Rodrigo Constantino's Blog, page 355
September 23, 2012
A arte de nosso tempo
Ferreira Gullar, Folha de SP
Uma leitura possível da história das artes visuais --de que resultaram as manifestações contemporâneas-- identificará a invenção da fotografia como um fator decisivo desse processo.
A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.É uma observação pertinente, desde que se tenha o cuidado de não simplificar as coisas, ou seja, não desconhecer a existência de outros fatores que também influíram nessa mudança. Um desses fatores foi a descoberta da cor como resultante da vibração da luz sobre a superfície das coisas.Noutras palavras, o surgimento do impressionismo --que constituiu uma ruptura radical com a concepção pictórica da época-- estava latente na pintura de alguns artistas de então, como, por exemplo, Eugène Delacroix e Édouard Manet, que já anunciavam a superação de certos valores estéticos em vigor. Não resta dúvida, no entanto, que a invenção da fotografia, por tornar possível a fixação da imagem real com total fidelidade, impunha o abandono do propósito de conceber a pintura como imitação da realidade.Se tal fato não determinou, por si só, a revolução impressionista, sem dúvida alguma libertou a pintura da tendência a copiar as formas do mundo real e, assim, deixou o pintor livre para inventar o que pintava.Pretendo dizer com isso que, se a cópia da realidade, pela pintura, se tornara sem propósito, isso não implicaria automaticamente em pintar como o fez Monet, ao realizar a tela "Impression, Soleil Levant", que deu origem ao impressionismo. Poderia ter seguido outro rumo.Mas, se o que nasceu naquelas circunstâncias foi a pintura impressionista, houve razões para que isso ocorresse. E essas razões, tanto estavam implícitas na potencialidade da linguagem pictórica daquele momento, como no talento de Monet, na sua personalidade criadora. É que assim são as coisas, na vida como na arte: fruto das probabilidades que se tornam ou não necessárias.A verdade, porém, é que, se não houvesse surgido uma maneira de captar as imagens do real de modo fiel e mecânico, o futuro da pintura (e das artes visuais em geral) teria sido outro. A pintura, então, livre da imitação da natureza, ganha autonomia: o pintor então podia usar de seus recursos expressivos para inventar o quadro conforme o desejasse e pudesse.Como consequência disso, não muito depois, nasceram as vanguardas artísticas do século 20: o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o dadaísmo, o surrealismo --todos eles descomprometidos com a imitação da realidade.Mas essa desvinculação com o mundo objetivo terá consequências: a liberdade sem limites levará, de uma maneira ou de outra, à desintegração da linguagem artística, particularmente a da pintura.Os dadaístas chegam a realizar quadros mais determinados pelo acaso do que por alguma qualquer intenção deliberada do autor. E se a arte podia ser fruto de tamanha gratuidade, não teria mais sentido pintar nem esculpir. O urinol de Marcel Duchamp é resultado disso. Por essa razão, ele afirmou: "Será arte tudo o que eu disser que é arte". Ou seja, tudo é arte. Ou seja, nada é arte.Por outro lado, a fotografia, que nasceu como retrato do real, foi se afastando dessa condição e, como a pintura, passou também a inventá-lo. Por outro lado, ela ganhou movimento e se transformou em cinema, que tem como principal conquista a criação de uma linguagem própria, totalmente distinta da de todas as outras artes.Cabe aqui uma observação: a pintura não apenas fazia o retrato das pessoas, como também mostrava cenas da vida, como as ceias, os encontros na alcova, as batalhas, os idílios etc. Quanto a isso, mais que a fotografia, o cinema criou, com sua linguagem narrativa, um mundo ficcional, que nenhuma outra arte --e tampouco a pintura-- é capaz de nos oferecer.A meu ver, o cinema, superando o artesanato, é a grande arte tecnológica, que criou uma linguagem própria --condição essencial para que algo seja considerado arte--, geradora de um universo imaginário inconfundível, de possibilidades inesgotáveis, sofisticado e ao mesmo tempo popular. O cinema é, sem dúvida, a arte de nosso tempo.
Uma leitura possível da história das artes visuais --de que resultaram as manifestações contemporâneas-- identificará a invenção da fotografia como um fator decisivo desse processo.
A crítica, de modo geral, há muito associa ao surgimento da fotografia a mudança da linguagem pictórica, de que resultou o movimento impressionista.É uma observação pertinente, desde que se tenha o cuidado de não simplificar as coisas, ou seja, não desconhecer a existência de outros fatores que também influíram nessa mudança. Um desses fatores foi a descoberta da cor como resultante da vibração da luz sobre a superfície das coisas.Noutras palavras, o surgimento do impressionismo --que constituiu uma ruptura radical com a concepção pictórica da época-- estava latente na pintura de alguns artistas de então, como, por exemplo, Eugène Delacroix e Édouard Manet, que já anunciavam a superação de certos valores estéticos em vigor. Não resta dúvida, no entanto, que a invenção da fotografia, por tornar possível a fixação da imagem real com total fidelidade, impunha o abandono do propósito de conceber a pintura como imitação da realidade.Se tal fato não determinou, por si só, a revolução impressionista, sem dúvida alguma libertou a pintura da tendência a copiar as formas do mundo real e, assim, deixou o pintor livre para inventar o que pintava.Pretendo dizer com isso que, se a cópia da realidade, pela pintura, se tornara sem propósito, isso não implicaria automaticamente em pintar como o fez Monet, ao realizar a tela "Impression, Soleil Levant", que deu origem ao impressionismo. Poderia ter seguido outro rumo.Mas, se o que nasceu naquelas circunstâncias foi a pintura impressionista, houve razões para que isso ocorresse. E essas razões, tanto estavam implícitas na potencialidade da linguagem pictórica daquele momento, como no talento de Monet, na sua personalidade criadora. É que assim são as coisas, na vida como na arte: fruto das probabilidades que se tornam ou não necessárias.A verdade, porém, é que, se não houvesse surgido uma maneira de captar as imagens do real de modo fiel e mecânico, o futuro da pintura (e das artes visuais em geral) teria sido outro. A pintura, então, livre da imitação da natureza, ganha autonomia: o pintor então podia usar de seus recursos expressivos para inventar o quadro conforme o desejasse e pudesse.Como consequência disso, não muito depois, nasceram as vanguardas artísticas do século 20: o cubismo, o futurismo, o expressionismo, o dadaísmo, o surrealismo --todos eles descomprometidos com a imitação da realidade.Mas essa desvinculação com o mundo objetivo terá consequências: a liberdade sem limites levará, de uma maneira ou de outra, à desintegração da linguagem artística, particularmente a da pintura.Os dadaístas chegam a realizar quadros mais determinados pelo acaso do que por alguma qualquer intenção deliberada do autor. E se a arte podia ser fruto de tamanha gratuidade, não teria mais sentido pintar nem esculpir. O urinol de Marcel Duchamp é resultado disso. Por essa razão, ele afirmou: "Será arte tudo o que eu disser que é arte". Ou seja, tudo é arte. Ou seja, nada é arte.Por outro lado, a fotografia, que nasceu como retrato do real, foi se afastando dessa condição e, como a pintura, passou também a inventá-lo. Por outro lado, ela ganhou movimento e se transformou em cinema, que tem como principal conquista a criação de uma linguagem própria, totalmente distinta da de todas as outras artes.Cabe aqui uma observação: a pintura não apenas fazia o retrato das pessoas, como também mostrava cenas da vida, como as ceias, os encontros na alcova, as batalhas, os idílios etc. Quanto a isso, mais que a fotografia, o cinema criou, com sua linguagem narrativa, um mundo ficcional, que nenhuma outra arte --e tampouco a pintura-- é capaz de nos oferecer.A meu ver, o cinema, superando o artesanato, é a grande arte tecnológica, que criou uma linguagem própria --condição essencial para que algo seja considerado arte--, geradora de um universo imaginário inconfundível, de possibilidades inesgotáveis, sofisticado e ao mesmo tempo popular. O cinema é, sem dúvida, a arte de nosso tempo.
Published on September 23, 2012 07:38
September 22, 2012
Ridículo
Editorial da Folha de SP
Não deveria, mas suscita pouca estranheza o documento de líderes partidários governistas divulgado na quinta-feira. O presidente do PT e artífice da nota, Rui Falcão, já se notabilizara por reações tão previsíveis quanto destemperadas ao modo como se desenvolve o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).Somam-se agora à ladainha outras figuras do bloco situacionista. Vão de Renato Rabelo (PC do B) ao coordenador da campanha de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo, Marcos Pereira (PRB). O manifesto insiste no gênero de argumento ouvido desde as primeiras denúncias sobre o mensalão.Quando Roberto Jefferson, presidente do PTB, narrou em entrevista à Folha as gestões de um publicitário mineiro, Marcos Valério, que resultavam em saques de dinheiro vivo beneficiando políticos da base governista, tudo o que se tinha eram denúncias. Provinham, aliás, do líder de um partido que acabava de ser envolvido num escândalo de propina nos Correios.Foi só aos poucos, como lembrou ainda nesta semana Joaquim Barbosa, relator do processo no STF, que os nomes pronunciados por Jefferson, e os fatos a eles associados, se confirmaram nas investigações. Vieram as confissões daquilo que, pouco antes, se negava com máxima indignação.O petismo não perdeu a empáfia. Ao lado da esfarrapada desculpa de que os recursos do mensalão correspondiam apenas a gastos de campanha, surgiu a mais desonesta e deslavada operação ideológica de que foram capazes os tartufos da moralidade pública e da igualdade social.Associados, como o são cada vez mais, à direita religiosa, ao malufismo, a José Sarney e a Fernando Collor, os petistas recorreram aos trapos de um vocabulário de esquerda para iludir os que, sempre, querem manter-se iludidos."Golpismo", "aventura conservadora", "ataque à democracia": assim se qualificou o empenho de desvendar o desvio de recursos públicos e a corrupção de parlamentares, levando o caso à Justiça, com amplo direito de defesa e longos anos de contraditório, de recursos e protelações.O PT, tantas vezes acusado de ser "denuncista" quando erguia as bandeiras do "Fora Collor" e do "Fora FHC", recorre ridiculamente à mesma tática, ao associar o desfecho do julgamento no STF à iminência das eleições municipais.Os governistas de São Paulo não deveriam preocupar-se tanto. Oriundo de um partido (PRB) no qual sobrevive o PL, notoriamente envolvido no escândalo, Russomanno é o líder nas pesquisas.O PRB assina, todavia, a nota contra o "golpismo". A contradição política deve importar pouco, entretanto, para um bando multipartidário que já se acostumou a contradizer-se na polícia.
Não deveria, mas suscita pouca estranheza o documento de líderes partidários governistas divulgado na quinta-feira. O presidente do PT e artífice da nota, Rui Falcão, já se notabilizara por reações tão previsíveis quanto destemperadas ao modo como se desenvolve o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF).Somam-se agora à ladainha outras figuras do bloco situacionista. Vão de Renato Rabelo (PC do B) ao coordenador da campanha de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo, Marcos Pereira (PRB). O manifesto insiste no gênero de argumento ouvido desde as primeiras denúncias sobre o mensalão.Quando Roberto Jefferson, presidente do PTB, narrou em entrevista à Folha as gestões de um publicitário mineiro, Marcos Valério, que resultavam em saques de dinheiro vivo beneficiando políticos da base governista, tudo o que se tinha eram denúncias. Provinham, aliás, do líder de um partido que acabava de ser envolvido num escândalo de propina nos Correios.Foi só aos poucos, como lembrou ainda nesta semana Joaquim Barbosa, relator do processo no STF, que os nomes pronunciados por Jefferson, e os fatos a eles associados, se confirmaram nas investigações. Vieram as confissões daquilo que, pouco antes, se negava com máxima indignação.O petismo não perdeu a empáfia. Ao lado da esfarrapada desculpa de que os recursos do mensalão correspondiam apenas a gastos de campanha, surgiu a mais desonesta e deslavada operação ideológica de que foram capazes os tartufos da moralidade pública e da igualdade social.Associados, como o são cada vez mais, à direita religiosa, ao malufismo, a José Sarney e a Fernando Collor, os petistas recorreram aos trapos de um vocabulário de esquerda para iludir os que, sempre, querem manter-se iludidos."Golpismo", "aventura conservadora", "ataque à democracia": assim se qualificou o empenho de desvendar o desvio de recursos públicos e a corrupção de parlamentares, levando o caso à Justiça, com amplo direito de defesa e longos anos de contraditório, de recursos e protelações.O PT, tantas vezes acusado de ser "denuncista" quando erguia as bandeiras do "Fora Collor" e do "Fora FHC", recorre ridiculamente à mesma tática, ao associar o desfecho do julgamento no STF à iminência das eleições municipais.Os governistas de São Paulo não deveriam preocupar-se tanto. Oriundo de um partido (PRB) no qual sobrevive o PL, notoriamente envolvido no escândalo, Russomanno é o líder nas pesquisas.O PRB assina, todavia, a nota contra o "golpismo". A contradição política deve importar pouco, entretanto, para um bando multipartidário que já se acostumou a contradizer-se na polícia.
Published on September 22, 2012 06:01
Preconceito invisível
Hélio Schwartsman, Folha de SP
Saiu mais um daqueles relatórios do Ministério do Trabalho dando conta de que as mulheres ganham menos do que os homens. Em dezembro de 2011, o salário médio recebido por um trabalhador do sexo masculino era de R$ 1.828,90, contra R$ 1.393,34 pagos a representante do sexo frágil.Não há dúvida de que existe preconceito na sociedade, mas eu receio que ele se materialize de forma mais sutil do que querem ativistas de movimentos feministas e assemelhados.A julgar por trabalhos realizados nos EUA, os mais discriminados no mercado de trabalho, em especial no mundo corporativo, não são os negros nem as mulheres, mas os baixinhos. Entre os CEOs das maiores companhias americanas, 58% tinham mais de seis pés (1,83 m) de estatura, contra apenas 14,5% na população geral. Pior, cada polegada (2,54 cm) a mais de altura representava, em 2004, um incremento de US$ 789 na renda anual do funcionário. Estudo de Andréa Zaitune Curi e Naércio Aquino Menezes Filho apurou tendência semelhante no Brasil.As hipóteses para explicar o efeito são as mais díspares possíveis. Vão desde força física e autoestima até a nutrição na infância --o que quer dizer que não temos ideia do que está realmente acontecendo.Mas o que isso significa? Acho que ninguém sustentaria que existe preconceito consciente contra os baixinhos. Eles ao menos ainda não organizaram uma militância para exigir tratamento igual. Acompanhando Malcolm Gladwell em "Blink", acredito que a discriminação, neste caso, ocorra de forma implícita. Os responsáveis pelas contratações têm um estereótipo do que seja uma liderança ou um funcionário ideal e o aplicam aos candidatos, sem jamais verbalizar a regra ou mesmo dar-se conta de que ela existe em suas cabeças.A constatação tem algo de sombrio. A mente humana discrimina da mesma forma que respiramos, isto é, sem nem perceber.
Comento: É preciso lembrar que correlação não é causalidade e que estatística PODE ser a arte de torturar números até que eles confessem quase qualquer coisa. As mulheres podem ganhar menos, NA MÉDIA, porque escolhem funções mais flexíveis, por exemplo, pois AINDA (felizmente?) vivemos em um mundo onde as mulheres que engravidam e dão de mamar. Enfim, vários fatores poderiam explicar a diferença estatística, e seria preciso controlar todas as demais variáveis para ter uma análise mais robusta da situação. Mas feministas não querem saber de nada disso. Assim como esquerdistas em geral, gostam de posar de defensoras do "sexo frágil". Aparentar ser o protetor dos "fracos e oprimidos" rende votos, recursos, poder e imagem de bonzinho (marketing do comportamento, como diria Pondé). Já sobre os baixinhos, vejam o vídeo que fiz sobre o assunto:
Published on September 22, 2012 05:51
September 21, 2012
A folia do "Ben Helicóptero"
Paulo Rabello de Castro - BRASIL ECONÔMICO Ben Bernanke provavelmente passará à história como o homem que teve a coragem de testar uma teoria além dos limites do razoável.
Estudou nos livros de Milton Friedman, quem mais investigou os efeitos positivos ou perniciosos das emissões de dinheiro na economia. E, como aluno destacado, está agora testando na prática o que antes era apenas uma hipótese de trabalho acadêmico. Friedman descreveu o processo inflacionário pela imagem radical de um helicóptero pairando sobre uma comunidade isolada em que a aeronave despeja uma grande quantidade de dinheiro para quem quiser pegar e usar. Evidentemente, o resultado final dessa história de ficção econômica é a inflação de todos os preços naquela comunidade.
Bernanke está disposto a testar a teoria do helicóptero de Friedman na vida real e muito além do limite razoável. A comunidade fictícia de Friedman passou a ser o território americano e o mundo. Meu professor em Chicago, Friedman descreveu a teoria do helicóptero num contexto em que buscava uma regra de ouro para a quantidade ótima de emissão de dinheiro numa economia de características simplificadas e sem sistema bancário alavancando a moeda básica emitida. Bernanke, ou "Ben Helicóptero", agora quer testar os limites da emissão descontrolada de dinheiro pelo Fed. Alguma chance disso dar certo? Por algum tempo, a impressão será que isso pode até funcionar bem.
A folia de Bernanke é querer reduzir a qualquer custo o nível de desemprego fazendo as pessoas gastarem mais. Para isso, ele recorre ao truque de gerar riqueza artificial, emitindo mais dinheiro, cuja circulação provocará de imediato uma alta de todos os preços de ativos expressos em dólares, pois os bancos venderão a Bernanke seus créditos problemáticos de hipotecas e irão à luta comprando tudo que seja especulativo, de fundos de commodities a papéis em bolsas, a moedas de países considerados seguros, imóveis e objetos raros ou exóticos, inclusive petróleo, trazendo elevação do custo de vida para o americano médio. Isso quebrará parte do efeito de sensação de aumento de riqueza que o pirotécnico Ben gostaria de provocar.
Aliás, você deverá estar se perguntando qual aumento de riqueza, afinal, Bernanke pretende se, tudo somado, ninguém terá ficado mais rico ou menos endividado. Só haverá mais papel pintado de dinheiro circulando na praça. De fato, o efeito de aumentar riqueza e bem-estar mediante emissões é temporário e quase sempre ilusório. Quando o entorpecimento provocado pela euforia da liquidez começa a cessar e a música para de tocar, nunca há cadeiras para todos se sentarem. Alguns perceberão que ficaram até mais pobres e que o dinheiro sem lastro é o culpado.
Nessa hora, sobrevirá a inflação e seus efeitos deletérios. Não sabemos se Bernanke ainda estará no cargo quando os desdobramentos finais de suas experiências inéditas acontecerem. Um economista raramente responde por seus atos. Muito menos em tribunais, por crimes cometidos contra o patrimônio ou a segurança pública. Os economistas têm a imunidade concedida aos comprovadamente loucos. Assim foi nos 20 anos de megainflação no Brasil. Nos EUA, não será diferente. Se fosse, o antecessor de Bernanke também estaria, hoje, respondendo a processo.
Published on September 21, 2012 08:19
Gritos presidenciais não ocultam fracassos
Marco Antonio Villa, Folha de SP
O sonho acabou. Sonho ingênuo, registre-se. Durante quase dois anos, a oposição -quase toda ela- tentou transformar Dilma Rousseff em uma estadista, como se vivêssemos em uma república. Ela seria mais "institucional" que Lula. Desejava ter autonomia e se afastar do PT. E até poderia, no limite, romper politicamente com seu criador.Mas os fatos, sempre os fatos, atrapalharam a fantasia construída pela oposição -e não por Dilma, a bem da verdade.Nunca na história republicana um sucessor conversou tanto com seu antecessor. E foram muito mais que conversas. A presidente não se encontrou com Lula para simplesmente ouvir sugestões. Não, foi receber ordens, que a boa educação chamou de conselhos.Para dar um ar "republicano", a maioria das reuniões não ocorreu em Brasília. Foi em São Paulo ou em São Bernardo do Campo que a presidente recebeu as determinações do seu criador. Os últimos acontecimentos, estreitamente vinculados à campanha municipal, reforçaram essa anomalia criada pelo PT, a dupla presidência.Dilma transformou seu governo em instrumento político-eleitoral. Cada ato está relacionado diretamente à pequena política. Nos últimos meses, a eleição municipal acabou pautado suas ações.Demitiu ministro para ajeitar a eleição em São Paulo. Em rede nacional de rádio e televisão, aproveitou o Dia da Independência para fazer propaganda eleitoral e atacar a oposição. Um telespectador desavisado poderia achar que estava assistindo um programa eleitoral da campanha de 2010. Mas não, quem estava na TV era a presidente do Brasil.É o velho problema: o PT não consegue separar Estado, governo e partido. Tudo, absolutamente tudo, tem de seguir a lógica partidária. As instituições não passam de mera correia de transmissão do partido.Dilma chegou a responder em nota oficial a um simples artigo de jornal que a elogiava, tecendo amenas considerações críticas ao seu antecessor. Como uma criatura disciplinada, retrucou, defendendo e exaltando seu criador.O governo é ruim. O crescimento é pífio, a qualidade da gestão dos ministros é sofrível. Os programas "estruturantes" estão atrasados. O modelo econômico se esgotou.Edita pacotes e mais pacotes a cada quinzena, sinal que não tem um consistente programa. E o que faz a presidente? Cercada de auxiliares subservientes e incapazes, de Lobões, Idelis e Cardozos, grita. Como se os gritos ocultassem os fracassos.O Brasil que ainda cresce é aquele sem relação direta com as ações governamentais. É graças a essa eficiência empresarial que não estamos em uma situação ainda pior. Mas também isso tem limite.O crescimento brasileiro do último trimestre, comparativamente com os dos outros países dos Brics (Rússia, Índia e China) ou do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), é decepcionante. E o governo não sabe o que fazer.Acredita que elevar ou baixar a taxa de juros ou suspender momentaneamente alguns impostos tem algum significado duradouro. Sem originalidade, muito menos ousadia, não consegue pensar no novo. Somente manteve, com um ou outro aperfeiçoamento, o que foi organizado no final do século passado.E a oposição? Sussurra algumas críticas, quase pedindo desculpas.Ela tem no escândalo do mensalão um excelente instrumento eleitoral para desgastar o governo, mas pouco faz. Não quer fazer política. Optou por esperar que algo sobrenatural aconteça, que o governo se desmanche sem ser combatido. Ao renunciar à política, abdica do Brasil.
MARCO ANTONIO VILLA, 55, é historiador e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Published on September 21, 2012 06:54
Mr. M. apresenta: A nova classe média
[image error] Rodrigo Constantino, para o Instituto Liberal
A imprensa estampou a incrível notícia: Mais de 100 milhões de brasileiros, ou seja, mais da metade da população já fazem parte da classe média. O estudo “Vozes da classe média”, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, divulgou os dados para o espanto de muita gente.
Há só um pequeno detalhe: a pesquisa classifica como classe média os que vivem em famílias com renda per capita mensal entre R$ 291 e R$ 1.019 e tem baixa probabilidade de passar a ser pobre no futuro próximo. É isso mesmo. O leitor não está enganado. Para o governo, classe média é um casal sem filhos que ganha R$ 582 mensais, ou seja, menos até do que um salário mínimo!
Segundo o IBGE, o rendimento mensal domiciliar per capita do Brasil era R$ 668 em 2010. O Distrito Federal, oásis dos políticos, é o lugar mais rico, com renda per capita de R$ 1.404. O estado mais pobre, feudo particular dos Sarney, tinha renda per capita de R$ 319.
Ou seja, o governo diz que pertence à classe média brasileira qualquer um que ganha menos de um terço da média do rendimento nacional. O leitor entendeu? É da classe média qualquer um que recebe 70% do rendimento médio do estado mais pobre do país, o Maranhão. Não é incrível?
Não bastasse essa “mágica”, há outra: aproximadamente 80% dos novos integrantes da classe média brasileira são negros. Como o diabo está nos detalhes, eis o truque: pardo é negro! Como 40% dos brasileiros miscigenados se declaram pardos, eis que, em um passe de mágica, a maioria que entrou na nova classe média é de negros!
São coisas que só vemos no Brasil mesmo. O Mr. M. deveria ser convocado pelo governo para as Olimpíadas. Bastaria reduzir pela metade a distância da corrida dos 100 metros dos brasileiros que não teria Bolt que pudesse levar o nosso ouro. É só correr 100m em 50m! E, para o leitor, fica esta ótima notícia para o fim de semana: se você ganha mais de R$ 1.020 mensais, você é membro da classe alta brasileira! Você era rico e nem sabia...
Published on September 21, 2012 06:19
September 19, 2012
O debate do século

Paulinho era um neokeynesiano fanático, defensor incondicional de mais estímulos monetários e fiscais para recuperar a demanda agregada e produzir crescimento econômico e emprego. Já Frederico tinha visão diferente. Ele acreditava que injetar mais do veneno que causara os males iria apenas aumentar o tamanho da crise posterior. Eis o debate que eles travaram em sala de aula:
Paulinho: O banco central tem que manter as taxas de juros nulas até perder de vista, e injetar dezenas de bilhões no mercado para estimular a economia. ‘Compradores de imóveis em potencial se sentirão estimulados pelo prospecto de uma inflação moderadamente mais alta que facilitará o pagamento de suas dívidas; as corporações se sentirão encorajadas pelo prospecto de mais vendas no futuro; as ações subirão, elevando a riqueza, e o dólar vai cair, tornando as exportações americanas mais competitivas’.
Frederico: Como você pode chamar de riqueza a elevação artificial e nominal do preço dos ativos? Isso é transferência de riqueza, dos mais pobres para os mais ricos, que possuem maior quantidade desses bens. No mais, esta política serve apenas para manter as distorções do mercado e evitar ajustes necessários para liquidar os excessos produzidos pela bolha anterior. Não foi você que em 2002 defendeu exatamente o mesmo remédio para curar a recessão causada pelo estouro da bolha do Nasdaq?
Paulinho: Não me lembro bem... Mesmo assim, agora é diferente! Falta demanda agregada, e só o Fed tem bala na agulha para estimular essa demanda por meio do efeito riqueza...
Frederico: Isso foi justamente o argumento que você usou naquela época, eu me lembro bem. Mas o resultado não foi crescimento sustentável, e sim uma bolha imobiliária que estamos tendo que digerir agora. Você não teme a criação de novas bolhas? Desde quando riqueza se cria com impressão de papel moeda? Olha a República de Weimar, o Zimbábue...
Paulinho: Você é um conservador paranóico com a inflação e com bolhas. O importante é observar a inflação corrente e...
Frederico: A inflação corrente é a última que sente os impactos dos estímulos, que antes inflam o preço dos ativos, dando a falsa impressão de maior riqueza. Foi isso que aconteceu entre 2002 e 2007, e sabemos o resultado depois. É como tentar curar a ressaca de um bêbado oferecendo mais bebida ainda para ele. Claro que ele pode postergar a sensação de euforia, mas que médico em sã consciência diria que isso é saudável? O coitado vai acabar com uma cirrose hepática...
Paulinho: Não seja tão negativo. As autoridades precisam colocar a roda para girar, e com mais consumo, haverá mais produção, e com o tempo o endividamento será diluído.
Frederico: Como no Japão, que tem mais de 200% de dívida pública sobre o PIB?
Paulinho: Por que falar de Japão agora? Esquece isso...
Frederico: Creio que você coloca a carroça na frente dos bois, e pensa que o rabo é que balança o cachorro. Para aumentar a produção, os investidores precisam de maior confiança no futuro, e de poupança, claro. Nenhuma dessas coisas melhora com essa intervenção estatal. Pelo contrário. Isso gera mais insegurança, pois eles sabem que não existe almoço grátis. Os investidores acabam virando especuladores de curto prazo e correm para commodities, como o ouro, em busca de proteção. A “relíquia bárbara” já triplicou de preço desde o começo do primeiro afrouxamento monetário.
Paulinho: Quem liga para o preço do ouro? Vivemos na era das moedas fiduciárias sem lastro.
Frederico: Talvez por isso os ciclos econômicos tenham se intensificado e a concentração de riqueza, aumentado. E você ainda se diz defensor dos mais pobres, eleitor empolgado de Obama? Essa política agrada a turma de Wall Street mais que a qualquer outro grupo. Olha o Goldman Sachs (ou seria Government Sachs) aplaudindo efusivamente as loucuras do Bernanke...
Paulinho: Que dia bonito de sol hoje, não?
Frederico: Sabe o que mais me impressiona? É que vocês realmente parecem cigarras preocupadas apenas com o curto prazo, e nunca levam em conta os efeitos perversos desses estímulos no longo prazo. Vão acabar implodindo totalmente o sistema monetário, com a completa perda de confiança no dólar...
Paulinho: No longo prazo estaremos todos mortos. Relaxa e goza. Viu a alta do S&P 500 essa semana?
Published on September 19, 2012 11:17
Analfabetismo histórico
Hélio Schwartsman, Folha de SP
O movimento negro, bem como outros grupos que tentam reduzir os níveis de intolerância na sociedade, tem toda a minha simpatia. Isso dito, é ridículo o que estão tentando fazer com Monteiro Lobato. Se a iniciativa legal, que já chegou ao Supremo, prosperar, o autor poderá ter parte de sua obra banida das bibliotecas escolares.Não há a menor dúvida de que Lobato se utiliza de expressões que hoje soam rematadamente racistas, como o termo "macaca de carvão", para referir-se à Tia Nastácia. A questão é que estamos falando de escritos dos anos 30, época em que quase todo mundo era racista. E, se há um pecado mortal na crítica literária e na análise histórica, é o de interpretar o passado com os olhos de hoje."Não sou nem nunca fui favorável a promover a igualdade social e política das raças branca e negra... há uma diferença física entre as raças que, acredito, sempre as impedirá de viver juntas como iguais em termos sociais e políticos. E eu, como qualquer outro homem, sou a favor de que os brancos mantenham a posição de superioridade."Odioso, certo? Também acho. Mas, antes de condenar o autor da frase ao inferno da intolerância, convém registrar que ela foi proferida por Abraham Lincoln, o presidente dos EUA que travou uma guerra civil para libertar os negros da escravidão.E Lincoln não é um caso isolado. Encontramos pérolas racistas em ditos de Gandhi e Che Guevara. Shakespeare traz passagens escancaradamente antissemitas, Eurípides era um misógino e Aristóteles defendia com empenho a escravidão. Vamos banir toda essa gente das bibliotecas escolares?A verdade é que todos somos prisioneiros da mentalidade de nossa época. Há sempre um horizonte de possibilidades morais além do qual não conseguimos enxergar. Aplicar critérios contemporâneos para julgar o passado é uma manifestação de analfabetismo histórico.
O movimento negro, bem como outros grupos que tentam reduzir os níveis de intolerância na sociedade, tem toda a minha simpatia. Isso dito, é ridículo o que estão tentando fazer com Monteiro Lobato. Se a iniciativa legal, que já chegou ao Supremo, prosperar, o autor poderá ter parte de sua obra banida das bibliotecas escolares.Não há a menor dúvida de que Lobato se utiliza de expressões que hoje soam rematadamente racistas, como o termo "macaca de carvão", para referir-se à Tia Nastácia. A questão é que estamos falando de escritos dos anos 30, época em que quase todo mundo era racista. E, se há um pecado mortal na crítica literária e na análise histórica, é o de interpretar o passado com os olhos de hoje."Não sou nem nunca fui favorável a promover a igualdade social e política das raças branca e negra... há uma diferença física entre as raças que, acredito, sempre as impedirá de viver juntas como iguais em termos sociais e políticos. E eu, como qualquer outro homem, sou a favor de que os brancos mantenham a posição de superioridade."Odioso, certo? Também acho. Mas, antes de condenar o autor da frase ao inferno da intolerância, convém registrar que ela foi proferida por Abraham Lincoln, o presidente dos EUA que travou uma guerra civil para libertar os negros da escravidão.E Lincoln não é um caso isolado. Encontramos pérolas racistas em ditos de Gandhi e Che Guevara. Shakespeare traz passagens escancaradamente antissemitas, Eurípides era um misógino e Aristóteles defendia com empenho a escravidão. Vamos banir toda essa gente das bibliotecas escolares?A verdade é que todos somos prisioneiros da mentalidade de nossa época. Há sempre um horizonte de possibilidades morais além do qual não conseguimos enxergar. Aplicar critérios contemporâneos para julgar o passado é uma manifestação de analfabetismo histórico.
Published on September 19, 2012 07:22
September 18, 2012
A naftalina de Daniel Aarão Reis

Aos "freixetes" da esquerda Rolex
Daniel Aarão Reis transformou seu espaço no GLOBO hoje em palanque eleitoral, e terminou assim o artigo: "Mas o Rio rebelde, nas eleições de outubro, além de um programa, tem nome e sobrenome: Marcelo Freixo."
Reis, para quem não sabe, é um notório "comuna", que participou da luta armada para implantar o regime soviético no Brasil. É aquele que acusou Diogo Mainardi de ter cheiro de naftalina no Manhattan Conection, tentando insinuar que ele é um reacionário. Mainardi, sem passar recibo, retrucou que era hilário um defensor de Lênin acusar alguém de cheirar a naftalina. (essa doeu)
Depois Mainardi explicou a forma ríspida com que tratou o convidado do programa: ele teria sido grosseiro com as meninas da maquiagem. Típico! Socialista que ama a Humanidade, mas não suporta o próximo, especialmente se for humilde...
Faça como Chico Buarque, aquele que vota na quadrilha petista e idolatra Cuba, e como Daniel Aarão Reis, cujas ideias fedem a naftalina (soviética): vote no Freixo.
Ou não. Ou você pode mostrar que não cai nessa ladainha patética dos "socialistas do século 21" disfarçados de cordeirinho, mas com o mesmíssimo ideal podre do século 20.
E não me venham falar de ética! Qual a ética que tem um sujeito que faz parte do PSOL, partido que tem até terrorista entre os fundadores, e que costuma abraçar assassinos do naipe de um Cesare Battisti?! Conta outra!
Published on September 18, 2012 09:59
Matrioska
Rodrigo Constantino, O Globo“Ninguém pode usar uma máscara por muito tempo: o fingimento retorna rápido à sua própria natureza.” (Sêneca)Ganhei de presente uma daquelas bonecas russas que é a cara da presidente Dilma. Não seria minha escolha natural, mas não havia como trocar, então fui tentar apreciá-la. A impressão inicial que ela causou foi a de firmeza, alguém com bastante autoconfiança. Uma boa gestora, enfim.Resolvi ver se tinha algo por trás daquela imagem, e qual não foi minha surpresa ao descobrir que era apenas uma camada superficial e oca! A presidente jamais tinha gerido coisa alguma com eficiência para colocar no currículo, só uma loja de produtos baratos que foi à falência. Mas nem tudo estava perdido.A nova imagem que me saltava aos olhos era a de uma resoluta faxineira da ética. Agora sim, pensei, essa mulher corajosa vai bater de frente com todos os corruptos que circulam em volta do governo como moscas ao redor do mel.Doce ilusão. Era apenas mais uma camada oca. Lembrei de que Erenice Guerra, ex-braço direito de Dilma e acusada de nepotismo, estava lá, bem ao lado da presidente, no dia de sua posse.Todos os ministros (escolhidos por Dilma) que saíram no começo de seu mandato por escândalos de corrupção foram expostos pela imprensa. Não havia um combate ativo à corrupção por parte do governo.Desiludido, arranquei mais esta camada fora, e consegui esboçar um sorriso. A nova figura tinha pinta de que, se não faria uma faxina ética, ao menos não iria compactuar com o fisiologismo de seu antecessor.A empolgação durou pouco. Um bispo que só entende de fisgar crentes foi apontado como ministro da Pesca, e uma sexóloga “progressista”, ícone da tal esquerda caviar, foi brindada com o Ministério da Cultura em troca de apoio ao candidato a prefeito em São Paulo. Toma lá da cá, como sempre.As camadas ocas iam sendo retiradas como uma cebola descascada, e lágrimas de desapontamento surgiam em meus olhos.Mas pude vislumbrar na nova face uma ponta de esperança: aquela era a imagem de alguém disposta a enfrentar os grandes desafios para colocar nossa economia na rota do crescimento sustentável.Esperei, em vão, pelas reformas estruturais, como a previdenciária, a trabalhista e a tributária. Nada. Parecia que o único instrumento conhecido pela presidente era o estímulo ao consumo por meio do crédito público. Trata-se de um modelo esgotado, pois o endividamento das famílias chegou ao seu limite. Resultado: crescimento medíocre, inflação elevada.Triste, joguei fora esta camada, mas vi que talvez nem tudo estivesse perdido. Privatização! Era o que aquela nova imagem irradiava para a alegria de todos aqueles cansados da incompetência e da roubalheira nas estatais. Finalmente, comemorei. Antes tarde do que nunca! Mas o diabo está nos detalhes...Dilma é do PT, e privatização não combina com o petismo. Fizeram tudo de forma acanhada, envergonhada e, portanto, repleta de equívocos.O intervencionismo estatal ainda estaria presente em demasia, no financiamento, na regulação, na limitação do retorno ao investimento, na garantia de compras do que não tivesse demanda no setor privado. Enfim, uma onda de privatização com ares de estatização.Com visível mau humor, tirei fora mais esta camada e me lembrei da caixa de Pandora: a esperança é a última que morre. Lá estava um rosto impávido, que passava a determinação de quem não teme enfrentar as máfias sindicais e os marajás do setor público.Greves daqueles que já ganham bem mais que os trabalhadores da iniciativa privada e gozam de inúmeros privilégios, como estabilidade de emprego e auxílios até não poder mais? Nem pensar! Thatcher iria se incorporar em Dilma e desafiar essa gente que transformou o povo em refém.A esperança pode ser a última que morre, mas ela também é mortal. O governo sucumbiu e os grevistas ganharam bons aumentos de salário, indexando sua renda à inflação que o próprio setor público produz com seus gastos excessivos.Os gastos públicos sobem sem parar desde que o PT assumiu o poder. É a principal causa do tal Custo Brasil: falta dinheiro para investimento, impede redução dos impostos e pressiona a taxa de juros.Melancólico, retirei feito um autômato aquela que parecia a última camada da minha matrioska. Que susto!Confesso que tive até de pegar uma lupa para verificar se meus olhos não me traíam. Aquela pequena boneca não se parecia mais com a presidente Dilma. Olhei bem perto para confirmar: era a cara do ex-presidente Lula! Embaixo, em letras minúsculas, estava escrito: “Made in Russia.”
Published on September 18, 2012 07:15
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