábue de Mugabe. Perguntem a nós brasileiros! Aprendemos com a história que poucos aprendem com a história.
Bernanke fez o QE1, o QE2, a Operação Twist, e agora o QE3. A economia segue patinando, o desemprego continua elevado, e o preço das commodities sobe. Quando o Long Term Capital quebrou em 1998, o Fed liderou uma operação de resgate que demandou pouco mais de US$ 3 bilhões. Era o começo do moral hazard que causa estragos até hoje. A diferença é que, desta vez, falamos em bilhões como se fossem troco de feira.
Qual será o tamanho do próximo pacote? Qual o limite que o Fed topa chegar? Até a completa perda de confiança no dólar como reserva de valor? Bernanke diz estar confiante de sua estratégia de saída para seus estímulos. Bom, ele também garantia lá atrás que o subprime não viraria crise sistêmica, e depois que suas medidas resolveriam o problema. Alguém ainda acredita nele?
Published on September 14, 2012 05:47
September 13, 2012
A inocência islâmica
Rodrigo Constantino
"Multiculturalism is one of those affectations that people can indulge in when they are enjoying all the fruits of modern technology and can grandly disdain the processes that produced them." (Thomas Sowell)
Não é curioso o fato de que a esquerda "tolerante" só se lembra que não é legal atacar religiões quando se trata do Islã como alvo? Ela parece quase justificar a reação violenta dos fanáticos com base na "ofensa" recebida.
Imagina se fosse o contrário: um grupo de cristãos matando inocentes muçulmanos por causa de um filme ofensivo ao Cristianismo. Qual seria a reação dessa esquerda "compassiva"? Dois pesos, duas medidas.
Sou contra todo fanatismo, inclusive o religioso. E sou também favorável ao direito de "ofender" todas as religiões. Lembremos de Mencken:
"Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis. Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser. Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas."
Qualquer um pode achar idiotice uma crença religiosa (ou sua ausência), e expressar sua opinião. E ninguém tem o direito de apelar para a violência por conta disso. Mas isso tem que valer para TODOS, inclusive os muçulmanos, que parecem não ter passado por seu iluminismo ainda, para colocar uma focinheira nos mais fanáticos.
O problema é que nosso iluminismo, especialmente a vertente degenerada francesa, pariu seus fanáticos "racionais" também, essa esquerda que se diz super tolerante, plural e multiculturalista, mas que, no fundo, mostra-se altamente intolerante com UM dos lados, justamente o mais avançado, tolerante e liberal.
Comecei com Sowell, termino com ele: "No one is more dogmatically insistent on conformity than those who advocate 'diversity'."
"Multiculturalism is one of those affectations that people can indulge in when they are enjoying all the fruits of modern technology and can grandly disdain the processes that produced them." (Thomas Sowell)
Não é curioso o fato de que a esquerda "tolerante" só se lembra que não é legal atacar religiões quando se trata do Islã como alvo? Ela parece quase justificar a reação violenta dos fanáticos com base na "ofensa" recebida.
Imagina se fosse o contrário: um grupo de cristãos matando inocentes muçulmanos por causa de um filme ofensivo ao Cristianismo. Qual seria a reação dessa esquerda "compassiva"? Dois pesos, duas medidas.
Sou contra todo fanatismo, inclusive o religioso. E sou também favorável ao direito de "ofender" todas as religiões. Lembremos de Mencken:
"Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis. Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser. Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas."
Qualquer um pode achar idiotice uma crença religiosa (ou sua ausência), e expressar sua opinião. E ninguém tem o direito de apelar para a violência por conta disso. Mas isso tem que valer para TODOS, inclusive os muçulmanos, que parecem não ter passado por seu iluminismo ainda, para colocar uma focinheira nos mais fanáticos.
O problema é que nosso iluminismo, especialmente a vertente degenerada francesa, pariu seus fanáticos "racionais" também, essa esquerda que se diz super tolerante, plural e multiculturalista, mas que, no fundo, mostra-se altamente intolerante com UM dos lados, justamente o mais avançado, tolerante e liberal.
Comecei com Sowell, termino com ele: "No one is more dogmatically insistent on conformity than those who advocate 'diversity'."
Published on September 13, 2012 07:16
September 12, 2012
September 11, 2012
Ultraconservadores
Rodrigo Constantino, para a revista Voto
A imprensa brasileira sempre se refere aos Republicanos americanos como “ultraconservadores”. Quando Paul Ryan foi escolhido como vice na chapa de Mitt Romney, o destaque em nossa mídia foi o mesmo em todo lugar: um “ultraconservador” fora apontado para satisfazer os anseios da direita radical do “Tea Party”. Os membros deste movimento chegaram a ser chamados de “fascistas” pelo colunista Arnaldo Jabor em artigo recente.
Faz sentido usar este rótulo? O que defende, via de regra, o Partido Republicano? Quais são as ideias de Paul Ryan? Há alguma semelhança entre tais ideias e o fascismo, cujo ícone máximo foi Mussolini?
Antes de entrar na questão, vale dizer que não nutro muita simpatia pelos conservadores americanos. Considero-me um liberal, não no sentido americano, cuja esquerda “progressista” usurpou até mesmo o termo, que em seu conceito clássico quer dizer mais liberdade individual (entendida como ausência de coerção estatal). E os liberais clássicos possuem importantes divergências com os neoconservadores americanos, que ignoram em boa parte a tradição conservadora inglesa, que data de Edmund Burke.
Dito isso, quais são as principais bandeiras conservadoras nos Estados Unidos hoje? Se dependesse de nossa imprensa, a imagem pintada seria a de um neandertal. Nossos colunistas e jornalistas olham para a direita americana como se esta fosse formada basicamente por fundamentalistas religiosos, saudosistas da era medieval, que adorariam puxar suas mulheres pelo cabelo e manter escravos negros.
Naturalmente, uma pequena parcela da ala mais reacionária pode até se encaixar neste estereótipo, mas não faz nenhum sentido generalizar desta forma. Seria como dizer que todos os Democratas são comunistas que sonham com o modelo soviético, porque eles sem dúvida existem no partido.
Portanto, quando nossos “especialistas” pintam este quadro medonho, de criacionistas que abominam a ciência e de individualistas insensíveis que não ligam para os pobres, podemos estar certos de que se trata de uma caricatura absurda e injusta, feita deliberadamente ou por ignorância. Ao colocarem todos no mesmo saco, pretendem contaminar uma direita legítima com os excessos de um extremo numericamente insignificante.
E o que prega a direita então? Podemos usar até mesmo os radicais do “Tea Party” como exemplo. Sim, há gente extremista ali, manipulada por populistas de plantão. Mas, na essência, a mensagem libertária do movimento não guarda absolutamente nenhuma similaridade com aquilo que poderia ser chamado de “ultraconservador”, muito menos “fascista”. Na verdade, trata-se da antítese do fascismo!
Ora, o “Tea Party” defende muito menos estado, até mesmo um estado mínimo, que interfere muito pouco na vida dos indivíduos. O que há em comum com o fascismo, onde tudo é dentro do estado, para o estado? A visão autoritária, que trata cidadãos como súditos incapazes que necessitam da tutela estatal, está justamente representada pela esquerda democrata americana, cada vez mais intervencionista, a ponto de alguns falarem em “fascismo de esquerda”. Lembremos que o próprio Mussolini foi socialista.
Tentando resumir as principais bandeiras da direita americana, sabendo que vou pecar pelo simplismo, elas seriam: maior autonomia individual, sem tanto controle paternalista estatal; livre mercado, sem tantos resgates e subsídios por parte do governo; uma visão de papel predominante dos Estados Unidos como nação que lidera o mundo pelo exemplo (e pela força, quando necessário); o resgate de valores familiares tradicionais.
O resumo acima é muito reducionista e não abrange a complexidade da política americana. Mas acredito ter abordado os principais pontos, e justamente aqueles que tanto incomodam a nossa esquerda. Você é contra a tentativa de Obama de criar o SUS americano? Você acha que o estado não deve ser empresário nem arrecadar quase a metade do que é produzido pela iniciativa privada em nome da “justiça social”? Você rejeita o aborto e não acha legal ter um filho gay, ainda que respeite as escolhas no âmbito individual? Você não abraça o multiculturalismo sem restrições, por considerar que os valores da civilização Ocidental são superiores ao do Islã? Você é contra a legalização de todas as drogas?
Então parabéns: você é um “ultraconservador” pela ótica de nossa imprensa. Claro que é possível discordar de parte dessas crenças conservadoras sem ser um socialista. Eu mesmo tenho discordâncias com algumas posturas da direita americana, como já disse. Mas isso é bem diferente de rotular alguém de “ultraconservador” só porque não aderiu ao credo politicamente correto dos “progressistas”, defensores de altos impostos, tutela paternalista do estado e total relativismo moral.
Temo o dia em que uma pessoa que discorda da ideia “progressista” de que manter um harém de meninas, meninos e até cabras, ou de tirar à força 75% do ganho dos mais ricos, seja tachado por nossa mídia de “ultraconservador”. O termo perdeu totalmente seu sentido.
Published on September 11, 2012 17:10
Nós, os inúteis
João Pereira Coutinho, Folha de SP
Posso oferecer uma sugestão de leitura? "The Revolt of Man" (a revolta do homem), de Walter Besant (1836-1901). O leitor não conhece? Acredito. Sir Walter foi um respeitável cavalheiro vitoriano que a história da literatura inglesa acabou por esquecer.Injusto. O livro, uma novela distópica brilhantemente escrita, é um exemplo de misoginia que diverte as almas saudáveis.Enredo: na Inglaterra do futuro, o mundo é governado pelas mulheres. Elas controlam tudo: política, economia, cultura, trabalho. E os homens? Os homens, pobre raça, são reduzidos a bestas de carga e escravos sexuais das triunfantes donzelas.Fatalmente, essa vaginocracia começa a sair dos eixos: a sociedade a empobrecer, o caos a reinar, as instituições a colapsar --e as mulheres, em desespero de causa, apelam aos homens para salvar a honra do convento.São eles que regressam das catacumbas para repor a ordem e a felicidade universal.Besant viveu no século 19. Mas o que diria ele do nosso século 21?Olho em volta. E concluo que só tenho amigas solteiras ou divorciadas. Casamento é artigo raro e breve por estas bandas.A situação, confesso, seria a ideal para um rapaz disponível como eu, com hábitos de higiene adquiridos e uma sanidade mental, digamos, satisfatória. O problema é que os homens deixaram de ser ideais para elas.As solteiras encontraram no trabalho a independência econômica que as mães e avós não tinham. Os homens, quando muito, servem para necessidades ocasionais que esta Folha, um jornal de família, me impede de mencionar.As divorciadas já passaram pela experiência e não gostaram. Depois da paixão e do idílio dos primeiros anos (ou meses), descobriram com espanto que o príncipe, afinal, sempre foi um sapo. A barriga do infeliz cresceu. A comunicação desapareceu. E o sexo passou a ser, nas imortais palavras de Nelson Rodrigues, "uma mijada". Conclusão?Depois de o amor virar farsa, elas pegaram nos respectivos girinos e jogaram-nos no charco da inutilidade.Homem só atrapalha. E nem para filhos serve mais: ser mãe é como fazer inscrição na academia. Basta escolher o banco certo e a questão, nove meses depois, está resolvida.Um livro recente, aliás, enfrenta o problema. Foi escrito por Hanna Rosin, intitula-se apocalipticamente "The End of Men: And the Rise of Women" (o fim do homem: e a ascensão da mulher) e, segundo resenha da "Economist", tem números que podem interessar aos brasileiros: 1/3 das mulheres do país já ganham mais do que os seus companheiros. Existe até um grupo de apoio para esses homens infelizes, sintomaticamente intitulado "Homens de Lágrimas". Será verdade, leitor? Não minta, não minta.O Brasil não é caso único. Na Coreia do Sul, o excesso de mulheres na carreira diplomática obrigou o governo a instituir as fatídicas cotas para homens.Moral da história? Os homens começam a ser bichos em vias de extinção. Sem a importância econômica, reprodutiva ou até social de outros tempos, os pobres coitados ainda tiveram uma suprema humilhação com a crise financeira de 2008: conta a mesma "Economist" que 3/4 dos empregos destruídos pela hecatombe --nas finanças, nas fábricas, na construção civil-- eram tradicionalmente masculinos.Pelo contrário: a nova economia emergente, baseada cada vez mais em qualidades como "comunicação" e "adaptação", está pronta para o triunfo da sensibilidade feminina.Se Edward Besant viajasse do século 19 para o século 21, imagino que a sua distopia seria outra: sim, o mundo estaria nas mãos das mulheres. Mas, dessa vez, os homens já não existiriam para o salvar.Estariam demasiado ocupados, de bermudão e cerveja, com os amigos no botequim.Porque essa talvez seja a verdade mais dolorosa de todas, que a "Economist" refere sem desenvolver o tema competentemente: não foi a economia ou a libertação sexual feminina que fez dos homens seres inúteis.Os homens deixaram de ser úteis quando deixaram de ser homens --na atitude, nos comportamentos, nos "hobbies", até no vestuário e nas "tendências" (horrenda palavra).Nenhuma mulher gosta de ter em casa dois adolescentes retardados: o filho e o pai.[image error]
Posso oferecer uma sugestão de leitura? "The Revolt of Man" (a revolta do homem), de Walter Besant (1836-1901). O leitor não conhece? Acredito. Sir Walter foi um respeitável cavalheiro vitoriano que a história da literatura inglesa acabou por esquecer.Injusto. O livro, uma novela distópica brilhantemente escrita, é um exemplo de misoginia que diverte as almas saudáveis.Enredo: na Inglaterra do futuro, o mundo é governado pelas mulheres. Elas controlam tudo: política, economia, cultura, trabalho. E os homens? Os homens, pobre raça, são reduzidos a bestas de carga e escravos sexuais das triunfantes donzelas.Fatalmente, essa vaginocracia começa a sair dos eixos: a sociedade a empobrecer, o caos a reinar, as instituições a colapsar --e as mulheres, em desespero de causa, apelam aos homens para salvar a honra do convento.São eles que regressam das catacumbas para repor a ordem e a felicidade universal.Besant viveu no século 19. Mas o que diria ele do nosso século 21?Olho em volta. E concluo que só tenho amigas solteiras ou divorciadas. Casamento é artigo raro e breve por estas bandas.A situação, confesso, seria a ideal para um rapaz disponível como eu, com hábitos de higiene adquiridos e uma sanidade mental, digamos, satisfatória. O problema é que os homens deixaram de ser ideais para elas.As solteiras encontraram no trabalho a independência econômica que as mães e avós não tinham. Os homens, quando muito, servem para necessidades ocasionais que esta Folha, um jornal de família, me impede de mencionar.As divorciadas já passaram pela experiência e não gostaram. Depois da paixão e do idílio dos primeiros anos (ou meses), descobriram com espanto que o príncipe, afinal, sempre foi um sapo. A barriga do infeliz cresceu. A comunicação desapareceu. E o sexo passou a ser, nas imortais palavras de Nelson Rodrigues, "uma mijada". Conclusão?Depois de o amor virar farsa, elas pegaram nos respectivos girinos e jogaram-nos no charco da inutilidade.Homem só atrapalha. E nem para filhos serve mais: ser mãe é como fazer inscrição na academia. Basta escolher o banco certo e a questão, nove meses depois, está resolvida.Um livro recente, aliás, enfrenta o problema. Foi escrito por Hanna Rosin, intitula-se apocalipticamente "The End of Men: And the Rise of Women" (o fim do homem: e a ascensão da mulher) e, segundo resenha da "Economist", tem números que podem interessar aos brasileiros: 1/3 das mulheres do país já ganham mais do que os seus companheiros. Existe até um grupo de apoio para esses homens infelizes, sintomaticamente intitulado "Homens de Lágrimas". Será verdade, leitor? Não minta, não minta.O Brasil não é caso único. Na Coreia do Sul, o excesso de mulheres na carreira diplomática obrigou o governo a instituir as fatídicas cotas para homens.Moral da história? Os homens começam a ser bichos em vias de extinção. Sem a importância econômica, reprodutiva ou até social de outros tempos, os pobres coitados ainda tiveram uma suprema humilhação com a crise financeira de 2008: conta a mesma "Economist" que 3/4 dos empregos destruídos pela hecatombe --nas finanças, nas fábricas, na construção civil-- eram tradicionalmente masculinos.Pelo contrário: a nova economia emergente, baseada cada vez mais em qualidades como "comunicação" e "adaptação", está pronta para o triunfo da sensibilidade feminina.Se Edward Besant viajasse do século 19 para o século 21, imagino que a sua distopia seria outra: sim, o mundo estaria nas mãos das mulheres. Mas, dessa vez, os homens já não existiriam para o salvar.Estariam demasiado ocupados, de bermudão e cerveja, com os amigos no botequim.Porque essa talvez seja a verdade mais dolorosa de todas, que a "Economist" refere sem desenvolver o tema competentemente: não foi a economia ou a libertação sexual feminina que fez dos homens seres inúteis.Os homens deixaram de ser úteis quando deixaram de ser homens --na atitude, nos comportamentos, nos "hobbies", até no vestuário e nas "tendências" (horrenda palavra).Nenhuma mulher gosta de ter em casa dois adolescentes retardados: o filho e o pai.[image error]
Published on September 11, 2012 15:07
Rodrigo Constantino's Blog
- Rodrigo Constantino's profile
- 32 followers
Rodrigo Constantino isn't a Goodreads Author
(yet),
but they
do have a blog,
so here are some recent posts imported from
their feed.
